Sem 1 - Meta 3 - Processual Penal - Projeto Em Delta
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29/12/2024
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META 3
PROCESSUAL PENAL
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Sistema Inquisitorial
- prevalência na Idade Média, notadamente no Tribunal da Santa Inquisição
- magistrado pode iniciar o processo penal de ofício;
- juiz pode determinar a produção de provas de ofício (poderes instrutórios)
- atividade probatória e e valoração da prova com objetivo revelar a verdade real
- prevalência da acusação em detrimento da defesa
- réu é objeto do processo e da prova, não sujeito de direitos
- confissão é rainha das provas, podendo ser obtida mediante tortura
- admissão de provas ilícitas
- ausência de fundamentação (permissão de íntima convicção do magistrado)
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- sigilo
- ausência de contraditório e ampla defesa (meramente decorativa)
- prisão como regra
- impossibilidade de impugnar as decisões
Sistema Acusatório
- acusação feita por órgão próprio
- juiz não produz provas de ofício, em regra; gestão da prova com as partes
- atividade probatória e valoração da prova com objetivo da busca da verdade
- paridade de armas entre as partes
- réu é sujeito de direitos
- vedação de provas ilícitas
- exigência de fundamentação
- publicidade
- contraditório e ampla defesa
- liberdade como regra, em razão da presunção de inocência
- duplo grau de jurisdição
Embora haja doutrina sustentando ser o modelo misto aquele adotado no país, prevalece
que o Brasil adota o sistema processual penal acusatório.
Tal sistema também é mencionado como princípio acusatório.
A Constituição, embora não utilize essa terminologia expressamente, consagra o sistema
ao separar as funções de acusar, investigar e julgar a órgãos distintos (arts. 129, I, 144 e
92 da CF).
Com o advento do Pacote Anticrime, pela primeira vez o CPP consagrou expressamente
o sistema acusatório em seu texto: o processo penal terá estrutura acusatória, vedadas
a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão
de acusação (art. 3º-A do CPP). Trata-se de dispositivo constitucional (STF, ADI 6.298).
Com relação à atuação de ofício pelo juiz, o Supremo conferiu interpretação conforme
para autorizar o magistrado, pontualmente e nos limites legalmente autorizados, a
determinar a realização de diligências suplementares para dirimir dúvida sobre questão
relevante. (STF, ADI 6.298).
Mantem-se assim a validade do art. 156, II do CPP (possibilidade de o juiz, ,de ofício e
durante o processo, determinar diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante),
com a ressalva de se tratar de atuação pontual, e não generalizada.
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Em relação art. 156, I, que possibilita ao juiz agir de ofício antes da ação penal, isto é, na
investigação criminal, para determinar produção antecipada de provas urgentes e
relevantes, o STF nada afirmou. Tudo a indicar um silêncio eloquente, até porque o art.
3º-B, VII estabelece que cabe ao juiz das garantias decidir sobre o requerimento de
antecipação de provas (e não decretar de ofício), e o próprio art. 3º-A veda iniciativa do
juiz na fase investigativa
A doutrina rechaça a atuação do magistrado sem provocação no inquérito policial. E a
legislação impede que o juiz decrete de ofício na investigação, por exemplo, (a) medidas
cautelares diversas da prisão (art. 282, §2º do CPP), (b) prisão preventiva (art. 311 do
CPP), (c) prisão temporária (art. 2º da Lei 7.960/89), (d) infiltração policial e colaboração
premiada (arts. 4º e 10 da Lei 12.850/13), e (e) medidas protetivas (art. 19 da Lei
11.340/06 e art. 16 da Lei 14.344/22).
A mesma linha seguiu o Pacote Anticrime que, ao instituir o juiz das garantias, utilizou
uma expressão (decidir sobre requerimento) para indicar atuação por provocação (como
nas decisões de prisão e provas – art. 3º-B, VII e XI), e empregou outra terminologia
(determinar) para sinalizar possibilidade de atuação de ofício (como nas decisões de
trancamento do IP e incidente de insanidade mental – art. 3º-B, IX e XIII).
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Princípios
Introdução
Os princípios constitucionais alicerçam o chamado Processo Penal Constitucional, um
Processo Penal que cada vez mais se distancia dos rigores do Código de Processo Penal,
modelo normativo inquisitivo e autoritário engendrado no regime ditatorial-fascista que
reinava no país em 1941, e se aproxima dos valores democráticos da modernidade
insculpidos na Constituição de 1988.
