Filipe Book1
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Outubro, 2014
Ao entregar esta dissertação, o autor declara que a mesma é resultante do seu próprio
trabalho, contém contributos originais e são reconhecidas todas as fontes utilizadas,
encontrando-se tais fontes devidamente citadas no corpo do texto e identificadas na secção
de referências. O autor declara, ainda, que não divulga na presente dissertação quaisquer
conteúdos cuja reprodução esteja vedada por direitos de autor ou de propriedade industrial.
ii
Dedicatória
“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós.
Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”
- Antoine de Saint-Exupéry
iii
Agradecimentos
Para começar gostaria de agradecer ao meu orientador, o Professor Doutor Jorge Negreiros
pela disponibilidade em ouvir as minhas ideias e a dar-lhes a atenção necessária para que se
tornassem exequíveis. Agradeço o apoio e orientação prestada ao longo deste percurso.
Aos meus Pais: À minha mãe, o meu grande apoio, com quem partilhei as minhas
preocupações e as minhas alegrias. Ao meu pai que me incentivou a estudar o que realmente
gosto e a perseguir os meus sonhos, mesmo que estes pareçam difíceis de alcançar. A ambos
agradeço o esforço em me proporcionar a oportunidade de continuar a estudar, apesar das
dificuldades que se depararam no nosso caminho. Espero recompensar o vosso esforço daqui
para a frente.
Ao meu Irmão Miguel que sempre esteve do meu lado nos bons e maus momentos.
À Ana, irmã de pai e mãe diferentes, a melhor amiga com que a vida me podia ter
presenteado.
À Marina, grande amiga com quem percorro os caminhos nesta vida desde os anos
complicados da adolescência.
À Daniela, à Mimi e à Rute, colegas de curso e amigas que pretendo manter para a vida.
Ao Centro Educativo de Santo António, ao seu Diretor, o Dr. António Viana, às suas
Coordenadoras, a Dr.ª Emília Moreira e a Dr.ª Isabel Ferreira, aos seus técnicos, a Dra. Paula
Teixeira e o Dr. Eduardo Garrido, e às suas administrativas, a Dª Anabela e a Dª Lígia por
todo o apoio e partilha de acontecimentos que foi uma preciosa ajuda na realização deste
trabalho.
Aos Jovens, os “meus miúdos”, pela disponibilidade e compreensão. Que a vida vos sorria
e seja melhor daqui para a frente.
Obrigada a todos!
iv
Resumo
v
Abstract
vi
Resumé
vii
Índice
Introdução ............................................................................................................................ 1
Anexos .......................................................................................................................... 51
Anexo 1: Instrumentos de recolha de dados........................................................ 52
Anexo 2: Tabela com categorias e subcategorias ................................................ 55
Anexo 3: Termo de consentimento informado .................................................... 60
viii
Índice de Abreviaturas
CE – Centro Educativo
ix
Introdução
1
Enquadramento Teórico
Ao longo dos séculos foram várias as expressões utilizadas no discurso popular para
designar o comportamento dos jovens considerados mais rebeldes e perigosos: crianças e
adolescentes problemáticos, incorrigíveis, vagabundos, desordeiros, indivíduos de mau
caráter, alienados ou loucos (Fonseca & Queiroz, 2008). Na comunidade científica, uma
multiplicidade de designações, tais como crime, delinquência ou perturbação do
comportamento, têm sido atribuídas para definir os comportamentos antissociais (Negreiros,
2001). A construção social da infância e da juventude condicionou o surgimento
representacional do conceito delinquência juvenil, vista como algo que se desvia do tipo
ideal de criança protegida e submissa à autoridade (Santos et al, 2010). A discussão neste
tema cruza os olhares de várias disciplinas, nomeadamente da sociologia, da psicologia e do
direito, tornando este um conceito complexo de definir.
Na sua definição legal, a delinquência juvenil será definida como a prática de atos
proibidos pela lei de uma determinada sociedade, por parte de crianças e jovens (Duarte,
2011). Os comportamentos que são considerados delinquentes incluem delitos que são
crime, se cometidos por um adulto, bem como uma variedade de comportamentos que são
ilegais devido à idade do jovem (Negreiros, 2001). Na definição jurídico-legal está incluída
o conjunto de respostas e de intervenções institucionais e legais em relação aos menores que
cometem infrações criminais ou com comportamentos potencialmente delinquentes
(Ferreira, 1997).
Segundo os Relatórios Anuais de Segurança Interna (RASI) a delinquência juvenil
em Portugal tem vindo a diminuir desde 2002, apesar de algumas oscilações positivas
(Duarte, 2011). Não se pode, contudo, deixar de ter em conta que muitos dos
comportamentos antissociais nos jovens não são alvo de condenações nem muitas vezes
chegam a ir a tribunal, o que contribui para a ausência de dados rigorosos sobre a sua
frequência. Deste modo, a delinquência oficial não corresponde à delinquência real
(Machado, 2004). Apesar desta aparente diminuição, a comunicação social tem vindo a
contribuir para um certo pânico moral em torno da criminalidade juvenil urbana (Santos et
al, 2004; Santos et al, 2010), o que contribui para a manutenção do sentimento de
insegurança. Este é definido como um conjunto de manifestações de inquietação, de
2
perturbação ou de medo, quer individuais, quer coletivas, cristalizadas sobre o crime
(Lourenço, 2010). Exemplo disso é o recente alarme social criado em torno dos “gunas da
Areosa”, no Porto, ou dos “meets” de jovens, em Lisboa.
A noção de comportamento antissocial revela-se um conceito mais abrangente,
referindo-se a uma vasta gama de atividades como atos agressivos, furto, vandalismo, fugas
ou outros comportamentos que traduzem, de um modo geral, uma violação de normas ou de
expectativas socialmente estabelecidas (Negreiros, 2001). Esta conceção sociológica da
delinquência entende que nem todo o indivíduo que comete um ato delinquente é, aos olhos
da lei, um delinquente (Born, 2005), sendo identificados comportamentos considerados
normativos nos anos de descoberta da adolescência (e.g., faltar às aulas, beber bebidas
alcoólicas, lançar falsos alarmes, fugir de casa) (Sampaio, 2010). Do mesmo modo, o
envolvimento em comportamentos antissociais, apesar de ser um pré-requisito para
manifestações posteriores destes comportamentos, não pressupõe o envolvimento a longo
prazo na esfera da delinquência e do crime (Robins, 1978, cit. in Thornberry e Krohn, 2004).
Para Ferreira (1997), a delinquência juvenil pode ser entendida em mais do que um
nível: se por um lado é definida a partir das leis, das práticas e das crenças dos responsáveis
sociais e legais pelo controlo e tratamento do comportamento delinquente e de outros
problemas juvenis relativas ao comportamento destes, por outro lado, a delinquência juvenil
é também um comportamento: “o comportamento que os jovens estabelecem com a família,
os amigos e outros adultos nos espaços onde a delinquência emerge” (p. 916).
O comportamento delinquente resulta de uma rede de fatores e é expressão duma
constelação de problemas, pelo que não pode haver um foco apenas no indivíduo que põe
em prática esse tipo de comportamento (Carrilho, 2000). As investigações da delinquência
juvenil apoiam a ideia segundo a qual não há uma causa que, sozinha, seja responsável por
todo o tipo de delinquência, como também não existe uma trajetória que, sozinha, leve o
indivíduo para uma vida de crime (Loeber & Farrington, 1998). Uma vez que a delinquência
pode ser considerada uma problemática onde se entrecruzam os níveis individual e social do
fenómeno, este não poderá ser reduzido “a modelos de causalidade potencialmente passíveis
de generalização, como se se pudesse falar de causas únicas e globais, ignorando-se a
complexidade da vida social” (Carvalho, 2005, p.73). Neste sentido, estudos recentes
(Wyrick & Howell, 2006, cit. in Manso e Almeida, 2009) concluem pela necessidade de uma
abordagem sistémica da delinquência juvenil baseada num conhecimento fundamentado dos
fatores de risco e de proteção associados aos diferentes contextos em que os jovens se
movem (família, escola, grupo de pares, meio comunitário).
3
Os fatores de risco são definidos como “as características e variáveis que, quando
presentes num determinado indivíduo, aumentam a probabilidade desse indivíduo, mais do
que outro da população em geral, em desenvolver uma desordem comportamental” (Mrazek
& Haggerty, 1994, p.127, cit. in Shader, 2004). Os autores que estudam os fatores de risco
concordam que, quanto maiores forem os riscos a que o jovem esteja exposto, maiores são
as probabilidades de exercerem consequências negativas (Appleyard et al., 2005, cit. in
Coleman & Hagell, 2007). Apesar de nem todas as crianças antissociais se tornarem
adolescentes antissociais ou delinquentes, muito poucos adolescentes delinquentes não
foram antissociais enquanto crianças (Snyder & Patterson, 1987).
Farrington (2008) identificou os tipos de fatores de risco mais importantes para a
delinquência: os fatores individuais, como a elevada impulsividade e a baixa inteligência; os
fatores familiares, como a fraca supervisão parental e a disciplina severa ou inconsistente;
os fatores do grupo de pares, como a pertença a grupos de delinquentes; os fatores escolares,
como a frequência de escolas com elevada incidência de casos de delinquência; os fatores
socioeconómicos, como os baixos rendimentos familiares e condições habitacionais
precárias; e os fatores comunitários, como viver em bairros com elevada ocorrência de
crimes. Segundo o autor, estes fatores de risco tendem a ser idênticos para diversos tipos de
comportamento desviante, designadamente delinquência, violência, consumo de drogas,
maus resultados escolares e desemprego.
A avaliação dos fatores de risco determinam o tipo de intervenção que os jovens
necessitam de modo a diminuir o risco de encetar comportamentos delinquentes (Shader,
2004). Entre estes fatores, as relações familiares surgem como um dos tradicionalmente
considerados como potencialmente mais significativos (Machado, 2004), ocupando um
lugar de destaque em diversos estudos. Tal como refere Born (2005): “A família está
necessariamente implicada na compreensão da delinquência enquanto cadinho onde esta
delinquência nasceu ou enquanto lugar de interações relacionadas com condutas
delinquentes de um ou de vários dos seus membros” (p.74). É sobre as influências familiares
no comportamento delinquente que nos debruçaremos de seguida.
