Júlio Minhan - Convite à Ciência Vol. 2

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ENCICLOPÉDIA DE CONHECIMENTOS

FUNDAMENTAIS

II

Convite
\

a
* A •
Ci e n c i a
2.o VOLUME

DE
JÚLIO MINHAN

mSU
/V

LIVRARIA E EDITÔRA LOGOS LTDA.


Bua 15 de Novembro, 137 — 8.® andar — Tel.: 35-6080
SAO P A U L O
Coleção
ENCICLOPÉDIA DE CONHECIMENTOS FUNDAMENTAIS
Sob a direção de Mário Ferreira dos Santos

1) CONVITE À CIÊNCIA I — de Júlio Minhan


2) CONVITE A CIÊNCIA II — de Júlio Minhan
3) CONVITE A CIÊNCIA IH — de Júlio Minhan
4) CONVITE A CIÊNCIA IV — de Yolanda Lhullier dos Santos
5) CONVITE A FILOSOFIA — *de Mário Ferreira dos Santos
6) CONVITE A FILOSOFIA PRATICA — ' de Mário Ferreira dos
Santos
7) CONVITE A ESTÉTICA E A DANÇA — de Mário Ferreira dos
Batitofl o N&dia Santos Nunes Galv&o
8) CONVITE A HISTORIA I — de Yolanda Lhullier dos Santos
») CONVITE A HISTORIA H — de Yolanda Lhullier dos Santos
1.a edição, agôsto de 1961
2.» edição, agôsto de 1962

______________ TODOS OS DIREITOS RESERVADOS _____________


Êste livro foi composto e impresso para a Livraria e Editora LOGOS
Ltda., na Gráfica e Editôra MINOX Ltda., à av.‘ Conceição, 645 —
SÃO PAULO
Í N D I C E

CAPITULO I — Raças Humanas .................................................. 11


Antropologia e História ...................................................... 12
As Grandes Interrogações .................................................. 15
Um Pouco de Antropologia .................................................. 16
As Eras do Homem .............................................................. 17

UAP1TULO II — Classificação Racial ........................................... 19


Os Grupos Sanguíneos ........................................................... 26
As Grandes Divisões ou Troncos Primários ....................... 27

CAPITULO III — Os Hominídeos Neandertalóides ................... 29


Caracteres do Homo Neanderthalensis ................................ 30
Europa ................ ............................. .................................... 38
O Crânio Steinheim ......... .................................................... 39
África ..................................................................................... 42
Os Fósseis da Palestina . . . . , ....................................... 45
Os Homens de Java ......................... 47

CAPITULO IV — O «Homo Sapiens» ......................................... 49


Tipo de Cro-Magnon ............................................................ 51
Tipo de Chancelade .............................................................. 55
Homens do Paleolítico Superior .......................................... 58
Os Homens Fósseis da ÁfricaAustral ................................ 60
Fósseis da África Oriental ................ . ................................. 63
Os Homens de Pequim ....................................................... 65
Os Homens de Wadsar ....................................................... 67
i
CAPITULO V — O Homem Não Surgiu na América ................ 69
Nunca Houve Antropóides na América .............................. 71
Pesquisas Atrasadas ....................... ......................... ............ 74
O Mito da Raça Pura ......................................................... 80
Como Surgem as Diferenças ................................................ 83
Civilização Megalitica .............. ........................................... 89
Como a Civilização se Espalhou ................ è...................... 97
10 JÚLIO MINHAN

CAPITULO VI — Fraudes e Fantasmasda Evolução ................. 109


Fraudes Premeditadas ......... 116
O Synanthropus ........................................................................ 124
O Método do C-14 ............................................................ 127
Os Argumentos da Natureza ................................................ 129
Uma Teoria Absurda ...............................................>............... 133
A Doutrina da Criação ............................................................ 135

CAPITULO VII — Mistérios Desvendadospela Paleontologia . . . 137

CAPITULO VHI — Lendas Antigas ................................. 145


Incertezas Etimológicas .................. 150
Etnologia Antiga e Moderna ......... 154
Conceito de Raça .................................................................... 165
A Ünica Raça ....................................................... 169 \

CAPITULO IX — Interpretações Gerais eConclusões ................ 187


O Aparecimento da Moeda no Mundo ................................ 201
Moedas Atuais ............................. 209

CAPITULO X — Um Pouco de História .................................. 217


O Transiormismo Cristão ............................................ 243
CAPÍTULO I

RAÇAS HUMANAS

Com êste tom o, entraremos na “ CIÊNCIA DO HO­


MEM” ainda muito obscura quanto à origem e os fins a que
tende. Apesar da incerteza da origem humana, o fascínio
que ela exerceu e continua a exercer sôbre nós, é mais do
que justificado, pois descobrindo o caminho que a nature­
za trilhou para chegar ao “ H om o sapiens" muitas das nos­
sas interrogações serão respondidas.
Trataremos o assunto tal com o a Ciência o encara; con­
cordaremos com o que seja possível concordar, e quando
ela enverede por suposições, hipóteses ou teorias, nós as
denunciaremos com franqueza.
Singelamente pode dizer-se que a Antropologia é a ciên­
cia do homem (em grego, anthrópos, homem, e logos, ciên­
cia). Entretanto, não estuda apenas o homem, enquanto
homem, mas também as suas obras, suas realizações no mun­
do exterior, enfim tudo quanto traz impressa a marca que
revela o espírito do homem, pelo que se vê que a Antropo­
logia pode tomar um sentido muito amplo, e abranger cam­
pos que formam o objeto de outras disciplinas, que não
podem ser consideradas com o subdivisões dela, com o por
exemplo, a Biologia. Uma síntese geral muito nos facilitará
a boa compreensão e permitirá que distingamos com niti­
dez o campo específico da Antropologia.
ANTROPOLOGIA E HISTÓRIA

Prescindindo de nós mesmos, mas incluindo-nos no


acontecer cósm ico, observamos que os fatos sucedem uns
aos outros. Mas, entre os fatos, nota-se, desde logo, que
apresentam semelhanças entre si, bem com o diferenças. Ora,
êsses fatos novos, que se dão, semelhantes, iguais em mui­
tos aspectos aos outros que já se deram, são novos fatos.
O que sucedeu passou, e o que sobrevêm vai sucedendo ao
que acontece.

Dá-se, assim, com o acontecer cósm ico, o mesmo que se


dá com o tempo. Cada instante, que vem, substitui o que
se deu. Um minuto de tempo não permanece ao lado de
outro minuto. Êle passa, é um constante fluir, um cons­
tante substituir-se, ficando apenas a marca que permite me­
morizarmos os que passaram, pois, na verdade, só penetra­
m os no passado pela memória escrita, ou gravada em nós
mesmos, nunca fazendo-o retom ar e transformar-se em pre­
sente, com o algo que novamente fluísse. Dessa forma, não
é difícil ver que tudo que acontece dá-se n ó tempo e, por is­
so, tem um carácter histórico, porque ser histórico é dar-
-se nó tempo. Conseqüentemente, tudo é histórico no acon­
tecer cósm ico, e o cosm os pode ser visto com o história.

Como o homem pertence ao cosmos, é êle também his­


tórico. A parte da ciência que estudasse o homem com o
ser histórico, e analisasse as suas obras, seria, então, a
Antropo-historiologia, enquanto a que estudasse as relações
entre a Antropologia e a Sociologia, cujo conteúdo, com o
ciência, estudamos em outra parte, seria, então, a Antropo-
sociologia.
Ora, o saber humano, de empírico foi-se tom ando teó­
rico, e, à proporção que o homem verifica nos fatos certa
CONVITE a c i ê n c i a 13

coerência, que entrosa as diversas partes, e que há perfeita


concordância entre êles, surge, então, um objeto específico
de observação e, conseqüentemente, uma ciência nova. As­
sim, a Antropologia foi, aos poucos, destacando-se do saber
teórico em geral para tomar-se, já em nossos dias, uma dis­
ciplina independente.
Não só as obras humanas, mas as diferenças que entre
cias se verificam, com o as diferenças de raças, de costumes,
de habitat, etc., passaram a interessar os estudiosos que,
através da observação e ao descobrir o nexo que as ligava,
puderam construir essa ciência tão necessária que é a An­
tropologia. Não abrange ela o estudo de tôda a ciência do
homem, mas apenas um campo bem delimitado que, à pro­
porção que penetramos em seu estudo, tornar-se-á perfeita­
mente claro para todos.
Não é a Antropologia uma ciência meramente descritiva
das condições do homem e das suas obras. Ela procura
saber os “porquês” dos fatos, ligar uns com os outros, com ­
pará-los, para, através dessa comparação, captar os nexos
que ligam uns aos outros. Assim, estuda, além dos elemen­
tos orgânicos, também os sociais. Com o auxílio da Biolo­
gia, que lhe dá valiosas contribuições, estuda, através das
manifestações biológicas, tudo quanto possa colaborar para
a constituição de um conhecimento acabado dos fatos que
pertencem ao campo da Antropologia.
O estudo analítico do corpo humano e as suas diversas
manifestações oferecem-lhe dados importantes. E para
maior desenvolvimento do seu campo, temos a colaboração
da Fisiologia, da Paleontologia, e de tôdas as ciências afins.
As ciências históricas e sociais oferecem elementos à Antro­
pologia. Por isso os aspectos culturais do homem são in­
separáveis do estudo antropológico, porque aquêle se reve­
la com o é, através de suas obras, e um conhecimento do
homem é inseparável de suas obras.
Nenhuma ciência é suficiente por si mesma para des­
vendar tôdas as suas maravilhas e nenhuma nos dá respos­
tas totais a muitas perguntas que o homem pensante é obri­
gado a fazer diante dos mil e um mistérios que a CIÊNCIA
(aqui tomamos o têrmo na sua amplitude), ainda nos oculta.
Para entendermos m elhor a Antropologia, mister se faz
conhecerem-se bem muitas outras ciências e especialmente
Geografia.
14 JÜLIO MINHAN

O estudo da Geografia nos mostra quão complexo e


imenso é o Universo, quantos mistérios ainda estão ocultos
ao homem, e quantas maravilhas ainda estão por ser des­
cobertas. Mas, a par disso tudo, o conhecimento humano
é uma grande realização, que levou milênios de sacrifícios,
de sublimes esforços, de investigações perigosas e difíceis.
E, no entanto, êsse infinito mistério do mundo sideral é
perscrutado por um minúsculo ser dêste minúsculo planêta:
o homem.
AS GRANDES INTERROGAÇÕES

Quem é o homem? De onde veio? Que faz aqui? Para


onde vai?
A Ciência e a Filosofia procuram responder a essas per­
guntas.
Insatisfeito sempre em relação a tôdas as respostas,
êsse minúsculo e frágil animal, transformando em potência
a sua fraqueza, usando uma arma poderosa: a inteligência,
aproveitando um instrumento de trabalho gigantesco: o pen­
samento, invade o infinito.

Uma chimpanzé com sua cria

No entanto, êsse homem de hoje, civilizado, é evidente


que não foi o homem de sempre. Tempos houve em que
enfrentava êle a natureza numa das lutas mais desiguais e
imensas.
De onde veio o homem?
A ciência procurou responder a essa pergunta, porém,
ainda está longe de o conseguir.
UM POUCO DE ANTROPOLOGIA

Os antropólogos, que são os cultores da Antropologia,


""ciência do hom em ”, tomam com o ponto de partida a idéia
de que o homem deriva de outra forma animal mais primi­
tiva. É conhecida a doutrina do famoso naturalista inglês,
Darwin, segundo a qual o homem, com o os antropóides (isto
é, os símios superiores, os que têm forma parecida à huma­
na, com o o nome está indicando) são provenientes de um
antecessor comum.

Gorila Gibão
Muitos julgam que o Homem é parente dêsses animais.

Essa é a doutrina aceita pelos antropólogos: o homem


e os antropóides (do grego, anthropoeidés, isto é, que tem
a forma de hom em ) derivam de um ser comum, que já de­
sapareceu da superfície da Terra.
AS ERAS DO HOMEM

O homem, segundo a evolução, deve remontar a quase


um mUhão de anosf partmaò ao iidq chamadS1 ifhõmém de
Neandertal”, que estudaremos aiiida. Os dãrwinistas nos
dizem que numerosos tipos d e’ animais, que viveram sôbre
a superfície da Terra, e hoje já não mais existem, devido às
transformações por que passou a crosta terrestre, tiveram
o homem com o contemporâneo, considerando-se êste em
um dos seus estágios anteriores. Assim, o homem conhe-

Homens primitivos caçando

ceu, com o contemporâneos seus, em um dos estágios do seu


desenvolvimento antropológico, sêres colossais, com o os
mamutes, por exemplo. Çom o desaparecimento dos gigan­
tescos animais, o antropóide desceu das árvores, e a partir
daí, foi que apareceu, certamente, o Pitecântropo erecto, do
qual (se crê) proveio diretamente o homem. E êste, depois
18 JÜLIO MINHAN

de milênios de luta constante contra a natureza e contra o s


animais, conseguiu, finalmente, tornar-se o rei dos sêres que
habitam a superfície da Terra, influindo para a sua supre­
macia o descobrimento do fogo e a criação dos objetos rús­
ticos (machado de pedra, por exemplo), atingindo, a pou ca
e pouco, maior técnica, que o elevaria até à situação em que
hoje se encontra.
As idades (ou eras) anteriores à atual, pelas quais o
homem passou, foram as seguintes:
a) era da pedra lascada, chamada também paleolítica
(d o grego: palaiós, antigo, e lithos, pedra), na qual o ho­
mem se aproveitou do sílex (pedra que é uma variedade do
quartzo) para fabricar os instrumentos com que trabalhava:
os machados, as facas, os perfuradores;
b ) era da pedra polida, em que o homem já conseguiu
utilizar a pedra, polindo-a, para fabricar os seus instrumen­
tos de trabalho;
c ) era dos metais, que se subdividiu em duas idades:
a do bronze e a do ferro, esta a mais próxima de nós, cujos
aspectos pertencem mais ao estudo da História do que ao
da Antropologia.
CAPÍTULO II

CLASSIFICAÇÃO RACIAL

Em seu "Antropologia Geral”, escreve A. L. Kroeber:


"Quase todos chegamos a interessar-nos pelo problema
da origem das raças humanas e pela história do seu desen
volvimento. Vemos que a humanidade está dividida em
corto número de variedades que diferem notàvelmente em
seu aspecto. Na hipótese de estas variedades serem m odi­
ficações de uma única form a ancestral, que é que os fêz al­
terar, e qual foi a história desta mudança?
No estado atual da ciência, não podemos responder
com segurança absoluta a estas perguntas tão importantes.
Sabemos muito pouco acêrca das causas que modificam os
tipos humanos; e a respeito da história das raças somente
possuímos uma informação incompleta. Os poucos frag­
mentos das procas apresentam-se demasiadamente dispersos
para oferecer suficientes indícios úteis. O homem mais an­
tigo, segundo os fósseis encontrados, não se coaduna com
qualquer das variedades viventes. É excessivamente primi­
tivo para conectar-se de um m odo claro e definido com as
raças existentes, tôdas as quais podem considerar-se com o
variedade intergraduais de uma única espécie — a do “ Ho-
mo sapiens” . Nos fósseis da segunda metade da Antiga
Idade da Pedra, no período Aurignacense, entre vinte ou vin­
te e cinco mil anos atrás, encontramos indícios que parecem
antecipar as raças modernas. O tipo humano chamado de
Grimaldi possui, desde êste período, afinidades negróides;
o tipo de Cro-Magnon e talvez o de Brünn, que são-lhe con­
temporâneos, tem mais afinidade com ò tipo caucasóide.
Contudo, não conhecemos nem a origem nem a descendên­
cia destas raças fósseis. ApareCem e logo se desvanecem
da cena. Tudo o que a Evolução pode deduzir dêstes frag­
20 JÜLIO MINHAN

mentos eomprobatórios é que as raças humanas, tal e com o


se distribuem atualmente sôbre a terra, devem ter-se for­
mado no transcurso de dezenas de milhares de anos pelo
menos. Quando foi o efeito que os fêz diferenciarem-se?
sôbre que parte da superfície terrestre adquiriu cada uma
suas peculiaridades? Como se subdividiram mais tarde,
quais foram suas transições e que ocorreu com êstes sêres
perdidos? — são perguntas que a Antropologia ainda não
respondeu de maneira satisfatória.
Sendo evidente possuir todo ser humano um grande
número de traços ou feições diversas, o primeiro passo para
classificar as raças é determinar a importância que se deva
dar a cada um dêstes traços.

Homens primitivos cuidando do fogo

Muitos aceitam que a estatura ou altura do corpo é o


mais significativo de todos os traços. Mas, conform e a ex­
periência já demonstrou, a estatura é de valor relativamen­
te limitado para os propósitos da classificação. É fácil a
imaginação enganar-se por uns tantos centímetros, ao con­
siderar-se a parte superior de um indivíduo, tornando-o meia
cabeça mais alto ou mais baixo que outro qualquer. Com
exceção de poucos grupos, que, numèricamente, são bem
mais insignificantes, não há raça humana cujo promédio de
estatura seja menos de l,52m, e não existe promédio mais
alto que o de l,77m. Isto significa que, pràticamente, a
CONVITE A C Iê NCIA 21

variabilidade total da estatura humana, desde o ponto de


vista racial, apresenta uma amplitude de 25cm, mais ou me­
nos. A maioria dos prom édios das populações não difere
mais de 5cm, do promédio humano geral de l,64cm.
Ademais, é com provado ser a estatura bastante influen­
ciável pelo meio ambiente. Quando nos levantamos pela
manhã som os uma fração de centímetros mais altos que
pela noite.

Duas raças podem diferenciar-se hereditàriamente por


cinco centímetros, mas, se todos os indivíduos da raça mais
baixa estivessem bem nutridos e rodeados de um meio am-

0 HOMEM DE CRO-MAGNON
Do crânio que aparece na gravura, os evolucionistas idea­
ram essa pretensa raça que por certo não se limitou à
França e muito menos a Cro-Magnon, mas espalhou-se por
tôãa a Europa, Ásia e até pela África.
22 JÜL. IO MINHAN

biente favorável, e se todos aquêles do grupo mais alto es­


tivessem mal alimentados com sobrecarga de trabalho, a ra­
ça, que de um m odo natural é mais baixa, bem poderia ser
realmente a mais alta e vice-versa.
A medida antropológica, que provàvelmente seja a mais
usada, é o índice cefálico, que expressa em forma de per­
centagem a proporção entre a longitude e a largura da cabe­
ça. O índice é quase o mesmo numa pessoa viva que o
apresenta no crânio, ou é facilmente convertível no outro.
Isto permite a com paração das gerações presentes e passa­
das. Ademais, o índice é virtualmente o mesmo para os
homens que para as mulheres, para as crianças e para os
adultos. Finalmente parece que é pouco afetado pelo meio
ambiente. O resultado a que se chegou depois de muito se
pesquisar, foi de que são poucos os grupos de população
cujo promédio de índice cefálico não se conhece bem. A
dificuldade que o índice cefálico apresenta sob o ponto de
vista da classificação racial, é o de não produzir resultados
suficientemente amplos. Muitas vêzes o índice é útil para
distinguir subtipos, para distinguir uma nação, ou tribo, de
outras; mas as raças primárias não são uniformes. Não
existe, por exemplo, uma form a de cabeça típica do tronco
caucasóide, pois existem caucasóides de cabeça estreita, mé­
dia e larga. O mesmo se pode dizer dos índios americanos,
que, de uma maneira geral, são bastante uniformes, mas
variam muito no form ato da cabeça.

O índice nasal, que exprime a relação existente entre a


longitude e a largura do nariz, é muito mais constante nas
grandes raças. Praticamente, todos os negróides são de na­
riz largo, e todos os caucasóides são de nariz estreito, sen­
do que a maioria dos grupos de afinidades mongolóides são
de nariz mediano. Mas o índice nasal varia de acôrdo com
a idade da pessoa, e é totalmente diferente no ser vivo e
no crânio. Parece refletir a herança de uma maneira menos
direta que o índice cefálico, e, finalmente, nada nos diz acêr-
ca da elevação, perfil ou form ação geral do nariz.

O prognatismo, ou o grau de projeção dos maxilares,


é um conspícuo aspecto do perfil, e poderia parecer de al­
guma importância histórica com o um sinal primitivo, con­
siderando-se que todos os outros mamíferos são mais prog-
natos que o homem. Êste traço tem também uma corre­
lação geral com os tipos raciais fundamentais. Quase to-
CONVITE A CIÊNCIA 23

•dos os negros são prognatos, os indivíduos de tipo mongo-


lóide o são moderadamente, e os caucasóides ligeiramente.
Não obstante, o prognatismo é difícil de ser medido ou de
ser colocado em cifras. Desenharam-se vários modelos,
mas sem resultados completamente satisfatórios.
Medimos a capacidade do crânio, enchendo-o com mu­
nição òu com semente de milho. O promédio masculino

A SC E N S ÃQ BIOLÓGICA DO H O M EM

A partir do protoplasma primitivo até o "homo^sa/piens” ,


vemos aqui toda a escala zoológica.

universal, conseguido pelo método da munição, é cêrca de


1,450 a l,500cc, com 10% menos para o sexo feminino.
O tipo de cabelo é, atualmente, considerado com o uma
das bases mais valiosas para a classificação das raças, e,
24 JÜLIO MINHAN

talvez, com o a mais significativa de tôdas. O cabelo dis­


tingue-se com o crespo no negróide, liso no mongolóide e on­
dulado no caucasóide. Esta textura depende, de uma ma­
neira geral, dos diâmetros de cada cabelo, conform e revela
o exame do corte transversal visto ao m icroscópio; em par­
te, também, da retitude ou curvatura dos sacos da raiz do
cabelo que se encontram dentro da pele. A textura do ca­
belo parece guardar um paralelo bem mais rígido com as
linhas raciais hereditárias, e não ser influenciada pelos fatô-
res idade, sexo, clima ou alimentação.
A pilosidade corporal em geral, é outro traço ao qual
se tem dado cada vez maior atenção. A abundância ou es­
cassez da barba, e o grau do desenvolvimento da pilosidade
do baixo ventre, são as suas manifestações mais notáveis.
Os caucasóides constituem, com tôda claridade, um grupo
de grande pilosidade, os mongolóides e a maior parte dos
negróides são de pele lisa. É pela pilosidade, em grande
parte, que se diferencia a raça dos australianos da dos ne­
gróides, e os ainos dos japoneses.
Excetuando a estatura, com tôda probabilidade, é a côr
o traço mais característico de qualquer uma das raças. De­
pois da côr, deve-se incluir a pele, o cabelo e os olhos.
Não obstante, todos êstes traços apresentam dificulda­
des ao antropólogo.
Na pele humana, não há mais que um único pigmento;
portanto, difere somente em quantidade. Por esta razão,
contamos com uma série completa de tons de transição, e
torna-se difícil expressar quantitativamente essas diferenças.
Impressionam muito o observador, mas transformá-los em
números, com exatidão, é uma tarefa dificílima de se con­
cluir. O meio ambiente também afeta notavelmente a côr
da pele, pois, exposta mais ou menos prolongadamente, obs-
curece-se em vários tons. Não obstante as dificuldades
apresentadas, a côr da pele continua sendo suficientemente
importante com o fator para qualquer classificação.
A côr do cabelo e a côr dos olhos, praticamente, são
imunes à mudança direta do meio ambiente. É, sem dúvi­
da, uma das melhores bases hereditárias, apesar de oferece­
rem muita resistência à medição, tal com o a côr da pele.
Entretanto, a utilidade dêstes traços encontra-se limitada
por outro fator; ou seja, sua estreita distribuição: os olhos
CONVITE A CIÊNCIA 25

azuis e o cabelo louro são, somente, características raciais de


uma simples sub-raça, a do norte da Europa; no centro da
Europa, o tom já é muito mais forte; ali o tipo predominan­
te é o moreno. No sul da Europa, os olhos azuis e o cabelo
louro abundam muito pouco e são resultados da mistura
com os povos do norte. Fora do tronco caucasóide, a regra
universal para a humanidade é: olhos negros e cabelos ne­
gros.
É evidente que a prática mais simples para chegar-se a
uma classificação bem definida, seria agrupar todos os po­
vos da terra de acôrdo com um único traço, tal com o a for­
ma do nariz ou a côr. Contudo, uma classificação com o
esta seria artificial e muito defeituosa, justamente porque
omite a maioria dos caracteres. A única classificação, que
pode pretender apoiar-se numa base natural ou verdadeira,
é aquela que tome em consideração tantos traços quantos
seja possível, e no qual se conceda importância a êles tal
qual merecem. Se com o resultado de tal agrupação, alguns
povos ficam com o intermédios, ou de lugar incerto na clas­
sificação, não sendo congruente êste resultado, o leitor tem
o direito de o aceitar ou rejeitar, conform e seus estudos e
tendências.
OS GRUPOS SANGUfNEOS

Uma das novas informações ao estudo das raças, tal­


vez a mais interessante, refere-se aos grupos sanguíneos, ra­
m o da fisiologia de grande importância médica em relação
às transfusões sanguíneas. Todo ser humano pertence a
uma das quatro classes ou “ grupos” AB, A, B e O, de acôr-
do com as substâncias específicas que contenha o sôro e
os glóbulos sanguíneos, substâncias que causam a aglutina­
ção dos glóbulos, quando se injeta sôro de indivíduos de
certos tipos no sangue em outros.
Em realidade, entre a maior parte das populações, exis­
te variabilidade local maior. No sul e no oeste da Europa,
a maior parte é do tipo A. O tipo B predomina, em excesso,
na índia e na área perto do norte da China e Manchúria. En­
tre a maior parte dos negros, malaios e indochineses, as
percentagens de A e de B são mais equilibradas. Os povos
que apresentam uma grande percentagem do tipo O são
quase sempre os de continentes ou ilhas longínquas, ou da­
queles que vivem em grupos isolados.
Há os que acreditam ser o tipo O o original na humani­
dade, e que os tipos A e B originaram-se depois com mu­
tações separadas, o A na Europa e o B na índia, e que de­
pois se propagaram pela mescla racial, acusando pessoas
da classe AB tanto o carácter A com o o B em seus antepas­
sados. Não obstante, é difícil de compreender a razão de o
norte da China e Manchúria terem derivado da índia gran­
de parte de seu sangue, e se assim aconteceu, com o explicar
o sul da China e o Japão reterem um excesso de A em pro­
porções quase idênticas à Rússia e Polônia? Por outro la­
do, os ciganos, que historicamente são conhecidos com o um
grupo emigrado da índia, conservam as típicas proporções
hindus. Ressalta à tôda prova que não se encontra uma
explicação satisfatória, integral, a êste assunto. É possível
que ao lado das supostas mutações simples A e B, e das mis­
turas posteriores, tenham intervindo atôres desconhecidos.
AS GRANDES DIVISÕES OU TRONCOS PRIMÁRIOS

Pode-se ver que existem três grandes divisões, das quais


podem tomar-se com o representantes o europeu, o negro e
o chinês. Estas três classes primárias geralmente se deno­
minam Caucasóide, Negróide e Mongolóide. Também se
usa, freqüentemente, os têrmos de côr Branca, Negra e Ama­
rela, mas é necessário recordar que se emprega somente por
convir à brevidade sem valor descritivo. Há milhões de
«aucasóides que são de côr mais escura que milhares de
m ongolóides” .
“A classificação, de Blumenbach, exposta em 1775, é a
mesma no essencial, exceto pela adição de uma quinta va­
riedade, a Oceânica.
Por outro lado, o critério de que a humanidade poderia
dividir-se satisfatoriamente em troncos Caucasóide, Negrói­
de e Mongolóide, é resultado de trabalhos feitos por antro­
pólogos franceses. Aquêles que adotaram êste princípio,
trataram de ajustar tipos divergentes com o o dos austra­
lianos e o dos polinésios a um ou outro dêstes grandes gru­
pos. Pouco valor deram a êste processo, chegando-se mes­
m o a não estimar com o valiosos alguns dados importantes.
Por esta razão, melhor nos convém não façamos aqui de­
masiado pormenorizada essa classificação tripartida. Es­
ta classificação, evidentemente, absorve de m odo indevido a
grande massa da humanidade, mas o melhor é reconhecer
que, mesmo considerada fundamental, requer certa margem
de extensões a mais das linhas indicadas nas três divisões.
A classificação feita por Deniker, antropólogo francês,
•é uma das mais elaboradas que até agora se formulou. Con­
sidera 6 grandes divisões, 17 menores e 29 raças separadas.
A classificação se baseia fundamentalmente na textura do
cabelo.
Temos de notar que a Antropologia usou o vocábulo
_raça*no seu sentido biológico, para um grupo unido pelo
28 JÚLIO MINHAN

sangue ou pela herança. . Uma raça é uma subdivisão de


uma espécie e corresponde a uma casta nos animais do­
mésticos. Popularmente, a palavra se emprega num senti­
do diferenteTJ ou seja, no de uma população que tem alguns
traços em comum, quer hereditários ou não hereditários,
Biológicos ou sociais, iti costume, mas cientificamente ine­
xato, falar da raça francesa, da raça anglo-saxã, da cigana e
da judia. Os franceses constituem uma nação e uma nacio­
nalidade, com uma língua substancialmente comum, mas
sob o ponto de vista biológico, pertencem a uma raça mui­
to mesclada, mas imperfeitamente fundida. O vocábulo
anglo-saxão se refere em primeiro lugar à linguagem, e inci-
dentalmente a um grupo de costumes, tradições e pontos de
vista que mais ou menos estão associados com a linguagem.
Os ciganos formam uma casta autoconstituída, com costu­
mes, ocupações s idioma próprios. Atualmente, os judeus,
que formaram uma nacionalidade, outrora constituíam um
corpo religioso, que, algo variável em parte pór coesão in­
terna e em parte por pressão externa, também tendem a
constituir uma casta. Evidenciam pouco o tipo racial here­
ditário e as medições indicam que em cada país se aproxi­
mam ao tipo físico da população.
É possível que pareça de pouca importância que a pa­
lavra raça se restrinja ao seu sentido estritamente biológi­
co ou que se use com maior liberdade. Não obstante, a am­
bigüidade na terminologia transcendeu ao raciocínio. Quan­
do se fala uma centena de vêzes da “ raça francesa”, inevi-
tàvelmente estamos tentados a considerar os habitantes da
França com o uma unidade biológica, o que não são. A ba­
se do êrro é a confusão dos traços e processos orgânicos,
com os superorgânicos ou culturais; da herança com a tra­
dição ou a imitação” . •
Como no capítulo sétimo, voltaremos a falar das raças
e do significado que se lhe tem dado, aqui, nos demoraremos
nas considerações já apresentadas dos diversos traços com
os quais essas raças foram e estão sendo classificadas. Na
verdade, não há traço característico que nos permita desig­
nar êste ou aquêle fóssil com o pertencendo realmente a uma
raça definida e separada em si mesma das outras. Os tra­
ços apenas poderão definir alguns tipos.
Nos dois capítulos que se seguem, veremos que os pró­
prios antropólogos estão em grande perplexidade quanto aos
caracteres estudados e que êles mesmos confessam estar
confusos.
CAPÍTULO III

OS HOMINÍDEOS NEANDERTALÓIDES

O que sabemos dos hominídeos de Neandertal é que


eram rudes, tanto pelo físico com o pelas capacidades inte­
lectuais, conclusão esta tirada das indústrias grosseiras que
não ultrapassavam o estágio do assim chamado — aprendi­
zagem.

A Antropologia mundial possiu poucos documentos os-


teológicos dos artífices das primeiras indústrias quatemá-
xias, ao contrário dos homens do Paleolítico médio que nos
são perfeitamente conhecidos através de um número quase
astronôm ico de crânios e uns poucos esqueletos em muito
boas condições. Como veremos,_ é um tipo um tanto dife­
rente que muitos julgam não sé aproximar ã õ dõ “ Homo
sapiens”, e que, no sentido lógico do têrmo, pode ser con­
siderado cõ m ó uma espécie distintã. Por êste fato, recebeu
o nome de “ H om o neanderthalensis” , vocábulo tirado do lo­
cal oridé fó í encontrado ( Neanderthal).
Esta espécie humana apresenta um número de caracte­
res anatômicos que a aproxima de outros primatas e, par­
ticularmente, dos antropóides. As descobertas dêstes últi­
m os tempos mostram-nos que a sua área de extensão abran­
gia iima grande parte do velho mundo, onde estava repre­
sentado por diversos tipos. Portanto, na história do sur­
gimento do humano, trata-se de um estágio diferente do
“ Homo sapiens fossilis” talvez mais primitivo e, sem dúvi­
da, mais antigo. Por êste fator, Schwalbe propôs que se
chamasse “ H om o primigenius”, que lhe convém melhor do
que o mencionado “ neanderthalensis”, que temos conserva­
d o apenas em respeito às leis de prioridade.
CARACTERES DO HOMO NEANDERTHALENSIS

Temos, para estudo, vários esqueletos do "H om o nean-


derthalensis” . Entre os mais importantes pela sua conser­
vação, podemos incluir os de La Chapelle-aux-Saints e os de
La Ferrasie. O primeiro foi descoberto a 3 de agôsto de
1908, pelos abades A. Bouyssonnie e J. Bardom, no fundo de
uma gruta com sedimentos do mustierense, perto de La
Chapelle-aux-Saints CCorrèze). O segundo foi encontrado
pelos senhores Capitam e Peyrony em sedimentos mustie-
renses também, de um abrigo que ficava sob uma rocha,
nas vizinhanças de Buque (Dordonha). A estas é preciso
acrescentar a do crânio de La Quina (Charente), que foi ter
às mãos do Dr. Henri Martin. Todos os achados foram fei­
tos em condições que não deixam dúvida acêrca das condi­
ções em que foram encontrados os fósseis, e o sedimento
em que jaziam. Há, porém, certa controvérsia (não podia
deixar de existir) sôbre que indivíduo representam.
A descrição do esqueleto de La Chapelle-aux-Saints foi
publicada entre 1911 e 1913, por Boule, de quem tomamos
as afirmações que seguem:
A estatura dos homens de Neandertal é relativamente
baixa: a média estabelecida, a partir dos ossos longos de di­
versas procedências, não ultrapassa l,55m, o que a coloca
abaixo da média dos homens atuais, que é 1,65. Já a cabeça
mostra o contrário: é volumosa e apresenta um extraordi­
nário desenvolvimento da face; os membros têm proporções
humanas, mas o antebraço e a perna são relativamente cur­
tos em relação ao braço e à coxa. Mencionaremos diversas
disposições anatômicas, as quais nos permitirão supor que
êstes homens, possuindo a posição bípede, deviam ter uma
altitude menos ereta que temos hoje.
A CABEÇA: a cabeça dêste tipo é volumosa e despro­
porcionada em relação à estatura um tanto curta do esque­
CONVITE A CIÊNCIA 31

leto. Conforme as dimensões do comprimento (208mm) e


da largura (156mm), ultrapassa bastante a média dos crâ­
nios modernos. É relevante pelo desenvolvimento da face
com respeito ao crânio cerebral e pelas arcadas superciliares
extraordinariamente desenvolvidas, reunidas entre si por um
rebordo contínuo e caído para a frente tal com o uma viseira,
que pode comparar-se ao “ tórus” circum-orbital dos maca­
cos antropóides. O crânio ósseo é dolicocéfalo; visto por
cima, seu con tôm o é também ovóide; na retaguarda, o re­
bordo orbital apresenta uma forte constrição frontal; de
perfil, apresenta um achatamento considerável na região
fronto-parietal; a fronte é baixa, algo arqueada, mais fugidia
do que em qualquer outro tipo atual. A secção transversal
é deprimida, formando uma curva regular e de tipo perfei­
tamente humano.

Do homem mais primitivo, através do de Neandertal ao


de Cro-Magnon

A região posterior do crânio form a uma saliência proe­


minente, enquanto qua a face occipital apresenta um acha­
tamento, que dá a idéia de um antropóide. O rebordo trans­
versal, que limita nas duas partes da escama occipital, está,
tal com o nos homens e contrariamente ao que se passa nos
antropóides, separada da crista supramastóide. O buraco
occipital encontra-se um pouco mais atrás do que nos ho­
mens atuais.
Estas disposições permitem presumir que a cabeça, em
vez de repousar firme sôbre a extremidade da coluna verte-
32 JírLIO MINHAN

bral, devia estar ligeiramente inclinada para a frente. Isto


parece estar confirmado pela m orfologia das vértebras cer-
vicais.

A região temporal apresenta caracteres que lembram


certas disposições antropóides: a sutura têmporo-parietal é
menos arredondada que nos homens, o rochedo do tempo­
ral assemelha-se ao dos chimpanzéz e as apófises mastóides
são extremamente reduzidas; finalmente, em frente ao bu­
raco auditivo externo, uma apófise post-glenóide. Já a fos­
sa glenóide é nitidamente limitada e do tipo humano.

A capacidade endocraniana é para o espécime de La


Chapelle-aux-Saints de 1.600cc, e que corresponde às “ ra­
ças” modernas mais elevadas. Esta cifra pode ser um má­
ximo individual, uma vez que em outros indivíduos do lote
a capacidade é sensivelmente mais baixa (1.300cc). Como
vemos, a média aproxima-se de 1.450 cc, que é ainda uma
cifra que entra nos limites dos tipos atuais, especialmente
dos negros.

Na realidade, êste valor absoluto da capacidade só se


refere às grandes dimensões do conjunto do crânio e não a
poderemos considerar com o índice do desenvolvimento inte­
lectual do tipo em consideração. Fica, porém, algo abaixo
da cifra que poderá atingir um indivíduo do tipo moderno,
cu jo crânio, apresentando as mesmas dimensões em com ­
primento e largura, estivesse normalmente desenvolvido em
altura: a capacidade relativa é, com efeito, reduzida em vir­
tude da extrema platicefalia (largura) do crânio.

Aliás, as da cavidade endocraniana revelam, na m orfolo­


gia geral do encéfalo do homem de Neandertal, uma mis- *
tura de estruturas humanas e simiescas, sendo as últimas
as mais numerosas, segundo afirmam os antropologistas.

Assim, pela simplicidade geral e o aspecto das circun-


voluções, a redução do lobo frontal, o desenvolvimento da
3.a circunvolução frontal e o lobo occipital, são outros tan­
tos índices possíveis de inferioridade intelectual e de relati­
va predominância das zonas sensitivo-motrizes sôbre as cha­
madas de “ associação", que são a sede das faculdades in­
telectuais e do pensamento. Pelo contrário, o volume do
encéfalo, a desigualdade dos dois hemisférios cerebrais e di­
versos outros detalhes estruturais são totalmente humanos.
CONVITE A CIÊNCIA 33

A face é proporcionalmente enorme e proeminente ao


mesmo tempo, baixa, larga e, sobretudo, notável pela sua
ausência de fossas caninas nos maxilares e pela reunião dês-
tes, segundo uma superfície plana e contínua com os ossos
malares.
As órbitas são notáveis pela grandeza, com saliência
redonda e contínua que as encima.

CRÂNIO DE KROMDA1
Na localidade de Kromdai fo i achado o crânio da gravura.
Com êsse crânio poderemos construir qualquer símio supe­
rior, antropopitecos ou mesmo um, "homo-sapiens".

A abertura nasal é alta e larga, mas os ossos nasais são


d o tipo inteiramente humano, com a raiz do nariz mergu­
lhada em uma profunda depressão, também do tipo essen­
cialmente humano.
A mandíbula, extremamente robusta, distingue-se ime­
diatamente pela forma de sua região sinfisária, onde não
34 JÚLIO MINHAN

existe queixo e cujo perfil é, ou fugidio para a retaguarda,


com o no tipo de La Chapelle-aux-Saints, ou vertical, com o
na de La Ferrasie. Em todo o caso, a ausência de tal sa­
liência tão constante no “ H om o sapiens” , é um dos traços
mais característicos no homem neanderthalensis. O resto
da maxila é maciço; os ramos ascendentes são, com o nos
antropóides, largos e baixos; a parte interna da região sin-
fásia (articulação imóvel) apresenta, na sua morfologia e
na disposição das impressões musculares, um certo número
de caracteres distintos, que lembram, atenuados, os antro­
póides.

SURGE A INTELIGÊNCIA
0 troglodita aprende a usar uma alavanca.

A DENTIÇÃO — As arcadas dentárias são largas, a sua


form a é do tipo humano com algumas pequenas diferenças,
que podem derivar das deformações devidas à fossilização.
Os dentes são mais fortes e também do tipo inteiramente
humano, não há diástemas (interstícios) onde se alojam
os caninos das feras, uma vez que os caninos não ultrapas­
sam o nível dos outros; os molares estão todos igualmente
desenvolvidos, e lembram, pela sua estrutura e pelo número
dos seus dentículos, os das populações negróides atuais.

/
CONVITE À CISNCIA 35

COLUNA VERTEBAL — É, sobretudo, notável pela eS'


trutura das vértebras cervicais nas quais as apófises espi­
nhosas, em lugar de serem com o nos homens atuais, curtas
e rebatidas para trás, são, ao contrário, relativamente lon­
gas e dispostas perpendicularmente ao eixo da coluna; a 6.a
e a 7.a, sobretudo, são típicas neste ponto; assemelham-se
aos antropóides, em especial, ao chimpanzé. As superfícies
articulares são, também, menos oblíquas que nos homens
modernos. Tôdas estas disposições são índice de uma m e­
nor curvatura da região cervical e da posição da cabeça li­
geiramente em falso na extremidade da coluna vertebral co-

UM SÍMIO SUPERIOR
Sua atitude parece humana, mas nem por isso adquiriu o
direito que a evolução lhe conferiu: ser ancestral do homem.

m o deixamos dito. Parece que a curvatura lombar era


igualmente menos pronunciada do que nos homens m o­
dernos.
OS MEMBROS — Começaremos por dizer que as cin­
turas, escapular e pélvica, são nitidamente humanas, em bo­
ra alguns pormenores m orfológicos especiais permitam a um
anatomista distingui-los dos seus hom ólogos modernos.
36 JÚLIO MINHAN

Os membros têm proporções perfeitamente humanas,


mas os posteriores são relativamente curtos. O úmero é
humano, o rádio arqueado aproxima-se do dos antropóides
e o cúbito dos outros macacos; a m ão é absolutamente hu­
mana nas suas proporções e na forma. Os membros infe­
riores são interessantes pela form a típica do fêmur, que é
m aciço e fortemente arqueado, com o o dos gorilas e dos
chimpanzés. As tíbias são curtas e grossas; a sua face ar­
ticular superior (prato-tibial) está inclinada para trás. Es­
ta retroversão muito rara nos homens atuais estabelece a
relação entre a tíbia dos antropóides e dos macacos; pa­
rece indicar que a posição vertical e articulação tíbio-femu-
ral devia estar ligeiramente arqueada. Finalmente, o pé,
totalmente humano, apresenta, nas diversas partes, caracte­
res simiescos atenuados, que fazem pensar em uma ances­
tral adaptação arborícula. Sem dúvida, se houve essa an­
cestral adaptação arborícula, as conclusões ficaram mais
difíceis para os antropólogos, pois, na escala zoológica do
homem, não nos consta que tenha existido um ancestral com
essa tendência.

Os caracteres, que temos resumido, foram especialmen­


te encontrados pelo estudo do esqueleto de La Chapelle-aux-
-Saints; encontram-se em outros indivíduos europeus e atual­
mente conhecidos (que vamos mencionar), porém, com va­
riantes individuais. Por exemplo, a saliência das arcadas
supraciliares e o seu espessamento podem ser mais ou me­
nos pronunciados. São mais reduzidos no indivíduo de Gi-
braltar e mais ainda no de M. Moustier, o que pode mais
provir da sua idade ainda jovem ; a form a da testa varia
também no homem de La Quina, que é mais plana do que
nos outros indivíduos.

Vemos, com efeito, que êste tipo corresponde a um ser


que, pelo seu desenvolvimento cerebral, pela disposição bí­
pede, pelas proporções dos membros e diferenciação fun­
cional das suas faculdades de invenção, coloca-se, incontes-
tàvelmente, entre os homens. Pode diferir dos que atual­
mente vivem ou dos que vamos estudar ainda por uma sé­
rie de disposições anatômicas, cuja amplidão ultrapasse em
muito as simples variações m orfológicas em que assenta a
distinção entre os diversos tipos.
CONVITE A CIÊNCIA 37

Mesmo admitindo que constitua verdadeiramente um


tipo estrutural particular, quer pela soma dos caracteres,
bem com o pelo seu psiquismo retardado, não poderíamos',
chegar ao extremo de compará-lo, e muito menos catalogá-

A FAMOSA CHETA
Vemo-la aqui fingindo que escreve. Pela inteligência revelada
por certos animais a evolução fêz muitos castelos de cartas.

-Io com um chimpanzé ou gorila. O tipo está espalhado por


todo o velho mundo e, rapidamente, vamos examinar a dis­
tribuição, assim com o as características dos principais re­
presentantes.
EUROPA

Os primeiros fósseis autênticos dêste tipo de hominí-


deo são as ossadas descobertas em 1908, numa gruta do va­
le chamado de Neandertal, nos arredores de Dusseldorf. Ci­
taremos só para lembrar o crânio de Constandt, descoberto
em 1710, perto de Estugard, e estudado por Quatrefages e
Ilamy, cuja antiguidade é muito duvidosa. Crê-se que dêste
tipo sejam as ossadas descobertas em 1856, em uma gruta
do vale de Neandertal, perto de Dusseldorf, entre as quais
um crânio característico, foi escolhido para representar a
espécie. Depois, aparecem os crânios encontrados em Gi-
braltar, e, em 1864, os esqueletos de Spy (Bélgica) em 1886,
que apesar de fragmentados, foram durante muito tempo
os melhores fósseis conhecidos do H om o Neanderthalensis,
e foram objeto de demorado estudo p or parte de Fraipon e
Lohest; surgiu, logo a seguir, a série de crânios e ossadas de
Krapina (Croácia), estudados e descritos por Gorjanovic
Kramberger; finalmente, em 1908, deu-se a descoberta do
esqueleto, já mencionado, de La Chapelle-aux-Saints (Corrè-
ze), que Boyle nos fêz conhecer pela sua monografia. No
mesmo ano, aparecia, na gruta de Moustier (Dordonha), um
esqueleto adquirido depois pela Alemanha.
É preciso assinalar, ainda, alguns achados mais recen­
tes: os dois crânios de Laccopastore, perto de Roma, desco­
bertos por Sérgio Sergi, em 1929 e 1935, o de Monte Circeu,
achado por Blane, em 1939; os vestígios humanos de Kiik,
na Criméia, e os esqueletos de Baissoun, na Sibéria. Êstes
diversos fósseis não foram ainda objeto de monografias
detalhadas, porém, acredita-se tratar do "H om o neander­
thalensis". Pela enumeração, vê-se que o neandertal é co­
nhecido na Europa por uma série de documentos provenien­
tes em sua maior parte de jazidas bem demarcadas do Pa-
leolítico médio. As peças de Weimar-Ehringsdorf são um
pouco mais antigas, pois estão associadas a uma indústria
mustierense* Dizem que esta série, notável pela sua hom o­
geneidade, está de acôrdo com a unidade específica. O úni­
co que os antropologistas não nos tem dito é a que espécie se
referem, pois, há quatro: neandethalensis, mustierensis, kra-
pinensis e chringsdorfensis.
O CRÂNIO STEINHEIM

A descoberta feita em 1933 por Berckhemer merece uma


descrição especial. Um crânio apareceu na saibreira de
Steinheim — sôbre o Mur, perto de Estugard. Convém, di­
gamos logo, que esta peça não foi devidamente estudada e
se foi, seu estudo não se divulgou suficientemente; apenas
poucos antropologistas a examinaram. Trata-se de um do­
cumento datado pela estratigrafia e pela fauna, proveniente
do último interglaciário, quer dizer, mais antigo dos que te­
m os mencionado. Sendo assim, pela idade, confunde-se com
os pitecantropídeos.

O crânio é de um indivíduo feminino ainda jovem. £


notável pelas dimensões absolutas, mais fracas que a dos
outros neanderthalensis, pela menor espessura de seus os­
sos, e de uma maneira geral, pelo aspecto mais grácil e me­
nos brutal. Os antropologistas atribuem estas diferenças
ao sexo. É uma maneira de fugir às evidências que des-
troem todo o castelo de cartas por êles arquitetado. Mister
seria que confessassem que, pelo aspecto “ mais grácil e me­
nos brutal", não pertencia a êsse tipo, porém se isso decla­
rassem ficariam mal parados, pois, sendo contemporâneo
com os pitecantropídeos e “ mais grácil” que os neandertha­
lensis, estaria provado que os arqueólogos, por vêzes, se con­
fundem pelos efeitos geológicos já apresentados no primei­
ro tom o dêste Convite à Ciência.

Há, certamente, na m orfologia dêste crânio, algumas


das características dos neanderthalensis: a dolicocefalia, o
desenho do con tôm o horizontal do crânio cerebral, o tórus
circum-orbital fortemente proeminente, a contrição frontal
post-orbital, a platicefalia mais pronunciada, mesmo do que
nos outros neanderthalensis, a pequenez dos ossos nasais, a
form a da abertura nasal, a fraca capacidade endocraniana,
que, neste caso, é somente de l:070cc, achando-se, assim,
40 JÜLIO MINHAN

em valor absoluto muito abaixo dos mínimos humanos


atuais. O que nos dá direito a duvidar de tudo o que se
escreveu sôbre os neandertalóides é que êstes caracteres
primitivos são apanhados de um certo número de traços
não habituais nos neandertalóides, e que lembram os traços
do “ H om o sapiens” . É assim que, apesar da sua pronuncia­
da platicefalia, a testa é algo mais arqueada que nos outros
indivíduos; a curva do perfil occipital é também mais re­
gularmente arredondada, sem form ar “ cocuruto” . A sutu-
ra têmporo-parietal é regularmente arqueada e, de qualquer
forma, menos maciça do que a dos homens de La Chapelle-
-aux-Saints ou de La Ferrasie; está, também, menos pro­
jetada para a frente. Apresenta, enfim, fossas caninas bem
desenvolvidas, e não tem o aspecto de focinho que nos ou­
tros temos assinalado. Do mesmo m odo, a dentição em
grande parte conservada, é interessante pelo fraco volume
dos dentes, em contraste com a habitual macrodontia (den­
tadura muito grande) dos indivíduos classificados com o ne­
andertalóides e pela redução do último molar superior.
Por tôdas essas diferenças, muitos antropólogos trata­
ram de separar o crânio de Steinheim do grupo de Nean­
dertal, e ver nêle um antepassado direto do “ Hom o sapiens".
Se assim fôr, é claro que há muita confusão e pouca ciência
nessas classificações, sendo com o é, no tempo, contempo­
râneo do pitecântropo, e apresentando traços do “ Homo sa­
piens”, e até quase do homem moderno. O certo é que há
em tôda essa série de neandertalóides, entre um tipo e ou­
tro, aspectos que por certo não têm fácil explicação. Por
não cair na armadilha que a Arqueologia parece ter-nos ar­
mado, os arqueólogos, que êsse crânio estudaram, voltam
ao argumento anterior de serem diferentes de sexo e que o
crânio prova ser de uma mulher e com esta explicação, um
tanto canhestra, dizem que o único traço que distingue o
crânio de Steinheim do dos neandertalóides é a existência
das fossas caninas, mas que êsse detalhe m orfológico não
se podia opor ao conjunto das outras características que, se­
gundo seus defensores, o classificam incontestàvelmente no
“ stock neandertalensis” .
A GARGANTUA ODEIA OS HOMENS
ÁFRICA

Arqueològicamente, a África é uma fonte escassa, pois,


até aqui tem fornecido poucos documentos osteológicos sô­
bre o homem do paleolítico superior e médio. Muito em­
bora as indústrias que se creditam a êsse tipo estejam muito
distribuídas, não pode êste fator ter nada com antigos tipos
de hominídeos, uma vez que tudo pode ser creditado à pou­
ca cultura que ainda hoje têm milhões de africanos. Veja­
m os o que se encontrou.

O CRÂNIO DE RABATE

O fóssil africano mais antigo, que atualmente possuí­


mos, é um crânio muito fragmentado, descoberto nos arre­
dores de Rabate (M arrocos francês) em terrenos de grês,
que, pela sua posição estratigráfica e pela fauna, parece do
Paleolítico superior. Êste documento é, infelizmente, muito
incompleto, reduzindo-se sua parte essencial a um fragmen­
to de mandíbula e de pálato com a dentição. A ausência do
queixo, o volume dos dentes, a espessura dos ossos indicam
um tipo certamente primitivo, que pode aproximar-se dos
neanderthalensis, ou talvez, de sêres mais arcaicos ainda,
tais com o os pitecantropídeos; mesmo assim, sabendo que
não corresponde ao tipo neanderthalensis, os paleontólogos
teimam em colocá-lo com os outros fósseis que atribuem a
êsse tipo.

O CRÂNIO DE BROKEN HILL

Nesta localidade da Rodésia, em 1921, fêz-se uma des­


coberta, em uma mina, na qual encontrou-se um crânio em
bom estado de conservação acompanhado de vários ossos
que, com tôda evidência, pertenciam a diversos indivíduos.
CONVITE À CIÊNCIA 43

FANTASIA EVOLUCIONISTA
Êste é o híbrido qtte os evolucionistas julgam ter dado
origem ao verdadeiro homem. Para termos êsse híbrido +
teríamos de acasalar um símio com um homem.
44 JÚLIO MINHAN

As condições da jazida e da fauna, que acompanhavam êstes


ossos, eram tais, que não nos permite atribuir-lhes uma al­
ta antiguidade. Em contrapartida, os caracteres do crânio
têm semelhança com os neandertalóides e ATÉ EXAGERA­
DOS: o aspecto geral é, ainda, mais brutal que nos espécimes
europeus; o tórus circum-orbital mais espêsso e mais sali­
ente, o achatamento do crânio e da fronte é mais acentuado.
Apresenta até certos caracteres mais simiescds, tal com o o
esbôço de uma saliência sagital na região frontal e a form a
de sua secção transversa, onde o maior diâmetro correspon­
de ao nível submastóide. Mas convém notar que o crânio
de La Quina assemelha-se ao que estamos descrevendo. Por
isso, certos antropologistas tendem a considerar o homem
de Broken Hill com o um tipo mais primitivo do que o de
Neandertal e, por isso, criou-se, só para êle, o nome gené­
rico de Kyphantropus. Porém, a idade, com certeza, re­
cente, leva a admitir que se trata de uma sobrevivência tar­
dia de um grupo de neandertalenses que teria encontrado
um refúgio nessa vasta região da África. Esta idéia, sal­
vadora da hipótese evolucionista, resolve muito bem o pro­
blema, porém, está em contradição com o que se sabe d o
papel representado pela África na distribuição de certos
animais.

