Pster4
Pster4
Pster4
1. Introdução
Uma rede de transporte ineficiente reduz o potencial de crescimento econômico de um
país, em virtude de afetar criticamente as exportações. Dessa forma, faz-se necessário investir
em infraestrutura de transporte, a fim de proporcionar um preço competitivo das mercadorias
nacionais no mercado internacional.
Desse cenário, o transporte ferroviário tem ganhado destaque, por ser um mecanismo
que possibilite o crescimento e o desenvolvimento econômico do país. De acordo com a CFN
(2013), a utilização do transporte ferroviário possui 3 tipos de ganhos derivados da sua
utilização: a economia de rede, onde a interação dos diversos pontos de carga e descarga
definirão o padrão de rentabilidade e retorno da atividade; a economia de densidade, onde os
custos unitários do serviço decrescem com o aumento da densidade populacional; e a
economia de escopo, onde uma mesma empresa pode operar e fornecer a infraestrutura de
transporte ou uma mesma operadora pode atender diferentes linhas ferroviárias.
Diante dessas vantagens, faz-se necessário, não somente o investimento na
infraestrutura ferroviária, mas também o desenvolvimento de estudos que otimizem a
capacidade da infraestrutura existente. Dessa forma, o presente trabalho tem por objetivo
mapear os componentes de desempenho logístico e construir o fluxograma dos processos da
etapa de expedição e carregamento de minério de ferro de uma grande empresa mineradora,
localizada no município de Parauapebas, no Pará.
Para a realização do presente trabalho, foram seguidas três etapas, onde a primeira
consistiu em entrevistas com a empresa em questão, bem como pesquisa bibliográfica em
literatura já existente dos processos estudados. Em seguida, foram desenhados os fluxogramas
dos dois processos, identificando o fluxo das atividades para cada um. Por último, fez-se o
mapeamento dos componentes logísticos, onde os processos foram divididos em operações e,
posteriormente, os recursos utilizados em cada etapa foram alocados aos componentes
logístico associados
O artigo em questão foi dividido em 4 tópicos básicos. No primeiro, é feita uma
pequena introdução acerca do tema, e também é apresentado o objetivo do trabalho e
metodologia utilizada para o desenvolvimento deste. No segundo, é abordada uma breve
revisão da literatura existente sobre o assunto que serviu de base metodológica para a
construção do estudo. Já no terceiro, tem-se o estudo de caso, onde se apresenta a empresa e
os processos estudados, assim como o mapeamento dos componentes logísticos, bem como os
fluxogramas do processo. E no quarto e último tópico, são apresentadas as conclusões acerca
dos resultados encontrados, além das limitações para a realização do trabalho e propostas para
trabalhos futuros.
2. Referencial Teórico
2.1 O Sistema Ferroviário Brasileiro
2.1.1 Histórico das Ferrovias no Brasil
As ferrovias surgiram no cenário mundial, a partir do século XX, com o advento da
máquina a vapor no período da Revolução Industrial. No Brasil, as primeiras iniciativas para
o transporte ferroviário aconteceram em 1828, quando o Governo Imperial autorizou a
construção e exploração das estradas, com o objetivo de interligar as regiões do país (BRITO,
1961).
Em 30 de abril de 1854, foi inaugurada a primeira estrada de ferro construída no
Brasil, ligando a Raiz da Serra de Petrópolis ao Porto de Mauá, no Rio de Janeiro
(DIÓGENES, 2002). Todavia, segundo Brito (1961), o empreendimento fracassou, visto que
não possuía as condições mínimas para o seu funcionamento, não sendo uma ferrovia
econômica, estratégica ou política. Ainda segundo o mesmo autor, não houve o planejamento
adequado à construção da ferrovia, tendo sido a construção motivada pela euforia do
momento.
Em 1910, as ferrovias brasileiras passaram por um período de grande
desenvolvimento, a partir da substituição dos trechos a vapor pela tração elétrica (LANG,
2007). Ainda segundo ao mesmo autor, a tração elétrica foi, pouco a pouco, sendo desativada,
devido aos equipamentos em funcionamento serem obsoletos e aos altos custos de
manutenção.
