Sem 1 - Meta 3 - Processual Penal - Projeto Em Delta

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114404.

29/12/2024

RETA FINAL DPC PE

RETA FINAL
051.694.673-03.106433

DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL DE PERNAMBUCO

SEMANA 1

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META 3
PROCESSUAL PENAL

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DIREITO PROCESSUAL PENAL


Sistemas Processuais Penais

Vejamos os principais sistemas processuais penais, e suas distinções elementares:

Inquisitorial Acusatório Misto


Produção de provas juiz partes
concentradas
Funções de investigar, separadas em
no juiz
acusar e julgar órgãos distintos
inquisidor
1ª fase
Contraditório e ampla (investigação):
defesa, vedação de provas inquisitorial
ilícitas, motivação das
não sim
decisões e outras 2ª fase
decorrências do devido (processo):
processo legal acusatória
Prisão regra exceção
Investigado/Réu objeto pessoa
Valoração da prova verdade real busca da verdade

As principais características do sistema inquisitorial e do sistema acusatório podem ser


assim elencadas:

Sistema Inquisitorial
- prevalência na Idade Média, notadamente no Tribunal da Santa Inquisição
- magistrado pode iniciar o processo penal de ofício;
- juiz pode determinar a produção de provas de ofício (poderes instrutórios)
- atividade probatória e e valoração da prova com objetivo revelar a verdade real
- prevalência da acusação em detrimento da defesa
- réu é objeto do processo e da prova, não sujeito de direitos
- confissão é rainha das provas, podendo ser obtida mediante tortura
- admissão de provas ilícitas
- ausência de fundamentação (permissão de íntima convicção do magistrado)

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- sigilo
- ausência de contraditório e ampla defesa (meramente decorativa)
- prisão como regra
- impossibilidade de impugnar as decisões

Sistema Acusatório
- acusação feita por órgão próprio
- juiz não produz provas de ofício, em regra; gestão da prova com as partes
- atividade probatória e valoração da prova com objetivo da busca da verdade
- paridade de armas entre as partes
- réu é sujeito de direitos
- vedação de provas ilícitas
- exigência de fundamentação
- publicidade
- contraditório e ampla defesa
- liberdade como regra, em razão da presunção de inocência
- duplo grau de jurisdição

Embora haja doutrina sustentando ser o modelo misto aquele adotado no país, prevalece
que o Brasil adota o sistema processual penal acusatório.
Tal sistema também é mencionado como princípio acusatório.
A Constituição, embora não utilize essa terminologia expressamente, consagra o sistema
ao separar as funções de acusar, investigar e julgar a órgãos distintos (arts. 129, I, 144 e
92 da CF).
Com o advento do Pacote Anticrime, pela primeira vez o CPP consagrou expressamente
o sistema acusatório em seu texto: o processo penal terá estrutura acusatória, vedadas
a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão
de acusação (art. 3º-A do CPP). Trata-se de dispositivo constitucional (STF, ADI 6.298).
Com relação à atuação de ofício pelo juiz, o Supremo conferiu interpretação conforme
para autorizar o magistrado, pontualmente e nos limites legalmente autorizados, a
determinar a realização de diligências suplementares para dirimir dúvida sobre questão
relevante. (STF, ADI 6.298).
Mantem-se assim a validade do art. 156, II do CPP (possibilidade de o juiz, ,de ofício e
durante o processo, determinar diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante),
com a ressalva de se tratar de atuação pontual, e não generalizada.

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Em relação art. 156, I, que possibilita ao juiz agir de ofício antes da ação penal, isto é, na
investigação criminal, para determinar produção antecipada de provas urgentes e
relevantes, o STF nada afirmou. Tudo a indicar um silêncio eloquente, até porque o art.
3º-B, VII estabelece que cabe ao juiz das garantias decidir sobre o requerimento de
antecipação de provas (e não decretar de ofício), e o próprio art. 3º-A veda iniciativa do
juiz na fase investigativa
A doutrina rechaça a atuação do magistrado sem provocação no inquérito policial. E a
legislação impede que o juiz decrete de ofício na investigação, por exemplo, (a) medidas
cautelares diversas da prisão (art. 282, §2º do CPP), (b) prisão preventiva (art. 311 do
CPP), (c) prisão temporária (art. 2º da Lei 7.960/89), (d) infiltração policial e colaboração
premiada (arts. 4º e 10 da Lei 12.850/13), e (e) medidas protetivas (art. 19 da Lei
11.340/06 e art. 16 da Lei 14.344/22).
A mesma linha seguiu o Pacote Anticrime que, ao instituir o juiz das garantias, utilizou
uma expressão (decidir sobre requerimento) para indicar atuação por provocação (como
nas decisões de prisão e provas – art. 3º-B, VII e XI), e empregou outra terminologia
(determinar) para sinalizar possibilidade de atuação de ofício (como nas decisões de
trancamento do IP e incidente de insanidade mental – art. 3º-B, IX e XIII).