ASIA

Contrariamente à África, a Ásia deu lugar a descober­


tas importantes no que diz respeito ao homem do Paleolí­
tico médio. Estas descobertas tiveram lugar em duas re­
giões muito distantes uma da outra — Palestina e Ilha de
Java.
OS FÓSSEIS DA PALESTINA

O primeiro crânio encontrado é o conhecido com o no­


me de TABCHA, ou crânio da Galiléia que, em 1925, veio à
luz no lago de Genezaré. Depois, com as buscas sistemáti­
cas, que se continuaram a fazer desde 1931, sob a orienta­
ção das Escolas inglêsa e americana de Investigações Pré-
Históricas, nas grutas de Mougharete-el-Sukhul a primeira,
e gruta de Mougharete-el-Tabum Monte Carmah) a segun­
da, bem com o o Instituto de Paleontologia Humana na gru­
ta de Djebel Kafzeh, perto da cidade de Nazaré, encontra­
ram-se uma série de fósseis humanos de interêsse conside­
rável.
Pretende-se que as condições das jazidas, onde êstes fós­
seis foram encontrados, não deixam lugar a dúvidas quanto
à sua antiguidade. As indústrias ou traços que acompa­
nham êstes fósseis são, incontestàvelmente, do tipo paleolí­
tico médio.
O crânio da Galiléia consiste num frontal com as órbi­
tas cujas características são nitidamente neandertalenses,
se bem que menos acentuada do que nos indivíduos euro­
peus. Os outros fósseis que podemos mencionar são: da
gruta de Sukhul, um crânio de criança de 4 anos, e restos
de nove esqueletos dos quais seis são adultos; da gruta de
Tabum, um jovem esqueleto feminino e uma mandíbula;
da gruta de Kafzeh, dois crânios com vários esqueletos.
Esta série é importante pela mistura que apresentam
os diversos exemplares de caracteres tipicamente neander­
talenses, associados ao do Hom o sapiens. A “ mistura” é,
sobretudo, acentuada nos indivíduos da gruta de Sukhul e
nas de Djebel Kafzeh, embora possuam o tórus circum-occi-
pital, a platicefalia, a projeção da face para a frente (que
são características neandertalenses) a ausência de fossas
caninas e o achatamento dos ossos malares, a sua testa é,
46 JÜLIO MINHAN

contudo, um pouco mais arqueada, o tórus tende a subdi­


vidir-se, a face é menos prognata, o con tôm o da parte tra­
seira do crânio é mais regularmente arredondado, a sutura
têmporo-parietal é mais humana; finalmente, a mandíbula
apresenta em alguns dêles uma saliência queixai, e já vimos
que essa saliência no indivíduo de La Ferrasie, o desclassi­
fica dentro do tipo neandertalense. Já no indivíduo femi­
nino de Tabum, os caracteres neandertalenses são mais
acentuados e predominantes: na região frontal, o desenvol­
vimento relativo da face, a abertura nasal, a sínfise medu­
lar fugidia, e a ausência do queixo, tão típicas, assim com o
a fraca capacidade endocraniana, avaliada em 1.260cc. A
estatura dêstes diversos indivíduos femininos varia entre
1,51 até l,57m e nos masculinos de 1,68 até l,78m. A coluna
vertebral, as costelas, a bacia, são neandertalenses, porém,
já os fêmures dizem que são perfeitamente humanos.
Vemos, assim, que êste grupo dá margem a que crie­
m os um tipo, diríamos, de uma nova “ raça”, se nosso con­
ceito de raça fôsse o que alguns antropólogos têm. Isto
prova-nos que. de ter realmente existido o tipo neanderta­
lense, a distância que o separa do homem atual é bem me­
nos da que geralmente muitos antropólogos pensam. Os
homens ou fósseis da Palestina, que preenchem essa lacuna,
são o elo entre os dois tipos e por isso — alguns estudiosos
querem provar que a Palestina é o berço da humanidade — ,
interessante é observarmos com o certo ou não o lugar do
início da humanidade, pois esta questão não influi na uti­
lidade arqueológica quanto ao aparecimento do "H om o sa­
piens”, mas, evolucionisticamente falando, tem interêsse e
muito, por desmentir o processo evolucionístico.


OS HOMENS DE JAVA

A ilha de Java, que já mencionamos ao falarmos do ho­


mem de Wadjak, forneceu-nos uma importante série. De­
vemos essa descoberta a Oppenoorth que, em 1931, encon­
trou dez crânios humanóides adultos e um de adolescente
de talvez doze anos, perto da localidade de Ngandorg. Ês­
tes fósseis estavam enterrados nas saibreiras de um terre­
no aluvial a uns 20 metros de profundidade, sedimento que
pertencia ao Pleistoceno; portanto, mais recente do que as
camadas de Triniu, onde apareceu o pitecantropo.

Os crânios apresentam tôdas as características de Nean­


dertal. O volume é considerável e antropólogos há que
acreditam que ultrapassa os seus congêneres. As dimen­
sões variam muito, entre 192mm de comprimento por
148mm. de largo e 221 por 157mm; medidas que ultrapas­
sam as dimensões dos maiores crânios conhecidos.

Em resumo, os crânios de Ngandorg entram no qua­


dro geral dos Neandertalenses, porém, com certo número
de traços primitivos que os aproxima da variante sul-afri-
cana dêste tipo, que se liga quase diretamente aos Pitecan-
tropóides anteriores.
Como estamos a ver, os tipos selecionados com o sendo
neandertalenses têm as características misturadas que os
aproximam dos pitecantropóides e do “ Homo sapiens”, que
vamos descrever. De tudo isto, concluímos que, na reali­
dade, êsses tipos nunca existiram. Se fizermos essas com ­
parações com crânios modernos, acharemos a mesma mis­
tura. É difícil encontrarmos dois crânios iguais, e, mais
difícil ainda, é fazer com que todos concordem com as mes­
mas características.
Os prcprios antropologistas não estão mais certos
quanto ao tipo neandertalense, pois, se estivessem, não mais
48 JÜLIO MINHAN

o procurariam. Como ainda há expedições, a sua procura


é para nós a prova de que não há muita segurança. Pre­
sentemente, quatro antropólogos norte-americanos estão
viajando pelo norte do Iraque com o fim exclusivo de en­
contrar restos fósseis dos neandertalóides e sua cultura. A
expedição visitou a grande caverna do vale tie Shanidar, lo­
cal onde, em 1953, fôra encontrado um esqueleto de uma
criança pré-histórica, e quatro anos mais tarde, trés de h o­
mens que também se julgaram pré-históricos. Todo o es-
fôrço desta expedição centralizou-se na obtenção dos restos
de um esqueleto adulto. Essa peça fôra descoberta em
1957, porém, não foi possível retirá-la naquela ocasião, por
encontrar-se sob várias toneladas de rochas.
O Dr. Ralph Solecki, antropólogo da Universidade de
Colúmbia dirigirá esta expedição, tal com o fêz com as três
anteriores em 1951, 1953 e 1956-57: sua espôsa, superin­
tenderá as escavações de Zawl Chemi Shanidar, povoação
antiga, que fica perto da caverna. Há indícios de que êsse
povo ocupava a caverna em diferentes estações do ano, há
mais ou menos 10.800 anos. A povoação parece conter in­
formações que projetarão luz sôbre o período da História
da humanidade em que o homem "com eçou a emergir da
etapa da caça para uma etapa agrícola” . A expedição que
conta com a colaboração do Dr. Stewart, curador de Antro­
pologia Física do Instituto Smithsoniano, e responsável pela
restauração do crânio do homem de Neandertal que se jul­
ga ter 46.000 anos, tem licença de levar consigo tôdas as
possíveis duplicatas que venham a encontrar. Se só apare­
cer uma, ficará guardada com o relíquia nacional nos mu­
seus de Iraque.

1
CAPÍTULO IV

O “ HOMO SAPIENS”

O aparecimento, em nosso Globo, dos primeiros repre­


sentantes do “ Hom o sapiens” remonta a uma antiguidade
que alguns calculam em vários milênios. Crê-se que, desde
o fim da retirada das últimas geleiras Würmenses, a hu-
manidade compreendia uma considerável variedade de tipos
nos quaxs já apareciam os carâcíêres das grandes unidades
raciais modernas. A partir do Neolítico, a distribuição geo­
gráfica dêstes tipos estava realizada. Ós estudos dos do­
cumentos humanos que reportam ao Neolítico, pertencem,
portanto, mais à Pré-história do que à Paleontologia huma­
na; e, apesar de todo interêsse que empenhamos para ten­
tar compreender a form ação de grupos étnicos modernos,
devemos limitar-nos aos grupos desaparecidos e à investi­
gação de suas origens e relações zoológicas entre si.

Remontemo-nos ao início do Paleolítico superior; isto


é, ao período glacial pleno para estudarmos os mais antigos
fósseis humanos que sem dúvida pertenceram ao “ Homo
sapiens” . Mencionaremos um pequeno número cuja anti­
guidade, infelizmente, não resiste a um exame aprofundado
e por isso mesmo nenhum dêles pode ser mantido com o do­
cumento fidedigno dêsse estudo. O primeiro é o homem de
“ La Denise”, achado nas vizinhanças de Puy-en-Velay. Pes­
quisando-se entre as cinzas do vulcão dêste nome, cuja ida­
de parece vir provàvelmente, do fim do último interglacial,
encontraram-se restos de vários indivíduos que tinham to­
dos os traços do tipo “ hom o sapiens” ; porém, a sua relação
com os depósitos onde se encontraram — e mesmo a sua
autenticidade — são algo duvidosas. O segundo documento
compõe-se das descobertas feitas na África Oriental, por
Reck nas ravinas de Oldway, confirmadas depois por Lea-
50 JÚLIO MINHAN

key em Kanan e Kanfera, na Quenia, onde se encontraram


vestígios humanos igualmente do tipo “ hom o sapiens” em
camadas geológicas, que datam do Paleolítico antigo ante­
rior). Quanto aos fósseis de Oldway, constatou-se, sem-
dúvida alguma, que se trata, com certeza, de uma sepultura
recente e as condições das jazidas das outras indicam tra-
tar-se também de fósseis de pouca idade. -
Estas descobertas dão-nos uma idéia de tipos distintos,
mas, com diferenças menos pronunciadas das que existem
entre os diversos tipos atuais. Nenhum dos tipos que a
Paleontologia estudou subsiste hoje integralmente, porém
vários de seus traços encontram-se disseminados e variàvel-
mente associados entre os diversos povos modernos, enquan­
to que outros caracteres, que lhe eram próprios, desapare­
ceram.
Limitadas primeiro à Europa as descobertas de fósseis
humanos do Paleolítico superior, nestes últimos anos, esten-
deram-se a várias regiões do Mundo antigo. Examinare­
m os, sucessivamente, cada tipo assim reconhecido.
TIPO DE CRO-MAGNON

Em 1868, ao ser instalada a linha férrea entre as ci­


dades de Perigueux e Agen, encontraram-se cinco esquele­
tos humanos perto de Uyzies, no lugar denominado Cro-
-Magnon. Êstes esqueletos jaziam em sedimentos arqueo­
lógicos de procedência aurignacense. Compreendiam restos
de três homens, de uma mulher e um feto, que foram estu­
dados em primeiro lugar por Broca, Pruner Bey, e, mais
tarde, por Quatrefages e Hamy. Os quatro paleontólogos
reconheceram nêles traços que representavam uma raça par­
ticular, à qual deram o nome do lugar em que jaziam: Cro-
-Magnon.

Depois dêstes fósseis terem sido estudados e “ cataloga­


dos” , encontraram-se numerosos esqueletos em diversas lo­
calidades da França e de outros países da Europa, que ja­
ziam em camadas do Paleolítico superior. As belas séries
recolhidas na gruta do litoral mediterrâneo de Grimaldi,
perto de Menton, foram as que mais permitiram aos dois
arqueólogos mencionados, e, sobretudo a Veameau, fixarem
de forma definitiva as características dêsslTTTpcTfóssil.
Os caracteres dêsse tipo eram: alta estatura, conforme
o provam os esqueletos, robustos, cabeça de face ortognata
e de aspecto moderno. Tudo revela nêles uma poderosa
organização física e um desenvolvimento cerebral superior.
A estatura, com poucas exceções, atingia l,80m. Os de Gri­
maldi aproximavam-se dos dois metros! Os membros com ­
pridos e fortes, os inferiores muito desenvolvidos no seu
comprimento com relação aos superiores, a perna demasia­
do longa com relação à coxa. Êstes caracteres diferem dos
que achamos nos europeus modernos, mas lembram ou
mesmo ampliam o que sucede com os negros. As extremi­
dades eram grandes e robustas. Todos os ossos são índice
de uma poderosa musculatura. O desenvolvimento das es-
52 JÜLIO MINHAN

póduas, segundo Vemeau, afastou êste tipo dos europeus


modernos, aproximando-o dos tipos negróides.
O crânio era dolicocéfalo (oval). A fronte larga e ele­
vada, formando (quando vista de perfil) uma curva regu­
lar acima das arcadas orbitais. A região occipital, em al­
guns indivíduos, apresenta um achatamento característico,
que é acompanhado por uma saliência da nuca em carrapito
(cocoru to). As apófises mastóides estão fortemente desen­
volvidas. As maxilas bem com o a dentição já eram de tipo
moderno. O maxilar superior apresenta um prognatismo
alveolar variável, conform e os indivíduos. A mandíbula era
robusta, com as apófises ascendentes largas e baixas, apre­
sentando sempre um queixo bem desenvolvido, triangular e
saliente.
Vemos que êste tipo apresente caracteres muito mis­
turados e podemos compará-lo com europeus ou negróides.
Sua distribuição foi arbitrariamente fixada na Europa Oci­
dental e com o é lógico admitir, na França, particularmente.
Limitemo-nos a enumerar as descobertas: depois dos
encontrados em um abrigo de Cro-Magnon, foram as grutas
de Grimaldi que deram maior número de esqueletos, bem
com o os mais completos. Seguem-se, cronologicamente, os
restos humanos de Laugerie Basse, no vale de La Vezère,
do abrigo que fica sob a rocha de Durathy, perto de Sarde
(Landes) da gruta dos Hatteaux, de Combe Capelle, cujo
esqueleto (estudado por Klastsch, foi com prado pelo Museu
de Berlim), que o classifícõu“com o uma espécie particular
(H om o aurignacensis Hauseri), e tido com o descendente de
orangotango, e, finalmente, vêm os de La Madeleine (Dor-
donha), de Placard (Charente) e Solutré. Tudo isso na
França.
Fora da França, encontramos o esqueleto da caverna
de Paviland (País de Gales) e o de Galley Hill, na Bélgica;
os crânios de Eugis e de Engihoul na Alemanha; os esque­
letos de Obercassel, perto de Bonn e os de Stetten, perto
de Ulm, os de Bruxn e Podhaba, na Boêmia, de Bruun e
de Predmost, na Moróvia, dos quais vários antropólogos fi­
zeram um tipo especial.
Se isto fôr exato (pelos traços característicos dos tipos
mencionados, há muita confusão), a chamada raça de Cro-
-Magnon teve grande papel no povoamento da Europa.
CONVIÍE A CIÊNCIA 53

Porém, sua área de extensão não se limitou à Europa so­


mente. Tôda a África do Norte, desde Marrocos à Tunísia,,
foi povoada, durante o Paleolítico superior, por homens es­
treitamente ligados com os de Cro-Magnon.
A forma africana, hoje perfeitamente conhecida, gra­
ças a 50 crânios e 7 esqueletos encontrados na gruta de
Afalu-bú-Rhum-mel, no litoral do Gôlfo de Bongis, é desig­
nada pelos antropologistas com o nome do tipo de Mecha-
-el-Arbi, localidade que fica perto de Setif, onde foi encon­
trado o primeiro crânio desta série. Os primeiros vestígios
apareceram em jazidas “ íbero-marusianas” , que, cronologi­
camente, eqüivalem ao período aurignacense magdalenense
da Europa. Nestes cro-magnóides africanos, encontram-se a
alta estatura e robustez, bem com o os caracteres cranianos

Um esquimó

e esqueléticos do tipo europeu, porém diferem bastante dos


caracteres secundários: maior variedade na forma do crâ­
nio que em alguns indivíduos, hiperdolicocéfalos (muito
ovalado), em outros mesocéfalo (queixada protuberante),
nariz muito longo e mais largo. Além dêste último caráter,
os outros podem entrar no tipo de Cro-Magnon, se form os
indulgentes, aceitando-lhes as variedades.
O tipo norte-africano teve uma considerável duração
que se estende por todo o Paleolítico superior e Neolítico.
54 JÜLIO MINHAN

Além dêles, encontramos traços nas populações barbáries


atuais, que parecem ter derivado dêsse tipo, tal com o os
antigos guanchos das ilhas Canárias.
Tudo o que temos dito, deixa claro que o homem de
Cro-Magnon corresponde a um tipo elevado de organização
física. Deixaram seus vestígios na sua indústria e nas suas
manifestações artísticas; traços de um psiquismo superior,
qualitativamente comparável ao das populações modernas
mais evoluídas. Reduzidos pelo rigor do clima glacial à
vida precária das cavernas, encontraram nos recursos da
sua inteligência o meio de adaptar-se aos lugares do seu
“ habitat” ou de procurar outros para sobreviver, com o o
fizeram os guanchos das Canárias, que são espécimes vivos
dêsse tipo, que a Antropologia julgava extinto.
De repente, o tipo cro-magnóide criou e elevou ao mais
alto grau de perfeição a variada atividade que a sua vida
de caçadores árticos exigia. Ao mesmo tempo o seu gôstp
pelo vestuário e pela ornamentação, o zêlo que devotava a
sepulturas, são testemunhos suficientes do desenvolvimento
intelectual que atingiu êsse homem, que modelou os bisontes
de argila de Tuc D’Audoubert, ou pintou os frescos das ca­
vernas da Dordonha e Altamira.
Concomitantemente com os restos humanos do tipo de
Cro-Magnon, encontrou-se no Paleolítico superior da Euro­
pa um pequeno número de espécimes de um tipo diferente
que anula totalmente a “ espécie única” , pois se ambas eram
contemporâneas não podemos admitir a evolução de uma
dessas espécies e retrocesso da outra, mas examinemos êsse
novo tipo.
TIPO DE CHANCELADE

O esqueleto dêste tipo foi descoberto em 1888, no lugar


denominado Chancelade, perto de Perigueux, na Dordonha,
França. O estudo que dêle fêz o Dr. Testut (o famoso ana­
tomista) revelou uma série de diferenças importantes com
relação ao tipo anterior. A estatura é pequena e não ultra­
passa 1,55. Os membros são extremamente robustos e ata-
carrados, com fortes cristas de insecções musculares: os
anteriores relativamente são muito longos, superiores mes­
mo, neste ponto de vista, aos dos negros. O crânio é volu­
moso, muito dolicocéfalo (ovalóide) e notàvelmente alto,
sobretudo na sua região mediana; sua capacidade atinge
1.700 cc. A face é alta e larga, com os pom os salientes:
órbitas quadrangulares, quase quadradas, o nariz é com pri­
do e estreito com base pouco afundada; não há qualquer
prognatismo subnasal e, finalmente, a mandíbula é forte, o
queixo saliente. Êstes caracteres lembram de m odo impres­
sionante, com o o notou o Dr. Testut, os caracteres dos esqui­
m ós da Groenlândia e do Alaska. Daqui surge uma per­
gunta: êstes habitantes de um meio biológico, que corres­
ponde ao da época glacial, não serão os descendentes emi­
grados de algumas tribos magdalenenses? Os traços etno­
gráficos concordam perfeitamente, pois, há grandes seme­
lhanças entre o gênero de vida e os utensílios dos esquimós
atuais com os homens que viveram no período magdale-
nense.

Admitimos que seria temerário tirar conclusões neste


sentido, de m odo absoluto, partindo do único espécime de
Chancelade; por isso, alguns antropólogos combateram esta
maneira de ver; porém, é necessário notar que um certo
número de outros fósseis humanos, datando da mesma épo­
ca, e geralmente atribuídos à raça de Cro-Magnon, parecem
colocar-se pelo menos em grande parte de seus caracteres,
ao lado do tipo de Chancelade. Entre êstes, contamos com
56 JÚLIO MINHAN

os esqueletos de Obercassel, perto da capital da Alemanha


— Bonn — já mencionados, e os da gruta de Duruthy, per­
to de Sorde, bem com o os crânios da Baixa Laugerie. O
próprio esqueleto de Combe-Capelle, que é um pouco mais
antigo (aurignacense), embora do tipo de Cro-Magnon no
seu conjunto, apresenta alguns traços do tipo de Chancela­
de, bem com o caracteres etiópicos; finalmente, alguns dos
crânios de Predmost (Morávia) lembram também êste tipo,
principalmente pela altura de suas órbitas.
Êstes diversos espécimes tendem a encurtar a distân­
cia que, à primeira vista, parece separar os dois tipos —
Cro-Magnon e Chancelade, — e demonstram que para o fim
dos períodos glaciais, tendo um junco cromagnóide comum,
havia já grande número de variações familiares e até indi­
viduais, que mais tarde, pelo isolamento geográfico, se fi­
xaram nos tipos atuais.

TIPO GRIMALDI

Conjuntamente com os esqueletos de Cro-Magnon, que


descrevemos, em uma das grutas de Grimaldi (a conhecida
com o a “ das crianças” ) encontraram-se restos de dois in­
divíduos que pertencem a um tipo diferente. Vemeau re-
conhecendo-lhe alguns dos caracteres negróides, descreve-os
com o sendo uma nova “ raça” — a de Grimaldi.
Trata-se de tuna mulher idosa e de um adolescente, que
tinha 15 anos mais ou menos, que jaziam em uma mesma
sepultura, fixada por meio dos depósitos arqueológicos que
os cobriam e que eram do início do Aurignacense. Êstes
indivíduos distinguem-se dos de Cro-Magnon antes de tudo
pela sua estatura menor (l,60m ); sua cabeça mais desar-
mônica apresenta um crânio muito ovalado (hiperdolicocé-
falo) e uma face particularmente baixa, a fronte é direita
e a abóbada craniana mais elevada; a capacidade craniana
atinge 1.580cc; no adolescente a abertura nasal é larga (pla-
tirrínea), com um prognatismo subnasal. A dentição, que
é maciça e de um tipo primitivo, lembra os australianos
atuais. Finalmente, a bacia é do tipo negrito, acontecendo
o mesmo com as proporções relativas aos membros.
Portanto, êstes dois indivíduos reúnem caracteres que
sem permitirem confirmar que se trata de verdadeiros ne­
CONVITE A CIÊNCIA 57

gros, indicam, contudo, a existência no litoral mediterrâneo,


(lesde o princípio do Paleolítico superior, de indivíduos que
possuam caracteres negróides. É preciso não esquecer que
nos próprios homens de Cro-Magnon encontramos, princi­
palmente nas proporções de seus membros, caracteres que
lembram ou mesmo exageram os negros; por outro lado, a
considerável capacidade e a altura do crânio, a desarmonia
da cabeça, a form a retangular das órbitas, assim com o o
prognatismo, encontram-se nos tipos de Cro-Magnon. Por
tudo isso, Vejneau, ao concluir seu estudo dos homens de
Grimaldi, escrevia: “ As particularidades que chamam a
atenção dos antropólogos, quando se encontram perante o
velho crânio de Eyzies, existiam já nos nossos negróides de
Grimaldi em estado mais ou menos rudimentar. Por con­
seqüência, em qualquer ponto de vista que nos coloquemos,
vemos que nada se opõe a que êstes sejam os antepassados
dos caçadores da Idade da Rena” .
Antes de passar ao homem do Paleolítico, limitar-nos-
-emos a ressaltar que, entre os diversos tipos humanos que
temos descrito, existe um conjunto de particularidades co­
muns a algumas espécies, além de outras que estão disse­
minadas entre os diversos tipos que nos dão a idéia de que
nunca houve um tipo realmente definido.

»
HOMENS DO PALEOLÍTICO SUPERIOR

Além dos cromagnóides do tipo de Mecha-el-Arbi, que


comentamos atrás, a Africa forneceu certo número de ou­
tros fósseis. Infelizmente, a posição estratigráfica dêstes
diversos documentos está longe de permitir fixar com pre­
cisão rigorosa (com o aparentemente nos outros tipos) a
sua idade entre o Paleolítico superior e o Neolítico. Qual­
quer que seja a causa da incerteza, o seu interêsse é, con­
tudo, certo, em virtude das diferenças que apresentam com
relação aos atuais habitantes das mesmas regiões, bem com o
pelos traços que revelam entre certos grupos étnicos hoje
separados.

O CRÂNIO DE KANAN

Estamos, pois, a ver que há muita incerteza quanto aos


traços característicos dos tipos já estudados. Nenhum dê-
les se apresenta antropológico. Ainda há pouco, o crânio
de Kanan fêz com que um eminente antropólogo recuasse
no tempo e no espaço. O fóssil em questão é um antigo
maxilar encontrado na África, e que tem intrigado os cien­
tistas durante muitos anos. Tinha sido identificado com o
pertencendo a uma criatura intermediária, entre a form a
antiga com o a atlantropos e o homem moderno; também
se suspeitou que pertencesse a algum “ homem-macaco” da
África. Como até hoje êsses homens-macacos não foram
encontrados, o Dr. Phillip V. Tobias, antropólogo da Uni­
versidade de WitwatersrandTde Johannesburgo, em entre­
vista concedida à revista “ Nature”, informa que o queixo
é, na realidade, uma excrescência ósseas causada por um
câncer do osso, que absolutamente não„ é humano” . Como
êste osso parece ser de um queixo, os cientistas que o estu­
daram em primeira m ão julgaram que pertencia a um ho-
CONVITE A CIÊNCIA 59

inera moderno, porém o local do achado indicava que o


iinimal viveu no início do período Pleistocênico, que se jul-
ga ter sido form ado há um milhão de anos. Os cientistas
não podiam acreditar (com muita razão) que o homem m o­
derno viesse de tão longe. Sendo assim, recomendou-se
que fôsse pôsto de lado, e desde 1935 estêve em “ suspenso” .
Esperava-se encontrar novos fósseis capazes de auxiliar a
desvendar o enigma e por isso o Dr. Tobias disse: “ Agora
estamos em condições de calcular a idade do espécime de
Kanan, livres de qualquer idéia errada” . E já vimos que
nem se acredita que o fóssil seja humano.

O ESQUELETO DE ASSECLAR

Os senhores Bernart e Morod, que eram membros da


missão saariana Angrieras-Draper, encontraram êste esque­
leto em 1927, a uns 400 quilômetros ao noroeste de Tom-
butu, na bacia de Tilemsi, afluente do rio Nigere. Está
enterrado nos depósitos arenosos de depressão lacustre de
Asseclar, que pode ser considerada com o pertencente ao Pa­
leolítico superior. O fóssil, que foi descrito por Boule e
Vallois, apresenta caracteres que o relacionam simultânea-
mente com os negróides de Grimaldi e com os homens de
Cro-Magnon, bem com o com os atuais tipos sul-africanos:
P^Boximanes e Hotentotes. No conjunto das suas disposições
TOnít&s7qTi^^rat?^mám as “ raças” melanodérmicas: dolico-
cefalia, hipsicefalia, nariz longo, prognatismo mais acentua­
do. Além disto, todos possuem traços existentes nos ho­
mens de Cro-Magnon: abaixamento considerável da face que
produz uma desarmonia crânio-facial, pouca altura nas ór­
bitas, alongamento acentuado dos segmentos distais dos
membros, antebraços e pernas. Tem-se a impressão de que
se trata de um grupo de form as provenientes de um tipo
com um ” . Isto é o que disse Boule, e o estudo dos fósseis
humanos da África está a confirmar.
OS HOMENS FÓSSEIS DA ÁFRICA AUSTRAL

Nestes últimos trinta anos, a África Austral têm-nos


fornecido um grande número de restos humanos, que têm
certa importância. Êstes fósseis foram descobertos em ní­
veis muito diferentes, cujos equivalentes europeus é muito
difícil estabelecer. Tendo em conta somente a idade rela­
tiva, é possível distinguir-se entre êles um grupo antigo que
se pode, com alguma certeza, considerar contemporâneo
com os fósseis do Paleolítico superior.

Os principais fósseis, que dizem respeito a êste grupo,


são os conhecidos pelo nome de esqueletos de Boskap, de
Tzitzikama, de Springbock Flats, Fish Hock, de Kuysma e
Zuuberg. São os crânios chamados australóides da região
do Cabo aos que é preciso acrescentar o de Florishald, des­
coberto recentemente.

É claro que, pertencendo a diversos tipos, tenham que


diferir na aparência, porém, apresentam de comum um cer­
to número de caracteres que simultâneamente nos lembram
os homens de Cro-Magnon e os negróides sul-africanos
atuais. As suas relações com os homens do Paleolítico su­
perior na Europa foram assinalados com os esqueletos de
Boskop e de Springbock Flats, que se referem a homens de
alta estatura, grande capacidade cerebral e cujo crânio se
assemelha aos homens de Cro-Magnon. O mesmo acontece
com os crânios australóides de Bayville, Mistkral, de Gabe,
que se assemelham ao crânio de Predmost. Por outro lado,
as afinidades negróides são muito numerosas e os diversos
antropologistas, que os estudaram, estão de acôrdo em apro-
ximà-los dos Boximanes e Hotentotes atuais. Alguns osteó-
logos, embora êsses fósseis sejam diferentes em muitos as­
pectos, crêem que pela sua pequena estatura, as duas “ ra­
ças” Boximanes e Hotentotes sejam descendentes dos an­
tepassados, cujos fósseis estamos comentando. O tipo
Negros africanos
62 JÚLIO MINHAN

“ au§tralóide” encontramo-lo ainda nos Korannos atuais,


tríbo Hotentote, que vive no vale do Waal.
A estreita relação étnica de povos tão afastados entre
si, com os da Europa e da Árica do Sul não é tão paradoxal
como pode parecer. Desde há muito tempo sabemos que se
estão a manifestar influências negróides sul-africanas entre
as populações egípcias e a linguagem dêstes últimos apre­
senta certas relações com a dos Hotentotes. Ainda mais,
tudo o que sabemos da aparência física exterior dos habi­
tantes da Europa, no último período glacial, milita igual­
mente a favor desta aproximação. As inúmeras estatuetas
femininas pré-históricas encontradas lembram de modo es­
tranho, quaisquer que sejam as regiões de onde provenham
— Europa Central ou Mediterrânea — as formas plásticas
de mulheres do Continente negro: têm o mesmo aspecto
maciço geral, com adiposidade desenvolvida, forma, pêso e
posição afastada dos seios, a graciosidade das pernas, con­
trastando com a grossura das regiões do tronco, o que, em
certos casos, como no das estatuetas de Menton, lembram a
mesma inchação das mulheres boximanes e hotentotes.
Todos os pré-historiadores, que se dedicaram ao estudo
das produções artísticas dos homens do Paleolítico superior,
têm insistido sôbre as notáveis semelhanças que apresen­
tam com as pinturas e gravuras rupestres boximanes, que
ligam geograficamente a África Austral por uma série con-
í tínua que se pode seguir pelos Pirineus, sul da Espanha,
África do Norte, Saara, Sudão e África Austral. Não te­
riam êsses diversos tipos sua origem em um único tronco?
Tudo faz crer que assim foi!

V
FÓSSEIS DA ÁFRICA ORIENTAL

Mínima foi a contribuição da África Oriental em fósseis.


Os poucos fragmentos humanos que temos não são do mes­
mo período. Os únicos que merecem assim ser considera­
dos foram obtidos por Leakey. Além de alguns esqueletos
do Neolítico, em uma gruta chamada “ Bambles Cave”, situa­
da nos lagos de Reft Valley, que é uma depressão produzida
por um medonho afundamento, encontrou-se uma série de
indivíduos que indicam a existência, já nessa época, de ho­
mens muito diferentes dos verdadeiros negros. Trata-se de
um tipo de estatura alta (l,80m ), de cabeça grande, muito
dolicocéfalo, face estreita e comprida, com prognatismo
maxilar, as órbitas angulosas, porém altas, o nariz relati­
vamente estreito. Embora sejam diferentes dos homens que
hoje vivem na mesma região, apresentam como êles muitos
traços iguais e se assemelham especialmente com as popu­
lações hamíticas do vale do Nilo. Como estamos a ver, não
se pode falar, por enquanto, como tendo existido negros no
Paleolítico superior africano, o que realmente é um misté­
rio; pois todos os tipos estudados têm traços negróides mais
ou menos pronunciados.

HOMENS FÓSSEIS DA ÁSIA E AUSTRÁLIA

Pouco sabemos dos homens que viviam na Ásia conti­


nental nos tempos das geleiras. Em contrapartida, por
achados bastante numerosos, sabemos que a partir do Neo­
lítico, os principais tipos humanos se encontravam mais ou
menos localizados tal como aconteceu na África.
4,A sia fgrngceu-nos um certo número de espécimes hu­
manos, cú.ia descoberta se deve a escavãções feitas nà Pa­
lestina por~Miss Garrod em Sukhah e no Monte Carmelo,
64 JÜLI O MI NH A N
■<%
e por R1_Neuville em Erê-el-Ahmar. Os achados, na reali-
dàde,“ sãõ materiais de uma épócà apenas relativamente re­
cente — época de transição do Paleolítico para o Neolítico,
— porém que demonstram a extensão e tardia sobrevivên­
cia nesta região de tipos provindos do mesmo tronco. Nêles
se encontra, com efeito, a form a alongada do crânio e a face
larga e baixa, assim com o as órbitas retangulares dos cro-
magnóides, associados a um bom número de caracteres ne­
gritos, em especial um acentuado prognatismo subnasal.
Portanto, êste é um tipo diferente dos de Mecha-el-Arbi, em
virtude de suas tendências mais francamente africanas, em­
bora em estreita relação com o grande grupo circum-medi-
terrâneo.
No Extremo Oriente, os fósseis do "H om o sapiens”
mais antigos são os da recente descoberta na China, nas
proximidades de Pequim, e dos da Insulândia, que foram
recolhidos em Java, por Dubois. Êstes não merecem mui­
to crédito, pois, Dubois teve-os fechados a sete chaves du­
rante trinta anos.
OS HOMENS DE PEQUIN

O homem pequinensis provém de uma gruta escavada


nos calcáreos da famosa colina Chu-Ku-tien, que continha
as jazidas do Sinantropus, que apresentaremos novamente.
Esta gruta é conhecida com o “ gruta superior” tem sua en­
trada na direção do cume da Calona e nela distinguem-se
sinais dos seus antigos moradores, tanto pela natureza do
conteúdo, com o pela fauna e instrumentos que contém. Na
fauna podem os encontrar ossos de muitos animais que cer­
tamente serviram de alimento aos que a gruta habitavam
e que vamos chamar de Ninantropus. Há ossos de cerví-
deos, ursos, hienas, restos de ovos de avestruz, que corres­
pondem à camada de Loss da China e revela a idade do
Paleolítico superior da jazida. Os instrumentos são quase
iguais aos encontrados nos Aurignacense e Magdalenense da
Europa.
As peças humanas consistem nos restos de sete indiví­
duos pelo menos (quatro adultos, um adolescente e duas
crianças), pertencendo, provàvelmente, a uma mesma famí­
lia, mostrando que houve enterramento premeditado, ou por
parte dêles ou algum inimigo. Entre as peças estão parti­
cularmente bem conservadas um crânio masculino mais ve­
lho e os de duas mulheres mais jovens.
Tendo entre si muitos traços comuns, os três crânios
apresentam notáveis diferenças que se assemelham curiosa­
mente a certas “ raças” modernas. Os caracteres comuns
são: pronunciada dolicocefalia, face baixa e larga, órbitas
triangulares, larga abertura nasal. Nestes caracteres en­
contramos as características cromagnóides essenciais ao
"H om o sapiens fossilis” . Caracteres que estão acentuados
no velho e manifestam-se, além disso, na saliência globular
(espaço entre as orelhas) no afundamento da raiz do nariz,
no perfil da parte traseira do crânio, na robustez e form a
da mandíbula, que o fozem aproximar de form a flagrante
66 JÜLIO MINHAN

dos homens de Cro-Magnon, Obercassel e de Mecha. Sua


estatura poderia atingir l,74m. No entanto, diferenciam-se
dos tipos mencionados por um bom número de detalhes se­
cundários da face e não deixa de ter umas relações com os
Ainou, os velhos aborígenes japonêses, pertencentes ao gru­
po europeu.
As mulheres, ao contrário, apresentam uma série de ca­
racteres que nos lembram, em uma, os caracteres melané-
sios; em outras, os esquimós, e o tipo fóssil do Chancelade.
Estariam todos os tipos juntos?
Supondo-se não se tratar de indivíduos vivendo em co­
mum, e provavelmente membros de uma mesma família, se
os vestígios tivessem sido descobertos em pontos afastados
uns dos outros, certos antropologistas não hesitariam em
ver néles tipos sub-raciais distintos, pois, há antropólogos
que não se embaraçam muito com estas questões de famí­
lia, e Saller, por exemplo, separa até o par de Obercassel,
apesar^dos caracteres evidentes de consangüinidade, em
duas “ raças” distintas: o homem que segundo êle forma o
tipo da raça de Obercassel e a mulher que pertence a de
B rünn!. . .
OS HOMENS DE WADSAE

Neste lote, temos dois crânios em que um, feminino,


está quase com pleto e o segundo muito fragmentado, ambos
encontrados por E. Dubois um pouco antes do seu famoso
Pitecantropus, que~ãprêsèntamos no próximo capítulo. Co­
mo temos dito, Dubois só permitiu que estudassem seus
fósseis demasiado tarde para que tivessem algum valor ar­
queológico, pois se não são examinados logo após o achado,
perdem seu valor com o prova.
Êstes fósseis encontrados em uma gruta da Campotug,
de terreno, provavelmente, mesolítico, apresentam certo in-
terêsse em virtude da associação de caracteres. O aspecto
mais saliente do crânio feminino é a sua desarmonia crânio-
-facial, a forma angulosa das órbitas e a saliência globular,
caracteres que, em certa medida, lembram, assim com o a
grande capacidade do crânio (1.500cc), os cro-magnons da
Europa e, em particular, os de Predmost. Mas a platicefa-
lia (cabeça larga), o prognatismo subnasal, e o seu achata-
mento, são caracteres diferentes, que, pelo contrário, se
encontram no atual tipo australiano, o que levou a consi­
derar o homem de Wadlek com o um possível antepassado
direto do tipo australiano.

CONCLUSÕES

Os diversos tipos que se estudaram para idealizar o


“ Homo sapiens” estavam, na realidade, espalhados pelo
mundo inteiro, e com o os fósseis que temos têm os caracte­
res misturados, dando a entender que, na verdade, nunca
houve um tipo único, é difícil acreditar em uma “ evolução
na escala zoológica do ser humano. Parece-nos, que se hoje
estudássemos vários esqueletos, sem que conheçamos sua
68 JÚLIO MINHAN

procedência, ficaríamos perplexos, como ficaram os antro­


pologistas do passado, ao notar que todos os documentos
examinados têm certa relação entre si.
O essencial, que podemos retirar dos fósseis acima des­
critos, é uma impressão de unidade: é incontestável que,
apesar das diferenças apresentadas, algumas das quais se­
jam talvez individuais, existe entre todos os homens do
Paleolítico um conjunto de caracteres comuns, que lhes dão
um ar rio e qUe ihes justificam o nome que lhes foi
SAPIENS” .
podemos pensar que o Homo Sapiens, desde
seu início, formou um grupo homogêneo, contendo em po­
tência as grandes unidades da raça humana, quer ela se ma­
nifeste branca, negra, ou amarela, que, devido a evolução do
tempo, à localização geográfica e aos meios telúricos encon­
trados, operou-se a divisão de caracteres que hoje as dife­
renciam.
A formação progressiva dos tipos diferentes, hoje en­
contrados, vieram de um tronco comum, conforme a lei pa-
leolítica geral, cuja aplicação se manifesta na história de
todos os grupos zoológicos.
Depois de tudo que comentamos nestes dois últimos ca­
pítulos, concluímos que nunca chegaremos a um acôrdo an­
tropológico, se tão-sòmente nos aferrarmos às idéias evolu-
cionistas, pois elas não nos provarão a origem certa do
homem; nunca explicarão qual foi o lugar que serviu de
berço à Humanidade, como se povoaram as Américas e o
porquê de terem existido negros na Europa antes de sur­
girem na África. Vamos estudar isso por partes.

\
CAPÍTULO V

O HOMEM NÃO SURGIU NA AMÉRICA

Muito se tem falado sôbre “As Origens do Homem


Americano”, mas, na verdade, há uma linha incerta traça­
da sôbre o Paleolítico superior e o Mesolítico inferior,
marcando, muito hesitante ainda, o momento em que o ho­
mem teria chegado à América. Isto há mais de 20.000 anos.
Êste período, muito ínfimo para a Evolução, abrange vários
fatôres a serem examinados em separado:
1.® — Por qué o homem não podia ter surgido na
América?
2.® — Por que o continente americano era despovoado
no tempo em que nos outros continentes havia raças, povos
e culturas já bem nítidas?
3.® — Por que as primeiras migrações não vieram pelo
Atlântico?
4.® — Por que povos antigos e mais adiantados da Eu­
ropa, do Norte da África ou da Ásia não podiam ter sido
os primeiros povoadores da América?
5.° — Por que os povos menos adiantados da África
também aqui não chegaram?
Esclarecidos êstes pontos e mais alguns pormenores sô­
bre as fontes pré-históricas americanas (sambaquis, grutas,
lapas, índios), restará apenas mostrar como poderiam ter
chegado à América levas humanas da Ásia e da Oceania e
que povos eram.

MISTÉRIO

Em grande parte é ainda tom mistério o povoamento


da América pré-histórica. Há muitas suposições e fanta­
sias; há conjeturas e hipóteses de trabalho, algumas, que
70 JÚLIO MINHAN

vão sendo reforçadas e corrigidas nesta última parte do pro­


grama antropológico.
Nada, cientificamente falando, permite admitir o apa­
recimento do Homem na terra antes do Quaternário. Nisso
estão de acôrdo, por enquanto, a Paleontologia, a Geologia,
a Pré-História, a Zoologia e a Antropologia. Mais ou me­
nos recentemente, a Geologia clássica foi abalada pela teo­
ria da Isostasia de Wegener, com base na hipótese de
Edward Swess, pela qual a crosta da Terra flutuaria sôbre
uma passa pastosa, o sima ou pirosfera. Wegener, notan­
do as linhas litorais dos continentes, viu que elas se adap­
tavam como um quebra-cabeças, encaixando-se os bordos
impressionantemente. Assim, o continente original, pelas
alturas do Cretáceo se quebrara e isso se documenta ainda
com a similitude da flora e da fauna, iguais em zonas afas-
tadíssimas umas das outras, mas que teriam estado ligadas
entre si, como se explica em “ Maravilhas da Ciência” e “Mis­
térios da Biologia” . Mesmo confirmada a teoria da união
dos continentes, nenhum interêsse tem para o nosso caso,
por que a subdivisão geológica se teria dado no Cretáceo,
quer dizer, há cêrca de 100 milhões de anos e o Homem
surgiu há apenas um milhão de anos, conforme a Evolução.
O interêsse é, pois, da Geologia e não da Antropologia.
Até as glaciações, no fim do Terciário, na hora em que sur­
gia o primeiro antropiano, as únicas ligações com o conti­
nente americano seriam pelo extremo norte, mas aí havia,
tanto do lado da Europa, quanto da Asia, uma barreira
imensa de gêlo que fechava qualquer passagem, razão pela
qual o próprio norte da Europa só começou a povoar-se no
Mesolítico. Os animais que atravessaram do Plioceno para
trás não podiam voltar e vice-versa. O ser ou sêres huma­
nos que haviam surgido na Ásia ou na África chegaram à
Europa, viram fundirem-se os gelos das glaciações, assisti­
ram às chuvas torrenciais do Oriente médio e do norte da
África, que são possivelmente as causadoras do Dilúvio, bem
elucidado nas “ Maravilhas da Ciência”, e em outros traba­
lhos nossos.

\
NUNCA HOUVE ANTROPÓIDES NA AMÉRICA

Mas, não poderia ter o homem surgido também na


América? Não, porque a América nunca teve antropóides.
O Homem é um mamífero da ordem dos Primatas: Tarsí-
deos, Lemurianos, Símios e Homem. Os Símios subdividem-
-se em Catarrinos, que têm a separação nasal estreita e 32
dentes, e Platirrinos, com separação nasal larga e possuem
até 36 dentes. Os macacos mais vizinhos dêle são os Antro­
póides, macacos sem rabo, cuja família compreende o Go­
rila, o Orangotango, o Chimpanzé e o Gibão, êste considera­
do família à parte: os Hylobatídeos. Conhecem-se, ainda,
cêrca de 20 antropóides fósseis.
Marcellin Boule demonstrou que, a partir dos estágios
mais primitivos, lemurianos e platirrinos, a evolução do
grupo que findou no Homem não prosseguiu nem na Amé­
rica do Norte, onde os primatas desapareceram no Oligoce-
no, nem na do Sul, onde só existiram platirrinos. Quer
dizer, nunca houve antropóides na América, sem os quais
não se pode chegar à linha hominídea. Esta afirmativa só
pareceu abalar-se com a notícia da descoberta de um ma­
caco misterioso, em 1917, pelo geólogo François Loys que,
nos sertões da Venezuela, o havia abatido e o fotografara,
embora se perdesse o esqueleto. Esta fotografia foi publi­
cada e alvoroçou a ciência por algum tempo, mas depois che­
gou-se à conclusão de tratar-se de uma mistificação, como
tantas no campo científico. Heuvelmans demonstrou a gran­
de fraude com provas exuberantes. As provas antropológi­
cas contra uma origem americana do Homem acumulam-se
tanto do lado da Paleontologia quanto da Etnologia. Tudo
quanto se achou até hoje na América, são restos humanos
do Mesolítico e Neolítico, no máximo dos últimos momentos
do Paleolítico superior. Nenhum fóssil encontrado até ago­
ra vai a vinte mil anos. Atribuem-se 23 mil anos aos restos
de Tule Springs, no Nevada, mas isso não está bem confir-
72 JÜLIO M IN H AN

m ado ainda. O C arbono 14 tem desfeito m uito sonho e


fantasia de cientistas latino-americanos e norte-americanos,
am bos criadores de grandes e freqüentes exageros. V eja­
m os as principais datas, com referência à América do Norte,
as corrigidas definitivamente pelo C arbono 14:

Local dos Achados Idade em Anos Material Examinado

Fort Rock Cave, Oregon 9.053 (350 para mais ou


para menos) Ossos queimados
Clovis, New México 9.883 (350 para mais ou
para menos) Carv&o
Barbeau Creek Rock Sheelter 10.651 (650 para mais ou
para «nenos) Carv&o
Medicine Creek, Nebraska 10.493 (1.500 para mais ou
para menos) Carv&o
Lime Creek, Nebraska 9.524 (450 para mais ou
para menos) Carv&o
Falron, New México 7.000 ( — ) Madeira ie carv&o
Tlatilco, México 6.390 (300 para mais ou
para menos) Esqueleto e carv&o
La Perla, Tamaulipas 4.445 (280 para mais ou
para menos) Crânio e carv&o
Tepexpan, México 4.118 (300 para mais ou
para menos) Crânio

Para êste últim o crânio, de Tepexpan, o otim ism o lati-


no-am ericano dava uma idade entre 12 e 15 m il anos.

As datas mais recuadas da Am érica do Sul são:

Local dos Achados Idade em Anos Material Examinado

Grutas de Pallialke 8.639 (450 para mais ou


para menos) Ossos de animais e
humanos queima­
dos
Homem de Maratuá, S&o
Paulo (Santos) 7.327 (1.300 para mais ou
para menos) Carvão e ossos hu­
manos
ldem, ldem, ldem 7.803 (1.300 para mais ou
para menos) Carv&o e ossos hu­
manos
Tale de Chicama, Peru 4.380 (270 para mais ou
para menos) Madeira usada pelo
Homem
CO N VITE A CIÊN CIA 73

Há ainda a acrescentar os achados de Emperaire, na


Patagônia, que deram entre 5 e 6 m il anos. De acôrdo, pois,
com os conhecim entos atuais, o H om em apareceu na Amé­
rica em avançado Quaternário, o que confirm a a afirm ação
de Boule, que é de 1921.
Mas encontram-se, co m freqüência, na América d o Sul,
instrumentos tipo Paleolítico, isto é, pedra lascada. Mas a
pedra polida não entrou fazendo desaparecer a lascada, foi
um processo de infiltração, apareceu lenta e insensivelmente.
Além disso não está afastada a hipótese de m igrações do
fim d o Paleolítico.

Canais Frau, com otim ism o patriótico sul-americano, diz


que o H om em poderia aqui ter chegado até no Paleolítico
inferior. Mas, e a barreira das glaciações? E onde d o­
cum entos capazes de prová-lo? Diz Frau que o resto hu­
mano mais antigo da Am érica é o de Confins, Minas Gerais,
ao qual dá 40 m il anos! Com que base o afirma, quando
o H om em de Lagoa Santa não conta mais de 3 mil anos?
Mas o p róp rio pré-historiador argentino, mais adiante, em
sua obra, acha que o H om em teria chegado à América há
cêrca de 28 m il a n o s !. . . Aliás, o m esm o pré-historiador
declara ainda que há na Am érica vários milhares de diale­
tos, distribuídos em cêrca de 120 fam üias lingüísticas! Ora,
a obra “ Les Langues du M onde” de A. Meillet e M. Cohen,
de 1952, dem onstra a existência de m enos de cem línguas
na América do S u l. . .

O N eolítico am ericano — fo i tardio e é fácil de verifi­


car quando sabem os que os colonizadores europeus, no
século X V I, aqui encontraram apenas culturas neolíticas.
Outros fatos paleontológicos dem onstram a m esma coisa,
com o o M astodonte e o Mamute que, sendo do Terciário
na Europa, na Am érica viveram até à aurora d os tem pos
m odernos.
PESQUISAS ATRASADAS

Na América, inúmeras coisas têm de ser ainda esclare­


cidas, pois as pesquisas estão muito atrasadas entre nós.
As fontes pré-históricas conhecidas, mais importantes na
América do Sul, são os sambaquis, mas êstes, salvo pesqui­
sas recentes e incompletas, foram estudados metodicamente
só duas ou três vêzes e as mais antigas são as de Max Uhle,
no Chile. No Brasil estão sendo êles inteiramente destruí­
dos pela exploração comercial, animada pela indiferença dos
governos. Os primeiros cronistas dos séculos X V a X V III
já falavam nos sambaquis, atribuindo-os ao índio. Anchie-
ta, Fem ão Cardim, Gabriel Soares, Madre de Deus, falam
nos numerosos sambaquis ao lado de Santos, de Itanhaem.
Tôda a baixada de Santos, o Engaguaçu, estava eriçado de
sambaquis que não mais existem, desaparecidos na voragem
vandálica do com ércio. Mas êste é assunto importante que
exige mais tempo.
Estamos, pois, a ver que as pesquisas estão atrasadas,
e as feitas nos continentes americanos provaram nunca ha­
ver existido antropóides nestas plagas e que até os defen­
sores do surgimento da humanidade na América ou mesmo
da sua antiguidade, com o continentes habitados, caem em
grandes contradições e nada podem afirmar com base cien­
tífica.
Outros dos problemas que a Antropologia nos tem de
aclarar é o fato de terem existido negros na Europa muito
antes de terem sido localizados na África.
Em tôda essa questão, há um malabarismo que ainda
não terminou, simplesmente por não poder terminar sem
que alguns antropólogos tenham de rever a ciência nova­
mente. A verdade é o fato de os tipos humanos fósseis,
até agora conhecidos, não satisfazerem a Antropologia com
relação à linhagem do Hom o sapiens.
CONVITE A CIÊNCIA 75

Só agora, começa a admitir-se a possibilidade de ser o


Neandertal, talvez, um seu possível ascendente, tido até re-
rontemente com o um simples colateral.
Pelo menos três formas de fósseis permitem discutir
n possibilidade de uma linha paralela a Neandertal e seria
assa linha do Homo diluvialis. Uma delas é Homem de
Swanscombe, descoberto em 1935, às margens do Tâmisa,
num depósito do Chelense médio, que apresenta afinidades
com Neandertal, mas maiores ainda com o homem moderno.
Outra forma é o chamado Homem de Eringsdorf ou de Wei-
mar, representada por duas mandíbulas incompletas, uma
com todos os molares, dentes isolados, alguns ossos de uma
criança de 12 anos e ainda um crânio incompleto. As man­
díbulas são prognatas, mas mostram um queixo bem esbo­
çado, o barrete superciliar atenuado, fronte pouco fugidia,
abóbada craniana mais elevada, e apófise mastóidea bem
desenvolvida, um paleoantropiano a anunciar um tipo hu-

Figuração de homens primitivos

m ano moderno. A outra forma fóssil que sugere o pré-sa-


piens é o Homem de Fontchevade, do Taiacense, subperíodo
situado entre as glaciações de Riss e Wurn, representado
por uma calota com quase todo o parietal esquerdo, me­
tade superior do direito, parte superior do frontal, frag­
mentos do parietal e do occiput. Acusa caracteres primiti­
vos e, ao mesmo tempo, do homem atual, sem viseira super-
ciliar, conform e conclusão de Vallois. A estas formas pode-
-se juntar o neandertalóide, da Palestina, já com queixo bem
acentuado.
76 JÜLIO MINHAN

Tais achados demonstram a existência, no Paleolítico


inferior, de um tipo humano de crânio espêsso, pentagonal,
abóbada baixa, parietal semelhante ao Homo sapiens, mas
de relêvo atenuado, articulação têmporo-parietal primitiva,
vasta capacidade craniana e ausência da viseira superciliar.
É ainda deficiente êsse material para uma conclusão
definitiva, mas se tudo indica que o Homo sapiens tem de
ter um ascendente no Paleolítico inferior, não está provado
que êsse descendente não seja um sub-ramo Neandertal, que
teve, aliás, um representante contemporâneo ao mesmo Ho­
mo sapiens. Há mesmo quem sustente ter sido êste quem
tenha extinguido Neandertal e de uma maneira muito hu­
mana: comendo-o.
De qualquer forma, Swanscombe, Fontchevade, Erings-
dorf e Palestina assumem enorme importância, pois talvez
possam encher o espaço vazio entre Chelense, Acheulense,
Paleolítico inferior, e o Mustierense, Paleolítico médio, ex­
plicando as indústrias Clactonense, Lavalloisense e Mico-
quense dêsse intervalo, que se distinguem, com nitidez, pe­
las diferenças entre si, às quais faltam ainda fósseis huma­
nos para justificá-las, e devem ser um pouco diferentes do
Neandertal clássico.
Temos de avançar um pouco mais no tempo, a fim de
chegarmos ao momento em que as últimas camadas de limo
amarelo, surgidas depois do limo vermelho, acabam de ser
depositadas na China. Os gelos de Wurm começam a reti­
rar-se, dando um clima suave, sem as rudezas sofridas por
Neandertal. Êste, pode-se dizer que já não existe. Tudo
mudou. Os homens que se agitam na Europa, Ásia e Áfri­
ca, são diferentes, anatômica, psíquica e socialmente. Es­
tamos no Aurignacense, o primeiro período do Paleolítico
superior. Aparece repentinamente o Homem do Aurigna­
cense, representado já por três linhas diferenciadas: uma
espécie, mas raças diferentes. Aliás, o último momento,
talvez, em que se possa falar em raças nitidamente defini­
das. Daí para diante, a mestiçagem ia destruir as diferen­
ças, que, posteriormente, só poderiam ser admitidas por um
artifício anti-científico tolo para justificar interêsses políti­
cos-e crueldades sociais.
O primeiro que se revelou naquele clima diferente foi
Cro-Magnon, descoberto num abrigo, sob rocha, na Dordo-
nha, onde se acharam cinco esqueletos fragmentados den­
tre êles uma mulher e um feto. A sua capacidade craniana
CONVITE A CIÊNCIA 77

é enorme (1.590cm3), talhe grande (l,83cm ), crânio longo,


arcos superciliares marcados, mas sem a viseira, abóbada
craniana alta e achatada, occipital estendido, face larga e
baixa, o que denuncia uma cabeça desarmônica. Cro-Mag­
non é prognata, mas apresenta um queixo proeminente.
Mãos e pés grandes. Êstes caracteres foram confirmados
por outros achados em sítio afastado, em Grimaldi, já na
fronteira da França com a Itália.
Montandon, em face da sua estatura, aventou a hipóte­
se de se tratar de sepulturas de chefes escolhidos entre os
tipos mais desenvolvidos, com o acontece com os Bahima
e os Bantusi da África. Mas em Combe-Capelle ao sul da
Dordonha, Cro-Magnon foi exumado depois com algumas
diferenciações, arcos superciliares mais acentuados, nariz
mais achatado, prognatismo maxilar, queixo menos proemi­
nente e estatura menos elevada, talvez um produto de mes­
tiçagem já em pleno avanço, com o se vê nos dois esqueletos
— homem e mulher — exumados depois, no vale do Reno,
perto do Bonn, cujo crânio é próxim o do dos esquimós
atuais: órbitas baixas, pouco prognatismo e queixo de Cro-
-Magnon, costelas e outros elementos, inclusive o tronco em
forma de barril, neandertalóides.

