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Universidade do Porto

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

DELINQUÊNCIA JUVENIL, FAMÍLIA E INTERNAMENTO: AS PERCEÇÕES DE

JOVENS A CUMPRIR MEDIDA TUTELAR EM CENTRO EDUCATIVO

Andreia Isabel Costa Nunes

Outubro, 2014

Dissertação apresentada no Mestrado Integrado em


Psicologia na Faculdade de Psicologia e de Ciências da
Educação da Universidade do Porto, orientada pelo
Professor Doutor Jorge Negreiros (F.P.C.E.U.P.).
AVISOS LEGAIS

O conteúdo desta dissertação reflete as perspetivas, o trabalho e as interpretações do autor


no momento da sua entrega. Esta dissertação pode conter incorreções, tanto conceptuais
como metodológicas, que podem ter sido identificadas em momento posterior ao da sua
entrega. Por conseguinte, qualquer utilização dos seus conteúdos deve ser exercida com
cautela.

Ao entregar esta dissertação, o autor declara que a mesma é resultante do seu próprio
trabalho, contém contributos originais e são reconhecidas todas as fontes utilizadas,
encontrando-se tais fontes devidamente citadas no corpo do texto e identificadas na secção
de referências. O autor declara, ainda, que não divulga na presente dissertação quaisquer
conteúdos cuja reprodução esteja vedada por direitos de autor ou de propriedade industrial.

ii
Dedicatória

“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós.
Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”
- Antoine de Saint-Exupéry

Dedicado à memória das minhas avós:


À avó Conceição, mais do que avó foi e sempre será a minha segunda mãe;
À avó Irene, exemplo de resistência das adversidades da vida e de amor incondicional.

iii
Agradecimentos

Para começar gostaria de agradecer ao meu orientador, o Professor Doutor Jorge Negreiros
pela disponibilidade em ouvir as minhas ideias e a dar-lhes a atenção necessária para que se
tornassem exequíveis. Agradeço o apoio e orientação prestada ao longo deste percurso.

Aos meus Pais: À minha mãe, o meu grande apoio, com quem partilhei as minhas
preocupações e as minhas alegrias. Ao meu pai que me incentivou a estudar o que realmente
gosto e a perseguir os meus sonhos, mesmo que estes pareçam difíceis de alcançar. A ambos
agradeço o esforço em me proporcionar a oportunidade de continuar a estudar, apesar das
dificuldades que se depararam no nosso caminho. Espero recompensar o vosso esforço daqui
para a frente.

Ao meu Irmão Miguel que sempre esteve do meu lado nos bons e maus momentos.

À Ana, irmã de pai e mãe diferentes, a melhor amiga com que a vida me podia ter
presenteado.

À Marina, grande amiga com quem percorro os caminhos nesta vida desde os anos
complicados da adolescência.

À Patrícia, a primeira grande amiga que fiz na faculdade e companheira de todos os


momentos.

À Daniela, à Mimi e à Rute, colegas de curso e amigas que pretendo manter para a vida.

Ao Centro Educativo de Santo António, ao seu Diretor, o Dr. António Viana, às suas
Coordenadoras, a Dr.ª Emília Moreira e a Dr.ª Isabel Ferreira, aos seus técnicos, a Dra. Paula
Teixeira e o Dr. Eduardo Garrido, e às suas administrativas, a Dª Anabela e a Dª Lígia por
todo o apoio e partilha de acontecimentos que foi uma preciosa ajuda na realização deste
trabalho.

Aos Jovens, os “meus miúdos”, pela disponibilidade e compreensão. Que a vida vos sorria
e seja melhor daqui para a frente.

Obrigada a todos!

iv
Resumo

A importância da família nas representações sociais sobre a delinquência juvenil tem


sido sublinhada por diversas investigações, que apontam falhas na socialização do jovem
envolvido em comportamentos antissociais e delinquentes. A família, dado o seu papel
fundamental no desenvolvimento da criança e do adolescente, é vista como um fator de risco
a ter em conta não só na intervenção com o jovem delinquente, bem como na prevenção
destes comportamentos. Tal é ainda mais relevante quando é percecionado, pela sociedade
em geral, um aumento da violência e das formas de comportamento antissocial,
principalmente associado aos mais jovens. Neste sentido, o presente estudo procura
compreender, através da perceção dos jovens que estão a cumprir uma medida tutelar
educativa de internamento em centro educativo, quais as características da organização,
funcionamento e dinâmicas familiares, bem como o papel que a família desempenhou na
prática criminal dos jovens e ao longo do cumprimento da medida de internamento.
Os participantes foram 12 jovens do sexo masculino a cumprir medida tutelar de
internamento num centro educativo português, há pelo menos 6 meses, com idades
compreendidas entre os 15 e os 19 anos de idade. Foi utilizada uma entrevista
semiestruturada, construída com base na revisão da literatura efetuada, e, de forma a
enquadrar os percursos dos jovens, ainda que de forma breve, procedeu-se à recolha de
alguns dados dos seus processos individuais.
Através da análise de conteúdo efetuada do discurso dos jovens foi possível perceber
a existência de interligação das diversas categorias analisadas e que permitiram compreender
os quadros de vida familiares destes De uma forma geral, os discursos dos jovens
reproduzem o discurso científico em torno dos fatores de risco para o comportamento
delinquente (e.g., Farrington, 2008), muitos sendo comuns em vários participantes: as
condições socioeconómicas desfavorecidas, as dificuldades relacionais com um dos
progenitores, as pobres práticas parentais, a criminalidade familiar, nomeadamente dos pais
e irmãos, e a existência de problemas familiares relacionados com o consumo de substâncias
(i.e., drogas e álcool). Podemos afirmar que os significados emergentes dos discursos dos
jovens acabaram por se revelar próximos das expectativas inicialmente formuladas e que vão
de encontro ao que a revisão da literatura nos diz acerca desta temática.

Palavras-chave: Delinquência Juvenil, Família, Sistema de Justiça de Menores, Centro


Educativo

v
Abstract

The importance of the family in the social representations of juvenile delinquency


has been highlighted by several investigations that indicate failures in socialization of young
people involved in antisocial and delinquent behavior. The family, given their key-role in
the development of children and adolescents, is seen as a risk factor to take into account not
only the intervention with young offenders as well as in preventing these behaviors. This is
even more relevant when it is perceived, by society in general, an increase in violence and
forms of antisocial behavior, mainly associated with the youngest. In this sense, this study
seeks to understand, through the perception of young people who are in judicial custody in
a juvenile detention center, what are the features of the organization, functioning and family
dynamics, as well as the role the family played in criminal practice of these youngsters and
over time in judicial custody.
The participants were twelve 15 to 19 years old young males in judicial custody in a
portuguese juvenile detention center for at least six months. It was used a semi-structured
interview, based on literature overview and, in order to frame the pathways of these
youngsters, even if briefly, we proceeded to collect some data of their individual processes.
Through content analysis conducted of the speech of the youngsters was possible to
perceive the existence of interconnection of the various categories analyzed which allowed
us to understand their families lives. In general, the speeches of the youngsters reproduce
the scientific speech around the risk factors for the delinquent behavior (e.g., Farrington,
2008), many being common in various participants: less favored socioeconomic conditions,
relational difficulties with one of the parents, poor parenting practices, family crime,
including parents and siblings, and the existence of family problems related to substance use
(i.e., drugs and alcohol). We can say that the emerging meanings of discourses of the
youngsters turned out to be close to the initially formulated expectations and that is similar
to what the literature tells us about this issue.