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Princípios

Introdução
Os princípios constitucionais alicerçam o chamado Processo Penal Constitucional, um
Processo Penal que cada vez mais se distancia dos rigores do Código de Processo Penal,
modelo normativo inquisitivo e autoritário engendrado no regime ditatorial-fascista que
reinava no país em 1941, e se aproxima dos valores democráticos da modernidade
insculpidos na Constituição de 1988.
O processo justo deve atentar, sempre, para a desigualdade material que normalmente
ocorre no curso de toda persecução penal, em que o Estado ocupa posição de
proeminência, respondendo pelas funções investigatória, acusatória e de jurisdição.
Essa linha de pensamento se aplica ao inquérito policial, sobretudo sob a lente da
denominada moderna doutrina, que enxerga a fase investigativa como devida
investigação criminal, com incidência obrigatória dos princípios constitucionais que
conferem á persecução criminal (tanto em sua 1ª fase como na 2ª etapa) um caráter
democrático.

Presunção da inocência
Também chamado de estado de inocência, situação jurídica de inocência ou da não
culpabilidade.
Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória (art. 5º, LVII da CF).
O limite temporal da presunção de inocência é o trânsito em julgado da condenação.
O Supremo atualmente não admite a execução provisória da pena (antes da coisa
julgada). Se não houve ainda trânsito em julgado, não se pode determinar que o réu inicie
o cumprimento provisório da pena. Não importa que os recursos pendentes possuam
efeito meramente devolutivo (sem efeito suspensivo). O art. 283 do CPP, que exige o
trânsito em julgado da condenação para que se inicie o cumprimento da pena, é
constitucional, sendo compatível com o princípio da presunção de inocência (STF.
Plenário. ADC 43).
O Superior Tribunal de Justiça entende pela impossibilidade de execução provisória da
pena mesmo em caso de condenação pelo tribunal do júri com reprimenda igual ou
superior a 15 anos de reclusão, em que há autorização legal expressa por força do
Pacote Anticrime - art. 492 do CPP (STJ. AgRg no HC 714884).
Independentemente da vedação de execução provisória da prisão definitiva,
evidentemente continua cabível a prisão cautelar antes mesmo da condenação.

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Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a aplicação imediata de


regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado da sentença
condenatória (Súmula 716 do STF).
Da presunção de inocência emanam 2 regras.
Regra probatória (in dubio pro reo): também chamado de favor rei, essa regra estipula
que o ônus da prova, em regra, cabe à acusação.
Exceção: o ônus da prova das causas excludentes de ilicitude ou de culpabilidade
compete ao acusado – ainda que a dúvida quanto a elas já acarrete a absolvição (art.
386, VI, do CPP) e causas de extinção da punibilidade (art. 107 do CP).
Regra de tratamento: a pessoa deve ser tratada como inocente até que ocorra o trânsito
em julgado da sentença penal condenatória.
É vedada a utilização de inquérito policiais e ações penais em curso para agravar a pena-
base (Súmula 444 do STJ).
Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei, não é legítima a cláusula
de edital de concurso público que restrinja a participação de candidato pelo simples fato
de responder a inquérito ou a ação penal (STF, Informativo 965 – Repercussão Geral).
Decorrências da regra de tratamento:
a) excepcionalidade das prisões cautelares: a regra é a de que o indivíduo responde o
processo em liberdade, devendo ser contemplado pelo instituto da liberdade provisória,
com ou sem fiança, sempre que a lei autorizar. Somente aplicável se não for cabível a
sua substituição por outra medida cautelar (art. 282, § 6º, do CPP).
Ninguém será:
- levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem
fiança (art. 5º, LXVI da CF).
- preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente
militar, definidos em lei; (art. 5º, LXI da CF)
b) excepcionalidade das medidas restritivas de direitos fundamentais: medidas
cautelares diversas da prisão (relativizam a liberdade), quebras de sigilo - fiscal, bancário,
telefônico, informático, de localização, dentre outros (mitigam a intimidade), busca e
apreensão domiciliar (mitiga a inviolabilidade do domicílio).

Igualdade processual
Também chamado de paridade das armas – par conditio.
As partes devem ter, em juízo, as mesmas oportunidades de fazer valer suas razões e
ser tratadas igualitariamente, na medida de suas igualdades, e desigualmente, na
proporção de suas desigualdades.

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Para a acusação e a defesa devem ser assegurados os mesmos direitos, idênticas


possibilidades de alegação, de prova e de impugnação.
Outra consequência desse princípio é que o réu não pode se defender sozinho (a não ser
que ele próprio seja advogado), precisando necessariamente de defesa técnica (art. 263
do CPP).
Já no inquérito policial a defesa técnica é facultativa, em regra.
Exceção: investigação contra policial por uso da força letal praticados no exercício
profissional (art. 14-A do CPP). Nesse caso, o investigado deverá ser citado da
instauração do inquérito, podendo constituir defensor no prazo de até 48 horas; esgotado
o prazo, a autoridade deverá intimar a instituição policial para que, no prazo de 48 horas,
indique defensor para a representação do investigado.
O princípio da paridade de armas é relativizado na ação penal pública pelo princípio da
oficialidade.