DOIS NEGROS

Nas mesmas grutas de Grimaldi, na fronteira da Fran­


ça com a Itália, mas em camada inferior, descobriram-se
dois esqueletos, de uma mulher e de um adolescente, enter­
rados juntos, encolhidos. Não eram mais Cro-Magnon. A
estatura era muito menor (l,60cm ) e possuía numerosos ca­
racteres negróides. Quer dizer, êstes dois negros teriam
vivido na Europa no início do Aurignacense, com êço da ida­
de da Rena.
Nenhuma diferença específica profunda há entre Gri­
maldi e Cro-Magnon, mas a raça é evidentemente outra.
Nesse instante longínquo, pois do início do Paleolítico supe­
rior, vivia na Europa um tipo negro, antes que tais tipos
possivelmente existissem na África. Isso dá uma nota sen­
sacional e inesperada à Antropologia. É muito oportuna
também — pois serve para quebrar o orgulho fátuo de cer­
tos representantes da linha branca, inclinados ainda, mal­
grado tôdas as evidências científicas, a acreditar numa cer­
ta pureza étnica nos dias de hoje, e ainda que a Eurásia
78 JÜLIO MINHAN

poderia gozar impunemente do privilégio de continente isen­


to do contacto com o negro ou com o amarelo.
Já apresentamos o Sr. Marcellin Boulex e dêle pode­
m os dizer que liga Grimaldi a outros povos africanos, como'
os boximanes e os hotentotes, mostrando os caracteres co­
muns, o mesmo prognatismo, a mesma platirrínia, os mes­
m os desenvolvimentos da face, mandíbula, macrodontismo.
E registrou a separação enorme de território entre êles, mas
lembrou as estatuetas esteatopígias da Europa do Neolítico
e a esteatopígia dos mesmos povos africanos.
Mas em 1917, um novo achado veio diminuir o espaço
de separação. Wladimir Besnard, o fundador do Instituto
Oceanográfico de São Paulo, achando-se em missão de es­
tudos no Saara, seguindo vagas informações de guias negros,
descobriu restos humános no sítio de Asselar. Não eram
nada mais nada menos do que um fóssil Grimaldi, em plena
África do Norte, a meia distância das cavernas de Grimaldi
e da África do Sul dos hotentotes...
Entretanto, Cro-Magnon e Grimaldi não eram as úni­
cas linhas raciais já existentes no Paleolítico superior da
Europa. Outra, tão importante quanto as primeiras aí exis­
tia.
Tudo até aqui dito e estudado prova-nos existir antro­
pólogos pouco escrupulosos e que as fraudes têm sido o ar­
gumento salvador para muitos partidários da evolução não
darwiniana, e, afirmamos isso, porque Darwin nunca afir­
mou ser o homem descendente do macaco.
Um velho esqueleto, muito próxim o da família dos ho­
minídeos — o hom o neanderthalensis — pode vir a alterar
todos os cálculos que os antropólogos tinham do verdadeiro
ancestral humano.
O homem de neandertal nunca foi considerado nosso
avô, por isso os antropologistas têm reconhecido sempre
nêle, por suas características, um símio baixo, atacarrado,
crânio achatado, (sem tecto curvilínio, com o o do homem
atual), dentadura mais apropriada para uma dieta vegetal
e uma ossatura antropoidal.
Modernmente, um antropólogo do “ Smithsoniam Insti-
tution” afirma que existiu uma lacuna de 15.000 anos entre
o desaparecimento do homem de Neandertal e o apareci­
mento do “ H om o Sapiens” .
Baseando-se nas evidências encontradas na “ Caverna da
caveira”, em Israel, o Dr. I. Dale Stewart acredita que duas
CONVITE A CIÊNCIA 79

classes (tipos) de neanderthalensis viveram simultaneamen­


te. Uma seria o tipo priinitivo, encontrado na Caverna de
Shanidar, Iraque, na de Tabun em Israel e na Europa, que
segundo êle, desapareceu ao mesmo tempo em que regre­
diu, tornando-se mais primitivo. O outro tipo é o achado
na mencionada Caverna do Crânio, que seria um tipo mais
moderno, tendo vivido 45.000 a 60.000 anos atrás.
De ser verdade esta afirmação antropológica abre a
porta para duas objeções a tôda teoria evolucionista, pois,
se o primeiro tipo regrediu, tornou-se mais primitivo, a evo­
lução andou às avessas, e o lapso (hiato) de 15.000 anos
entre o neanderthalensis e o H om o Sapiens nos deixa em
perplexidade. Se houve uma descontinuidade de 15.000
anos, essa falha cronológica sugere que outro antropóide
deve ter entrado na escala zoológica, ou que o homem apa­
receu por arte de magia. Isto levar-nos-ia a criação espe­
cífica!
Segundo o Dr. Steward, dêstes dois tipos, o mais primi­
tivo possuía características do neanderthalensis, porém, que
suas exageradas formas representavam os refluxos do de­
senvolvimento, que não se aperfeiçoaram, enquanto que a
corrente geral evolucionista progredia em direção ao homem
moderno.
Não se sabe que um neanderthalensis tenha existido
antes de 45.000 anos atrás, e quando modelados (sempre à
vontade do antropólogo interessado) apareciam mais primi­
tivos do que realmente o foram. Mesmo assim, alguns an­
tropólogos afirmam que a arte da costura e uma rudimen­
tar cirurgia foram inventadas por êles. Esta afirmação
fundamenta-se no fato de que se teriam encontrado “ cadá­
veres” com os braços amputados. A afirmação é totalmen­
te gratuita, uma vez que nunca foram encontrados CADÁ­
VERES. É com esqueletos que temos lidado, e êstes po­
diam despreender fàcilmente os ossos uns dos outros, e
até partirem-se pelo pêso das camadas que os sepultava,
ou mesmo deslocar-se uma rem oção da terra que os cobria.
Outra prova que se opõe à evolução reside no fato de
que êsses fósseis foram encontrados tendo nos seus túmu­
los ornamentos, símbolos e outros sinais de respeito, que
nos fazem supor uma religião. Não podem os acreditar que
os antigos antropóides se retinissem para orar ao Criador.
Se os fósseis achados, nos provam que tinham reverência
por um Ser Supremo, provam também que não eram ma­
cacos.
O MITO DA RAÇA PURA

Quando e como surgiu o primeiro homem-macaco?


Quando o símio, nosso ancestral se metamorfoseou em ho­
mem moderno? São perguntas que nenhum antropologis-
ta aclarou e todo êsse amontoado de crânios, fêmures, den­
tes, mandíbulas e_ esqueletos complicam muito essas res­
postas.
Os antropologistas costumam apregoar que algum pe­
queno grupo de símios, em um dado tempo e lugar iniciou a
evolução, tendo modificado o cérebro, e essa crucial trans­
formação habilitou-os para enfrentar tôdas as possibilida­
des da civilização. Admitindo isso, teríamos de perguntar:
por quê só um pequeno grupo atingiu êsse privilégio? Por
quê não evoluíram todos os símios? Simplesmente por que
o mecanismo, pelo qual a natureza produz novos tipos, acla­
ra-nos que a evolução não se processa assim. Logo seria
inútil procurarmos um antepassado comum para todos os
donos do amontoado de esqueletos aqui apresentados.
Autoridades em antropologia, hoje, consideram todos os
pretensos ancestrais simiescos, como tendo pertencido a
uma única espécie (tipo). Os antropóides de Java, Pequim,
Africa e Europa foram todos variedades do mesmo tipo —
HOMO ERECTUS. Sendo isso verdade, não poderíamos
duvidar de que êsse homo-erectus evoluísse até o HOMO-
-SAPIENS, ou homem moderno.
Esta transformação não teria dado origem a um peque­
no grupo de homo-sapiens que ficou isolado numa localidade
distante e inacessível, mas, foi uma transformação ampla
que simultaneamente teve lugar em quase todo o mundo an­
tigo. Raças locais, que temporàriamente tinham estado iso­
ladas dos outros antropóides, evoluíram ràpidamente em
novos tipos. Abandonaram seu isolamento e misturaram
os genes com outros povos, até que êsse mesmo grupo, cres­
cendo, formou um novo tipo.
CONVITE A CIÊNCIA 81

É claro que as coisas não foram bem assim. A Antro­


pologia, mesmo a evolucionista, não é uma representação
mágica que quando o desejar pode tirar um Homo-sapiens
do cartola do darwinista, como se fôsse o pombo ou coelho
que tira o mágico da sua. Para criar um novo tipo, é mis-
ter certo tempo. Ainda nos nossos dias, tipos (não raças)
estão surgindo e desaparecendo a nossos olhos. Uma clas­
sificação mais recente divide a espécie humana em 300 tipos
diferentes, quatro dêsses tipos têm menos de 500 anos de
fixados.
Ésses quatro tipos são: os “ colored” americanos, que
não são negros nem brancos, mas uma amálgama de vários
tipos europeus, com índios americanos e negros do leste
ufricanos; os “ladinos”, que surgiram na América Latina
pelo cruzamento de espanhóis com índios; os mulatos da
Africa do Sul cujos ancestrais foram europeus e africanos,
o os novos havaianos, que são uma mistura de polinésios,
chineses, japonêses, caucasianos e outros.
Por outro lado, estamos a presenciar a rápida extinção
de outros quatro tipos: — os ainu das ilhas do nordeste ja­
ponês; os servícolas (bushmem) da Africa Central; os abo-
rínenes australianos e, finalmente, os negritos do sudeste da
Asia. Êsses quatro tipos estão a extinguir-se por falta de
adaptação, ou sendo absorvidos por outros tipos, que lhes
invadiram o território. Não há, pois, nos nossos dias, e,
nunca tem havido uma RAÇA PURA.

O PROCESSO EVOLUTIVO

Analisemos mais de perto o processo que se nos apre­


senta da evolução do macaco até o homem moderno. A teo­
ria da seleção natural explica como uma variação da es­
pécie pode fixar-se em um novo tipo. As dificuldades à
adaptação eliminam os indivíduos menos aptos às condições
externas, enquanto os melhores adaptados produzem um rá­
pido desenvolvimento do tipo comum como um todo. Com
êsse conhecimento, podemos aclarar muitos fenômenos da
adaptação e extensão dos tipos diversos.
Mas isto que fica dito, não pode ser tudo, como evolu­
ção, de maneira nenhuma. Se a seleção natural fôsse o úni­
co fator que conta, a vida teria desaparecido da terra há
82 JÚLIO MINHAN

muitos anos atrás. Cada tipo teria atingido um ponto em


que todos os indivíduos seriam muito parecidos, bem ajus­
tados para enfrentarem certas condições, porém incapazes
de sobreviver quando as condições climatéricas mudassem
ou um novo inimigo aparecesse!

ELIMINAÇÃO DOS INADAPTADOS

O fato é que hoje, depois de séculos (milênios' dirão os


evolucionistas), de rude e implacável eliminação dos inadap-
tados, ainda constatamos uma certa variabilidade em cada
tipo e a totalidade das diversas variedades de animais e plan­
tas é hoje maior do que no passado. É esta variedade que
permite a um determinado tipo (ou família) sobreviver e
evoluir sempre mais, uma vez que os indivíduos podem adap-
tar-se às bruscas mudanças de clima, ambiente, alimentação
e costumes. A seleção natural sd permite a evolução atuan­
do em tipos já existentes. Mas qual é a fonte ou impulso
dessas variações?
Para entendermos a variabilidade, mister se faz conhe­
cer a diferença das características entre hereditariedade e
rião-hereditariedade de cada indivíduo. Somente as carac­
terísticas que foram herdadas de seus pais podem ser trans­
mitidas e perpetuadas nos descendentes.
O desenvolvimento de todo o organismo é quase que in­
teiramente controlado por minúsculas partículas chamadas
GENES, que se encontram presentes no núcleo de cada cé­
lula do corpo. Êstes genes determinam as características
físicas: sexo, altura, côr do cabelo e dos olhos e não raras
vêzes até o timbre da própria voz. Tudo é transmitido à
prole, que assim fica habilitada a passar à nova geração
essas características.
Quanto ao que genèticamente saibamos, não há meio
ambiente que tenha fôrça para modificar um caráter especí­
fico do gene. Desta forma, mutações súbitas no crescimen­
to e desenvolvimento do indivíduo não são possíveis, e mui­
to menos transmissíveis aos descendentes. Por isso pode­
mos afirmar que hoje a evolução é tida como um longo e va­
garoso processo de mudanças que, partindo dos genes, ter­
mina mudando, por seleção, um tipo em uma família.
COMO SURGEM AS DIFERENÇAS

A seleção atua na variação dentro da família (raça),,


sempre com tendência a reduzi-la por uma harmonização
mais homogênea possível. Mesmo assim, as variações con­
tinuam a surgir. Aqui ou ali novas diferenças surgem entre
os vários componentes do tipo. Estas variedades, que sig­
nificam vida ou morte para a espécie e tipo, surgem ou de­
saparecem constantemente, por dois processos. Um é cha­
mado de combinação! Cada indivíduo herda de seus pais
igual número de cromossômios e genes. Esta combinação
não só é diferente nos diversos tipos, mas também o é entre
os indivíduos do mesmo grupo típico. O número de genes
é tão enorme que uma combinação exata entre dois indiví­
duos do mesmo grupo provàvelmente jamais é repetido na
história da espécie. É pois, a combinação, por reprodução
sexual, que mantém a variabilidade entre indivíduos do mes­
mo tipo. Outro processo é a mutação. Ocasionalmente —
e por causas de fôrça maior, sempre desconhecidas e ines­
peradas a radiação atômica, operações cirúrgicas, irritabili­
dade ou alteração dos genes, hibridismo por cruzamento —
produzem alterações rápidas, que dão ao indivíduo caracte­
rísticas diferentes. Daqui compreendermos que a mutação
e combinação sejam as responsáveis da variação de um tipo
em outro, ou de uma raça em outra, mas a seleção reduz
constantemente estas variações, o que resulta em uma evo­
lução para uma maior adaptação, porém sem a perda com­
pleta da diversidade.
Nos nossos dias já se cogita sôbre o fato de que o au­
mento da população deve ser introduzido em tôda e qual­
quer teoria evolucionista. É claro que um maior número
de indivíduos, dentro de um tipo, aumenta proporcional­
mente o número de cruzamentos que pode haver entre os
componentes. Êste é um fator vital que determinará como
a evolução do tipo racial deve processar-se.
84 JÚLIO MINHAN

Tomemos por exemplo uma população de pássaros, que


não exceda de poucas centenas. Imaginemos que êste gru­
po habita uma ilha distante de outras e que, por isso, não
pode haver cruzamento com outros tipos. Neste caso a
mutação pode surgir quase que num abrir e fechar de olhos,
pois, o gene da mutação pode ser cruzado rapidamente, au­
mentando em eficiência de geração em geração até que todo
o grupo tenha as mesmas características. Embora reconhe­
çamos que as mutações não são sempre raras, neste caso
pode haver uma rápida evolução que varie e vitalize tôda a
espécie. Isto resulta numa grande adaptação e uniformida­
de que, por sua vez, significa extinção, quando uma brusca
mudança tem lugar.
O dodo era um pombo que habitava a ilha Maurício.
Como na ilha não havia quem os perturbasse, não tinham
necessidade de voar para sobreviver, desta forma, o dodo
cresceu, aumentou de tamanho e gradualmente foi perdendo
as asas e, com elas, a facilidade de voar. Quando essa ilha
foi visitada por marujos, que necessitavam provisões, nota­
ram logo que o dodo não podia voar e que êles se entrega­
vam à morte sem muita luta. Sua extinção foi rápida e to­
tal!
Uma grande população de vários milhões de indivíduos
em área diminuta, também pode vir a extinguir-se, embora
por diferentes razões. Quando há muitos indivíduos, podem
ter lugar muitas mutações que permitirão a variabilidade a
despeito da seleção.
Repetimos que é difícil que uma mutação venha a fi­
xar-se repentinamente. Se uma mudança evolutiva deve
ocorrer, uma mutação favorável tem de ser espalhada entre
uma população enorme, e nova mudança não terá lugar até
que a anterior não esteja bem estabelecida. Sendo assim,
podemos ver que uma grande população, embora variada e
variável, tenderá a evoluir vagarosamente e se tiver de en­
frentar em câmbio súbito nos seus contornos, êste poderá
levá-la a extinção.

OUTRO POMBO

O chamado pombo itinerante é outro exemplo. Era


próprio das florestas dos Estados centrais norte-americanos,
onde aninhavam aos milhões e emigravam em bandos que
escureciam o sol enquanto passavam. Quando os pioneiros
CONVITE A CIÊNCIA 85

foram instalando-se, derrubando as matas e queimando-as,


para fazer clareiras onde pudessem morar, destruíram-lhes
seu lugar de acasalamento. Como não puderam evoluir tão
ríipidamente como os pioneiros derrubavam, e não soube­
ram procurar outro habitat, o pombo itinerante está hoje
tão extinto quanto o dodo; não há nem um exemplar vivo.
Para evoluir e sobreviver em um mundo mutável como
o nosso, a espécie (tipo), necessita da plasticidade de uma
pequena população, e da variabilidade de uma grande. Es­
ta combinação só tem lugar quando uma grande população
de um mesmo tipo se divide em pequenos grupos de cruza­
mento.
Vemos êsses tipos (300) no nosso mundo. Estão dividi­
dos, separados, embora não isolados de tudo. Cada um
dêles exibe os traços da característica principal do tipo, sem
que isso signifique que tenha de perder suas próprias fei­
ções individuais. Nestes tipos pode dar-se uma mutação se
ela fôr útil ou exigida em certo habitat, mas nunca surgirá
onde não for necessária.
Não é difícil que uma mutação se espalhe com mais
ou menos rapidez entre uma população pequena. A rapi­
dez será sempre proporcional à população. Quanto menor
ela seja tanto maior será a rapidez com que espalhe e fixe.
Sempre que se registre um pequeno acasalamento (cru­
zamento restrito), entre os mesmos indivíduos da mesma po­
pulação, a mutação não é barrada por genes importados,
mas também êle não se espalha por tôda a raça com um
todo, quando muito, geograficamente, interferirá com as
outras populações fronteiriças.
Tomamos a perguntar: Quando foi que o primeiro sí­
mio se transformou em homem? Segundo a idéia que esta­
mos provando falsa, talvez um milhão de anos atrás, quan­
do o Australapithecus lançou a ponte sôbre a lacuna que ha­
via entre o símio e o homem. Mas, se assim foi, temos
logo uma contradição, pois, os restos do australopithecus
foram encontrados na África que nenhum paleontólogo acei­
ta como sendo o berço da humanidade. Foi a Ásia que teve
êsse privilégio.
Quanto ao que saibamos, o fóssil mais primitivo com
evidências humanas, (se julgarmos pelo tamanho do cére­
bro), é uma calota craniana do segundo período intergla-
cial que foi achada em Swanscombe, na velha Inglaterra.
86 JÚLIO MINHAN

No tempo em que vivia o dono dêsse crânio, o australo-


pithecus estava já extinto, e os dois tipos pequinense e o de
Java só lhe sobreviveram uns 100 anos mais ou menos.
Tudo quanto fisicamente sabemos do “homem de
Swanscombe” foi deduzido de menos da metade de um
crânio, que se supõe mostre que a capacidade dêsse ante­
passado seja de 1.325 centímetros cúbicos, o que o coloca­
ria muito próximo da capacidade cerebral do homem mo­
derno.
Também encontraram-se alguns sinais da cultura do
homem de Swanscombe. Seus machados eram peças ma-
cissas de pederneira, que se provaram de grande eficiência
quando manejados por forte braço.
Durante o tempo em que viveu o homem de Swanscom­
be, muitos outros tipos de homens viveram espalhados pelo
mundo. Como temos demonstrado, a êstes deu-se-lhes uma
grande variedade de nomes, e nêles pretendem ver muitas
variedades, porém, provàvelmente eram diferentes famílias
de Homo Sapiens.
O tipo melhor estudado entre uma centena de fósseis,
encontrados no Sudoeste da Europa, norte da África e Ásia
Menor, é o homem de Neandertal. A julgar pela sua capa­
cidade craniana, sua capacidade cerebral era mais ou me­
nos a do homem moderno, com uma média de 1.450 centí­
metros cúbicos.
Deve ter tido uma boa dose de inteligência, uma vez
que sobreviveu na Europa durante o período mais frio da
era glacial, caçando, cozinhando e comendo os animais que
matava com seus afiados machados e facões de silex simi-
tricamente feitos.
O fato de que êstes homens enterravam seus mortos e
colocavam nos seus túmulos instrumentos diversos, denota
que tinham idéias próprias da vida no além, o que significa­
ria também que eram religiosos.
No capítulo terceiro descrevemos tôdas as característi­
cas dos neandertalóides, e se temos de admitir êste tipo co­
mo precursor da ESPÉCIE, somos obrigados a atribuir-lhe
traços distintos dos que realmente tinha e que tanto o di­
ferenciam do homem moderno. Repetimos que possuía
crânio atacarrado, protuberância bocal, falta de mento
(queixo) e frente baixa. Estas características aliadas ao
corpo musculoso faz com que apareça um verdadeiro bruto,
que só podia comparar-se ao homem por sua forma externa.
CONVITE A CIÊNCIA 87

Quando comparado com o homem de Swanscombe, o


homem de Neandertal deixa ver à primeira análise que foi
um tipo muito imperfeito, o que leva os antropólogos a es­
tabelecer o fato de que tenham existido diversos ramos de
neandertalóides, embora desconhecidos no período intergla-
cial. Da Rodésia e Java têm-nos chegado fragmentos que
apresentam traços de fronte mais baixa e cérebro bem me­
nor do que o especime de Neandertal. Seus defeitos orbi­
tais eram muito maiores e isto sobressai no espécime da
Rodésia.
Dois crânios encontrados na Alemanha, no mesmo pe­
ríodo post-glacial, indicam que os primitivos neandertalen-
sis tinham o crânio mais curto, porém mais alto.
O tipo de Fontechade, da mesma época do neanderta-
lensis, interessa-nos porque é, sob todos os aspectos, o mais
moderno crânio do último período pré-glacial. Denotava
que tinha fronte mais lisa e sem curvatura na coluna verte­
bral.
Se suas mandíbulas fôssem encontradas (coisa que não
sucedeu), pelo que os antropólogos desenham, nos prova­
riam ser de um tipo de um homem realmente moderno, e,
sendo assim, chegaríamos à conclusão muito lógica e ina­
tacável de que o homem sempre foi homem!

OS TIPOS DA ERA GLACIAL

A verdade, que sobressai nesse amontoado de conjetu-


ras, é que PARECE que os tipos que viveram nos anos mais
quentes entre um período glacial e outro, desapareceram
com o retômo do período frio, quando o clima transforma­
va a Europa inteira numa tundra ártica. O único tipo que
venceu tôdas as vicissitudes climáticas foi o neandertalensis,
que, como afirmamos, refugiou-se em cavernas, e aqueceu-
-se com o uso do fogo.
Deixamos dito que destas épocas, na Europa, foram
encontrados restos de um tipo de hominídeos de Cro-Mag-
non, com dois metros de altura, completamente erecto.
Sem crânio abobabado. Seus dentes eram diferentes dos
dos tipos anteriores e até dos contemporâneos. As mandí­
bulas não tinham prognatismo, e possuía mento bem defi­
nido.
88 JÚLIO MINHAN

Sabemos também que tinha uma vida religiosa bem or­


ganizada, já que não podem os dizer BEM ORIENTADA, uma
vez que nisso, o homem moderno, apesar de tôda a sua ciên­
cia e perfeição anatômica, ainda tem muito que aprender
e avançar. Suas pinturas — cavalos, bisões, mamutes, re­
nas, antílopes — são realmente uma espécie de oração má­
gica com a qual pretendia ter êxito na caçada. Era a su­
perstição aliada à magia para vencerem a fome.
O mais curioso é que os antropólogos sempre afirmaram
que os hominídeos de Cro-Magnon e Neandertal tinham vi­
vido separados, até que ambos os tipos foram encontrados
juntos misturados numa caverna de Monte Carmelo, na Pa­
lestina, o que prova que ambos os tipos eram contemporâ­
neos, viveram juntos nos mesmos lugares, e cruzaram-se en­
tre si.

ARVORE GENEALÓGICA

Nestes últimos 50 anos, os antropólogos têm estado a


estudar as relações que existiram entre os tipos dos hominí-
dios antigos e o homem moderno, porém, para que êsse es­
tudo seja eficiente, é mister ter profundos conhecimentos
científicos — anatomia, geologia, química, glaciologia, ar­
queologia — e além disso, mister se faz também que o an­
tropólogo seja imparcial. Só assim chegaremos a conclu­
sões lógicas e exatas. Como até agora tem sido feito êsse
estudo só incertezas e contradições têm surgido, pois, qua­
se sempre é a idéia preconcebida do antropólogo que, par­
tindo do que julga uma espécie, separa todos os tipos em
raças diferentes, quando tôda a etnografia nos prova duas
coisas:
1.a) Nunca houve pluralidade de raças, houve e conti­
nua a haver tipos diversos.
2.a) Se em eras que já lá vão existiu a raça pura, hoje
(e pelo que sabemos) há muitos anos, está muito misturada.
É algo de miraculoso saber que vivem no mundo atual
uns dois biliões de indivíduos, que nos apresentam 300 tipos
diferentes. Se estudarmos imparcialmente sua estrutura
física, (tanto as partes macias, bem com o os ossos do cor­
p o), sua distribuição pelo mundo, suas artes, costumes, lín­
guas, religião, literatura e folclore, notaremos que entre
êsses tipos há traços que nos conduzem a uma civilização e
tronco humano comum.
CIVILIZAÇÃO MEGALÍTICA

Por mais longe que se possa remontar, com segurança,


nos séculos, verifica-se que o homem sempre se interrogou
sôbre seu destino. O caçador que traçava sôbre as pare­
des de um templo-gruta a representação de um javali que
queria caçar, tinha, modesto mágico que era, no sentido
próprio do têrmo, uma concepção metafísica de suas rela­
ções com o mundo: pensava existirem fôrças invisíveis, que
êle sabia se conciliavam.
Mas, muito mais espantosa foi a aventura do Ocidente
europeu há 5 ou 6 mil anos. O neolítico estava terminan­
do então, essa idade da pedra polida, que tantos progressos
trouxe para a humanidade. Enquanto nas margens do Nilo
e do Eufrates já existiam form as de civilização, esplêndidas,
cujos monumentos até hoje provocam nossa admiração, nos
Báucans, na Bélgica e na Inglaterra, moviam-se grupos hu­
manos em atividades ainda rudimentares, com seus reba­
nhos de carneiros, de cabras e de porcos, seus campos sem
cessar deslocados. Ainda não conheciam o bronze. Nas
águas, êsses homens vagavam em modestas canoas. Tal
era a situação no Ocidente por volta de 3.300 antes de Cristo.
Foi então que, vindo substituir os neolíticos, um grupo
novo dá um impulso diferente a êsse impulso sem cessar
retomado, e que faz a humanidade progredir. Produziu-se,
então, um novo fenômeno histórico, tão considerável com o
o que ocorreu no século X V I em que marinheiros, conquis­
tadores e missionários partiram da Europa à conquista do
Novo Mundo. Mas, com o na época não foi acompanhado
do uso da escritura, quase que não se fala dêle. E, iio en­
tanto, êle nos deixou duas testemunhas decisivas de sua im­
portância: o uso do cobre, depois do bronze e êsses milha­
res de monumentos que se podem comparar aos tempos dos
grandes impérios, os “ megalitos” dólmans, caminhos cober­
tos, menhirs.
90 JÚLIO MINHAN

Tôda uma zona da Europa Ocidental está juncada de


pedras prodigiosas, fincadas, superpostas, segundo uma or­
dem que se pressupõe rigorosa. Quem já viu os alinha­
mentos de Camac, na Inglaterra, não poderia esquecer a
impressão quase que inquietante que essa série de roche­
dos verticais nos dá. Há megalitos sobretudo na França,
Inglaterra, Irlanda e Escócia, mas também no sul da Espa­
nha, nas margens do Báltico e do Mar Negro.
É fora de dúvida que todos pertencem à mesma civili­
zação, e que procedem de intenções idênticas.
De onde viriam êsses homens, que ergueram, ao preço
de tão grandes esforços, êsses megalitos? É quase certo
que do Oriente-próximo, de onde partiram para o ocidente
também em direção à Ásia. A ciência pode localizá-los, sem
dúvida, nos últimos séculos do IV milenar — onde estavam
instalados na Espanha do norte, na Galícia, aí tendo funda­
do uma verdadeira civilização. É daí que partiram para a
embocadura do Loire e de Morbihan, e de onde reembar-
caram para Comouaille, Escócia, Irlanda, e muito além, até
às longínquas Orcádias, na Jultlândia e Suécia.
O fato capital, certo, é que êsses homens possuíam o ve­
leiro. Um veleiro, cujas velas eram feitas de peles cosidas.
Eram excelentes veleiros, se julgamos sua capacidade pela
distância em que levaram os homens que dêles se utiliza­
vam.
Durante mil anos — até à chegada dos Proto-celtas e
dos Celtas — os homens dos megalitos foram os verdadei­
ros senhores do Ocidente europeu. Sua civilização evoluiu,
e sua arte, indo do alinhamento em círculo as avenidas co­
bertas, que são verdadeiros palácios funerários, com câma­
ras isoladas.
Sabe-se seguramente hoje em dia que os megalitos cons­
truídos por êsses homens têm um sentido religioso. Ou
mais exatamente, funerário, pois o culto dos mortos era,
para êles, uma das bases da religião.
A expansão dos megalitos não foi maciça, como pode
parecer à primeira vista. Foram verdadeiros “missioná­
rios”, vindos da Galícia ou de Andaluzia, que partiram, ex­
postos aos perigos das ondas, para implantar, à distância,
sua crença e seus costumes.
Foram êles que deram ao povo camponês do Ocidente,
no momento em que se fixavam na terra, inumeráveis costu­
CONVITE A CIÊNCIA 91

mes, dos quais ainda hoje algumas práticas religiosas guar­


dam a lembrança.
As “festas do fogo”, o “fogo novo”, o hábito de fazer o
rebanho passar por sôbre um braseiro. . .
Quem sabe — se pergunta André Varagnac — se o há­
bito de lembrar os mortos entre “pedras fincadas" de nos­
sos cemitérios, não é ela também imemorial?
Estamos aqui diante de tantos e tantos mistérios emo­
cionantes, que se tem vontade de parar para perguntar se
não se trata de um belo sonho. Um fato, no entanto, é cer­
to: os países do Ocidente, onde a fé cristã melhor se enrai­
zou o mais depressa e o mais fortemente, correspondem a
grosso modo, àqueles onde os homens do III milênio im­
plantaram seus monumentos e suas doutrinas.

CENTELHAS DA CIVILIZAÇÃO

Durante centenas de milhares de anos, o homem progre­


diu lenta e duramente. As invenções e conhecimentos téc­
nicos foram surgindo aos poucos, e por essas invenções e
técnicas, muitos dos povos da terra se julgam felizes.
Convém notar que êsse desenvolvimento técnico não
avançou por igual no mundo inteiro. Em muitas regiões do
mundo ainda não iniciou sua penetração, enquanto que em
outras se eleva ao nível do milagre. Certos países estão
sendo grandemente beneficiados, enquanto outros dormem
ainda na simplicidade dos seus costumes primitivos.
Por que isso é assim? Haverá clima favorável ao estí­
mulo das invenções. Por que o conhecimento técnico ma­
nifesta-se tão lentamente nos séculos passados e avança tão
ràpidamente no presente?
Os inventos têm surgido e aumentado desde o homem
das cavernas, que aprendeu a fazer fogo e alimentá-lo. Des­
de essas pristinas eras, o homem tem vivido para melhorar
seus instrumentos e técnicas. Algumas vêzes de uma for­
ma tão repentina, que pode ser chamada de “ invenção” no
mais alto sentido da palavra; porém, o mais das vêzes, as
invenções, ou avanço técnico, foi vagaroso, gradual, que po­
demos chamar de “progresso".
92 JÜLIO MINHAN

Por exemplo, durante a Idade de Pedra, o instrumento


mais espalhado era uma espécie de raspadeira para o pre­
paro das roupas de couro. Durante a metade do período
pleistoceno, uns 500.000 anos atrás (segundo os evolucio-
nistas), as lascas da pederneira tinham pouco mais de cin­
co centímetros, mas, lá pelo fim da Idade de Pedra, entre
10.000 a 15.000 anos atrás, essas lascas retiradas da rocha
atingiam proporções respeitáveis.
Alguns dos inventos primitivos, tais com o o "Boom e-
rang” australiano e o “ gancho-arpão” dos esquimós, revelam
muito engenho. Apresentam-nos gênio inventivo tão acura­
do com o qualquer outro invento que o mundo civilizado pos­
sa mostrar.

O RASTEJAR DO GÊNIO INVENTIVO

As condições sob as quais se desenvolveu o gênio inven­


tivo do primitivísmo universal, fizeram-no rastejar duran­
te séculos. Durante milênios o gênio inventivo progrediu
vagarosamente, com apatia glacial. Os homens se defen­
diam, caçavam e aravam com pedras de sílex seguras nas
próprias mãos. Séculos mais tarde transformaram os sí­
lex em machados e martelos, pondo-lhes seus respectivos ca­
bos. Isso nos prova que durante a primeira parte do pe­
ríodo pré-histórico, a raça humana ainda era muito bronca
para possuir gênio inventivo.
Provavelmente, o homem troglodita com eçou a desen­
volver seu gênio uns cem mil anos atrás. Mesmo assim, a
técnica avançou titubeando. Por que o gênio inventivo fo i
tão vagaroso durante tanto tempo? A razão dessa vagaro-
sidade nas invenções pelas primitivas sociedades, não é di­
fícil de entender, por um lado as primitivas sociedades eram
muito conservadoras, por outro, costumes tribais tinham es­
tabelecido exatamente quando uma coisa podia ou não podia
ser feita, pois reinava entre êles o temor de desgostar os seus
deuses, e quando aparecia um inventor que sobressaísse dos
outros, ou ferisse as leis das tribos, simplesmente era liqui­
dado para evitar desvios perigosos; por outro lado, podem os
chamar a sociedade antiga de gente que vivia da mão para a
bôca. Tôda a sua existência se resumia em comer, e viviam
só para comer. Como não podia guardar os alimentos, ar­
mazená-los devoravam-nos até se empanturrarem, ou termi-
CONVITE A CIÊNCIA 93

iiiVIos para depois jejuarem longamente, até que tivessem


novo banquete. Desta forma, obrigados pela fome, iam com
experiências descobrindo alimentos animais ou vegetais, que
muitas vêzes os levavam à morte.
O mais importante de tudo consistia (para êles) aper­
feiçoar a técnica da caça, uma vez que esta só podia susten­
tar uma certa população dentro de uma área limitada, por
Csse motivo, os poucos milhares de sêres que viviam ante­
riormente a 10.000 anos atrás, dividiam-se em pequenos gru­
pos isolados e espalhados por tôda a terra. Estavam iso­
lados uns dos outros, não somente pela distância, mas, tam­
bém, por pensamentos hostis, que iam, não só a inveja da
abundância, mas também a suspeita e até a inimizade san-
guessedenta de um grupo contra outra, desta forma cada
grupo, de caçadores poucas vêzes excediam de cem, mas, no
grupo, havia muitas crianças que morriam em grande pro­
porção à causa da fome.
O raio de ação dos caçadores era limitado pela distân­
cia, que podiam caminhar para matar a caça e carregá-la
de volta ao acampamento. O crescimento no número do
grupo, é claro que não aumentava a extensão da área, sendo
assim necessário procurar com mais persistência a própria
caça, o que fazia com que ela fôsse exterminada mais rapi­
damente. Podemos compreender, pois, que quando um
grupo se tornava numeroso, e a caça era exterminada, o
grupo tinha que emigrar ou dividir-se. Talvez essa tendên­
cia à divisão, que notamos na sociedade moderna seja um
resquício do mecanismo tribal. Por divisão, queremos di­
zer essa tendência que nos leva a criar facções ou partidos
raciais, políticos, religiosos, culturais e desportivos, que in­
ventamos a qualquer pretexto, e por êles torcemos e até bri­
gamos. Mas a divisão entre as antigas tribos com suas ques­
tões e ódios, nem sempre avançava a ponto de destruir-se a
si mesmos, antes automaticamente se dividiam para forma­
rem clãs, famílias, tribos, grupos que entre si tinha certas
afinidades. Que significa tudo isso no campo da invenção?
Significa muito, uma vez que só uma pequena fração da hu­
manidade tem idéias originais, ou chega a invenções, é cla­
ro que o número teve e terá de influir sôbre o assunto, en­
tre os sêres geniais nem sempre houve a coragem necessária,
teimosa, e energia para levar avante o gênio inventivo com
mêdo de ofender ao governante ou chefe da tribo, mesmo
na Renascença notamos isso, num Dante Alighieri, que não
podendo ridicularizar a igreja de outra maneira, escreveu a
94 JÜLIO MINHAN

Divina Comédia, que realmente é uma sátira à doutrina da


salvação exposta por teólogos pouco católicos e menos cris­
tãos. O mesmo temor notamo-lo em Galileu Galilei, quando
escreveu sua imortal obra dos Dois Sistemas do Mundo,
pois, oprimido por eclesiásticos daquele tempo, fingiu que
se retratava. Que o número influi no gênio inventivo de
uma população, podem os vê-lo ante o estudo feito na pa-
tent Office nos Estados Unidos.
Nessa repartição entram anualmente uns 40.000 pedi­
dos para novas invenções, isto dá a média de uma invenção
para cada 4.500 americanos. Assim podemos ver muito p or
alto que em pleno Sec. X X , numa população de 180 milhões
de habitantes, só aparece o inventor entre 4.500 cidadãos.
Suponhamos (Deus nos guarde disso) que todos os ameri­
canos fôssem varridos do seu território, com exceção de
um grupo de 45 pessoas, nessa proporção êsse grupo conti­
nuaria a produzir invenções à razão de um por século, isto
é, uma exemplificação muito rude, mas a verdade é que em
média a Patent Office recebe por ano 75.000 pedidos de re­
gistro de invenção. Dêste número, 35.000 são rejeitados, ou
porque já sejam duplicatas de pedidos já registrados ou por
várias outras razões, mesmo assim êsses concorrentes, que
foram registrados no mais lato sentido da palavra, podem
ser considerados com o inventores. Isto sem considerarmos
as invenções que jamais são registradas por serem segredos
de Estado: com o invenções militares, de engenharia, farmá
cia ou medicina.
Tudo isso leva-nos à compreensão de que uma socieda­
de tribal, qualquer que fôsse o seu gênio inventivo não pode­
ria produzir invenções tão ràpidamente, uma vez que o seu
pequeno número não permitia o aparecimento de gênios, e
a hostilidade entre as próprias tribos freava a extensão da
técnica de um grupo para outro. Na realidade, o gênio in­
ventivo entre os caçadores da Idade da Pedra foi muito mais
vagaroso do que seria no nosso grupo imaginário de 45 ame­
ricanos.
Mas o povo americano está hoje tão encorajado no ca­
minho da invenção, que muitas vêzes supera até o imprevi­
sível, por estar todo êle imbuído da luminosa idéia de que
terão uma vida mais feliz, se inventarem coisas. Seja ela
qual fôr, sempre que seja uma nova idéia, e, êsse científico
pensamento é o fator que o impele a subir as escadas da
ciência até o incrível. Essas idéias, que quase tôda socieda­
de moderna possui, não podiam entrar nas mentes das so-
CONVITE A CIÊNCIA 95

cledades primitivas, estando com o estavam imbuídos pela


quase única idéia de com er para sobreviver, e sobreviver
s<S pàra comer. Façamos outra suposição, em lugar de um
Krupo de 45 americanos, tomem os dois. Se ambos estive­
rem separados um do outro, cada um terá uma invenção
cada cem anos, desta form a cada grupo progredirá da mes­
ma forma que antes.
Sua cultura será diferente porque suas invenções nem
sempre coincidirão, desta form a nem um grupo nem o ou­
tro poderia tirar proveito nem harmonizar as invenções.
Agora suponhamos que unam suas fôrças e capacidades, to­
dos os 90 tirarão vantagens das invenções produzidas por
qualquer um dêles. Os grupos combinados terão duas in­
venções por ano em lugar de uma e, em outras palavras, êles
progredirão tècnicamente duaz vêzes mais rápido.
Por tudo isso podemos compreender com o a civilização
cresce e com o ela é. A Idade Média deu-nos trigo, cevada,
gado vacum, lanígero e conseguiu domesticar outros animais,
que permitiram realizar uma revolução agrícola a poucos
séculos atrás.

A REVOLUÇÃO AGRÍCOLA

A revolução agrícola iniciou-se entre populações muito


densas com o as que habitavam o vale do Nilo, do Eufrates
e do Indus.
Logo que essas populações se fixaram a um lado e ou­
tro dêsses rios, tendo exterminado a caça, adquiriram a cer­
teza de que poderiam viver da terra se tão-sòmente a pre­
parassem e a cultivassem. Para que isso lhe fôsse possí­
vel, foram aumentando, reunindo as famílias em grupos,
os grupos em tribos, e as tribos em nações, que orientados
pelos seus governantes começaram a conquistar a terra, re­
volucionando, assim, a antiga maneira de viver, banindo o
ódio tribal, a superstição totêmica, privilégios de família
ou casa reinante. Para tornar isso possível, todos coope­
raram na luta pela existência. Nessa revolução logo se tor­
naram obsoletos os instrumentos de sílex: machados, pica­
retas, pás ou mesmo facas, pois a terra era dura demais
para ser por êsses instrumentos trabalhada.
A técnica exigia instrumentos mais fortes e o gênio in­
ventivo levou-os a descobrir, fundir e forjar o ferro com o
96 JÜLIO MINHAN

qual fizeram armas para defesa e ataques ao mesmo tempo


que preparavam melhores e mais fortes instrumentos agrí­
colas.
A média do avanço técnico não pode ser precisada por
não ter tido um ritmo constante, isto é, nos séculos passa­
dos, a História nos prova que o avanço foi lentíssimo, e
hoje estamos sendo literalmente envolvidos por um pro­
gresso estonteante, que nos prova que êsse avanço sempre
foi proporcional ao intercâmbio das populações.
Ainda hoje, o avanço da técnica enfrenta muitos obstá­
culos, pois, apesar de tantos inventos, ao que sabemos, não
há país no mundo que tenha legislado realmente para bene­
ficiar os inventores e animá-los nas suas pesquisas, antes,
as leis que a isso se referem, estão crivadas de obstáculos,
que freiam o^ gênio inventivo.
Um dos maiores obstáculos às invenções reside nos cos­
tumes que “ amarraram” os filhos aos ofícios e profissões
de seus pais. Foi isso que aconteceu no antigo Egito, na
Roma imperial, até sua queda, e é o que acontece ainda hoje
na índia milenar.
Qual seria o filho de padeiro que perderia tempo, in­
ventando uma bicicleta, quando êle sabia que era obrigado
a amassar o pão durante tôda a sua vida? Quem sob tais
condições podia, ou pode hoje imaginar um negócio de bi­
cicletas, se tal com ércio ou fabrico não existe para êle?
Apesar de todos os obstáculos impostos pela divisão
das castas, as invenções foram surgindo e invadindo o mun­
do, mas, evidentemente, não se espalharam em tôdas as
direções. Espalharam-se ao longo das rotas comerciais e
para povos e nações, onde essas idéias podiam ter aplica­
ção aproveitável. Essas invenções foram barradas por
obstáculos naturais da natureza, tais com o desertos, ocea­
nos e morriam em nações, onde encontravam condições que
as tornavam inúteis. Por êstes fatores, a idéia de cultivar
algodão ou a tamareira não teve acolhida na Europa, uma
vez que lá não cresce o algodão, nem a tamareira dá tâ­
maras. A própria roda falhou e falha ainda entre os es­
quimós, no Iraque e partes da Arábia, nos gelos e desertos
arenosos, a roda de nada vale. A adaptação do invento aos
costumes e topografia da terra, podemos vê-la na cidade de
Funchal, Ilha da Madeira, onde encontramos trenós puxa­
dos a bois, e cestas-trenós, arrastadas por homens ao lado
de velozes autos que se locom ovem nas ruas planas.
COMO A CIVILIZAÇAO SE ESPALHOU

Como resultado do avanço da técnica, um alto nível de


civilização surgiu uns cem anos antes de Cristo, e percor­
reu um estreito cinturão das terras do Mediterrâneo, atra­
vés do leste e sudoeste da Ásia, para a índia e a China.
Progressos da técnica e as próprias invenções espalharam-se
em uns poucos de anos, de um pólo ao outro dêste cintu­
rão privilegiado. A China, parcialmente isolada num dos
pólos pelos desertos da Mongólia, as montanhas do Tibete
e as selvas do sudoeste da Ásia, tardou uns 1000 anos para
entrar na corrida técnica, mas, uma vez iniciada essa “ cor­
rida”, assimilou rapidamente o que devia ter aprendido, e,
essa assimilação coloca-a hoje entre as nações que progri­
dem a olhos vistos.
Alguns dêsses avanços da técnica, e da própria ciência,
tomaram rumo da Ásia Central e da Europa Central, po­
rém, a civilização pouco efeito teve no norte da Europa e
nordeste da Ásia, onde o clima era severo demais para po­
der utilizar certos inventos e métodos dessa época, e falha­
ram totalmente na penetração dos pântanos do Nilo e nas
montanhas da Abissínia.
A única abertura no cinturão desértico no norte da
África estava localizada na faixa banhada pelo Nilo. Mes­
m o assim enfrentava grandes obstáculos. Falando pràtica-
mente, o deserto do Saara e as areias do Sudão faziam des­
sa abertura, uma perfeita ilha que impedia o avanço da
civilização.
Esta velha civilização fracassou totalmente na conquis­
ta das ilhas do Pacífico, Austrália e as Américas; embora
algumas invenções tenham surgido durante a fase cultural
da caça, tal com o arco e a flecha, e se difundissem, cruzan­
do o estreito de Bering para as Américas. Mais ou menos
um milênio após os povos da América do Sul e do Centro
iniciaram o desenvolvimento da sua civilização independen­
98 JÚLIO MINHAN

temente do Velho Mundo. Da mesma forma, há uns milê­


nios atrás, com o com ércio das caravanas, através do Saara,
as centelhas da Civilização começaram a brilhar na África
sub-saariana e nos reinos nativos do oeste do Sudão.
Não podemos afirmar que os povos primitivos — os ne­
gros africanos, os povos da Melanésia, Pápuas e outros —
fôssem mais broncos que quaisquer outros por não terem
aceitado a técnica dos povos que ficavam nesse cinturão de
civilização. Estando totalmente isolados, e sendo poucos
em número, limitaram-se simplesmente a viver a vida está­
tica (em bora normal) que tôda a humanidade, mesmo de
nossos antepassados, tinham vivido durante milhares e mi­
lhares de anos antes da revolução agrícola.
Também não podem os afirmar de que não existam di­
ferenças de técnica e de progresso entre essas mesmas ra­
ças. Tem sido provado de diversas maneiras, que esporà-
dicamente, mesmo entre as tribos caçadoras de cabeça, as
faíscas da civilização brotavam de uma ou de outra mente
para apagarem-se logo a seguir pelos costumes da tribo,
pelo mêdo do chefe em perder o poder ou pelo fanatismo
de seus pagés. Desta forma, ninguém pode afirmar se tôda
a civilização que hoje possuem é fruto de seu progresso ou
do progresso importado.

APRESSANDO O PASSO

Muitas das invenções realizadas durante a revolução


agrícola, tinham em si mesmo a fôrça inicial de apressar o
passo do avanço tecnológico. Elas obrigaram a uma mar­
cha forçada aos antigos agricultores para as técnicas que
lhe dessem mais alimentos de certas áreas para facilitar o
sustento de uma população maior, ou obrigando a uma mais
rápida comunicação de transportes para a distribuição de
gêneros perecíveis, e com essa rapidez forçada, os povos
por ela atingidos, civilizavam-se mais depressa.
Naturalmente, tôda espécie humana tem sido uma gran­
de unidade, comunicando-se e interferindo-se entre si, são
3 biliões de indivíduos que, misturando-se e comerciando,
trocam entre si suas idéias, elevando uns aos outros no ca­
minho do progresso. Dessa forma, até os povos que fica­
ram primitivos, nos tempos modernos são envolvidos pela
CONVITE A CIÊNCIA 99

avalanche da civilização, e envolvidos por essa avalanche


recuperam, em poucas décadas, métodos e técnicas, que le­
varam milhares de anos para estender-se. Não deve, poisy
surpreender ninguém que êsse rápido progresso seja para
muitos povos uma tremenda confusão e às vêzes até uma
dolorosa experiência.
Seja com o fôr, a técnica avança ràpidamente e pelos
unos mais próxim os essa rapidez aumentará incrivelmente.
As invenções surgirão umas após outras, limitadas apenas
pela capacidade individual do povo que as tem de usar, e
essas invenções serão levadas a outros povos por meio de
explicações escritas e tomar-se-ão patrimônio de todos, tão-
-sòmente com a leitura que dessas explicações façam.