Key-words: Juvenile Delinquency, Family, Juvenile Justice System, Juvenile Detention


Center

vi
Resumé

L'importance de la famille dans les représentations sociales sur la délinquance


juvénile a été mis en évidence par plusieurs études qui indiquent des défaillances dans la
socialisation des jeunes impliqués dans des comportements antisociaux et délinquants. La
famille, étant donné son rôle clé dans le développement des enfants et des adolescents, est
considéré comme un facteur de risque à prendre en compte non seulement l'intervention
auprès des jeunes contrevenants ainsi que dans la prévention de ces comportements. Cela est
d'autant plus pertinent quand il est perçu par la société en général, une augmentation de la
violence et des formes de comportement antisocial, principalement associée à la plus jeune.
En ce sens, la présente étude cherche à comprendre, à travers la perception des jeunes
institutionnalisée en centre de détention juvénile, qui comprend l'organisation, le
fonctionnement et la dynamique familiale, ainsi que le rôle de la famille a joué dans la
pratique criminelle jeunes et sur l'application de la mesure d'internement.
Les participants étaient 12 jeunes institutionnalisées dans centre de détention
juvénile, au moins six mois, âgés entre 15 et 19 ans. Nous avons utilisé une entrevue semi-
structurée construite après l'étude de la literature scientifique, et, afin d'encadrer les
cheminements des jeunes, quoique brièvement, a procédé à la collecte certaines données de
leurs des processus individuels.
Grâce à l'analyse de contenu effectuée la parole des jeunes été possible de percevoir
l'existence d'interconnexion de les différentes catégories analysées qui a permis de
comprendre les cadres de la vie familiale de ces. En général, les discours de la jeune
reproduisent le débat scientifique d l' autour des facteurs de risque de délinquance (e.g.,
Farrington, 2008), et sont communs dans de nombreux différents participants: les conditions
socio-économiques défavorisés, les difficultés relationnelles avec l'un des parents, les
mauvaises pratiques parentales, le crime de la famille, y compris les parents et les frères et
sœurs, et l'existence de problèmes familiaux liés à la consommation de substances (i.e., les
drogues et l'alcool). Nous pouvons dire que les significations émergentes des discours des
jeunes s'est avéré être à proximité de laformulée initialement et les attentes qui vont à
l'encontre ce que la littérature nous dit de cette question.

Most-Clés: Délinquance Juvénile, Famille, Système de justice pour mineurs, Centre de


Détention Juvénile

vii
Índice

Introdução ............................................................................................................................ 1

Enquadramento Teórico .................................................................................................... 2

1. Definição de Delinquência Juvenil ......................................................................... 2

2. Influências familiares no comportamento desviante ........................................... 5

2.1. Condições Estruturais Familiares ...................................................................... 6

2.2. Processos Sociais Familiares .............................................................................. 7

3. O Sistema de Justiça de Menores em Portugal: a Lei Tutelar Educativa ........ 13

3.1. A Evolução do Sistema de Justiça de Menores em Portugal ..................... 13

3.2. O Internamento em Centro Educativo ........................................................ 14

3.3. O Papel da Família na LTE .......................................................................... 15

Estudo Empírico ............................................................................................................... 17

1. Metodologia de Investigação ................................................................................. 17

1.1. Objeto e Objetivos ............................................................................................ 17

1.2. Participantes .................................................................................................... 17

1.3. Instrumento: a entrevista semiestruturada ........................................................ 18

1.4. Procedimento ................................................................................................... 19

2. Apresentação de resultados ................................................................................. 20

3. Discussão e Conclusões ......................................................................................... 38

Referências Bibliográficas ......................................................................................... 44

Anexos .......................................................................................................................... 51
Anexo 1: Instrumentos de recolha de dados........................................................ 52
Anexo 2: Tabela com categorias e subcategorias ................................................ 55
Anexo 3: Termo de consentimento informado .................................................... 60

viii
Índice de Abreviaturas

CAFCE - Comissão de Acompanhamento e Fiscalização dos Centros Educativos

CE – Centro Educativo

CPCJ – Comissão de Proteção de Crianças e Jovens

LPCJP – Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo

LTE – Lei Tutelar Educativa

MPP – Medida de Promoção e Proteção

MTE – Medida Tutelar Educativa

ix
Introdução

A atividade antissocial e delinquente tem suscitado ao longo dos anos um interesse


crescente em várias áreas científicas devido ao crescimento da violência e das formas de
comportamento antissocial nas sociedades atuais, ou, pelo menos, do sentimento de
insegurança suscitado por este. Tem sido sublinhada a importância da necessidade de uma
abordagem sistémica da delinquência juvenil com base no conhecimento fundamentado dos
fatores de risco e de proteção associados aos diferentes contextos em que o jovem se
desenvolve (e.g., Farrington, 2008). A família, apesar de todas as mudanças a que tem sido
sujeita na sua estrutura, papel e funções ao longo do tempo, continua a desempenhar um
papel fundamental no desenvolvimento da criança e do adolescente e a sua integração na
sociedade. Esta constitui, assim, um espaço crucial de intervenção junto da criança e do
adolescente que pode controlar e prevenir a delinquência.
A revisão da literatura existente acerca da relação entre família e delinquência
permite perceber que esta é uma temática suscetível de ser mais explorada, especialmente
em Portugal, em que os estudos se centram essencialmente no adolescente não-delinquente
(e.g., Ducharne, Cruz, Marinho, & Grande, 2006; Cruz et al, 2011). Torna-se, por isso,
importante conhecer as perceções dos membros familiares, nomeadamente do jovem que se
envolveu em comportamentos antissociais e delinquentes, relativas ao funcionamento
familiar e à delinquência de modo a compreender-se o papel dos processos familiares na
iniciação e manutenção destes comportamentos (Krohn, Stern, Thornberry, & Jang, 1992).
Neste sentido, a presente investigação pretende produzir conhecimento acerca da
perceção dos jovens internados em centro educativo por medidas tutelares educativas, no
que se refere a vários aspetos relacionados com a família, nomeadamente a relação desta
com a prática criminal e o internamento.
Assim, começar-se-á por fazer um enquadramento teórico dos temas em estudo,
nomeadamente o que a investigação nesta temática tem revelado. De seguida é apresentado
o estudo empírico, desde a metodologia de investigação, que abrange o objetos, os objetivos,
os participantes, o instrumento e o procedimento, passando pela apresentação dos resultados,
e pela discussão e conclusões dos mesmos.