Ampla defesa e Contraditório


Esses princípios, umbilicalmente ligados, garantem que o réu seja informado sobre os
atos estatatais em seu desfavor, daí decorrento o direito a um amplo arsenal de
instrumentos de defesa como forma de compensar sua fragilidade em relação ao Estado.
Por isso a Constituição afirma que, as litigantes em processo judicial ou administrativo, e
aos acusados em geral, são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes (art. 5º, LV da CF).

Contraditório Ampla Defesa


Ciência (informação) Reação (manifestação)

Vejamos as facetas da ampla defesa:

Ampla Defesa
- por advogado/defensor público
- indisponível
Defesa - obrigatória na fase processual
técnica
Observações:
- direito de constituir o seu próprio defensor a qualquer tempo (art. 263)

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Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer


contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a
suprindo a nomeação de defensor dativo (Súmula 707 do STF)
- É nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da
renúncia do único defensor, o réu não foi previamente intimado para
constituir outro (Súmula 708 do STF)
- No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a
sua deficiência só o anulará se houver prejuízo para o réu (Súmula 523
do STF)
- pelo próprio investigado/réu
- disponível
- exercida de maneira ativa (alegações e atividades) ou passiva (silêncio
e inação)
a) direito de audiência: direito de ser ouvido no processo (geralmente
no interrogatório)
b) direito de presença: direito de estar presente aos atos processuais
(geralmente audiências), sendo obrigatória a intimação para todos os
atos processuais
c) capacidade postulatória autônoma: possibilidade de formular pleitos
em juízo desacompanhado de defensor técnico – ex: recursos (art. 577),
habeas corpus (art. 654), revisão criminal (art. 623), pedidos na execução
penal (art. 195 da LEP).
Observações:
Autodefesa
- A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é
típica, ainda que em situação de alegada autodefesa (Súmula 522 do
STJ)
- Réu não pode mentir nem se calar na primeira parte do interrogatório
judicial (art. 187, § 1º, do CPP), referente à sua qualificação, sob pena de
praticar contravenção penal (art. 68 da LCP - recusa de dados sobre
própria identidade ou qualificação).
- Réu não pode, nem mesmo na segunda parte do interrogatório, formular
imputação falsa a terceiros ou autoimputação falsa, sob pena de crime de
denunciação caluniosa (art. 339 do CP) ou autoacusação falsa (art. 341
do CP).
- Não há nulidade pela ausência do réu preso em audiência de oitiva de
testemunha por meio de carta precatória se ele não manifestou
expressamente intenção de participar da audiência (STF, RE 602543
QO).

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Decorrências da ampla defesa:


a) existência de recursos privativos da defesa (exs: embargos infringentes e de
nulidade)
b) revisão criminal exclusiva para o réu
c) non reformatio in pejus: em recurso exclusivo da defesa, não se permite agravamento
da situação do réu.
Não fere o contraditório e o devido processo decisão que, sem ouvida prévia da defesa,
determine transferência ou permanência de custodiado em estabelecimento penitenciário
federal (Súmula 639 do STJ).
Na esfera do inquérito policial, os Tribunais Superiores, de um lado, afirmam a
inaplicabilidade desses princípios; todavia, de outro vértice, garantem ao suspeito e à
vítima o direito á informação e participação na investigação, até mesmo por força de
dispositivos legais nesse sentido. Confira:
a) direito à informação e participação do suspeito e seu advogado na investigação
(súmula vinculante 14 do STF; art. 7º, XIV e XXI do EOAB; art. 14 do CPP)
b) defesa obrigatória do suspeito em inquérito policial quanto a (i) policial ou membro das
Forças Armadas em apuração de uso da força letal (art. 14-A do CPP), e (ii) colaboração
premiada (art. 3º-C da Lei 12.850/13):
c) direito à informação e participação da vítima e seu advogado na investigação - súmula
vinculante 14 se aplica à vítima (STJ, RMS 70411)
d) direito à participação do defensor público na investigação envolvendo vulneráveis –
como mulher, criança ou adolescente (art. 18 da Lei 14.344/22, art. 141 do ECA, art. 28
da Lei 11.340/06, art. 4º, XVIII da Lei Complementar 80/94), podendo inclusive ser
intimado de ofício pelo juiz (STJ, RMS 70.679).
e) direito de a vítima se insurgir contra o arquivamento, impetrando mandado de
segurança em situações excepcionais, por exemplo quando faltar devida diligência na
investigação – notadamente em apuração de violência contra a mulher (STJ. RMS
70.338) ou se houver incompetência absoluta – como no arquivamento pela Justiça Militar
de apuração de crime contra a vida de civil praticado por militar, de competência da
Justiça Comum (Tribunal do Júri) (STJ, CC 145.660).
f) direito de a vítima se insurgir contra o arquivamento, submetendo a matéria à revisão
da instância do MP (art. 28, § 1º do CPP), conforme dispositivo inseriro pelo Pacote
Anticrime e julgado constitucional (STF, ADI 6.298)
Daí a doutrina moderna sustentar a aplicação (ainda que de forma mitigada) do
contraditório e da ampla defesa na fase policial da persecução criminal.

Publicidade
Os atos processuais devem ser praticados publicamente, permitindo-se o amplo acesso
ao público. Trata-se de forma de fomentar o controle social dos atos processuais.