O HOMEM CONTINUARA A EVOLUIR

A falácia dos métodos antropológicos postos em prá­


tica para explicar a evolução humana e a “ transição” do
símio em “ H om o Sapiens”, salta aos olhos de qualquer lei­
tor cuidadoso, pois, não podendo determinar com exatidão
o tempo que atribuem aos fósseis, inventam-no à vontade
e o estendem ou encurtam para adaptá-lo à teoria que for­
jem.
Isto foi denunciado mais uma vez com o ZINJANTHRO-
PUS. Convém não confundir com o Sinanthropus pequi-
nensis, que apresentaremos ainda. Referimo-nos a outro
espécime encontrado na África — o zinjanthropus boiei.
O progresso do C14, empregado para encontrar a ida­
de dêsse suposto antepassado do homem, dera uma idade
razoável, e por isso mesmo destruía muita fantasia antro­
pológica. Como isso não convinha a cientistas visionários,
fizeram um novo teste. Desta vez o processo desenvolvido
na análise foi o do potássio-argônio. Por êste processo, os
interessados, dizem que os fragmentos das rochas de felds-
pato, nas quais o crânio dêsse suposto homem mais velho
do mundo foi encontrado, têm a respeitável idade de
1.750.000 anos.
O crânio foi desenterrado há poucos anos atrás nas
terras de Tanganica, na localidade de Olduvai Gorge, pelo
Dr. L. S. Leakey, que por certo não foi o “ inventor” dessa
fantástica idade. O fato de que um fóssil seja encontrado
em certa camada geológica, não estabelece necessàriamente
100 JÚLIO MINHAN

qeu o fóssil seja da mesma idade. Pode ter sido enterrado


lá simplesmente.
Até agora, o processo cronológico mais exato é o do
C14. A análise feita pelo potássio-argônio é muito com pli­
cada, e por isso presta-se a confusões. Na verdade é que
a análise feita na Universidade da Califórnia foi posta de
lado após êsse novo teste.
Convém notar que o zinjanthropus não era homem, era
sim um símio desenvolvido, que andava erecto e utilizava
as mãos para fabricar e manejar instrumentos de sílex.
Os propaladores dessa nova idade afirmam que o tem­
po fixado aos sêres que viveram há 1.750.000 anos facilita
a compreensão da evolução. Com esta nova data, a facul­
dade de produzir instrumentos para benefício do homem
— habilidade que ajuda a diferenciá-lo dos animais inferio­
res — é localizada no período pletistoceno, que, segundo se
acredita, teve lugar há um milhão de anos.
Antes de avançarmos na explicação da evolução huma­
na, paremos um pouco para meditar no zinjanthropus e sua
pretensa idade. Que há muita coisa errada em tudo isso,
nota-se nas afirmações dessa plêiade de sábios. Dizem que
os fósseis têm 1.750.000 anos, atribuem-lhe inteligência su­
ficiente para o fabrico de instrumentos de sílex — macha­
dos, martelos, facas e rudimentares enxadas — ; colocando
esta "habilidade um milhão de anos atrás, ou seja 750.000
anos após a data que atribuem ao fabricante dêsses instru­
mentos. De duas uma: ou a habilidade manual no fabrico
dêsses instrumentos era conhecida 750.000 anos antes da
data que lhe é assinalada, ou o fabricante nasceu 750.000
anos mais tarde.
Se acreditarmos que a evolução do homem teve início
há dois milhões de anos, a nova data atribuída aos fósseis
da Garganta de Olduvai, colide com a arqueologia dêsse
período, uma vez que há discrepância de eventos. Os ins­
trumentos, ferramentas e restos do Zijanthropus estavam
incrustados em fragmentos de faldspato, que se encontra­
ram em cinzas vulcânicas.
Os Drs. J. F. Evernden e Gamiss H. Curtis, geólogos da
Universidade de Califórnia, em Berkeley, mediram o empo­
brecimento dêste mineral. O potássio se transmuta em
cálcio 40 e argônio 40, mas esta operação gasta a insignifi­
cância de 1.200.000.000 que seria o período médio de vida
do elemento 19-K.
CONVITE A CIÊNCIA 101

Dos produtos dessa transmutação, os átomos de argô-


nlo 40, melhor do que o cálcio 40 são contados pelo espe-
trómetro de massa, pois, o cálcio 40 não pode distinguir-se
do cálcio já presente cristalizado com o feldspato.
Os geólogos libertam pelo calor os átomos de argônio,.
que se encontram nessas amostras. Pelo calor, os átom os
tomam-se carregados elètricamente, isto é, ionizam. Por
meio de um magnete são defletidos para um contador ele­
trônico e registrados num gráfico que mostra a quantidade
de argônio, que se formam e tira-se daí a inferência da
idade.
Para justificar tôda essa fantasia, alegaram que o mé­
todo do potássio-argônio é mais eficaz uma vez que o mé­
todo do C14 só pode ser aplicado à cronologia que não ex­
ceda de 50.000 anos para trás, e, com o segundo os evolucio-
nistas, existem rochas com mais de 50 milhões de anos, o
processo de carbônio 14 não seria útil.
Repetimos que malabarismos cronológicos nada de; ge:
nético nos provarão. Para harmonizar os símios antropo?
m orfos com o verdadeiro homem, cremos que geólogos; (por
sinceros que sejam) não são os indicados para êsse estu­
do. Os geneticistas chegariam a conclusões mais aceitáveis
entre uma espécie e outra. É claro que êsse estudo só podé
ser feito com espécies vivas, uma vez que seriam o sangüê,
a hemoglobina, os elementos a estudar além das formas
anatômicas.
O Dr. Emile Zuckerkandi, químico do Instituto Tecno­
lógico da Califórnia, auxiliado pelos Drs. Linus Paulino (Prê­
mio Nobel) e R. T. Jones fêz estudos genéticos sôbre a evo­
lução, e concluiu que a existência de um antepassado co ­
mum do homem e do macaco é sugerida pela semelhança
de suas “ impressões digitais” químicas, o desenho de sua
hemoglobina (o pigmento vermelho do sangue).
Quando o Dr. Zuckerkandi apresentou os resultados da
análise feita com a hemoglobina, ficou com provado que os
desenhos da hemoglobina do homem e de onze animais adul­
tos de diferentes espécies foram analisados demoradamen-
te, incluindo-se o gorila, o chimpanzé, o orangotango, o boi,
o porco, o tubarão, o sargo de dente (archesargus proba-
tocephalus), o peixe pulmonar, o feiteceira (vertebrado ci-
cléstom o), e um verme marinho. Salientou o Dr. Zucker­
kandi que êsses animais representam uma ampla variedade
na escala evolutiva.
102 JÚLIO MINHAN

“A técnica da impressão digital demonstra que a hemo­


globina do homem quase não se distingue da do gorila ou
do chimpanzé, disse o Dr. Zuckerkandi.
“O fato sugere que a hemoglobina do homem e a dos
macacos superiores sofreram pouca alteração desde o tem­
po em que viveu seu antepassado comum, há uns 10.000.000
a 35.000.000 de anos”.
A "técnica da impressão digital” também indica que os
bois e os porcos não estão muito distanciados na escala
evolutiva. Muitas de suas características comuns são tam­
bém partilhadas pelo homem, acrescentou o químico. Res­
saltou êle, contudo, que há acentuadas diferenças em rela­
ção ao homem, porém essas variam no sentido de que não
são as mesmas no boi e no porco.
Uma molécula de hemoglobina consiste de uns 600 blo­
cos de aminoácidos, ligados uns aos outros numa seqüên­
cia definida “ como as contas de um colar”, disse o Dr. Zuc-
kerkandl. Há 21 espécies diferentes de aminoácidos. Na
maioria dos animais, cada molécula contém quatro corren­
tes separadas.
“ Quanto mais aparentadas são duas espécies de animais
na escala evolutiva, mais semelhantes são as seqüências de
aminoácidos nas várias correntes de suas moléculas de he­
moglobina”, explicou o pesquisador. Em outras palavras,
o desenho da hemoglobina reflete, de certa forma, a evolu­
ção de todo o animal.
Os desenhos das manchas de hemoglobina no papel-fil-
tro usado no estudo foram aperfeiçoados pelo Dr. Vemon
Ingram, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e de­
nominados “impressões digitais” , porque hemoglobina idên­
ticas formam invariavelmente o mesmo desenho, declarou
o químico norte-americano. Êsses desenhos são visíveis em
grupos com o auxílio de um microscópio electrónico. Uma
molécula simples de hemoglobina não pode ser vista nem
mesmo com o microscópio electrónico.
“ Tôdas essas hemoglobinas de estrutura diferenciada
desempenham essencialmente a mesma função — a de le­
var oxigênio às células do corpo e transportar o dióxido de
carbônio desprendido pelas células”.
As conclusões proporcionadas pelas “ impressões digi­
tais” da hemoglobina estão de acôrdo com outras provas
colhidas ultimamente sôbre a evolução.
CONVITE A CIÊNCIA 103

As provas das “impressões digitais” feitas com a hemo­


globina falam bem alto de que se o homem continuar a
oxistír, forçosamente deve continuar a evoluir.
Temos de concordar que, para uma sociedade que se
dá ao luxo de arquitetar a evolução humana, e usa o “ Ho­
mem de Neandertal” como uma coisa familiar, é de estra­
nhar a indiferença com que essa mesma sociedade encara
a evolução humana no futuro.
Se podemos conceber que a Evolução produziu o “Ho­
mo Sapiens”, não temos o direito de lavar as mãos e dá-la
como terminada. Não há nenhuma razão que nos permita
afirmar que a Evolução tenha atingido o pináculo da per­
feição e nesse pináculo, tenha parado e descanse. As fôr-
ças, que aperfeiçoaram os primeiros primatas, até fazer dê-
les os homens atuais ainda não renunciaram às suas fun­
ções. Por isso afirmamos que, se o homem deve continuar
a existir, deve continuar a evoluir.
Realmente, não podemos conceber que o homem à bei­
ra de uma evolução totalmente dinâmica no setor cientifico
deixe de responder à evolução física. A criatura humana
está aproximando-se do tempo em que ela mesmo estará
habilitada a controlar as funções de sua própria evolução
anatômica. Se isto vier a consumar-se, o homem consegui­
rá controlar, não só sua cultura, mas também os descenden­
tes que êle deseje ter, isto é, claro, interferiria com possibi­
lidades biológicas imensas.
Antes de entrarmos nas considerações que ocasionaria a
revolução de um contrôle da prole (com isto não nos refe­
rimos à natalidade, isto é, ao maior ou menor número de
descendentes, mas sim, aos traços eugênicos da raça), ten­
do filhos sadios e até com tendências para um certo setor
científico, projetemo-nos no futuro, segundo o caminho per­
corrido pela seleção natural.
As três maiores características físicas que juntas dife­
renciam o homem de tôdas as outras criaturas viventes, po­
dem ser compreendidas por qualquer um, são: a mão, pos­
tura erecta e o cérebro. Destas três, o cérebro é que tem
tido mais e maiores mudanças, é o que realmente tem evo­
luído.
Se nosso progresso científico e técnico continuàr no
mesmo ritmo que teve no passado, podemos esperar que a
principal característica futura no homem, será a estrutura
104 JÜLIO MINHAN

de seu cérebro e todo o sistema nervoso que lhe está asso­


ciado.
No presente não é possível indicar precisamente as mu­
danças que podem ter lugar. Elas podem tomar a forma
de neutrônios (células nervosas), no cérebro, e daí o aumen­
to do tamanho. Estruturas interiormente novas podem
aparecer (n o córtex, por exem plo), coisa que já se deu no
passado. Diversos outros desenvolvimentos podem ter lu­
gar ao mesmo tempo.
Nas outras duas características — a m ão e a posição
erecta — não haverá mudanças fundamentais num futuro
imediato. A mão, embora aceitemos o longínquo passado
atribuído aos primatas antropóides, tem permanecido ma­
ravilhosamente estabilizada, sempre adaptando-se a tôdas
as superfícies. O homem progredirá, criando aparelhos
mais delicados, mais precisos e mais fortes do que sua pró­
pria mão, porém, ao que tudo indica, esta não modificará
anatômicamente. li
Da mesma form a a adaptação do corpo humano às exi­
gências da postura erecta, embora não seja perfeita ainda,
parece que pouco ou nada modificará. Não podem os ne­
gar que grande número de pessoas sofrem de defeitos asso­
ciados a vícios de postura, tais com o — desvios da coluna
vertebral, fraqueza do sacro-ilíaco, pé chato, ou mesmo po­
sições forçadas, muito prolongadas nas atividades diárias.
Todos êstes defeitos, sem dúvida alguma, são devidos aos
próprios progressos da civilização, mas, isto não eclipsa a
verdade de que a posição erecta é coisa recente para os se­
nhores antropologistas e que de um m odo geral estacionou.
Desta forma, não devemos esperar que novas adaptações
caracterizem a postura do homem do futuro. Tendo (de
m odo geral) atingido a posição erecta, quase militar, ver­
tical, não devemos esperar grandes modificações.
Quanto à face, segundo os evolucionistas, vem esta mo-
dificando-se desde os primeiros antropóides. Isto pode
admitir-se, principalmente pela adaptação das mandíbulas
à dieta que vamos escolhendo. Há bem pouco tempo, a
dieta não só era diferente em si mesma, porém, também
o era no seu preparo. Alimentos mais duros, por falta de
coação apropriada, exigiam das mandíbulas uma ação mais
movente. Modificada a dieta pela aparelhagem moderna,
que permite um preparo mais apurado, a dentadura vai-se
modificando, especialmente o terceiro molar que em mui­
CONVITE À CIÊNCIA 105

tos casos nem aparece, contribuindo para que a mandíbula


se torne menor.
Por êste fato, a parte inferior do rosto, do nariz para
baixo (m ento), tende a retrair-se, a tornar-se menor, não
afetando o nariz e as cavidades orbitais, pois, não tem de­
monstrado diminuição alguma, antes, pelo menos com o
nariz, há uma pequena tendência a aumento. De tudo isto,
os antropologistas concluem que podemos esperar que nos­
sos sucessores, daqui a 100.000 anos, tenham faces bem me­
nores, nariz mais proeminente e abóbada craniana mais
maciça.
À medida que a civilização e a tecnologia avançam, é
de esperar-se que os processos da seleção natural se acen­
tuem, pelo menos em certas áreas e povos. Traços físicos,
que antes eram necessários à sobrevivência, podem vir a
findar por inúteis ou dispensáveis. Tendências às quais o
corpo humano resistiu, podem vir a tornar-se inóquas, to­
leráveis ou mesmo necessárias à evolução do físico huma­
no. Por exemplo, pelos que aparecem em várias partes do
corpo, vai desaparecendo aos poucos, com o se o organismo
recusa-se perder essa proteção natural, mas, em futuro pró­
ximo, pelos progressos da evolução científica, que já com e­
ça a interferir até com o clima, tende essa resistência cor­
poral ao abandono do manto capilar, que a natureza (que
não faz distinção entre pobres e ricos) deu a todos com o
proteção. Na verdade, o homem é o único primata que
está pràticamente despido do manto capilar. Mesmo a cal­
vície tornou-se quase normal na Idade Média, o uso do cha­
péu ajudou a propagá-la entre os homens e embora rara­
mente, também apareceu entre jovens de sexo feminino.
O abandono do chapéu tem favorecido a continuação do
cabelo e se não curou a calvície (p or não ter tratamento
terapêutico), pelo menos podem os afirmar que está esta­
cionada.
Na pré-história, quando o homem "inventou” a roupa,
abrigos artificiais, a utilização do fogo e outros meios arti­
ficiais de se aquecer, criou as condições que o organismo
humano necessitava para iniciar o desprendimento do véu
capilar, por não ser mais necessário aos rigores do clima
Como nos tempos modernos, uma grande cabeleira e espes­
so manto capilar não são tão necessários, podem surgir
mutações, que apressem a perda geral do cabelo e termine
a raça totalmente calva e livre do pêlo corporal.
106 JÜLIO MINHAN

Para citarmos outros exemplos, diremos que os defeitos


visuais e auditivos estão sendo corrigidos pela técnica e em
nada afetam a sobrevivência do defeituoso e muito menos
da sua descendência. Além disto, que já é muito, a espe­
cialização técnica tem permitido a adaptação quase perfei­
ta dêsses indivíduos em atividades onde seus defeitos não
aparecem. Paraplégicos e mutilados de guerra estão pres­
tando ótimos serviços que nos provam que a evolução cien­
tífica interferirá para melhorar a raça humana e adaptá-la
ao fantástico progresso que desfrutamos, e que tudo faz
prever que se tom e sempre maior e mais perfeito.
A Medicina m odem a, especialmente no ramo da Cirur­
gia (que são conquistas reais da cultura atual), tem com ­
pensado com pleno êxito muitas deficiências genéticas, que
em tempos não muito distantes eram sério obstáculo à con­
servação de certas famílias. Hoje, povos que antigamente
lutavam em desespêro para sobreviver, se foram atendidos
pela técnica e medicina, poderão reproduzir-se normalmen­
te, vencendo todos os defeitos genéticos.
As mudanças das relações, que existem na balança da
seleção, sugerem que a futura humanidade suportará uma
porção (que pode ser sempre m aior) de indivíduos, cuja
existência dependerá completa e exclusivamente dos auxí­
lios artificiais técnicos e científicos, que nossa civilização
lhes proporcionará. Isto quer dizer que a humanidade na
sua evolução para o estado perfeito, dependerá mais e mais
dos seus próprios inventos, e que fatalmente regridirá e
poderá enfrentar até um futuro som brio se puser de lado
sua capacidade inventiva.
O efeito de uma população sempre crescente e maior
densidade das nossas urbes são um fascinante campo de es­
peculação. Pelos males que a superpopulação nos prome­
te, somos levados a fantasiar, porque certos tipos do pas­
sado tendiam a desaparecer, e com o poderá florescer e ali
mentar-se uma população que no ano 2.000 pode atingir os
6.000.000.000 (seis biliões) de indivíduos. Muitas sugestões
foram apresentadas para evitar os perigos da superpopula­
ção, e a fom e que pode surgir à conseqüência desta. Se
nossa técnica não aperfeiçoar e aumentar muito a produção
de alimentos, e as utilidades humanas, teremos um regresso
à era das cavernas, voltaremos a nos guerrear pelos alimen­
tos e conforto.
CONVITE A CIÊNCIA 107

À medida que as mudanças culturais aumentam, surge


a pergunta de com o a seleção natural poderá manter o pas­
so com a civilização que promete tornar-nos verdadeiros ci­
clopes, não no sentido anatômico dêsses seres mitológicos,
mas no sentido construtivo. A civilização está-nos a per­
mitir realizar milagres verdadeiros que foram o sonho das
gerações passadas. O progresso está em marcha acelerada.
Isto pode significar que o homem venha a enfrentar dificul­
dades ou mesmo o desastre, por não poder acompanhar o
progresso, e complexos do que pode criar o aperfeiçoamen­
to técnico e científico, ou mesmo vir a acelerar seu futuro
biológico.
Que isto pode suceder muito antes do que realmente
espèramos, foi elegantemente exposto em um artigo do Dr.
R. A. McConnell, da Universidade de Pittsburgh. Com um
pouco de humorismo, porém, com intenções muito sérias,
o autor traça os métodos do cruzamento seletivo e racional,
hoje perfeitamente praticável e utilizado pela Rússia na
sua ânsia de superar em tudo o Ocidente.
Essa eventualidade — da inseminação artificial — em­
bora repugne a muitas consciências, não é idéia totalmente
nova. Sôbre o assunto muitas e mui variadas sugestões
têm sido propostas por gerações menos afetadas pela cul­
tura atual, pois já comprendiam que sem o auxílio do esfôr-
ç o humano coletivo, estavam incapacitados para resolver os
problemas que a prosperidade lhes criaria. Francisco Gal-
ton, há cem anos atrás, arquitetou um progresso eugênico,
com o meio de manter e aumentar os recursos intelectuais
da sociedade.
À medida que o conhecimento da genética humana e a
capacidade de controlar ou modificar os genes responsá­
veis da nossa hereditariedade aumentem, os meios de alte­
rar os processos genéticos e por conseguinte controlar nos­
sa evolução, serão mais precisos, menos proféticos.
O êxito da inseminação artificial sugere-nos a possibi­
lidade de criar um “ banco” de esperma, localizado justa­
mente onde espermatozóides dos homens mais proeminen­
tes de cada geração, sejam necessários, e com êsses esper­
matozóides criar uma geração de gênios.
De acôrdo com esta idéia, uns poucos homens poderiam
ser pais de um número muito superior de filhos, dos que
comumente podem ter. Como colorário, num futuro mui­
to próximo, é possível que separemos o óvulo de uma su­
108 JÜL.IO MINHAN

per-mulher, fertilizá-lo e cultivá-lo artificialmente, criando


assim u’a mãe reprodutora à altura da capacidade intelec­
tual do pai.
A com posição genética da população do futuro pode vir
a ser manejada e controlada por meio de mutações. Em­
bora no presente a técnica, que isso pretende, seja muito
rudimentar para apresentar algo de valor, o desenvolvimen­
to genético oferece a esperança de que isso venha a ser pos­
sível. Os progressos em vários ramos da genética e bio­
química, mostram igualmente que estão abrindo a porta
para um progresso mais completo no controle dos cromo-
sômios e genes.
Quando refletimos que os antepassados, com m étodos
muito primitives na seleção dos cruzamentos tem demons­
trado certa capacidade em melhorar várias plantas e ani­
mais, obtemos a certeza de que o homem do futuro estará
mais capacitado a controlar, com as novas técnicas e as que
ainda (sem dúvida) serão descobertas ou inventadas, o fu­
turo genético da população humana.
Se o “ H om o Sapiens” deve encarar um programa com o
êste, tem de achar meios de consegui-lo em bastante menos,
tempo do que os simples cruzamentos o permitiriam, tem
de chegar à mutação a curto prazo. Para isso conseguir»
a África do Sul está a realizar testes genéticos e emigrató-
rios com o fim de aumentar para 10.000.000 os indivíduos
de raça branca, e pretendem obter êsse resultado no máxi­
m o em 40 anos!
Vemos que a imaginação pode correr livremente diante
da ampla porta que nos abre a possibilidade científica. O
homem, dentro de pouco, estará habilitado a aliviar ou mes­
m o a alijar a pesada carga dos defeitos físicos, que tôdas
as populações têm suportado. Poderá aumentar grande­
mente a criação e reprodução de indivíduos, que poderíam os
considerar — SUPER-HOMENS — cruzando-os com o deixa­
m os explicado e obtendo, assim, sêres adaptados para fun­
ções definidas e prèviamente escolhidas. Poderá selecionar
a personalidade, intelectualidade e traços físicos, até pode­
rá obter uma combinação dos três. Isto faria do homem
um pequeno deus. Seria a revolução da humanidade, con­
trolando seu próprio nascimento.
CAPÍTULO VI

FRAUDES E FANTASMAS DA EVOLUÇÃO

Para melhor compreendermos a audácia de alguns cien­


tistas, que mal mereceriam êsse nome, entramos nesse cas­
telo de cartas para percorrer todos os corredores que inven­
taram e, especialmente, demos uma olhadela ao museu, on­
de, em pedestais carcomidos, foram colocando suas desones­
tas fraudes.
Se estudarmos a fauna terrestre, iremos encontrando
mistérios cada vez mais impenetráveis, deparamos segredos
mais fascinantes e comportamentos mais maravilhosos do
que os apresentados por nós no livro “ Harmonias da Natu­
reza” . As maravilhas, que vamos encontrar nesse estudo,
compensarão amplamente todo trabalho, esforços e sacrifí­
cios feitos.
É natural que as ciências biológicas tenham suas teo­
rias quanto à origem da vida e mais natural nos parece que
biólogos e bioquímicos analisem e tratem de descobrir quan­
to de verdade há nas teorias expostas. Como até hoje
nenhum ramo da Ciência conseguiu desvendar o mistério
da origem da vida, nenhum mortal sabe com o ela se origi­
nou; e cremos que por êstes anos mais próximos nada sa­
beremos a êsse respeito, além do que Moisés diz no ver­
sículo 24, do capítulo que continuamos analisando: “ Produza
a te rra .. bêstas feras da terra conform e sua espécie” .
Muitos cientistas acharam que essa descrição é simples
demais para ser aplicada à maravilhosa fauna que povoa a
terra, o mar e o ar. Certos biólogos e bioquímicos, querendo
dispensar ou mesmo contrariar essa pequena mas imutável
afirmação, de que tudo se reproduziria “ conform e sua espé­
cie” , trataram de estudar a vida em todos os seus aspectos
e não foram poucos os que ultrapassaram suas fronteiras
110 JÜLIO MINHAN

para enveredar pelos domínios da morte. Um decapitou


uma galinha e conseguiu conservá-la viva por mais de duas
semanas. Outro conservou pulsando, durante meses, parte
de um coração de vitela, estudando assim todos os fenôme­
nos que produzem a morte, para melhor levantar o véu que
oculta aos mortais o fascínio da origem da vida. Ambos
tiveram de confessar que com suas experiências nada ti­
nham avançado no caminho dêsse impenetrável mistério.
Como nenhuma das várias teorias idealizadas por bio­
químicos ou biólogos aclaram a origem dêsse fascinante pro­
blema — a origem da vida no nosso planêta ou mesmo no
Universo — , uns e outros acharam mais leal confessar seu
insucesso do que idear fantasias, que no fim nada resolve­
riam, complicando mais o problema.
Quanto à origem da vida, não há especulação possível:
ou se desvenda o mistério ou se confessa que êle foge à nos­
sa capacidade, que é impenetrável pelo menos com os co ­
nhecimentos científicos atuais.
A origem do homem, com o ser vivo, já é diferente.
Saltando por cima do mistério que representa a primeira
célula viva que surgiu neste mundo e pondo de lado o que
o Gênesis afirma, o assunto presta-se a muitas e até inte­
ressantes fantasias.
Como pela Ciência não se pode precisar o tempo exato
da entrada do nosso mundo na história cósmica, especula-se
com milhões e até biliões de anos para explicar, não a ori­
gem da Terra e menos o aparecimento da vida sôbre a mes­
ma, mas para arquitetar uma evolução que teria havido de
uma simples ameba até o homem.
Como o tempo pode ser alongado à vontade dos que o
desejam manejar, assim fantasiam o aparecimento do ho­
mem: Uma ameba (d o grego amoibé, que significa: mu­
dança), com o afirmam certos antropologistas, evoluindo al­
guns milhões de anos, transformou-se em ostra. Esta, de­
pois de aperfeiçoar-se durante eras e mais eras, converteu-
-se num batráquio, que por sua vez, depois de muito tempo,
so converteu em uma tartaruga. Alguns milhões de anos
mais permitiram à tartaruga metamorfosear-se num jacaré.
O jacaré, depois de muito andar (e de não poucas quedas),
conseguiu andar de pé. Como entendesse que as conchas
ósseas não eram enfeite apropriado para um animal que
anda erecto, pelo simples desejo transformou-as em lã, para
assim tornar-se urso verdadeiro. O urso, decorridos mais
CONVITE A CIÍN C IA 111

outros longos milhões de anos, fêz sua aparição com o


IMthecanthropus erectus.
Será isto Ciência? Im possível!. . . Como teoria tudo
é atraente e muito bonito, porém, com o Ciência, não pode
ser aceita, por absurda.
Nessas especulações alguns sábios têm errado de boa-
-fé, outros aceitaram êsses erros por influência ou por não
terem tido oportunidade de os comprovar, porém, uma boa
parte os espalhou conscientemente, isto é, sabiam que suas
teorias se fundamentavam em fraudes por êles ou por ou­
tros sábios praticadas.

Parecer-nos-á impos­
sível que cientistas se es­
cudem em fraudes para
propagar suas teorias e
julgamos assim, porque
cremos que todo cientis­
ta deve ser sincero. In­
felizmente isso não se dá.
A verdade é que alguns
falsificaram argumentos
para sustentarem seus
pontos de vista, detur­
pando a Ciência e iludin­
do a humanidade. E o
mais espantoso é que,
apesar do conhecimento
que temos, alguns cien­
tistas continuam insince- Um imüivo australiano com
o famoso "boomerang”
Prefaciando um livro do físico Max Planck, traduzido
para o espanhol com o título “ Adonde vá la Ciência?”, o
grande Einstein fêz uma análise do estado de espírito com
que os sábios ingressaram no templo da Ciência. O pai da
Relatividade dividiu os cientistas em três classes: a) os que
através da Ciência pretendem exibir talentos especiais; b )
os que usam a Ciência com o meio para obter recompensas
materiais; c ) os que procuram a Ciência “ por amor à mes­
ma Ciência” .
11 2 JÚLIO MINHAN

Cremos que os dois primeiros grupos são os que con­


gregam o maior número de adeptos. A Ciência no mundo
moderno ainda não deixou de ser a hóstia que os cientistas
puros, no seu sacerdócio, elevam à Divindade para que os
humanos satisfaçam seus anseios, retirem os benefícios que
dimanam do estupendo progresso científico de que dispomos
e vivam compenetrados do seu risonho porvir; mas, temos
de concordar que em grande parte passou a ser instrumento
a serviço da vaidade de uns e da ambição de outros.
Sabendo disso, o criador da Relatividade, no prefácio
de “Adonde vá la Ciência?", relembrou a purificação do
Templo e disse que, se o Anjo do Senhor penetrasse de chi­
cote em punho no templo da Ciência para de lá expulsar os
adeptos dos dois primeiros
grupos, só restaria um nú­
mero insignificante.
Aos adeptos dos dois
primeiros grupos, segundo
Einstein, deve-se a constru­
ção de uma grande parte
do templo da Ciência, mas
o edifício nunca teria alcan­
çado as colossais propor­
ções atuais se não existis­
sem os cientistas puros.
São êstes os que estudam
a Ciência pela Ciência — e
são poucos, retraídos, es­
tranhos, muitas vêzes inso-
ciáveis. Êsse comportamen­
to deve resultar da guer- Um chimpanzé
ra que contra eles fazem
os que se querem exibir, os mercenários ou mesmo os lei­
gos que não os entendem.
A Ciência tem muitos encantos, segredos e mesmo mis­
térios que apaixonam, por isso Einstein sustentou que os
motivos que movem os cientistas puros são meramente está­
ticos. Na opinião do sábio judeu, o estado mental que li­
dera o poder impulsor, no cientista puro, assemelha-se ao
êxtase religioso do devoto. O esforço despendido não obe­
dece a um plano prèviamente estabelecido, é uma espécie de
culto que a alma fascinada presta à Energia criadora.
CONVITE A CIÊNCIA 113

O êxtase religioso não é garantia de que tôdas as con­


clusões científicas sejam exatas e muito menos pode garan­
tir qúe sejam as únicas, e isto podemos notá-lo com o pro­
ceder de Darwin.
Em 1931, quando o brigue Beagle, de Sua Majestade
Britânica, levantou âncora para uma expedição de estudos
om volta do mundo, ninguém imaginava que iria ser esta
uma das viagens de maior alcance depois de Colombo. Nem
tinha o jovem Charles Darwin, naturalista de bordo, a me­
nor idéia de que estava em vias de descobrir novo conti­
nente de conhecimentos.
Durante cinco anos, o Beagle correu mundo — foi a
Taiti, à Nova Zelândia, Tasmânia, Austrália, à ilha de As­
censão, às do Cabo Verde e dos Açôres.
Em 1859, depois de despender 20 anos em estudos, reu­
nindo grande quantidade de provas do que julgava a rea­
lidade do processo evolutivo, Charles Darwin publicou o seu
famoso livro “A Origem das Espécies”, no qual, além de
sintetizar os fatos coletados durante anos e anos de pacien­
tes pesquisas, êle apresentou a primeira hipótese científica
destinada a explicar o processo da evolução, hipótese esta
mais tarde sintetizada por Julian Huxley, ateísta completo.
Nesse livro, êle, Darwin, expôs suas opiniões sôbre o assun­
to, as quais podem ser assim resumidas:
a) As criaturas vivas se reproduzem em razão geomé­
trica (pela multiplicação);
b ) Entretanto o número de indivíduos de qualquer es­
pécie tende a manter-se mais ou menos constante,
com o correr do tempo;
c ) A concorrência entre indivíduos e entre espécies re­
duz o número de exemplares vivos. É a luta pela
existência;
d ) Todos os sêres tendem a variar de m odo apreciável.
Não há dois indivíduos exatamente iguais, e alguns
são distintamente dissemelhantes na mesma espécie.
Embora nem tôdas as variações sejam transmissí­
veis pela hereditariedade, as criações experimentais
mostram que algumas o são;
e) Visto haver luta pela existência e não serem todos
os indivíduos semelhantes, algumas variedades so­
brevivem porque suas diferenças lhe dão ligeira
margem de superioridade. As variedades inferiores
serão eliminadas. É a seleção natural.
114 JÚLIO MINHAN

Prosseguindo de geração em geração, a seleção natural


tende a acumular pequenas diferenças em quantidade sufi­
ciente para construir uma diferença maior. É a evolução.
Antes de Darwin, em relação à origem das espécies, duas
teorias antagônicas se defrontavam: a fixista, ou doutrina
da criação especial, defendida com ardor por Cuvier, e a
transformista, esposada, a princípio, por Geoffrey de Saint-
-Hilaire e Lamarck.
Para os primeiros, as espécies constituiriam realidades
imutáveis, enquanto que para os outros, a espécie, conside­
rada no tempo, não existia.
Qual é a origem das espécies?
Como teriam surgido as espécies do mundo atual?
Não obstante seja tida com o uma das maiores aquisi­
ções do pensamento científico do século X IX , a idéia da
Evolução do mundo organizado, sem dúvida, já era debati­
da pelos filósofos jônicos, entre os quais poderemos citar,
Anaximandro, Empédocles, ou ainda Heráclito, considerado
com o o pai da idéia da Evolução.

Homens primitivos que habitavam a Suíça


Na Genética, melhor do qíie em qualquer outra ciência,
encontramos as falhas da teoria que Huxley quis organizar
com o Ciência, após as conclusões que Darwin cria corretas
e hoje sabemos não serem totalmente exatas.
A explicação correta da origem da variabilidade dos
sêres vivos é a adaptação orgânica, que “ é uma explicação
das características das diversidades e da distribuição das
CONVITE A CIÊNCIA 115

vrtrias formas de vida, com o resultado de um processo na­


tural de descendência com m odificações”, o que se segue,
são as provas que os fixistas podem aduzir para sustentar
que as espécies são invariáveis. A Genética aceita e apre­
senta novas famílias ou tipos dentro da espécie, ao mesmo»
tempo que rejeita a presunção de genetistas visionários com
o seu transformismo.
Charles Robert Darwin (1809-1882) foi, sem dúvida al­
guma, um cientista puro. Julgou acertada a idéia do evo-
lucionismo, após uma longa viagem de exploração pela Amé-
. rica do Sul. Comparando a fauna das ilhas Galapagos com
a do Velho Mundo, achou-as muito diferentes e isto o indu­
ziu a meditar e recolher todo material possível para poder
explicar essa diferença.
Em 1859, publicou seu importante trabalho, no qual
sustenta a teoria da seleção de várias espécies de animais;
seleção que teria sido operada na luta pela existência. Se­
gundo as conclusões já expostas, os indivíduos mais bem
dotados são os que sobrevivem nessa luta que, continuada
p or anos e anos, terminou por produzir as várias espécies
animais e vegetais.
Desde o início, o livro de Darwin teve um êxito estron­
doso. As teorias que continha pareciam feitas a propósito
para dar um fundamento científico ao materialismo e co ­
munismo ateu, que naquele tempo estava em seus albores.
Por essa tendência filosófica se compreende o entusiasmo
que a evolução provocou no campo positivista. A pureza da
ciência de Darwin ressalta das suas palavras quando exalou
o último suspiro, em 20 de m arço de 1928: “ Fui um jovem
cujas idéias não estavam bem definidas. Fazia perguntas,
aventurava idéias, conjeturava hipóteses e de tudo me ma­
ravilhava surpreendido. Notei que minhas idéias iam tendo
aceitação geral; delas, outros iam fazendo um novo credo” .
Êsse novo credo evolucionista foi arquitetado por comunis­
tas ateus e positivistas jactanciosos.
Que Darwin estava equivocado êle mesmo o reconheceu
e que sua teoria tinha falhas o confirmaram os outros sá­
bios da boa escola, quando tentaram estabelecer essas mes­
mas teorias. Não foram poucos os que reconheceram sua
inconsistência, rejeitando essas fantasias, admitindo que
Deus interviera desde o princípio trazendo a vida à existên­
cia. Darwin disse: “ Imagino que, provàvelmente, todos os
sêres orgânicos que viveram na terra descendem de algo
primitivo, chamado à vida pelo Criador” .
FRAUDES PREMEDITADAS

Embora Darwin reconhecesse ser sua teoria não bem


edificada e lamentasse que outros menos escrupulosos a fôs-
sem adaptando às idéias políticas, que então surgiam, sábios
das duas primeiras classes apontadas por Einstein trataram
de implantar com o dolo a teoria. O primeiro que quis
entronizar a Evolução no altar do templo da Ciência, foi
Haeckel. Como não tinha elementos científicos, recorreu à
fraude. No fíteu livro “ Unsere K orperform ” , reproduziu três
vêzes a fotografia de um embrião, dizendo que uma era de
um cachorro, outra de um macaco e a terceira de um ho­
mem. Não demorou muito em ser desmascarado com o fal­
sário e teve de confessar em outro livro seu — “ Antropo-
genie” — que “ cometera uma estupidez considerável” .
Mais dramática foi a falsificação efetuada por Paulo
Kammetrer. Êste biólogo austríaco injetou tinta-china numa
das patas de uma certa espécie de rã. Queria com isso de­
monstrar que a "almofada nupcial” , que antigos batráquios
possuíam, podia ser transmitida com o um caráter heredi­
tário. Fêz conferências com fotografias da sua rã e isso
lhe valeu o título de segundo Darwin. Um biólogo ameri­
cano desconfiou da história, e foi ao laboratório de Kam-
merer, em Viena. Num momento em que o austríaco es­
tava distraído, fêz pressão na pata da rã e a saída da tinta
demonstrou a fraude. Quando Kammerer viu que estava
desmascarado, puxou de uma gaveta, dela retirou um re­
vólver e com um tiro liquidou a questão, descendo à sepul­
tura com o suicida e falsário.
Êsses métodos, no dizer de Sewall Wright, “ podem ori­
ginar uma série de fantasias, mas nunca um processo de
Evolução” . As fraudes ajudaram a sepultar a teoria mais
depressa. A Ciência pura teve de realizar os funerais de
tôdas as fantasias que explicassem pela evolução o estado
atual da fauna terrestre e especialmente a perfeição da raça
humana.
0 HOMEM-CÃO
O cidadão russo Adrias Jeftichew, todo coberto de pêlo e que
por êsse fato está sendo posto como exemplo da descendência
simiesca do homem.
118 JÚLIO MINHAN

Como a Evolução está definitivamente morta, alguns


dos poucos que filosoficamente nela estão interessados, tra­
tam de fazer surgir seu fantasma para ver a reação dos
cientistas puros ao encontrar-se frente a frente com essa
"aparição” . Infelizmente, ainda há alguns biólogos mala­
baristas, e à medida que avançamos, vamos apresentá-los.
Diremos desde já que, nos nossos dias, estão aproveitando-
-se de três fatores para erguer êsse fantasma:
1.°) O HOMEM-CÃO — Alhures, nas estepes siberia-
nas, nasceu um menino que hoje já é homem: chama-se
Adrias Jeftichew. Nas suas atividades sociais e biológicas
nada tem de diferente dos outros seus compatriotas. A úni­
ca particularidade é que tem todo o corpo, inclusive o rosto,
coberto de abundante pêlo. Alguns antropologistas que o
examinaram dizer que êste cidadão russo é uma prova de
que o homem descende de animais providos de espêsso pe-
lame, tal com o os símios antropóides. Sendo assim, o cida­
dão soviético, que vemos na gravura, seria uma brusca re­
gressão que provaria ser mais fácil degenerar do que evo­
luir. Jeftichew é conhecido com o “ homem-cão”, só por
causa do abundante pêlo, o que nos obriga a pensar que
algo deve estar errado, uma vez que nunca o cachorro en­
trou na escala zoológica do homem.
2.°) O HOMEM DA NEVE — Os trabalhadores de um
seringal do Estado de Perak, na Malásia, ficaram aterrori­
zados com a presença de três homens que deram em chamar
"da neve”, ou “ Ieti”, em tibetano. Depois de algumas ho­
ras, os três desapareceram sem deixar rastro. Dizem que
os misteriosos sêres estavam inteiramente cobertos de pêlo
e tinham longos e pontudos dentes, falavam com monossi-
labos e só tinham cobertas as costas até a cintura. A polícia
da selva tratou de os cercar para apanhá-los, porém não os
encontrou. Como a captura dêstes três homens da neve po­
deria ser a mais sensacional descoberta antropológica dos
últimos tempos, alguns antropólogos de Kuala Lumpur so­
licitaram às autoridades que os prendessem vivos.
Os picos e vales do Himalaia foram vasculhados por
uma expedição encarregada de encontrar os ietis que, tal
com o miragem do deserto, sempre estavam adiante, sempre
adiante, um pouco m ais. . . O único achado se resumiu em
dois pedaços de couro cabeludo que tanto poderiam ser de
urso, símio ou de outro animal qualquer.
fio* -ftato piThecus

jjfty O p írh eC ü ô

ÁRVORE GENEALÓGICA
Diagrama arranjado arbitrariamente para provar a desceu
dência do "Homo Sapiens” vinda desde a Dryopithecus.
120 JÜLIO MINHAN

Embora o “homem da neve” não fôsse encontrado, sua


existência, pelo menos para os antropólogos nêle interessa­
dos, é tão real quanto a do Dalai Lama. O Dr. John Hunt,
chefe da expedição britânica ao Monte Everest, declarou à
imprensa que “ estava certo de que há no maciço do Hima­
laia um ser vivo que ninguém ainda conseguiu encontrar.
Eu próprio vi seus traços. Suponho que se trata de um
grande macaco, do tamanho do orangotango”.
Outro expedicionário, o Dr. Charles Stom, assim expôs
o assunto: “Todos os membros desta expedição partiram
da Inglaterra, há cinco anos, sem qualquer idéia preconce­
bida a respeito do Ieti, ou da possibilidade de que o mesmo
fôsse um mito. Depois de algumas semanas, numa região
das mais difíceis do mundo, não conseguimos fazer mais do
que um reconhecimento. Entretanto, estou convencido de
que o Ieti não é um mito, mas uma sólida e indiscutível
realidade. Essa opinião é a que têm todos os homens, mu­
lheres e crianças do país dos Sherpas, no Nepal e das zonas
vizinhas do Tibete”.
Aparecerá o homem da neve? Se tivéssemos de nos
guiar por opiniões do povo, teríamos de procurar, aqui mes­
mo, sêres bem mais interessantes que povoam os nossos
grandes rios, como o “negro da água” , a “ iara” e mesmo
o peralta “ saci”.
3.°) OS CRÂNIOS DE STERKFONTEIN — O Dr. J.
T. Robinson, fundador da “Escola Sul-africana de Paleonto­
logia”, no Transvaal, falecido em 6 de abril de 1951, esca­
vando em Sterkfontein, perto de Krugsdorp, juntamente com
seu discípulo, Dr. Robert Broom, achou vários crânios que
avivaram novamente a descendência simiesca do homem.
Além dos de Sterkfontein, inúmeros são os crânios e outros
ossos que estão sendo usados para projetar na tela da Ciên­
cia o fantasma da Evolução. Como veremos, não só há in­
certeza, mas também especulação e até fraudes deliberadas
no contar da história dêsses fósseis.

O DRYOPITHECUS

No diagrama podemos ver que tôda a evolução simiesca


do homem se alicerça no Dryopithecus, que significa, mais
ou menos, “macaco em forma de homem”. O mundo conhe­
ceu êste símio por uma queixada fóssil, encontrada na Fran­
ça, em 1856, e com dimensões mais ou menos iguais às de
CONVITE A CIÊNCIA 121

uma mandíbula humana. Apenas esta semelhança foi o su­


ficiente para que o antropólogo E. Lartet afirmasse que o
dryopithecus era o símio mais próximo do homem. Trinta
o quatro anos mais tarde (1890), Gandry contestou o valor
de tão antiga queixada e demonstrou sua inferioridade em
relação aos grandes símios atuais. *
Segundo os arqueólogos, a dentição do dryopithecus era
semelhante à dos chimpanzés, à dos gorilas e mesmo igual
à do homem. Esta afirmação é falha, pois para isso era
mister que a dentição fôsse igual nas três espécies e todos
sabemos que nunca o foi e nunca o será. Além dêsse incon­
veniente, aparece outro maior, pois se conhecem nada me­
nos que três variedades de dryopithecus que teriam habi­
tado parte da Europa e Ásia.
Pela dentição dêste símio, teriam sido seus descenden­
tes os antropóides dos Siwliks, ao sopé do Himalaia (será
o homem da neve?), o ramo dos chimpanzés e o resto dos
antropóides: gorila e orangotango. Como ainda há gorilas
e orangotangos, é lógico admitir que nunca evoluíram e,
portanto, nem êles nem o fantástico dryopithecus que lhes
teria dado origem, entram na escala zoológica do homem.

O AUSTROLAPITHECUS

Pôsto de lado os dryopithecus, por muito confuso, ar­


queólogos e antropólogos voltaram-se para outros fósseis
cranianos e modelaram o Austrolapithecus, que significa
“macaco do sul”. Em 1924, o geólogo R. Dert achou uma
calota craniana em Taungs, Bechuanalândia, África do Sul,
numa ravina correspondente a uma antiga gruta e muna
profundidade de 18 metros. O crânio em questão teria per­
tencido a um indivíduo entre 5 a 6 anos de idade, o que lhe
tira todo o valor, pois é sabido que nessa idade, nem símios
nem homens apresentam os caracteres próprios bem defi­
nidos.

O PLESIANTHROPUS

Abandonando o Austrolapithecus, por indefinido, a Ar­


queologia continuou com suas pesquisas até que, em 1936, o
já citado Dr. Broom tornou a encontrar, em Sterkfontein,
partes de um crânio sem mandíbulas, que êle afirmou per­
tencer a um macho adulto; um maxilar direito de uma fê­
122 JÜLIO MINHAN

mea, vários dentes isolados, a extremidade inferior de um


fêmur e um grande osso carpiano. Com tudo isso mistu­
rado “idealizou” o Austrolapithecus transvaalensis, mas co­
mo o nome lembrava o fracasso anterior, foi rebatizado com
o nome de Plesianthropus, ou “homem do plioceno”. Se-
gundb o Dr. Broom poderia ser chamado de: “ chimpanzé
com dentes humanos” .
Convém notar que tôda a coleção de dentes foi encon­
trada sôlta, fora das mandíbulas e a distâncias diversas dos
outros fósseis, não se parecendo com os do gênero humano
e mesmo que se assemelhassem, separados como estavam,
nada provariam na Evolução, pois, podiam ser humanos.

O PARANTHROPUS

No mesmo ano. numa gruta de Kromdraai, mais ou me­


nos a três quilômetros de Sterkfontein, o mesmo paleontólo­
go, Dr. Broom, achou um fragmento craniano com vários
dentes, parte de um úmero, a parte superior de um cúbito,
um astrágalo, e algumas falanges de uma mão e de um pé.
A tudo isto, em «1941, vieram juntar-se diversos dentes de
leite e mais tarde, em 1947, sete restos de crânios, aos quais
atribuíram 650 centímetros cúbicos de capacidade. Tudo
isso misturado recebeu o pomposo nome de Paranthropus
robustus que seria igual a “ quase um homem forte”.
O Dr. Broom disse que êsses fragmentos teriam perten­
cido a um grande símio sul-africano que andava erecto.
Mais tarde, antropólogos como Gregory e Hellman refuta­
ram o que Broom tinha dito e afirmaram que êsses antro­
póides não teriam sido maiores do que um chimpanzé e que
não teriam sido mais do que “primos menos evoluídos do
homem” . Nós não precisamos da autoridade de Gregory e
Hellman para saber que tôda a história é suspeita. Não ha­
via dentes de leite entre êsses fósseis? Os gorilas têm tam-
bés dentes de leite?

O TELANTHROPUS

Em abril de 1947, T. Robinson, pesquisando em Swart-


-Krans, deparou com uma mandíbula que lhe deu a impres­
são de ser diferente das que até ali se tinham encontrado e
"atribuídas ao paranthropus”. Na semana seguinte, encon­
trou-se o resto duma queixada, bem como a extremidade de
CONVITE A CIÊNCIA 123

um rádio (osso do antebraço) que afirmaram pertencer ao


mesmo dono da mandibula que por ser diferente dos até
ali achados, recebeu o nome de Telanthropus, igual a “ho­
mem completo”.
Seria êste o elo que faltava na corrente zoológica? O
telanthropus, pelo conjunto dos seus caracteres, seria um
intermediário morfológico entre os outros gêneros do mes­
mo grupo e os hominídeos primitivos. Não foi necessària-
mente um ancestral direto do homem, foi apenas “um pri­
mo menos evoluído”, no dizer muito apropriado daqueles an­
tropólogos antes citados.

O PITECANTHROPUS ERECTUS

Eugene Dubois, médico militar holandês, natural de


Haia, em 1894, escreveu um relatório a respeito de certos
fósseis por êle achados em Trinil, ilha de Java, e que deram
origem ao mundialmente famoso Pithecanthropus erectus,
ou seja, o “homem-macaco que anda de pé”. Os fósseis es­
tavam muito dispersos. A calota craniana foi encontrada
em 1891, o fêmur e o dente molar em 1892 e outros dentes
no fim do mesmo ano. A despeito da distância entre um e
outros, Dubois achou que pertenciam a um só e mesmo in­
divíduo.
Como o médico holandês sabia que seus fósseis não lhe
edificavam a fantasia, fechou-os a sete chaves e durante 35
anos não permitiu que alguém os tocasse. Finalmente, êsse
raro privilégio foi concedido ao Dr. Herdlicka, do “ Smith-
soniam Institute”, Estados Unidos. Ao ver os fósseis, o
sábio ianque passou pela maior decepção da sua vida, pois
esperava ver um esqueleto mais ou menos completo e se de­
parou com os restos a que acima aludimos. O Dr. Herd­
licka falou abertamente dessa fraude, pois segundo êle pen­
sava, os fósseis tinham sido de um homem. O Dr. Dubois
sabia disso, mesmo assim propalou que seu javanês tinha
existido 500.000 anos antes do aparecimento real do homem!
O SYNANTHROPUS

Outro símio extinto, que muito se aproximou do pite-


cartfhropus e que alguns paleontólogos e geólogos julgaram
indistinguível dêste, é o Synanthropus, que quer dizer “ho­
mem da China”, de Black, cuja espécie tipo é o pekinensis.
Foi delineado com restos fósseis descobertos na China, em
1923, restos, que sem dúvida, pertenceram a vários indiví­
duos e foram desenterrados no loess avermelhado de Chon-
-Kon-Tien, a uns 45 quilômetros a sudoeste de Pequim.
A maioria dos'antropólogos e paleontólogos modernos
é favorável à hipótese que faz do pitecanthropus e sinan-
thropus uma família única, representando uma linha filo-
gênica originada muito próximo da base da linha humana,
evoluindo em sentido diferente, embora quase paralelo, e
extinguindo-se. Assim, os caracteres que levaram alguns
antropólogos a admitir a natureza humana dessas fôrmas
ambíguas e primitivas não seriam provas de sua pretensa
qualidade de avoengos do homem, mas simplesmente cola­
terais próximos.

CIÊNCIA OU ANEDOTA?

Tôdas as fantasias evolucionistas têm origem numa exu­


berante coleção de dentes, ossos occipitais, parietais, fêmu­
res, maxilares e algumas calotas cranianas achados em to­
dos os continentes, que pertenceram a indivíduos nunca bem
identificados.
Com um dente ou mesmo com uma coleção dêles, não
se pode estabelecer a escala zoológica, nem mesmo que a
Evolução fôsse um fato científico comprovado, uma vez que
os dentes estão sujeitos a desgaste, má configuração e trau­
matismos. A melhor prova que podemos aduzir é o célebre
CONVITE A CIÊNCIA 125

dente de um milhão de dólares, achado no Estado de Ne-


brasca. No dia em que êsse dente foi encontrado, o Sr. Os-
bom disse que encerrava “volumes de verdade” e que “ va­
lia um milhão de dólares”.
Houve grande agitação, pesquisas, discursos e análises
feitas por biólogos, antropólogos e arqueólogos que obriga­
ram a revirar a terra. Se o dente valia um milhão de dó­
lares, quanto valeria o esqueleto completo do “ dono”? A fe­
bre das pesquisas terminou subitamente ao aparecer o “ do­
no” do dente: era um porco de uma raça extinta, que de ma­
neira alguma podia cristalizar as fantasias que o dente for­
jara. Assim, perdeu-se tu d o ... até o milhão de dólares!

A PILHÉRIA DE PILTDOWN

Repetimos que nunca se soube ao certo a que espécie


de símio pertenceram os diversos crânios encontrados e nem
ainda sabemos se eram de símios, — alguns podiam ter sido
■de sêres humanos. A prova da nossa afirmação é o episó­
dio de Piltdown. Por mais de uma geração, êste crânio tem
sido apresentado aos estudantes britânicos como sendo o
primeiro inglês que surgiu naquelas ilhas. Calcularam que
os fósseis pertenceram a um indivíduo que vivera 950.000
anos no máximo, e, no mínimo 750.000 anos antes de nós.
O primeiro inglês foi modelado conforme a fantasia evolu­
cionista e solenemente entronizado nos augustos altares do
austero “ British Museum” .
Contemos a história. No povoado de Piltdown, Con­
dado de Sussex, Inglaterra, o advogado e arqueólogo ama­
dor, Charles Dowsoni, encontrou parte de uma caveira e uma
mandíbula. Acreditando, ou fingindo acreditar que ambas
as peças fôssem do mesmo ser, “fabricaram o eoanthropus,
que quer dizer: “ o homem do alvorecer” . O crânio tinha tô­
da a aparência humana e o maxilar era simiesco, daí o nome
forjado.
Há pouco mais de um ano, os antropólogos do Museu
Britânico descobriram a origem humana do crânio e com
estudos mais bem orientados terminaram por rejeitar a ou­
tra parte da “ relíquia”, porque ela não passava de uma man-
díbula de um macaco moderno. Assim ficou comprovado
que êsse primeiro inglês nascera 950. 000 anos atrasado. . .
126 JÚLIO MINHAN

O fascínio dessa fraude reside na pergunta que todo o


mundo fêz: “ se a fraude foi premeditada, quem a preparou
e com o ?” Por certo que não foi para ganhar dinheiro e
todos os que até agora lidaram com o homem de Piltdown
são pessoas acima de qualquer suspeita. Se alguém tratou
quimicamente essa mandíbula para dar-lhe a idéia de muito
antiga e depois a colocou perto da caveira que êle sabia ser
humana, êsse alguém foi um homem muito hábil, um ver­
dadeiro perito. Qual foi seu objetivo? Quis levar ao ridí­
culo os métodos antropológicos e com êles tôda e Evolução?
Pensou êsse gaiato destruir as mil e uma fantasias biológi­
cas, confessando mais tarde êsse irreverente truque? Não
é difícil aceitar que desejasse aclarar tudo, pois os ossos fo ­
ram encontrados dois anos antes da primeira guerra mun­
dial. rt muito provável que êsse irreverente estudante m or-
resse durante a guerra, perdendo assim a oportunidade de
rovelar a brincadeira que terminou sendo descoberta pelos
cientistas do estabelecimento, ou talvez êle seja agora um
dos augustos antropólogos que cuidam da seriedade do “ Bri-
tish Museum”.
A descoberta do valor real dessa “ relíquia” é mais uma.
prova de que tôda a antropologia evolucionista não passa de
fraudes premeditadas ou pilhérias de estudantes irreveren­
tes. Todos os fósseis que serviram para fantasiar sêres à
vontade de falsos cientistas lembram o procedimento de mui­
tos industriais que manufaturam produtos que nem sempre
correspondem ao que os rótulos indicam. Os geólogos e
paleontólogos misturaram ossos de diversos animais e de­
pois “ rotularam-nos” com pom posos nomes, meio gregos,,
meio latinos, para que fôssem menos compreendidos, e idea­
lizaram a escala humana. No dizer de Dobzhansky, êsse'
proceder “ se compara à etiquetagem e embalagem dos pro­
dutos” manufaturados por estabelecimentos suspeitos.
Os únicos m étodos que a Ciência teve para julgar d»,
antiguidade e autenticidade de um fóssil eram a fleurina
em maior ou menor quantidade depositada no fóssil e seui
aspecto antigo. Os dois métodos são muito fáceis de alte­
rar. A fleurina pode ser acrescentada à vontade por alguém,
que tenha interêsse em fazê-lo. O aspecto é ainda mais
fácil de alterar: um osso recente quando submetido a certo»
processo químico toma o aspecto de uma relíquia arqueo­
lógica. Êste foi o truque utilizado pelo peralta de Piltdown..
O MÉTODO DO C-14

As fraudes e pilhérias serão hoje bem mais difíceis, pois


o processo do carbono quatorze (c-14) é bem mais eficaz.
O problema mais difícil que os arqueólogos têm de en­
frentar é calcular com exatidão o tempo que têm os fós­
seis, cerâmica e outros objetos por êles desenterrados. Há
quantos anos terá existido o animal representado pelo fós­
sil? Quando surgiu e se extinguiu a espécie? Qual era a
civilização que existiu no tempo em que o animal viveu?
Em que tempo da pré-história? São perguntas que até ago­
ra não foram eficazmente respondidas.
Em recente conferência, o professor Ritchie expôs o
novo método utilizado pela Arqueologia para responder com
mais exatidão a tôdas as perguntas que os fósseis e antigas
civilizações sugerem: o método do c-14.
A Física nuclear veio em auxílio dos biólogos puros.
Os doutôres W. F. Lybby e J. R. Am old, ambos professôres
da “ Escola de Estudos Nucleares” de Chicago, inventaram
um extraordinário relógio radioativo, graças ao qual tições
apagados de antigos fogões e outras substâncias, com o m or­
talhas de múmias, cestos, conchas de moluscos atirados ao
lixo, restos de plantas ou detritos animais, contam eloqüen­
temente, através do medidor “ Geiger” , uma história que
revolucionou a mentalidade dos arqueólogos modernos.
Baseia-se o método no fato demonstrado cientificamen­
te de que a ação da irradiação cósmica sôbre o nitrogênio
nas camadas superiores da atmosfera o transforma em um
isótopo radioativo de carbono de número 14. Êsse c-14, en­
tra na proporção de 002 na fotossíntese do amido e, assim,
o carbono radioativo form a parte integrante da célula.
Tôda a carne dos animais provém, em última análise,
do reino vegetal, uma vez que o radical c-12 entra na vida
animal e vegetal, equilibradamente distribuído na matéria
viva numa quantidade constante que pode ser medida.
Quando o organismo morre, naturalmente deixa de absorver
128 JÜLIO MINHAN

c-14 e seus tecidos começam a se desintegrar, transforman­


do-se de novo em nitrogênio. O processo se faz num ritmo
certo, de maneira que a potência do c-14 é reduzida à metade
em 5.720 anos.
Assim, a proporção de c-14 concentrado em restos de
antigos organismos, em com paração com a concentração
constante nos sêres vivos, nos fornece o fator tempo, ou, em
outras palavras, o número aproximado de anos decorridos
após a morte do organismo.
Pelos métodos de cálculo usados atualmente, é de uns
500 anos no mínimo e o máximo de 2.000, o que nos afirma
que a margem de êrro é de cinco por cento. O cálculo dá
melhor resultado quando se usa o carbono puro; uns 16
gramas são suficientes. Êsse carbono pode provir de amos­
tras calcinadas de quaisquer substâncias orgânicas, especial­
mente o carvão originário de fogões ou lareiras dos homens
primitivos.
Os cálculos feitos com o c?14 procedente das habitações
americanas do período arcaico deram, repetidamente, um
máximo de 5.283 e um mínimo de 5.250 para um caso e um
máximo de 4.930 e um mínimo de 4.260 anos para outro.
Isto revela um fato surpreendente: os povos caçadores do
continente americano já estavam fortemente estabelecidos
no nordeste dos Estados Unidos, antes de se iniciar a idade
da pedra polida na Europa ocidental, e quando floresciam
no Egito suas antigas cidades.
No que se refere aos pontos em que foram encontrados
objetos de cerâmica, o cálculo foi mais surpreendente ainda,
pois constatou-se que, segundo os cálculos dos doutôres
Lubby e Arnolde, o tempo atribuído aos objetos examina­
dos foi de 2.942 anos, no máximo, e no mínimo de 2.170
anos. Isto quer dizer que uns mil anos antes de Cristo,
quando a maior parte da Europa ocidental entrava na idade
do ferro, a economia dos habitantes da região em que hoje
se ergue New York, já estava sendo substituída por outra
mais útil e mais sedentária que tinha com o fundamento o
plantio do milho.
Graças ao emprêgo do c-14, a idade de várias populações
pode ser determinada com muita precisão. O emprêgo do
c-14 com o elemento determinante da idade vem sendo usa­
do em várias outras ciências abrindo dêsse m odo novos ho­
rizontes ao estudo científico que permitirão dar novos e
mais firmes passos no aperfeiçoamento biológico.
OS ARGUMENTOS DA NATUREZA