4
2. Influências Familiares no Comportamento Delinquente
6
uma probabilidade aumentada de cometer atos delinquentes (Wasserman & Seracini, 2001;
West & Farrington, 1973, cit. in Shader, 2004). A estas famílias têm sido associadas
tipicamente a um conjunto de condições familiares indesejáveis envolvendo pobres modelos
parentais (e.g., criminalidade parental), pobres práticas educativas (e.g., disciplina
inadequada) e dificuldades acrescidas a nível habitacional e económica, bem como de
interação familiar (Fischer, 1984; Glueck & Glueck, 1950)
A pertença socioeconómica da família também tem sido alvo de atenção dos
investigadores na explicação do comportamento delinquente. Para os jovens que nascem
numa família com alta vulnerabilidade de posição social, os pais oferecem um meio pouco
estruturante em termos de socialização, sendo esta ao mesmo tempo uma teoria interacionista
(é-se vulnerável a alguma coisa) e uma teoria estrutural (a vulnerabilidade depende da
posição dos sujeitos na estrutura social) (Born, 2005).
7
de desenvolvimento, sendo a segurança proporcionada ao adolescente direcionada a
explorações exteriores à família, incluindo a formação de novas relações. Os efeitos da
vinculação no desenvolvimento de problemas de comportamento não teria um efeito direto,
defendendo-se, em vez disso, que a vinculação insegura constitui um fator de risco e que a
acumulação de fatores de risco potencia a manifestação de problemas de comportamento,
nomeadamente as condutas antissociais (Greenberg et al., 1997; Loeber & Coie, 2001;
Moffitt & Caspi, 2000, cit. in Machado, 2004).
Os teóricos defendem que os jovens com fortes vinculações aos seus pais,
caracterizadas pelo apoio e envolvimento, têm menos probabilidade de se envolver em
atividades delinquentes (Hirschi, 1969; Parker & Benson, 2004, cit. in Gault-Sherman,
2012). A explicação reside no receio dos jovens em danificar estas relações importantes.
Contudo, quando este apoio e envolvimento está comprometido, poderá criar um terreno
fértil para o jovem encetar comportamentos delinquentes. Se a vinculação entre os pais e o
adolescente for disruptiva durante a infância, isso irá trazer consequências negativas a longo-
prazo, tais como a inabilidade de mostrar afeto ou preocupação com os outros, constituindo
um risco para a delinquência (Ainsworth, 1989; Bowlby, 1944, 1973 cit. in Hoeve et al.,
2012; Hirschi, 1969; Loeber e Stouthamer-Loeber, 1986). Neste sentido a perceção da
vinculação nos jovens delinquentes pode estar negativamente comprometida, devido à
enorme possibilidade de terem havido relações inseguras e de falta de proteção, que
constituíram um risco para o atual comportamento. Numa meta-análise da relação
vinculação-delinquência, Hoeve et al. (2012) encontraram uma perceção de menor laço
afetivo com os pais em jovens envolvidos em comportamentos delinquentes.
As práticas educativas ressaltam como a característica familiar essencial mais
solidamente ligada à delinquência (Glueck e Glueck, 1950; Gottfredson e Hirschi, 1990). É
a atitude parental que, ao proporcionar à criança um quadro educativo coerente, protegerá
melhor simultaneamente de uma delinquência ocasional e de uma delinquência de carreira
(Born, 2005). De acordo com Gottfredson e Hirschi (1990), as práticas parentais
instrumentais tais como a supervisão e a monitorização da criança tem um efeito indireto na
delinquência, através da formação de controlos internos (i.e., de autocontrolo) que ajuda a
criança a regular o seu próprio comportamento mesmo na ausência de supervisão parental
direta.
No controlo que os pais exercem sobre os filhos, nomeadamente na imposição de
regras e disciplina, a investigação tem demonstrado que as famílias de jovens delinquentes
são menos restritivas quando comparadas com famílias de jovens não delinquentes (Bandura
8
& Walters, 1959; Glueck & Glueck, 1950; McCord et al., 1961 cit. in Baumrind, 1966).
Snyder e Patterson (1987) argumentaram que as práticas de disciplina pobres e erráticas têm
efeito no desenvolvimento da delinquência de duas formas: de forma direta, através da falha
na adequada e consistente etiquetagem, seguimento e contingência do seu desempenho, e
através da modelagem e reforço de modos de resolução de problemas e relacionamentos
agressivos; e de forma indireta, ao aumentar a probabilidade de rejeição por pares
normativos e associação com pares agressivos e antissociais. Deste modo, os pais têm a
capacidade de influenciarem com quem os seus filhos se relacionam e, através de
monitorização e disciplina efetiva, o acesso a pares desviantes é afetada (Simons et al., 1991,
cit. in Carlson, 2012).
A monitorização refere-se à consciência e conhecimento parental dos pares, das
atividades de tempos livres e da localização fora de casa dos seus filhos, sendo um aspeto
essencial no controlo do comportamento (Snyder & Patterson, 1987). Em geral, uma
monitorização cuidadosa e disciplina apropriada exercida pelos pais tendem a limitar a
delinquência e uso de droga, e, quando inadequado, facilita o envolvimento dos jovens nas
práticas delinquentes (Buehler, 2006; Hirschi, 1969). Estudos revelam que os pais de
delinquentes são menos prováveis de monitorizar e supervisionar as atividades dos seus
filhos do que os pais de não delinquentes (Hirschi, 1969; Krohn & Massey, 1980; McCord,
1990; Park & Slaby, 1983, cit. in Krohn, Stern, Thornberry, & Jang, 1992). Patterson e
Stouthamer-Loeber (1984) realizaram uma investigação verificando a influência da
monitorização parental sobre a ocorrência e a persistência do comportamento delinquente
em adolescentes. Os autores encontraram uma correlação negativa significativa entre
monitorização, disciplina parental e delinquência. Os resultados mostraram que 21% dos
adolescentes não delinquentes eram pobremente monitorizados pelos pais; esse índice sobe
para 50% nos delinquentes moderados (uma ou duas ocorrências policiais), e para 73% nos
delinquentes persistentes (três ou mais ocorrências policiais). Estes dados indicam que o
fracasso dos pais em monitorizar o comportamento dos filhos está significativamente
relacionado com a ocorrência e persistência do comportamento delinquente.
Os estilos educativos parentais podem ser importantes fatores de risco, uma vez que
conjugam as duas dimensões do apoio e do controlo parental que se mostraram
negativamente relacionadas com a delinquência. Os estilos educativos são definidos através
de um “conjunto de atitudes face à criança que lhe é comunicado e cria um clima emocional
no qual os comportamentos são expressos” (Darling e Steinberg, 1993, p.493, cit. in Cruz,
2013). Conjugam as dimensões da afetividade e do controlo comportamental, formando um
9
estilo de parentalidade. No estilo autorizado está presente um equilíbrio entre o apoio e o
controlo, no estilo autoritário existe baixo apoio e alto controlo, no estilo permissivo existe
alto apoio e baixo controlo, e no estilo negligente o apoio e o controlo são mínimos.
(Baumrind, 1991, Maccoby e Martin, 1983, cit. in Cruz, 2013).
Apesar existirem poucos estudos que se foquem na relação entre estilo parental
negligente e delinquência, os estudos que mediram a negligência parental
unidimensionalmente encontraram relações entre a negligência e a delinquência (Hoeve et
al., 2009). O estilo negligente revelou-se uma das condições da educação dos filhos que mais
dispõe para o crime, produzindo condutas marginais (Baumrind, 1991; Maccoby & Martin,
1983; Steinberg et al., 1994, cit. in Born, 2005) e maior probabilidade de serem presos por
crimes de drogas e álcool (Chen, Propp, deLara, & Corvo, 2011). Uma parte dos jovens
provenientes de famílias negligentes são atraídos para o que é socialmente inaceitável ou
ilegal (Stevenson, 2007). Tal vai de encontro ao paradigma da negligência formulado por
Loeber & Stouthamer-Loeber (1986), em que a delinquência é resultado de uma falta de
implicação e de incompetência de vigilância por parte dos pais. Por sua vez, a ausência de
controlo, mesmo quando acompanhada de afetividade - o estilo educativo permissivo -
resulta numa escalada de comportamentos, nomeadamente de rejeição parental e de caráter
antissocial, que escapam totalmente ao controlo dos pais (Kandel & Lesser, 1972, cit. in
Relvas, 1996).
As práticas educativas coercivas também demonstram ter relação com o
comportamento delinquente. Estudos demonstram que altos níveis de controlo autoritário e
de punição dura estão relacionados com altos níveis de delinquência e comportamento
antissocial, apesar dos tamanhos dos efeitos variarem substancialmente entre estudos
(Farrington, 1989; Farrington, et al, 2003, cit. in Loeber e Stouthamer-Loeber, 1986). Vários
teóricos sugerem que estas práticas podem produzir défices socio-emocionais ou
sociopsicológicos (e.g., raiva, baixo autocontrolo) que leva os jovens a cometer atos
delinquentes sob algumas condições (Agnew, Rebellon, & Thaxton, 2000; Colvin, 2000;
Crosswhite & Kerpelman, 2009, cit. in Brauer, 2011). Diana Baumrind (1966) defendeu que
a punição só por si não seria prejudicial, dependendo do seu enquadramento no padrão de
controlo comportamental. A punição aplicada por uma figura parental calorosa, sendo
contingente ao comportamento da criança, para além de ser eficaz no controlo imediato do
comportamento desta, pode ter efeitos laterais benéficos. Pelo contrário, a punição brutal ou
arbitrária está associada a vários comportamentos indesejáveis, como a agressividade, a
passividade, a dependência e a inibição social. De salientar que os estilos educativos variam
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culturalmente. Em vários países ocidentais, o estilo autorizado é o mais aceitável, mas na
cultura chinesa o estilo autoritário é o que produz mais efeitos positivos, sendo que os
adolescentes chineses percecionam a afirmação de autoridade como preocupação, carinho e
envolvimento (Moore & Kang, 2011).