O processo justo deve atentar, sempre, para a desigualdade material que normalmente
ocorre no curso de toda persecução penal, em que o Estado ocupa posição de
proeminência, respondendo pelas funções investigatória, acusatória e de jurisdição.
Essa linha de pensamento se aplica ao inquérito policial, sobretudo sob a lente da
denominada moderna doutrina, que enxerga a fase investigativa como devida
investigação criminal, com incidência obrigatória dos princípios constitucionais que
conferem á persecução criminal (tanto em sua 1ª fase como na 2ª etapa) um caráter
democrático.
Presunção da inocência
Também chamado de estado de inocência, situação jurídica de inocência ou da não
culpabilidade.
Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória (art. 5º, LVII da CF).
O limite temporal da presunção de inocência é o trânsito em julgado da condenação.
O Supremo atualmente não admite a execução provisória da pena (antes da coisa
julgada). Se não houve ainda trânsito em julgado, não se pode determinar que o réu inicie
o cumprimento provisório da pena. Não importa que os recursos pendentes possuam
efeito meramente devolutivo (sem efeito suspensivo). O art. 283 do CPP, que exige o
trânsito em julgado da condenação para que se inicie o cumprimento da pena, é
constitucional, sendo compatível com o princípio da presunção de inocência (STF.
Plenário. ADC 43).
O Superior Tribunal de Justiça entende pela impossibilidade de execução provisória da
pena mesmo em caso de condenação pelo tribunal do júri com reprimenda igual ou
superior a 15 anos de reclusão, em que há autorização legal expressa por força do
Pacote Anticrime - art. 492 do CPP (STJ. AgRg no HC 714884).
Independentemente da vedação de execução provisória da prisão definitiva,
evidentemente continua cabível a prisão cautelar antes mesmo da condenação.
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Igualdade processual
Também chamado de paridade das armas – par conditio.
As partes devem ter, em juízo, as mesmas oportunidades de fazer valer suas razões e
ser tratadas igualitariamente, na medida de suas igualdades, e desigualmente, na
proporção de suas desigualdades.
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Ampla Defesa
- por advogado/defensor público
- indisponível
Defesa - obrigatória na fase processual
técnica
Observações:
- direito de constituir o seu próprio defensor a qualquer tempo (art. 263)
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Publicidade
Os atos processuais devem ser praticados publicamente, permitindo-se o amplo acesso
ao público. Trata-se de forma de fomentar o controle social dos atos processuais.
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Exceção: a lei poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem (art. 5º, LX, da CF).
Essa chamada publicidade específica (interna ou restrita), portanto, só permite o acesso
ao ato processual e aos autos do feito por parte do Ministério Público, assistente de
acusação, se houver, e defensor. De forma atécnica, ela é conhecida como segredo de
justiça. Depende de ordem judicial para restrição (total ou parcial) de acesso aos atos e
autos do processo.
Ocorre, por exemplo, em crimes contra a dignidade sexual (art. 234-B do CP).
No inquérito policial, a regra é o sigilo; segredo esse externo, que afasta a ciência de
terceiros não interessados, não havendo sigilo interno em face do próprio investigado,
que tem direito à ciência dos elementos de prova já produzidos e documentados no
inquérito policial. Essa ideia se manifesta pela jurisprudência e legislação.
É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de
prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa
(Súmula Vinculante 14).
É direito do advogado examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir
investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer
natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar
peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital (art. 7º, XIV do EOAB).
Nesse caso, a autoridade competente poderá delimitar o acesso do advogado aos
elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda não documentados
nos autos, quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou da
finalidade das diligências (art. 7º, XIV do EOAB).
Deve o juiz das garantias assegurar prontamente, quando se fizer necessário, o direito
outorgado ao investigado e ao seu defensor de acesso a todos os elementos informativos
e provas produzidos no âmbito da investigação criminal, salvo no que concerne,
estritamente, às diligências em andamento (art. 3º-B, XV do CPP).
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Inexigibilidade de autoincriminação
Também chamado de nemo tenetur se detegere, ou direito de não produzir prova contra
si mesmo.
Trata-se de princípio constitucional implícito que decorre da presunção de inocência (art.