1
Enquadramento Teórico

1. Conceito de “Delinquência Juvenil”

Ao longo dos séculos foram várias as expressões utilizadas no discurso popular para
designar o comportamento dos jovens considerados mais rebeldes e perigosos: crianças e
adolescentes problemáticos, incorrigíveis, vagabundos, desordeiros, indivíduos de mau
caráter, alienados ou loucos (Fonseca & Queiroz, 2008). Na comunidade científica, uma
multiplicidade de designações, tais como crime, delinquência ou perturbação do
comportamento, têm sido atribuídas para definir os comportamentos antissociais (Negreiros,
2001). A construção social da infância e da juventude condicionou o surgimento
representacional do conceito delinquência juvenil, vista como algo que se desvia do tipo
ideal de criança protegida e submissa à autoridade (Santos et al, 2010). A discussão neste
tema cruza os olhares de várias disciplinas, nomeadamente da sociologia, da psicologia e do
direito, tornando este um conceito complexo de definir.
Na sua definição legal, a delinquência juvenil será definida como a prática de atos
proibidos pela lei de uma determinada sociedade, por parte de crianças e jovens (Duarte,
2011). Os comportamentos que são considerados delinquentes incluem delitos que são
crime, se cometidos por um adulto, bem como uma variedade de comportamentos que são
ilegais devido à idade do jovem (Negreiros, 2001). Na definição jurídico-legal está incluída
o conjunto de respostas e de intervenções institucionais e legais em relação aos menores que
cometem infrações criminais ou com comportamentos potencialmente delinquentes
(Ferreira, 1997).
Segundo os Relatórios Anuais de Segurança Interna (RASI) a delinquência juvenil
em Portugal tem vindo a diminuir desde 2002, apesar de algumas oscilações positivas
(Duarte, 2011). Não se pode, contudo, deixar de ter em conta que muitos dos
comportamentos antissociais nos jovens não são alvo de condenações nem muitas vezes
chegam a ir a tribunal, o que contribui para a ausência de dados rigorosos sobre a sua
frequência. Deste modo, a delinquência oficial não corresponde à delinquência real
(Machado, 2004). Apesar desta aparente diminuição, a comunicação social tem vindo a
contribuir para um certo pânico moral em torno da criminalidade juvenil urbana (Santos et
al, 2004; Santos et al, 2010), o que contribui para a manutenção do sentimento de
insegurança. Este é definido como um conjunto de manifestações de inquietação, de

2
perturbação ou de medo, quer individuais, quer coletivas, cristalizadas sobre o crime
(Lourenço, 2010). Exemplo disso é o recente alarme social criado em torno dos “gunas da
Areosa”, no Porto, ou dos “meets” de jovens, em Lisboa.
A noção de comportamento antissocial revela-se um conceito mais abrangente,
referindo-se a uma vasta gama de atividades como atos agressivos, furto, vandalismo, fugas
ou outros comportamentos que traduzem, de um modo geral, uma violação de normas ou de
expectativas socialmente estabelecidas (Negreiros, 2001). Esta conceção sociológica da
delinquência entende que nem todo o indivíduo que comete um ato delinquente é, aos olhos
da lei, um delinquente (Born, 2005), sendo identificados comportamentos considerados
normativos nos anos de descoberta da adolescência (e.g., faltar às aulas, beber bebidas
alcoólicas, lançar falsos alarmes, fugir de casa) (Sampaio, 2010). Do mesmo modo, o
envolvimento em comportamentos antissociais, apesar de ser um pré-requisito para
manifestações posteriores destes comportamentos, não pressupõe o envolvimento a longo
prazo na esfera da delinquência e do crime (Robins, 1978, cit. in Thornberry e Krohn, 2004).
Para Ferreira (1997), a delinquência juvenil pode ser entendida em mais do que um
nível: se por um lado é definida a partir das leis, das práticas e das crenças dos responsáveis
sociais e legais pelo controlo e tratamento do comportamento delinquente e de outros
problemas juvenis relativas ao comportamento destes, por outro lado, a delinquência juvenil
é também um comportamento: “o comportamento que os jovens estabelecem com a família,
os amigos e outros adultos nos espaços onde a delinquência emerge” (p. 916).
O comportamento delinquente resulta de uma rede de fatores e é expressão duma
constelação de problemas, pelo que não pode haver um foco apenas no indivíduo que põe
em prática esse tipo de comportamento (Carrilho, 2000). As investigações da delinquência
juvenil apoiam a ideia segundo a qual não há uma causa que, sozinha, seja responsável por
todo o tipo de delinquência, como também não existe uma trajetória que, sozinha, leve o
indivíduo para uma vida de crime (Loeber & Farrington, 1998). Uma vez que a delinquência
pode ser considerada uma problemática onde se entrecruzam os níveis individual e social do
fenómeno, este não poderá ser reduzido “a modelos de causalidade potencialmente passíveis
de generalização, como se se pudesse falar de causas únicas e globais, ignorando-se a
complexidade da vida social” (Carvalho, 2005, p.73). Neste sentido, estudos recentes
(Wyrick & Howell, 2006, cit. in Manso e Almeida, 2009) concluem pela necessidade de uma
abordagem sistémica da delinquência juvenil baseada num conhecimento fundamentado dos
fatores de risco e de proteção associados aos diferentes contextos em que os jovens se
movem (família, escola, grupo de pares, meio comunitário).

3
Os fatores de risco são definidos como “as características e variáveis que, quando
presentes num determinado indivíduo, aumentam a probabilidade desse indivíduo, mais do
que outro da população em geral, em desenvolver uma desordem comportamental” (Mrazek
& Haggerty, 1994, p.127, cit. in Shader, 2004). Os autores que estudam os fatores de risco
concordam que, quanto maiores forem os riscos a que o jovem esteja exposto, maiores são
as probabilidades de exercerem consequências negativas (Appleyard et al., 2005, cit. in
Coleman & Hagell, 2007). Apesar de nem todas as crianças antissociais se tornarem
adolescentes antissociais ou delinquentes, muito poucos adolescentes delinquentes não
foram antissociais enquanto crianças (Snyder & Patterson, 1987).
Farrington (2008) identificou os tipos de fatores de risco mais importantes para a
delinquência: os fatores individuais, como a elevada impulsividade e a baixa inteligência; os
fatores familiares, como a fraca supervisão parental e a disciplina severa ou inconsistente;
os fatores do grupo de pares, como a pertença a grupos de delinquentes; os fatores escolares,
como a frequência de escolas com elevada incidência de casos de delinquência; os fatores
socioeconómicos, como os baixos rendimentos familiares e condições habitacionais
precárias; e os fatores comunitários, como viver em bairros com elevada ocorrência de
crimes. Segundo o autor, estes fatores de risco tendem a ser idênticos para diversos tipos de
comportamento desviante, designadamente delinquência, violência, consumo de drogas,
maus resultados escolares e desemprego.
A avaliação dos fatores de risco determinam o tipo de intervenção que os jovens
necessitam de modo a diminuir o risco de encetar comportamentos delinquentes (Shader,
2004). Entre estes fatores, as relações familiares surgem como um dos tradicionalmente
considerados como potencialmente mais significativos (Machado, 2004), ocupando um
lugar de destaque em diversos estudos. Tal como refere Born (2005): “A família está
necessariamente implicada na compreensão da delinquência enquanto cadinho onde esta
delinquência nasceu ou enquanto lugar de interações relacionadas com condutas
delinquentes de um ou de vários dos seus membros” (p.74). É sobre as influências familiares
no comportamento delinquente que nos debruçaremos de seguida.

