Cálculo-II-Aula-02-Parte 2

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Cálculo II e Cálculo Diferencial e Integral II

Aula 4 - Tópico: Limites de Funções reais de Duas Variáveis Reais e

Continuidade

Os gráficos desta aula foram feitos utilizando-se o Programa GeoGebra Calculadora 3D


https://www.geogebra.org/3d

Conteúdo

- Limites de funções de duas variáveis reais:


- Vizinhança aberta de um ponto (𝑥0 , 𝑦0 )
- Ponto de Acumulação do 𝐷𝑜𝑚𝑓
- Limites Finitos
- Não existência de limites (limites por caminhos dando resultados distintos)

- Continuidade
Limites de funções de duas variáveis reais

Seja 𝑧 = 𝑓(𝑥, 𝑦)

1.Limite para (𝑥, 𝑦) tendendo a um ponto (𝑥0 , 𝑦0 )

Os pares ordenados (𝑥, 𝑦) pertencem ao domínio da função e estão se aproximando ou

tendendo a um ponto fixado denotado por (𝑥0 , 𝑦0 ).

(𝑥, 𝑦) → (𝑥0 , 𝑦0 )

Noção de limite

Queremos observar o que ocorre com a imagem, 𝑧, da função quando, no domínio, o par

ordenado (𝑥, 𝑦) se aproxima de (𝑥0 , 𝑦0 ).


Notação

lim 𝑓(𝑥, 𝑦)
(𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑦0 )

Os teoremas sobre limites que foram vistos no Cálculo I continuam válidos para funções reais de

várias variáveis reais.

O ponto (𝑥0 , 𝑦0 ) é um “ponto de acumulação” do domínio da função 𝑓 (𝐷𝑜𝑚𝑓).

Vamos ver o que significa essa noção de “ponto de acumulação” do 𝐷𝑜𝑚𝑓.

Precisamos, antes, da noção de “Vizinhança” de um ponto (𝑥0 , 𝑦0 ). Estaremos sempre nos

referindo a uma “Vizinhança” aberta com centro no ponto (𝑥0 , 𝑦0 ).


Vizinhança (aberta) de um ponto (𝑥0 , 𝑦0 )

O ponto (𝑥0 , 𝑦0 ) pertence ao plano. Assim uma vizinhança (vizinhança aberta) desse ponto

também tem que estar no plano.

Uma vizinhança aberta, 𝑉, de um ponto (𝑥0 , 𝑦0 ) será um disco aberto com centro no ponto (𝑥0 , 𝑦0 )

e raio 𝑟, 𝑟 > 0. Isto é,

𝑉 = {(𝑥, 𝑦) ∈ 𝑅2 , (𝑥 − 𝑥0 )2 + (𝑦 − 𝑦0 )2 < 𝑟}

𝐶 = (𝑥0 , 𝑦0 )
A vizinhança aberta não inclui a
circunferência em azul mais forte,
que está pontilhada.
Ponto de Acumulação do Domínio de uma função (𝐷𝑜𝑚𝑓)

Um ponto (𝑥0 , 𝑦0 ) é um “ponto de acumulação” do 𝐷𝑜𝑚𝑓, se qualquer “vizinhança aberta ” de

(𝑥0 , 𝑦0 ) contém um ponto de 𝐷𝑜𝑚𝑓. Isto é, para qualquer que seja 𝑟, 𝑟 > 0,

𝑉⋂𝐷𝑜𝑚𝑓 ≠ ∅, sendo 𝑉 = {(𝑥, 𝑦) ∈ 𝑅2 , (𝑥 − 𝑥0 )2 + (𝑦 − 𝑦0 )2 < 𝑟}

- Se o ponto (𝑥0 , 𝑦0 ) é um ponto pertencente ao 𝐷𝑜𝑚𝑓, então, claramente, ele é um ponto de

acumulação do 𝐷𝑜𝑚𝑓.

- Pode existir um ponto (𝑥0 , 𝑦0 ) que não pertença ao domínio da função, mas que seja um ponto

de acumulação desse domínio.

Vamos ver um exemplo deste último caso.


𝑦2
Exemplo 1 Considere a função 𝑧 = 𝑥 2 +𝑦 2 .

O domínio dessa função é:

𝐷𝑜𝑚𝑓 = {(𝑥, 𝑦) ∈ 𝑅2 , (𝑥, 𝑦) ≠ (0,0)} = 𝑅2 − {(0,0)}

Na figura o domínio é do o plano (rosa), menos o ponto azul que é a origem.