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Exceção: a lei poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem (art. 5º, LX, da CF).
Essa chamada publicidade específica (interna ou restrita), portanto, só permite o acesso
ao ato processual e aos autos do feito por parte do Ministério Público, assistente de
acusação, se houver, e defensor. De forma atécnica, ela é conhecida como segredo de
justiça. Depende de ordem judicial para restrição (total ou parcial) de acesso aos atos e
autos do processo.
Ocorre, por exemplo, em crimes contra a dignidade sexual (art. 234-B do CP).
No inquérito policial, a regra é o sigilo; segredo esse externo, que afasta a ciência de
terceiros não interessados, não havendo sigilo interno em face do próprio investigado,
que tem direito à ciência dos elementos de prova já produzidos e documentados no
inquérito policial. Essa ideia se manifesta pela jurisprudência e legislação.
É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de
prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa
(Súmula Vinculante 14).
É direito do advogado examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir
investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer
natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar
peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital (art. 7º, XIV do EOAB).
Nesse caso, a autoridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos
elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda não documentados
nos autos, quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da
finalidade das diligências (art. 7º, XIV do EOAB).
Deve o juiz das garantias assegurar prontamente, quando se fizer necessário, o direito
outorgado ao investigado e ao seu defensor de acesso a todos os elementos informativos
e provas produzidos no âmbito da investigação criminal, salvo no que concerne,
estritamente, às diligências em andamento (art. 3º-B, XV do CPP).

Vedação das provas ilícitas


A proibição de produção de provas a qualquer custo está estampada na Constituição e
na legislação ordinária afinal, não se admite no processo penal que os fins justifiquem os
meios.
São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI da CF).
São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim
entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais (art. 157 do CPP).
São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não
evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas
puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras (art. 157 do CPP).

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Duração razoável do processo


Também denominado economia processual ou celeridade processual.
A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação (art. 5º, LXXVIII da
CF).
O processo deve buscar o máximo resultado com o mínimo de custo e atividades.
Regra do aproveitamento dos atos processuais (art. 563 do CPP): não se anulam os atos
imperfeitos quando não prejudicarem a acusação ou a defesa e não influírem na apuração
da verdade ou na decisão da causa.
O direito ao processo penal sem procrastinação é da vítima, do réu e da sociedade, daí
porque quanto menor a descontinuidade das providências processuais, maior será o
respeito à duração razoável do processo (STF, Inq. 4.460).
Decorrências desse postulado:
a) limitação temporal das prisões cautelares: somente devem persistir por tempo
razoável, sob pena de ilegalidade por excesso de prazo. A análise da razoabilidade do
lapso temporal deve considerar a complexidade, número de envolvidos e natureza das
provas.
b) possibilidade de carta precatória itinerante (art. 355, § 1º, do CPP): o próprio juízo
deprecado pode encaminhar a precatória ao local onde o réu se encontra, sem
necessidade de retorno ao juízo deprecante.
c) suspensão do processo por questão prejudicial somente em caso de difícil solução
(art. 93 do CPP).
d) admissão do uso da prova antecipada em processos suspensos (em razão de réu
citado por edital - art. 366 do CPP), mesmo sabendo que tal prova não pode ser manejada
de forma automática pelo simples decurso do tempo (Súmula 455 do STJ), quando
houver pelo risco de perecimento em razão do esquecimento, como no caso de
depoimento de testemunhas policiais (STJ, HC 751.023 AgR).
Aplica-se ao inquérito policial, sendo possível se falar em duração razoável da
investigação criminal.
O prazo para a conclusão do inquérito policial, em caso de investigado solto é impróprio.
Assim, em regra, o prazo pode ser prorrogado a depender da complexidade das
investigações. No entanto, é possível que se realize, por meio de habeas corpus, o
controle acerca da razoabilidade da duração da investigação, sendo cabível, até mesmo,
o trancamento do inquérito policial, caso demonstrada a excessiva demora para a sua
conclusão. (STJ. HC 653299).
A pendência de investigação, por prazo irrazoável, sem amparo em suspeita contundente,
ofende o direito à razoável duração do processo e a dignidade da pessoa humana (STF.
Inq 4420).

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Devido processo legal


Historicamente, a Magna Carta de 1215 é indicada como a origem mais remota do due
process of law.
O devido processo legal constitui um sistema de limitações ao exercício do poder,
mediante o traçado de instransponíveis landmarks além dos quais não pode passar o
próprio legislador, o administrador nem o juiz.
Está assim previso na Constituição: ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal (art. 5º, LIV da CF).
Cuida-se de princípio que desencadeia diversos outros. O devido processo legal constitui
núcleo de convergência ou condensação metodológica dos demais princípios; em
outras palavras, é o centro valorativo em torno do qual gravitam os demais princípios.
Possui 2 aspectos:
a) material ou substancial (substantive due process): liga-se ao Direito Penal, fazendo
valer os princípios penais, coincidindo com o princípio da razoabilidade.
b) processual ou procedimental (procedural due process): relaciona-se ao
procedimento e à ampla possibilidade de o réu alegar sua inocência, bem como o de o
acusador provar a pretensão punitiva.