4
2. Influências Familiares no Comportamento Delinquente

A família e o seu papel no processo de socialização da criança e do adolescente


ocupou, desde os anos 40, um extenso lugar na literatura científica sobre o desenvolvimento
e perturbações do comportamento na infância e adolescência (Chitas, 2010). Esta é definida
por Sampaio e Gameiro (1985) como “um sistema, um conjunto de elementos ligados por
um conjunto de relações em contínua relação com o exterior, que mantém o seu equilíbrio
ao longo de um processo de desenvolvimento, percorrido através de estádios de evolução
diversificados” (pp.11-12). É neste contexto cultural de primeiro plano que o adolescente
pode adquirir e interiorizar as orientações e as definições no sentido da conformidade
(Ferreira, 1997). É nela que, desde cedo, a criança aprende a diferenciar o comportamento
aceitável do inaceitável e a respeitar os direitos e a propriedade do outro; é igualmente nela
que aprende a ser agressivo, antissocial e a ter comportamentos violentos (Carrilho, 2000).
Quando se procura pôr em evidência uma relação entre a família e a delinquência é
necessário prudência pois, qualquer que seja o tipo de família considerado, é raro que todas
as crianças se tornem delinquentes (Born, 2005). Deste modo, citar em termos globais as
relações familiares não é muito esclarecedor uma vez que deixa por explicar todas as
exceções e idiossincrasias (i.e., jovens de famílias de elevado risco que não se envolvem em
problemas de comportamento e jovens de famílias sem problemas que se envolvem em
graves problemas de comportamento), (Machado, 2004).
A dinâmica familiar que rodeia a criança no seu desenvolvimento pode ser um fator
que previne ou favorece o comportamento delinquente. A importância do papel da família
no desenvolvimento da delinquência foi realçada por vários autores (e.g., Bandura &
Walters, 1976), tendo sido apresentada como um dos fatores de risco mais influentes no
comportamento delinquente.
A investigação sobre a relação entre a família e a delinquência sofreu transformações
ao longo do tempo. Os primeiros estudos debruçaram-se sobre variáveis estruturais, como a
ausência do pai, vindo depois a aprofundar outras áreas, como o estilo de interação familiar
e a atmosfera emocional familiar como indicadores do papel da família no desenvolvimento
da delinquência (Carrilho, 2000). Uma longa história de investigações mostrou que as
condições estruturais familiares (e.g. pobreza, famílias numerosas, e mobilidade residencial)
e os processos sociais familiares (e.g. pobre supervisão, disciplina errática/hostil, e
vinculação parental fraca) são preditores fortes da delinquência adolescente (Glueck &
Glueck, 1950; Sampson & Laub, 1993, 2005).
5
2.1.Condições Estruturais Familiares
Um dos aspetos com uma história mais longa e antiga na investigação da relação
família-delinquência são as variáveis estruturais (e.g., Glueck & Glueck, 1950). Os estudos
que têm incidido na estrutura familiar têm concetualizado esta variável através de uma
dicotomia simples em que as famílias são categorizadas como estando “desfeitas” ou
“intactas”. Uma família desfeita é aquela em que um dos pais biológicos está ausente,
enquanto uma família intacta consiste na residência de ambos os pais biológicos na mesma
residência que os seus filhos (Heck & Walsh, 2000; Rebellon, 2002, cit. in Spohn & Kurtz,
2011). O conceito de “família desfeita” tem sido colocado em causa, pois nem todas as
famílias monoparentais passam pelo processo de dissolução familiar, sendo por isso
utilizado em diversos estudos o termo “família não intacta” (e.g., Spohn & Kurtz, 2011;
Vanassche, Sodermans, Matthijs, & Swicegood, 2014).
No caso das famílias que passam por dissoluções ou alterações na sua estrutura, estas
perdem a capacidade de supervisionar e controlar os comportamentos dos filhos,
aumentando a probabilidade da delinquência (Ferreira, 1997). Wells e Rankin (1991), numa
meta-análise expansiva acerca da relação entre as famílias não intactas e a delinquência,
encontraram que os filhos de famílias desfeitas pelo divórcio ou separação tinham mais
probabilidade de se envolverem em comportamentos delinquentes quando comparados com
os filhos de outros tipos de famílias não intactas (e.g., famílias monoparentais que não
passaram por estes processos). Resultados semelhantes têm sido encontrados em estudos
mais recentes: os comportamentos delinquentes estão mais presentes em rapazes
provenientes de famílias monoparentais, bem como a maior probabilidade de consumo de
álcool em idades legalmente proibidas (Vanassche et al., 2014). A ausência do pai tem sido
analisada como um potencial fator de risco para a delinquência juvenil nos rapazes, mais do
que a figura materna. Glueck e Glueck (1950) chamaram a atenção para a importância do
processo de identificação do rapaz em crescimento com o seu pai no desenvolvimento da
personalidade e do caráter. Este processo parece comprometido nos rapazes delinquentes
que parecem demonstrar maior hostilidade pela figura paterna do que os rapazes não
delinquentes. Price e Kunz (2003) chamaram a atenção para os variados fatores que têm de
ser tidos em conta na relação entre o divórcio e a delinquência, nos quais se inclui o nível de
hostilidade anterior ao divórcio, a relação pais-filhos, a estabilidade familiar geral, e a
capacidade dos pais em monitorizar e disciplinar os filhos.
O tamanho da família também tem sido relacionado com a delinquência juvenil.
Algumas investigações mostraram que as crianças de famílias com quatro ou mais filhos têm

6
uma probabilidade aumentada de cometer atos delinquentes (Wasserman & Seracini, 2001;
West & Farrington, 1973, cit. in Shader, 2004). A estas famílias têm sido associadas
tipicamente a um conjunto de condições familiares indesejáveis envolvendo pobres modelos
parentais (e.g., criminalidade parental), pobres práticas educativas (e.g., disciplina
inadequada) e dificuldades acrescidas a nível habitacional e económica, bem como de
interação familiar (Fischer, 1984; Glueck & Glueck, 1950)
A pertença socioeconómica da família também tem sido alvo de atenção dos
investigadores na explicação do comportamento delinquente. Para os jovens que nascem
numa família com alta vulnerabilidade de posição social, os pais oferecem um meio pouco
estruturante em termos de socialização, sendo esta ao mesmo tempo uma teoria interacionista
(é-se vulnerável a alguma coisa) e uma teoria estrutural (a vulnerabilidade depende da
posição dos sujeitos na estrutura social) (Born, 2005).