Patterson (1982, cit. in Born, 2005) elaborou o modelo coercivo recíproco para
descrever o processo pelo qual os membros da família reforçam, sem necessariamente terem
consciência disso, os comportamentos antissociais dos filhos, através de reforços negativos.
Estes surgem quando os pais formulam exigências e a criança não lhes responde ou responde
negativamente (palavras ou atos negativos/agressivos) sem que haja uma reação parental.
Deste modo, o progenitor é coercivo sem eficácia e a criança é eficazmente coerciva.
Hoeve et al. (2009) numa meta-análise acerca da relação entre a parentalidade e a
delinquência, encontrou diferenças na influência das variáveis relativas ao afeto e ao
controlo parental consoante a idade dos jovens. A vinculação parece ser mais importante em
idades mais jovens, dado que a ligação vinculação-delinquência foi encontrada como se
tornando fraca em idades mais avançadas, enquanto o controlo parental permanece como um
fator de risco da delinquência importante durante toda a adolescência, dado que a ligação
controlo parental-delinquência não é moderado pela idade. Foi possível, ainda, perceber
diferenças entre a parentalidade maternal e paternal, com o apoio do pai mais relacionado
com a delinquência nos rapazes do que o apoio da mãe, e uma relação com delinquência
mais forte quando pais e filhos têm o mesmo sexo.
A relação entre a parentalidade e delinquência não é unidirecional, podendo o
comportamento dos jovens influenciar o comportamento dos pais. Estudos longitudinais
mostram que os pais tendem a reagir aos problemas de comportamento do adolescente
através da desistência do controlo e apoio (Huh, Tristan, Wade, & Stice, 2006; Kerr &
Stattin, 2003; Stice & Barrera, 1995, cit. in Keijsers, Branje, VanderValk, & Meeus, 2010),
tal podendo dever-se ao aumento dos níveis de tolerância dos pais com os comportamentos
desviantes ou pelo desapontamento provocado em relação aos filhos. Neste sentido, não se
deve esquecer as mudanças ocorridas durante a adolescência e que afetam as práticas
educativas. À medida que os adolescentes amadurecem, uma exigência por independência
aumenta, e o processo de individuação avança (Steinberg, 1990; Steinberg e Silverberg,
1986, cit. in Jang & Smith, 1997). Mesmo quando os pais continuam a estar envolvidos e
vigilantes, eles perdem gradualmente a sua influência anterior nas atitudes e
comportamentos dos filhos, sobrepondo-se o palco da vida adolescente, como as influências
de pares e da comunidade, que se tornam mais potentes (Thornberry, 1987, cit. in Warr,
11
2007). Alguns pais reduzem as suas tentativas de supervisão face a estas exigências de
independência, resultando num padrão de “autonomia prematura” entre os adolescentes
(Dishion et al, 2000, cit. in O’Brien e Scott, 2007). Neste aspeto salienta-se o papel que a
comunidade que rodeia o jovem e a sua família pode exercer sobre estes: pode haver
exposição direta a atitudes e comportamentos de pares e adultos da comunidade que o rodeia,
e indiretamente estas zonas podem ter impacto nos pais, como o aumento do stress e a
disrupção da parentalidade (Capaldi, DeGarmo, Patterson, & Forgatch, 2002, cit. in Criss et
al., 2009).
Kerr e Stattin (2000) relativizam o lugar do controlo parental na produção da
conformidade social e sugerem que são as confidências espontâneas dos filhos que revelam
o melhor preditor de uma adaptação social positiva. No seu estudo, nas famílias de
delinquentes os adolescentes nunca tomavam a iniciativa de fornecer ao seu progenitor as
informações pertinentes, algo que acontecia em famílias sem delinquentes. Ou seja, mais do
que o controlo exercido pelos pais, é, segundo os autores, aquilo que os adolescentes
resolvem contar aos pais que diferencia estas famílias.
Outro fator importante a ter em consideração é a criminalidade parental, considerada
como um dos fatores de risco por detrás do desenvolvimento do comportamento delinquente
nas crianças e adolescentes (e.g., Farrington, 1995). Se a família é a instituição de
socialização, a delinquência, quando existe nos seus membros, pode ser considerada a falha
da instituição na sua função de transmissão de valores sociais aos seus descendentes
(Carrilho, 2000). Estudos demonstraram que a reclusão dos progenitores pode constituir um
fator de risco para os problemas de comportamento, nomeadamente delinquentes, e para o
uso de substâncias nos adolescentes (Midgley & Lo, 2013). O cumprimento de pena de
prisão pelos pais e o subsequente afastamento dos seus filhos corta a normalidade na relação
pais-filhos e pode comprometer os laços necessários ao desenvolvimento da saúde
emocional dos filhos e ameaçar a vinculação. O comportamento dos jovens que cometem
atos delinquentes não é desencorajado ou, pelo menos, não é gerador de conflitos com as
normas e valores dos pais, dado as atitudes positivas em relação à criminalidade que estes
pais exibem (Gorman-Smith, Tolan, Loeber & Henry, 1998, cit. in Nijhof, Kemp, & Engels,
2009).
12
3. O Sistema de Justiça de Menores em Portugal: a Lei Tutelar Educativa
13
personalidade do jovem, incluída a sua conduta e inserção socioeconómica, educativa e
familiar. A educação para o direito constitui, aliás, o eixo central da vertente reeducativa da
LTE (Neves, 2008), cujo conceito exprime a necessidade de educação para o respeito pelos
valores essenciais à vida em comunidade que a prática do facto revela. Trata-se de fazer o
jovem compreender os valores essenciais da comunidade e as regras elementares de
convivência social a que qualquer cidadão deve obediência (Rodrigues & Duarte-Fonseca,
2000).
A LTE prevê um amplo leque de medidas tutelares prevendo-se como medidas de
caráter não institucional as seguintes: a admoestação, a privação de conduzir ciclomotores
ou de obter permissão para conduzir ciclomotores, a reparação ao ofendido, a realização de
prestações económicas ou de tarefas a favor da comunidade, a imposição de regras de
conduta, a imposição de obrigações, a frequência de programas formativos e o
acompanhamento educativo (artigo 4.º, LTE). Prevê, ainda, uma medida de caráter
institucional: o internamento em Centro Educativo (CE).
14
de prisão superior a três anos; e b) ter o menor idade superior a 14 anos à data da aplicação
da medida (artigo 17.º, n.º 4). Tem a duração mínima de seis meses e a máxima de dois anos,
podendo atingir a duração máxima de três anos quando o menor tiver praticado facto
qualificado como crime a que corresponda pena máxima, abstratamente aplicável, de prisão
superior a oito anos, ou dois ou mais factos qualificados como crimes contra as pessoas a
que corresponda a pena máxima, abstratamente aplicável, de prisão superior a cinco anos.
A execução da medida tutelar de internamento pode prolongar-se até aos 21 anos,
momento em que cessa obrigatoriamente (artigo 5º, LTE).
No caso particular das medidas não-institucionais, a LTE prevê, no seu artigo 22.º a
execução participada destas medidas, ou seja, a colaboração dos pais ou outras pessoas
significativas para o menor, familiares ou não, de forma a concretizar-se os fins educativos
visados pelas medidas.
No que respeita ao internamento em centro educativo, o artigo 173.º consagra os
direitos dos pais ou representante legal: “Os pais ou o representante legal conservam, durante
o internamento, todos os direitos e deveres relativos à pessoa do menor, que não sejam
incompatíveis com a medida tutelar, salvas as restrições ou proibições impostas pelo tribunal
(n.º1) ”. Os pais ou representante legal têm, ainda, direito a acompanhar a vida dos jovens a
15
seu cargo durante o internamento, devendo ser avisados de qualquer situação excecional que
aconteça, bem como da evolução do processo educativo do menor.
Apesar do papel de colaboração da família previsto na LTE no que respeita ao
acompanhamento de todo o processo tutelar educativo dos jovens, na realidade este
acompanhamento apresenta lacunas. Em 2004, um estudo de Santos e colaboradores com
profissionais ligados à reinserção social (e.g., procuradores do ministério público, técnicos
superiores de reinserção social) refere que no cumprimento de medidas tutelares,
institucionais e não-institucionais, são apontadas falhas das famílias no acompanhamento
efetivo dos seus descendentes. Consideram que a família assume, em muitos casos, uma
postura pouco interventiva e mesmo demissionária, considerando que, na prática, não
existem mecanismos que vinculem os pais ou os detentores da guarda dos jovens ao apoio
da execução das medidas. Esta desresponsabilização da família não é o único problema
apontado. A Comissão de Acompanhamento e Fiscalização dos Centros Educativos
(CAFCE, prevista no artigo 209.º da LTE), no Relatório de 2012, chama a atenção para o
insuficiente trabalho nos contextos de origem. Sublinha que no terreno “não há
conhecimento suficiente e adequado dos contextos de origem, nem há trabalho suficiente e
adequado nesses contextos, apesar da grande maioria dos jovens, depois de cumprida a
medida, retornar às suas famílias” (p.35).
A família parece, assim, ser vista como um universo distinto dos jovens, sem que
haja uma interação entre a intervenção desenvolvida junto do jovem e a intervenção que
deveria ser aplicada à família, mas que na realidade não acontece (CAFCE, 2012). Torna-
se, por isso, necessário não só motivar as famílias e fazê-las entender a necessidade de
participar na execução das medidas, mas também encetar intervenções no contexto de
origem, de modo a aumentar o sucesso da intervenção com os jovens que cumprem medidas
tutelares educativas (Santos et al., 2004).