De acordo com Lang (2007), o auge das ferrovias brasileiras ocorreu nas décadas de
1930 e 1940, devido aos incentivos proporcionados pelo Governo Vargas. Além disso, em
1942, com a criação da Companhia Vale do Rio Doce, a Estrada de Ferro de Vitória a Minas
foi absorvida e modernizada para suportar o tráfego de minério de ferro. A partir desse
momento, o governo brasileiro tomou para si a responsabilidade com a malha ferroviária do
Brasil, contudo, a má administração e o crescente incentivo às indústrias automobilísticas,
pelo governo de Juscelino, acabaram por levar ao declínio a atuação desse modal de
transporte.
A partir da desestatização das ferrovias, por volta da década de 1990, o serviço voltou
a melhorar, sendo possível observar essa melhoria em aspectos como produção, número de
acidentes e reaquecimento da indústria (LANG, 2007). Atualmente, após o processo de
desestatização, 11 malhas foram concedidas à iniciativa privada, totalizando 28.314 km
operados pelo sistema privado, o qual juntamente com o Governo Federal espera atingir em
2015 os 35.000 km de malha ferroviária (VILAÇA, 2009).
2.1.2 Vantagens e Desvantagens do Sistema Ferroviário
Dentre as principais vantagens do sistema ferroviário, estão os períodos longos de
renovação da estrutura de custos referentes à infraestrutura ferroviária. Segundo a CNT
(2013), esses períodos circulam em torno de 40 anos, visto que trabalhos com terraplenagem e
fundação são investimentos não recuperáveis e não são considerados elementos de custos,
após a sua conclusão. Além disso, a CNT (2013) afirma ainda que os gastos com os
equipamentos (vagões e locomotivas) também implicam em investimentos em bens com uma
vida útil muito longa. A Figura 1 apresenta o tempo de reposição dos componentes de um
sistema ferroviário.
3. Estudo de Caso
3.1 Caracterização da Empresa
A empresa onde o presente estudo foi desenvolvido é a maior empresa de mineração
diversificada das Américas e segunda maior do mundo. Ela é a maior produtora de minério de
ferro no mundo e segunda maior produtora mundial de níquel (BRANCO, 2013).
No Brasil, a organização opera em 13 estados, sendo que, além da exploração do
minério de ferro e outros minerais, também opera serviços de logística, sendo tais serviços o
maior ramo da empresa. Ainda no Brasil, a exploração do minério é feita por quatro sistemas
totalmente integrados: mina, ferrovia, usina de pelotização e terminal marítimo (Sistemas
Norte, Sul e Sudeste) (BRANCO, 2013).
3.2. Caracterização do Processo Produtivo
O Estado do Pará está contido no Sistema Norte da companhia foco desta pesquisa. O
processo produtivo da empresa é baseado na demanda de mercado, sendo que esta leva em
consideração o teor de ferro do seu produto final, o qual é estabelecido pelo mercado. No
Pará, a companhia trabalha 24 horas por dia com todas as operações monitoradas a partir de
uma Sala de Controle (SC), sendo esse monitoramento realizado via rádio entre os
funcionários da SC e os da frente de lavra. O setor operacional compõe-se por 4 turmas,
divididas em 3 turnos: 06:00 às 15:00, 15:00 às 24:00 e 24:00 às 06:00.
A cadeia produtiva desenvolvida pela empresa, e foco desta pesquisa, se inicia com a
extração do minério de ferro do solo paraense e termina com a chegada do produto, já
processado em estágio inicial, ao porto de São Luís (MA), onde este minério é embarcado nos
navios e encaminhado para os alto-fornos siderúrgicos de 30 países.
No Estado do Pará, a empresa divide o seu processo produtivo em 4 macro processos:
Mina (extração do minério das minas A, B e C), Usina beneficiamento do minério –
granulado, sinter feed e pellet feed), Ferrovia (transporte da Usina de beneficiamento até o
Porto) e Porto (armazenagem e carregamento de navios). Os dois primeiros macroprocessos
(Mina e Usina) são controlados na própria região de extração (Parauapebas – PA). Todavia,
após o embarque do minério nos vagões do trem, o controle sobre as próximas operações
desenvolvidas (Ferrovia e Porto) passa a ser efetuado por outra diretoria localizada em São
Luís, no Estado do Maranhão.
Diante do cenário exposto, o presente trabalho focou nas operações de transição entre
os macroprocessos Usina e Ferrovia, mais especificamente nos subprocessos de Expedição
(Usina) e de Carregamento de minério de ferro nos trens (Ferrovia), sendo o primeiro
correspondente às atividades de separação do minério, no pátio de armazenagem, transporte e
carregamento dos silos; e o segundo às atividades de chegada, carregamento de minério de
ferro e despacho dos vagões ferroviários.