A origem 𝑂 = (0,0) não pertence ao domínio da função, mas é um ponto de acumulação desse

domínio.
1
Exemplo 2 Considere a função 𝑧 = (𝑥 2 + 𝑦 2 )𝑠𝑒𝑛( ).
𝑥 2 +𝑦 2

O domínio dessa função também é:

𝐷𝑜𝑚𝑓 = {(𝑥, 𝑦) ∈ 𝑅2 , (𝑥, 𝑦) ≠ (0,0)} = 𝑅2 − {(0,0)}

Na figura o domínio é do o plano (rosa), menos o ponto azul que é a origem.


A origem 𝑂 = (0,0) não pertence ao domínio da função, mas é um ponto de acumulação desse

domínio.
Limites Finitos

Limites finitos são aqueles limites que existem e o resultado é finito (um valor real L).

Resolução de limites de funções polinomiais, racionais ou compostas, onde poderão ser usados

todos os teoremas de limites finitos do cálculo I.

Exemplo 3 lim 𝑥𝑦 3 − 2𝑥𝑦 + 4𝑥 − 5 = (−1). 23 − 2(−1)(2) + 4(−1) − 5 = −13


(𝑥,𝑦)→(−1,2)

𝑥 2 𝑦 3 −𝑥𝑦 22 23 −2.2 28
Exemplo 4 lim = = = 28
(𝑥,𝑦)→(2,2) 𝑥−𝑦+1 2−2+1 1
Exemplo 5 lim √𝑥𝑦 + 𝑦 = √9 = 3
(𝑥,𝑦)→(2,3)

𝑥 𝜋 1
Exemplo 6 lim 𝑥𝑦𝑠𝑒𝑛 (𝑦) = 6𝜋. 𝑠𝑒𝑛 ( 6 ) = 6𝜋 . 2 = 3𝜋
(𝑥,𝑦)→(𝜋,6)

2 +𝑦 2 )
Exemplo 7 lim 𝑥𝑦 𝑒 −(𝑥 = 0. 𝑒 0 = 0.1 = 0
(𝑥,𝑦)→(0,0)

𝑥 2 −𝑦 2
Exemplo 8 lim
(𝑥,𝑦)→(3,3) 𝑥−𝑦

O ponto (3,3) anula o numerador e o denominador. Temos um caso de indeterminação do limite.


Mas, fatorando, obtemos:

𝑥2 − 𝑦2 (𝑥 − 𝑦)(𝑥 + 𝑦)
lim = lim = lim (𝑥 + 𝑦) = 6
(𝑥,𝑦)→(3,3) 𝑥 − 𝑦 (𝑥,𝑦)→(3,3) 𝑥−𝑦 (𝑥,𝑦)→(3,3)

Nem sempre poderemos usar fatoração para poder resolver o limite.

𝑥 2 −𝑦 2
Vejam que o domínio da função 𝑧 = é:
𝑥−𝑦

𝐷𝑜𝑚𝑓 = {(𝑥, 𝑦) ∈ 𝑅2 , 𝑥 − 𝑦 ≠ 0} = {(𝑥, 𝑦) ∈ 𝑅2 , 𝑦 ≠ 𝑥 }

O domínio da função é o plano 𝑥𝑦 “tirando” deste plano a reta 𝑦 = 𝑥.


Com a fatoração, temos que:

𝑥 2 − 𝑦 2 (𝑥 − 𝑦)(𝑥 + 𝑦)
= = 𝑥 + 𝑦, 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑦 ≠ 𝑥
𝑥−𝑦 𝑥−𝑦

Assim,

𝑧 = 𝑥 + 𝑦, 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑦 ≠ 𝑥
O gráfico da função é uma superfície, 𝑆, formada pelo plano 𝑧 = 𝑥 + 𝑦 “menos” (de onde foi

“tirada”) a reta 𝑟 que tem como equações:

𝑦=𝑥
𝑟: { , ∀𝑥 ∈ 𝑅.
𝑧 = 2𝑥

𝑦=𝑥
A reta 𝑟 se projeta sobre a reta { , ou, simplesmente, reta 𝑦 = 𝑥 do plano 𝑥𝑦.
𝑧=0

𝐺𝑟𝑎𝑓 𝑓 = 𝑆 = {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ 𝑅3 , 𝑧 = 𝑥 + 𝑦} ∖ {(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∈ 𝑅3 , 𝑦 = 𝑥 𝑒 𝑧 = 2𝑥 }