2.2.Processos Sociais Familiares


Todas as abordagens atuais da delinquência são multifatoriais e recorrem à interação
de várias variáveis familiares (Born, 2005). É necessário ter em conta não só as variáveis
estruturais ou funcionais, ou uma acumulação de fatores de risco, que podem ter influência
na delinquência, mas também nas configurações particulares destas variáveis e na dinâmica
relacional que daí decorre e por vezes as gera. As investigações mostram o papel que as
práticas parentais educativas, a afetividade familiar e a criminalidade familiar têm no
comportamento adolescente, nomeadamente o antissocial e delinquente (e.g., Gottfredson &
Hirschi, 1990; Hirschi, 1969; Sampson & Laub, 1993).
A afetividade familiar, nomeadamente a vinculação entre pais e filhos tem sido
consistentemente associada ao comportamento dos jovens em idades adolescentes. A teoria
da vinculação considera que pais e filhos, como um sistema mutuamente regulado, trabalham
conjuntamente para manter a relação numa maneira consistente com as representações
cognitivas derivadas da sua história com outros significativos (Bowlby, 1969/1982). A
presença dos pais junto dos filhos é tão ou mais importante nesta etapa do que na infância,
uma vez que “o seu papel agora é o de estar atentos, de mobilizar sem dirigir, de apoiar nos
fracassos e incentivar nos êxitos, em suma, estar com eles e respeitar cada vez mais a sua
individualização” (Sampaio, 1994, p.42, cit. in Relvas, 1996). Apesar da vinculação na
adolescência ser distinta da infância, tanto a nível comportamental como a nível cognitivo,
as funções das relações de vinculação para os adolescentes são semelhantes às das crianças
mais jovens (Laursen & Collins, 2009). Os pais servem de base segura em ambas as fases

7
de desenvolvimento, sendo a segurança proporcionada ao adolescente direcionada a
explorações exteriores à família, incluindo a formação de novas relações. Os efeitos da
vinculação no desenvolvimento de problemas de comportamento não teria um efeito direto,
defendendo-se, em vez disso, que a vinculação insegura constitui um fator de risco e que a
acumulação de fatores de risco potencia a manifestação de problemas de comportamento,
nomeadamente as condutas antissociais (Greenberg et al., 1997; Loeber & Coie, 2001;
Moffitt & Caspi, 2000, cit. in Machado, 2004).
Os teóricos defendem que os jovens com fortes vinculações aos seus pais,
caracterizadas pelo apoio e envolvimento, têm menos probabilidade de se envolver em
atividades delinquentes (Hirschi, 1969; Parker & Benson, 2004, cit. in Gault-Sherman,
2012). A explicação reside no receio dos jovens em danificar estas relações importantes.
Contudo, quando este apoio e envolvimento está comprometido, poderá criar um terreno
fértil para o jovem encetar comportamentos delinquentes. Se a vinculação entre os pais e o
adolescente for disruptiva durante a infância, isso irá trazer consequências negativas a longo-
prazo, tais como a inabilidade de mostrar afeto ou preocupação com os outros, constituindo
um risco para a delinquência (Ainsworth, 1989; Bowlby, 1944, 1973 cit. in Hoeve et al.,
2012; Hirschi, 1969; Loeber e Stouthamer-Loeber, 1986). Neste sentido a perceção da
vinculação nos jovens delinquentes pode estar negativamente comprometida, devido à
enorme possibilidade de terem havido relações inseguras e de falta de proteção, que
constituíram um risco para o atual comportamento. Numa meta-análise da relação
vinculação-delinquência, Hoeve et al. (2012) encontraram uma perceção de menor laço
afetivo com os pais em jovens envolvidos em comportamentos delinquentes.
As práticas educativas ressaltam como a característica familiar essencial mais
solidamente ligada à delinquência (Glueck e Glueck, 1950; Gottfredson e Hirschi, 1990). É
a atitude parental que, ao proporcionar à criança um quadro educativo coerente, protegerá
melhor simultaneamente de uma delinquência ocasional e de uma delinquência de carreira
(Born, 2005). De acordo com Gottfredson e Hirschi (1990), as práticas parentais
instrumentais tais como a supervisão e a monitorização da criança tem um efeito indireto na
delinquência, através da formação de controlos internos (i.e., de autocontrolo) que ajuda a
criança a regular o seu próprio comportamento mesmo na ausência de supervisão parental
direta.
No controlo que os pais exercem sobre os filhos, nomeadamente na imposição de
regras e disciplina, a investigação tem demonstrado que as famílias de jovens delinquentes
são menos restritivas quando comparadas com famílias de jovens não delinquentes (Bandura

8
& Walters, 1959; Glueck & Glueck, 1950; McCord et al., 1961 cit. in Baumrind, 1966).
Snyder e Patterson (1987) argumentaram que as práticas de disciplina pobres e erráticas têm
efeito no desenvolvimento da delinquência de duas formas: de forma direta, através da falha
na adequada e consistente etiquetagem, seguimento e contingência do seu desempenho, e
através da modelagem e reforço de modos de resolução de problemas e relacionamentos
agressivos; e de forma indireta, ao aumentar a probabilidade de rejeição por pares
normativos e associação com pares agressivos e antissociais. Deste modo, os pais têm a
capacidade de influenciarem com quem os seus filhos se relacionam e, através de
monitorização e disciplina efetiva, o acesso a pares desviantes é afetada (Simons et al., 1991,
cit. in Carlson, 2012).
A monitorização refere-se à consciência e conhecimento parental dos pares, das
atividades de tempos livres e da localização fora de casa dos seus filhos, sendo um aspeto
essencial no controlo do comportamento (Snyder & Patterson, 1987). Em geral, uma
monitorização cuidadosa e disciplina apropriada exercida pelos pais tendem a limitar a
delinquência e uso de droga, e, quando inadequado, facilita o envolvimento dos jovens nas
práticas delinquentes (Buehler, 2006; Hirschi, 1969). Estudos revelam que os pais de
delinquentes são menos prováveis de monitorizar e supervisionar as atividades dos seus
filhos do que os pais de não delinquentes (Hirschi, 1969; Krohn & Massey, 1980; McCord,
1990; Park & Slaby, 1983, cit. in Krohn, Stern, Thornberry, & Jang, 1992). Patterson e
Stouthamer-Loeber (1984) realizaram uma investigação verificando a influência da
monitorização parental sobre a ocorrência e a persistência do comportamento delinquente
em adolescentes. Os autores encontraram uma correlação negativa significativa entre
monitorização, disciplina parental e delinquência. Os resultados mostraram que 21% dos
adolescentes não delinquentes eram pobremente monitorizados pelos pais; esse índice sobe
para 50% nos delinquentes moderados (uma ou duas ocorrências policiais), e para 73% nos
delinquentes persistentes (três ou mais ocorrências policiais). Estes dados indicam que o
fracasso dos pais em monitorizar o comportamento dos filhos está significativamente
relacionado com a ocorrência e persistência do comportamento delinquente.
Os estilos educativos parentais podem ser importantes fatores de risco, uma vez que
conjugam as duas dimensões do apoio e do controlo parental que se mostraram
negativamente relacionadas com a delinquência. Os estilos educativos são definidos através
de um “conjunto de atitudes face à criança que lhe é comunicado e cria um clima emocional
no qual os comportamentos são expressos” (Darling e Steinberg, 1993, p.493, cit. in Cruz,
2013). Conjugam as dimensões da afetividade e do controlo comportamental, formando um