Se, contra o que até agora se constatou, o processo do


c-14 daqui por diante não continuar sendo eficaz, temos os
mil e um métodos que a própria natureza utiliza para colo­
car no seu lugar a fantasia dos biólogos e antropólogos evo-
lucionistas. Vejamos alguns:
1.°) Baleias e Delfins — A maior dificuldade para os
idealizadores de escala da Evolução reside na base de seu
próprio argumento, segundo o qual, comparando a anato­
mia de certos animais, se podem encontrar seus ancestrais.
Vejamos o caso da baleia e de outros cetáceos. Êstes ani­
mais aquáticos foram considerados com o peixes, por sua se­
melhança. Conforme a Evolução, a semelhança é prova. Se
o argumento vale, os peixes de hoje e todos os cetáceos são
parentes próximos, tendo tido ambos os mesmos ancestrais.
Podemos acreditar que somente a semelhança externa
prõve sua ascendência comum? Olhemos o assunto sob ou­
tro ponto de vista. Baleias e delfins são mamíferos, com o
os gatos, leões e macacos. Os peixes são de sangue frio e
se reproduzem por ovos, são ovíparos. Os cetáceos, com o
animais de sangue quente formam seus filhos dentro dos
seus corpos e, ao nascerem os alimentam com o próprio
leite. Assim, embora haja uma certa semelhança exterior
entre peixes e cetáceos, êstes no seu sangue e comportamen­
to assemelham-se mais a animais terrestres e sua fisiologia
prova que da terra saíram.
Segundo a “ prova” que a Evolução diz obter dos testes
sanguíneos (que ainda consideraremos), os evolucionistas
afirmam que os cetáceos descendem dos ungulados, especial­
mente do porco comum. Vemos que a semelhança de pei­
xe e do sangue terrestre não podem ser provas. Quem não
vê logo que a baleia não pode descender de um porco e de
um peixe ao mesmo tem po? Essas duas semelhanças —
aquática e terrestre — são uma tremenda contradição, não
130 JÚLIO MINHAN

têm valor com o prova evolucionista. A baleia foi feita as­


sim e assim continua por ordem do seu Criador, pois Moi­
sés nos disse que no quinto dia “ Deus criou as grandes ba­
leias . . . que as águas abundantemente produziram conforme
as suas espécies” .
2.°) O Lôbo da Tasmânia — Vive na Tasmânia um es­
tranho animal chamado “ lôbo da Tasmânia” ou “ thylaci-
ne” . Sua form a externa é exatamente igual à de um cão.
Corre e mata as ovelhas, tal qual um cachorro o faria. Se
não fizermos uma observação completa, seremos levados
a julgar que o “ thylacine” pertence à família dos lôbos e
cães. A estrutura do seu esqueleto, a cabeça e até os den­
tes do thylacine são tão parecidos aos do cachorro que di­
ficilmente poderão ser diferenciados, até mesmo por um
anatomista experimentado. Se, com o os evolucionistas di­
zem, semelhanças anatômicas provam a ascendência, o lôbo,
o colote, o cão e o thylacine são parentes entre si, por terem
todos êles os mesmos antepassados.
O thylacine tem outra característica que o apresenta di­
ferente dos canídeos. Na fauna terrestre, há uma ordem
zoológica chamada de marsupiais, à qual pertencem o can­
guru, gambá, wombato e outros. Segundo os transformis­
tas, êste grupo é muito “primitivo” na sua estrutura, tendo
evoluído diretamente dos répteis. O estranho caráter dos
marsupiais é que não desenvolvem seus filhos com o os ma­
míferos, mas o nascimento se dá quando ainda são muito
fracos e imperfeitos, passando por isso a morar dentro da
bôlsa que a mãe possui. O thylacine pertence ao grupo dos
marsupiais; per isso, os evolucionistas afirmam que é des­
cendente mais próximo do canguru que do cão. Pergunta­
mos, pela anatomia comparada, com o pode o thylacine ser
parente próximo do cão e por essa mesma comparação, pa­
rente afastadíssimo do mesmo? Isso é prova de que algu­
ma coisa está errada na anatomia comparada.
3.°) Coelacanto — Julgou-se que o coelacanto era um
longínquo antepassado da escala zoológica do homem, um
elo na cadeia da evolução animal, que pela mutação e adap­
tação teria dado nascimento aos primeiros anfíbios, isto é,
aos animais que deixaram de viver em meio aquático para
internar-se pela terra a dentro, e que terminaram por extin-
guir-se há cinqüenta ou sessenta milhões de anos.
Em 1938, restos de um estranho peixe foram levados
para o Museu do Cairo, onde os examinou o professor
CONVITE A CIÊNCIA 131

.Smith, eminente especialista em peixes fósseis. Apesar do’


mau estado do material, conseguiu identificá-lo com o um
espécime moderno de uma família de peixes que se julgava
extinta, pelo menos há 50 milhões de anos. O doutor Smith
distribuiu uma circular na zona do Canal de Moçambique,
onde o coelacanto teria sido pescado, e na circular prometia
regular recompensa a quem lhe oferecesse outro exemplar
em bom estado. No dia 25 de setembro de 1953, o segundo
exemplar foi capturado nas águas de Comores e entregue
por avião, dentro de uma caixa cheia de sal, em Tananarive,
Madagascar, ao doutor Smith.
Êsse coelacanto nos mostra que, se em 50 milhões de
anos, que é o mínimo que os paleontólogos atribuem à sua
extinção, continua sendo o mesmo peixe, é que nunca houve
essa pretensa evolução que só se baseava na semelhança ex­
terna do coelacanto com o jacaré. Se de fato o coelacanto
extinguiu-se há 50 milhões de anos, com o vieram à vida ês­
ses dois modernos exemplares? Se existem ainda, que p o­
demos concluir? Que nos perdoem os paleontólogos inte­
ressados na fantasia evolucionista; a coisa é clara, o coela
canto sempre foi coelacanto e depois de 50 milhões de anos
continua a sê-lo, pois está escrito que as águas'deviam pro­
duzir “ almas viventes conforme suas espécies” .
4.°) A dissemelhança homem-macaco — Charles Dar­
win, o fundador da teoria, não tinha muita certeza do ver­
dadeiro antepassado do homem. Afirmava que existiram
duas raças de símios, os do velho e os do novo mundo; dos
últimos teria descendido o homem e apresenta o gorila co ­
m o o mais provável antecessor humano. Henry Fairfield Os-
bom , fanático evolucionista até há poucos anos atrás, quan­
do ainda defendia a Evolução, contestou tudo o que Darwin
dizia do símio que dera origem ao homem. Êle diz: “ o ho­
mem não descende de nenhum símio antigo ou moderno,
mas ambos, homem e macaco, surgiram do mesmo tronco
evolucionário nos albores da escala zoológica” .
A razão dêsse moderno proceder com a teoria, separan­
do o homem de qualquer macaco atual, deve-se ao fato de
ser impossível decidir qual dos macacos é nosso ancestral.
O gorila pode ser semelhante ao homem em vários aspectos,
mas não pode ser escolhido com o nosso avô, porque o crâ­
nio humano é liso enquanto o do gorila tem uma aspécie de
crista. O homem tem doze pares de costelas. O gorila tem
13. O chimpanzé tem os braços curtos, mas tem, com o o
132 JÜLIO MINHAN

gorila, 13 pares de costelas. O orangotango tem o crânio


parecido com o do homem, porém, os polegares dos pés
são idênticos aos das mãos, característica que é peculiar a
todos os macacos; por isso, foram chamados de “ quadruma-
nos” .
O pouco que há de comum na forma externa e interna
entre o homem e os outros animais, especialmente os símios,
não pode provar a ascendência simiesca, pois, além de mui­
tas belezas físicas e psíquicas que o diferenciam dos símios,
até a posição contribui para separá-los. A posição vertical
é um privilégio de que nenhum outro animal goza, nem mes­
m o os símios superiores. Só ocasionalmente, alguns ani­
mais tomam a posição erecta. O coelho, pondo-se de pé,
tonteia e morre em 10 minutos. Nos macacos, após 20 mi­
nutos, não só a pressão do sangue cai de 20 a 40 por cento,
mas também se reduz a velocidade do sangue nos membros
inferiores para os superiores e, no cérebro, o eletro-enceló-
grafo acusa ondas de convulsões. Os cães, mesmo amestra­
dos, resistem o que podem à ordem de se porem em pé e
abandonam a posição logo que podem. Só o organismo hu­
mano resiste à lei da gravidade, mantendo no coração uma
circulação de sangue que é algo de maravilhoso.
UMA TEORIA ABSURDA

Nada há na escala zoológica que corresponda à fantasia


evolucionista. A Biologia pura não pode aceitar, nem mes­
mo para estudo, tudo o que os evolucionistas idealizaram,
por absurdo, anticientífico e mesmo indigno do ser huma­
no. O absurdo dos milhões de anos de que se utilizam,,
para arranjar uma escala zoológica que prencha as fanta­
sias, foi demonstrado novamente pelo coelacanto, que ainda
dará muito o que falar. . .
Êsses coelacantos, examinados pelo Dr. Smith, são dois
verdadeiros fantasmas para os ictiólogos materialistas; fan­
tasmas vivos, que durante 50 milhões de anos cruzaram os
mares para desmentir a Evolução. Se êle não evoluiu é
porque nenhum peixe dessa espécie evoluiu e viveu pelos
mares para mostrar-se na ocasião mais propícia ao seu rea­
parecimento. Afirmamos e tornamos a afirmar que o coe­
lacanto sempre foi o que hoje ainda é. Se êle existe é que
veio de pais que têm perpetuado a espécie, desde êsses afas-
tadíssimos 50 milhões de anos. Se êle não evoluiu é por­
que nenhum peixe dessa espécie se transformou em anfíbio.
Sim, o coelacanto sempre foi coelacanto, a baleia sem­
pre foi baleia, o elefante sempre foi elefante, o touro sempre
foi touro — só o homem é que já foi macaco? Se isso não
fôr irreverência, pelo menos é uma perfeita tolice.
“Tolice” foi a palavra que o próprio Darwin usou para
ridicularizar seu contemporâneo Lamarck, pela form a sim­
plista com que explica o longo pescoço da girafa. Leiamos
Lamarck: “ Os remotos ancestrais da girafa tinham pesco­
ço curto, com o os cavalos e as vacas. Uma prolongada sê-
ca torrou tôda a vegetação rasteira. A maior parte das ár­
vores ficou com suas copas sem serem atingidas. Para al­
cançar essas fôlhas, os curtos pescoços esticaram e assim
as girafas conservaram suas vidas. A prole dos pais que en­
134 JÚLIO MINHAN

frentaram a primeira sêca já nasceu com o pescoço im-


perseptivelmente mais longo. Nova sêca com os mesmos
resultados para a vegetação e se prolongou com a conse­
qüente luta para atingir as fôlhas mais próximas. A nova
geração tinha o pescoço um tanto maior. Assim, após ca­
da sêca, a prole crescia com o pescoço sempre maior, os
pescoços cresciam sempre, após cada sêca novo crescimen-
to, até o estado atual” .
Isto lido assim, às pressas, dá uma idéia de realidade e
satisfaz aos menos exigentes ou aos interessados nessas fan­
tasias. Não é necessário ser cientista para achar as falhas
dessa “filosofia” . Mais de uma pergunta pode ser feita pa­
ra confundir a fantasia de Lamarck. Por que os outros ani­
mais não obtiveram pescoços do mesmo tamanho, uma vez
* que enfrentaram as mesmas condições? Será que os outros
animais não habitavam essas áreas de sêca? Emigraram os
outros para zonas de melhores pastos? Se êles emigraram,
por que as primeiras girafas não os acompanharam? Como
é que entre uma sêca e outra os pescoços não voltaram ao
tamanho antigo? Atualmente a girafa se alimenta também
de capim e por que não retrai o pescoço que a obriga a abrir
as pernas para alcançar crpasto? A tudo isso, no livro “ He-
redity and Evolution” , às págs. 115, Darwin respondeu: —
“ Deus me livre de acreditar na tolice de Lamarck” . Que
Êle nos ajude a compreender que a girafa foi criada assim,
com o pescoço longo, e com êle sua prole continua, obede­
cendo a ordem de que “ tudo seria segundo a sua espécie” .
Tudo o que temos dito nos prva que a Evolução com o
teoria é muito complicada e totalmente inadequada para ex­
plicar as mil maravilhas que a vida nos apresenta.
A DOUTRINA DA CRIAÇÃO

Para nos dar essa explicação, o criacionismo é muito


simples e científico. Vejamos as vantagens que apresenta:
1.° — A doutrina de tuna Criação especial não é um
mero credo para ser aceito pela fé. Ela se adapta tanto
às faculdades do intelecto com o à lógica. Cada fato da ciên­
cia natural é ampla e logicamente explicado sob o ponto de
vista da Criação. Na prática, requer menos fé na sua apli­
cação do que aceitar tôda a escala da Evolução, vinda de
uma geração espontânea já comprovada impossível.
2.° — Ela não ensina que o homem, hoje, é com o êle
foi criado. Antes, deixa entender que todos os grupos étni­
cos são formas degeneradas daquele primeiro homem que
foi criado do pó da terra à imagem do seu Criador. Como
nos próximos capítulos veremos, as mutações, ou câmbios
no aspecto físico, foram efetuadas e transmitidas conforme
as leis da Genética.

3.° — Não é sinônimo da “ criação especial” ensinada por


alguns na Idade Média e, mais tarde, por biologistas com o
Linneu e Agassiz. Êles formaram uma idéia do que julga­
ram que a Escritura ensinava e queriam adaptar a natureza
a essas idéias. Daí o geocentrismo do nosso sistema e ou­
tros absurdos siderais.
4.° — Ela não exalta o homem para desviar-lhe a mente
do Criador. Começa em Deus e n’Êle continua para auferir
poder e cuidado; assim é, ao mesmo tempo, fonte de inspi­
ração espiritual e de devoção ao Sustentador.
5.° — Não ensina que o homem pode degradar-se por
cruzamentos com as bestas e produzir meias raças huma­
nas. Nem ensina que os símios sejam similares ao homem
nas suas formas por causa dêsses cruzamentos.
136 JÚLIO MINHAN

6.° — Não ensina que a fauna e flora que encontramos


em cavernas foram criadas in situ. Todos os animais ter­
restres foram destruídos pelo dilúvio, com exceção dos que
Noé salvou na Arca. Dêstes a terra foi repovoada.
7.° — A teoria, melhor seria dizer, doutrina da criação,
não ensina que a natureza seja estática. Um homem foi
criado e dêle, como veremos no último capítulo, saíram to
dos os grupos étnicos, povos e tipos que conhecemos. Es­
ta variação deu-se tanto no gênero humano, como no reino
animal e vegetal e ainda continua, porém, sempre dentro da
ordem: "segundo sua espécie”.
Como veremos, todos os processos genéticos, como mu­
tação, segregação, recombinação, mudanças no número de
cromossomos, mudanças no arranjo dos genes e até as in­
seminações artificiais com o fim de criar híbridos, só pro­
duzem tipos, variedades, subespécies sempre dentro das
leis de Mendel. Para entender isto, devemos ter em mente
que a espécie usada pelos genetistas, não é, e até agora não
foi, sinônimo da espécie que o Gênesis reconhece. Os capí­
tulos de Genética, que seguem, nos provarão que tudo foi
criado tal como o conhecemos e tudo continuará nesta Ter­
ra dentro das variações pelos genes permitidas.
CAPÍTULO VII

MISTÉRIOS DESVENDADOS PELA PALEONTOLOGIA

“ A alma do paleontólogo, cansada


de tantas mutações, de tanta fragili­
dade, é facilmente impelida a buscar
um ponto fixo onde descansar; e se
compraz na idéia de um Ser infinito,
que, no meio das mudanças do Mun­
do, não muda.”
Osvaldo Heer.

Antropològicamente nunca saberemos ao certo como


surgiu o homem na Terra, pois, como temos comentado, sem­
pre houve antropólogos, ou naturalistas de tendência evolu­
cionista, que quando não obtinham os documentos fósseis
de que precisavam, os falsificavam. Contudo, a Paleonto­
logia, ciência auxiliar no estudo dos fósseis, tem desvendado
muitos mistérios.

Do Pitecantropo erecto (ou homem-macaco erguido),


considerado como ancestral mais antigo do homem, depois
do ser que gerou igualmente os antropóides, passamos para
o homem de Heidelberg, descoberto, como dissemos, na ci­
dade alemã que tem êsse nome, numa escavação ali reali­
zada. Verificaram os cientistas que o maxilar dêsse tipo hu­
mano ainda era muito proeminente. Os cientistas chega­
ram à conclusão de que êsse tipo de homem deve ter exis­
tido entre um milhão e quinhentos mil anos atrás.
Em seguida ao homem de Heidelberg, veio o homem de
Neandertal, que deve ter vivido sôbre a Terra há cêrca de
cem mil anos atrás.
138 JÜLIO MINHAN

Depois do homem de Neandertal, temos, finalmente, o


homem de Cro-Magnon (localidade francesa, onde foram
descobertos os vestígios dêsse tipo humano), que remonta
(segundo os evolucionistas) a vinte e cinco mil anos atrás.
E, ultimamente, encontrou-se um tipo que se chamou de ro-
desiano, por terem sido descobertos fósseis que o identifi­
caram em terras da Rodésia, África. O tipo rodesiano é se­
melhante ao homem de Neandertal.
Investigações continuam sendo feitas pelos homens de
ciência em busca de fósseis que nos revelem com o realmen­
te foram os nossos antepassados. E nesse ponto, os cien­
tistas já obtiveram ótimos resultados.
A teoria de uniformidade das camadas é, para os geó­
logos, a base para o estudo dos fósseis. Com ela intentam
provar que, entre a manifestação da vida e o aparecimento
do homem, mediaram muitos séculos. Com esta afirmação
não foram mais afortunados do que o tinham sido com as
já mencionadas. O êrro dos etiólogos evolucionistas evi-
dencia-se ao apregoar a todo vento que o homem só apare­
ceu na Terra muitos milhões de anos depois das primeiras
manifestações da vida.
No “ Congresso Universal de Geologia” ideou-se para ca­
da andar uma certa civilização e fósseis característicos.
Aqui também mencionaremos um só fato que permite ver,
se não a má-fé, pelo menos a falta de observação dêsses sá­
bios. Conforme os geólogos materialistas, o plesiossauro
apareceu no Lias, terreno do Juraico inferior, e desapareceu
durante o período. Os fatos não estão muito de acôrdo com
esta hipótese. A verdade é que os restos dêste enorme la­
garto foram achados no Triaico, e em todos os andares do
Juraico e Cretaico. Examinando o mapa geológico, organi­
zado ao bel-prazer dos componentes do Congresso, é muito
fácil provar que os restos do plesiossauro se encontram es­
palhados em nada menos de vinte e dois andares de três
diferentes sistemas. Com esta dificuldade não contavam os
entendidos da evolução e foram obrigados a inventar novos
nomes com os quais pudessem explicar tamanha contra­
dição.
Nisto de inventar nomes, os evolucionistas são verda­
deiros peritos, m étodos que aplicaram não só aos animais,
mas também ao homem, o que no fim lhes resultou em gran­
de confusão. Dizem que os sêres evoluíram desde uma sim-
CONVITE A CIÊNCIA 139

pies e m icroscópica ameba, que depois de subir na escala


geológica tornou-se um elegante símio que poucos anos mais
tarde' se metamorfoseou em um homem inteligente. “ Hou­
ve, aproximadamente, cento e vinte e cinco milhões de espé­
cies sôbre a superfície da terra durante o período que abran­
ge a história da vida orgânica do planêta; e de acôrdo com
Wassmann, a transmutação (evolucionista) de uma espécie
intimamente relacionada com outra imediatamente superior
ou subseqüente, requeria pelo menos mil setecentos câm­
bios ou variações,.comumente chamados elos; por conseguin­
te, temos cento e vinte e cinco milhões de espécies multipli­
cados por mil e setecentas variedades, dando-nos o resulta­
do aterrador de duzentos e doze biliões e quinhentos milhões
de formas definidas de vida, que devem ter existido para
transformar a ameba em hom em ” . Que essa transforma­
ção não é científica., prova-o o fato de o embrião humano so­
mente passar por quatorze períodos de mudança. Estas
poucas mudanças do embrião nos deixam ver claro que a
transmutação das espécies têm quatro abismos intransponí­
veis, porém, os evolucionistas não se detêm por tão pouca
coisa.
Os críticos sabem muito bem, e sempre o souberam, que
nenhum dos símios atuais pode ser pai de um ser tão per­
feito e tão inteligente com o é o homem, e vendo-se diante
de uma derrota fragorosa, antes de dar-se por vencidos, saí­
ram a remexer a Terra à cata de fósseis aos quais foram
dando os mais pom posos nomes, tais com o:
1.°) Propitecos. Anterior ao homem.
2.°) Parapitecos. Quase macaco.
3.°) Aracno-piteco. Macaco-aranha — Ateie.
4.°) Troglodita dawsoni. Pan Vetulos (Tudo maca­
co ?)
5.°) Palaeopitecos. Macaco antigo.
6.°) Sivapitecos. Macaco da índia?
7.°) Pliopitecos. Traços mais numerosos de macaco.
8.°) Hesperopitecos. Homem ocidental.
9.‘ ) Propliopitecos. Anterior ao ser com traços mais
numerosos.
140 JÚLIO MINHAN

10.°) Artropitecos. Macaco americano (Homem-ma-


caco).
11.°) Dryopitecos. Macaco com forma de homem,
12.°) Paleoantropos. Homem antigo.
13.°) Eoantropos. Homem que surge.
14.°) Antropopitecos (Martelet classificou-os em três
categorias). Homem-macaco.
15.°) Troglodita siamês. Uma espécie de homem das
cavernas.
16.°) Sinantropos pequinesis. Homem chinês de Pe­
quim.
17.°) Austrolapitecos. Homem do sul. Macaco aus­
tral.
18.") Pitecântropus erectus. Homem-macaco que anda
em pé.
19.°) H om o appeninus. Braquiocéfalos.
20.°) H om o neanderthalensis. Homem de Neandertal.
21.°) H om o dawsonis. Homem das cavernas.
22.°) Homo nordicus. Homem escandinavo.
23.°) Homo Heidelbergensis. Homem de Heidelberg.

Tudo isto é muito fácil de arquitetar, pois, nomes são


sempre fáceis de com por, o difícil é provar a existência dos
sêres aos quais deram êsses nomes. Os críticos materialis­
tas usaram para o homem o mesmo processo que para o
cavalo. Uma longa lista de nomes pode ser um malabaris­
m o etimológico. Ciência é que não é.
Não será significativo que desde os alvores da história
ninguém tenha visto sair das selvas um animal híbrido, meio
homem e meio macaco, ou macaco-homem? A coisa nos
parece clara, se desde tanto tempo que admitem a existência
do homem, a evolução não conseguiu transformar um símio
em HOMO SAPIENS, é porque nunca o conseguiu! Ou se­
rá que terminou já o período da Evolução? De maneira al­
guma, porque se tudo terminasse já de evoluir, conform e a
teoria, não somente não deviam existir mais símios nas ma­
tas, também não deviam existir as form as inferiores de vida,
tôdas as form as deviam ter alcançado o grau mais elevado
CONVITE À CIÊNCIA 141

na escala geológica. Existindo as formas inferiores, deve­


m os compreender que o processo evolutivo não findou ainda.
Evolução e Eternidade são idéias antagônicas. Se a
matéria é eterna, com o é que não terminou de evoluir desde
a eternidade? Se continua tudo em evolução por que êsses
sábios não nos apresentam a transição de um estado da vi-

Um mamute dissecado tio Museu de Leningrado


da para outro? Simplesmente, não o podem fazer porque
a evolução é menos, muito menos, do que um conto das “ Mil
e uma Noites” .
Tudo o que se diga com respeito à idade dos fósseis é
pura imaginação. Julgavam os materialistas que os fósseis
seriam com o que a chave que lhes abriria a porta a uma fan­
tástica história e, em vez disso, viram-se obrigados a organi­
zar escalas arbitrárias e anticientíficas com o o prova o pro­
fessor Price num dos seus muitos livros “ Enganos das Ida­
des Geológicas” (* ). Como os evolucionistas podem provar
(*) Em jnglês «The Geological Agnes Hoaxs».
142 JÚLIO MINHAN

qual é o fóssil mais antigo, se, as camadas geológicas não


estão de acôrdo com a ordem que lhes pretendem atribuir?
Felizmente, há alguma coisa mais que veio desbaratar os
planos dos evolucionistas e esta coisa é que hoje sabemos
que existem animais que os críticos diziam terem-se extinto
nas primeiras idades geológicas, isto é, há milhões de anos,
o coelacanto “ Latimeria Chalunnae Smith” é um dêles. Em
dezembro de 1952 e no dia 25 de setembro de 1953, dois dês­
ses peixes foram pescados no arquipélago dos Cóm oros e
ambos estão conservados no “ Instituto de Pesquisas de Ma­
dagascar”, em Tanamarive. A ciência afirmava que o coela­
canto extinguira-se há 400 milhões de anos. Como vemos
há espécies extintas, (sempre segundo os evolucionistas),
cujos antepassados vivem no nosso Mundo. A existência
dêsses antepassados de espécies que nos afirmavam estar
extinta, com plicou ainda o problema para êsses geólogos.
“Um espetáculo que sempre causa admiração, é o acha­
do de tubarões e baleias incrustados nas rochas que se en­
contram a sete ou oito mil pés sob o nível do mal, e a trinta
e quarenta milhas de distância da praia mais próxima. Sem
dúvida lá estiveram durante muitíssimo tempo. Mesmo as­
sim, a despeito dêsse assombroso número de anos, seu tes­
temunho é sempre o mesmo: a evolução tem passado por al­
to a sua inumerável descendência, pois que nenhum dêles
tem passado do simples ao com plexo” (* ). Para os parti­
dários da Criação êsses animais provam que nunca houve
transmutação de espécie, tudo se multiplica segundo a or­
dem do Alto que diz: “ Produza a terra animais viventes se­
gundo a sua espécie, animais domésticos, e répteis, e animais
selváticos, segundo a sua espécie. E assim se fêz” .
A descoberta dos cemitérios fossilíferos do Mamute, na
Sibéria (* * ), pôs por terra o pouco que ainda ficava em pé
da teoria materialista, pois acharam-se, nos seus estômagos,
plantas que podem os encontrar nas nossas matas de hoje,
e o elefante imperial viveu, segundo alguns, há 50 mil anos
e em períodos geológicos de flora muito diferente da atual.
Ao pensar nisto, até sem querer, nos vêm à mente as seguin­
tes perguntas: a) Se a ordem dos fósseis é correta, por que
não acompanharam a evolução êsses animais que hoje sabe­

(*) Dr. Rimmer. Ob. cit., pág. 112.


(**) Veja-se Angel Cabrera. «Animales Extinguidos», capítulo
XIII.
CONVITE À CIÊNCIA 143

mos existir e que os evolucionistas criam já extintos? b ) Se


não evoluíram estará completa com o pretendem a cadeia de
Evolução? c ) Por que o mamute, que viveu tantos anos
antes de nós, tem no estômago plantas que podem achar-se
na flora atual? Quão sábias são as palavras de Barrande
ao dizer que, “ enquanto a Astronomia nos expõe os esplen­
dores da Criação na imensidão dos céus, a Paleontologia nos
revela modestamente outras maravilhas não menos admirá­
veis. .. Uma e outra ciência nos narram, pois, a seu modo,
segundo atribuições, o poder e a glória do Criador” (* ).
Numa das nossas muitas viagens fizemos uma experiên­
cia ao cruzar uma selva de várias léguas de extensão e p o­
voada por milhares de símios, que nos deram um grande
susto. Por mais que procurássemos naquela multidão o
nosso avô, não nos foi possível encontrar nada que confir­
masse a paternidade que os evolucionistas nos têm atribuí­
do. Por muito que observássemos, tivemos que nos conven­
cer de que entre tantos milhares de macacos não havia ne­
nhum que tivesse aparência humana. Melhor experiência
que a nossa, fêz o Dr. F. O sbom , diretor do Museu norte-
-americano de História Natural. “ O Dr. Osbom , que até há
pouco era um darwinista convencido, realizou largas e pa­
cientes pesquisas, no deserto de Gobi para encontrar o an-
tropopitecos, problemático antepassado do homem e do ma­
caco. As descobertas que fêz na sua expedição o convence­
ram de que a espécie humana sempre foi diferente da dos
símios. Em nenhuma das descobertas científicas encontrou
característica alguma que possa ser atribuída ao m acaco” .
Isto, com o é natural, causou profunda surprêsa na Inglater­
ra, onde a teoria evolucionista é muito acatada ainda hoje.
Para findar, copiaremos na íntegra, uma nota inserida pelo
tradutor de “ The Wonder B ook” : “ A propósito da descen­
dência simiesca do homem, é conveniente conhecer-se a opi­
nião dos verdadeiros entendidos” . Em livro recente, “ Le
Transformisme”, em que estuda o problema das origens das
espécies, em seu estado atual, diz P. M. Perrier: “ os mais
autorizados sábios são atualmente unânimes — ou quase,
exceção feita do naturalista americano Gregory — em afas­
tar os macacos antropomorfos da ascendência humana” . Ci­
ta ainda o trecho de E. Le Roy, que resume opiniões de au­
tores com o Boule, Joliet, Rivet e outros: “ A idéia duma
relação de descendência direta entre o homem e o m acaco. . .

(*) Joaquim Barrande. Princípio do seu 6.0 volume.


144 JÚLIO MINHAN

não é realmente afirmada por nenhum sábio. Parece hoje


abandonada, se é que alguma vez a admitiram os verdadei­
ros naturalistas. Os grandes macacos antropomorfos não
são antepassados do homem: não passam para êle, em qual­
quer hipótese, de simples primos, mais ou menos afasta­
dos. .. Em resumo, o homem não continua linearmente ne­
nhum macaco conhecido, atual ou fóssil: devemos reconhe­
cer a todos uma origem comum” (*).
Como se isto não fôsse bastante, William Dawson, pre­
sidente da universidade de Mc. Gill, e até há pouco fervoroso
evolucionista, não faz muito que em uma das suas confe­
rências, afirmou o seguinte: “ Não sei nada a respeito da
origem do homem, com exceção do que dizem as escrituras
— que Deus o criou. Não sei nada mais do que isso, não
sei de alguém que saiba mais".
Se ficarmos no ponto de vista evolucionista, teremos de
enfrentar mil e uma perguntas que, com a Evolução, e so­
mente por ela, não poderemos responder. Mesmo sabendo
das dificuldades que teremos de encontrar e para melhor
apresentarmos as falácias de arqueólogos do tipo Dubois,
faremos uma exposição sucinta de alguns dos fósseis que
estão sendo apresentados como ancestrais do homem mo­
derno.

(*) «Maravilhas do Conhecimento Humano». Vol. I, pág. 218.


CAPITULO VIII

LENDAS ANTIGAS

Como em tudo que diz respeito ao desenvolvimento


zoológico, há também muita fantasia na classificação e dis­
tribuição dos diversos grupos étnicos que os antropólogos
deram em chamar de “ raças”. A Abissínia partilha, com o
Extremo Oriente, o privilégio de fornecer à Etnologia singu­
lares monstruosidades. Segundo a lenda, as amazonas do
Preste-João, “ trouxeram uma vez, ao soberano, um exem­
plar de “homem-marinho” que não falava, comia ervas, não.
bebia, tinha o corpo coberto por um couro muito grosso e
rijo, com pés e mãos maiores do que qualquer homem, de
olhos sempre arregalados, que nunca pestanejavam. O
Preste mandou atirá-lo ao rio, onde nadavam muitos homens
e mulheres dessa raça” (Lenda de Gudi, III, pág. 77).
Pero de Covilhã diz ter visto os hércules da Etiópia,
que, segundo êle, eram: gente preta, de cabelos crespos e
curtos, cobriam-se com fôlhas e tinham rabos como cães”.
Sião, a terra dos elefantes brancos, parece o paraíso das
monstruosidades humanas. Hunter conta o caso da exis­
tência de um “homem-peixe”, que, segundo êle, teria três
anos quando o encontrou”. Não andava, nem falava; e;ra
pigmeu e idiota, vivia na água e submergia por espaços in­
críveis”. Com certeza, êste viajante, viu o dugão e com um
pouco de imaginação, transformou-o numa raça de homens
diferentes.
Fernando Mendes, diz ter visto duas tribos de homens
que tinham os pés redondos como cavalos e nas costas uma
giba como a dos camelos.
O escandinavo Gemer, na sua "História dos animais”,
apresenta o “ frade e bispo marinhos”. O primeiro, dizem
146 JÚLIO MINHAN

que foi visto na Noruega e afirmam que o segundo andava


no Báltico, abençoando ou perseguindo os navios. Nada
disto é de admirar. Todos os viajantes, desde Marco Polo
até os jesuítas que catequizaram os nossos selvícolas, conhe­
cendo as dificuldades que ofereciam as grandes viagens no
passado, sentiam-se livres de inventar o que desejassem, na
certeza de que ninguém iria confirmar ou desmentir suas
afirmações. Assim, na “ Crônicas de Vasconcelos”, editada
em 1865, achamos afirmações de jesuítas que mencionam
raças indígenas nunca encontradas, “ uma com o se fôsse de
anões, os “ goiasis” ; outra de gente que nasce com os pés às
avessas, os “ matuijos” e uma terceira de gigantes de 3,20 m
de altura, que eram muito valentes, chamados de “ curia-
quenos” .
Devido a essas e outras lendas mais aceitáveis, na clas­
sificação das raças nunca houve elemntos certos para estu­
do, por isso, nem todos os etnólogos e antropólogos segui­
ram os mesmos métodos no confronto eugênico. Uns im­
pressionaram-se mais com certas características que para
outros nada significavam. A diversidade de m étodos fêz
.com que cada etnólogo desse com o preponderante o grupo
que mais o fascinou, ou até o grupo ao qual êle julgava per­
tencer.
Os índios americanos, segundo a preferência racial,
contavam que quando “ Manitu” fêz o homem do pó da ter­
ra, meteu-o no fôrno para o cozimento. O Grande Espírito
descuidou-se e o homem queimou, saindo o prêto; fêz novo
homem que foi também ao forno e com o foi retirado mui­
to depressa, não atingiu o grau desejado: saiu branco; o
terceiro ficou mais tempo, porém, não o suficiente e saiu
entre cru e cozido, o amarelo; a quarta tentativa recebeu o
devido calor e saiu o homem perfeito, o pele vermelha.
Não sabemos se os índios norte-americanos ensinaram
seus filhos a ver nessa história a perfeição da raça, quando
ainda viviam em tendas, ou se os começaram a ensinar quan­
do viram os brancos fabricando os tijolos para as constru­
ções. Seja com o fôr, a perfeição da côr do tijôlo levou-os
a julgarem'que eram a raça superior e ninguém os conven­
cerá do contrário.
Durville compara as raças às estações e afirma: “ As ra­
ças humanas podem ser comparadas ao ciclo das estações:
a negra representa a primavera; a vermelha, o estio; a bran-
CONVITE À CIÊNCIA

0 BISPO DA ÁGUA
Fantástica imaginação dos marujos anti­
gos, que, segundo êles, andava pelo Báltico
atrapalhando a navegação.
148 JÜLIO MINHAN

ca que já deu a plenitude da sua floração, é o outono; o in­


verno corresponde à raça amarela, que hoje não é mais do
que um reflexo dos seus tempos de esplendor” . Isto esta­
ria bem se só se soubesse da existência de quatro tipos ra­
ciais, mas todos sabemos que, ou faltam estações, ou so­
bram raças, se seguíssemos êste conceito antropológico.

0 FRADE DA ÁGUA
Outra estapatfúrdia imaginação de marujos antigos

Para melhor compreensão dêste grande problema etno­


lógico, encaremos a questão com o ela nos é apresentada pe­
los eugenistas e especialmente pelos antropólogos e veremos
o que afirmam quanto à diversidade das raças humanas, sua
origem e distribuição.
CONVITE A CIÊNCIA 149

Terá um negro africano ou um chinês a mesma origem


que teve o homem branco? Sôbre êste ponto de vista a
Ciência se divide em duas escolas: a dos monogenistas e a-
dos poligenistas. Os poligenistas admitem que desde o pruv
cípio houve numerosas espécies de homens. As diversas es­
pécies por êles admitidas, teriam aparecido independente­
mente, cada qual, nos mesmos pontos geográficos onde as
foi encontrar a História. Os monogenistas sempre acredita­
ram numa única raça. A controvérsia persiste entre ambas
as escolas e talvez nunca finde, mas o fato, o indubitável, é
que o monogenismo teve e continua a ter mais partidários
entre os estudiosos que do problema se ocupam.
Antes de analisarmos o monogenismo, convém que ana­
lisemos primeiro as opiniões a respeito da unidade ou plu­
ralidade da origem dos homens, uma vez que êste problema
pertence à Antropologia, só antropològicamente pode ser en­
carado. É preciso que saibamos até que ponto são merece­
dores de crédito os diversos registros etnográficos e chega­
remos logo à conclusão de quanto é deficiente a classificação
que se faz dos diversos povos.

1
INCERTEZAS ETIMOLÓGICAS

Estamos a ver que o problema das raças é tão complexo


que nem existe acôrdo tácito entre os diversos autores quan­
to à etimologia da palavra — RAÇA. Ela é de origem in­
certa. Tentativas foram feitas para associá-la com o vocá­
bulo checo “ raz” que significa — estampa, impressão; com
o árabe “ ras”, que quer dizer cabeça, origem; ou com o la­
tim “ radix” que se traduz por raiz, alicerce. Talvez a mais
sugestiva, a mais segura seja “ ratio”, que é utilizada para
significar m odo, qualidade, natureza. Pelo menos a palavra
“ ratio” tem sido usada nesse sentido pelos autores clássicos
romanos: — Varrão, Cícero, César e outros.
A palavra raça, em linguagem comum significa tanta coi­
sa, que por fôrça dos seus diversos empregos, leva-nos à in­
certeza e confusão.
O conceito científico de raça, tal com o é aplicado por
muitos etnólogos para uma classificação geral dos diversos
grupos humanos, não é menos confuso. Resumem-no as­
sim: “ grupo humano que se distingue dos outros grupos por
seus traços físicos hereditários, com transmissão dêsses tra­
ços.
Êste conceito colocar-nos-ia diante de uma nova espécie
e todos sabemos que para determinar uma raça, não é sufi­
ciente a transmissão de caracteres físicos, mais ou menos
variáveis, pois que geneticamente não é possível criar uma
nova espécie. Para criar a espécie (que muitos apresentam
com o sinônimo de raça), é preciso o conjunto de todos os
traços que servem para a distinção ou para a identificação.
“Mendes Corrêa, no seu “ Germe e Cultura”, às páginas
14, diz que: “ a raça é um grupo taxinômico dentro da espé­
cie. Uum conjunto de indivíduos procedentes do mesmo
tronco com um e com características comuns dentro da es­
pécie” .
CONVITE A CIÊNCIA 151

Outro afirma que “ é um grande grupo étnico dentro da


humanidade, que se distingue por vários caracteres, entre
êles, a côr da pele” .
Há com o se vê, grande variedade de conceitos, tanto en­
tre os leigos com o entre cientistas. Os cultores da Antro­
pologia procuram estabelecer um conceito preciso do têrmo,
num âmbito puramente histórico-natural, ou etnológico.
Mas não faltam pessoas cultas que alargam o conceito de
raça ao ponto de confundirem o significado desta.
Os eruditos do século X IX , chamaram raça aos celtas,
iberos, germanos e outros grupos da antigüidade que raras
vêzes ofereciam uniformidade de tipo físico. Confundindo
a Antropologia física com a Lingüista, freqüentemente ouvi­
m os os mesmos erros comuns do século passado, ao falar de
raça latina, raça hebraica, raça chinesa. Os próprios antro­
pólogos sentiram a influência de tal predisposição, sendo
certo que a respeito das populações africanas, falàm numa
raça bantu, quando bantu é a designação de um agrupamen­
to lingüístico.
A raça é uma realidade, mas estamos a ver que é muito
difícil separá-la da mistura confusa das populações étnicas.
Considerar vagas ou obscuras as correlações entre a estru­
tura bioétnica que se chama raça e fatos psico-sociais, é le­
gítimo; porém, seria um absurdo negar essa correlação. Em­
bora não consideremos a raça uma entidade zoológica pura­
mente física ou somática, destituída de qualquer correspon­
dência com alguns elementos psico-sociais, nem por isso dei­
xamos de reconhecer que na prática a sua definição assenta
sobretudo (ou quase) em caracteres físico-somáticos, e en­
tre êstes, especialmente nos caracteres m orfológicos e ana­
tômicos. Como dizia Topinard, “ a raça é dêste m odo, um
tipo hereditário” . O desenvolvimento dado, nos últimos
anos, aos estados sôbre a hereditariedade, permitem admi­
tir, para muitos caracteres do grupo humano, que a trans­
missão hereditária dêstes, obedece às leis de Mendel.
As diferentes nuances da côr da pele humana, bem co­
m o todos os outros fatores somáticos, h oje são atribuídos
às leis da hereditariedade do sábio frade suíço. A presen­
ça em climas quentes de membros da nossa raça com pele
escura, desta forma, não pode ser explicada na base de evo­
lução hereditária dos caracteres, adquiridos e originados
através de muitas gerações pelos efeitos do calor escaldan­
152 JÜLIO MINHAN

te do sol sôbre a pele, mas ao fato de que depois do dilúvio


espécimes humanos de pele escura viajaram para o Sul à
procura de terras mais batidas pelo sol, enquanto que os de
pele clara, rumaram para o Norte, onde encontraram climas
mais apropriados à sua côr. Sendo assim devemos com ­
preender que os africanos não são pretos por morarem na
África; antes foram para lá porque já tinham a pele mais es­
cura. H oje essa questão de côr já é controlada cientifica­
mente, e, dentro de poucos anos os homens terão a côr que
desejem.
Três biólogos americanos descobriram que aplicando
hormônios em certas proporções, a pigmentação da pele p o­
de variar do branco nórdico ao negro perfeito do Dahomey.
As experiências foram feitas com três pessoas brancas e
quatro pretas e constatadas por numerosos dermatologistas.
A dosagem dêsses hormônios e do produto da glândula pi-
tuitária a ser aplicada em ambos os casos: de branco para
prêto e vice-versa, é segrêdo mais político do que eugênico.
A possibilidade do contrôle externo da pigmentação não
deve admirar-nos, sabendo com o sabemos que um trata­
mento por hormônios, em doses que a Ciência conhece, já
tem alterado os sexos. Nenhuma destas experiências tem
algo a ver com a Genética. A mudança de sexo é apenas
uma alteração m orfológica que pode ser útil ou não para a
procriação. A verdade é que até agora, todos se provaram
estéreis. A pigmentação mais do que morfológica, já é so­
mática, cremos que não haverá m odificação das células se­
xuais, uma vez que as glândulas dos indivíduos “ cobaias",
continuaram no mesmo ritmo. Os hormônios injetados in­
fluem no soma, mas não influirão no germoplasma; sendo
assim, os genes não poderão transmitir o caráter somático
impôsto de fora. Cremos que de hoje para o futuro, todos
os que se desejem “ pintar” para mais claro ou escuro, de­
verão submeter-se à hormoterapia que a Ciência já conhece.
Os tipos humanos de pele escura, erradamente chamados
“ raças”, vivem em regiões onde o Sol é mais forte e o céu
mais claro; os brancos ou afins, habitam regiões onde os
raios do Sol têm menos intensidade e o céu mais nuvens.
Daqui compreendemos que a raça humana é um mosai­
co de caracteres justapostos, mais ou menos independen­
tes uns aos outros, embora escalonados entre si. A Ciên­
cia admite a existência de fatôres ligados; ligações explica­
das mesmo por sua localização num mesmo crom osom o,
CONVITE A CIÊNCIA 153

mas a idéia de correspondência de raça, com o uma espécie


nova, com o uma unidade homogênea de aspectos harmonio­
samente fundidos entre si, não é reconhecida. A nova es­
pécie humana, na Genética não existe.
Como grupo étnico, o tipo é uma entidade a que por
um processo de abstração e de indução se chega mediante
a elaboração dos resultados estatísticos sôbre as observa­
ções individuais dos caracteres. Êstes seriam (p or um pro­
cesso normal de Biologia) adquiridos independentemente
das diferenças devidas ao sexo, à idade, à saúde ou doença,
à alimentação, ao clima e a outros meios telúricos. Assim,
os caracteres de um povo estão compreendidos entre certos
limites de variação, isto é, estabelecem uma igualdade bio­
lógica perfeita, absoluta, entre indivíduos do mesmo tipo.
ETNOLOGIA ANTIGA E MODERNA

Não há antropólogo, verdadeiramente sincero, que não


insista na distensão, ou separação dos conceitos de raça e
povo. Somente o HOMO SAPIENS corresponde ao estudo
antropológico. Assim, podemos compreender que é total­
mente falsa a idéia de raça latina, japonêsa ou esquimó.
O único documento que temos neste mundo para ex­
plicar as primeiras migrações que deram origem aos diver­
sos povos; o único documento e o de mais antiguidade, é
o capítulo 10.° do Gênesis. Nêle encontramos o relatório
que Moisés nos deixou sôbre a distribuição geográfica dos
descendentes de Noé. Como nas “ Maravilhas da Ciência”
comentamos o assunto em tôdas as minúcias, vamos limi­
tar-nos às provas do que temos dito: que as migrações tive­
ram sua origem na ânsia que cada grupo manifestou na
procura de climas apropriados à pigmentação da prole de
cada família.
Os filhos de Jafet: Gomer, Magog, Madai, Juvam, Tu-
bal, Mesech e Tiras, todos de pele branca, povoavam a Eu­
ropa onde o sol é menos direto; os filhos de Cam, nome
que quer dizer “ queimado”, foram: Cush, Mizraim, Put e
Canaã. Com exceção do último, procuraram as quentes ter­
ras da África ou as áridas regiões da Arábia. Os semitas:
Elam, Assur, Arpachad, Lud e Aram, de pele terrosa, isto
é, um branco indefinido, preferiram povoar a Ásia. Canaã
escolheu o meio geográfico de todos êles.
Sem êste documento, os antropólogos perdem-se num
mar de conjeturas ou metem-se por labirintos de contradi­
ções. Só nos apresentam algo de concreto no paleolítico
superior. Segundo os partidários da Evolução, os fósseis
encontrados neste período já são de homens de tipo moder­
no, não havendo nada que se oponha à sua classificação na
espécie “ H om o sapiens” . Os objetos de sua indústria em
CONVITE À CIÊNCIA 155

pedra ou cerâmica, seus maravilhosos trabalhos sôbre osso


ou marfim, as pinturas, de um realismo ainda não conse­
guido no nosso tempo, que deixaram nas cavernas que lhes
serviam de morada ou templo, o uso que faziam de uma es­
crita figurada, simbólica, que teria dado origem aos hieró­
glifos tão utilizados pelos povos da antiguidade, demons­
traram o grande desenvolvimento cerebral e intelectual dos
homens daquele tempo.
Dos fósseis dêste “ homo sapiens” pré-histórico, os etnó-
grafos teimam em destacar três raças que chamaram de
“ Grimaldi”, “ Cro-Magnon” e “ Chancelade” . A de Grimaldi
ficou estabelecida por dois esqueletos encontrados na “ Grot-
te des Enfants”, no município italiano de Grimaldi, locali­
dade que fica perto de Monton, cidade na fronteira da
França.
Convém que ressaltemos a possível confusão que tanto
antropólogos com o etnógrafos podem fazer com essas des­
cobertas. No mesmo lugar, E. Rivière e outros encontra­
ram, anteriormente às descobertas da raça chamada Grimal­
di, esqueletos de adultos e crianças que foram exumados e
atribuídos à raça de Cro-Magnon. Essas “ duas raças” vi­
veram juntas? Seriam realmente diferentes? Como na
continuação das escavações encontraram mais dois esquele­
tos, um de um homem jovem e outro de um mulher velha,
que apresentavam caracteres de tipo negróide, de cabeça
muito alongada, face larga e curta, e nariz volumoso, bati­
zaram-nos com o sendo de uma raça distinta.
A raça Cro-Magnon, característica da “ idade da rena”
na Europa, recebeu êsse nome porque em 1868, encontra­
ram-se vários esqueletos na localidade de Cro-Magnon, per­
to de Eyzies, França. Três dêsses esqueletos provàvelmen-
te formaram a família mencionada. Dizem que foi uma
raça belíssima, cuja existência foi verificada numa grande
área do território europeu e cujas características são ainda
visíveis nos camponeses da Dordonha e nos habitantes das
ilhas Canárias, (os chamados Guanchos) e na Africa seten­
trional. Apresentava arcadas superciliares pouco desenvol­
vidas, porém mais pronunciadas que as dos crânios euro­
peus atuais, além de outros traços físicos aproximados aos
de hoje.
A de “ Chancelade” surgiu vinte anos mais tarde, em
1888, na Dordonha, perto de Chancelade, França. O famoso
156 JÚLIO MINHAN

anatomista lionês, Prof. Testut, autor da obra “ Anatomia


humana", até agora indispensável em tôda faculdade de me­
dicina, encontrou um esqueleto que foi “ catalogado” com o
sendo do fim da “ Idade da rena” , época que corresponde
ao que se chamou “ Idade pré-histórica magdalenense” , ou
seja, à última fase do período paleolítico europeu. Descre­
vem essa raça com o sendo de baixa estatura, l,50m, o crâ­
nio muito alongada, alto, tinha capacidade cerebral para
1.700cc, e ainda apresentando muitos caracteres comuns às
duas já descritas. Seriam realmente diferentes?
A verdade é que essas três raças apresentam algumas
contradições que é necessário comentar para que fique cla­
ro o método utilizado por etnógrafos e antropólogos polige­
nistas:
1.°) As três entraram na História modeladas em esque­
letos que podiam ser revestidos à vontade do osteólogo que
os estudasse.
2.°) Os traços característicos dessas “ raças” encon­
tram-se ainda hoje pela Europa, África do norte, e especial­
mente nas Canárias, onde há milhares de “ guanchos” que
são a viva imagem dêsses antigos representantes.
3.°) Tinham uma cultura superior à dos fenícios que
também viveram nesses lugares.
4.°) Especialmente a raça “ Chancelade”, tinha aspectos
semelhantes aos esquimós, que, segundo Boule teriam sido
os antepassados da raça. Se a afirmação de Boule é certa,
temos que perguntar: com o foi que dos gelos do Lavrador
ou Groenlândia êsses primitivos esquimós desceram à
França?
Isto é o suficiente para compreendermos que qualquer
divisão que se pretenda fazer entre um tipo e outro, só arbi-
tràriamente pode ser feito, pois cientificamente é dificulta­
do pelos métodos utilizados:
I — Como vimos, os que do assunto tratam, lançam-se
ao estudo sem terem firmado os alicerces do conceito de
raça.
II — As diferenças apresentadas para separar uma raça
de outra, não somente são vagas, mas também propositada­
mente misturadas. O que é mais curioso é que essas “ dife­
CONVITE A CIÊNCIA 157

renças” não existem, pois todos os tipos as apresentam mais


ou menos pronunciadas.
III — Realmente não há conhecimento completo quan­
to ao número e origem dessas “ raças” . Cada etnólogo dá o
número que quer e as classifica com o quer.
IV — A localização geográfica de cada raça nunca foi
bem definida uma vez que tôdas estão misturadas.
Querendo salvar êstes obstáculos, o célebre Linneu nos
apresenta quatro variedades:

CONTRA FATOS NÃO HÁ ARGUMENTOS


Quojbro esqueletos de símios comparados com o do homem,
como vemos, nenhum dêsses símios pode ser considerado
antecessor daquele. O arcabouço é totalmente diferente.
Nenhum antropóide pode andar de pé, erecto. 0 homem é
criação especial.
158 JÚLIO MINHAN

A ) Baça americana, que descreve com o sendo verme­


lha, erecta, de cabelos lisos e grossos, narinas largas, com
sardas e imberbe. Raça teimosa, alegre e livre; regendo-se
por costumes.
B ) Raça européia de côr branca, sanguínea, musculo­
sa, cabelo louro e ondulado, olhos azuis, versátil, industrio-
sa; regendo-se por leis.
C) Raça asiática de côr citrina, melancólica, rígida, ca­
belos e olhos escuros, severa, faustosa, veste-se de roupas
folgadas e rege-se por opiniões.
D) Raça africana de pele negra, fleugmática, cabelo»
negros e crespos, pele aveludada, lábios avultados (muitas
das mulheres desta raça têm avental de vênus e seios col-
gantes): á raça hostil, preguiçosa, negligente e rege-se p elo
arbítrio.
Como vemos, o grande Linneu descreveu admiravelmen­
te êsses quatro tipos. O que êle não esperava, era que êsses
tipos estivessem misturados tanto nos seus traços, bem co­
m o na distribuição geográfica. Por estas dificuldades, Blu-
menbach, menciona cinco.
A primeira seria a caucásica, mais ou menos branca, de:
faces coradas, cabelo com prido, flexível, castanho passando
a louro.
A segunda é a mongólica, em geral trigueira, pouco ca­
belo, rígido e prêto, pômulos salientes e de índole esquiva..
A etiópica seria a terceira, de côr mais ou menos preta,,
cabelo negro, crespo; mandíbulas proeminentes, lábios avul­
tados e nariz chato. Todos sabemos que a Abissínia é uma
verdadeira colcha de retalhos étnicos e não é fácil saber-se
a que tipo Blumenbach se referia. Ao parecer, misturou-os
todos, pois, os verdadeiros etíopes nem são negros, nem
têm cabelos crespos, lábios avultados nem nariz chato. To­
do tipo corresponde ao branco com exceção da côr escura.
Em quarto lugar descreve sucinta, mas quase acertada-
mente a raça americana, de côr de canela, cabelo negro e-
liso, de complexão rígida, de rosto largo, mas não chato.
Aparece em último a raça malaia de côr parda, com
tonalidades para o castanho-escuro, cabelo forte, prêto e on­
dulado, de nariz e bôca grande.
CONVITE A CIÊNCIA 159

Como a juízo de muitos, o antropólogo Blumenbach não


atingira seu objetivo, surgiram outras classificações.
Ehrenreich menciona as raças: — causcásica, mediterrânea,
africano-negrita, mongólico-asiática, americana, malaio-poli-
nésia, australiana, papua e pretos asiáticos.
Disto podemos compreender que, com idéias preconce­
bidas, tanto etnográfica com o antropològicamente é impos­
sível uma classificação exata do que essas ciências chamam
“ raças” .
Há quem afirme que os índios americanos constituem
um ramo da raça asiática, outros afirmam o contrário, isto
é, que foi da América que se povoou a Ásia. Quem terá
razão?
Muitos etnólogos aceitam outra fascinante teoria: a de
que tôdas as raças se originaram na lendária “ Atlântida” .
Dali teriam partido inicialmente duas sub-raças — os tol-
tecas, que povoaram a América e os turânios que se fixaram
na Asia dando origem aos semitas primitivos, ou com o ou­
tros chamam, proto-ários, de cuja fusão com o sub-raças ata-
lantes, surgiu a indo-européia, ou ária.
Como a “ Atlântida” e “ Lemúria” estão saindo da lenda
para converterem-se em centros altamente civilizados, que
após uma tremenda guerra atômica teriam povoado os pla-
nêtas Marte e Vênus, de onde estão querendo voltar pilo­
tando os não menos misterioros discos-voadores, vamos
analisar alguns tópicos históricos e etnográficos atribuídos a
êsses dois hipotéticos continentes.
As lendas dos povos antigos, e tôda a literatura arcaica
dos próprios gregos, referem-se a um continente que teria
existido entre a Europa e a América. As ilhas da Madeira,
Açores e até muitas do mar das Caraibas seriam restos dês­
se continente que foi tragado pelas águas após um form i
dando cataclismo.
Convenhamos que em tôrno da “ Atlântida” escreveu-se
muito, muitas hipóteses humanas foram elaboradas, muitos
argumentos têm sido utilizados para explicar a origem de
tôda a nossa História. O que é positivo, é que êsse conti­
nente extinto ainda não foi localizado. Os discos-voadores
estão dando nova fôrça à lenda que talvez dentro de pouco
deixe de sê-lo. Desvendaremos êsse mistério? É muito
provável!
160 JÜLIO MINHAN

Se a “ Atlântida” existiu, pode muito bem ter-se irra­


diado, uma vez que estava justamente entre a América e
Europa. Nenhuma razão explicaria seu isolamento e tam­
bém nada se opunha a que seus habitantes emigrassem pa­
ra tôda a Terra.
A lenda diz que seu povo chegou ao apogeu da civiliza­
ção humana. Agora, muitos elevam essa civilização ao su­
perlativo atribuindo a destruição de ambos os continentes
— “ Atlântida” e “ Lemúria” — a uma guerra atômica. “ Le-
múria” que teria perdido a guerra, emigrou para Marte nos
discos que estariam utilizando para voltar.
Se os povos de ontem que não tinham uma quarta par­
te do apogeu que gozamos, puderam varar os oceanos e fun­
dar colônias para expandir seu poder, é lógico crer que os
“ lemurianos” e “ atalantes”, com a civilização que lhes em­
prestamos, tenham podido fundar colônias por tôda a Terra.
A História apresenta tôdas as migrações marchando
do Oriente para Ocidente. Êsse “ fenôm eno” é com um na
antiguidade das civilizações; por isso sabemos das lutas do
Egito, Grécia, Cartago e Roma procurando sair do Mediter­
râneo pela rota do Sol.
Na Grécia as lendas foram guardadas com tôda a fide­
lidade até o tempo das Olimpíadas, comemorava-se nas fes­
tas públicas a vitória Atena, contra os guerreiros de Atlas.
É possível que a com emoração de uma batalha entre os se­
nhores da terra, os ciclopes, e os invasores atalantes, tivesse
caráter lendário e que nessa lenda a vitória sorrisse aos
criadores da mesma — os gregos — ; porém, pode ser his­
tória pura.
Os egípcios, que primaram pela pureza da tradição eso­
térica, que entre êles sempre teve cunho de verdade, guar­
dam intacta a lenda da “ Atlântida” . Os sacerdotes chega­
ram a contar que uma princesa atalante emigrara para o
Egito e que, obrigada por questões políticas do seu reino,
terminou casando-se no Egito, país que passou a colônia
atalante.
A civilização que nos descreve a História do Egito,
apresenta-nos tôda uma série de monumentos que hoje re­
presentam o único patrimônio para o estudo dêsse povo.
Penetrando pelo passado egípcio, antes das primeiras di­
nastias, encontraremos na planície a Esfinge talhada em
CONVITE X CIfiNCIA 161

pedra, com o símbolo apropriado do mistério da “ Atlân­


tida” e do período pré-histórico egípcio.
A Esfinge é considerada com o o mais velho monumen­
to que se conhece na Terra. Tão velha é, que a História
nem lhe conhece, nem lhe fixa nenhuma idade. Ninguém
lhe sabe do princípio e ninguém sabe com o surgiu. Crêem
alguns arqueólogos que seja prova da conquista atlante por
êsse lado, fato que teve lugar após o povoamento das Amé­
ricas.
É difícil provar a existência da Atlântida e mais difícil
ainda é provar que dêsse misterioso continente tenham saí­
do os diversos grupos étnicos que hoje conhecemos.
O que não podem os negar são as diversas referências
que antigos escritores fazem a ambos os continentes: Atlân­
tida e Lémúria.
Aelian, na sua obra “ Vária História”, refere-se a Theo-
pompus, que lhe teria contado uma entrevista que tivera
com o rei da Frigia e Sileno. Êste último lhe teria afirmado
a existência de um grande continente maior do que a Asia.
Prochus cita um extrato de antigo autor que menciona a
existência de grandes ilhas além das Colunas de Hércules
(estreito de Gibraltar) e cujos habitantes falavam de um
continente chamado Atlântis. Marcelus fala de sete ilhas
do Atlântico (Madeira e Açores?) e cujos habitantes conser­
vavam a lembrança de outra ilha enorme, a “ Atlântida” que
durante muitos anos exercera domínio sôbre as menores.
Diodoro da Sicília conta com o os fenícios descobriram essa
grande ilha, situada no Atlântico, além das Colunas de Hér­
cules. Platão no seu “ Timeu”, menciona o continente iso­
lado, o "Atlanticus” . Nesse livro, Platão fala de uma enor­
me potência guerreira que das margens do Atlântico se pre­
cipitou sôbre a Europa e Asia. Comentando suas possibili­
dades, assim as descreve: “ Eram providos de tudo quanto
em sua cidade consideravam necessário e útil às exigências
da vida. Em verdade eram aprovisionados de muitas coi­
sas pelas regiões estrangeiras, porque seu império era mui­
to vasto; entretanto, sua ilha fornecia-lhes a maior parte dos
objetos de que tinham necessidade, com o os minerais em es­
tado sólido ou líquido, entre êstes o ouricalco (seria urâ­
n io?) que se encontrava em muitos lugares da ilha e era
considerado inferior apenas ao ouro. “ Os gauleses tinham
tradições sôbre a “ Atlântida” ; tradições que foram reuni­
162 JÚLIO MINHAN

das pelo historiador romano, Timógenes. Os toltecas do


México, fazem remontar sua origem até um país que êles
chamavam de “ Atlan” e os astecas se diziam descendentes
de “ Atzlan” .
Estudos geológicos modernos, provam que em épocas
antiquíssimas, entre o atual Gôlfo do México e o da Guiné,
existia um grande continente. Seria a “ Atlântida” mencio­
nada por Homero?
Sacerdotes brahamanes dizem que a civilização do nos­
so planêta teve início há cinqüenta mil anos e com a raça
vermelha no continente austral, que corresponderia à Le-
múria. "Atalantes” e “ lemurianos”, perseguidos por cata­
clismos que acabaram destruindo ambos os continentes,
transferiram-se para as Américas.