3.3. Mapeamento dos Processos
3.3.1 Expedição
O processo de expedição se inicia com a atividade de recuperação do minério de ferro,
a partir do pátio de armazenagem, onde as variantes produzidas na Usina (granulado, sinter
feed e pellet feed) ficam armazenadas até que sejam solicitadas para transporte. Ao todo
existem cinco pátios de armazenagem, cada um com 1 quilômetro de extensão e 60 metros de
largura, e capacidade para estocar três milhões de toneladas de minério de ferro, sendo a
quantidade de minério que chega por hora igual a 11 mil toneladas. A Figura 4 apresenta o
mapa de processos desenhado para a Expedição.
4. Considerações Finais
O uso do modal ferroviário confere eficiência à atividade de transporte do minério de
ferro, sobretudo em custos, devido à demanda do produto o que requer o transporte de
capacidades por longas distâncias, conforme abordado pela literatura. A cadeia do minério de
ferro é de muita importância para o Estado do Pará e, portanto, se faz necessário estudá-la, a
fim de melhorar a efetividade dos processos que a compõem, aumentando, assim, o seu poder
competitividade no mercado internacional.
Esta pesquisa, portanto, conseguiu apreender os dados, mesmo restritos, a respeito dos
processos de Expedição e Carregamento em um centro de mineração, tais como a descrição
geral destes processos por parte da empresa, e os equipamentos (recursos) utilizados em cada
processo. Com isso, foi possível desenhar fluxogramas para cada processo analisado,
contendo operações, recursos e decisões em cada contexto.
Como o processo de Expedição corresponde à etapa final da Usina, e se integra à etapa
inicial da Ferrovia correspondente ao processo de Carregamento, o primeiro apresenta um
conjunto de atividades menor que o segundo processo analisado. Além disso, algumas
informações acerca de como ocorre a autorização e a anexação do auxílio, bem como as
regras de carregamento dos Silos, e como estes equipamentos estão interligados impediu o
desenho de atividades de decisão no fluxograma. Para o processo de Carregamento, o nível de
detalhamento das atividades no mapa de processos correspondente foi maior, visto que as
decisões lógicas ocorrentes no processo foram inclusas. Entretanto, a restrição das
informações também comprometeu o conhecimento acerca, por exemplo, do manuseio das
locomotivas de auxílio e as regras de desmembramento e recomposição dos trens que chegam
ao pátio ferroviário para serem carregados.
Já com o levantamento dos componentes logísticos, foi possível observar que, para o
processo de Expedição, os recursos que envolveram o minério de ferro e seu armazenamento
(Estoques e Silos) foram, simultaneamente, associados aos componentes “Estoque” e
“Instalações”, visto que se consideraram os elementos como um só. Além disso, como as
Recuperadoras e as Correias Transportadoras, em conjunto, realizam o processo de levar os
minérios até os silos, elas foram associadas ao componente “Transporte”. Ressalta-se que o
número de Correias Transportadoras também conferiu uma restrição dos dados. Para o
processo de Carregamento, considerou-se a entrada, a operação de carregamento em si, e a
saída do trem do pátio. Logo, como os vagões são os recursos que realmente realizam o
transporte do minério de forma direta, foram associados ao componente “Transporte” e as
locomotivas de auxílio foram associadas ao componente “Instalações” devido à sua atividade
de mover os vagões somente dentro do pátio. O componente “Informação” é intrínseco a
todos os elementos abordados uma vez que corresponde ao sistema de comunicação em que
eles participam e, portanto, realizam as atividades.
Como proposta de trabalhos futuros, os resultados desta pesquisa podem ser
considerados como base à construção de um modelo conceitual de simulação computacional,
a partir do mapa de processos e dos componentes logísticos associados às atividades. Para
posterior geração e implementação de um modelo de simulação computacional, é necessário
obter dados mais detalhados a respeito de tempos de carregamento e
desmembramento/recomposição dos trens, assim como a forma com que estas atividades
ocorrem. Além disso, as informações, que aqui foram restritas, devem ser obtidas e, com isto,
os Quadros 2 e 3 (componentes logísticos) poderiam ser melhor analisados com a finalidade
de embasar tomada de decisões referentes ao melhor desempenho dos processos considerados.
REFERÊNCIAS
BARNES, R. M. Estudos de Movimentos e Tempos. São Paulo, Editora Edgard Blucher, 1982.