9
estilo de parentalidade. No estilo autorizado está presente um equilíbrio entre o apoio e o
controlo, no estilo autoritário existe baixo apoio e alto controlo, no estilo permissivo existe
alto apoio e baixo controlo, e no estilo negligente o apoio e o controlo são mínimos.
(Baumrind, 1991, Maccoby e Martin, 1983, cit. in Cruz, 2013).
Apesar existirem poucos estudos que se foquem na relação entre estilo parental
negligente e delinquência, os estudos que mediram a negligência parental
unidimensionalmente encontraram relações entre a negligência e a delinquência (Hoeve et
al., 2009). O estilo negligente revelou-se uma das condições da educação dos filhos que mais
dispõe para o crime, produzindo condutas marginais (Baumrind, 1991; Maccoby & Martin,
1983; Steinberg et al., 1994, cit. in Born, 2005) e maior probabilidade de serem presos por
crimes de drogas e álcool (Chen, Propp, deLara, & Corvo, 2011). Uma parte dos jovens
provenientes de famílias negligentes são atraídos para o que é socialmente inaceitável ou
ilegal (Stevenson, 2007). Tal vai de encontro ao paradigma da negligência formulado por
Loeber & Stouthamer-Loeber (1986), em que a delinquência é resultado de uma falta de
implicação e de incompetência de vigilância por parte dos pais. Por sua vez, a ausência de
controlo, mesmo quando acompanhada de afetividade - o estilo educativo permissivo -
resulta numa escalada de comportamentos, nomeadamente de rejeição parental e de caráter
antissocial, que escapam totalmente ao controlo dos pais (Kandel & Lesser, 1972, cit. in
Relvas, 1996).
As práticas educativas coercivas também demonstram ter relação com o
comportamento delinquente. Estudos demonstram que altos níveis de controlo autoritário e
de punição dura estão relacionados com altos níveis de delinquência e comportamento
antissocial, apesar dos tamanhos dos efeitos variarem substancialmente entre estudos
(Farrington, 1989; Farrington, et al, 2003, cit. in Loeber e Stouthamer-Loeber, 1986). Vários
teóricos sugerem que estas práticas podem produzir défices socio-emocionais ou
sociopsicológicos (e.g., raiva, baixo autocontrolo) que leva os jovens a cometer atos
delinquentes sob algumas condições (Agnew, Rebellon, & Thaxton, 2000; Colvin, 2000;
Crosswhite & Kerpelman, 2009, cit. in Brauer, 2011). Diana Baumrind (1966) defendeu que
a punição só por si não seria prejudicial, dependendo do seu enquadramento no padrão de
controlo comportamental. A punição aplicada por uma figura parental calorosa, sendo
contingente ao comportamento da criança, para além de ser eficaz no controlo imediato do
comportamento desta, pode ter efeitos laterais benéficos. Pelo contrário, a punição brutal ou
arbitrária está associada a vários comportamentos indesejáveis, como a agressividade, a
passividade, a dependência e a inibição social. De salientar que os estilos educativos variam

10
culturalmente. Em vários países ocidentais, o estilo autorizado é o mais aceitável, mas na
cultura chinesa o estilo autoritário é o que produz mais efeitos positivos, sendo que os
adolescentes chineses percecionam a afirmação de autoridade como preocupação, carinho e
envolvimento (Moore & Kang, 2011).
Patterson (1982, cit. in Born, 2005) elaborou o modelo coercivo recíproco para
descrever o processo pelo qual os membros da família reforçam, sem necessariamente terem
consciência disso, os comportamentos antissociais dos filhos, através de reforços negativos.
Estes surgem quando os pais formulam exigências e a criança não lhes responde ou responde
negativamente (palavras ou atos negativos/agressivos) sem que haja uma reação parental.
Deste modo, o progenitor é coercivo sem eficácia e a criança é eficazmente coerciva.
Hoeve et al. (2009) numa meta-análise acerca da relação entre a parentalidade e a
delinquência, encontrou diferenças na influência das variáveis relativas ao afeto e ao
controlo parental consoante a idade dos jovens. A vinculação parece ser mais importante em
idades mais jovens, dado que a ligação vinculação-delinquência foi encontrada como se
tornando fraca em idades mais avançadas, enquanto o controlo parental permanece como um
fator de risco da delinquência importante durante toda a adolescência, dado que a ligação
controlo parental-delinquência não é moderado pela idade. Foi possível, ainda, perceber
diferenças entre a parentalidade maternal e paternal, com o apoio do pai mais relacionado
com a delinquência nos rapazes do que o apoio da mãe, e uma relação com delinquência
mais forte quando pais e filhos têm o mesmo sexo.
A relação entre a parentalidade e delinquência não é unidirecional, podendo o
comportamento dos jovens influenciar o comportamento dos pais. Estudos longitudinais
mostram que os pais tendem a reagir aos problemas de comportamento do adolescente
através da desistência do controlo e apoio (Huh, Tristan, Wade, & Stice, 2006; Kerr &
Stattin, 2003; Stice & Barrera, 1995, cit. in Keijsers, Branje, VanderValk, & Meeus, 2010),
tal podendo dever-se ao aumento dos níveis de tolerância dos pais com os comportamentos
desviantes ou pelo desapontamento provocado em relação aos filhos. Neste sentido, não se
deve esquecer as mudanças ocorridas durante a adolescência e que afetam as práticas
educativas. À medida que os adolescentes amadurecem, uma exigência por independência
aumenta, e o processo de individuação avança (Steinberg, 1990; Steinberg e Silverberg,
1986, cit. in Jang & Smith, 1997). Mesmo quando os pais continuam a estar envolvidos e
vigilantes, eles perdem gradualmente a sua influência anterior nas atitudes e
comportamentos dos filhos, sobrepondo-se o palco da vida adolescente, como as influências
de pares e da comunidade, que se tornam mais potentes (Thornberry, 1987, cit. in Warr,