16
Estudo Empírico
1. Metodologia de Investigação
1.2. Participantes
O presente estudo contou com a participação de 12 jovens do sexo masculino a
cumprir MTE de internamento num CE português, 2 em regime fechado e 10 em regime
semiaberto. As idades dos jovens estavam compreendidas entre os 15 e os 19 anos de idade
(M=17; DP=1.04). A escolha do grupo participante no estudo obedeceu aos seguintes
critérios: (i) o cumprimento de medida tutelar de internamento há pelo menos 6 meses, para
que a vivência do internamento possibilitasse a construção de significados em torno dessa
experiência, especialmente no que às relações familiares se refere; e (ii) o tipo de factos
ilícitos praticados pelos jovens, de modo a que o grupo escolhido apresentasse um padrão
criminal diversificado. Foi também tida em conta a relação de empatia e confiança
construída ao longo do tempo resultante da realização de um estágio curricular na instituição.
No que se refere aos factos ilícitos foi possível perceber que dois jovens tinham
praticado factos ilícitos considerados não violentos graves, relacionados com o tráfico de
estupefacientes, sendo os únicos no centro educativo nesta condição. Sete jovens praticaram
factos ilícitos considerados violentos (e.g., crime de roubo, ofensa à integridade física
17
simples), sendo que quatro destes jovens apresentam um padrão exclusivamente aquisitivo
(i.e., apenas crimes de roubo e/ou furto). Por fim, três jovens praticaram factos ilícitos
considerados violentos graves (e.g., ofensas à integridade física agravada). Através da
consulta dos processos individuais foi, ainda, possível perceber que sete jovens tinham
processos tutelares educativos anteriores, cumpridos ou não, e três jovens tinham ainda
processos tutelares para cumprir no fim da atual medida de internamento. Destes jovens,
nove estavam sinalizados por MPP da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ)
antes da entrada no centro educativo.
18
1.4. Procedimento
Após a obtenção da autorização dos Serviços Centrais da Direção Geral de
Reinserção e dos Serviços Prisonais (DGRSP) e da instituição, procedeu-se à recolha dos
dados. Inicialmente foi disponibilizada pelo CE uma lista dos jovens que permitiu fazer uma
pré-seleção dos jovens que estavam a cumprir medida há pelo menos seis meses. A partir
dessa lista, foram recolhidas informações acerca da medida de internamento atual, de modo
a selecionar os jovens pelos factos ilícitos. Nesta seleção foi possível perceber que apenas
dois jovens praticaram factos não violentos, ainda que graves, e uma minoria tinha cometidos
factos ilícitos violentos graves. Deste modo, os participantes selecionados tinham, na sua
maioria, praticados factos ilícitos violentos. Com os doze jovens selecionados e de modo a
perceber, ainda que de uma forma breve, os seus percursos, através da consulta dos processos
individuais, procurou-se informação acerca de existência de processos tutelares educativos
anteriores e/ou por cumprir, e se, no âmbito da LPCPJ, já tinham sido abrangidos por
medidas de promoção e proteção (MPP).
Para a realização das entrevistas, e de forma a salvaguardar a ética de todo o processo,
foi apresentado aos jovens o termo de consentimento informado (cf. Anexo 3), que informou
acerca do tema em estudo, os seus objetivos e a atividade a ser desenvolvida, procedendo-se
ao esclarecimento de possíveis dúvidas. Foi obtida autorização para a gravação em áudio,
garantindo-se o sigilo e a confidencialidade das informações fornecidas, tal como está
previsto no artigo 176.º da LTE.
Após a compreensão do que se pretendia, foi iniciada a entrevista, sendo esta
semiestruturada, permitindo uma maior flexibilidade. As entrevistas decorreram no CE em
horário autorizado pelo Diretor da instituição, numa sala disponibilizada para o efeito, tendo
estas durado cerca de 30 minutos cada.
Para a análise das entrevistas, foi escolhido o método de análise de conteúdo. Para
Bardin (1977/2011), a análise de conteúdo enquanto método torna-se um conjunto de
técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de
descrição do conteúdo das mensagens. Considera-se, por isso, um método adequado ao
presente estudo, dado que permite a análise das representações dos participantes. Realizadas
todas as entrevistas, procedeu-se, então, à transcrição integral de cada uma das entrevistas,
fazendo-se uma leitura flutuante do seu conteúdo, de modo a haver uma familiarização com
o seu conteúdo. Posteriormente, e após mais leituras, efetuou-se um procedimento de
categorização do conteúdo das narrativas, que consistiu na divisão das respostas em
categorias e subcategorias de temas. Estas, segundo Bardin (1977/2011) organizam os
19
indicadores significativos para a inferência do conteúdo implícito e explícito que se procura
compreender. A criação destas categorias (cf. Anexo 2) baseou-se na conjugação entre o
conteúdo das entrevistas e os conceitos teóricos centrais desenvolvidos no enquadramento
teórico deste trabalho. Esta categorização ajudou na organização, análise e interpretação do
discurso dos jovens entrevistados.
2. Resultados
20
No que respeita à instabilidade estrutural, dois jovens, que à data da entrada no
centro educativo estavam institucionalizados em lares de infância e juventude, relatam as
sucessivas mudanças por que passaram ao longo dos anos:
Com a minha mãe…mas saí de casa dela e fui para uma instituição. [E sempre viveste com a tua mãe?]
Não vivi sempre com ela. Dos 5 aos 8 vivi com uma família de acolhimento e depois fui morar com a
minha mãe, depois fui morar com o meu pai, e era assim…era um bocado complicado, sim. [A
instituição…Porque é que foste para lá?] Se calhar foi por eu não ter muitas regras. Eu e o meu irmão.
(E10_EC_17)
Na Casa Pia. [E sempre viveste assim?] Desde 2010, 2009… [Com quem é que vivias antes?] Com os
meus avós. [Com os teus pais nunca viveste?] Sim, mas foi até aos 7, 8 anos. E foi só com a minha mãe.
(E12_DE_17)
O meu pai caiu-lhe um andaime em cima e ele ficou numa cadeira de rodas, mas prontos, ficou com
problemas e não pôde trabalhar mais. (….) A minha mãe também teve um problema que foi cancro e
depois também ficou com o atestado de invalidez e não trabalha. (E1_MP_17).
A maioria dos jovens define a condição económica dos progenitores como sendo
suficiente para as despesas do dia-a-dia, sendo que dois jovens identificam algumas
dificuldades, colmatadas por ajudas de terceiros (e.g., “A minha avó ajuda a gente porque a
minha mãe não tem um ordenado propriamente fixo”, E8_PS_18).
21
a mãe pouco presente na sua vida: “[Pai] Bem. [Mãe] Também. [Mas notas diferenças nas
duas relações?] Sim…o meu pai dá-me mais atenção que a minha mãe.” (E6_LM_15). Este
jovem refere ainda que o acordado era que ele estivesse com a mãe de 15 em 15 dias, mas
que isso não acontecia por ela viver longe: “[Estavas com a tua mãe?] Era de 15 em 15 dias,
mas como ela estava em Viseu eu nunca ia. Só nas férias” (E6_LM_15).
Dois dos jovens referem não ter atualmente qualquer relação com o progenitor, sendo
que um deles demonstra hostilidade:
Com o meu pai não há relação. Com a minha mãe é uma boa relação. [Tens perspetivas de retomar a
relação com o teu pai?] Não. Já tentei aqui dentro, já dei um passo…ele não o quis devolver, portanto
fica assim. (E2_MM_18)
Um jovem comparou dois momentos na relação com os pais: antes de ser internado
não tinha grande ligação com ambos, e depois de ser internado a relação tornou-se mais
próxima:
Neste momento? Neste momento está boa. Mantenho contacto sim, com a minha mãe. Com o meu pai
também, liga-me mais do que o habitual, liga duas a três vezes por semana. [E como era a relação lá
fora?] Com a minha mãe nunca foi assim, hum, muito ligado, tá a ver? Só que agora melhoramos o
nosso relacionamento, já nos respeitamos uns aos outros, só que, pronto, o meu pai antigamente…não
tínhamos muito contacto. (E12_DE_17)
No que respeita aos irmãos, todos os jovens têm irmãos (entre um e oito irmãos) e
definem as relações como positivas.
No que respeita ao relacionamento entre os pais, dos nove jovens que têm os pais
separados foi possível perceber três padrões de relacionamento: um em que os progenitores
comunicam entre si e até são amigos, outro em que os progenitores comunicam pouco,
limitando-se a falar sobre os filhos, e outro em que os pais não efetuam qualquer tipo de
comunicação entre si. Dos três jovens com os pais juntos, estes percecionam as relações
entre estes como sendo positivas.
22
2.3.1. Existência de regras e limites
A maioria dos jovens identifica a presença de regras em contexto familiar, mas
sublinha o comportamento de desobediência em relação a elas:
Eu regras podia ter mas eu não obedecia, pronto. (E1_MP_17)
Existir, existia, eu é que não as cumpria. (E2_MM_18)
Existir, existiam. Eu é que nunca as cumpria. (E3_RP_16)
Existiam, mas eu não as cumpria. (E4_AG_17)
Quando estava com os meus pais era não chegar tarde a casa. Tinha algumas regras, era rigoroso, mas
chegava sempre tarde na mesma. (E5_ML_16)
Nunca as cumpria. (E6_LM_15)
Não quer dizer que eu as cumpria, mas tinha. (E9_RR_17)
Os meus pais já não tinham…como é que eu lhe hei-de explicar…não tinham controle em mim. Eles
não mandavam em mim já. [Mas que regras é que eles te impunham e não cumprias?] Eles já não me
impunham regras, já não conseguiam, de certa forma já não dava. (E1_MP_17).