Inexigibilidade de autoincriminação
Também chamado de nemo tenetur se detegere, ou direito de não produzir prova contra
si mesmo.
Trata-se de princípio constitucional implícito que decorre da presunção de inocência (art.
5º, LVII, CF), ampla defesa (art. 5º, LV, CF) e direito ao silêncio (art. 5º, LXIII, CF).
Está expressamente previsto no art. 8º do Pacto de São José da Costa Rica (que tem
status supralegal – STF, RE 466.343).
Constitui modalidade de autodefesa passiva, exercida por meio da inação do imputado.
Possui diversas facetas:
a) direito ao silêncio
Esta faceta da não autoincriminação constitui princípio constitucional expresso (art. 5º,
LXIII, da CF). Foi esse o motivo que levou o STF a decidir que a vedação à
autoincriminação tem status constitucional (STF, HC 80.949).
O alerta sobre o direito ao silêncio (conhecido como aviso de Miranda) deve ser feito
não apenas pelo Delegado, durante o interrogatório formal, mas também pelos policiais
responsáveis pela voz de prisão em flagrante. Isso porque a todos os órgãos estatais
impõe-se o dever de zelar pelos direitos fundamentais. A falta da advertência quanto ao
direito ao silêncio torna ilícita a prova obtida a partir dessa confissão. (STF. RHC 170843
AgR)

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É nula a entrevista realizada pela autoridade policial com o investigado, durante a busca
e apreensão em sua residência, sem que tenha sido assegurado ao investigado o direito
à prévia consulta a seu advogado e sem que ele tenha sido comunicado sobre seu direito
ao silêncio e de não produzir provas contra si mesmo. Trata-se de um interrogatório
travestido de entrevista, verdadeiro interrogatório sub-reptício, havendo violação do
direito ao silêncio e à não autoincriminação. (STF. Rcl 33711)
b) vedação de interpretação do silêncio em prejuízo da defesa
Não se pode falar na existência de um direito se o seu exercício é utilizado em desfavor
do seu titular, daí porque a opção do agente pelo silêncio jamais poderá interpretada em
prejuízo dele.
Por isso, não foi recepcionado pela CF o art. 198 do CPP, segundo o qual o silêncio do
acusado não importará confissão, mas poderá constituir elemento para a formação do
convencimento do juiz.
Adequado é o art. 186, parágrafo único, do CPP, de acordo com o qual o silêncio, que
não importará em confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa.
c) direito de não ser constrangido a confessar
d) direito de não ser obrigado a dizer a verdade
Prevalece que não há o direito de mentir, apenas que a mentira é tolerável, ou seja, não
é punida quando não for agressiva. Sendo mentira agressiva, é punida, por resultar na
imputação falsa a terceiros ou mesmo uma autoacusação falsa.
e) direito de não praticar comportamento ativo incriminador
Não se pode obrigar que o agente participe da reconstituição do crime, forneça padrões
de grafia ou de voz, ou atue ativamente para produzir qualquer prova em seu desfavor.
f) direito de não produzir prova invasiva incriminadora (intervenções corporais)
Veda-se que o Estado colha uma prova forçadamente que implique em intervenção
corporal do investigado ou acusado, tais como exames de DNA e de sangue, bafômetro
(etilômetro).
Admite-se a produção de prova não invasiva, que não acarreta penetração no organismo
humano, como o exame de DNA colhido a partir de fio de cabelo encontrado no chão de
chiclete, cigarro ou copo descartável achado em uma lata de lixo (STF, RCL 2.040).
O crime do art. 305 do CTB (afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para
fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída) é constitucional, pois
a tão só permanência do agente no local do acidente não implica em sua
autoincriminação, até por estar garantido o direito ao silêncio (STF, RE 971959).

Segurança Jurídica
A segurança jurídica envolve a estabilização do ordenamento jurídico, sendo respaldada
pela Constituição ao, por exemplo, a coisa julgada (art. 5º, XXXVI da CF) e a
irretroatividade das leis (art. 5º, XL da CF).

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Em matéria de direito intertemporal, admite-se excepcionalmente a retroatividade da lei