Tudo isso com o literatura pode ser muito fascinante,


mas etnogràficamente não com porta um exame em regra.
Geólogos da envergadura de um Peter W. Lund, afirmam
que o planalto brasileiro, especialmente parte do Estado
de Minas, foi a primeira região terrestre que emergiu do
imenso oceano logo no início da form ação do mundo. Êste
fato tiraria a primazia à “ Lemúria” e à “ Atlântida” .
Tôdas estas e muitas outras riquezas folclóricas que
correm mundo com respeito à “ Atlântida”, é impossível que
não tenham por base uma verdade étnica que ainda não de­
ciframos completamente. Tradições tão semelhantes em
parte, agora, tão afastadas umas das outras, não podem ser
explicadas com o simples coincidências. Mas, a nosso ver,
não quer dizer que êsse desaparecido continente, a “ Atlân­
tida”, fôsse realmente o berço da humanidade por enten­
dermos que, se o fôsse, mil e uma coisas seriam diferentes
no nosso mundo. Tôda a história deveria ser revista e talvez
até a própria religião e todos os povos.
A Paleontologia moderna, pelas últimas descobertas fei­
tas na África, tende a demonstrar que aquêle continente foi,
não sòmente um auxílio para a fauna antiga, mas também
e principalmente um centro importante de origem, evolu­
ção e dispersão, onde grupos conspícuos, com o os elefantes,
manatins, textugos, certos artioláctilos, os primatas supe­
riores e provavelmente o próprio homem, em diversas épo­
cas da história terrestre, teriam irradiação para o resto do
continente, dali para Europa e mais recentemente da Euro­
CONVITE A CIÊNCIA 163

pa teriam irradiado para as Américas, via ex-istmo de Be-


ring.
Oútros paleontólogos crêem que a América do Norte
também foi um grande centro de origem e dispersão de gru­
pos de mamíferos superiores inclusive o homem. Das Amé­
ricas, as form as primitivas teriam transposto o Estreito de
Bering para povoar o Velho Continente. Depois de muitos
anos, já aperfeiçoados, voltaram às terras de origém.
O assunto fascina tanto a antropólogos com o a etnólo­
gos. Historiadores há, que admitem, que antes de Colombo,
outros navegadores estiveram na América mantendo inter­
câmbio comercial com os habitantes destas terras. Hoje,
sabemos com certeza que quinhentos anos antes de Colombo,
Leif Eriksonn, navegador norueguês, fôra levado às costas
americanas por um tremendo temporal. Séculos depois, os
conquistadores europeus encontraram no Novo Mundo, vá­
rios povos, alguns ainda selvagens, outros já com uma civi­
lização notável, com o os astecas no México, os incas no Pe­
ru e os maias no Iucatan. Porém, o fato de que Eriksonn
e outros, que os tenham precedido ou sucedido, tivessem
encontrado as Américas povoadas, nada elucida quanto à
origem dêsses povos.
Um fato notável com respeito aos aborígenes da Amé­
rica, e que é para os etnólogos um enigma permanente, é a
grande diversidade de côres e tonalidades que se encontra­
ram entre êles. Desde a côr branca das tribos de Menomi-
nea, de Dakota, de Manda e de Zuni, cujo maior parte tem
os cabelos castanhos-claros e olhos azuis, até a côr escura,
quase negra, dos Karos do Kansas e das tribos extintas da
Califórnia: as tribos indígenas apresentam tôdas as nuan-
ces: vermelho, moreno, cobre, oliva, amarelo, amarelo-claro
e bronze. Como vemos, a variedade de pigmentos não pode
ser explicada pelas pretensas migrações “ atalantes” . A di­
versidade de côres é o maior problema étnico das Amé­
ricas.
A realidade da existência dêsses habitantes da América,
constitui um mistério em tôrno do qual há muitas outras
teses. Seriam êsses povos descendentes dos mongóis, ou
dos habitantes das ilhas da Oceania? Teria sido a América
o berço da humanidade? Foi-o a .“ Atlântida” ou “ Lemúria?”
Nenhuma dessas teorias tem base verdadeiramente históri­
ca e muito menos étnica, mesmo assim, não faltam antropó­
logos que as defendam.
164 JÚLIO MINHAN

A verdade é que na época dos descobrimentos, encontra­


ram-se pelo menos dois grupos étnicos: um, que deram em
chamar de vermelho, cuja existência remonta a milênios;
outro, resultante do cruzamento com a “ raça” branca. A
maioria dêsses nativos americanos, tinha a pele de côr de
cobre, às vêzes côr de canela; num dêsses tipos os olhos são
oblíquos com o entre os mongóis e no outro, horizontais co ­
m o nos europeus.
Estamos a ver que, para chegar a.uma conclusão exata
na classificação do que chamam “ raça”, é mister conhecer
os movimentos migratórios dos antigos povos e desvendar
mil e um segredos da pré-história.
CONCEITO DE RAÇA

Se pelos traços físicos temos o perigo de confundir um


povo com outro, mais anticientífico será misturá-los, ou se­
pará-los geogràficamente. As regiões de distribuição dos
diversos povos éticos, são tão grandes que o tipo, ou, com o
erradamente chamamos, “ RAÇA”, logo deixa ver que não
representa uma unidade diferente, antes entendemos que é
uma população que se reproduz inteiramente ao acaso, o que
eqüivale a dizer que nessa população qualquer indivíduo tem
as mesmas possibilidades de reproduzir-se com qualquer
outro indivíduo do sèxo oposto.
Estamos abusando da palavra raça e já vimos até que
ponto a palavra é mal empregada, tanto em livros de Ciên­
cia, com o no ensino universitário, e conferências de caráter
étnico ou antropológico. Êste abuso da palavra tem causa­
do confusão e muita ambigüidade quanto à sua verdadeira
significação.
Para um biologista, o conceito de raça é muito simples.
Pode definir a raça com o uma população que difere na in­
cidência em certo número de genes. Tôdas as dificuldades
que, no passado, ocorreram em biologia quanto ao concei­
to raça, foram devidas ao mau hábito que alguns biólogos
têm de pensar em têrmos da “ teoria do sangue”, em lugar
de argumentar na teoria dos genes hereditários. Para nós
o conceito de raça será claro se somente nos lembrarmos,
com o temos dito, que a herança é transmitida, não por san­
gue que se mistura, mas por genes imiscíveis e que a raça
não é um indivíduo, nem mesmo um grupo dêles arbitra­
riamente escolhidos. A raça é uma população, cujos com ­
ponentes se reproduzem e trocam genes entre si.
É evidente que a raça existe, porém mister se faz com ­
preender o que significa uma raça. A situação das raças é
perfeitamente clara e sem ambigüidades quando as descre-
166 JÚLIO MINHAN

vemos em têrmos da freqüência de genes ou na estrutura


de crom ossom os das várias populações. O mal é que raras
vêzes são descritas desta form a e ainda dentro da Etnogra-
fia, não o poderão ser por um tempo difícil de precisar por
falta de informações seguras.
O conceito clássico de raça, isto é, o conceito que nos
tem sido transmitido quando se fala de um certo povo, foi
criado no século X V III, e para o mesmo fim prático que
na Botânica e Zoologia nos obrigou a criar a espécie e pôr
assim um pouco de ordem na mistura e aglomeração re­
presentada pelas diversas formas dos sêres vivos que en­
contramos em tôda parte. Neste sentido, espécie e raça,
são sinônimos. Os que idearam êstes dois conceitos, não
podiam saber que entre “ raça” com o variante e espécie c o ­
m o unidade, há uma profunda diferença genética: as raças
trocam genes entre si, enquanto que as espécies não o po­
dem fazer. Na ignorância desta diferença genética, zoólo­
gos, botânicos, etnógrafos e antropólogos desandaram a des­
crever espécies e raças com o “ tipos ideais” . Êste método é
perfeitamente aceitável com o orientação preliminar na di­
versificação dos animais, plantas e homens. Toma-se po­
rém, prejudicial quando se o quer converter num fetiche, is­
to é, num dogma científico, com o fim de edificar o que ne­
nhuma ciência ensina, fato que ocorreu com a Evolução e
que já se está manifestando com a Relatividade.
Disputas a respeito de se saber se há ou não uma raça
nórdica, portuguêsa ou guarani, são completamente ridí­
culas e anticientíficas. Se pudéssemos compreender que
“ raça é uma população que difere no número de crom osso­
m os e concentração de alguns genes” , desde êsse momento
poderíamos admitir que, não só populações de países dife­
rentes, mas, ainda, populações de aldeias vizinhas podem ser
racialmente distintas quando consideradas pelo conceito ra­
cial estabelecido. Mesmo assim, não podemos considerar
um indivíduo isolado com o pertencente à raça francesa, ita­
liana ou brasileira, exceto se nos basearmos na língua por
êle falada.
Diante dessa situação, que fizeram os antropólogos?
Criaram de maneira bastante arbitrária tipos que raramen­
te são encontrados, seja onde fôr e os denominaram "raças
puras”, enquanto que o resto da humanidade recebeu a hon­
ra pouco desejável de ser intermediária para criar êsses
tipos puros.

I
CONVITE A CIÊNCIA 167

Para os etnólogos, um homem de pele clara, cabelo


louro e olhos azuis, é “ dolicocéfalo” (a largura do crânio tem
quatró quintos de seu com prim ento); outro homem, baixo,
de cabelos pretos e pele escura, é braquicéfalo (com cabeça
oval), que tanto poderia morar nos Alpes, com o nas costas
européias ou africanas do Mediterrâneo.
Será correto classificar as raças pela língua que seus
componentes falam? Poderemos fazer essa distinção pelo
vestuário que utiliza? Influirá nisso a região onde moram?
A alimentação que usam? A cultura que têm, ou os costu­
mes e leis por que se regem? Tudo isso é absurdo, confuso
e contrário à tôda a lógica.
A raça só se pode definir pelo intercâmbio de genes en­
tre si. Qualquer outro conceito será errôneo.
Se se procurar o conceito racial na distribuição geo­
gráfica dos diversos povos, a balbúrdia será muito maior e o
número de raças ameaçará tomar-se interminável.
Antes de Eriksonn, a América estava povoada pelas
duas variedades do Norte e do Sul, que temos mencionado
e cüja unidade de tipo se mantém ainda. Hoje, a América,
em grande parte é dos indo-europeus germanos, saxões ao
Norte, íbero-latinos ao Sul.
Tôda a África é negra ou cafre, com exceção das mar­
gens do mar Vermelho, que se chamam “ núbios” , internan-
do-se pelo Egito e Sudão até às costas do Mediterrâneo, on­
de não há tipo especial.
A Oceania tem um fundo papua ou negrito laivo, com
camadas de sangue malaio-polinésio e traços recentes de ca­
racteres saxônicos.
Na Ásia, os turcos, irradiando da Tartária, intemaram-
-se pela Europa, pela África e alastraram-se até o Pólo Nor­
te. A língua de Constantinopla estendeu-se até o Sena, ao
passo que a raça caucásica, comprimida em pequeno espaço,
fala mais de uma dúzia de línguas, reciprocamente ininte­
ligíveis.
Podemos ver que as áreas etnográficas são várias e de
extensão muito variável., No Canadá e norte dos Estados
Unidos, a área "algoquin” mede-se por graus de latitude,
já no Alabama tem que ser medida em milhas. Na Amé­
rica do Sul, uma língua, o guarani, cobria a metade do Con-
JÚLIO MINHAN

tlnente. Na Africa, desde o equador até o Cabo, tudo é


bantu, ao passo que entre o Gâmbia e o Gabão, a “ raça”
negra fala mais de vinte línguas.
As diferenças das populações limítrofes, com o o cafre
junto ao hotentote, o norueguês ao lapônio, e o pele verme­
lha ao esquimó, aumentam ainda mais o mistério etnográ­
fico. Essas variações e convívio das diversas áreas geográ­
ficas, podem ser um valioso documento para estudo das
migrações do passado ou mesmo de algumas conquistas, mas
não o são para o estudo etnográfico.
O isolamento de alguns povos, com o os turcos na Sibé­
ria, dos iroques entre os algoquins, dos magiares que são
filandeses, entre os eslavos, é outro documento para o estu­
do histórico, que provará que êsses povos resistiram às con­
quistas e não se misturaram nas diversas migrações que os
envolveram, resistindo, por seus costumes, ou mesmo cren-*
ças, a tôda tentativa de assimilação.
A ÚNICA RAÇA

Tudo prova que a humanidade é uma raça só, embora


dividida em vários grupos étnicos. Cultura, língua, hábi­
tos, civilização e especialmente a tendência religiosa de to­
dos os povos, tiveram origem numa fonte comum, onde to­
dos saciaram a sua sêde.
Nada surpreendeu tanto os aventureiros espanhóis, no
México e no Peru, do que a extraordinária semelhança das
crenças religiosas, ritos e emblemas do antigo mundo, com
aquelas que encontraram estabelecidos no novo. O culto da
cruz entre os indígenas e a presença dêstes emblemas nos
edifícios religiosos e nas cerimônias, era para êles objetos
de espanto; e, com efeito, em parte alguma, nem mesmo
nas índias e no Egito, êste sím bolo era tido em mais pro­
funda veneração do que entre as tribos primitivas do con­
tinente americano. No Ocidente com o no Oriente, a cruz
era o símbolo da vida — algumas vêzes da vida física e mais
freqüentemente, da vida espiritual, eterna.
Do mesmo m odo, nos dois hemisférios, o culto solar e
o da serpente, eram universais. O que é mais surpreen­
dente, é a semelhança do vocábulo que significa Deus nas
línguas principais do leste a oeste. O sânscrito dizia
“Dyaus”, o grego “ Theos”, os célticos “ Thyah” que tem afi­
nidades com o egípcio “ Tau”, o hebreu “ Iah” e o mexicano
“ Tho” .- Os romanos diziam “ Deus” e dali a palavra passou
para as línguas latinas com tôdas as suas letras e todo o
seu significado.

O materialista Haeckel e a teosofista Annie Bessant,


crêem que as tradições religiosas dos ários, dos semitas, dos
amarelos e dos primitivos americanos tiveram sua origem
na “ Atlântida”, e esta, por sua vez recebeu-as da “ Lemúria” .
Nós não podem os crer ainda nesses dois lendários continen­
tes, mas cremos e defendemos o ponto de vista monoteístico,
170 JÚLIO MINHAN

de que todos somos componentes de uma grande e única


família.
Vemos que os poligenistas enveredaram por mil cami­
nhos e por isso a Antropologia pouco conseguiu de prático
na classificação dos diversos tipos étnicos. — A pluralidade
das raças humanas não corresponde à realidade antropoló­
gica e menos genética: O convívio ou isolamento geográ­
fico, a semelhança entre todos os tipos, bem como o cruza­
mento eugênico entre si, são provas completas de que exis­
te e que sempre existiu uma única raça humana.
Por estas considerações os monogenistas afirmam que ’
tôdas as variedades atuais devem ser catalogadas sob o ró-
tudo geral de HOMO SAPIENS, que teria descendido de um
tipo ancestral único.
O homem povoou a Terra, por suas migrações após o
dilúvio. Os meios telúricos, o clima, interesses, a língua e
até a simpatia entre um grupo e outro que surgiram após a
balbúrdia da construção da Tôrre de Babel, bem como as
facilidades ou penúrias de vida nos lugares onde se fixaram,
foram modificando o tipo único, com outras características
externas, fato que levou a muitos julgarem raças novas os
tipos modificados, quando são, apenas, meras expressões
geográficas sem nenhum valor genético. “ A côr da epider-
me não reflete a alma do homem” . E embora os tipos hu­
manos variem com o clima, a humanidade, genèticamente, é
indivisível. O que chamamos “ raças” por causa da côr, ou
outros caracteres são variedades naturais dessa única espé­
cie. Tôdas pensam, sentem as mesmas dores físicas, os mes­
mo prazeres, são idênticas na sua estrutura anatômica e
estão aptas a se reproduzirem entre si. Tôdas descendem
de dois sêres que saíram perfeitos das mãos do Criador.
Antropològicamente, o problema das “ raças", é muito
complexo e confuso, por isso mesmo impossível de ser solu­
cionado pela teoria da pluralidade das raças. Havendo, co­
mo há, uma única raça humana que teve origem num tron­
co comum, tudo que se pretenda fazer para separar os di­
versos grupos étnicos como espécies separadas, redundará
em completo fracasso.
Os monogenistas têm razão. O Gênesis e a Ciência
confirmam a existência de um só casal, do qual todos somos
descendentes.
CONVITE A CIÊNCIA 171

A afirmação monogenista: “ que todos somos filhos dos


mesmos pais”, obriga a formular várias perguntas que pre­
cisam ser respondidas. Se na verdade os povos são varie­
dades de uma raça única iniciada com Adão e Eva, temos
«que encarar três problemas.
Onde se originou a humanidade?
Como se povoou o mundo?
A que se devem as diversas côres?
Os etnólogos poligenistas não podem chegar a um acôr-
do quanto ao lugar que foi o berço de todos os homens. Não
podem concordar pelo fato de que cada um exalta o grupo
étnico que mais o atraiu. Deixamos claro que, levados por
essa preferência, uns apontam a América, outros a África,
ou nunca bem definidos continentes de “Lemúria” e "Atlân­
tida”. Os monogenistas não têm dificuldade alguma, é só
:aceitar o testemunho da História. Nas suas páginas, tanto
eclesiásticas como profanas, achamos que os primeiros ho­
mens surgiram ao norte da Ásia, isto é, na grande planície
da região banhada pelos rios Tigris e Eufrates; região que
por isso recebeu o nome grego de Mesopotâmia, que signi­
fica “ entre rios” . Pelos primeiros movimentos migratórios
•que nosso mundo presenciou, podemos afirmar que o norte
•da Ásia foi o berço de todos nós e que dali, como Moisés
relata, a raça espalhou-se por todo o Mundo.
Já apresentamos as diversas migrações do reino animal
e deixamos claro que algumas foram possíveis pela ligação
que deve ter existido entre os continentes. Se olharmos o
mapa, veremos -que recortando os continentes, encaixam
perfeitamente um no outro. Estando a terra unida, nada
impedia que os descendentes de Noé se movimentassem de
jmaneira a povoá-la.
Com êsses movimentos concordam todos os historiado­
res e etnógrafos da antigüidade, bem como a maioria dos
modernos.
Ptolomeu, Heródoto e outros referem-se às populações
antigas e mencionam uma “ raça ária” que, tendo-se origi­
nado na Bactriana, emigrou para a índia, donde teria expul­
sado os aborígenes. Mais tarde transferiu-se para a Euro­
p a e terminou por deixar-se assimilar pelos nativos.
172 JÚLIO MINHAN

Todos os etnógrafos modernos afirmam que os ários fo­


ram as primeiras populações da Europa e Asia, que deram
origem à família hindo-européia. Chegaram a essas con­
clusões através de estudos lingüísticos que apresentam as
analogias existentes entre o sânscrito e o grego, o latim, o
alemão e o céltico. Por estas analogias, os ários foram
classificados em sete grupos lingüísticos europeus e três
asiáticos. Os primeiros são: hebraico, itálico, teutônico,
cóltico, lituano-céltico e o albanês; os grupos asiáticos se­
riam indiano, irânico e armênico. Por esta classificação,
vemos fàcilmente que não há “ raça ariana”, apenas diversos
grupos que se diferenciam pela língua.
A terra unida, como expõe Wegener, explica as possibi­
lidades das migrações que da Ásia partiram para povoar a
América e ao mesmo tempo aclara tôdas as semelhanças
étnicas, lingüísticas, religiosas e das várias civilizações, sem
precisarmos buscar uma “ Atlântida” ou “ Lemúria” per­
didas.
Reparando bem no mapa, veremos que nas mesmas la­
titudes encontramos repetidas as mesmas civilizações. As
pirâmides, embora em escala menor, estão reproduzidas pe­
los astecas e maias. A verdade é que a Pirâmide aparece
em ambos os lados do Atlântico, como um dos mais antigos
monumentos religiosos. A identidade das formas das pirâ­
mides do Egito, do México e da América Central, é muito
parecida para ser mera coincidência. “ Cholula” foi com­
parado aos grupos de Dachur, do Sakara e a pirâmide de
Meidoum. Tôdas são exatas na sua orientação, sua estru­
tura, as galerias e câmaras interiores. Êsses monumentos
misteriosos, do leste e oeste, testemunham uma fonte co­
mum, em que, aquêles que os elevaram, tomaram a idéia de
seus planos.
A iluminação dos seus templos, pinturas, indústria têx­
til e, como veremos, o idioma egípcio podem ser encontra­
dos em alguma tribo americana. Os imponentes vestígios
das cidades e templos do México e Iucatã, assemelham-se
extremamente com os do Egito. As ruínas de Teotihucan
têm sido freqüentemente comparadas às de Karnak.
Por essas coincidências na arte, indústria e língua, toma
vulto dia a dia a crença de que os habitantes primitivos das
Américas são ramos de antigos povos orientais. Embora
CONVITE
À
CIÊNCIA
173

Construção de índios p ele-v erm elh a


174 JÚLIO MINHAN

espalhados na vastidão das Américas, êsses diversos povos,


mantinham uma ligação entre si, quer na linguagem, quer
nos costumes que já denotavam uma origem comum.
É surpreendente a semelhança que podem os encontrar
entre as várias tribos americanas e os egípcios. Os barcos
de guerra dos caraíbas assemelham-se às naus representa­
das nos desenhos encontrados em Tebas. A “ falsa mura­
lha" (camada de pedras horizontais), das quais, cada um a
excede ligeiramente à precedente, é a mesma na América
Central, e nas antigas construções etruscas. A escultura e
as decorações dos templos da América, do Egito e da índia
têm muito de semelhante, e muitas das decorações murais
são perfeitamente idênticas. As espadas de bronze desco­
bertas nas escavações feitas nas cidades do velho Egito, têm
formato idêntico à “ tangapema” dos caraíbas.
Muito mais notável ainda é a semelhança entre algu­
mas palavras egípcias e guaranis: “ Thebas” e “ taba”, signi­
ficando aldeia; “ ur” e “ uru” = rei; “ ra” e “ cra” = sol. As
palavras “ tai” (filh o), “ peca” (abertura), “ ta” (andar), “ he-
ta” (perfurar) e “ teca” (ver), são idênticas no idioma egíp­
cio e guarani. A sílaba “ ba”, unida pelos guaranis ao nome
das árvores, em egípcio significa árvore. O sufixo em am­
bos os idiomas, determina grandeza.
Os fenícios, sem dúvida, foram os primeiros povos d o
hemisfério oriental que empregaram o alfabeto fonético. É
curioso constatar-se que em época igualmente remota, en­
contramos um alfabeto fonético na América, entre os maias.
Plageon, grande autoridade no assunto escreveu: “ Um têr-
ço da língua maia é puro grego” . Quem foi que levou o
dialeto de Homero à América? ou quem foi que trouxe para
a Grécia a linguagem dos maias? Seriam ambos contempo­
râneos?
Essas coincidências de linguagem entre os diversos p o­
vos separados por léguas de oceano, e entre os quais, desde
os tempos históricos, parecia não poder existir qualquer re­
lação possível, testemunha a favor de uma origem comum,
isto é, de uma só raça que teria ocupado um mesmo conti­
nente.
O padre Bobadilha, interrogando um grande número de
caciques, julgou pelas lendas recolhidas que a colonização
guarani ter-se-ia dado pelo Pacífico. Entre os caraíbas ou­
CONVITE A CIÊNCIA 175

viu lendas que mencionaram povos do Oriente e que seriam


seus antepassados. Bertino, na sua “ Civilização guarani”
admite que brancos da antigüidade pré-histórica alcançaram
terras americanas, o que explicaria a semelhança existente
entre os povos do Haiti e das Canárias com os caraíbas,
bem com o o perfil semítico de várias tribos sul-americanas.
Estudando as ruínas das antigas civilizações america­
nas, os pesquisadores chegaram à conclusão de que os incas
iluminavam seus templos com uma luz brilhante e intensa,
cuja obtenção é hoje desconhecida. Trabalhavam vários
metais, obtendo ligas que desafiam tôda a nossa metalurgia.
Utilizavam um método de liqüefazer o granito, com o de­
monstram as portas dos templos que eram tôdas de granito
fundido. Os espelhos usados pelos antigos peruanos, eram
fabricados de pirita sulfúrica, minério de fácil polimento. A
arte têxtil entre vários povos americanos atingira uma gran­
de perfeição, especialmente nos estampados, pois, tecidos
com quase quinhentos anos conservam a perfeição de côr,
insensíveis à ação do tempo e dos raios solares.
Tudo isso prova que o mundo pré-histórico viu flores­
cer uma alta civilização, que conhecemos por uma série de
mistérios impenetráveis e inimitáveis. Êsses conhecimentos
quase que comuns a todos os povos antigos, só se explicam
com o tendo irradiado de um centro, conduzidos a tôda par­
te por migrações que dêsse centro partiram.
A união dos continentes facilitou o cumprimento da or­
dem que nossos pais receberam logo após terem sido cria­
dos: “ Frutificai e multiplicai-vos e enchei a terra”, tinha di­
to o Criador. Para cumprir essa ordem, consciente ou in­
conscientemente, os grupos étnicos espalharam-se por tôdas
as latitudes e longitudes. Se o mundo estivesse dividido
com o atualmente, isto seria difícil de conseguir, salvo se
tivessem meios de condução que ainda desconhecemos.
Tudo nos leva a crer que a Terra foi, uma extensão
contínua, unida, e pela cronologia bíblica, sabemos que essa
ligação durou pelo menos 1.700 anos.
Por motivos que a nossa ciência ignora, quando o Cons­
trutor do Cosmos viu que a população se tornava muito
densa no centro por Êle escolhido, separou os atuais conti­
nentes 1.757 anos após o período histórico que Moisés nos
relata. A Terra deve ter suportado um formidando terre­
176 JÚLIO MINHAN

m oto que a dividiu e nessa separação continental, isolaram-


■se os primeiros grupos étnicos. Moisés no seu laconismo,
registra êsse cataclismo sem o mencionar. Comentando o
nascimento de Peleg, diz no versículo 25.° do capítulo 10.°,
que: “ a Eber nasceram dois filhos: o nome de um foi Peleg
porque nos seus dias se dividiu a terra” . Sendo, com o de­
viam ser, poucos os habitantes do mundo quando se deu o
acontecimento, não podem os admitir que essa divisão da
terrra se refira a uma partilha de latifúndios. O nome que
foi dado ao menino, indica bem a que acontecimento se re­
fere. PELEG significa divisão e vem da raiz “ PHARES” ,
palavra a que muitos tradutores lhe dão o significado de
rotura, brecha.
Por um tremendo terremoto, o único continente que
existia rompeu-se e abriu brechas entre si, dando lugar aos
que hoje conhecemos e possivelmente terá afetado Lemúria
e Atlântida que terminaram por desaparecer num reajus-
tamento geofísico que nos permite a estabilidade atual.
No dia 13 de fevereiro dêste ano, a “ United Press”
transmitiu a seguinte notícia: “ Cientistas da Universidade
de Colúmbia confirmaram recentemente, a existência de
uma fenda submarina de 73 mil quilômetros ininterruptos
de extensão na crosta da Terra. Disseram que a fenda —
de 32 quilômetros de largura e 2.500 de profundidade — tal­
vez auxilie na determinação da origem das principais carac­
terísticas da superfície da Terra e das mutações que se têm
verificado na história geológica. O Dr. Maurice Ewing, di­
retor do Observatório Geológico de Lamont, uma divisão
da Universidade, disse que “ a linha central da fenda, de âm­
bito mundial, estende-se através do norte e do sul do Atânti-
co, dobra o sul da África, para penetrar no Oceano Índico e
ramifica-se pelo mar da Arábia, fazendo conexão com os fa­
m osos vales africanos de há muito estudados pelos geólo­
gos. O outro ramal passa pelo Antártico e a Nova Zelân­
dia, correndo na direção das ilhas Macquarie até o oceano
Pacífico, onde se ramifica novamente perto da ilha da Pás­
coa. O ramal norte prossegue na direção do Gôlfo da Cali­
fórnia. O sistema de fendas vai também do Cabo de Men-
docino até o Alaska. Há também sinais de uma conexão
através do mar da Noruega e do oceano Ártico” .
Tudo isso a “ United Press” recebeu dos geólogos do
Observatório Geológico de Lamont, na Universidade de Co-
CONVITE A CIÊNCIA 177

lúmbia na América do Norte, após uma série de estudos que


se prolongaram por cinco anos e que acabam de chegar a
conclusões sensacionais.
Êsses resultados, que se tornaram conhecidos através
do professor já mencionado, demonstraram a existência, na
crosta terrestre, de uma falha de 32 quilômetros de largura,
profundidade de 2.500 quilômetros e 73.000 de comprimen­
to. Assinalou êsse cientista que a cartografa Sra. Marie
Tharp notara que os pontos mais profundos do oceano
Atlântico formavam centro geométrico de faixa sísmica.

A com provação da existência dessa faixa no Atlântico,


Índico e Pacífico norte vem confirmar a teoria formulada
em 1921 pelo geólogo Alfredo Wegener. Segundo essa teo-

A Esfinge de Gizeh

ria, os continentes teriam existido em um só bloco e temos


de concordar que essa teoria seduz e ao mesmo tempo ex­
plica o paralelismo do encaixe dos contornos continentais
da América do Sul e da África e em grau menor em outros
continentes.
Essa teoria apoiada por Taylor e Koepe teve larga re­
percussão. H oje alguns a combatem, mas, todos sabemos
que não existe teoria geológica que não tenha seus oponen­
178 JÜLIO MINHAN

tes, especialmente se ela é de tipo criacionista. Se não es­


tiveram unidos os continentes, que significam os contornos
que agora com as fendas se provam de origem sísmica?
Isso não seria nenhum impossível, pois, a História re­
gistra que no ano 927 a. D., durante uma erupção do vulcão
de Monte Kloet, em Java, dividiu a Indonésia, que antes da
erupção era uma terra contínua e hoje form a nove ilhas di­
ferentes. Essa divisão já dura 1.030 anos!
Para provarmos a tese que entendemos da ruptura dos
continentes, ocasionada por um formidando terremoto, co ­
m o a História não o registra, só temos Moisés com o única
autoridade. Essas fendas de 73.000 quilômetros provam
que os continentes foram separados. A Terra estêve unida
e essa união facilitou tôdas as migrações.
Falta-nos falar da côr e já vimos que a Ciência começa
a garantir que cada um terá a que deseje. Dentro de pou­
co, êste nosso mundo pode ser uma colossal “ tinturaria
eugênica” que tornará o conjunto mais atraente, ou terri­
velmente monótono. Deixando essa possibilidade para oca­
sião mais oportuna, perguntamos: O que chamamos de ra­
ça amarela ou vermelha, são realmente dessas côres? O
índio norte-americano “ pele vermelha” quando muito tem a
côr de canela; o vermelho era proveniente de uma mistura
gordurosa que usavam para evitar os mosquitos e outros
insetos. Os “ amarelos” são de um branco-terroso que em
alguns grupos étnicos atinge uma palidez que se aproxima
do amarelo-claro. Na verdade, há só duas côres no gênero
humano — o branco e o negro. Do branco-leitoso dos tipos
nórdicos, a raça passa pelo pálido, canela, moreno, escuro
até atingir o negro perfeito.
Já explicamos que CAM quer dizer “ queimado” e na ob ­
tenção dessa côr não houve processo genético. Um funcio­
namento anormal das glândulas, especialmente da pituitá-
ria, foi o suficiente. Como essa anormalidade teve início?
Cremos que um pavor repentino foi a causa da pigmenta­
ção de Cam para o escuro.
Após o dilúvio, Noé plantou uma vinha. Tendo obtido
grande colheita, não puderam com er as uvas com a pressa
necessária. Como ameaçavam estragar-se, o patriarca ex-
premeu-as, esperando conservar o líquido. Êle não sabia
que ia fermentar criando álcool. Sem saber o que estava
CONVITE A CIÊNCIA 179

sucedendo, após a fermentação, bebeu demais e embriagou-


-se. Sob os efeitos do álcool fêz coisas muito estranhas.
Dois de seus filhos levados pelo respeito paternal, cobriram-
-no. Cam riu-se e zom bou do ébrio patriarca. Moisés n os
informa que quando Noé soube do comportamento do irre­
verente filho, amaldiçoou-o. Esta maldição, possivelmente;
operou psiquicamente em Cam, produzindo-lhe tremendo pa­
vor que, modificando e alterando as secreções internas, ter­
minaram por aumentar a pigmentação. Ao falarmos das
experiências hormoterápicas dos dermatologistas america­
nos, deixamos claro que a pigmentação não seria transmiti-

Um templo vmia

da è no caso de Cam temos que afirmar que o foi. É que em


ambos os casos há uma diferença fundamental. Nas expe­
riências dos sábios americanos, os indivíduos recebiam a
pigmentação do exterior, as suas glândulas continuavam'
nas suas secreções normais e normais continuarão apesar da
diferença de côr, costumes, religião, língua e m odo de vida
que tenhamos.
Além dos fatôres psíquicos, também podem ter influí­
do na rápida pigmentação de Cam, fatôres somáticos que
modificaram os genes para prêto. A melanodermia, diabe­
te brônzea, argirismo ou insuficiência da supra-renal são ma­
180 JÚLIO MINHAN

les que atuam e ocasionam a pigmentação do branco para o


prêto. Isto está hoje perfeitamente comprovado, não só pe­
la descoberta da dose biológica da supra-renal e hipófise que
permite uma maior ou menor pigmentação, mas também
pelo recente caso do soldado inglês, Vitor Albert Wilford,
que, após uma estranha doença, ficou quase prêto, o que
lhe ocasionou vários contratempos: sua mãe desmaiou ao
vê-lo e sua noiva quebrou o compromisso, abandonando-o.
Sôbre êste estranho fenômeno, três dos melhores der-
matologistas da capital foram consultados. O Prof. Pere­
grino Júnior, já falecido, assim se externou: “ Várias doen­
ças podem ocasionar a mudança da côr da pele. A insufi­
ciência da supra-renal, por exemplo, ocasiona a mudança
completa da pigmentação, passando o indivíduo a escurecer
paulatinamente. Êste fenômeno é conhecido como Mal de
Addison” . O Prof. Décio Olinto concorda com seu colega
mencionado e acrescenta: “Duas poderão ser as causas da

Habitação de peles-vermelhas

mudança da pigmentação de pele do indivíduo, de branco


para prêto: deficiência das supra-renais, em que o doente
vai-se tomando escuro, ou uma intoxicação por sais de pra­
ta que se depositam, dando origem ao argirismo” . Por úl­
timo o Prof. João Manso Pereira, opinou: “O fenômeno da
alteração do lobo intermédio da hipófise, talvez seja res­
ponsável por êsse mal. Também pode influir na pigmenta­
ção dos tegumentos a diabete brônzea.
Esta mudança de côr não teve lugar nos tempos quase
pré-históricos de Cam, nem se realizou numa África inós­
pita e misteriosa, mas numa moderna Inglaterra, em 1935.
CONVITE A CIÊNCIA 181

A variedade de tipos que hoje conhecemos é o resul­


tado de pelo menos doze diferentes fatos:

1.° — Grau de iniciativa do grupo étnico.


2.° — Clima da região habitada.
3.° — Espírito inventivo.
4.° — Sistema educativo.
5° — Higiene adotada pelo grupo.
6.° — Moral praticada.
7.° — Alimentação principal.
8.° — Sentido artístico.
9.° — Tendência filosófico-religiosa.
10.° — Costumes sedentários ou nômades.
11.° — Funcionamento grandular das secreções
internas.
12.° — Meios telúricos.
Por êsses fatôres sabemos que os japonêses devem sua
pequena estatura ao uso do arroz como alimento principal.
Analisando os fatôres, o professor Huntington, chefian­
do uma equipe de 49 sábios — antropologistas, etnólogos,
geógrafos e historiadores — realizou profundos estudos sô­
bre a influência que cada um dêles exerceu na civilização,
tendência e pigmentação da pele, chegando à conclusão mo­
saica, de que as migrações do passado, se efetuaram em
função do clima e que êste, aliado aos outros onze fatôres,
deu tôda a variedade de tipos que encontramos hoje.
O único documento autêntico que relata as primeiras
migrações efetuadas neste mundo, antes da separação dos
continentes, como temos dito, é o capítulo décimo do Gêne­
sis. No seu último versículo, Moisés afirma que: “Estas
são as famílias dos filhos de Noé segundo as suas gerações
nas suas nações; e dêstes foram divididas as nações da ter­
ra”, tal como comentamos nas “ Maravilhas da Ciência” .
A História, Antropologia, Etnografia e especialmente a
Bíblia, apoiada na Genética, nos dizem que nunca existiu uma
182 JÜLIO MINHAN

pluralidade de raças humanas. Todos os homens, em tôdas


as latitudes, somos representantes de uma única raça que
enche agora a terra; todos somos variedades da raça que
teve origem no Éden; todos som os irmãos, porque todos
somos filhos de Adão, e Moisés afirma que “ Adão veio de
Deus, criado à sua imagem e semelhança” .
Fundamentados no que nos tem ensinado a História
biológica da Humanidade, poderemos prognosticar qual se­
rá o futuro dos homens? Confiantes na sua evolução psí­
quica podemos ter a esperança de fazermos parte de uma
Humanidade superior, mais inteligente, mais perfeita?
Sob o ponto de vista biológico, com o temos dito, pelo
freio que os genes exercem sôbre a descendência, não houve
e nem podia ter havido mudanças sensíveis. Quando mui­
to, poderíamos notar uma tendência para uma maior redu­
ção dos dentes do siso e para uma braquicefalização cada
vez mais generalizada do grupo étnico branco, com o as ob­
servações antropológicas nos demonstram. Porém, estas
observações são demasiado recentes e por isso não podem
ser aplicadas a todos os indivíduos de um m odo geral.
Quanto ao ponto de vista intelectual muitos e bons es­
píritos depositaram sua confiança no progresso contínuo da
Humanidade e em uma constante melhoria que a guindasse
a uma civilização mais elevada, que seria uma obra de su-
per-homens com o Einstein e os mais que tenham, ou venham
a atingir sua colossal estatura científica, homens que sem­
pre foram objeto dos sonhos de filósofos e poetas. Super-
-homens com uma inteligência capaz e suficientemente pe­
netrante para abrir-nos as portas da quarta dimensão e as­
sim ensinar-nos a mover-nos dentro dela com a mesma ou
maior facilidade com que nos movemos no espaço.
Êsses filósofos sonham com super-homens libertos de
todos os velhos instintos da barbárie primitiva, vivendo só
para o altruísmo e para a paz com todos e para todos, pro­
curando as alegrias do espírito, o culto e o respeito ao amor
e à beleza.

Sem sermos pessimistas, diremos que nos é difícil acre­


ditar nesse estado paradisíaco, pela simples razão de que
o progresso moral não acompanhou o avanço do progresso
intelectual, e, com o todos os instintos da barbárie primiti­
va continuam ainda escondidos sob capa da pragmática
CONVITE À CIÊNCIA 183

social, com o ainda o subconsciente continua a guardar zelo­


samente os monstros que todos nós teimamos em ser para
melhor conseguirmos nossas ambições, é bem difícil profe­
tizar para tôda a Humanidade um estado de ventura que
corresponda em tudo ao maravilhoso progresso científico
que hoje usufruímos.
No campo biológico, o homem é o animal menos mus­
culoso, o menos forte e o menos armado tanto para a defesa
com o para o ataque, mas pelo seu saber é o mais poderoso
de todos: na sua ciência e por ela, obtém a fôrça e armas
que lhe faltam. Tudo lhe é possível porque o seu cérebro,
se não aumentou de tamanho, pelo menos aprendeu a arma­
zenar melhor e mais permanentemente os conhecimentos
que a Ciência e a mãe natureza lhe foram revelando, mas
êsse homem que sonha em visitar pelo menos os astros do
nosso sistema, êsse homem que quer procurar um mundo
perfeito, fora do nosso, em quaisquer partes do Cosmos, pela

Guerreiros das civilizações pré-colombianas

sua deficiência moral, não pensa que se êste nosso mundo é


imperfeito, o é precisamente porque êle o habita e por não
desejar pensar nisso, nem tentou ainda em transformar êste
mundo no Jardim edênico com que sonha e localiza em ou­
tros planêtas, muito embora nem saiba o que por outros
mundos vai encontrar, ao passo que aqui tem tudo de que
necessita para alcançar a realização de seu sonho.
Para que surgisse êsse super-homem era preciso que
aparecesse uma nova linhagem humana, um novo tipo, uma
nova mutação, desta vez, não mais genética, mas psíquica,
contendo um cérebro que poderia não ser mais volumoso,
mas que indubitàvelmente necessita ser mais complexo,
184 JÜLIO MINHAN

cujos efeitos físicos sejam reduzidos e que por isso possa


sintonizar sua mente com a dos espíritos puros que em todo
o Orbe tanto nos querem ajudar, para preparar-nos, preci­
samente, para êsse mundo ideal e feliz que todos procura­
mos.
Antes de conseguirmos isso, é necessário que não es­
queçamos que o homem, tal com o tudo o que forma parte
da natureza, está submetido às leis biológicas e cósmicas já
estudadas, assim com o não devemos esquecer que por seu
saber vai subindo da ignorância onde o encontrou a Histó­
ria, para o plano do saber quasé absoluto, que já em muitos
casos podemos chamar de super-humano e não temos receio
de cometer uma irreverência se lhe dermos o adjetivo de
divino, e, se biologicamente, com o vimos, o homem é um
conjunto harmonioso e maravilhoso, onde tôdas as suas par­
tes coexistem em estado de perfeito equilíbrio, bem pode um
dia, que praza a Deus, não esteja longe, harmonizar sua al­
ma com a corrente espiritual do Universo e entrar em har­
monia perfeita, completa e eterna com as outras criaturas
que devem morar nessa estupenda Amplidão que os teles­
cópios nos revelam e com o Criador que tantas vêzes temos
mencionado ao comentar Suas grandezas. Uma vez assim
harmonizado com tôda a família universal, terá realizado
uma vez por tôdas a sua verdadeira missão na Terra. Nes­
se tempo não necessitará mais de discos-voadores para in­
vadir Marte ou Vênus, pois, tendo atingido o domínio m o­
ral de suas faculdades psíquicas, virá a ser com o qualquer
outro super-homem que viva em qualquer outro astro do
nosso imenso Universo e, com o êle, poderá locomover-se no
tempo, melhor do que agora o faz no espaço.
Tom am os a expressar nosso desejo de que êsse dia da
felicidade humana, não esteja longe, e o tom am os a exter­
nar fundamentados na própria biologia, pois, sabemos que
quando por uma causa qualquer o equilíbrio se rompe, de­
pois de um período mais ou menos longo, segue-se um rea-
justamento geral que quase sempre é fatal para a causa per­
turbadora.
A História biológica e paleontológica afirma que há
muito o homem perturbou profundamente o equilíbrio bio­
lógico e pelas experiências genéticas que realizou e continua
a realizar, o homem quer ainda perturbar mais êsse plano
biológico. Já destruiu a maior parte das espécies dos ani­
mais e transformou totalmente a distribuição de outros.
CONVITE A CISNCIA 185

Embora tenha melhorado a de alguns vegetais, cometeu o


êrro de multiplicar algumas espécies em uma progressão
realmente assustadora, e com isso tem estado a esgotar pro­
gressivamente os recursos naturais que lhe são indispensá­
veis. Tôda a sua vida estêve e continua a estar ligada à con­
quista que empreendeu, correndo o risco de virem a lhe fal­
tar êsses recursos, terminando assim por tomar-se escravo
das suas conquistas.
As conquistas nos conhecimentos biológicos trouxeram-
-lhe um fato bem grave e êste é que por um humanismo que
talvez ultrapasse suas próprias concepções, permitiu a re­
produção de múltiplos indivíduos tarados e totalmente defi­
cientes tanto moral com o fisicamente, e inadaptáveis à vida,
perturbando de um m odo muito acentuado o jôgo da sele­
ção natural que a própria Biologia realiza. Também, por
outro lado, viu reduzir-se a potencialidade da variabilidade
de pequenos grupos étnicos que estão desaparecendo em
benefício dos grupos maiores e mais inteligentes.
Com essa especialização cerebral, o homem trará sôbre
si o desaparecimento da raça ou escapará ao reajustamento
biológico que em breve se efetuará levando a Humanidade
ao pináculo da perfeição? O SUPER-HOMEM e seu MUN­
DO PERFEITO com que tanto sonham os filósofos e poetas,
será um lindo sonho, uma mera ilusão, ou brevemente uma
realidade cristalina?
CAPÍTULO IX

INTERPRETAÇÕES GERAIS E CONCLUSÕES

Vimos que os documentos, que permitiram estabelecer


a existência do homem antes dos períodos chamados histó­
ricos, fundamentam-se apenas nos vestígios da indústria hu­
mana.
As ferramentas encontradas, quer em camadas geoló­
gicas dotadas de sedimentos fluviais ou lacustres, loess, com ­
plexos de solifluxão, quer no entulho que enche as camadas,
estão associadas às faunas fósseis que indicamos.
Os instrumentos usados nas indústrias primitivas po­
dem ser classificados, cronologicamente, com exatidão, mas
temos que recordar que apresentam caracteres m orfológicos
distintos, que, por vêzes, ‘ não permitem estabelecer entre
êles uma classificação tipológica e chegarmos assim a uma
série de indústrias que se possam escalonar no tempo.
Tudo indica que cada uma delas é produto de técnicas
particulares, muitas vêzes até individuais, que não nos au­
torizam a organizar uma cultura para êste ou para aquêle
povo, e tempos que desejemos fixar. Mas, o que não pode­
m os negar é que, no Quaternário, essas indústrias têm sido
aperfeiçoadas de tal form a que já nos indicam uma astúcia
humana (se não podemos classificá-la com o sabedoria), que
levaria o “ H om o sapiens ao progresso que atualmente enca­
ramos. Precisamente por êsse progresso, a constância da
sucessão cronológica destas diversas indústrias, levou os
arqueólogos a errar, considerando-as com o tipos de uma
idade determinada, de m odo que à classificação estratigrá-
fica do Quaternário, tal com o êles a estudam, sobrepõe uma
classificação arqueológica diferente.
Durante a maior parte do Quaternário, os hominídeos
primitivos limitaram-se a talhar a pedra de m odo cada vez
188 JÜLIO MINHAN

mais perfeito. Êste período, que se estende até o fim d o


glacial wurmense, designa-se com o nome de Paleolítico.
Temos a notar que já nesse período os homens trabalhavam
em osso, talhando, polindo e gravando de m odo surpreen­
dente. Como o aperfeiçoamento artístico dos homens dês­
se período não está de acôrdo com o que seus estudiosos
criaram, foram obrigados a dividir êsses períodos em três
épocas: Paleolítico inferior, Paleolítico médio e Paleolítico
superior. Fizeram o mesmo que o astrônomo Ptolomeu,
que quando viu que seus círculos não correspondiam ao que
imaginara, criou novos círculos e o assunto em lugar de acla-
rar-se, ficou mais confuso.
Crêem os arqueólogos que com a retirada dos últimos
glaciais, os instrumentos usados foram mais aperfeiçoados,
os homens aprenderam a polir a pedra, serviram-se do bar­
ro cozido, domesticaram os animais e cultivaram o solo. De­
ram a êste período, que no final confina com as épocas pro-
to-históricas, o nome de Neolítico, em português — da pe­
dra nova. A classificação dos instrumentos e utensílios usa­
dos pelos homens primitivos foi estabelecida, pela primeira
vez, a partir dos materiais e observações recolhidos na Eu­
ropa. Com o tempo, as explorações, que se estenderam a
outras partes do mundo, mostraram que, por tôda a parte,
havia indústrias semelhantes às da Europa. Ora, os antro­
pólogos não acreditam ainda que a civilização se deu por
igúal em tôda a parte, mas a explicam e aplicam a raça
ou tipo que localizam no lugar onde os fósseis foram encon­
trados; logo, se não houve coexistência de tipos, não podia
ter havido semelhança de indústrias, se desejarmos dar a
cada tipo uma indústria particular. Se as indústrias são
semelhantes por tôda a parte onde as estudemos, só uma
coisa pode significar — que a cultura e a imaginação huma­
nas surgiram espontâneas, ao mesmo tempo por tôda a
Terra.
Além do que fica dito, podem os constatar que tôdas as
vêzes em que foi possível a observação de sobreposições, se
sucederam na mesma ordem das européias: as técnicas eram
semelhantes, nas lâminas, assim com o o polimento da pedra
e a fabricação de cerâmica. Como um povo levou ao outro
seus conhecimentos? Não havendo as facilidades das co ­
municações que hoje dispomos, não é fácil sabermos com o
os povos tiveram contacto entre si e entre si trocaram seus
conhecimentos.
CONVITE A CIÊNCIA 189

A verdade é que, com o certas povoações modernas de


regiões isoladas com o a Austrália, Nova Zelândia ou a Nova
Caledônia, fazem ainda uso de utensílios de pedra, pensou-
-se que a semelhança dessas indústrias afastadas não eram
o suficiente para destruir o que se tinha arquitetado com
o aperfeiçoamento dessas indústrias, mas isso é só imagina­
ção, pois, sendo com o são, os aborígenes dêsses países, do
tipo “ Hom o sapiens” , embora embrutecido, a cultura que
foi atribuída aos diversos tipos, não tem razão de ser. Isto
não é só verdade para o Paleolítico, mas também para as
indústrias do neolítico, cuja duração abrange um período
ainda mais curto.
No que diz respeito às indústrias de tipo mais antigo, os
estudos conjugados da Estratigrafia e Paleontologia m os­
tram, pelo contrário, que essas indústrias se repartiram cro­
nologicamente nas formações quaternárias, em tôda a par­
te, do mesmo m odo que as suas correspondentes na Europa,
e que se podia, na opinião de certos pré-historiadores, para-
lelizá-las.
Outro aspecto em que se fêz finca-pé para determinar
, o s diversos tipos de hominídeos foi o vestuário. Os antro­
pólogos apresentam sempre seus tipos com a indumentária
que êles mesmos (os antropólogos) idearam para cobrir a
nudez do hominídeo que nos apresentam. Que isso não é
exato no-lo prova a moda moderna em todo o mundo. Com
tôda a capacidade fabril de que dispomos, matérias-primas
e bons costureiros, ainda há povos refratários à mesma m o­
da e maneiras de vestir. Na África, cada região tem sua
maneira particular de vestir-se; nas ilhas de Fiji, os abo­
rígenes jamais usaram calças. Vestem paletó conform e o
último figurino, mas com saia. As calças os incomodam,
bem com o os sapatos, pois andam sempre descalços. Os ín­
dios da América do Sul vestiram e vestem ainda de mil m o­
dos distintos e os nossos selvícolas, na sua maioria, andam
ainda de tanga e muitas tribos nem a usam. Ora, com o
o s índios americanos, fijianos e negros da África são todos
já do tipo “ H om o sapiens” , segue-se que a questão da in­
dumentária nada significa quanto ao progresso do homem
com o ser.
Como a pintura, escultura, polimento e gravação dos di­
versos objetos e lares, se lares podemos chamar as cavernas
das populações trogloditas, muitos antropólogos desejam
190 JÜLIO MINHAN

arquitetar o mesmo princípio da capacidade intelectual d o


tipo que nos apresentam, mas que seja isso utópico pode­
m os compreendê-lo sem muita filosofia.
O autor teve, entre outros, o privilégio de visitar as ca­
vernas de Altamira na Espanha e algumas outras na Fran­
ça, com o as de Carnac e Trois Frères. Em tôdas elas fica­
mos extasiados com o realismo dos primitivos pintores. Os
animais foram retratados de uma forma tão perfeita, que
custa acreditar que estejamos vivendo no chamado “ Século
das Luzes”, quando temos atingido quase que a perfeição
científica e nas artes temos degenerado a tal ponto que nin­
guém entende o que nossos pintores estampam nas telas,
nem o que nossos escultores talham ou esculpem nos diver­
sos materiais que utilizam.
Se nosso mundo enfrentasse um cataclismo de caráter
universal, e se dêsse desastre alguns homens forem salvos,
com o correr do tempo ficariam perplexos, pois, os novos
arqueólogos, ao achar a horrível pintura e escultura m oder­
nas, julgariam que nos nossos dias viveram homens m uito
atrasados e que os habitantes das cavernas realmente deviam
ter sido os donos da cultura que hoje o mundo tem cienti­
ficamente falando. Nas Artes, está tudo in vertido...
Como vemos, não há indústria humana, nem humano
costume, quanto às tendências de cada tipo que nos permi­
ta por elas e com elas organizar uma escala cronológica da
ascensão do homem. Tudo não passa de imaginação de
cientistas, que bem intencionados, deixam-se levar por da-
' dos incertos, orientação de outros ou mesmo aparências geo­
lógicas.
A maior realização do homem da Antiga Idade da Pe­
dra é a sua arte. A perfeição à qual chegou esta arte é
simplesmente assombrosa, se levarmos em conta a relativa
pobreza de sua civilização em outros aspectos. Também é
notável que no momento em que apareça já apresente um
pleno desenvolvimento. O Paleolítico Inferior parece n ão
ter deixado vestígios de caráter artístico. No período Au­
rignacense aparece o desenho e a pintura de tipo simples, e
apesar de ter sido alcançado a sua plena realização no pe­
ríodo Magdalenense, não deixa de apresentar os fundamen­
tos essenciais de uma arte gráfica de alta ordem já desde
êste período mais remoto.
ú

CONVITE A CIÊNCIA 191

O homem do período do Paleolítico Superior esculpiu


em marfim, em osso e em cornos; gravou ou talhou em su­
perfícies planas e arredondadas do mesmo material; e es­
culpiu e decorou as paredes das cavernas. Às vêzes m ode­
lava o barro e talvez outros materiais não muito consisten­
tes, e é possível que tivesse desenhado ou pintado sôbre pe­
les e superfícies descobertas das rochas; mas somente pode­
m os julgar através dos restos que chegaram até nós. Esta
arte não é uma tentativa infantil para representar objetos
de uma maneira tôsca, nem é um simples jôgo decorativo
com figuras geométricas. Êstes primeiros artistas huma­
nos atiraram-se com audácia na cópia, e apesar de possuí­
rem uma técnica primária, chegaram a um alto grau de
perfeição. Umas tantas pinceladas audazes davam o con-
-tôrno de um animal, mas o conseguiam com tal fidelidade,
que muitas vêzes, apenas à primeira vista se pode reconhe­
cer a espécie do animal desenhado. O povo de Cro-Mag-
non deve ter desenvõlvido um alto poder de concentração
mental para chegar a observar e reproduzir com tanta fi
delidade. É possível que os indivíduos melhor dotados te­
nham praticado assiduamente para alcançar esta maestria.
A arte paleolítica é muito diferente da maioria da arte dos
primitivos modernos. Êstes elaboram muitas vêzes padrões
decorativos de certa complexidade, riqueza e valor estético,
mas quando tentam copiar a natureza, em geral, fracassam
notavelmente. As linhas são tôscas e vacilantes. Qualquer
desenho de uma cabeça, um corpo ou uma cauda, com qua­
tro patas, representam qualquer animal. Mas isto é uma
representação razoável de uma abstração, não o delineamen-
to do que é característico na forma visível. Entre a maior
parte dos primitivos atuais, supõe-se que tanto o observa­
dor com o o pintor sabem de antemão que o traço represen­
ta uma rapôsa e não um urso. Ademais, ajuntam-se alguns
símbolos, com o uma cauda esponjosa para uma rapôsa ou
uma barbatana para uma baleia. Somente em casos muito
raros, as nações não muito adiantadas se separam destas ten­
dências primitivas e aprendem a desenhar as coisas com o
aparecem na realidade. Os antigos egípcios desenvolveram
esta faculdade, e entre os primitivos, os boximanos são bas­
tante fiéis, mas em geral, a arte verdadeiramente realista é
um alcance próprio da alta civilização. Mas êste é um mis­
tério a saber com o foi que o homem de Cro-Magnon do Au­
rignacense conseguiu realizá-lo tão bem.
192 JÜLIO MINHAN

Na escultura, seus primeiros esforços dirigiram-se a


produzir figurinos que na sua maior parte representam o
sexo feminino. A cabeça, as m ãos e os pés, ou faltam ou
estão muito abreviados. No corpo, as partes relacionadas
com a reprodução e a fecundação, em geral estão muito exa­
geradas, mas tratadas ao mesmo tempo com muita maes­
tria. É provável que estas estatuetas tenham servido para
algum culto religioso. De qualquer maneira, as esculturas
em três dimensões representam com freqüência a figura
humana, assim com o os desenhos de duas dimensões, os
gravados e as pinturas, na sua maioria, representam ani­
mais e são muito mais perfeitos que os contornos humanos
No Magdalenense juntou-se à figura humana a escultura de
animais em miniatura.
A característica mais antiga das pinturas e dos desenhos
consiste no êxito de perceber o traço mais saliente. Os pri­
meiros gravados' aurignacenses invariàvelmente estão de
perfil, e em geral mostram somente as duas partes do lado
visível. Com o tempo, os artistas também aprenderam a
sugerir posições e movimentos típicos, com o o movimento
de uma rena que abaixa a cabeça para pastar, a maneira
pela qual um touro enfurecido agita a cauda ou pateia, a
curva escrita pelo extremo da tromba de um elefante. Em
geral, no Magdalenense desenhavam-se as quatro patas do
animal, mas o perfil, apesar de seguir sendo o mais freqüen­
te e característico, já não é o único aspecto que se reproduz.
Encontraram-se algumas pinturas de animais vistos de
frente ou de trás, ou de uma rena com a cabeça voltada pa­
ra trás. Também existem alguns rabiscos que parecem
constituir princípios de uma tentativa de com posição. O
efeito de uma fila de renas se produz desenhando os pri­
meiros com algum detalhe e surgindo depois, os restantes
com o rabisco de seus cornos. No período Magdalenense,
os artistas já não se satisfazem em delinear sempre cada
animal com o uma unidade estática e solitária. Procuram
representar, com certo êxito, os movimentos dos animais
em vida, e talvez combinar vários dêles dentro de um quadro
coerente ou sugerir um conjunto.
Por esta época, também, alcançaram uma grande habili­
dade no manejo das côres. Os artistas do período Aurigna­
cense e do Golutrense se limitavam aos efeitos monocro-
mos. Gravavam ou pintavam e algumas vêzes os acentua­
vam, enchendo-os com pigmento. Mas, os melhores pinto-
CONVITE A CIÊNCIA 193

Tes do Magdalenense — por exemplo, os que deixaram seus


murais sôbre as paredes da famosa gruta de Altamira em
Espanha — empregavam três ou quatro côres por sua vez,
assim com o as misturavam para produzir tons de transição.