Na minha casa não tem muitas regras. Não tenho assim grandes regras, mas respeito o meu pai, não
tenho propriamente horas de chegar a casa, chegava quando quisesse. (E8_PS_18)
Desde os 11 anos comecei a chegar a casa lá pras onze, lá pra uma. Diziam sempre “ah, anda pra casa
mais cedo”, não ouvia e continuava a chegar a essas horas assim. E depois chegou uma altura em que
não me diziam nada… [Que idade tinhas quando não te diziam nada?] Tinha 14, 13 e nem diziam nada,
não diziam nada. Entregavam-me a chave de casa e eu entrava e saía quando quisesse. (E11_CM_17)
Como a minha mãe esteve doente, o meu pai assim entrou um pouco em depressão e depois começaram
a não ter…não puderam ter a mão em mim. Depois a minha mãe ficou bem, o meu pai começou a tomar
comprimidos por causa da depressão e ficou tudo bem, só que já não conseguiam controlar-me.
(E1_MP_17)
Tinha de estar em casa à meia-noite e não estava. A partir dos 14 não cumpria. Mas antes eu já tinha
tido problemas com a justiça, desde 2007 que ando com isso. Nesta altura desobedecia às regras da
escola, não às de casa. (E3_RP_16)
Em casa do meu pai tinha de estar em casa à hora certa senão não saía, ficava de castigo. Na casa da
minha mãe podia chegar às horas que eu quisesse. (E10_EC_17)
23
Na casa do meu pai sim, era pra chegar lá pelas onze, e assim, lá pras dez, nove; na casa da minha
mãe, txi [sic], chegava lá pras tantas. (E11_CM_17)
[Notas diferenças entre os teus pais quanto às regras?] O meu pai não é muito para regras, ele tem
regras, só que é… como hei-de dizer? Muito jovem, tá a ver? Menos responsabilidade. (E12_DE_17)
É assim, quando eu era mais novo eles tiravam-me o telemóvel, essas coisas, não me deixavam mexer
no computador, só que a partir daí, dos 14/15, já não faziam nada. (E1_MP_17)
Diziam que eu ficava de castigo, mas chegava à hora e nunca me punham. (E3_RP_16)
Chegou a um ponto que não insistiam; não me deixam de parte, mas já começam a facilitar mais um
bocado. (E4_AG_17)
24
A minha mãe não me tirava nada. Ela não me metia assim de castigo porque ela sabe que eu saía pela
janela. (E10_EC_17)
25
minha mãe mais que o meu pai porque o meu pai separou-se e depois não teve tanto tempo
comigo” (E4_AG_17). Destes jovens, apenas um afirmou contar a verdade acerca dos
amigos e todos os outros admitiram mentir ou omitir quem eram os amigos, nomeadamente
para esconder o comportamento desviante destes:
No que respeita aos amigos, surgem também as críticas e os avisos dos pais em relação
a estes:
A minha mãe perguntava “então, hoje foste com quem?”, e eu “fui com este, este, este”, e ela “ah, esse
aí não sei quê…” (E4_AG_17)
O meu pai era um bocado mais coiso [sic] com os amigos, se me visse assim com muitos amigos dizia
“ai vê lá mas é com quem te metes” e não sei quê. Ele dizia pra ter cuidado porque eles podiam fumar
ou roubar, não sei quê… (E10_EC_17).
Relativamente às saídas, a maioria dos pais (onze jovens) tentavam saber onde iam os
filhos quando saíam: “Perguntava se fui à escola, o que é que fui fazer depois, eu dizia
sempre que tinha ido jogar bola” (E4_AG_17). Dois destes jovens estabelecem distinções
entre os progenitores:
A minha mãe sempre. Até ainda hoje pergunta. O meu pai não, porque eu vivia com a minha mãe e
não com o meu pai, ia à casa dele de vez em quando. (E5_ML_16)
A minha mãe não. Eu dizia só que ia levar a chave e ela dizia que estava bem. O meu pai perguntava
sempre “aonde é que vais?”, o meu pai era mais… (E10_EC_17)
Relativamente às atividades dos tempos livres, a maioria dos pais (oito jovens)
tentavam saber o que os jovens faziam. Nesta área surge ainda a distinção entre os
progenitores: “A minha mãe às vezes perguntava. O meu pai por acaso não” (E10_EC_17);
e o abandono progressivo da prática de supervisão: “Eles perguntavam mas chegou a um
certo ponto que eles já sabiam o que eu ia fazer, não era? O que é que eu ia fazer? Ia pras
festas. Deixaram de me perguntar porque já sabiam” (E1_MP_17). Novamente a surge a
mentira (e.g., “Dizia que ia para casa e nunca mais aparecia”, E3_RP_16), nomeadamente
26
para esconder o comportamento transgressivo: “Depende, nem sempre, depende de algumas
situações. Quando ia fazer asneiras não dizia a verdade” (E2_MM_18). Três jovens
justificam a não monitorização dos pais por estes já saberem o que eles faziam (e.g., “A
minha mãe sabia sempre o que eu fazia, ou era computador ou ia jogar à bola”, E4_AG_17).
Relativamente ao gasto de dinheiro, os jovens dividem-se, sendo que metade
perceciona que os pais monitorizam os gastos e a outra metade não. A mentira também surge
aqui (e.g., “Dizia que era para carregar o cartão da escola. E não era”, E3_RP_16;
27
Já não existem há muito tempo. Existiam quando o meu pai andava nas drogas, mas depois já não
existem. Tive quando o meu pai esteve preso, tinha de andar sempre a ir e vir. Ainda era pequeno,
lembro-me de ir visitá-lo. (E3_RP_16)
Outro jovem revela menor aceitação pela forma como o pai tenta resolver as
discussões com ele: “O meu pai lixa-me logo a cabeça, começa logo a lixar-me a cabeça. O
meu pai é assim, mais agressivo, mas é a maneira dele ser já” (E10_EC_17).
Dois jovens apontaram o divórcio dos pais como o desencadeador dos problemas de
comportamento, devido ao excesso de liberdade sentida e à revolta suscitada:
Acho que se eles [pais] ainda estivessem juntos acho que isto nunca tinha acontecido. [Achas que
sentiste mais liberdade?] Claro! Porque não tenho lá em casa o meu pai. (E4_AG_17)
Não foi a parte da educação, mas foi a parte da separação dos meus pais que influenciou. Fiquei
revoltado. Todos ficam! (E6_LM_15)
Um dos jovens revela que os problemas de saúde dos pais contribuíram para que eles
deixassem de supervisionar o seu comportamento, o que levou o jovem a iniciar o consumo
de drogas, que, por sua vez, levou a que começasse a traficar para sustentar o vício:
Eu quando entrei, quando comecei nas drogas, comecei a consumir haxixe e quando comecei foi quando
a minha mãe esteve doente, e quando o meu pai já estava a entrar em depressão, eles não conseguiram
gerir tanto, porque eles nem sabiam que eu faria uma coisa dessas…e eu comecei aí. E depois, pronto,
foi-se agravando a pouco-e-pouco, fui continuando cada vez mais, e depois como não tinha dinheiro
comecei a traficar e fui cada vez agravando. (E1_MP_17)
28
Os fatores do meio foram apontados por dois jovens, nomeadamente a influência do
bairro e a associação a pares desviantes:
Cresci num bairro social muito degradado. Acho que isso influenciou bastante, só vejo droga à minha
frente…há lá roubos todos os dias. Os meus pais controlavam, mas eu fugia. Foi mais o bairro.
(E5_ML_16)
Também a companhia dos amigos. (E6_LM_15)
Eles podiam desconfiar mas não tinham certezas. [Mas nunca te confrontaram com isso?] Ah,
confrontaram com o tráfico, eu menti. Não sei se acreditaram em mim, supostamente não, não sei, acho
que me deram o benefício da dúvida. (E1_MP_17)
Os vizinhos falam muito, falam demais. Os meus pais perguntaram mas eu disse que não era nada de
mal. (E9_RR_17)
29
Os conflitos com os progenitores é ainda destacada por um dos jovens:
Ela [mãe] disse “vais pro centro educativo”, mãe que é mãe não quer ver uma pessoa na cadeia. E eu
disse-lhe “só vou pro centro educativo no dia em que me apanharem, não me vou entregar” (…) estava
a discutir com a minha mãe porque ela disse “a carta já chegou há 15 dias e ainda continuas a fazer só
porcaria”. O meu pai só soube passado um mês de eu estar aqui, porque eu não liguei ao meu pai. É
assim, eu fiquei chateado. Quando eu disse [que tinha recebido a carta] ele não veio, também não lhe
disse quando vim pra aqui, não lhe fez diferença quando eu vim pra aqui. Depois ele ficou todo chateado
“então tu roubaste e não sei quê”. (E4_AG_17).
Este jovem relata ainda a desresponsabilização por parte do progenitor, que atribuiu
a culpa à mãe do jovem: “Depois pai empurra pra mãe ‘ah a culpa é da tua mãe’ e não sei
quê” (E4_AG_17). Para além dos conflitos, os jovens também referem a ausência de um dos
progenitores: “A minha mãe nunca sabia porque nunca estava ao pé dela. O meu pai ligava
ou ela ligava a ver se estava tudo bem comigo e ele dizia” (E6_LM_15); “O meu pai soube
depois, mas ele não vive cá, não teve influência nisso” (E7_MA_19). Um dos jovens destaca,
ainda, as tentativas dos pais para mudar o jovem: “ela [mãe] tentou sempre mudar-me. Ela
disse-me para aceitar ir para uma comunidade terapêutica, que ela pagava, não sei quê, que
era pra no tribunal eu não vir pra aqui. (E1_MP_17)
30
que isso te influenciou na tua prática?] Hum, mais ou menos. Eu ficava revoltado, claro”
(E10_EC_17).
2.5. O Internamento
“O que é que há aqui para fazer?
Nada, aqui só se pensa, viemos aqui para pensar.”
(E5_ML_16)
2.5.1. Reações ao internamento
Relativamente à perceção que os jovens têm da reação dos progenitores e das próprias
ao internamento estas dividem-se como considerando o internamento justo ou injusto,
apresentando os argumentos para justificar a sua perceção. Deste modo foram elaboradas
subcategorias das explicações dadas em cada uma das perceções do internamento como justo
ou injusto.