5º, LVII, CF), ampla defesa (art. 5º, LV, CF) e direito ao silêncio (art. 5º, LXIII, CF).
Está expressamente previsto no art. 8º do Pacto de São José da Costa Rica (que tem
status supralegal – STF, RE 466.343).
Constitui modalidade de autodefesa passiva, exercida por meio da inação do imputado.
Possui diversas facetas:
a) direito ao silêncio
Esta faceta da não autoincriminação constitui princípio constitucional expresso (art. 5º,
LXIII, da CF). Foi esse o motivo que levou o STF a decidir que a vedação à
autoincriminação tem status constitucional (STF, HC 80.949).
O alerta sobre o direito ao silêncio (conhecido como aviso de Miranda) deve ser feito
não apenas pelo Delegado, durante o interrogatório formal, mas também pelos policiais
responsáveis pela voz de prisão em flagrante. Isso porque a todos os órgãos estatais
impõe-se o dever de zelar pelos direitos fundamentais. A falta da advertência quanto ao
direito ao silêncio torna ilícita a prova obtida a partir dessa confissão. (STF. RHC 170843
AgR)
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É nula a entrevista realizada pela autoridade policial com o investigado, durante a busca
e apreensão em sua residência, sem que tenha sido assegurado ao investigado o direito
à prévia consulta a seu advogado e sem que ele tenha sido comunicado sobre seu direito
ao silêncio e de não produzir provas contra si mesmo. Trata-se de um interrogatório
travestido de entrevista, verdadeiro interrogatório sub-reptício, havendo violação do
direito ao silêncio e à não autoincriminação. (STF. Rcl 33711)
b) vedação de interpretação do silêncio em prejuízo da defesa
Não se pode falar na existência de um direito se o seu exercício é utilizado em desfavor
do seu titular, daí porque a opção do agente pelo silêncio jamais poderá interpretada em
prejuízo dele.
Por isso, não foi recepcionado pela CF o art. 198 do CPP, segundo o qual o silêncio do
acusado não importará confissão, mas poderá constituir elemento para a formação do
convencimento do juiz.
Adequado é o art. 186, parágrafo único, do CPP, de acordo com o qual o silêncio, que
não importará em confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa.
c) direito de não ser constrangido a confessar
d) direito de não ser obrigado a dizer a verdade
Prevalece que não há o direito de mentir, apenas que a mentira é tolerável, ou seja, não
é punida quando não for agressiva. Sendo mentira agressiva, é punida, por resultar na
imputação falsa a terceiros ou mesmo uma autoacusação falsa.
e) direito de não praticar comportamento ativo incriminador
Não se pode obrigar que o agente participe da reconstituição do crime, forneça padrões
de grafia ou de voz, ou atue ativamente para produzir qualquer prova em seu desfavor.
f) direito de não produzir prova invasiva incriminadora (intervenções corporais)
Veda-se que o Estado colha uma prova forçadamente que implique em intervenção
corporal do investigado ou acusado, tais como exames de DNA e de sangue, bafômetro
(etilômetro).
Admite-se a produção de prova não invasiva, que não acarreta penetração no organismo
humano, como o exame de DNA colhido a partir de fio de cabelo encontrado no chão de
chiclete, cigarro ou copo descartável achado em uma lata de lixo (STF, RCL 2.040).
O crime do art. 305 do CTB (afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para
fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída) é constitucional, pois
a tão só permanência do agente no local do acidente não implica em sua
autoincriminação, até por estar garantido o direito ao silêncio (STF, RE 971959).
Segurança Jurídica
A segurança jurídica envolve a estabilização do ordenamento jurídico, sendo respaldada
pela Constituição ao, por exemplo, a coisa julgada (art. 5º, XXXVI da CF) e a
irretroatividade das leis (art. 5º, XL da CF).
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CADH PIDCP
art. 8.4 art. 14.7
acusado absolvido por sentença passada ninguém poderá ser processado ou punido
em julgado não poderá ser submetido a por um delito pelo qual já foi absolvido ou
novo processo pelos mesmos fatos condenado por sentença passada em
julgado, em conformidade com a lei e os
procedimentos penais de cada país
A vedação de duplo processo ou punição no âmbito nacional impede, portanto, que haja
mais de um processo ou sanção no Brasil pelo mesmo crime. É crível defender a
aplicação do pricípio para impedir também mais de uma investigação criminal sobre a
mesma conduta; contudo, ainda há posição consolidada dos Tribunais Superiores sobre
o tema – embora existem precedentes trancando inquéritos paralelos em casos de
incompetência absoluta.