BRANCO, Najmat Celene Nasser Medeiros. Planejamento Operacional de Lavra de Minério de Ferro no
Estado do Pará: Proposta de Simulação-Otimização de Recursos Logísticos na Etapa Mina. 2013. 121 f.
Dissertação (Pós-graduação) - Curso de Engenharia Industrial, PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2013.
BRITO, José do Nascimento (1961). Meio Século de Estradas de Ferro. Rio de Janeiro, Brasil. Livraria São
José. 213 p.
CARNEIRO, H. P. Automação Inteligente da Operação de Máquinas de Pátio em Modo Recuperação de
Minério do Terminal Portuário de Ponta da Madeira – VALE. 2009. 78 f. Monografia (Pós-Graduação em
Engenharia Portuária) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE (CFN). Transporte e Economia: O Sistema Ferroviário
Brasileiro. Brasília: Confederação Nacional do Transporte, 2013.
CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO (CFA). Plano Brasil de Infraestrutura Logística. Brasília:
Conselho Federal de Administração, 2013.
CHEUNG, Y.; BAL, J. Process analysis techniques and tools for business improvements. Business Process
Management Journal, v. 4, n. 4, p. 274-290, 1998.
CUNHA, Alex Uilamar do Nascimento. MAPEAMENTO DE PROCESSOS ORGANIZACIONAIS NA UnB:
Caso Centro de Documentação da UnB - CEDOC. 2012. 73 f. TCC (Graduação) - Curso de Administração,
Departamento de Administração, Universidade de Brasília, Brasília, 2012. Disponível em:
<http://bdm.unb.br/bitstream/10483/4191/1/2012_AlexUilamardoNascimentoCunha.pdf>. Acesso em: 11 dez.
14.
DIÓGENES, Germano Sanford. Uma Contribuição ao Estudo dos Indicadores de Desempenho Operacional de
Ferrovias de Carga: O Caso da Companhia Ferroviária do Nordeste - CFN. 2002. 127 f. Tese (Doutorado) -
Curso de Engenharia de Transportes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002.
GONÇALVES, J. E. L. Processo, que processo? RAE – Revista de Administração de Empresas, São Paulo,
v.40, n.4, p.8-19, Out/Dez, 2000.
HARRINGTON, H. J. Aperfeiçoando Processos Empresariais. Makron Books, S. Paulo, 1996.
LANG, Aline Eloyse. As Ferrovias no Brasil e Avaliação Econômica de Projetos: Uma Aplicação em Projetos
Ferroviários. 2007. 166 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia de Transportes, Universidade de
Brasília, Brasília, 2007.
PINHO, Alexandre Ferreira de et al. COMBINAÇÃO ENTRE AS TÉCNICAS DE FLUXOGRAMA E MAPA DE
PROCESSO NO MAPEAMENTO DE UM PROCESSO PRODUTIVO. 2007. Disponível em:
<http://www.pgtur.uff.br/sites/default/files/fluxograma_e_mapa.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2014.
SAMPAIO, João Alves; JULIANELLI, Kesley Medeiros; PENNA, Márcio Torres Moreira. FERRO – MINA
N5 – CARAJÁS / CVRD. Rio de Janeiro: Cetem, 2002.
SILVA, GabriellaBagatini; VILELA, Paulo Roberto Chiarolanza; MUNIZ, JÚlioCÉsar Alves. Aplicação de
mapeamento de processos em uma empresa de pequeno porte: um estudo de caso visando melhoria contínua no
sistema de gestão da qualidade. 20103. Disponível em: <http://www.centropaulasouza.sp.gov.br/pos-
graduacao/workshop-de-pos-graduacao-e-pesquisa/008-workshop-
2013/trabalhos/otimizacao_e_qualidades_de_sistemas_produtivos/121479_892_902_FINAL.pdf>. Acesso em:
11 dez. 2014.
Souza, Marco Antônio de. Sistema especialista anticolisão de equipamentos portuários usando imagem 3D.
Dissertação (Mestrado) – Curso de Engenharia de Computação, Universidade Estadual do Maranhão, 2013. –
São Luís, 2013.
TSENG, M. M.; QINHAI, M.; SU, C. J. Mapping Customers' Service Experience for Operations Improvement.
Business Process Management Journal, v. 5, n. 1, p.50-64, 1999.
VILAÇA, Rodrigo. Transporte Ferroviário: Situação Atual e Perspectivas. São Paulo: Associação Nacional dos
Transportadores Ferroviários (ANTF), 2009.