Não obstante os animais terem, provavelmente, cons­


tituído o tema de umas quatro-quintas partes dos exempla-

Palafites de indígenas polinésios

res da arte paleolítica, e os sêres humanos a maior parte do


resto, conhecem-se representações de plantas e desenhos de­
corativos irreais. Êstes últimos aparecem especialmente
em fins do período Magdalenense, com o se tratasse de uma
preparação para a arte convencional, não realista, do perío­
do transicional Aziliense e do Neolítico.

Desenhos de homens da caverna

Do livro já publicado “ Filosofia e História da Cultu­


r a ”, de Mário Ferreira dos Santos, reproduzimos as passa­
gens que seguem:
“ Não se pode deixar de considerar no progresso da téc­
nica, o emprêgo de objetos modelados pela natureza, pedras,
conchas, para transformá-los em utensílios e ferramentas e,
194 JÍTL.IO MINHAN

com êles, cavar, partir, martelar, fiar e modelar até as fer­


ramentas, de acôrdo com o que exigiam as necessidades e as
habilidades do artesão.
Acidentes felizes, com o o do fogo e dos alimentos, e pos­
teriormente o do vidro, permitiram transformações im por­
tantes do ambiente material. O uso do ferro meteórico, o
emprêgo de fios cortantes, que têm certas conchas, são des­
cobertas humanas.
A linha de desenvolvimento da civilização humana en­
contra-se nos vales, aproveitando os caminhos naturais dos
rios ou à beira do mar. O trabalho nas minas é um dos mais
primitivos e tècnicamente ainda em nossos dias é realizado
por meios primitivos.
Só ultimamente tem êle tido um desenvolvimento téc­
nico elevado em alguns países.
A necessidade de alimentar obrigou o homem a caçar,
perseguir a caça, golpeá-la, firmar o olhar, ser hábil na
construção de armadilhas, invadir, assim, na perseguição
dos animais, as regiões de outros e com êles ter conflitos
constantes.
Nas selvas, aprendeu a tom ar ôcas as árvores e trans­
formá-las em canoas, inventou o arco e a flecha, o mais efi­
caz dos instrumentos primitivos, inventou os dispositivos
para fazer o fogo, cortou as árvores, inventou a roda. Ao
derrubar as árvores, deixou cair sementes no chão e com
elas descobriu a agricultura. Nos campos criou cabras e as
vacas, e inventou as formas primitivas do fuso e do tear.
A ordem e a segurança das civilizações agrícola e da
pastoril representam o progresso mais importante observa­
do no período neolítico. A estabilidade procurada permitiu
que surgisse a vivenda, a comunidade permanente, uma vida
de cooperação econômica e social. Posteriormente surgem
os mercados, o intercâmbio.
Êsses elementos da cultura primitiva nunca estão num
equilíbrio completo. É o lavrador e o pastor que ocupam
as posições mais importantes, e é a agricultura que oferece
as modalidades principais da vida, tanto na religião com o
nos conhecimentos da época.
As culturas de lavradores sofriam com os ataques vo­
razes dos caçadores e pastôres, que dilatavam seus territó-
Um 'primitivo polindo uma pedra
196 JírLIO MINHAN

rios de caça, e em fases mais adiantadas começaram a exi­


gir tributos e a exercer o domínio sôbre tribos inteiras.
Três culturas têm continuidade na história: as culturas
pacíficas da tndia e a da China e a cultura urbana dos
judeus.
As formas predominantemente militares foram sempre
autodestruidoras.
A Europa é a região dos caçadores, e de conquistadores
de homens.
A primeira ferramenta eficiente parece ter sido uma
pedra tomada pela m ão humana e transformada em martelo.
O sílex era comum no norte da Europa. Ao partir-se,
form a fios cortantes e, por isso, foi aproveitado para fer­
ramenta. Com a ajuda do co m o de rena e pedras, extraía
do minério o sílex e, com o tempo, o martelo alcançou sua
form a perfeita atual, no fim do período neolítico.
Oferece a indústria mineira, desde os tempos primitivos,
grandes sugestões para a form ação das idéias humanas, mas
tais aspectos que ultrapassam o âmbito dêste livro, não p o­
derão ser examinados aqui.
O trabalho nas minas é o mais penoso que se conhece.
Os riscos são freqüentes, os desastres quatro vêzes mais
numerosos que os de qualquer outra profissão. O mineiro
vive num mundo estranho, de umidade, sombras, falta de
ar, perigos. Não tem côres, luz diurna, formas, mas apenas
matéria bruta, informe, terrivelmente a mesma.
Em suas fases primitivas procurava o imprevisto, a fo r­
tuna que poderia surgir de um momento para outro ou a
maior parte das vêzes o malôgro. As gerações de mineiros
formaram uma psicologia tôda especial. Com as descober­
tas de uma maquinaria complicada de bombear água, venti­
lar a mina, com o aproveitamento da energia hidráulica pa­
ra acionar os grandes fom os, tomou-se necessário o emprê­
go de capital que não possuíam os primeiros trabalhadores.
Desta forma, grandes capitais particulares começaram
a ser aplicados na indústria da mineração oferecido por pa­
trões que não tomavam parte no trabalho, os quais, com o
decorrer do tempo, foram apropriando-se plenamente da
propriedade da mina e transformando os antigos patrões
trabalhadores em meros assalariados.
CONVITE A CIÊNCIA 197

No século XV, dá-se na Europa um grande desenvolvi­


mento da indústria mineira que, desde então, prosseguiu em
ascensão. E agudizou a luta de classes. O desenvolvimen­
to da indústria mineira atraiu o emprêgo de grandes capi­
tais, graças aos lucros fabulosos que oferecia, levando tam­
bém a conquista de outros territórios para explorarem as
jazidas minerais, provocando guerras de conquista. Se
considerarmos que a mineração é a base das guerras moder­
nas e que para manter os seus exércitos necessitam de no­
vas jazidas de mineral, vemos que os ciclos das guerras m o­
dernas é um verdadeiro círculo vicioso: precisa minas para
fazer a guerra e faz guerras para ter as minas.

Trabalhadores hindus aproveitam a fôrça dos elefantes

E com o a guerra é um consumo completo, porque é um


consumo total, é ela antieconômica e tem custado mais ma­
les à humanidade do que benefícios aportou, tanto para ven­
cidos com o para os vencedores. Tomamos aqui a humani­
dade num sentido amplo, não só a humanidade de uma de­
terminada época, com o aquela que a sucederá.
Nas guerras os homens empregaram esforços combina­
dos e reservas que, se fôssem utilizadas para benefício da
humanidade, não para a sua destruição, outro seria o pano­
rama da vida.
198 JÚLIO MINHAN

Embora seja uma verdade tão simples, não é facilmente


compreendida nem aceita; por um lado, pela influência dos
interêsses criados e, por outro, porque, dizem alguns, a
guerra estimula a criação de novos inventos. Um estudo,
porém, consciencioso, nos mostrará que grandes inventos
não foram criados propriamente por causa da guerra, mas
sim guardados para ela, para os momentos oportunos, por
aquêles que tinham interêsses diretos naquela.
O mineiro primitivo trabalhava para enriquecer, e o seu
espírito impregnou o capitalismo e, assim com o êste, sua
concepção do valor é também meramente quantitativa.
Entretanto, a conquista do ambiente por meio de má­
quinas, se deve à ação do madereiro. A madeira se presta
à manipulação e foi por isso o elemento que exerceu mais
influência, e tom ou-se a matéria-prima por excelência da
produção. O aproveitamento da madeira e das condições
oferecidas pelas árvores serviu para os empregos mais di­
versos. Por ser um material dúctil, por se prestar a uma
grande variedade técnica, foi possível construir, não só ins­
trumentos de trabalho, mas também casas, pontes primiti­
vas, defesas, estacas e combustível, permitindo, assim, que
êle desenvolvesse a sua técnica e aproveitasse ainda mais
as pedras e os metais. Os tom os foram feitos de madeira” .

# $ $

E prossegue:
“ Grande é o papel da pilhagem na história. A pilha­
gem foi um dos meios de poupar trabalho e a guerra permi­
tiu obter mulheres, obter poder, sem o uso da inteligência.
Ante estas possibilidades, o caçador, à proporção que se
desenvolvia, transformou-se em conquistador sistemático à
procura de escravos, pilhagem, poder, terminando por fun­
dar um estado político com o m onopólio do poder.
O desenvolvimento da guerra foi dando, aos poucos,
uma superioridade ao soldado, e pelo progresso técnico, a
sua capacidade de matar foi aumentada. Dos povos agríco­
las e pastôres, não cavaleiros, em geral pacíficos, desejosos
de cooperação amistosa, saíram os grandes pregadores da
paz e ajuda mútua, com o Moisés, Confúcio, Jesus, etc.
O desenvolvimento da guerra forçava um desenvolvi­
mento da técnica e esta, por seu turno, a própria guerra.
CONVITE A CIÊNCIA 199

O s primeiros altos fornos construídos na Europa foram des­


tinados às fundições e à manufatura de material de guerra.
A primeira grande indústria organizada foi precisamente a
da guerra. Como a guerra e o exército são consumidores
puros e oferecem maiores lucros às indústrias, com o vemos
exemplos extraordinários na História, levam à construção
das grandes fábricas de armas, realizadas por Colbert na
França, as de Gustavo Adolfo na Suécia, e as de Pedro o
Grande, na Rússia, onde uma única fábrica empregava qua­
se 7.000 trabalhadores. Pode-se dizer que a primeira produ­
ção em série, organizada tècnicamente, deu-se na fábrica de
material de guerra.
Isto vem salientar o valor da pilhagem com o fator da
História, por oferecer ela a aquisição de uma soma maior de
bens à custa de outros, com um menor emprêgo de esforços.

Embarcação de negros africanos

Se nos recordarmos que Luís X IV 'tinha um exército


de 100 mil soldados, e que o exército é um grande consumi­
dor, cujo consumo não é produtivo, podem os imaginar que
procura extraordinária de mercadorias estandardizadas êle
exigia.
As necessidades individuais dos gostos eram postos de
lado para atingir-se a uniformização, o que tinha fatalmente
que levar à criação de uma indústria em série, já que o exér­
cito é um consumidor ideal, que tende a reduzir a zero o
produto, e sendo todo-poderoso em suas exigências, as quais
200 JÜLIO MINHAN

são destruídas mais ràpidamente que na vida pacífica, fo i


êle, por seu imenso desgaste, o estímulo da indústria m o­
derna.
Se observarmos também a psicologia do militar, se con­
siderarmos as abstenções e as cruezas bestiais dos cam pos
de batalha, os excessos praticados após as vitórias ou as
batalhas, a exacerbação do erótico, o gasto descontrolado,
o luxo, tudo isso tinha de provocar uma ampliação da pro­
dução. Num campo de batalha não se fazem restrições ao
consumo. No decorrer da Idade Média os senhores feudais
e os grandes chefes militares procuraram, por todos os;
meios aumentar o seu poder à custa dos outros. Tal prática
levou os imperadores a centralizar o poder num poder su­
perior, decorrendo daí a form ação das côrtes. Estas, pe­
la necessidade da magnificência, capaz de impressionar aos
menores, foram levadas ao uso de um luxo desmedido. Os
que se deixaram arrastar por êsse plano inclinado do luxo,
acabaram por gastar mais do que podiam, terminando por
comprometerem seus bens junto aos grandes banqueiros e
mercadores, de quem obtinham empréstimos, acabando p o r
se empobrecerem.
A conseqüência foi a decadência da classe dominante e
o domínio econôm ico de uma nova classe detentora do ca­
pital que, no século X V III, já senhora do campo econômico,,
tornou-se finalmente senhora do campo político, cujo sím­
bolo é a grande Revolução Francesa.
Já havia a aristocracia, levada pelo luxo, a relacionar-se
por meio de casamento, com os mercadores e fabricantes.
Com a vitória econômica e política da burguesia, esta trans­
form ou a classe aristocrática em subserviente, e permitiu
que ela existisse enquanto não a prejudicou.
Acostumados ao luxo e ao consumo exagerado, a vitória,
da burguesia trouxe com o conseqüência um aumento exa­
gerado do consumo e da produção do que em parte se apro­
veitaram as classes inferiorizadas.”
O APARECIMENTO DA MOEDA NO MUNDO

Desde milênios, a moeda definiu-se uma mercadoria in­


termediária, que serve para facilitar as permutas, uma vez
que esta função não pode ser bem desempenhada por outra
mercadoria qualquer. É preciso que a mercadoria esco­
lhida reúna determinadas condições que a tom em de uso
geral e com o um denominador com um de outros valores.
Assim, podem os dizer que a moeda é um valor real que o
consentimento humano elegeu com o intermediário para efe­
tuar as permutas. Desta forma, compreendemos que a pri­
meira e principal função da moeda é facilitar o intercâm­
bio de mercadorias. Pois o intercâmbio, as trocas com os
produtos entre si, eram muito difíceis e muitas vêzes impos­
síveis, e os produtos, que um povo dispunha, nem sempre
interessavam ao outro, ou mesmo interessando, podiam não
convir pelas exigências da troca, pela maleabilidade do pro­
duto ou pelo custo do seu transporte, e além disso era difí­
cil averiguar a relação direta no câmbio dos diversos pro­
dutos e ainda havia que acrescentar as muitas mercadorias
que não eram divisíveis, ou se o eram, sua divisibilidade
podia não adaptar-se às necessidades ou poder aquisitivo
do que dessas mercadorias necessitasse.

Garnier diz que o vocábulo — moeda — vem do verbo


latino moneo, que significava advertir, aumentar, que é o
que a moeda realmente faz; pois, adverte o valor que tem
a quantidade de coisas que se podem adquirir com ela, p o­
rém a maioria dos autores dizem que o vocábulo vem de
moneta, palavra latina que, segundo Branas, é derivada da
cunhagem que tinha lugar no templo de Juno Moneta. Ou­
tros julgam tratar-se de um adjetivo derivado do púnico —
machanet ou ammachanet. Esta palavra aparece nas te-
tradracmas, que circularam na Sicília nos séculos IV e V
a. C.; que significava acampamento, exército. Desta forma,
202 JÚLIO MINHAN

moeda viria a ser uma corrupção latina da palavra que os


gregos formaram do vocábulo semi tico.
Quando a humanidade, tendo crescido, compreendeu
que não poderia viver enquistada em tribos, e levada por
essa compreensão, reuniu-se em cidades, estados e nações;
vendo que as permutas comerciais lhes tomava muito tem­
po, dando-lhe trabalho demais, resolveu criar um meio co­
mum para facilitar essas permutas.
Convencionou-se que a mercadoria comum tivesse os
seguintes predicados:
1.° — Conveniência para todos os indivíduos sem dis­
tinção.
2.° — , Fôsse sempre procurada.
3.° — Se mantivesse sempre no mesmo nível. Para is­
so deveria ser:
a) útil por si mesma, isto é, com valor próprio e in­
dependente, intrínseco.
b ) Incorruptível, para que conservasse sempre o mes­
m o valor. Naturalmente nem se cogitou do papel moeda,
que naquelas pristinas eras nem se conhecia.
c ) Fôsse sumamente divisível para que tivesse propor­
cionalidade em tôdas as permutas.
d ) De fácil manejo para evitar dificuldades de pêso e
gastos de transporte.
e) Que existissem em tal quantidade que nem fôsse ex­
cessivamente exagerada ou demasiado pequena para com re­
lação aos que a tivessem de empregar.
f ) Que pudesse receber facilmente a impressão da ima­
gem da autoridade que a garantia para segurança de todos.
Não sabemos qual foi o primeiro objeto empregado co­
m o moeda. Logo após a Idade de Pedra, talvez fôra o fer­
ro; ao ferro deve ter sucedido o bronze, que não é um metal
precisamente, mas uma liga de diversos. Possivelmente ês­
ses metais tiveram a form a de instrumentos — pás, enxadas,
martelos — ou de armas — lanças, machados, espadas. Co­
m o nem todos desejassem êsses instrumentos ou armas,
quer por possuí-los já, quer por desejarem dar ao metal ou­
CONVITE À CIÊNCIA 203

tra forma ou aplicação, havendo, com o havia, possibilidades


de outros usos, os metais começaram a aparecer em lingo­
tes, que eram devidamente pesados e contrastados. Como
os lingotes eram grandes demais para trocas familiares, foi
necessário subdividi-los, e as peças isoladas tiveram seu iní­
cio. Ao princípio tinham tôdas as formas geométricas, po­
rém, pouco a pouco tomaram a form a circular, com a efígie
do governante, que as mandava fundir e cunhar.
H oje, podemos dizer que há certo fundamento na idéia
geral de que o mundo é regido pelo dinheiro; as trocas, as
vendas, a produção giram em tôrno da moeda. Para evi­
denciarmos sua importância, basta lembrarmos que a des­
valorização da moeda de um país antecede à ruína do mes­
mo. A emissão de moedas, assim com o sua retenção, traz
crises inevitáveis, que se fazem sentir em todo o comércio.
Oportunamente, veremos com o o problema é vim dos proble­
mas de mais difícil solução nos nossos dias.
Muitas vêzes ficamos pensando que só nós temos preo­
cupações por causa do “ vil metal”, com o costumam chamá-
-lo os que o têm pouco; entretanto, até os povos primitivos,
até selvagens, eram escravos da moeda. Os indígenas das
ilhas de Jap (Carolinas) são devotos do deus-dinheiro, di­
vindade sumamente exigente, e que possui poderes absolu­
tos. A moeda dêstes povos consiste em uma pedra calcá-
rea, em forma de m ó de moinho que'às vêzes atinge propor­
ções enormes. Quem tem uma pedra de moinho é m ilio­
nário.
É óbvio que as pedras calcáreas não servem com o moe­
das em tôda a parte, nem serviriam a todos os povos. An­
tigamente os caçadores serviam-se de peles com o as de cas­
tor e búfalo na América do Norte. Os povos pescadores do
peixe, com o o bacalhau em Terranova. Entre os povos que
povoaram a Grécia, Ásia Menor e Mesopotâmia era o gado
de qualquer espécie. Homero nos conta que a armadura de
Diógenes custou 9 bois e a de Glauco 100. Os que se dedica­
vam à agricultura comerciavam com o trigo e daí originou
o “ dracma” ; cacau na América Central, tabaco na Virgínia e
Nova Inglaterra, e o açúcar em Maryland foram usados co­
mo moeda.
Entre os povos primitivos, encontramos ainda hoje o
sistema de trocas, antepassado do com ércio atual, onde as
mercadorias mencionadas tinham largo curso. É claro que
204 JULIO MINHAN

no mundo moderno essa moeda-produto, não seria viável ou


por não ser divisível ou por ocupar muito lugar. Suponha­
m os que as companhias de aviação aceitassem bois, carnei­
ros ou galinhas em troca das suas passagens; deveriam ter
enormes currais para receber o preço das passagens, e êstes
deveriam ser esvaziados diariamente, para que no dia ime
diato houvesse possibilidade de novo comércio.
Embora o mundo tenha evoluído para a aceitação e-
com ércio com moedas garantidas por reservas metálicas,
ainda há muitas regiões que utilizam as mais estranhas coi­
sas com o moeda; por exemplo, na índia usam-se “ cuaris” ,
que são conchas de mariscos e que se tom am incômodas pe­
lo seu ínfimo valor, pois, o mais das vêzes é necessário levar
um carrinho de m ão cheio delas para comprar os ingredien­
tes para uma só refeição. Em outras partes da mesma ín ­
dia, é o algodão em rama ou fiado, que corre com o dinheiro.
No Senegal e Abissínia, é a pólvora e especialmente o sal,
que fazem de moeda. Balas de chumbo tiveram livre curso
no Massachusetts e fusis na África. No Taiti e nas ilhas de
Fiji é o óleo de côco. Tôdas estas “ moedas”, por seu pêso,
volume, duração às vêzes curta demais, e possível deteriora-
mento, não oferecem as vantagens de uma moeda metal.
Entre os índios primitivos, encontramos ainda hoje o
sistema de trocas. Nossos índios, quando desejam trocar
mercadorias com outra tribo, colocam-nas em determinado
lugar. Se as mercadorias interessarem à outra tribo, esta
deixa, no mesmo lugar, mercadorias suas que acham sufi­
cientes e compensativas para tal troca. No dia seguinte vol­
tam, se interessar a troca, tomam os objetos deixados e par-
. tem. Se não agrada, se a troca parece ser prejudicial, le­
vam o que tinham trazido. Entretanto, nenhuma das par­
tes toca em nada da outra, a não ser depois de aceita a troca.
Os weddas do Ceilão, com o os singaleses, os sakayos de
Perak, com o os malaios e outros povos, praticam o com ér­
cio mudo, depositando durante a noite, mel, cêra e caça, re­
colhendo na noite seguinte, o que foi dado em troca. Às
vêzes, os selvagens desprezam objetos europeus, alguns de
alto valor para nós, entretanto, sem nenhum valor para êles.
No início, o homem trocava objeto por objeto, porém,
com o tempo, foi surgindo a necessidade natural de um que
servisse de medida comum para tôdas as trocas, e assim
nasceu a moeda. Trata-se de uma medida divisionária, com
CONVITE À CIÊNCIA 205

O Touro Negro (Caverna, da Dordonha)


2Utj JÚLIO MINHAN

valor. Encontramos formas primitivas da moeda, inclusive


nos estágios mais rudimentares da existência humana. Es­
tas matérias guardam íntima relação com o uso, e às vêzes
são, por si mesmas, objetos de consumo.
A moeda pecuária (já conhecida entre os romanos, de
onde se origina esta palavra, de pecunia) é com um hoje em
dia entre povos pastôres.

A moeda mais com um no mundo é o sal, circula na Afri­


ca Setentrional, nas altas mesetas da Ásia, na Mongólia, e no
interior da China. No arquipélago malaio até o ópio serve
com o moeda.
Na época primitiva, a moeda predileta era o adôm o
pessoal, que o selvagem levava sôbre a pele para omamen-
tar-se. Por razões de segurança e ao mesmo tempo de vai­
dade, cada pessoa levava, em form a de adôm o, quase todo
seu haver, o que lhe servia para fazer compras, para lavar
ofensas mediante uma indenização, e para com prar a paz.
Os ornamentos empregados com o dinheiro, especialmente
em form a metálica, constituem, além disso, um precedente
de nossas espécies monetárias; uma camponesa grega ou iu­
goslava, em nossos dias, em seu traje de festa, encarna ainda
na atualidade, com seus ornamentos feitos de moeda, a pri­
mitiva equiparação entre estas e os ornamentos.
Tôdas estas moedas tendem a converter-se em objetos
situados fora do consumo humano. A diwara, da Nova Bre­
tanha, na Oceania, trata-se de uma moeda de concha. A
mais interessante, entretanto, é a moeda da Nova Irlanda,
que são minúsculas conchas do tamanho da cabeça de um
alfinête e prêsas por um cordãozinho.
Creso, rei da Lídia, fam oso por seu poderio e riqueza,
considerado um dos homens mais ricos do mundo, era pos­
suidor de uma grande fortuna em moedas. Mandara cunhar,
para sua glória, discos de ouro e prata puros, que ostenta­
vam a efígie de um leão e a de um touro selvagem. Tratam-
-se de símbolos antigos, que representam a fôrça e a fertili­
dade, e muito com um no Oriente, e que às vêzes significa­
vam o poder dos reis, dos deuses e dos astros.
Uma das mostras mais antigas de dinheiro é procedente
do império hitita. Trata-se de um lingote, no qual aparece
uma estranha gravação com o nome de um rei.
CONVITE
À
CIÊNCIA
207

Touro Policrôm ico (A lta m ir a )


:208 JÚLIO MINHAN

Até hoje encontramos diversas mostras de dareikos,


:moeda persa, na qual vem gravada a figura do rei com a co ­
roa, símbolo de sua soberania, armado de arco e lança, em
"traje de cerimônia.
Antes dos gregos, porém, moeda e jóia confundiam-se.
Assim encontramos dos egípcios mostras de moeda, que ti­
nham o aspecto de jóia. Os favoritos do faraó, por exem­
plo, carregavam sua fortuna, em form a de moedas prêsas
num colar.
As moedas gregas, cujos espécimes temos em grande
quantidade, hoje em dia, apresentam extrema variedade. Até
hoje não houve outro povo que apresentasse tanto gôsto na
confecção das moedas, com o os gregos. Usavam na grava­
ção símbolos diversos com o o leão, a tartaruga, o touro, es­
piga de trigo, figuras de deuses e heróis mitológicos.
O problema da falsificação já era conhecido então. Ar­
tesãos hábeis cobriam com uma fina película de prata uma
peça de cobre. Era um trabalho tão bem feito, que só mes-
:m o um exame cuidadoso ou a quebra da moeda permitia
descobrir a fraude. É daí que vem o hábito de morder a
moeda para ver se é verdadeira.
MOEDAS ATUAIS

0 problema da moeda é demasiado complexo para fins


de com ércio internacional porém simplíssimo na sua essên­
cia estritamente nacional, sempre que os governos saibam
controlar as emissões de acôrdo com o lastro metálico, que
disponham.
Como curiosidade, cremos ser interessante darmos a se­
guir e em ordem alfabética os diversos monetários das na­
ções modernas:

ALBÂNIA — Gindar dividido em 100 lek. Nome adotado


desde 1927. Existem moedas de ouro de 100, 20 e 10
gindar; de 5, 2, 1 e V2 gindar de prata. De bronze 25
e 5 lek e l e meio lek em níquel. Bilhetes de Banco de 5,
20 e 100 gindars.

AT.TAMANHA — Reichsmark dividido em 100 pfenniges. Tem


moedas de ouro de 20 e 10 marcos; de prata 5, 3, 2, 1;
duralumínio 50, 10 e 5 pfenniges e 2 e 1 pfenniges de
bronze. Os bilhetes em curso são de 5, 10, 20, 50, 100 e
1 000 marcos.
ARGÉLIA — Moeda francesa. Bilhetes de Banco da Argé­
lia de 5, 20, 100, 00 e 1.000 francos (franceses).

ARGENTINA — Pêso dividido em 100 centavos. Moedas de


ouro de 5, 2, */a argentinos; não tem moedas de prata.
De níquel existem de 1 pêso e 50 centavos, 20, 10 e 5
centavos. Os bilhetes de Banco são de 5, 10, 50, 100,
500 e 1.000 pesos.

ÁUSTRIA — Shilling que se divide em 100 groschen. Tem


moedas de ouro de 100 e 20 shiUings, de prata 2, 1 e Va
shillings. Os bilhetes de Banco são de 5, 10, 20, 50, 100
e 1.000 shillings.
210 JÚLIO M IN H A N

BÉLGICA — Franco belga subdividido em 100 cents. Tinha,


para o Congo o m esm o padrão, co m a diferença que
havia em circulação m oedas de 5, 10 e 20 centésim os em
níquel, e Va cent, em cobre. Na m etrópole, circulam
m oedas de 50 e 20 cents em prata, 5, 2 e 1 de níquel. O s
bilhetes têm os valôres de 5, 10, 50, 100, 500 e 1.000’
francos.

BOLÍVIA — Bolívar com o subm últiplo de centavos (100).


Circulam m oedas de prata de 1 bolivar e de Va bolivar,
h oje recolhidos para servir de lastro. É o dinheiro m ais
baixo d o m undo.

BRASIL — Cruzeiro dividido em 100 centavos. N ão há cir­


culação nenhuma antiga em prata ou ou to. Estas o u
foram recolhidas ou contrabandeadas para o Uruguai e
Estados Unidos, que, depois de fundidos, cunhavam-nas
de n ovo em pesos ou dólares. Tem os m oedas de cupro-
-níquel de 10, 20 e 50 centavos e 1 e 2 cruzeiros de alu-
nínio. Bilhetes de 1, 2, 5, 10, 20, 50, 100, 200, 500 e 1.000
cruzeiros e o g ovêm o está a estudar a conveniência de
emitir notas de Cr$ 5.000 e 10.000.

BULGÁRIA — Lev (plural leva), que se divide em 100 sta*


liniki (plural stalinika). M oedas de ou ro de 10, 20 e 100*
leva, e 10 e 20 stalinika de bronze. Os bilhetes têm va-
lôyes de 200, 500, 1.000 e 5.000 leva.

CANADÁ — Dólar canadense, dividido em 100 cents. Cir­


culam m oedas de ou ro de 5 e 10 dólares; 5, 10 e 20 cents
de prata; uma m oeda de níquel de 5 cents e uma de
bronze de valor de 1 cent. É o país m ais rico em b i­
lhetes, pois tem o s de 1, 2, 4, 5, 10, 20, 50, 100, 1.000, 5.000
e 50.000 dólares.

CHECOSLOVÁQUIA — Coroa de 100 kalery. M oedas de-


5, 10 e 20 coroas; níquel de 1 coroa; 50, 25 e 10 kalery.

CHILE — Pêso com 100 centavos. Bilhetes de 1, 2, 5, 10, 20,


50, 100, 500 e 1.000 pesos.

CHINA — Dólar chinês — Chak-Li. Atualmente só há b i­


lhetes de 1 e 2 dólares.
CO N VITE A CIÊN CIA 211

COLÔMBIA — Pêso em 100 centavos. Tem m oedas de ou­


ro de 2 Vá, 5 e 10 pesos; de prata de 1 pêso, 50, 20 e 10
centavos, e de níquel 5, 2 e 1 centavo. Bilhetes de 1, 2,
5, 10, 25 e 100 pesos.

COSTA RICA — Cólon, dividido em 100 centavos. M oedas


de 50, 20 e 10 centavos, de prata.

DINAMARCA — K rone (c o r o a ), dividida em 100 ores. Cir­


culam m oedas de 20 e 10 coroas de ouro, 2xh coroas e
10 ore de prata. As m oedas de bronze têm os valores
de 5, 2 e 1. Os bilhetes de 1, 5, 10, 50, 100 e 500 kronen.

EGITO — Libra egípcia, dividida em 100 piastras ou 1.000


m iliem o. Há m oedas de ou ro de 1 e */a libra, de prata
existem de 2, 5, 10 e 20 piastras, e de bronze 1, 2 e 10
miliem o.

EQUADOR — Sucre de 100 centavos. Circulam m oedas de


50 centavos, 1 e 2 sucres em prata, de níquel 10 centavos
cham ados real e o m eio real de 5 centavos. Bilhetes de
5, 10, 50 e 100 sucres.

ESPANHA — Peseta (dim inutivo de p ê so ), dividida em 100


cêntim os. Tinha a Espanha m oedas de ou ro de 10, 20,
25 e 100 pesetas, h oje escassíssimas, p ois os republica­
nos espanhóis caíram na estultície de confiar quase to-
to o ou ro à Rússia, que até agora não o devolveu. Ha­
via m oedas de prata de 1, 2 e 5 pesetas, recolhidas pelo
general Franco para lastrear o papel-moeda, cu jo s b i­
lhetes são de 1, 25, 50, 100, 500 e 1.000 pesetas. As m oe­
das divisionárias são tôdas de um a liga m uito má de
alumínio e têm valor de 5, 10 e 25 cêntim os.

ESTADOS UNIDOS — Dólar, dividido em 100 cents. Moe­


das de ou ro de 5, 10 e 20 dólares; 2 V2, 1,50 cents, 25, 10
(a dim e) e 5 cents de prata; níquel de 5 cents; bronze
e V» cents. Os bilhetes de Banco têm os valores de 1,
2, 5, 10, 20, 50, 100, 500, 1.000, 5.000 e 10.000 dólares.

ESTÔNIA — Sistema m onetário russo.


212 JÜLIO M IN H AN

ETIÓPIA — Taleri (T h aler), m oedas de prata que têm ou


a efígie de Maria Tereza ou Menelik. Qualquer outra
efígie será rejeitada. A m oeda chama-se tam bém guer-
che, menelik ou piastra. Há uma m oeda de cobre, que
é um m ilésim o de thaler, cham ado besa.

FINLÂNDIA — Markka com 100 pennia, singular penni. Há


m oedas de bronze 1 penni, 5 e 10 pennia. Bilhetes de 5,
10, 20, 50, 100 e 500 markka.

FRANÇA — Franco (fra n cês), com 100 cêntim os. M oeda


de ou ro de 10, 20 e 100 francos. A m oeda fo i reform a­
da em 1960, ficando o franco valendo 100 francos dos
antigos.

GRÉCIA — Dracma, dividida em 100 leptas. Com o deixa­


m os dito, a palavra teve sua origem no com ércio do tri­
go que se fazia na antiga Grécia e significa “ agarrar” ,
“ juntar” , “ recolh er” . M oedas de ou ro de 10, 20, 50 e
100 dracm as de prata; 1, 2 e 5 leptas de cobre, e há
m oedas de 1, 2, 10, 20 e 50 lepta. Os bilhetes de Banco
são os que mais variam em núm eros, pois têm valores
de 2,25, 3TV», 75, 375 e 700 dracmas.

GUATEMALA — Quetzal, com 100 cêntim os, ou centavos.


M oedas de ou ro de 10, 20 e 5 quetzals. De prata há de
1, V2 e de */* de quetzal, de cob re 25 e Va cents. Os b i­
lhetes eram os mais baixos em valor — 1, 2, 5 e 10
quetzals.

H AITI — Gourde com 100 piastras. M oedas de níquel de


5, 10 e 20 cents. Bilhetes de 1, 2 e 10 gourdes.

HONDURAS — Lem pira ou pêso, equivalente ao dólar e c o ­


m o êle dividido. M oedas de prata de um lem pira e
50 cents, bronze de 1 e 2 cents. Bilhetes de 1, 5, 10, 20,
50, 100 e 1.000 lempiras.

HUNGRIA — Penga, que se divide em 100 filer. Há m oe­


das de prata de 5, 2 e 1 pengar, níquel de 5, 10 e 20 filer.
Bilhetes de 5, 10, 20, 200 e 1.000 penga.

ÍNDIA — Rupia, que se divide em 15 annas e 64 pice. M oe­


das de prata.de 1, 2, 4 e 8 annas. Êste sistema m onetá­
rio corre no Ceilão, M aurício, Zanzibar, Seichelles. E m
CO N VITE A CIÊN CIA 213

Mombasa, a rupia divide-se em cem cents. Bilhetes de


1, 2, 2 V2, 5, 10, 50, 500 e 1.000 rupias. As m il rupias são
chamadas 1 lakk, 100 lakks dão um crore, 100 crores,
1 mas. Desta form a, um lakk se escreve 100.000 crore
ou 1.000.000 de rupias.

ÍNDIAS NEERLANDESAS — Indonésia — Corria o m esm o


dinheiro da Holanda.

INDOCHINA — h oje Viet-Nam e Viet-Mingh — Piastra, com


100 centavos.

INGLATERRA — Libra ou Esterlina, que se divide em 20


shillings e o shilling em 12 pence. M oedas com diver­
sos nomes. De ou ro 1, 2 e 5 libras, 10 shillings de pra­
ta cham ado m eio soberano, coroa de 5 shillings, duplo
florim de 5 shillings, meia coroa de 2Va shillings, e o
florim de 5 shillings. Havia m oedas de bronze de 1, Va
e V* farthings, retiradas da circulação em novem bro de
1960.

ITÁLIA — Lira co m 100 centessim os. M oeda m uito altera­


da co m a inflação.

IUGOSLÁVIA — Dinar de 100 paras. M oedas de ou ro de


10 e 20 dinars. De prata de 1, 2 e 5 dinars e 50 paras;
bronze de 1, 5 e 10 paras. Bilhetes de 10, 100 e 1.000
dinars.

JAPÃO — Yen, dividido em 100 sen. M oedas de ou ro de 5,


10 e 20 yens, de prata 50 e 20 sen, níquel 5 sen, bronze
1 sen e 5 rixa. Bilhetes de 1, 5, 10, 20 e 100 yens.

LETÔNIA e LITUÂNIA — Sistema russo em am bos os paí­


ses.

LUXEMBURGO — Franco — 100 cêntim os. M oeda de pra­


ta de 5, 10 e 20 francos; de níquel 1 franco, 50, 20, 10 e
5 cents. Bilhetes de 100 francos, e Bônus da Caixa de
Luxem burgo co m os valores de 5, 10, 25, 215 e 500 fran­
cos.

MARROCOS — Corre tôda m oeda, especialmente dólares,


pesetas e francos. Há m oedas de 1, 2, 5 e 10 (m ou-
zoana) cent, de piastra.
214 JÜLIO M IN H AN

MÉXICO — Pêso — 100 centavos. M oedas de ou ro de 2 Vá,


5, 10, 20, de 1 pêso, 50, 20 e 10 centavos de prata. B i­
lhetes de 1, 2, 5, 10, 20, 50, 100, 500 e 1.000 pesos. Exis­
te a piastra mexicana, que é de ouro.

MÔNACO — Sistema m onetário francês.

NEERDERLAND (HOLANDA) — Florin ou gulden, dividido


em centavos. M oedas de ou ro de 5 e 10 florins, de pra­
ta de 1 e 2Va florins, bronze de 2Va e U/2 cent. Bilhetes
de 10, 20, 40, 60, 100, 200, 300 e 1.000 florins.

NICARÁGUA — C órdoba de 100 centavos. M oedas de pra­


ta, 1 córdoba, 50, 20, 10 e 5 centavos, níquel 5 centavos;
bronze de 1% . Bilhetes de 1, 5, 10 e 25 córdobas.

NORUEGA — K rone (c o r o a ) — 100 ore.

PANAMÁ — Balboa com 100 cêntim os. Notas de 1, 2Va, 5,


10 e 20 balboas.

PARAGUAI — Guarani — 100 centavos.

PÉRSIA — Kran, dividida em 20 chakis. M oedas de ou ro


de 1, 2 e 5 kran; prata de 10 e 5 chakis; níquel de 1 e
2 chakis. Bilhetes de 1, 2, 5, 10, 20, 50 e 500 tomaans.

PERU — Sol com 100 centavos. Até 1921 existiu a libra pe­
ruana, agora recolhida.

POLÔNIA — Zloty dividido em 100 groezy (singular groez).


M oedas de 2, 5, 10 e 20 zloty de prata, divisionárias de
bronze. Bilhetes com os valores de 1, 2, 5, 10, 20, 50
e 500 zloty.

PORTUGAL — Escudo com 100 centavos. A m oedas por-


tuguêsas variaram m uito tanto em nom e co m o em m e­
tal. Bilhetes de 1, 2, 5, 10, 20, 50, 100, 500 e 1.000 es­
cudos.

ROMÂNIA — Leu (plural le i), dividido em 100 bani. B i­


lhetes de 5, 10, 20, 50, 100, 500 e 1.000 lei.
CO N VITE A CIÊN CIA 215

IRÚSSIA — R ublo com 100 kopeks. M oedas de prata de 10,


15, e 20 rublos; níquel de 1 rublo, 20, 15 e 10 kopeks.
Bilhetes de 1, 2, 5, 10 e 25 rublos.

SÃ O SALVADOR — C olón de 100 centavos. M oedas de


ouro de 1, 2, 5, 10 e 20 colones; de prata 1 colón, 50
e 25 cents. Bilhetes de 1, 5, 10, 20, 25, 50, 100 e 1.000
colones.

íSÉRVIA — Sua m oeda é o bat, dividido em 100 setang.


Bilhetes de 5, 10, 20, 100 e 1.000 ticols.

SINGAPURA — Dólar, que se divide em 2 shillings, 4 pen-


ce e 100 cents. M oedas de prata de 1 e ÍVa dólar; ní­
quel de 5; cobre de 1 penny.

S ÍR IA — Libra síria dividida em 100 piastras. M oedas de


1, 2, 10, 20 e 50 piastras. Bilhetes de 1, 5, 10, 20, 50 e
100 libras.

SUÉCIA — Sistema similar ao da Dinamarca e Noruega.

«SUíCA — Franco suíço, dividido em centésim os. M oedas


de ou ro de 10 e 20 francos; de 5, 2 e 1 franco e 50 cents
de prata; níquel de 20 cents e 10 cents de cobre.

TU N ÍSIA — Sistema m onetário francês, com a única dife­


rença de que o dinheiro da Tunísia era em itido pela
Argélia.

TURQUIA — Libra turca com 100 piastras. M oedas de ou­


ro de 500, 200, 100, 50 e 25 piastras; 10 e 5 de prata;
40, 20, 10 e 5 piastras de b ronze- Bilhetes com valô-
res de 1, 5, 10, 50 e 100 libras e bônus de 5, 10, 25 e 50
piastras.

URUGUAI — Pêso, que é subdividido em 100 centésim os.


M oedas de 1 pêso em prata, 50, 20 e 10 centésim os;
bronze de 2 e 1 centésim o. Bilhetes de 1, 5, 10, 50, 100
e 500 pesos.

"VATICANO — Lira (p róp ria ) com 100 centessimi. M oedas


de ou ro de valor de 100 liras; de prata 5 e 10; níquel
216 JÜLIO MINHAN

1 e 2 liras; bronze 10 e 5 cent. A moeda do Vaticano


só serve para coleções numismáticas, embora tenham
livre curso em Roma.

VENEZUELA — Bolivar em 100 centavos. Moedas de 5, 10,


20, 50 e 100 bolivares. De prata 1, 2, e 5; níquel e co­
bre 1, 2 e 5 cent. Bilhetes de valôres 20, 50, 100, 500 e
1.000 bolivares.
CAPÍTULO X

UM POUCO DE HISTÓRIA

A Antropologia, tal com o a Evolução a entende, fun­


damenta-se em períodos de tempo intermináveis e em fósseis
ou mesmo fraude. Mencionamos o “ Homem de Piltdown”,
que foi chamado o “primeiro inglês” e acreditou-se por um
tempo tivesse existido há 50.000 anos, até que a fraude foi
descoberta com o deixamos esclarecido.

Na História, ou melhor, pré-história, há muitas nebli­


nas que vistas assim de longe — parecem dar razão aos
antropologistas, pois, tanto no Egito, com o nos países orien­
tais — Babilônia, índia, e a própria China — inventaram
"m ilênios” que nenhuma cronologia conhece. Êsses países
sempre tiveram sua História dependendo da classe sacerdo­
tal, que a amoldava às suas pretensões e interêsses.

Como na História dos povos primitivos está eivada de


erros, superstições, lendas e tempos inexistentes, não é de
estranhar que a História arqueológica e até a antropoló­
gica também o estejam.

Cuvier, não o naturalista Francisco, mas o irmão do


que nos interessamos, Jorge Leopoldo — que foi o fundador
da Paleontologia, estudando os fósseis que no seu tempo
eram o cavalo de batalha dos antropologistas, se não os re­
jeitou todos, também não os aceitou sem protesto. Êle é
concludente nesse assunto. Da mesma maneira que trata
dos fósseis, tratou da História. Esmiuçou uns e outra e
chegou à conclusão a que podem os chegar nós também, que
uma ciência nas mãos de poucos interessados pode tomar
rumos totalmente diversos dos que lhe convenham para uma
boa orientação.
218 JÚLIO MINHAN

Repetimos que os sacerdotes da antiguidade deturpa­


ram a História para adaptá-la às suas lendas e interêsses.
Os sacerdotes da Evolução fizeram o mesmo: adaptaram os
fósseis à imaginação de cada um.
A confusão antropológica de que estamos a tratar não
é coisa nova. Já nos tempos de Heródoto havia muita mis­
tura de idéias. O próprio Heródoto cria ter reconhecido re­
lações de figura e de côr entre os colchidienses e os egípcios;
porém é infinitamente mais provável que os colchidienses
negros, de que êle trata, fôssem uma colônia africana atraí­
da pelo com ércio antigamente estabelecido entre a índia e
a Europa pelo Oxua, o mar Cáspio e o Fase.
Se no tempo do historiador Heródoto já se confundiam
negros, a ponto de um homem sério, com o o historiador
mencionado, crer que eram todos de uma raça só, razão
temos nós de insistir na existência de uma única raça que
defendemos atrás.
Para entendermos melhor as confusas informações dos
antropologistas, vejamos com o se escreveu a História de di­
versos povos, e com o tudo, na Evolução, depende do tempo,
retirado êste ou melhor, explicado na sua verdadeira exten­
são, a fantasia dos fósseis muito estrepitosamente.
Os homens, que desejam atribuir aos continentes e ao
estabelecimento das nações uma antiguidade muito remota,
são para isso obrigados a recorrer aos hindus, aos caldeus
e aos egípcios, três povos que com efeito parecem os mais
antigamente civilizados da raça caucásica; porém três po­
vos extraordinàriamente semelhantes entre si, não só no
temperamento, no clima e na natureza do território que ha­
bitavam, mas também na constituição política e religiosa
que haviam adotado, e cuja autoridade esta mesma consti­
tuição deve tom ar igualmente suspeitosa.
»

Em todos os três povos, uma casta hereditária era ex­


clusivamente encarregada do depósito da religião, das leis
e das ciências; em todos três esta casta tinha uma lingua­
gem alegórica e uma doutrina secreta; em todos três ela
reservava para si o privilégio de ler e de explicar os livros
sagrados; em todos três os conhecimentos tinham sido reve­
lados pelos mesmos deuses.
Compreende-se o que a história poderia ser em tais
mãos; porém sem nos darmos a grandes esforços de racio­
CONVITE A CIÊNCIA 219

cínio, podem os sabê-lo de fato, examinando o que ela veio


a ser na que subsiste ainda, destas três nações, entre os
hindus.
A verdade é que os indianos não têm história alguma.
No meio de uma infinidade de livros de teologia mís­
tica ou de uma metafísica recôndita que os brâmanes pos­
suem, e que a engenhosa perseverança dos inglêses conse­
guiu decifrar, nada existe que possa instruir-nos com ordem
sôbre a origem da sua nação e sôbre as vicissitudes da sua
sociedade; êles pretendem até que a sua religião lhes proíbe
conservar a memória do que se passa na idade atual, a idade
da desgraça.
Depois dos Vedas, primeiras obras reveladas e funda­
mento de tôda a crença dos indianos, a literatura dêste povo,
assim com o a dos gregos, começa por duas grandes epopéias:
o Ramaira e o Mahabharata, mil vêzes mais grandioso que
a Ilíada e a Odisséia, no seu maravilhoso, ainda que nelas
se reconheçam também alguns rasgos de uma doutrina me­
tafísica do gênero daquelas que se conveio chamar sublimes.
Os outros poemas, que com os dois primeiros constituem o
grande corpo dos puranas, não são mais que lendas ou ro­
mances versificados, escritos em tempos e por autores dife­
rentes e não menos extravagantes em suas ficções do que
os grandes poemas. Pensou-se reconhecer, em alguns da­
queles escritos, fatos ou nomes de homens um tanto seme­
lhantes àqueles de que falaram os gregos e os latinos, e foi
principalmente por estas semelhanças de nomes que o Sr.
W ilfort tentou extrair dêstes puranas uma espécie de con­
cordância que descobre a cada linha a natureza hipotética
das suas bases, e que de mais a mais não pode ser admi­
tida senão desprezando absolutamente as datas dadas pelos
m esm os puranas.
As listas dos reis, que os panditos ou doutores hindus
pretenderam ter compilado daqueles puranas, nada mais
são do que simples catálogos sem particularidades ou orna­
dos com circunstâncias absurdas, com o eram as dos caldeus
e egípcios, e com o as que Erítemo e o gramático Saxon de­
ram para os povos do norte. Estas listas estão muito longe
d e concordarem; nenhuma delas supõe nem história, nem
registros, nem títulos; o seu mesmo fundamento pode ser
imaginado pelos poetas, cujas obras lhes deram origem. Um
dos panditos que as forneceu ao Sr. W ilfort conveio que êle
220 JÚLIO MINHAN

enchia arbitràriamente com imaginários nomes os espaços


entre os reis célebres, e confessava que os seus predecesso-
res haviam feito outro tanto. Se isto é verdadeiro a res­
peito das listas que hoje os ingleses obtêm, porque o não
seria a respeito daquelas que Abou-Fazel deu com o extraídas
dos anais de Cachemira, e, que aliás, cheias de fábulas com o
são, não remontam senão a quatro mil e trezentos anos, en­
tre os quais mais de mil e duzentos estão cheios de nomes
de príncipes, cujos reinados se acham indeterminados quan­
to à sua duração?
Mesmo a era pela qual os indianos contam hoje os seus
anos começa cinqüenta e sete anos antes de Jesus Cristo,
e se funda no nome de um príncipe chamado Vicramaditjia
ou Bickermadjit, que não contém êste nome senão por uma
sorte de convenção, porque, segundo os sincronismos atri­
buídos a Vicramaditjia, colige-se ter havido ao menos três,
e talvez até oito ou nove príncipes dêste nome, sendo to­
dos de lendas semelhantes, e que todos guerrearam com o
príncipe chamado Saliwahanna, não se sabendo, porém, se
aquêle ano cinqüenta e sete, antes de Jesus Cristo, é o do
nascimento, do reinado, ou da morte do Vicramadijtia, de
quem conserva o nome.
Finalmente os livros mais autênticos dos indianos des­
mentem por caracteres intrínsecos e bem evidentes a anti­
guidade que êstes povos lhes atribuem. Os seus vedas, ou
livros sagrados revelados, segundo êles, pelo próprio Brama
desde a origem do mundo, e recompilados por Viasa (nom e
que não significa outra coisa senão coletor) no princípio da
idade atual, se ajuizarmos pelo calendário que se lhe acha
anexo, e a que êles referem, assim com o pela posição dos
coluros que êste calendário indica, podem remontar a três
mil e duzentos anos, o que seria com pouca diferença a épo­
ca de Moisés. Talvez mesmo os que derem crédito ao que
diz Megástenes, que no seu tempo os indianos não sabiam
escrever, os que refletirem que nenhum dos antigos fêz men­
ção dêstes templos soberbos, dêstes imensos pagodes, monu­
mentos tão notáveis da religião dos Brâmanes, os que sou­
berem que as épocas das suas tábuas astronômicas foram
calculadas muito tarde, e mal calculadas, e que os seus tra­
tados de astronomia são modernos, e com datas anteriores,
queiram ainda diminuir muito esta pretendida antiguidade
dos vedas.
CONVITE A CIÊNCIA 221

Contudo, no meio de tôdas as fábulas bramínicas, esca­


pam idéias, cuja concordância com o que resulta dos monu­
mentos históricos faz espantar.
Assim, a sua mitologia consagra as sucessivas destrui-
ções que sentiu a superfície do globo, e para o futuro deve
sentir, e é somente a um pouco menos de cinco mil anos que
êles fixam a última. Uma destas revoluções, que na ver­
dade se expõe infinitamente mais longe de nós, é descrita
em têrmos quase correspondentes aos de Moisés.
O Sr. W ilfort assegura mesmo que em outro aconteci­
mento desta mitologia, figura um personagem semelhante a
Deucalião, na origem, no nome, nas aventuras, e até no no­
me e aventuras de seu pái.
Uma coisa bem igualmente digna de notar-se é que nas
listas dos reis, por mais áridas e pouco históricas que sejam,
os indianos fixam o princípio dos seus soberanos humanos
(o s da raça do Sol e da Lua) em uma época que é quase
a mesma em que Ctésias, numa lista inteiramente da mes­
ma natureza, faz começar os seus reis da Assíria (coisa de
quatro mil anos antes do tempo presente).
Êste deplorável estado de conhecimentos históricos de­
via ser o de um povo em que os sacerdotes, hereditários de
um culto monstruoso em suas formas externas, e cruel em
muitos dos seus preceitos, tinham só o privilégio de escre­
ver, de conservar e de explicar os livros; qualquer lenda
feita para acreditar um lugar de peregrinação, invenções
próprias a gravar mais profundamente o respeito pela sua
casta, deveria nnteressá-los mais que tôdas as verdades his­
tóricas. Entre as ciências podiam cultivar a astronomia,
que lhes dava consideração com o astrólogos, a mecânica,
que os ajudava a levantar os monumentos, sinais do seu
poder e objetos da veneração supersticiosa dos povos, a
geometria, base da astronomia, com o da mecânica, e auxi­
liar importante da agricultura naquelas vastas planícies de
aluvião, que não se podiam tom ar sadias e férteis senão
por meio de numerosos canais; êles podiam animar as ar­
tes mecânicas ou químicas, que alimentavam o seu com ér­
cio e concorriam ao seu luxo e ao de seus templos; porém
deviam temer a história que ilumina os homens nas suas
mútuas relações.
O que vemos na índia, devemos esperar seja o mesmo
em qualquer parte, onde raças sacerdotais, constituídas co-
222 JÚLIO MINHAN

m o a dos brâmanes, estabelecidas em países semelhantes,


se arrogavam o mesmo império sôbre a massa do povo. As
mesmas causas produzem os mesmos resultados, e com efei­
to, por pouco que se reflita sôbre os fragmentos que n o s .
restam das tradições egípcias e caldaicas, distingue-se que
elas não eram mais históricas do que as dos indianos.