𝑦=𝑥
𝑟: {
𝑧 = 2𝑥

𝑦=𝑥
{
𝑧=0
Reta 𝑦 = 𝑥 do plano xy

𝑥 2 −𝑦 2 (𝑥−𝑦)(𝑥+𝑦)
Exemplo 9 lim = lim = lim (𝑥 + 𝑦) = 2𝑥0
(𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑥0 ) 𝑥−𝑦 (𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑥0 ) 𝑥−𝑦 (𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑥0 )
Alguns limites que existem e têm como resultado zero

Vamos, agora, usar a proposição abaixo para mostrar que alguns limites existem e dão como

resultado zero. Essa proposição é uma consequência do Teorema do Confronto, que foi visto no

cálculo I e que se estende para funções de várias variáveis reais.

Proposição 1 Sejam 𝑧 = 𝑓(𝑥, 𝑦) e 𝑧 = 𝑔(𝑥, 𝑦) duas funções definidas em 𝐷.

Suponha que lim 𝑓(𝑥, 𝑦) = 0 e 𝑧 = 𝑔(𝑥, 𝑦) é uma função limitada.


(𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑦0 )

Então, lim 𝑓(𝑥, 𝑦)𝑔(𝑥, 𝑦) = 0.


(𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑦0 )
Função limitada

O que é uma função limitada?

Definição 1 Seja 𝑧 = 𝑔(𝑥, 𝑦) uma função definida em 𝐷.

A função 𝑔 é limitada se existirem constantes 𝐾 e 𝑀 tais que 𝐾 ≤ 𝑔(𝑥, 𝑦) ≤ 𝑀, ∀ (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐷.

Geometricamente, a função 𝑔 é limitada se o seu gráfico é limitado (ou está entre) os planos

horizontais 𝑧 = 𝐾 e 𝑧 = 𝑀.
Exemplo 10 A distribuição normal de Gauss bidimensional é uma função do tipo

2 +𝑦 2 )
𝑔(𝑥, 𝑦) = 𝑒 −(𝑥

O domínio da função é 𝑅2 .

2 +𝑦 2 ) 1 2 +𝑦 2 )
Como, 𝑒 −(𝑥 = 2 2 e 𝑔(0,0) = 𝑒 0 = 1, é fácil observar que 0 < 𝑒 −(𝑥 ≤ 1.
𝑒 (𝑥 +𝑦 )

2 +𝑦 2 )
Portanto, a função 𝑔(𝑥, 𝑦) = 𝑒 −(𝑥 é limitada.
1
Exemplo 11 𝑔(𝑥, 𝑦) = 𝑠𝑒𝑛 (𝑥 2 +𝑦 2 )

𝐷𝑜𝑚 𝑔 = 𝑅2 − {(0,0)}.

Observe que a origem não pertence ao domínio da função, mas é um ponto de acumulação do

domínio.

1
−1 ≤ 𝑠𝑒𝑛 ( 2 2
) ≤ 1, ∀ (𝑥, 𝑦) ∈ 𝑅2 − {(0,0)}
𝑥 +𝑦
Portanto, a função é limitada.
𝑥2
Exemplo 12 𝑔(𝑥, 𝑦) = 𝑥 2 +𝑦 2

𝐷𝑜𝑚 𝑔 = 𝑅2 − {(0,0)}

A origem não pertence ao domínio da função, mas é um ponto de acumulação do domínio.

0 ≤ 𝑥2 ≤ 𝑥2 + 𝑦2

Dividindo a inequação acima por 𝑥 2 + 𝑦 2 , para (𝑥, 𝑦) ≠ (0,0), temos:

𝑥2
0≤ 2 2
≤ 1, ∀(𝑥, 𝑦) ∈ 𝑅2 − {(0,0)}
𝑥 +𝑦

Portanto, a função é limitada.


Resolução de limites usando Proposição 1 (consequência imediata do Teorema do Confronto)

𝑥3
Exemplo 13 Verifique se o limite existe lim . Em caso afirmativo resolva o limite.
(𝑥,𝑦)→(0,0) 𝑥 2 +𝑦 2

Observação: Esse limite apresenta uma indeterminação. Não podemos usar o teorema do

quociente que diz:

Teorema (Limite do quociente)

Sejam 𝑧 = ℎ(𝑥, 𝑦) e 𝑧 = 𝑙 (𝑥, 𝑦) definidas em 𝐷 e (𝑥0 , 𝑦0 ) um ponto de acumulação de 𝐷 e suponha

que 𝑧 = 𝑙 (𝑥, 𝑦) não se anula numa vizinhança de (𝑥0 , 𝑦0 ).