11
2007). Alguns pais reduzem as suas tentativas de supervisão face a estas exigências de
independência, resultando num padrão de “autonomia prematura” entre os adolescentes
(Dishion et al, 2000, cit. in O’Brien e Scott, 2007). Neste aspeto salienta-se o papel que a
comunidade que rodeia o jovem e a sua família pode exercer sobre estes: pode haver
exposição direta a atitudes e comportamentos de pares e adultos da comunidade que o rodeia,
e indiretamente estas zonas podem ter impacto nos pais, como o aumento do stress e a
disrupção da parentalidade (Capaldi, DeGarmo, Patterson, & Forgatch, 2002, cit. in Criss et
al., 2009).
Kerr e Stattin (2000) relativizam o lugar do controlo parental na produção da
conformidade social e sugerem que são as confidências espontâneas dos filhos que revelam
o melhor preditor de uma adaptação social positiva. No seu estudo, nas famílias de
delinquentes os adolescentes nunca tomavam a iniciativa de fornecer ao seu progenitor as
informações pertinentes, algo que acontecia em famílias sem delinquentes. Ou seja, mais do
que o controlo exercido pelos pais, é, segundo os autores, aquilo que os adolescentes
resolvem contar aos pais que diferencia estas famílias.
Outro fator importante a ter em consideração é a criminalidade parental, considerada
como um dos fatores de risco por detrás do desenvolvimento do comportamento delinquente
nas crianças e adolescentes (e.g., Farrington, 1995). Se a família é a instituição de
socialização, a delinquência, quando existe nos seus membros, pode ser considerada a falha
da instituição na sua função de transmissão de valores sociais aos seus descendentes
(Carrilho, 2000). Estudos demonstraram que a reclusão dos progenitores pode constituir um
fator de risco para os problemas de comportamento, nomeadamente delinquentes, e para o
uso de substâncias nos adolescentes (Midgley & Lo, 2013). O cumprimento de pena de
prisão pelos pais e o subsequente afastamento dos seus filhos corta a normalidade na relação
pais-filhos e pode comprometer os laços necessários ao desenvolvimento da saúde
emocional dos filhos e ameaçar a vinculação. O comportamento dos jovens que cometem
atos delinquentes não é desencorajado ou, pelo menos, não é gerador de conflitos com as
normas e valores dos pais, dado as atitudes positivas em relação à criminalidade que estes
pais exibem (Gorman-Smith, Tolan, Loeber & Henry, 1998, cit. in Nijhof, Kemp, & Engels,
2009).

12
3. O Sistema de Justiça de Menores em Portugal: a Lei Tutelar Educativa

3.1. A Evolução do Sistema de Justiça de Menores em Portugal


Dado que a delinquência juvenil é considerada uma manifestação de condutas que se
afastam e colocam em causa a normatividade estabelecida, torna-se importante delimitar o
quadro jurídico-legal e social no qual a abordagem a esta problemática se inscreve.
Desde 1911 que o sistema português é um sistema de proteção dos menores
(Rodrigues, 1997), tendo sido estabelecida, nessa altura, a Lei de Proteção à Infância. Esta
era destinada a crianças em perigo, maltratadas e delinquentes, e caracterizada por considerar
que a aplicação de sanções aos atos considerados delituosos pela lei penal seriam
determinados, em primeiro lugar, pelas necessidades educativas dos jovens. Esta lei criou os
primeiros tribunais de menores – as denominadas Tutorias de Infância, aplicando medidas
próprias, essencialmente distintas das que vigoravam para os adultos. No entanto, este
sistema foi alvo de críticas dado que o regime de internamento em grandes internatos
previsto nesta lei foi acusado de exercer efeitos nocivos na estruturação da personalidade do
menor e na sua reintegração social (Rodrigues, 1997).
A revisão do sistema aconteceu em 1978 com a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º
314/78, de 27 de outubro, que instituiu a Organização Tutelar de Menores (OTM), regime
jurídico que esteve em vigor até 2001. Este sistema era caracterizado pela perda de
relevância da distinção entre menores delinquentes e menores em risco, traduzindo-se na
falta de garantias processuais e no relegar do delito cometido para segundo plano na
aplicação das medidas tutelares educativas (Duarte-Fonseca, 2006). Em 1996, Portugal tinha
já iniciado um processo de reforma do sistema tutelar de menores, que ficou consignada na
separação clara entre menores em perigo e os delinquentes juvenis, introduzindo uma
mudança fundamental no sistema de justiça juvenil português (Negreiros, 2001). Essa
mudança concretizou-se na entrada em vigor, em 2001, da Lei de Proteção de Crianças e
Jovens em Perigo (LPCJP), sob a alçada da Segurança Social, destinada aos menores em
perigo, e da Lei Tutelar Educativa (LTE), sob a alçada do Ministério da Justiça, destinada
aos menores envolvidos em comportamentos delinquentes.
A LTE foi aprovada pela Lei n.º 166/99, de 14 de setembro, destinada aos menores
com idades compreendida entre os 12 e os 16 anos que tenham praticado factos qualificados
pela lei como crime, procedendo-se à aplicação de medidas tutelares educativas (MTE). As
MTE aplicadas devem ser proporcionais não só à gravidade do facto, como também à
necessidade de educação do jovem para o direito, tal pressupondo o conhecimento da

13
personalidade do jovem, incluída a sua conduta e inserção socioeconómica, educativa e
familiar. A educação para o direito constitui, aliás, o eixo central da vertente reeducativa da
LTE (Neves, 2008), cujo conceito exprime a necessidade de educação para o respeito pelos
valores essenciais à vida em comunidade que a prática do facto revela. Trata-se de fazer o
jovem compreender os valores essenciais da comunidade e as regras elementares de
convivência social a que qualquer cidadão deve obediência (Rodrigues & Duarte-Fonseca,
2000).
A LTE prevê um amplo leque de medidas tutelares prevendo-se como medidas de
caráter não institucional as seguintes: a admoestação, a privação de conduzir ciclomotores
ou de obter permissão para conduzir ciclomotores, a reparação ao ofendido, a realização de
prestações económicas ou de tarefas a favor da comunidade, a imposição de regras de
conduta, a imposição de obrigações, a frequência de programas formativos e o
acompanhamento educativo (artigo 4.º, LTE). Prevê, ainda, uma medida de caráter
institucional: o internamento em Centro Educativo (CE).