O ne bis in idem no plano internacional se vislumbra quando a multiplicidade de processos
ou punições envolver mais de um país.
O Supremo entende que, ainda que os arts. 5º e 7º do CP autorizem a aplicação da lei
penal brasileira aos crimes praticados no Brasil ou no exterior, e o art. 8º do CP permita
a atenuação no Brasil da pena cumprida no estrangeiro, devem prevalecer o art. 8.4 da
CADH e o art. 14.7 do PIDCP (com status supraletal), que vedam a dupla persecução
penal pelo mesmo fato quando houver trânsito em julgado no estrangeiro. Vale dizer, a
vedação do bis in idem se aplica ao âmbito internacional. Por isso mesmo um dos
requisitos da extradição é agente não ter sido sentenciado estar respondendo processo
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pelo mesmo fato (art. 82, V da Lei 13.445/17), e uma das condições da
extraterritorialidade condicionada é o agente não ter sido absolvido nem ter cumprido
pena (art. 7º, §2º, c do CP) (STF, HC 171.118). Contudo, admite-se excepcionalmente a
instauração de nova persecução no Brasil em caráter complementar caso tenha havido
violação do dever estatal de investigação, por força da jurisprudência da CIDH.
O Superior Tribunal de Justiça entende que, como a proibição expressa contida no art.
8.4 do da CADH e no art. 14.7 do PIDCP consiste em nova persecução contra
sentenciado, a vedação do bis in idem não se aplica quando a persecução no estrangeiro
estiver em andamento. Em outros termos, a pendência de julgamento de litígio no exterior
não impede o processamento de demanda no Brasil, até porque no curso da ação penal
pode haver mudanças de imputação e tipificação (mutatio e emendatio libelli) que não
recomendam a extinção prematura da demanda criminal em outro país. (STJ, RHC
104123).
Detalhe interessante é que, na extraterritorialidade incondicionada (aplicação da lei penal
brasileira), o agente é punido segundo a lei brasileira ainda que absolvido ou condenado
no estrangeiro (art. 7º, §1º), o que consiste em exceção.
Proporcionalidade
Trata-se de princípio constitucional implícito. Decorre do princípio do devido processo
legal, em seu aspecto material (substantive due process of law).
Impõe que todos os Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) observem um justo
equilíbrio entre os meios empregados e os fins a serem alcançados.
Traduz instrumento essencial para o balanceamento entre os direitos fundamentais do
réu e os direitos da sociedade, por meio da técnica da ponderação de interesses que
soluciona colisão de valores constitucionais. Assim, no caso concreto, devem os direitos
fundamentais serem sopesados, autorizando-se que o Estado faça prevalecer direitos de
uma das partes (do acusado ou da sociedade) naquele caso, evitando excesso
punitivo, de um lado, e proteção ineficiente, de outro.
Requisitos ou subprincípios da proporcionalidade:
a) adequação: aptidão da medida para atingir os objetivos pretendidos, ainda que não
seja a medida que menos restrinja bens jurídicos do cidadão.
b) necessidade: dentre as medidas adequadas a conseguir a finalidade buscada, deve
ser usada a menos gravosa (ex: empregam-se as medidas cautelares diversas da prisão
como primeira opção, sendo a prisão o último recurso – art. 282, I, CPP)
c) proporcionalidade em sentido estrito: escolha baseada na ponderação, devendo
preponderar no caso concreto os bens jurídicos de maior relevância naquela situação
prática.
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Persuasão racional
Também chamado de princípio do livre convencimento motivado, significa que o juiz
forma o seu convencimento nos autos de forma livre, porém fundamentada no caso
concreto e no ordenamento jurídico.
Ele decorre da exigência feita pela Constituição (art. 93, IX da CF) de que toda decisão
judicial seja fundamentada, o que constitui o princípio da motivação das decisões. Permite
um controle social sobre os atos jurisdicionais, inclusive pelas partes, que, conhecendo
as razões de decidir, podem analisar eventual impugnação de decisões judiciais. Não se
impõe prolixidade, e sim fundamentação precisa e sucinta, desde que não omissa e
lacônica (STF, AI 105.349).