benéfica no Direito Penal. O Direito Processual Penal segue a regra geral, por exigência
do princípio tempus regit actum, segundo o qual a lei processual penal se aplica
imediatamente (desde logo), sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência
da lei anterior (art. 2º do CPP). Vale destacar que a lei híbrida ou mista (simultaneamente
penal e processual penal) benéfica se aplica retroativamente em seu aspecto material
(STF, ADI 1.719).
Em relação a processos em curso, aplica-se a interpretação jurisprudencial
superveniente, mesmo se prejudicial ao réu e em relação a delito ocorrido antes da data
do novo entendimento. O ordenamento jurídico somente proíbe a retroatividade da lei
penal mais gravosa, e não de jurisprudência, sendo possível a retroatividade maléfica de
jurisprudênca – que corresponde à melhor interpretação da lei já existente (STF. HC
161452 AgR; STJ, AgRg no HC 694513).
No que tange à coisa julgada, só se admite a revisão criminal em hipóteses excepcionais,
e somente a favor do réu (arts. 621 e 626 do CPP).
E não cabe rever coisa julgada com base em jurisprudência posterior benéfica; em
outros termos, a mudança jurisprudencial posterior ao trânsito em julgado não repercute
na definitividade da decisão (STJ, HC 779.647).
Caso não se trate de jurisprudência comum, mas decisão do Supremo em controle de
constitucionalidade, ainda assim não produz a automática reforma das decisões
anteriores que tenham adotado entendimento diferente. Para que tal ocorra, deve-se
interpor recurso ou ação rescisória dentro do prazo decadencial (arts. 485 e 495 do CPC)
(STF, RE 730462 – Repercussão Geral).
A coisa julgada pode se formar no inquérito policial quando há arquivamento
homologado por decisão judicial por motivo de (a) atipicidade, (b) excludente de
culpabilidade ou (c) causa extintiva de punibilidade (admitindo-se desarquivamento por
falta de provas, falta de condição da ação ou excludente de ilicitude).
Em caso de conflito de coisas julgadas sobre o mesmo tema, o entendimento mais
recente é que, diante do trânsito em julgado de duas sentenças condenatórias por fatos
idênticos, deve prevalecer a segunda, ou seja, a que transitou em julgado por último (STJ,
5ª Turma, AgRg no HC 837274 – foi aplicado o mesmo entendimento adotado por 8 votos
a 7 pela Corte Especial em matéria cível - EAREsp 600811). Todavia, o Supremo já
ponderou que a coisa julgada posterior só prevalece se favorável ao réu – para não violar
a vedação de revisão criminal pro societate (STF, HC 101.131), o que significa dizer que
deve prevalecer a decisão mais benéfica.

Vedação do bis in idem


O non bis in idem significa que o agente não pode ser submetido a novo processo ou
punido de novo pelo mesmo fato.

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Dupla face de garantia do bis in idem


processual material
vedação de duplo processo vedação de dupla punição
STJ, RHC 104.123

Embora não esteja previsto expressamente na Constituição, este princípio está


hospedado em tratados internacionais de direitos humanos (art. 8.4 da CADH e art. 14.7
da PIDCP), que têm status supralegal.
Na legislação ordinária também pode ser enxergado nos dispositivos sobre: (a)
litispendência (art. 110 do CPP), (b) extradição (art. 82, V da Lei 13.445/17), e (c)
extraterritorialidade condicionada (art. 7º, §2º, c do CP).
Analisando a literalidade dos dispositivos, o art. 8.4 do Pacto de São José da Costa Rica
fala que o absolvido não pode ser novamente processado, enquanto o art. 14.7 do Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos afirma que o absolvido ou condenado não pode
ser novamente processado ou punido. Ambos os dispositivos mencionam o trânsito em
julgado da decisão.

CADH PIDCP
art. 8.4 art. 14.7
acusado absolvido por sentença passada ninguém poderá ser processado ou punido
em julgado não poderá ser submetido a por um delito pelo qual já foi absolvido ou
novo processo pelos mesmos fatos condenado por sentença passada em
julgado, em conformidade com a lei e os
procedimentos penais de cada país

A vedação de duplo processo ou punição no âmbito nacional impede, portanto, que haja
mais de um processo ou sanção no Brasil pelo mesmo crime. É crível defender a
aplicação do pricípio para impedir também mais de uma investigação criminal sobre a
mesma conduta; contudo, ainda há posição consolidada dos Tribunais Superiores sobre
o tema – embora existem precedentes trancando inquéritos paralelos em casos de
incompetência absoluta.
O ne bis in idem no plano internacional se vislumbra quando a multiplicidade de processos
ou punições envolver mais de um país.
O Supremo entende que, ainda que os arts. 5º e 7º do CP autorizem a aplicação da lei
penal brasileira aos crimes praticados no Brasil ou no exterior, e o art. 8º do CP permita
a atenuação no Brasil da pena cumprida no estrangeiro, devem prevalecer o art. 8.4 da
CADH e o art. 14.7 do PIDCP (com status supraletal), que vedam a dupla persecução
penal pelo mesmo fato quando houver trânsito em julgado no estrangeiro. Vale dizer, a
vedação do bis in idem se aplica ao âmbito internacional. Por isso mesmo um dos
requisitos da extradição é agente não ter sido sentenciado estar respondendo processo

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pelo mesmo fato (art. 82, V da Lei 13.445/17), e uma das condições da
extraterritorialidade condicionada é o agente não ter sido absolvido nem ter cumprido
pena (art. 7º, §2º, c do CP) (STF, HC 171.118). Contudo, admite-se excepcionalmente a
instauração de nova persecução no Brasil em caráter complementar caso tenha havido
violação do dever estatal de investigação, por força da jurisprudência da CIDH.
O Superior Tribunal de Justiça entende que, como a proibição expressa contida no art.
8.4 do da CADH e no art. 14.7 do PIDCP consiste em nova persecução contra
sentenciado, a vedação do bis in idem não se aplica quando a persecução no estrangeiro
estiver em andamento. Em outros termos, a pendência de julgamento de litígio no exterior
não impede o processamento de demanda no Brasil, até porque no curso da ação penal
pode haver mudanças de imputação e tipificação (mutatio e emendatio libelli) que não
recomendam a extinção prematura da demanda criminal em outro país. (STJ, RHC
104123).
Detalhe interessante é que, na extraterritorialidade incondicionada (aplicação da lei penal
brasileira), o agente é punido segundo a lei brasileira ainda que absolvido ou condenado
no estrangeiro (art. 7º, §1º), o que consiste em exceção.