ℎ(𝑥,𝑦) 𝐿
Se lim ℎ(𝑥, 𝑦) = 𝐿 e lim 𝑙 (𝑥, 𝑦) = 𝑀 ≠ 0 , então lim = 𝑀.
(𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑦0 ) (𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑦0 ) (𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑦0 ) 𝑙(𝑥,𝑦)
Precisamos verificar se o limite existe por outro meio de alguma manipulação algébrica ou

aplicando outro teorema. Neste exemplo seguintes usaremos a Proposição 1, que é uma

consequência do Teorema do Confronto.

Solução

𝑥2
A função 𝑔(𝑥, 𝑦) = 𝑥 2 +𝑦 2 é limitada para qualquer que seja (𝑥, 𝑦) ∈ 𝑅 2 − {(0,0)}

e lim 𝑥 = 0. Logo,
(𝑥,𝑦)→(0,0)

𝑥3 𝑥2
lim = lim 𝑥. =0
(𝑥,𝑦)→(0,0) 𝑥 2 + 𝑦 2 (𝑥,𝑦)→(0,0) 𝑥 2 + 𝑦 2
1
Exemplo 14 Verifique se o limite existe lim (𝑥 2 + 𝑦 2 )𝑠𝑒𝑛 (𝑥 2 +𝑦 2). Em caso afirmativo resolva
(𝑥,𝑦)→(0,0)

o limite.

Solução

1
A função 𝑔(𝑥, 𝑦) = 𝑠𝑒𝑛 (𝑥 2 +𝑦 2) é limitada para qualquer que seja (𝑥, 𝑦) ∈ 𝑅2 − {(0,0)}

e lim 𝑥 2 + 𝑦 2 = 0. Logo,
(𝑥,𝑦)→(0,0)

2 2
1
lim (𝑥 + 𝑦 )𝑠𝑒𝑛 ( 2 )=0
(𝑥,𝑦)→(0,0) 𝑥 + 𝑦2
Limites por caminhos – Não existência de limites

Cálculo I (função real de uma variável real) – Limites Laterais

Sejam 𝑦 = 𝑓(𝑥 ) uma função definida em 𝐷 ⊂ 𝑅 e 𝑥0 um ponto de acumulação de 𝐷.

Limites laterais: lim+ 𝑓(𝑥) e lim− 𝑓 (𝑥 ).


𝑥→𝑥0 𝑥→𝑥0
X0 X
𝑥→ 𝑥0+ ⟺ 𝑥 → 𝑥0 𝑒 𝑥 > 𝑥0

𝑥 → 𝑥0− ⟺ 𝑥 → 𝑥0 𝑒 𝑥 < 𝑥0 X X0

Proposição 2 O limite de 𝑦 = 𝑓 (𝑥 ), quando 𝑥 tende a 𝑥0 , existe e é igual a 𝐿 se, e somente se,

os limites de 𝑦 = 𝑓(𝑥 ) para 𝑥 tendendo à 𝑥0 pela direita e 𝑥 tendendo à 𝑥0 pela esquerda existem

e ambos são 𝐿.

Resumidamente,
lim 𝑓 (𝑥 ) = 𝐿 ⟺ lim+ 𝑓(𝑥) = 𝐿 e lim− 𝑓(𝑥 ) = 𝐿.
𝑥→𝑥0 𝑥→𝑥0 𝑥→𝑥0
Limites por caminhos
(Função real de duas variáveis reais)

Sejam 𝑧 = 𝑓(𝑥, 𝑦) uma função definida em 𝐷 ⊂ 𝑅2 e (𝑥0 , 𝑦0 ) um ponto de acumulação de 𝐷.

Agora (𝑥, 𝑦) está no plano e se aproxima do ponto (𝑥0 , 𝑦0 ) também do plano.

Há vários caminhos (curvas) diferentes que (𝑥, 𝑦) pode percorrer para se aproximar de (𝑥0 , 𝑦0 ).

Proposição 3 O limite de 𝑧 = 𝑓 (𝑥, 𝑦), quando (𝑥, 𝑦) tende a (𝑥0 , 𝑦0 ), existe e é igual a 𝐿 se, e

somente se, para qualquer que seja o caminho 𝛾 no domínio da função, o limite de 𝑧 = 𝑓(𝑥, 𝑦),

quando (𝑥, 𝑦) tende a (𝑥0 , 𝑦0 ) para (𝑥, 𝑦) percorrendo o caminho 𝛾, existe e é igual a 𝐿.