Os jovens que consideram que os pais acham o internamento uma medida justa (nove
jovens) apresentam argumentos como a necessidade do comportamento desviante ser punido
(e.g., “Pelo que eu estava a fazer tinha de pagar por isso”, E3_RP_16), o internamento como
evitando a prisão (e.g., “acharam, pronto, que se calhar era melhor eu vir para aqui agora do
que ir para a cadeia daqui a uns anos”, E1_MP_17); o sentimento de tristeza inicial, mas o
reconhecimento da necessidade do internamento (e.g., “A minha mãe fica triste de eu estar
aqui né? Mas diz que me prefere ver aqui, acha que me está a fazer bem”, E2_MM_18);
31
reconhecimento dos benefícios a nível individual (“Porque ele [pai] também já esteve preso
né? [sic] Ele sabia que eu também ia mudar aqui dentro, o meu pai já não tinha mão em
mim” E6_LM_15). Apesar disto, dois jovens apontam críticas ao conteúdo das medidas,
nomeadamente a altura tardia em que ocorreu o internamento e o tempo excessivo da
medida.
Os jovens que consideram que os pais acham o internamento uma medida injusta
(três jovens) apontam o descontentamento com as autoridades (e.g., “Acho que não acharam
justo, porque não havia provas nem nada e foram dizer que fui eu” E11_CM_17), e os pais
não quererem ver o filho num centro educativo (e.g., “Ele [pai] disse no tribunal que não
queria que eu viesse para aqui, a minha mãe também”, E10_EC_17).
Relativamente à perceção dos jovens em relação ao internamento a maioria considera
uma medida justa (oito jovens). Os jovens falam novamente no internamento como punição
pelo comportamento desviante e o evitar a prisão como argumentos. Quatro jovens revelam
que inicialmente consideraram a medida injusta, mas acabaram por aceitar e até reconhecer
os seus benefícios:
A princípio achei mal vir para aqui, um bocadinho. Mas agora é assim, acho que é bom para a minha
vida, porque senão eu já tinha deixado de estudar, o que é que eu ia fazer da minha vida? Traficar? Por
isso é melhor vir para aqui do que pra cadeia. (E1_MP_17)
Na altura não concordei em vir para aqui. Agora acho que foi bom vir para aqui. (E6_LM_15)
Eu achei que ia ser complicado mas foi importante. Ao início senti-me mal um bocado, mas agora acho
que até foi bom. (E7_MA_19)
Eu não concordei, achei mal, mas já aceitei, já passou e acho que me fez bem o tempo que estive aqui.
(E8_PS_18)
Os jovens que consideram a medida injusta são os mesmos que percecionam que os
pais também o consideram, dando justificações semelhantes, como o descontentamento com
as autoridades e criticando o conteúdo da medida. Um dos jovens é claramente contra o
internamento, desvalorizando o possível efeito que este poderia ter, argumentando,
Não é longe da minha família que me vão mudar, não é eu vir pra aqui que me vão fazer mudar. Aqui
pensam que estão a mudar e não estão a mudar nada, não é o estar preso que nos vai fazer mudar,
mudamos se quisermos. Não é por estarmos aqui fechados dois anos ou três que vamos chegar lá fora e
não fazer nada. Se eu tivesse de mudar era à beira do meu pai e da minha mãe, da minha família.
(E4_AG_17)
32
2.5.2. O apoio durante o internamento
A maioria dos jovens relata ter contacto regular com a família, especialmente através
de telefonemas. As visitas são menos regulares, sendo justificadas por muitos dos familiares
viverem longe do centro educativo, ou por alguns dos jovens usufruírem de saídas de férias
e de fins-de-semana e por isso não sentirem a necessidade de receber visitas. Três jovens
referiram a ausência de um dos progenitores durante o internamento:
O meu pai veio duas ou três vezes, só que também trabalha e isso. Ele liga-me, só que eu não lhe ligo.
[Porquê?] Porque não. [Mas querias que ele te visitasse mais?] Para mim tanto faz…agora já não…
(E4_AG_17)
Com a minha mãe, quando ela estava no norte ela ligava-me sempre, desde que foi para Lisboa já não
me ligou. (E6_LM_15)
Um dos jovens refere ainda as mudanças positivas que o internamento teve na relação
com os progenitores: “No início de internamento era mais ou menos, porque ainda me estava
a habituar a ter uma boa relação com a minha mãe. Já melhoramos. Com o meu pai acho que
temos uma boa relação” (E12_DE_17).
Estamos mais ligados, porque de certa maneira eu dou mais valor à minha família. Sinto-me arrependido
pelo que lhes fiz passar. Na altura eu não pensava tanto neles como agora. (E1_MP_17)
Se calhar antes não dava tanto valor à minha mãe, se calhar comecei a dar mais valor à minha mãe.
(E4_AG_17)
Sinto-me mais próximo de todos. (E9_RR_17)
Um dos jovens refere a melhoria da relação não só com os pais, mas também com a
sua avó: “Eu chegava a casa e ela ‘estiveste a fazer porcaria’, a mandar bocas e, pronto,
agora cheguei cá dentro trata-me de forma diferente. Pensa que isto é duro para as pessoas,
tá [sic] a ver, que muda as pessoas” (E12_DE_17).
33
Nas mudanças negativas, dois jovens referem sentir maior afastamento em relação à
família, o que suscita sentimentos negativos:
Afastamo-nos um bocado. Acho que afastou mais. [Como te sentes em relação a isso?] Sinto-me um
bocado mal, mas sei que vai voltar ao normal. Afastamo-nos, quase não falo com eles. Porque o tempo
aqui também não é muito para falar, senão falava com eles sempre. Tenho alguns irmãos em França e
também não dá pra falar. (E5_ML_16)
Com a minha irmã. Estou mais afastado. Ela nunca me liga. [Como te sentes em relação a isso?] Sinto-
me triste. Queria ter mais proximidade com ela. (E6_LM_15)
Ajudou a crescer um bocado, a pensar de outra maneira, a viver outras realidades. (E2_MM_18)
O facto de eu estar a estudar, alterar a minha maneira de pensar, alterar a forma como estava a levar a
minha vida, acho que foi importante. (E7_MA_19)
Já sou mais crescido, já tenho outra forma de pensar, faço coisas que antes não fazia, mudei muito.
(E8_PS_18)
Mudei muito. A postura, o aspeto. Escuto mais as pessoas agora, respeito mais as pessoas. Mudei muito,
mudei muito. Foi positivo. Fiquei um bocadinho revoltado, mas fiquei um bocadinho bonzinho.
(E11_CM_17)
O internamento foi muito bom. Aspetos positivos como responsabilidade, visão do futuro, planos,
melhoramentos [sic] a nível social, com as outras pessoas lá de fora, mas também com a minha família.
(E12_DE_17)
Abriu-me um bocado os olhos e a ver certas cenas. A ver tudo: quem eram os meus amigos, ver as
coisas doutra maneira, roubar aquilo e aquilo pra vir pra aqui. (E5_ML_16)
34
Dois jovens definem o internamento como sendo um mal necessário para evitar
consequências mais graves (“É melhor do que estar lá fora e quem sabe um dia acontecer
alguma coisa de grave”, E7_MA_19; “Se calhar a esta hora estava em cana se continuasse
lá fora”, E4_AG_17).
Como consequências negativas do internamento os jovens apontam a distância física
da família (“A única coisa negativa é estar longe da minha família”, E1_MP_17; “Negativo
foi não poder acompanhar um ano e meio da vida deles”, E12_DE_17), a imagem negativa
do jovem e da família na sociedade,
Agora vão-me perguntar “ah aonde é que estiveste?”, vou dizer que estive lá no centro
educativo…ficamos sempre com aquilo na garganta, sempre, isso para mim é uma coisa importante. A
minha mãe esforça-se para trabalhar, esforça-se por mim e pelos meus irmãos e agora ouvir por aí as
pessoas a falar “aquela tem um filho que anda aí a roubar”, fica mal para a nossa família também.
(E4_AG_17)
Referem, ainda, a perceção da medida aplicada como injusta (e.g., “Eu fiz umas
coisinhas, podia ter feito uma coisa muito mais coisa e apanhava quase a mesma medida (…)
se eu roubasse uma ourivesaria, como era menor, apanhava 3 anos no fechado, se fosse maior
apanhava 9 anos na cadeia”, E5_ML_16), e ter ficado mais revoltado (“Ainda mudei um
bocadinho, mas por outro lado fiquei mais revoltado. Acho que fiquei”, E11_CM_17).
35
diferente do que era antes do internamento (e.g., “Vai ser diferente. Vai ser mais ativa,
mais…acho que vai ser melhor”, E2_MM_18). Os jovens realçam especialmente o
cumprimento de regras, que perspetivam como a maior mudança:
Antes eu dava preocupações aos meus pais, noutras vezes ia e não dormia em casa, outras vezes ia
depois do jantar e chegava no outro dia. Agora não quero não avisar. (E1_MP_17)
Já não vou fazer as mesmas coisas. Vou tentar cumprir regras. Vou dar votos de confiança. (E3_RP_16)
As regras agora já vou cumprir um bocado mais, mas tenho de fugir a umas ou outras. (E4_AG_17)
Vai mudar um bocado. Vou cumprir regras. Tenho mais cabeça. Vou cumprir regras. Até posso chegar
10 minutos atrasado a casa, mas… (E6_LM_15)
Vai ser diferente, ya [sic]. Vou tentar, já disse que ia tentar seguir regras, vou sair um homem daqui,
quando era pequeno tinha hora, mas agora sou grande, tenho juízo. (E5_ML_16)
Um jovem considera que a família “vai ser mais próxima” (E9_RR_17). Outro revela
vontade em voltar para a instituição e não para o seio familiar: “[Porquê?] Para me dar mais
hipótese. A minha mãe já tem uma filha com ela, tá a ver, tem de cuidar dela, não quero que
ela vá parar a uma instituição também.”, E12_DE_17). É referido ainda por um dos jovens
perspetivas de mudanças relacionadas com fatores contextuais, como é o caso da perspetiva
de saída do bairro (“Vou viver com a minha mulher, com a minha namorada fora do bairro”),
e perspetiva de resistência à influência dos pares desviantes (“Vou manter os amigos de
infância. [Eles têm problemas com a polícia?] O que é que acha? Sim, claro, todos. Não vou
ser influenciado, sou forte, sei dizer não, eu dizia sim porque queria”, E5_ML_16).