Proporcionalidade
Trata-se de princípio constitucional implícito. Decorre do princípio do devido processo
legal, em seu aspecto material (substantive due process of law).
Impõe que todos os Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) observem um justo
equilíbrio entre os meios empregados e os fins a serem alcançados.
Traduz instrumento essencial para o balanceamento entre os direitos fundamentais do
réu e os direitos da sociedade, por meio da técnica da ponderação de interesses que
soluciona colisão de valores constitucionais. Assim, no caso concreto, devem os direitos
fundamentais serem sopesados, autorizando-se que o Estado faça prevalecer direitos de
uma das partes (do acusado ou da sociedade) naquele caso, evitando excesso
punitivo, de um lado, e proteção ineficiente, de outro.
Requisitos ou subprincípios da proporcionalidade:
a) adequação: aptidão da medida para atingir os objetivos pretendidos, ainda que não
seja a medida que menos restrinja bens jurídicos do cidadão.
b) necessidade: dentre as medidas adequadas a conseguir a finalidade buscada, deve
ser usada a menos gravosa (ex: empregam-se as medidas cautelares diversas da prisão
como primeira opção, sendo a prisão o último recurso – art. 282, I, CPP)
c) proporcionalidade em sentido estrito: escolha baseada na ponderação, devendo
preponderar no caso concreto os bens jurídicos de maior relevância naquela situação
prática.

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Persuasão racional
Também chamado de princípio do livre convencimento motivado, significa que o juiz
forma o seu convencimento nos autos de forma livre, porém fundamentada no caso
concreto e no ordenamento jurídico.
Ele decorre da exigência feita pela Constituição (art. 93, IX da CF) de que toda decisão
judicial seja fundamentada, o que constitui o princípio da motivação das decisões. Permite
um controle social sobre os atos jurisdicionais, inclusive pelas partes, que, conhecendo
as razões de decidir, podem analisar eventual impugnação de decisões judiciais. Não se
impõe prolixidade, e sim fundamentação precisa e sucinta, desde que não omissa e
lacônica (STF, AI 105.349).
A lei processual penal trata do assunto em diferentes dispositivos.
O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis
e antecipadas (art. 155 do CPP).
A sentença conterá a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a
decisão (art. 381, III do CPP).

Não se considera fundamentada decisão judicial


(interlocutória, sentença ou acórdão) que
- limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar
sua relação com a causa ou a questão decidida;
- empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de
sua incidência no caso;
- invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
- não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
- limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta
àqueles fundamentos;
- deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela
parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação
do entendimento.
art. 315, § 2º do CPP

Exceções ao princípio:
a) princípio da íntima convicção dos jurados: no Tribunal do Júri, não necessitam e
nem podem fundamentar o seu voto, dado o sigilo da votação (art. 5º, XXXVIII, “b”, CF)

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b) resquícios da prova tarifada: certos fatos exigem necessariamente determinadas


provas, não podendo o magistrado afastar-se delas. Exemplos:
- morte do agente é provada, para fim de extinção da punibilidade, com a apresentação
da certidão de óbito (art. 62 do CPP);
- questão prejudicial obrigatória depende da prova colhida no juízo cível e do resultado
da ação que ali tramita (art. 92 do CPP);
- inimputabilidade do réu depende de exame pericial (exame médico-legal), pois apenas
o médico pode atestar a existência de doença mental (art. 149, caput, do CPP);
- prova do estado das pessoas, na esfera penal, observa as mesas restrições contidas
na lei civil (art. 155, parágrafo único, CPP);
- crimes que deixam vestígios demandam a realização de exame pericial – exame de
corpo de delito (art. 158, caput, do CPP).
Relevante destacar que a profundidade da análise da prova (verticalidade da
cognição) é variável conforme a etapa da persecução penal, sendo sumária nas etapas
inicial e intermediária (investigação e acusação) e exauriente na fase final (julgamento),
Ademais, o rigor do exame do standard probatório pode ser mitigado de acordo com o
tipo de crime; nos delitos cometidos na clandestinidade (ex: violência doméstica e crimes
sexuais), que frequentemente não deixam vestígios, concede-se maior valor à palavra da
vítima – que pode por si só autorizar a deflagração da persecução e o deferimento de
medidas protetivas, mas precisa ser corroborada por outra prova para a condenação.
Na esfera do inquérito policial, fala-se em livre convencimento do delegado na tomada
de decisões. O veto ao §3º do art. 2º, § 3º da Lei 12.830/13 (que trazia expressamente
esse princípio) não decorreu de discordância quanto à liberdade de a autoridade policial
deliberar dentro das balizas do ordenamento jurídico, e sim para evitar que o dispositivo
afetasse o poder requisitório do MP e do Judiciário. Posteriormente, a LONPC estipulou
como principio institucional da Polícia Civil (art. 4º VIII) o livre convencimento técnico-
jurídico. De toda sorte, a doutrina sustenta que (a) o livre convencimento do delegado
deriva do fato de o inquérito ser discricionário (art. 14 do CPP), e (b) a isenção e
imparcialidade decorrem dos princípios da impessoalidade e moralidade (art. 37 da CF).