Resumidamente,

lim 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝐿 ⟺ ∀ 𝛾, 𝛾 𝑢𝑚 𝑐𝑎𝑚𝑖𝑛ℎ𝑜 𝑒𝑚 𝐷 ⊂ 𝑅2 , lim 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝐿


(𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑦0) (𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑦0 )
(𝑥,𝑦) ∈ 𝛾
A Proposição 3 é útil para mostrar que um limite lim 𝑓 (𝑥, 𝑦) não existe.
(𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑦0)

Pois, considere que (𝑥, 𝑦) tende a (𝑥0 , 𝑦0 ), por dois caminhos distintos 𝛾 e 𝛿.

Se lim 𝑓(𝑥, 𝑦) for diferente de lim 𝑓(𝑥, 𝑦), então lim 𝑓(𝑥, 𝑦) não existe.
(𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑦0 ) (𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑦0 ) (𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑦0)
(𝑥,𝑦) ∈ 𝛾 (𝑥,𝑦) ∈ 𝛿
𝑥2
Exemplo 15 Verifique se o limite existe lim .
(𝑥,𝑦)→(0,0) 𝑥 2 +𝑦 2

Solução

(i) Considere (𝑥, 𝑦) tendendo para (0,0), tal que (𝑥, 𝑦) caminha, no plano, percorrendo o

eixo 𝑦. A equação do eixo 𝑦 é 𝑥 = 0. Vamos denotar esse caminho por 𝛾.

𝑥2 0 0
lim 2 = lim = lim =0 .
(𝑥,𝑦)→(0,0) 𝑥 2 +𝑦 (0,𝑦)→(0,0) 0+𝑦 2 𝑦→0 0+𝑦 2
(𝑥,𝑦) ∈ 𝛾
(ii) Considere (𝑥, 𝑦) tendendo para (0,0), tal que (𝑥, 𝑦) caminha, no plano, percorrendo a

𝑦 = 𝑥. Vamos denotar esse caminho por 𝛿.

𝑥2 𝑥2 𝑥2 𝑥2 1 1
lim = lim = lim = lim = lim =
(𝑥,𝑦)→(0,0) 𝑥 2 + 𝑦 2 (𝑥,𝑦)→(0,0) 𝑥 2 + 𝑥 2 𝑥→0 𝑥 2 + 𝑥 2 𝑥→0 2𝑥 2 𝑥→0 2 2
(𝑥,𝑦) ∈ 𝛿 𝑦=𝑥

𝑥2
Como os limites, por caminhos diferentes, são distintos, não existe lim .
(𝑥,𝑦)→(0,0) 𝑥 2 +𝑦 2
𝑦
Exemplo 16 Verifique se o limite existe lim .
(𝑥,𝑦)→(0,0) 𝑥 2 +𝑦 2

Solução

(i) Considere (𝑥, 𝑦) tendendo para (0,0), tal que (𝑥, 𝑦) caminha, no plano, percorrendo o

eixo 𝑥. A equação do eixo 𝑥 é 𝑦 = 0. Vamos denotar esse caminho por 𝛾.


𝑦 0 0
lim = lim = lim 𝑥 2 = 0 .
(𝑥,𝑦)→(0,0) 𝑥 2 +𝑦 2 (𝑥,0)→(0,0) 𝑥 2 +0 𝑥→0
(𝑥,𝑦) ∈ 𝛾
(ii) Considere (𝑥, 𝑦) tendendo para (0,0), tal que (𝑥, 𝑦) caminha, no plano, percorrendo a

𝑦 = 𝑥, para 𝑥 > 0. Vamos denotar esse caminho por 𝛿.

𝑦 𝑥 𝑥 𝑥 1
lim = lim = lim+ 2 = lim+ 2 = lim+ =+∞
(𝑥,𝑦)→(0,0) 𝑥 2 + 𝑦 2 (𝑥,𝑦)→(0,0) 𝑥 2 + 𝑥 2 𝑥→0 𝑥 + 𝑥 2 𝑥→0 2𝑥 𝑥→0 2𝑥
(𝑥,𝑦) ∈ 𝛿 𝑦=𝑥,𝑥>0

𝑦
Como os limites, por caminhos diferentes, são distintos, não existe lim .
(𝑥,𝑦)→(0,0) 𝑥 2 +𝑦 2
𝑦
Gráfico da função 𝑧 =
𝑥 2 +𝑦 2
Continuidade

A noção de continuidade para uma função real de várias variáveis reais é a mesma do Cálculo I.