Para ajuizar da natureza das crônicas, que os sacerdo­


tes egípcios pretendiam possuir, basta mencionar os extra­
tos que êles deram em tempos diferentes e a diferentes
pessoas.

Os de Sais, por exemplo, diziam a Sólon, coisa de cento


e cinqüenta anos antes de Jesus Cristo, que, não sendo o
Egito sujeito a dilúvios, êles tinham conservado não só seus
próprios anais, mas também os dos outros povos; que a ci­
dade de Atenas e a de Sais tinham sido edificadas por Mi­
nerva; a primeira havia nove mil anos, a segunda não mais
de oito mil, e a estas datas acrescentavam as fábulas tão
conhecidas sôbre os Atlantes, sôbre a resistência que os an­
tigos atenienses opuseram às suas conquistas, assim com o
tôda a descrição romanesca da Atlântida, descrição em que
se acham fatos e genealogias semelhantes às de todos os
romanos mitológicos.
Um século mais tarde, pelo ano quatrocentos e cinqüen­
ta, os sacerdotes de Mênfis fizeram a Heródoto narrações
mui diferentes. Menés, primeiro rei do Egito, tinha, segun­
do êles, construído Mênfis, e fechado o Nilo com diques,
com o se obras tais fôssem impossíveis ao primeiro rei de
um país. Desde então, êles tinham tido trezentos e trinta
reis até Moéris, que reinava, segundo êles, novecentos anos
antes da época em que falavam (m il trezentos e cinqüenta
anos antes de Jesus Cristo).

Depois dêstes reis veio Sesóstris, que dilatou as suas


conquistas até à Colchida; e no total houve, até Setos, tre­
zentos e quarenta e um reis, e trezentos e quarenta e um
sumos sacerdotes, em trezentas e quarenta e uma gerações,
no espaço de onze mil trezentos e quarenta anos; e neste in­
tervalo, com o para servir de garante à sua cronologia, os
sacerdotes afirmavam que o Sol tinha nascido duas vêzes
da parte do poente, sem que nada tivesse mudado no clima
ou nas produções do país, e sem que nem então, nem antes,
algum Deus se tivesse mostrado ou reinasse no Egito.
CONVITE À CIÊNCIA 223

A esta passagem que, apesar de tôdas as explicações


que se lhe tinha pretendido dar, provava uma tão grosseira
ignorância em astronomia, acrescentavam a respeito de Se-
sóstris, Heleno, Rampsinite, e a respeito dos reis, que fize­
ram construir as pirâmides, assim com o de um conquistador
etíope, chamado Sabacos, contos inteiramente dignos do
quadro em que figuravam.
Os sacerdotes de Tebas fizeram mais, mostraram a
Heródoto, e antes tinham mostrado a Hecateu, trezentos e
quarenta e cinco colossos de pau representando outros tan­
tos grandes sacerdotes, que tinham sucedido um a outro de
pai a filho, todos homens, todos nascidos um do outro, mas
que tinham sido precedidos pelos deuses.
Outros egípcios lhe disseram que haviam visto regis­
tros exatos, não só do reino dos homens, mas também dos
deuses. Contavam dezessete mil anos desde Hércules até
Amásis, e quinze mil desde Baco. Pan tinha sido anterior
a Hércules.
Evidentemente, aquêles homens tomavam por história
alguma alegoria relativa à metafísica panteística, que, sem
êles o saberem, formava a base da sua mitologia.
Por Setos é que começa em Heródoto uma história
algum tanto razoável, e, o que é digno de notar-se, essa
história principia por um fato concordante com os anais
hebraicos, pela destruição do exército do rei da Assíria Se-
naqueribe; esta concordância continua em Neco, e em Ho- '
fra, ou Apriés.
Dois séculos depois de Heródoto (duzentos e sessenta
anos antes de Jesus Cristo), Ptolomeu Filadelfo, príncipe
de uma raça estrangeira, quis conhecer a história do país
que os acontecimentos o tinham chamado para governar.
Um sacerdote, Maneton, se encarregou de lha escrever. Já
não foi em registros em arquivos donde pretendeu extraí-
la, mas sim dos livros sagrados de Agatodemon, filho do
segundo Hermes e pai de Tat, o qual a havia copiado das
colunas erigidas antes do dilúvio por Tat, ou o primeiro
Hermes, na terra Seriádica, e êste segundo Hermes, êste
Agatodemon e êste Tat, são personagens de quem absoluta­
mente ninguém havia falado antes, nem tampouco da terra
Seriádica, nem das suas colunas. Êste mesmo dilúvio é um
fato inteiramente desconhecido dos egípcios dos tempos an-
224 JÚLIO MINHAN

teriores, e do qual Maneton não faz a menor menção no que


nos resta das suas dinastias.
O efeito assemelha-se à causa; não só tudo é cheio de
absurdos, mas são absurdos próprios e impossíveis de re­
conciliar com os que sacerdotes mais antigos tinham con­
tado a Sólon e Heródoto.
É Vulcano que principia a série dos reis divinos; êle
reina nove mil anos, os deuses e os semideuses reinam mil
novecentos e sessenta e um anos. Nem os nomes, nem as
sucessões, nem as datas de Maneton, se assemelham com o
que se publicou antes e depois dêle, e é necessário que êle
tenha sido tão obscuro e tão confuso, com o pouco de acôrdo
com os outros, porque é impossível concordar entre si os
extratos que dêle deram Josefo, Júlio Africano e Eusébio.
Nem mesmo são conformes na soma de anos dos seus reis
humanos. Segundo Júlio Africano, êles chegam a cinco mil
cento e um, segundo Eusébio, a quatro mil setecentos e vin­
te e três, e segundo Sincelo, a três mil quinhentos e cin­
qüenta e cinco. Poder-se-ia crer que a diferença de nomes
e das cifras procede dos copistas; porém Josefo cita exten­
samente uma passagem, cujas circunstâncias estão em con­
tradição manifesta com os extratos dos seus sucessores.
Uma crônica, qualificada de antiga, e que uns julgam
anterior, outros posterior a Maneton, dá ainda outros cál­
culos; a duração total dos seus reis é de trinta e seis mil
quinhentos e vinte e cinco anos, nos quais o Sol reinou trin­
ta mil, os outros deuses três mil novecentos e quarenta e
quatro, e os semideuses duzentos e dezessete; assim, não
resta para os homens senão dois mil trezentos e trinta e
nove anos, e não se conta dêles senão cento e treze gera­
ções, em lugar das trezentas e quarenta de Heródoto.
Um sábio de outra ordem que não Maneton, o astrôno­
mo Eratóstenes, descobriu e publicou no tempo de Ptolo-
meu Evergeto, duzentos e quarenta anos antes de Jesus
Cristo, uma lista particular de trinta e oito reis de Tebas,
começando em Menés, e continuando por mil e vinte e qua­
tro anos; temos dela um extrato que Sincelo copiou de Apo-
lodoro. Quase nenhum dos nomes que nela se acham cor­
responde às outras listas.
Diódoro foi ao Egito no tempo de Ptolomeu Auletes, no
ano sessenta antes de Jesus Cristo, por conseqüência, dois
séculos depois de Maneton, e quatro depois de Heródoto.
CONVITE A CIÊNCIA 225

Recolheu também da bôca dos sacerdotes a história do


país e a recolheu de novo tôda diferente.
Já então não foi Menés que edificou Mênfis, mas sim
Uchoreu. Muito tempo antes dêle, Busíris II tinha cons­
truído Tebas.
Osimandias, oitavo avô de Uchoreu, foi senhor de Ba-
triana, onde acalmou revoltas. Muito tempo depois dêle,
Sessóis fêz conquistas ainda mais remotas; chegou até o
Ganges e voltou pela Cítia e pelo Tânais. Infelizmente to­
dos êstes nomes de reis são desconhecidos de todos os his­
toriadores precedentes, e nenhum dos povos que êles haviam
conquistado conservou dêles a menor lembrança. Quanto
aos deuses e aos heróis, segundo Diódoro, reinaram dezoito
mil anos, e os soberanos humanos quinze mil; quatrocentos
e setenta e reis tinham sido egípcios, quatro etíopes, sem con­
tar os persas e os macedônios. As fábulas, com que tudo
se acha confundido, não cedem aliás em puerilidade às de
Heródoto.
No ano décimo-oitavo de Jesus Cristo, Germânico, so­
brinho de Tibério, atraído pelo desejo de conhecer as anti­
guidades desta célebre terra, foi ao Egito, com o risco de
desagradar a um príncipe tão suspeitoso com o era seu tio:
subiu o Nilo e chegou a Tebas. Já não foi Sesóstris nem
Osimandias, de que os sacerdotes lhe falaram com o de um
conquistador, mas sim Ramsés. À frente de setecentos mil
homens tinha invadido a Líbia, a Etiópia, a Média, a Pérsia,
a Bactriana, a Cítia, Ásia Menor e a Síria.
Enfim, no fam oso artigo de Plínio, sôbre os obeliscos,
acham-se nomes de reis que não se vêem em outra parte:
Sotiés, Mnevis, Zmarreus, Erafius, Mestirés, um Smenpser-
teus, contemporâneo de Pitágoras, etc. Um Ramsés, que se
poderia acreditar ser o mesmo que Tamsés, é ali conside­
rado contemporâneo do cêrco de Tróia.
Não ignoro que se tenha tentado conciliar aquelas lis­
tas, supondo que os reis tiveram muitos nomes. Quanto a
mim, que não somente considero a contradição das diversas
narrações, mas que noto mais que tudo a mistura de fatos
reais atestados por grandes monumentos com extravagân­
cias pueris, parece-me infinitamente mais natural concluir
que os sacredotes egípcios não tinham história alguma; que,
inferiores ainda aos da índia, nem mesmo tinham fábulas
de convenção e seguidas; que êles guardavam somente listas
226 JÜL.IO MINHAN

mais ou menos falazes de seus reis, e algumas memórias dos


principais dêles, mormente daqueles que tinham tido cuida­
do de fazer inscrever os seus nomes nos templos e nas obras
grandes que serviam de om ato ao país; porém que estas
memórias eram confusas; que não se fundavam senão na
explicação tradicional que se dava às representações pin­
tadas ou esculpidas nos monumentos, explicações fundadas
sòmente em inscrições hieroglíficas concebidas com o aquela
de que temos uma tradução em têrmos muito genéricos, e
que, passando de bôca em bôca, se alteravam quanto às cir­
cunstâncias, à descrição dos que as comunicavam aos estran­
geiros; e que, por conseqüência, é impossível assentar algu­
ma proposição relativa à antiguidade dos continentes atuais
sôbre fragmentos destas tradições, já tão incompletas em
seu tempo e tornadas ininteligíveis na pena dos que no-las
transmitiram.
Se esta afirmação tivesse necessidade de outras provas,
achar-se-iam na lista das obras sagradas de Hermes, que
os sacerdotes egípcios levavam nas suas procissões solenes.
Clemente de Alexandria as indica tôdas em número de qua­
renta e duas, e entre estas nem mesmo acha, com o entre os
brâmanes, uma epopéia ou um livro que tenha a pretensão
de ser uma narrativa, e de fixar, de m odo qualquer, alguma
ação grande ou algum acontecimento.
As belas investigações do Sr. Champolion Júnior, e as
suas pasmosas descobertas sôbre a língua dos hieróglifos
confirmam estas conjeturas, longe de as destruir. Êste en­
genhoso antiquário leu em uma série de quadros hieroglí­
ficos do tempo de Abidos os apelidos de um certo número
de reis postos em seguimento uns aos outros; e uma parte
dêstes apelidos (os últimos dez) sendo achados em outros
diversos monumentos, acompanhados dos nomes próprios,
concluiu que são dos reis, que tinham aquêles nomes pró­
prios, o que lhe deu com pouca diferença os mesmos reis,
e na mesma ordem daqueles de que Maneton com pôs a sua
décima-oitava dinastia, a que expulsou os povos pastores.
Não obstante, a concordância não é completa; no quadro de
Abidos faltam seis nomes, contidos na lista de Maneton;
alguns não se assemelham; enfim, acha-se infelizmente uma
lacuna antes do mais notável de todos, Ramsés, que parece
ser o mesmo que o rei figurado em um grande número dos
mais belos monumentos com os atributos de um grande con­
quistador. Seria êste, conform e o Sr. Champolion, na lista
de Maneton, o Setos, chefe da décima-nona dinastia, o qual,
CONVITE À CIÊNCIA 227

com efeito, é indicado com o poderoso em navios e cavala­


ria, e com o tendo levado as suas armas a Chipre, à Média e
à Pérsia. O Sr. Champolion pensa, com Marsam e outros
muitos, que êste Ramsés ou êste Setos é o Sesóstris ou o
Sessósis dos gregos; e esta opinião tem probabilidade no
sentido que as representações das vitórias de Ramsés, pro-
vàvelmente ganhas sôbre os povos nômades vizinhos do Egi­
to, ou quando muito na Assíria, deram lugar a estas idéias
fabulosas de imensas conquistas atribuídas a Sesóstris por
alguma confusão qualquer; porém em Maneton é na décima-
-segunda dinastia, e não na décima-oitava, que está escrito
um príncipe de nome Sesóstris, notado com o conquistador
da Ásia e da Trácia. E por isso Marsan pretende que esta
décima-segunda dinastia e a décima-oitava não fazem mais

Indígenas polinésios

que uma. Portanto, Maneton não compreenderia as listas


que êle mesmo copiasse. Finalmente, se admitíssemos no
todo, não só a verdade histórica do baixo-relêvo de Abidos,
mas também a sua concordância ou com a parte das listas
de Maneton, que parece corresponder-lhe, ou com as outras
inscrições hieroglíficas já esta conseqüência que a preten
dida décima-oitava dinastia, a primeira em que os antigos
cronologistas começam a estar um pouco de acôrdo, é tam­
bém a primeira que tinha deixado nos monumentos vesti-
228 JÚLIO MINHAN

g ios da sua existência. M aneton p o d e ria con su lta r êste d o ­


cu m en to e ou tro s sem elhantes, m as n em p o r isso é m en os
cla ro que um a lista, um a con tin u a çã o de n om es ou de retra­
to s c o m o o s há e m tôd a parte, está b e m lon ge de ser um a
história.
O qu e fic a p ro v a d o e c o n h e cid o a resp eito d o s indianos,
o que a cab am os d e fa zer tã o v e rossím il a resp eito d o s habi­
tantes d o vale d o N ilo, n ã o é tam b ém d e p resu m ir para c o m
o s vales d o E ufrates e d o T igre? E stabelecidos c o m o o s
ind ian os e c o m o o s eg ípcios, s ô b r e u m a grande escala de
c om é r c io , em vastas p lanícies, qu e êles tinham sid o obriga­
d o s a co rta r c o m n u m e ro so s canais, e d u ca d o s c o m o aquêles
p o r sacerd otes h ered itários, p reten d id os d ep ositá rios de li­
v r o s secretos, p o ssu id o re s p rivilegiad os das ciências, astró­
log os, con stru tores d e p irâ m id es e de o u tro s grandes m on u ­
m en tos, n ã o deviam tam b ém ser sem elhantes a estou tros em
o u tro s p o n to s essen ciais? N ão devia a sua h istória redu­
zir-se igualm ente a lendas? O u sam os qu ase asseverar que
isto n ã o s ó é p rov áv el, m as está d em on strad o d e fa to .
H o m e ro n o s fala ainda d e u m grande im p é rio na Alta
Asia. H e r ó d o to n ã o atribui à su prem acia d o s assírios sen ão
qu inhen tos e vinte e c in c o an os d e d u ração, e n ã o rem on ta
a sua o rigem sen ão a co isa d e o it o sécu los antes dêle. T en d o
estad o em B abilôn ia e con su lta d o o s sacerd otes, n em m e sm o
sou b e o n o m e d e N ino, c o m o rei d o s assírios, e só fàla dêle
c o m ò p ai d e A gron , p rim e iro rei H eráclid a da Líbia. C on­
tud o, êle o faz filh o d e B elo, tanto era d esde então a c o n ­
fu sã o nas re cord a ções. S e trata d e S em íram is, c o m o d e um a
d as rainhas qu e deixaram grandes m on u m en tos em B a b ilô­
nia, n ã o a c o lo c a sen ão na sétim a g eração antes de C iro.
H elânico, co n te m p o râ n e o d e H e ró d o to , longe de adm i­
tir qu e S em íram is con stru ísse algum as o b ra s em B abilôn ia,
atribui a fu n d a çã o desta cida de a C aldeus, d écim o-qu arto
su cessor d e N ino.
T e ró sio , b a b ilô n io e sacerd ote, qu e escrevia apenas c e n ­
to e vinte an os d e p o is d e H e ró d o to , dá a B abilôn ia um a
antiguidade espan tosa; p o ré m a N a b u co d o n o so r, p rín cip e
relativam ente m u ito m o d e rn o , é qu e êle atribui o s seus p rin ­
cipa is m on u m en tos.
N o qu e respeita a C iro p ró p r io , p rín cip e tã o célebre
e c u ja h istória deveria se r tã o con h ecid a, tã o p op u lar, H e­
r ó d o t o ,'q u e vivia ce m a n o s d e p o is dêle, con fessa qu e já
existiam três op in iões diversas; e, c o m e fe ito , sessenta an os
CONVITE
A
CIÊNCIA
229

O Pequeno Cervo (Dordonha)


230 JÚLIO MINHAN

mais tarde Xenofonto nos dá dêste príncipe uma biografia,


inteiramente oposta à de Heródoto.
Ctésias, quase contemporâneo de Xenofonto, pretende-
ter tirado dos arquivos reais dos medos uma cronologia, que
atrasa mais de oitocentos anos a origem da monarquia assí­
ria, deixando mesmo à frente dos seus reis êste mesmo Nino,,
filho de Belo, de quem Heródoto havia feito um Heráclida;
e ao mesmo tempo atribui a Nino e a Semíramis conquistas
no ocidente, de uma extensão absolutamente incompatível
com a história judaica e egípcia daqueles tempos.
Segundo Megástenes, foi Nabucodonosor que fêz estas,
conquistas incríveis. Êle as levou pela Líbia até à Espanha.
Vê-se que no tempo de Alexandre, Nabucodonosor havia in­
teiramente usurpado a reputação que Semíramis tinha tido
no tempo de Artaxerxes. Mas pensar-se-á sem dúvida que
Semíramis e Nabucodonosor tinham conquistado a Etiópia
e a Líbia, quase com o os egípcios faziam conquistas a índia
e a Bactriana por Sesóstris e Osimandias.
Que seria se examinássemos agora as diversas narrati­
vas a respeito de Sardanapalo, nas quais um sábio célebre
julgou achar provas da existência de três príncipes dêste
nome, todos três vítimas de desgraças semelhantes; pouco
mais ou menos com o outro sábio encontra nas índias, pelo
menos três Vicramaditjia, igualmente todos três heróis de
iguais aventuras?
Provavelmente por causa da pouca concordância de tô­
das estas relações é que Strabão entendeu poder dizer que
a autoridade de Heródoto e de Ctésias não iguala a de He-
síodo ou de Homero. Também Ctésias não foi mais feliz
em copistas que Maneton, e hoje é bem dificultoso concor­
dar os extratos que dêles nos deram Diódoro, Eusébio e Sin­
celo.
Havendo tais incertezas no século quinto antes de Jesus
Cristo, com o se quer que Berósio pudesse esclarecê-las no
terceiro? E pode dar-se mais crédito aos quatrocentos e
trinta mil anos, que calculou antes do dilúvio, e aos trinta
e cinco mil anos que calculou entre o dilúvio e Semíramis,
do que aos registros de cento e cinqüenta mil anos, que se
jacta de ter consultado?
Fala-se de obras levantadas em províncias distantes, e
que continham o nome de Semíramis; pretende-se também
ter visto na Asia Menor, na Trácia, colunas erigidas por
CONVITE A CIÊNCIA 231

Sesóstris; porém é desta maneira que hoje na Pérsia os m o­


numentos antigos, talvez mesmo algüns daqueles, contêm o
nom e de Roustan; que no Egito ou na Arábia êles contêm
os nomes de José e de Salomão: é êste um costume antigo
<ios orientais, e provavelmente de todos os povos ignorantes.
Em uma palavra, quanto mais nisso medito mais me
persuado que não havia história antiga em Babilônia, em
Ecbátanos, nem tampouco no Egito e nas índias; e em lu­
gar de levar, com o Evemero e Banier, a mitologia à história,
sou de parecer que seria necessário levar uma grande parte
da história para a mitologia.
É só na época comumente chamada o segundo reino da
Assíria, que principia a esclarecer-se a história dos assírios
e dos caldeus, na época em que também a dos egípcios se
torna mais clara, quando os reis de Nínive, de Babilônia e
do Egito começam a encontrar-se e a combater-se no teatro
da Síria e da Palestina.
Parece todavia que os autores daqueles territórios ou
o s que tinham consultado as suas tradições, Berósio, Jerôni-
m o e Nicolau de Damasco, estavam de acôrdo tratando de
um dilúvio; Berósio o descrevia mesmo com circunstâncias
tão semelhantes às do Gênesis, que é quase impossível que
o que êle diz não seja tirado das mesmas origens, bem que
faça recuar a sua época um grande número de séculos, ao
m enos quanto se pode ajuizar pelos extratos confusos que
Josefo, Eusébio e o Sincelo nos conservam dos escritos da­
quele. Devemos porém notar, e com esta observação termi­
naremos o que respeita aos babilônios, que os séculos nume­
rosos e a grande série de supostos reis entre o dilúvio e
Semíramis são uma coisa nova totalmente própria de Be­
rósio, e de que Ctésias e os que o seguiram não haviam tido
idéia, que não foi mesmo adotada por nenhum dos autores
profanos posteriores a Berósio. Justino e Veleio conside­
ram Nino com o o primeiro dos conquistadores, e aquêles
que, contra tôda a verossimilhança, o põem mais alto, só o
fazem quarenta séculos anterior ao tempo presente.
Os autores armênios da Idade Média quase concordam
com alguins dos textos do Gênesis, quando fazem remontar
o dilúvio a quatro mil novecentos e dezesseis anos, e seria
d e crer que tendo êles recolhido as velhas tradições e talvez
extraído as crônicas antigas do seu país, form em uma auto­
ridade de mais em favor da novidade dos povos; refletindo-
-se, porém, que a sua literatura histórica só data do século
232 JÜLIO MINHAN

quinto, e que êles conheceram Eusébio. compreende-se que


deveriam acomodar-se à sua cronologia e à da Bíblia. Moisés
de Corena declara expressamente ter seguido os gregos, e
vê-se que a sua história antiga é fundada em Ctésias.
É, não obstante, certo que na Armênia existia a tradi­
ção do dilúvio muito antes da conversão dos habitatnes ao
cristianismo, e a cidade, que, segundo Josefo, se chamava o
Lugar da Descida, ainda existe ao pé do monte Ararat, e
tem o nome de Nacidcevan, que com efeito tem aquela sig­
nificação.
Diremos dos árabes, dos persas, dos turcos, dos mon-
góis, dos abexins de hoje, o mesmo que temos dito dos ar­
mênios. Os seus livros antigos, se os tiveram, já não exis­
tem, êles não têm história antiga senão a que fizeram re­
centemente, e que modelaram pela Bíblia; assim, o que êles
dizem do dilúvio é copiado do Gênesis, e não aumenta nada
a autoridade dêste livro.
Era curioso indagar qual seria, a êste respeito, a opinião
dos antigos persas, antes de ser modificada pelas crenças
cristãs e maometana. Achamo-las consignadas no seu Bou-
dees ou Cosmogonia, obra do tempo de Sassânidas, porém
evidentemente extraída ou traduzida de obras mais antigas,
e que Anquetil de Perron achou entre os persas da índia.
A duração total do mundo não deve ser mais de doze mil
anos; desta maneira ainda não pode ser muito antigo. A
aparição de Cayoumortz (o homem touro, o primeiro ho­
m em ) é precedida pela criação de uma grande água.
Finalmente seria tão inútil pedir aos persas uma his­
tória séria dos tempos antigos com o aos outros orientais;
os magos não deixaram mais história do que os brâmanes
ou os caldeus. Para prova é só estudar incertezas sôbre a
época de Zoroastro. Pretende-se mesmo que a pouca histó­
ria que êles podiam ter, e que tinha relação com os Acmê-
nides, sucessores de Ciro até Alexandre, foi de propósito
alterada, conform e uma ordem oficial de um monarca Sas-
sânida.
Para achar datas autênticas do princípio dos impérios,
e vestígios do grande dilúvio, é necessário, pois, ir até além
dos grandes desertos da Tartária. Para o oriente e para o
norte habita outra raça, cujas instituições e costumes di­
ferem tanto das nossas, com o a sua figura e o seu tempe­
ramento. Fala por monossílabos, escreve em hieroglíficos
CONVITE A CIÊNCIA 233
234 JÜLIO MINHAN

arbitrários, tem só uma moral política sem religião, porque


as superstições de Fo lhe vieram dos indianos. A tez ama­
rela, as faces salientes, os olhos pequenos e oblíquos, a barba
pouco abastecida, a fazem tão diferente de nós, que som os
levados a crer que os seus antepassados escaparam à grande
catástrofe por dois lados diversos; porém, seja o que fôr,
êles adaptam o seu dilúvio, com pouca diferença, da mesma
época que nós.
O Chouking é o livro mais antigo dos chineses; afirma-
-se que fôra redigido por Confúcio com fragmentos de obras
anteriores, há coisa de dois mil duzentos e cinqüenta anos.
Duzentos anos mais tarde sucedeu, diz-se, a perseguição dos
letrados e a destruição dos livros no tempo do imperador
Chi-Hoangti, que queria destruir os vestígios do govêm o
feudal estabelecido na dinastia anterior à sua. Quarenta
anos mais tarde, na dinastia que tinha derribado aquela a
que pertencia Chi-Hoangti, uma parte do Chouking foi res-
tituída de memória por um imperador chamado Iao, que êle
nos representa ocupado em fazer escoar as águas, que tendo
subido até o céu, ainda banham o sopé dos montes mais
altos, cobriam os outeiros menos elevados, e tornavam im­
praticáveis as planícies. Êste Iao, segundo uns, data de qua­
tro mil cento e sessenta e três, segundo outros, de três mil
novecentos e quarenta e três anos antes do tempo atual. A
variedade das opiniões a respeito desta época chega mesmo
até duzentos e oitenta e quatro anos.
Algumas páginas mais adiante mostra-se-nos Yu, mi­
nistro e engenheiro, restabelecendo a corrente das águas,
levantando diques, abrindo canais, e regulando os impostos
de cada província em tôda a China, isto é, em um império
de seiscentas léguas em todo sentido; porém a impossibili­
dade de semelhantes operações, depois de acontecimentos
tais, bem mostra que se trata unicamente de um romance
moral e político.
Historiadores mais modernos acrescentaram uma suces­
são de imperadores antes de Iao, mas com um tropel de
circunstâncias fabulosas, sem ousarem assinar-lhes épocas
fixas, variando sem cessar entre si, mesmo a respeito do
seu número, e nomes, e sem que sejam aprovadas por todos
os seus compatriotas. Foui, com corpo de serpente, cabeça
de boi e dentes de tartaruga, os seus sucessores não menos
monstruosos, são tão absurdos e exitiram tanto com o o En-
célado e Briareo.
CONVITE A CIÊNCIA 235

É possível que seja um simples acaso que dê um resul­


tado tão notável, e que faça remontar, com pouca diferença,
a quarenta séculos a origem tradicional das monarquias as­
síria, indiana e chinesa? As idéias de povos que tiveram
tão poucas relações entre si, cuja língua, religião e leis nada
têm de comum, seriam conform es sôbre êste ponto, se não
tivesse a vardade por base?
Não buscaremos datas precisas nos americanos, que não
tinham verdadeira escrita, e cujas tradições mais antigas
não subiam senão a alguns séculos antes da chegada dos
espanhóis e, não obstante, crê-se distinguir vestígios de um
dilúvio nos seus grosseiros hieroglíficos. Êles têm seu Noé,
ou seu Deucalião, assim com o os indianos, os babilônios e
os gregos.
A raça negra não pode instruir-nos sôbre o que pro­
curamos, pôsto que todos os seus caracteres nos mostrem
claramente que escapou à grande catástrofe em outro ponto
diferente do em que escaparam as raças caucásicas e altai-
ca, de quem talvez estava separada desde muito tempo,
quando aconteceu aquela catástrofe.
Diz-se, porém, que se os povos antigos não nos deixa­
ram história, a sua longa existência em corpo de nação nem
por isso é menos atestada pelos progressos que haviam feito
na Astronomia; pelas observações, cuja data é fácil de assi­
nalar, e mesmo por monumentos ainda subsistentes, e que
em si mesmos trazem datas.
Assim, a duração do ano, da maneira que os egípcios
supuseram tê-la determinado pelo nascer helíaco de Sírio,
se acha ajustada em um período compreendido entre o ano
3.000 e o ano 1.000 antes de Jesus Cristo, período em que
também caem as tradições de suas conquistas e da grande
prosperidade do seu império. Esta exatidão prova a que
ponto êles tinham levado a precisão das suas observações,
e faz sentir que êles se davam desde muito tempo a tais
trabalhos.
Para apreciar êste argumento é necessário que entre­
mos aqui em algumas explicações.
O solstício é o momento do ano em que começa a en­
chente do Nilo, e o que os egípcios deveriam observar com
mais atenção. Tendo-se feito na origem, sôbre más obser­
vações, um ano civil ou sagrado de trezentos e sessenta e
cinco dias ao justo, quiseram conservá-lo por motivos su­
236 JÚLIO MINHAN

persticiosos, mesmo depois de conhecerem que não concor­


dava com o ano natural, ou trópico, e não trazia as estações
nos mesmos dias. Contudo, era êste ano trópico que lhes
importava notar para se regularem n^s suas operações agrí­
colas. Deveriam, portanto, procurar no céu um sinal apa­
rente da sua volta, e imaginaram que achariam êste sinal
quando o Sol fôsse notável. Desta maneira se aplicaram,
com o quase todos os povos que com eçam nesta indagação,
a observar o nascimento e o ocaso helíaco dos astros. Sa­
bemos que escolheram particularmente o nascimento helíaco
de Sírio, sem dúvida por causa da beleza da estrêla, e m or­
mente porque, nos tempos antigos, o nascimento de Sírio
coincidia quase com o solstício, e, anunciando a inundação,
era para êles o fenômeno mais importante dêste gênero. Por
êsse motivo aconteceu mesmo que Sírio, debaixo do nome de
Sotis, desempenhou o mais importante papel em tôda a sua
mitologia, e nos seus ritos religiosos. Supondo, pois, que
a volta do nascer helíaco de Sírio e o ano trópico eram da
mesma duração, e crendo finalmente reconhecer que esta
duração era de trezentos e sessenta e cinco dias e um quarto,
imaginaram um período depois do qual o ano trópico e o
ano antigo, o ano sagrado de trezentos e sessenta e cinco
dias somente, devessem voltar ao mesmo dia, período que,
segundo êstes dados pouco exatos, era necessàriamente de
mil quatrocentos e sessenta dêstes anos aperfeiçoados, a que
deram o nome de anos de Sírio.
Para ponto de partida dêste período, que chamaram ano
sotíaco ou grande ano, tomaram um ano civil, de que o pri­
meiro dia era, ou tinha sido, também o de um nascimento
helíaco de Sírio; e sabe-se, pelo testemunho positivo de Cen-
sorino, que um dêstes grandes anos tinha findado no ano
138 de Jesus Cristo, e o ano que o tinha precedido em 2782.
Com efeito, pelos cálculos do Sr. Ideler conhece-se que Sírio
nasceu heliacamente a 20 de julho do ano Juliano 139, dia
que naquele ano correspondia ao primeiro de Tot, ou ao pri­
meiro dia do ano sagrado egípcio.
Porém não somente a posição do Sol relativamente às
estréias da eclíptica ou o ano sideral, não é a mesma que
o ano trópico, p or causa da precessão dos equinócios; o ano
helíaco de uma estrêla, ou o período do seu nascimento he­
líaco, principalmente quando ela está afastada da eclíptica,
difere também do ano sideral, e difere diversamente, segun­
do as latitudes dos lugares em que se faz a observação, o
que é bastante singular, contudo, e o que já Bainbridge e
CONVITE A CIÊNCIA 237

o padre Petau fizeram observar, aconteceu por um concursp


notável nas posições, que na latitude do Alto Egito, em certa
época, e durante certo número de séculos, o ano de Sírio
era realmente com muito pouca diferença de trezentos e ses­
senta e cinco dias e um quarto; de sorte que o nascimento
helíaco desta estrêla voltou, com efeito, no mesmo dia do
ano Juliano, a 20 de julho de 1322 antes e em 138 depois
de Jesus Cristo.
Desta coincidência efetiva naquela remota época, o Sr.
Fourier, que verificou tôdas estas relações por meio de um
grande trabalho e por cálculos novos, concluiu que sendo
a duração do ano de Sírio tão perfeitamente conhecida dos
egípcios, era necessário que êles a tivessem determinado por
observações feitas durante muito tempo, e com muita exati­
dão, observações que ao menos subiam a dois mil e quinhen­
tos anos antes da nossa era, e que não poderiam fazer-se
nem muito antes nem muito depois dêste intervalo de tem­
po.
Êste resultado certamente seria muito notável, se fôsse
diretamente e por observações feitas na própria estrêla Sí­
rio que êles tivessem fixado a duração do ano de Sírio;
porém astrônomos experimentados afirmam que é impossí­
vel que o nascimento helíaco de uma estrêla tenha podido
servir de base a observações exatas sôbre tal objeto, prin­
cipalmente em um clima onde o círculo do horizonte está
sempre tão carregado de vapores que nas mais belas noites
nunca se vê estrêla a alguns graus acima do horizonte, da
segunda e terceira grandezas, e que o mesmo Sol, quando
nasce e quando se põe, se acha inteiramente desfigurado.
Êles sustentam que se a duração do ano não tivesse sido re­
conhecida de outro m odo, podia haver engano de um ou dois
dias. Não duvidam, pois, que esta duração de trezentos e
sessenta e três dias e um quarto não seja a do ano trópico,
mal determinada pela observação da sombra ou pela do pon­
to em que o Sol se levantava cada dia, e identificada pela
ignorância com o ano helíaco de Sírio; de sorte que seria
um puro acaso que tivesse fixado com tanta certeza a du­
ração dêste para a época de que se trata.
Talvez se julgue também que homens capazes de obser­
vações tão exatas, e que as tivessem continuado por tão lon­
go tempo, não tivessem dado a Sírio bastante importância,
que lhe dedicassem um culto; porque teriam visto que as
relações do seu nascimento com o ano trópico e com a en­
238 JÚLIO MINHAN

chente do Nilo não eram temporárias e não tinham lugar


senão em uma latitude determinada. Com efeito, segundo
os cálculos do Sr. Ideler, em 2872 antes de Jesus Cristo,
Sírio se fêz visível no Alto Egito no segundo dia depois do
solstício; em 1322, no terceiro; e em 139 de Jesus Cristo a
vinte e seis. H oje não nasce heliacamente senão mais de
um mês depois do solstício. Os egípcios se teriam, pois, li­
mitado a achar, com preferência, a época que trouxesse a
coincidência do princípio do seu ano sagrado com o princí­
pio do verdadeiro ano tropical, e então reconhecessem que
o seu grande período devia ser de mil quinhentos e oito anos
sagrados, e não de mil quatrocentos e sessenta e um. Ora,
não se acha certamente vestígio algum dêste período de mil
quinhentos e oito anos na antiguidade.
Em geral, pode haver defesa contra a idéia de que se
os egípcios tiveram tão longas e tão sucessivas observações,
e observações exatas, o seu discípulo Eudóxio, que entre êles
estudou treze anos, teria levado à Grécia uma astronomia
mais perfeita, cartas ou mapas do céu menos grosseiros e
mais coerentes em suas diversas partes?
Como não teria a precessão sido conhecida dos gregos
senão pelas obras de Hiparco, se ela se achasse consignada
nos registros dos egípcios e escrita em caracteres tão mani­
festos nos tetos dos seus templos?
Finalmente, por que razão Ptolomeu, que escrevia no
Egito, não se teria dignado servir-se de alguma das obser­
vações dos egípcios?
Além disto, Heródoto, que viveu tanto’ tempo com êles,
não fala de m odo algum das seis horas que acrescentavam
no ano sagrado, nem do grande período sotíaco, que dêle
resultava; pelo contrário, diz positivamente que, fazendo os
egípcios o seu ano de trezentos e sessenta e cinco dias, as
estações voltam ao mesmo tempo, de m odo que no seu tempo
parece que ainda não se suspeitava da necessidade do quarto
de dia. Hales, que tinha visitado os sacerdotes do Egito
menos de um século antes de Heródoto, não fêz também co­
nhecer aos compatriotas senão um ano de trezentos e sessen­
ta e cinco dias sòmente; e se refletirmos que as colônias
saídas do Egito, inil e quatrocentos anos, ou mil e quinhen­
tos anos antes de Jesus Cristo, os judeus, e os atenienses,
todos de lá trouxeram o ano lunar, pensar-se-á talvez que o
CONVITE A CIÊNCIA 239

ano de trezentos e sessenta e cinco dias ainda não existia


no Egito naqueles séculos remotos.
Não ignoramos que Macróbio atribui aos egípcios um
ano de trezentos e sessenta e cinco dias e um quarto; mas
êste autor, comparativamente moderno, e muito posterior ao
estabelecimento do ano fixo de Alexandria, pôde confundir
as épocas. Diódoro e Strabão só aos tebanos dão um tal
ano; não dizem que fôsse de uso geral, e mesmo não exis­
tiram senão muito tempo depois de Heródoto.

Assim o ano sotíaco, o grande ano, deveria ser uma


invenção muito recente, pois que êle resulta da comparação
do ano civil com o pretendido ano helíaco de Sírio, e esta
é a razão por que dêle se não fala nas obras do segundo e
terceiro séculos depois de Jesus Cristo, e porque só o Sin­
celo, no século IX, parece citar Maneton com o tendo feito
menção dêle.
Por mais que se não queira, faz-se o mesmo conceito
da ciência astronômica dos caldeus. Era natural pensar que
um povo, que habitava vastas planícies, debaixo de um céu
sempre puro, se inclinasse a observar o curso dos astros,
mesmo desde a época em que ainda era errante, e em que
os astros podiam dirigir as suas viagens durante a noite;
porém desde quando eram êles astrônomos? e até onde le­
varam a Astronomia? É esta a questão. Querem que Ca-
lístenes tenha enviado a Aristóteles observações feitas por
êles, e que subiriam a dois mil e duzentos anos antes de
Jesus Cristo. Porém êste fato é só relatado por Simplício,
pelo que diz copiado de Porfírio, e seiscentos anos depois de
Aristóteles. Aristóteles mesmo nada diz dêle, e nenhum
verdadeiro astrônomo em tal falou. Ptolomeu relata e em­
prega dez observações de eclipses verdadeiramente feitas
pelos caldeus, porém não vão além de Nabonassar (setecen-
tos e vinte e um anos antes de Jesus Cristo); elas são gros­
seiras, e não exprimem o tempo senão em horas e meias
horas, e a sombra em semidiâmetros ou quartos de diâme­
tro. Contudo, com o êles tinham datas certas, os caldeus
deviam ter algum conhecimento da verdadeira duração do
ano, e algum meio de medir o tempo. Parece haverem co ­
nhecido o período de dezoito anos, que traz os eclipses da
Lua pela mesma ordem, e que a simples inspeção dos seus
registros devia prontamente dar-lhes; mas é constante que
não sabiam nem explicar, nem predizer os eclipses do Sol.
240 JÜLIO MINHAN

Por não ter entendido uma passagem de Josefo é que


Casini, e, segundo êste, Bailly pretenderam nela achar um
período luni-solar de seiscentos anos, que teria sido conhe­
cido pelos primeiros patriarcas.
Assim, tudo leva a acreditar que a grande reputação
dos caldeus lhes proveio em épocas modernas dos indignos
sucessores, que com o mesmo nome vendiam em todo o im ­
pério horóscopos e predições, e que a fim de ganharem mais
crédito, atribuíam aos seus grosseiros antepassados a honra
das descobertas dos gregos.
Quanto aos indianos, todos sabem que Bailly, pensando
que a época que serve de ponto de partida a algumas das
suas tábuas astronômicas tinha sido efetivamente observa­
da, quis daí deduzir a prova da alta antiguidade da ciência
neste povo, ou ao menos a da nação que lhe tivesse legado
seus conhecimentos; porém todo êste sistema, com tanto
custo ideado, cai por si mesmo, hoje que está provado que
aquela época foi adotada muito tarde sôbre cálculos feitos
retrogradando, e cujo resultado era falso.
O Sr. Bentley reconheceu que as tábuas de Tirvalour,
nas quais se fundava principalmente a afirmação de Bailly,
deveriam ser calculadas pelos anos de Jesus Cristo 1281 (há
quinhentos e quarenta), e que o suria-sidanta, que os brâ-
manes reputam o seu mais antigo tratado científico de As­
tronomia, e que pretendem ser revelado há mais de vinte
milhões de anos, não pode ter sido com posto senão há coisa
do setecentos e sessenta anos.
Solstícios, equinócios indicados nos puranas e calculas
dos segundo as posições que pareciam atribuir-lhes os sig­
nos do zodíaco indiano, tais com o se cria conhecê-los, tinham
parecido de uma espantosa antiguidade. Um estudo mais
exato dêstes signos ou narcatróis mostrou recentemente ao
Sr. Paravei, que unicamente se trata de solstícios de 1.200
anos antes de Jesus Cristo. Aquêle autor confessa ao mes­
m o tempo que o lugar dêstes solstícios é tão grosseiramente
determinado, que se não pode afiançar aquela determinação
com a diferença de dois ou três séculos. Assim são os sols­
tícios de Eudóxio e os de Tceoukong.
Está bem verificado que os indianos não observam, e
não possuem instrumento algum para isso necessário. O
Sr. Delambre na verdade reconhece com Brailly e Legentil
que êles têm operações de cálculos, que, sem provar a anti­
CONVITE A CIÊNCIA 241

guidade da sua Astronomia, ao menos mostram a sua ori­


ginalidade; e todavia não se pode conceder esta conclusão
à sua esfera; porque, independentemente dos seus vinte e
sete narcatróis ou casas lunares, que se assemelham às dos
árabes, êles têm no zodíaco as mesmas doze constelações dos
egípcios, dos caldeus e dos gregos; e se estivermos pelas
asserções do Sr. Wilfort, as constelações dos indianos extra-
zodiacais também seriam as mesmas que as dos gregos e
teriam nomes que apenas são leves alterações dos respecti­
vos nomes gregos.
Atribui-se a Iao a introdução da Astronomia na China.
Êle enviou astrônomos, diz o Chouking, aos quatro pontos
cardeais do seu império para examinar as estréias que pre­
sidiam às quatro estações, e para regular o que se faria em
cada tempo do ano, com o se fôsse necessário dispersarem-se
para uma semelhante operação. Coisa de duzentos anos
mais tarde,, o Chouking trata de um eclipse do Sol, mas com
circunstâncias ridículas, com o em tôdas as fábulas desta
espécie, porque se faz marchar um general e todo o exército
chinês contra os astrônomos, porque o não tinham bem
vaticinado; e sabe-se que mais de dois mil anos depois, os
astrônomos chineses não tinham meio algum de predizer
os eclipses do Sol. Em 1629 da nosa era, no tempo da
sua disputa com os jesuítas, nem mesmo sabiam calcular as
sombras.
Os verdadeiros eclipses, citados por Confúcio na sua
crônica do reino de Lu, não começam senão mil e quatro­
centos anos depois daquele, em 776 antes de Jesus Cristo
e apenas meio século mais alto que os dos caldeus re­
feridos por Ptolomeu; tanto é verdade que as nações, que
escaparam ao mesmo tempo à destruição, chegaram tam­
bém pelo mesmo tempo, quando as circunstâncias eram se­
melhantes, a um mesmo grau de civilização. Ora, seria de
se crer, segundo a identidade do nome dos astrônomos chi­
neses, diferentes reinados (segundo o Chouking parece que
todos se chamavam Hi e H o) que naquela época afastada
a sua profissão era hereditária na China, assim com o na
índia, no Egito e Babilônia.
A única observação chinesa mais antiga, que em si pró­
pria não tem a prova da sua falsidade, seria a da sombra,
feita por Teu-Kong, pelo ano de 1100 antes de Jesus Cristo;
não obstante é pelo menos bastante grosseira.
242 JÚLIO MINHAN

Assim, podem os nossos leitores ajuizar que os argu­


mentos tirados de uma alta perfeição da Astronomia dos
antigos povos não são mais concludentes em favor da exces­
siva antiguidade daqueles povos, do que as provas que êles
mesmos imaginaram em seu abono.
Porém ainda que esta Astronomia fôsse mais perfeita,
que provaria ela? Têm-se calculado os progressos que devia
fazer uma ciência no seio de nações que não tinham outras
ciências, em que a serenidade do céu, as necessidades da
vida pastoril e agrícola, e a superstição faziam dos astros
o objeto da geral contemplação; onde colégios de homens
os mais respeitados tinham a seu cargo registrar os fenô­
menos interessantes e transmitir a sua memória: em que a
hereditariedade de profissão fazia que os filhos fôssem des­
de o berço alimentados com os conhecimentos adquiridos
por seus pais? Entre os numerosos indivíduos, cuja ocupa­
ção única era a Astronomia, achou-se um ou dois espíritos
geométricos; e tudo o que os povos antigos souberam pôde
descobrir-se em alguns séculos.
Lembremo-nos de que desde os caldeus a verdadeira
AStronomia só teve duas idades, a da escola de Alexandria,
que durou quatrocentos anos, e a nossa, que não é tão longa.
Apenas a idade dos árabes fêz alguns progressos. Os ou­
tros séculos foram nulos para ela. Entre Copérnico e o au­
tor da mecânica celeste não se passaram trezentos anos;
e quer-se que os indianos tivessem necessidade de milhões
de anos para chegarem às suas informes teorias?
Tudo o que neste capítulo fica dito, foi História para
os interessados nela, lenda para os continuadores e tremen­
da confusão para os que nos nossos dias tendem harmonizar
o que os diferentes escritores nos transmitiram.
A Antropologia tem muito que avançar nas ciências e
como ciência se deseja desvendar pela evolução o enigma
do “ Homo sapiens”.
O TRANSFORMISMO CRISTÃO

Reproduzimos estas palavras do famoso antropólogo


católico padre Pierre Teilhardt de Chardin, da Companhia
de Jesus, que em seu livro “L’Apparition de rhomme”, ao
tratar do transformismo cristão, expõe os limites filosófi­
cos dessa concepção:
“Quaisquer que sejam o lugar e o modo de ligação que
se possam supor para o ramo humano sôbre o tronco dos
Primatas, seja que o Homem se apóie, zoologicamente, sô­
bre os Tardios eocenos (com o pensa Wood Jones), em tôda
hipótese há um fato essencial sobressalente que procede da
inspeção geral dos dados paleontológicos mais certos, e tor­
nemos a repeti-lo agora: “ A unidade de estrutura (e, por­
tanto, a unidade do processo no crescimento) é que nos
parece surpreendente, de cima para baixo, na série dos Pri­
matas, e o que nos obriga a aceitar a existência de um laço
material (e, portanto, de uma história) que ligue a cadeia
inteira.” Não; nem por um azar nem por um artifício do
Criador, ao contemplar o Homem em sua presente organi­
zação, podemos dizer dêle, como de um edifício no qual se
reconhecem os estilos das diferentes épocas: “ Êste membro
pendáctilo data do Devônico; êste tipo triangular dos den­
tes, e possivelmente o desenvolvimento do cérebro, remon­
tam-se ao Cretáceo; êste quarto bulho acessório nos mola­
res superiores foi introduzido no comêço do Eoceno; esta
grande altura foi alcançada no Mioceno; êste pêlo do maxi­
lar pertence unicamente ao fim do Quaternário. . . "
Há algo controlável e descritível que une os diferentes
estágios da configuração de nosso corpo. Ainda não com­
preendemos muito bem a natureza dêste laço físico. Mas
sua existência está bem patente, e os paleontólogos lhe da­
rão, um dia, seu nome.
No dia em que possamos dizer por que mecanismo e
através de que estágios os Antropóides superiores seguiram
aos Primatas, poderemos nos glorificar de haver esclareci­
do, por fim, o mistério do Homem?
244 JÜLIO MINHAN

Sim e não.
Sim, porque, ao advertirmos com mais urgência e mais
precisão até onde depende profundamente nossa natureza
das entranhas da Terra, faremos uma idéia melhor da uni­
dade orgânica do Universo; mediremos um pouco melhor o
valor sagrado oculto sôbre o dom da vida; sentiremos com
mais gravidade a responsabilidade de nossa liberdade, à qual
está encomendada a missão de fazer que triunfe, definitiva­
mente, um esfôrço que dura, há milhões de anos.
E não, porque, por muito poderosa que seja a História
para dilatar a consciência que possamos ter do Mundo, é
ela duplamente incapaz, por si mesma, de explicar-nos isto.
É incapaz, primeiro, porque alinhar em longas séries (p o r
completas que sejam ), os estágios seguidos pelos sêres no
curso de seu crescimento não é nada que nos ilumine sôbre
as fôrças secretas que animaram êste desenvolvimento. E,
em segundo lugar, é incapaz porque o caminho do Passado,
no qual nos achamos incluídos, é precisamente um caminho
em que os sêres não podem ser explicados.
Instintivamente, imaginamos que, seguindo cada vez
mais para cima o curso do tempo, nos aproximaremos da
zona inteligível do Mundo. É um espelhismo. Em nenhuma
parte são menos compreensíveis as coisas do que em seu
princípio. Semelhante a um rio que se empobrece gradual­
mente e logo desaparece num lamaçal quando se chega á
sua origem, o ser se atenua, logo se desvanece, enquanto
intentamos dividi-lo cada vez mais minuciosamente no es­
paço ou (o que é o m esm o), fundi-lo cada vez mais profun­
damente no tempo. A magnitude do rio compreende-se em
seu estuário, não em seu manancial. O segrêdo do Homem,
analogamente, não se acha nos estágios já superados da sua
vida embrionária (ontogênica ou filogênica); está na na­
tureza espiritual da alma. Pois bem: esta alma, tôda sín­
tese em sua atividade, escapa à Ciência, que tem por essên­
cia analisar as coisas em seus elementos e em seus antece­
dentes materiais.
Enganam-se por completo aquêles que imaginam mate­
rializar o Homem ao encontrar-lhe raízes cada vez mais
aprofundadas e numerosas na Terra. Longe de suprimir ò
espírito, misturam-no ao mundo com o um fermento.
Não façamos o jôgo desta gente, crendo, com o êles, que,
para que um ser venha do céu, é necessário que ignoremos
as condições temporais de sua origem.”
*

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