Delegado natural
Parte da doutrina defende a existência do princípio do delegado natural, segundo o qual
a sua atribuição deve ser previamente fixada em lei, não se admitindo designações
casuísticas, injustificadas, aleatórias ou arbitrárias, e tampouco a retirada indevida de um
inquérito policial sob sua presidência.
Trata-se de analogia aos princípios do juiz natural e do promotor natural, e decorrência
do sistema processual penal acusatório e garantista, que prima pela autonomia e
independência na atuação dos agentes públicos que participam da persecução penal.
Não faria sentido que o cidadão tivesse a garantia de ser julgado, processado ou
defendido por atores imparciais designados por regras objetivas, e na fase mais sensível

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da persecução penal (inquérito policial, que define a sorte do processo penal), pudesse
ser investigado por delegado casuísticamente designado.
No caso dos delegados de polícia, resulta em autêntica garantia ao investigado, no
sentido de ter o direito a ser investigado por autoridade imparcial e designada segundo
critérios objetivos.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos possui jurisprudência no sentido da
garantia de independência e imparcialidade de órgãos administrativos que atuam no
sistema de Justiça criminal, à semelhança do que se impõe para os juíze (casos Nadege
Dorzema e outros vs. República Dominicana, por exemplo).
Além disso, a Lei de Investigação Criminal (chamada por alguns de Estatuto do Delegado
de Polícia) explicita que a regra é a manutenção do delegado natural na condução do
respectivo inquérito, só se admitindo a alteração da presidência da investigação em
situações excepcionais devidamente justificadas – avocação e redistribuição (art. 2º, § 4º
da Lei 12.830/13).
É dizer, o inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente
poderá ser (a) avocado (presidência do IP passa ao superior hierárquico) ou (b)
redistribuído (presidência do IP passa a terceiro delegado) por (i) superior hierárquico,
mediante (ii) despacho fundamentado, que indique (iii) motivo de interesse público ou (iv)
inobservância dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que
prejudique a eficácia da investigação.
Não obstante toda a rica fundamentação, o princípio do delegado natural não foi ainda
albergado pela jurisprudência dos Tribunais Superiores, muito embora haja julgados
reconhecendo a impossibilidade de interferência na presidência da investigação pelo
Delegado.
O delegado natural também pode ser alterado excepcionalmente por modificação da
atribuição da Polícia Civil para a Federal, no caso de incidente de deslocamento de
competência na hipótese de grave violação de direitos humanos (art. 109, §5º da CF).
Sendo também possível a interferência na condução do inquérito, por decisão judicial, no
caso de trancamento (encerramento anômalo) do IP manifestamente ilegal – nesse caso
o delegado natural não é alterado, mas afetado por enceramento precoce da apuração.
O indiciamento, a denúncia e a sentença representam, respectivamente, atos de
competência privativa do Delegado de Polícia, do Ministério Público e do Poder Judiciário,
sendo vedada a interferência recíproca nas atribuições alheias, sob pena de subversão
do modelo acusatório, baseado na separação entre as funções de investigar, acusar e
julgar. Não cabe ao Poder Judiciário se imiscuir numa competência privativa da
autoridade responsável pela investigação, justamente para preservação de sua
imparcialidade. (STF, Inq 4.621)
A Polícia Judiciária, seja da União Federal, seja dos Estados-membros ou do Distrito
Federal, dispõe não só de autonomia investigatória, mas, também, titulariza função que
lhe foi diretamente outorgada pela própria Constituição da República. (STF, Inq 4.831).

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Exemplos de Assertivas da CEBRASPE


QUESTÕES

O MP de determinado estado ofereceu denúncia contra um indivíduo, imputando-lhe a


prática de roubo qualificado, mas a defesa do acusado negou a autoria. Ao proferir a
sentença, o juízo do feito constatou a insuficiência de provas capazes de justificar a
condenação do acusado.

Nessa situação hipotética, para fundamentar a decisão absolutória, o juízo deveria aplicar
o princípio do favor rei. (CEBRASPE, PCMA, 2018)

O princípio da paridade de armas (par condicio) é mitigado na ação penal pública pelo
princípio da oficialidade. (CEBRASPE, PCMT, 2017)

Segundo a doutrina majoritária, o sistema inquisitório é caracterizado pela presença de


partes distintas (actum trium personarum), contrapondo-se acusação e defesa em
igualdade de condições, sobrepondo-se a ambas um juiz equidistante e imparcial
(CEBRASPE, MPBA, 2023)

O princípio norteador do processo penal abordado, precipuamente, pelo brocardo


audiatur et altera pars, é o princípio do contraditório (CEBRASPE, MPPA, 2023)

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