Vamos ver para uma função de duas variáveis.

Definição 2 Seja 𝑧 = 𝑓(𝑥, 𝑦) uma função definida em 𝐷 e seja (𝑥0 , 𝑦0 ) ∈ 𝐷.

A função é contínua em (𝑥0 , 𝑦0 ) se lim 𝑓(𝑥, 𝑦) existe e lim 𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑓(𝑥0 , 𝑦0 ).


(𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑦0) (𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑦0)

Observe que na definição de continuidade da função num ponto (𝑥0 , 𝑦0 ), este ponto tem que estar

no domínio da função.

Definição 3 Seja 𝑧 = 𝑓(𝑥, 𝑦) uma função definida em 𝐷.

A função é dita contínua se ela é continua em todo ponto (𝑥0 , 𝑦0 ) pertencente ao seu domínio 𝐷.
𝑥3
, 𝑠𝑒 (𝑥, 𝑦) ≠ (0,0)
Exemplo 17 Considere a função 𝑓(𝑥, 𝑦) = {𝑥 2 +𝑦 2
𝐴, 𝑠𝑒 (𝑥, 𝑦) = (0,0)

Determine, se possível o valor da constante A de modo que a função 𝑓 seja contínua.

(i) Para (𝑥, 𝑦) ≠ (0,0) a função já é contínua, por ser uma função racional (quociente de

dois polinômios e o polinômio do denominador não se anula para (𝑥, 𝑦) ≠ (0,0)).

(ii) Só é preciso analisar a continuidade na origem.

𝑥3
Do Exemplo 13, lim = 0.
(𝑥,𝑦)→(0,0) 𝑥 2 +𝑦 2

Assim, tomando 𝐴 = 0, a função 𝑓 será contínua em (0,0).


Observação:

𝑥3
, 𝑠𝑒 (𝑥, 𝑦) ≠ (0,0) 𝑥 3
Considere as funções 𝑓(𝑥, 𝑦) = {𝑥 2 +𝑦 2 e 𝑓̃ = 𝑥 2 +𝑦 2.
0, 𝑠𝑒 (𝑥, 𝑦) = (0,0)

𝐷𝑜𝑚 𝑓 = 𝑅2 , 𝐷𝑜𝑚 𝑓̃ = 𝑅2 − {(0,0)}

Do Exemplo 17, a função 𝑧 = 𝑓(𝑥, 𝑦) será contínua em todo o plano (𝑅2 ).

A função 𝑧 = 𝑓(𝑥, 𝑦) é uma extensão contínua, ao plano, da função 𝑧 = 𝑓̃(𝑥, 𝑦).

Na prática, quando é dada uma função 𝑧 = 𝑓̃(𝑥, 𝑦) definida em 𝑅2 − {(𝑥0 , 𝑦0 )} e

lim 𝑓̃(𝑥, 𝑦) existe e lim 𝑓̃(𝑥, 𝑦) = 𝐿, podemos definir uma extensão contínua da
(𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑦0) (𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑦0)

função 𝑧 = 𝑓̃(𝑥, 𝑦) ao plano todo.


Para isso, definimos uma nova função, com domínio sendo 𝑅2 , que será idêntica à função

𝑧 = 𝑓̃(𝑥, 𝑦), para (𝑥, 𝑦) ≠ (𝑥0 , 𝑦0 ) . Essa nova função (extensão contínua de 𝑧 = 𝑓̃(𝑥, 𝑦)) será a

função 𝑧 = 𝑓(𝑥, 𝑦), onde:

𝑓̃(𝑥, 𝑦), 𝑠𝑒 (𝑥, 𝑦) ≠ (𝑥0 , 𝑦0 )


𝑓 (𝑥, 𝑦) = { 𝐿= lim 𝑓̃(𝑥, 𝑦) , 𝑠𝑒 (𝑥, 𝑦) = (𝑥0 , 𝑦0 )
(𝑥,𝑦)→(𝑥0 ,𝑦0)

Como todos gostamos de trabalhar com funções contínuas, “esquecemos” a função original e

trabalhamos com a sua extensão contínua. Isso é muito comum nos programas matemáticos que

esboçam os gráficos.

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