Dois jovens não perspetivam mudanças familiares no futuro, sendo tal justificado por
um dele por “somos família unida e damo-nos bem” (E7_MA_19).
36
mudanças já efetuadas com o internamento e os aspetos que ainda poderão melhorar. De
forma geral, reconhecem uma necessidade maior de mudança das suas atitudes e
comportamentos individuais do que das atitudes e comportamentos da família.
Relativamente às mudanças efetuadas com o internamento, os jovens referem o
crescimento pessoal por que passaram:
Já mudei muito, acho que estou diferente. (E2_MM_18)
Eu mudei muito, eu era um puto quando vim para aqui, mudei muito (….) Já tenho cabeça, a minha
atitude mudou completamente, uma pessoa já tem mais postura, se eu fosse a mesma coisa isto não
estava a fazer mesmo nada, uma pessoa aqui pensa (E5_ML_16)
Eu agora já estou maior, já sei mais quais as consequências, já percebo melhor as consequências, já
tenho uma maneira de pensar diferente. A minha atitude é diferente. (E10_EC_17)
Na minha atitude, já mudou muito. Já mudou muito aqui dentro. Vou conseguir manter (….) já sou
grande, de altura e de mentalidade. Mudei muito aqui dentro. (E11_CM_17)
Um dos jovens identifica mudanças familiares: “já gosto mais da minha mãe, da
minha avó, que me dá muitos conselhos, do meu avô que é como se fosse meu pai”
(E2_MM_18).
No que respeita às mudanças que ainda poderão efetuar, a nível individual os jovens
esperam ter mais maturidade e autocontrolo:
É assim eu acho que quando sair vou ter uma perspetiva diferente, não vou fazer as coisas como fazia
antes, não é?, mal será que eles tenham de ter mão em mim, que eu faça coisas que eles tenham de…eu
é que tenho de ter mão em mim mesmo, quando eu sair daqui já sou maior de idade. (E1_MP_17)
Na minha atitude, ser mais maduro, tentar ajudar o mais possível. (E8_PS_18)
37
3. Discussão e Conclusões
38
A separação dos pais, vivida por sete dos jovens e, em alguns casos, em idades
precoces, é apontada não só nas questões relativas às mudanças ocorridas no contexto
familiar, mas também como sendo um desencadeador dos problemas de comportamento,
devido não só à liberdade sentida pela ausência de uma das figuras parentais, como também
pela revolta suscitada por esse acontecimento. Tal vai de encontro aos estudos que
relacionam as dissoluções ou alterações familiares com o comportamento delinquente (e.g.,
Vanassche et al., 2014; Wells & Rankin, 1991) nomeadamente por tal permitir a perda de
capacidade de supervisão e controlo do comportamento dos filhos (Ferreira, 1997).
No processo de separação/divórcio existem outros fatores a ter em conta,
nomeadamente a relação pais-filhos (Price & Kunz, 2003). A figura parental masculina foi
apontada, na maioria dos casos, como estando menos presente na vida destes jovens, sendo
com ela que existem mais relações conflituosas ou até mesmo ausência de relação,
principalmente nos jovens que viviam apenas com a progenitora. A relação com a figura
parental masculina é especialmente importante no desenvolvimento dos rapazes dado o
processo de identificação com a figura masculina e, em processos de divórcio, estes parecem
ter maiores dificuldades em superar a crise, apresentando problemas de externalização, como
a irritabilidade (Wallerstein et al., 1980, cit. por Martins, 2010). Alguns jovens justificam
mesmo o melhor relacionamento com a mãe do que com o pai por este estar pouco presente
ou mesmo ausente. A ausência do progenitor foi ainda referida relativamente ao
conhecimento e à reação à prática de crimes e durante o cumprimento da medida de
internamento, em que o progenitor assumia uma atitude distante. Curiosamente a figura
paterna era a que detinha a guarda da maioria das famílias monoparentais identificadas neste
estudo, sendo que numa delas o papel da figura materna era desempenhado pela madrasta e
não pela mãe, que se encontrava ausente na vida do jovem. Nalguns casos, a ausência de um
dos progenitores (pai ou mãe) na vida dos jovens sugere a presença de estilos educativos
negligente, em que a afetividade e o controlo são mínimos. A negligência parental é uma das
condições identificadas por diversos estudos de ter um papel de influência dos
comportamentos desviantes (Baumrind, 1991; Maccoby & Martin, 1983; Steinberg et al.,
1994, cit. in Born, 2005; Chen et al., 2011; Loeber & Stouthamer-Loeber,1986; Stevenson,
2007).
Ainda no que se refere a acontecimentos relevantes, importa referir a
institucionalização anterior em lares de infância e juventude. Na recolha de dados dos
processos individuais dos jovens foi possível perceber que nove dos jovens estiveram
sinalizados por MPP, na qual se inclui o acolhimento institucional. Nas entrevistas, três
39
jovens referiram viver em lares de infância e juventude antes da entrada no centro educativo.
A família, apesar de assumir um papel principal e insubstituível no processo de
desenvolvimento das crianças e jovens, nem sempre reúne todas as condições emocionais,
afetivas e materiais para garantir que este se faça da melhor forma (Rodrigues, 1997), o que
leva ao afastamento dos descendentes da família de origem. Um dos jovens nesta situação
aponta as práticas educativas permissivas da progenitora como causadoras deste seu
afastamento da família, bem como o do irmão, e consequente institucionalização.
Nos estudos centrados na relação família-delinquência, as práticas educativas
parentais ressaltam como uma das características familiares mais fortemente relacionada
com estes comportamentos (e.g., Hoeve et al., 2009). Na perceção dos jovens relativamente
ao comportamento educativo parental, é notório a presença de dois cenários: se por um lado
os jovens revelavam nos seus contextos de origem uma postura de desobediência às regras,
por outro lado os pais pareciam não assumir uma atitude ativa no estabelecimento de limites
e de disciplina, bem como na supervisão e monitorização dos seus comportamentos. Em
alguns casos esta atitude mais permissiva parece ser acompanhada de uma demissão
progressiva das suas responsabilidades parentais, nomeadamente na atitude face aos
comportamentos transgressivos dos descendentes (e.g., um jovem que diz que os pais se
habituaram a ir buscá-lo à esquadra e, por isso, deixaram de reagir a isso). Tal vai de encontro
à tendência das famílias com jovens delinquentes de exercerem práticas disciplinares menos
restritivas e mais erráticas identificadas pelas investigações (e.g., Bandura & Walters, 1959;
Sampson & Laub, 1993, 2005).
Os jovens apesar de revelarem a presença de afetividade nas relações com os
progenitores (por vezes com apenas uma destas figuras), não deixam de reconhecer que em
relação às práticas educativas estes não eram tão interventivos, identificando, muitas vezes,
incongruência na parentalidade dos dois progenitores. Esta incongruência foi identificada
pelos jovens em relação ao estabelecimento de regras e limites (e.g., na casa de um
progenitor tinha regras, na outra fazia o que queria) e na monitorização do comportamento
(e.g., um progenitor tentava saber aspetos da vida dos filhos e o outro não). Neste último
aspeto, os pais não dão a atenção necessária a todos os aspetos da vida dos filhos (os jovens
percecionam maior monitorização das atividades dos tempos livres, das saídas e do
desempenho na escola, e menos dos amigos e dos gastos de dinheiro). Deste modo, tal como
sugeriram Snyder e Patterson (1987) surge o risco de rejeição de pares normativos e
associação com pares agressivos e antissociais. É, ainda, de salientar que nem todos os
40
progenitores mantinham comunicação entre si, o que dificulta a existência de práticas
educativas consistentes e estáveis (Martins, 2010).
A mentira aos pais surge como um aspeto comum no discurso dos jovens, tendo como
função esconder o próprio comportamento desviante e o dos amigos, os locais proibidos que
frequentam e as atividades convencionais a que se escapam (e.g., escola). Investigações
sugerem que a mentira o único meio dos jovens conseguirem fugir aos castigos ou deterem
algum controlo na relação com os progenitores (Lewis, 1993; Wilson, Smith & Ross, 2003,
cit. in Warr, 2007). Neste sentido compreende-se o porquê da maioria dos pais dos jovens
terem tido conhecimento dos factos ilícitos praticados por estes apenas através das
autoridades policiais e/ou judiciais (e.g., na primeira ida à esquadra ou quando receberam
uma carta do tribunal).
Na relação da família com a prática criminal, a maioria dos jovens não considera que
a família tenha contribuído para a prática dos comportamentos desviantes. A maioria refere
a prática de crimes como uma opção pessoal, e em que eles é que tiveram o poder de decisão
em transgredir ou não. Contudo, o divórcio (referido anteriormente) e a doença dos
progenitores foram fatores apontados como tendo levado a maior liberdade de
comportamento dos jovens e que facilitou a prática criminal e o consumo de drogas. Neste
último caso, o jovem, proveniente de uma família sem grandes riscos associados, revela que
os problemas de saúde dos pais (cancro da mãe e consequente depressão do pai) contribuíram
para que eles deixassem de supervisionar o seu comportamento, o que o levou a iniciar o
consumo de drogas. Isto, por sua vez, levou a que começasse a traficar para sustentar o vício,
referindo que mesmo depois dos problemas de saúde estarem ultrapassados, os pais já não
conseguiram controlar o seu comportamento. Este caso exemplifica a influência recíproca
entre a parentalidade e o comportamento delinquente, sendo definida por Gault-Sherman
(2012) como “uma rua de dois sentidos”: se por um lado existe um fator de risco familiar
que facilita o envolvimento em comportamentos delinquentes, por outro lado o
comportamento delinquente faz com que a práticas educativas fiquem afetadas.