A lei processual penal trata do assunto em diferentes dispositivos.
O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis
e antecipadas (art. 155 do CPP).
A sentença conterá a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a
decisão (art. 381, III do CPP).
Exceções ao princípio:
a) princípio da íntima convicção dos jurados: no Tribunal do Júri, não necessitam e
nem podem fundamentar o seu voto, dado o sigilo da votação (art. 5º, XXXVIII, “b”, CF)
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Delegado natural
Parte da doutrina defende a existência do princípio do delegado natural, segundo o qual
a sua atribuição deve ser previamente fixada em lei, não se admitindo designações
casuísticas, injustificadas, aleatórias ou arbitrárias, e tampouco a retirada indevida de um
inquérito policial sob sua presidência.
Trata-se de analogia aos princípios do juiz natural e do promotor natural, e decorrência
do sistema processual penal acusatório e garantista, que prima pela autonomia e
independência na atuação dos agentes públicos que participam da persecução penal.
Não faria sentido que o cidadão tivesse a garantia de ser julgado, processado ou
defendido por atores imparciais designados por regras objetivas, e na fase mais sensível
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da persecução penal (inquérito policial, que define a sorte do processo penal), pudesse
ser investigado por delegado casuísticamente designado.
No caso dos delegados de polícia, resulta em autêntica garantia ao investigado, no
sentido de ter o direito a ser investigado por autoridade imparcial e designada segundo
critérios objetivos.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos possui jurisprudência no sentido da
garantia de independência e imparcialidade de órgãos administrativos que atuam no
sistema de Justiça criminal, à semelhança do que se impõe para os juíze (casos Nadege
Dorzema e outros vs. República Dominicana, por exemplo).
Além disso, a Lei de Investigação Criminal (chamada por alguns de Estatuto do Delegado
de Polícia) explicita que a regra é a manutenção do delegado natural na condução do
respectivo inquérito, só se admitindo a alteração da presidência da investigação em
situações excepcionais devidamente justificadas – avocação e redistribuição (art. 2º, § 4º
da Lei 12.830/13).
É dizer, o inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente
poderá ser (a) avocado (presidência do IP passa ao superior hierárquico) ou (b)
redistribuído (presidência do IP passa a terceiro delegado) por (i) superior hierárquico,
mediante (ii) despacho fundamentado, que indique (iii) motivo de interesse público ou (iv)
inobservância dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que
prejudique a eficácia da investigação.
Não obstante toda a rica fundamentação, o princípio do delegado natural não foi ainda
albergado pela jurisprudência dos Tribunais Superiores, muito embora haja julgados
reconhecendo a impossibilidade de interferência na presidência da investigação pelo
Delegado.
O delegado natural também pode ser alterado excepcionalmente por modificação da
atribuição da Polícia Civil para a Federal, no caso de incidente de deslocamento de
competência na hipótese de grave violação de direitos humanos (art. 109, §5º da CF).
Sendo também possível a interferência na condução do inquérito, por decisão judicial, no
caso de trancamento (encerramento anômalo) do IP manifestamente ilegal – nesse caso
o delegado natural não é alterado, mas afetado por enceramento precoce da apuração.
O indiciamento, a denúncia e a sentença representam, respectivamente, atos de
competência privativa do Delegado de Polícia, do Ministério Público e do Poder Judiciário,
sendo vedada a interferência recíproca nas atribuições alheias, sob pena de subversão
do modelo acusatório, baseado na separação entre as funções de investigar, acusar e
julgar. Não cabe ao Poder Judiciário se imiscuir numa competência privativa da
autoridade responsável pela investigação, justamente para preservação de sua
imparcialidade. (STF, Inq 4.621)
A Polícia Judiciária, seja da União Federal, seja dos Estados-membros ou do Distrito
Federal, dispõe não só de autonomia investigatória, mas, também, titulariza função que
lhe foi diretamente outorgada pela própria Constituição da República. (STF, Inq 4.831).
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Nessa situação hipotética, para fundamentar a decisão absolutória, o juízo deveria aplicar
o princípio do favor rei. (CEBRASPE, PCMA, 2018)
O princípio da paridade de armas (par condicio) é mitigado na ação penal pública pelo
princípio da oficialidade. (CEBRASPE, PCMT, 2017)
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