Também os irmãos foram identificados como “companheiros de crime” exercendo
influência nos comportamentos dos jovens. Investigações mostram que os irmãos,
principalmente os mais velhos, servem como modelos, nomeadamente no que se refere à
partilha do grupo de pares, nomeadamente de pares antissociais (e.g., Rende et al, 2005;
Windle, 2000, cit. in Whiteman, Jensen & Maggs, 2014). Estes últimos e o bairro são
percecionados por dois jovens como tendo tido influência no seu comportamento.
41
No que se refere à prática de crimes e ao cumprimento da medida de internamento,
os jovens enfatizam os sentimentos negativos experienciados pelos pais, mas que, de forma
geral, estes e os próprios jovens aceitaram a medida aplicada. A maioria perceciona apoio
familiar desde que está no CE, sendo esse apoio mais comum através de telefonemas e menos
por contactos face a face. Os participantes neste estudo apontam a distância geográfica como
justificação, bem como a possibilidade de efetuarem saídas de férias e aos fins-de-semana
(no caso dos jovens em regime semiaberto e em fases mais avançadas do internamento) que
os leva a não sentir a necessidade de receber visitas.
Em forma de balanço do impacto do internamento no jovem e na sua família, este é
percecionado, pela maioria, como tendo trazido mudanças e consequências positivas e
negativas. Identificam melhorias no relacionamento com os seus familiares, nomeadamente
maior proximidade e maior valorização, bem como o crescimento pessoal e mudança do
estilo de vida. Negativamente dois jovens sentem maior afastamento das famílias e relatam,
ainda, os constrangimentos provocados pela descoberta do comportamento desviante,
demonstrando preocupação com a sua imagem e a da família na sociedade.
Numa análise prospetiva, o discurso dos jovens é um discurso de intenções mais do
que um discurso de projetos (Neves, 2008). Intenções de continuar os estudos, de trabalhar,
de não se envolverem mais em problemas com a polícia e de concretizar sonhos. Perspetivam
mudanças no contexto familiar, destacando-se, mais uma vez, a intenção de cumprirem
regras, de serem mais responsáveis e de ajudarem a família. Contudo, foi possível notar que
a sombra da incerteza paira sobre estas intenções, pois, apesar dos jovens reconhecerem que
já efetuaram mudanças (e.g., crescimento pessoal), identificam mudanças ainda a ser
efetuadas, tanto a nível individual (e.g., mais maturidade e autocontrolo) como a nível
familiar (e.g., mais união, afetividade e menos conflitos). Deste modo é reconhecida a
possibilidade da mudança uma vez terminado o tempo de internamento, embora manifestem
algumas incertezas e receios, nomeadamente no que à reincidência diz respeito (Manso &
Almeida, 2010). Estas incertezas e receios são compreensíveis na medida que, terminado o
internamento, o CE e o sistema judicial deixam de ter responsabilidade sobre o jovem
(quando não existem medidas tutelares pendentes) que assim passa abruptamente de uma
vigilância e enquadramento permanentes na instituição para o seu meio exterior,
frequentemente desestruturado (Neves, 2008). Assim, as mudanças conseguidas com o
internamento podem ser colocadas em causa por o meio não estar preparado para receber o
jovem de uma forma que permita a continuação do percurso em direção ao comportamento
42
normativo retomado dentro do CE. As famílias ao manterem o seu funcionamento habitual
não atuam como facilitadoras da mudança (Santos et al., 2004).
Para concluir a apresentação do estudo realizado importa referir as limitações e as
propostas para futuras investigações deste tema. Primeiramente é de referir que o estudo
centrou-se apenas em jovens do sexo masculino. A falta de dados relativamente ao sexo
feminino deve-se à dificuldade em recolher dados nos CE junto desta população, pois nem
todos acolhem raparigas, como é o caso do contexto de recolha deste estudo. Em
investigações futuras seria interessante acrescentar as perceções em relação à família das
raparigas internadas, de modo a identificar semelhanças e diferenças com os rapazes.
Outra limitação prende-se com a unidirecionalidade do estudo, ou seja, apenas são
conhecidas as perceções dos jovens acerca da família e não se conhecem as perceções dos
familiares, principalmente dos progenitores, em relação às dinâmicas familiares e ao próprio
comportamento transgressivo dos seus descendentes. Esta limitação justifica-se pelo facto
de ser muito difícil aceder aos progenitores dos jovens que cumprem medidas tutelares, tal
devendo-se à organização da própria rotina do CE (em que os pais assumem uma presença
física de tempo limitado apenas aos fins-de-semana) ou por muitos dos jovens serem de
outras zonas do país e que impossibilita que os seus familiares efetuem visitas regularmente,
ou até mesmo pela falta de envolvimento de alguns progenitores ao longo do cumprimento
da medida de internamento. Contudo, uma vez que as investigações sugerem um efeito
bidirecional entre a parentalidade e a delinquência seria importante incluir os progenitores
dos jovens em estudos futuros.
Por fim, como limitação pode ainda ser apontada a familiarização com a
investigadora (advinda do estágio realizado na instituição), a qual poderá ter levado os
participantes a omitirem certas informações por considerarem que estas já seriam conhecidas
pela investigadora.
Para finalizar, este estudo pretende chamar a atenção para a necessidade das
mudanças a serem efetuadas para que as medidas tutelares educativas tenham um efeito
positivo a longo prazo na vida destes jovens. Apesar de ser difícil mudar alguns fatores de
risco (e.g., condições socioeconómicas), os programas de intervenção destinados às famílias
podem concentrar-se nos fatores de proteção para amenizar os riscos (Shade, 2004). Alguns
fatores de risco como as práticas parentais ineficazes são suscetíveis a mudanças acessíveis
através de programas que ensinam competências parentais e fornecem serviços de apoio
familiar.
43
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697.
50
Anexos
51
Anexo 1: Instrumentos de recolha de dados:
I. Dados do jovem
1. Nome: ____________________________
o Com quem vivias antes de vires para o Centro Educativo? Sempre viveste assim?
o Como é a tua relação com o teu pai/mãe (ou equivalentes)?
o Como é a relação entre os teus pais (ou equivalentes)?
o Tens irmãos/irmãs? Que idades têm? Como é a tua relação com eles?
o O teu pai/mãe trabalham? O que é que fazem? Achas que o dinheiro que ganham é
suficiente?
o Em relação a regras, existiam muitas regras em tua casa? Que tipo de regras existiam?
o O que pensas dessas regras?
o Os teus pais faziam-te cumprir essas regras? Havia castigos se não as cumprisses?
o O teu pai/mãe (ou equivalentes) tentavam saber (em caso afirmativo, questionar se os
jovens respondiam com a verdade):
- Quem eram os teus amigos?
- Onde ias quando saías?
- O que fazias nos teus tempos livres?
- Como gastavas o dinheiro?
- Como estava o desempenho na escola?
o Quando existem problemas na tua família como é que estes são resolvidos? Concordas
com essa forma? O que farias de diferente?
o Achas que a forma como a tua família organizava a tua educação contribuiu para praticar
esses crimes?
o Os teus pais tinham conhecimento que andavas a fazer o que não devias ou só
descobriram quando foste apanhado pela polícia?
o Qual foi a reação deles?
o Tens familiares que já tiveram problemas com a justiça?
o Tens familiares com doenças graves e/ou com histórico de dependências?
53
2. Relação Família-Internamento
54
Anexo 2: Tabela com categorias e subcategorias
Categoria Subcategorias
Biparental
Alargada/Biparental
Monoparental Pai
Estrutura familiar Mãe
Alargada
Instituição
Categoria Subcategoria
55
Tabela 3. Práticas Educativas Familiares
Categoria Subcategoria
Positivas
Perceção da
Negativas
utilidade das
regras Posição neutra
Permissividade parental
Punição do comportamento desviante
Atitude dos pais
Tentativas de controlo, sem resultado
no cumprimento
de regras Não-aceitação de controlo por parte de outras pessoas da família
Ausência de castigos
Supervisão
Monitorização:
Amigos Pais tentavam saber Mentira/omissão
Pais não tentavam saber
Pais criticam os
amigos/fazem avisos
Saber onde ia Pais tentavam saber Mentira/Omissão
quando saía Pais não tentavam saber
Atividades no Pais tentavam saber Mentira/Omissão
tempo livre Pais não tentavam saber
Gasto do dinheiro Pais tentavam saber Mentira/Omissão
Pais não tentavam saber
Desempenho na Pais tentavam saber Mentira/Omissão
escola Verdade porque não tinham como mentir
Inventar desculpas
Pais com conhecimento do absentismo do
jovem
Pais não tentavam saber
Críticas do pai
Abandono escolar
Absentismo escolar
56
Tabela 4. Crime e Família
Categoria Subcategoria
Doenças graves
Dependências Alcoolismo
Doenças e dependências Drogas
Visão positiva do consumo
57
Tabela 5. O Internamento
Categoria Subcategoria
58
Tabela 6. Perspetivas e desejos para o futuro
Categoria Subcategoria
59
Anexo 3: Termo de Consentimento Informado
Objetivo do estudo: Conhecer as formas de pensar, agir e sentir dos jovens a cumprir medida tutelar
educativa de internamento em centro educativo no que se refere às suas relações familiares;
Após ter sido devidamente informado de todos os aspetos deste estudo e ter esclarecido as minhas
dúvidas, concordo em participar neste estudo.
1
Participante Responsável Legal Investigadora
______________________ _______________________ ____________________________
(Andreia Nunes)
1
No caso de não ser possível obter autorização dos pais, representante legal ou quem detenha a guarda de
facto do jovem, deverá ser assinado pelo responsável no Centro Educativo; em caso de ter idade igual ou
superior a 18 anos não é necessária a autorização dos pais.
60