3.2. O Internamento em Centro Educativo


O internamento em CE é considerada a medida mais grave, implicando maior
restrição da liberdade e da autonomia:
Visa proporcionar ao menor, por via do afastamento temporário do jovem do seu meio habitual de vida
e da utilização de programas e de métodos pedagógicos, a interiorização de valores conformes ao direito
e a aquisição de recursos que, no futuro, lhe possibilitem orientar a sua vida de forma social e
juridicamente responsável. (artigo 17.º, nº 1, LTE)

A medida de internamento, executada em CE por determinação do Tribunal, pode ser


aplicada em regime aberto, em regime semiaberto e em regime fechado, diferenciando-se
pelo grau de acesso ao exterior permitido ao jovem. A medida de internamento em regime
semiaberto, com duração mínima de três meses e máxima de dois anos, é aplicável quando
o menor tiver cometido facto qualificado como crime contra as pessoas a que corresponda
pena máxima, abstratamente aplicável, de prisão superior a 3 anos ou tiver cometido dois ou
mais factos qualificados como crimes a que corresponda pena máxima, abstratamente
aplicável, superior a 3 anos (artigo 17.º, n.º 3). A medida de internamento em regime fechado
é aplicável quando se verifiquem cumulativamente os seguintes pressupostos: a) ter o menor
cometido facto qualificado como crime a que corresponda pena máxima, abstratamente
aplicável, de prisão superior a cinco anos ou ter cometido dois ou mais factos contra as
pessoas qualificados como crimes a que corresponda pena máxima, abstratamente aplicável,

14
de prisão superior a três anos; e b) ter o menor idade superior a 14 anos à data da aplicação
da medida (artigo 17.º, n.º 4). Tem a duração mínima de seis meses e a máxima de dois anos,
podendo atingir a duração máxima de três anos quando o menor tiver praticado facto
qualificado como crime a que corresponda pena máxima, abstratamente aplicável, de prisão
superior a oito anos, ou dois ou mais factos qualificados como crimes contra as pessoas a
que corresponda a pena máxima, abstratamente aplicável, de prisão superior a cinco anos.
A execução da medida tutelar de internamento pode prolongar-se até aos 21 anos,
momento em que cessa obrigatoriamente (artigo 5º, LTE).

3.3. O Papel da Família na Lei Tutelar Educativa


O papel da família no sistema de justiça de menores ficou consagrado a nível
internacional, em 1985, com a adoção das Regras Mínimas das Nações Unidas para a
Administração da Justiça de Menores, conhecidas por Regras de Beijing (Santos et al.,
2010). Estas regras surgiram na sequência da importância reconhecida à Declaração dos
Direitos da Criança, da necessidade de revisão das legislações, das políticas e das práticas
nacionais no âmbito da justiça juvenil. Para além de vincarem o papel da comunidade na
aplicação de medidas alternativas e de reeducação, conferem destaque à família ao exigir
que os filhos não sejam separados dos pais, senão em último recurso.
Em Portugal, a LTE tem a família em consideração ao longo do processo tutelar
educativo dos jovens, nomeadamente no critério de escolha das medidas tutelares a serem
aplicadas,
O tribunal dá preferência, de entre as que se mostrem adequadas e suficientes, à medida que represente
menor intervenção na autonomia de decisão e de condução de vida do menor e que seja suscetível de
obter a sua maior adesão e a adesão de seus pais, representante legal ou pessoa que tenha a sua guarda
de facto. (artigo 6.º, LTE)

No caso particular das medidas não-institucionais, a LTE prevê, no seu artigo 22.º a
execução participada destas medidas, ou seja, a colaboração dos pais ou outras pessoas
significativas para o menor, familiares ou não, de forma a concretizar-se os fins educativos
visados pelas medidas.
No que respeita ao internamento em centro educativo, o artigo 173.º consagra os
direitos dos pais ou representante legal: “Os pais ou o representante legal conservam, durante
o internamento, todos os direitos e deveres relativos à pessoa do menor, que não sejam
incompatíveis com a medida tutelar, salvas as restrições ou proibições impostas pelo tribunal
(n.º1) ”. Os pais ou representante legal têm, ainda, direito a acompanhar a vida dos jovens a

15
seu cargo durante o internamento, devendo ser avisados de qualquer situação excecional que
aconteça, bem como da evolução do processo educativo do menor.
Apesar do papel de colaboração da família previsto na LTE no que respeita ao
acompanhamento de todo o processo tutelar educativo dos jovens, na realidade este
acompanhamento apresenta lacunas. Em 2004, um estudo de Santos e colaboradores com
profissionais ligados à reinserção social (e.g., procuradores do ministério público, técnicos
superiores de reinserção social) refere que no cumprimento de medidas tutelares,
institucionais e não-institucionais, são apontadas falhas das famílias no acompanhamento
efetivo dos seus descendentes. Consideram que a família assume, em muitos casos, uma
postura pouco interventiva e mesmo demissionária, considerando que, na prática, não
existem mecanismos que vinculem os pais ou os detentores da guarda dos jovens ao apoio
da execução das medidas. Esta desresponsabilização da família não é o único problema
apontado. A Comissão de Acompanhamento e Fiscalização dos Centros Educativos
(CAFCE, prevista no artigo 209.º da LTE), no Relatório de 2012, chama a atenção para o
insuficiente trabalho nos contextos de origem. Sublinha que no terreno “não há
conhecimento suficiente e adequado dos contextos de origem, nem há trabalho suficiente e
adequado nesses contextos, apesar da grande maioria dos jovens, depois de cumprida a
medida, retornar às suas famílias” (p.35).
A família parece, assim, ser vista como um universo distinto dos jovens, sem que
haja uma interação entre a intervenção desenvolvida junto do jovem e a intervenção que
deveria ser aplicada à família, mas que na realidade não acontece (CAFCE, 2012). Torna-
se, por isso, necessário não só motivar as famílias e fazê-las entender a necessidade de
participar na execução das medidas, mas também encetar intervenções no contexto de
origem, de modo a aumentar o sucesso da intervenção com os jovens que cumprem medidas
tutelares educativas (Santos et al., 2004).

16
Estudo Empírico

1. Metodologia de Investigação

1.1. Objeto e Objetivos


A delinquência juvenil surge como o pilar de base desta investigação, tendo como
pano de fundo um CE português, destinado ao cumprimento de MTE de internamento.
Como objetivo principal, este estudo procura compreender, através da perceção dos
jovens que estão a cumprir uma MTE de internamento em centro educativo, quais as
características da organização, funcionamento e dinâmicas familiares, bem como o papel
que a família desempenha na prática criminal dos jovens e ao longo do cumprimento da
medida de internamento.
Assim foram definidos os seguintes objetivos específicos: 1) Conhecer a forma de
organização estrutural destas famílias; 2) Conhecer as suas práticas educativas; 3) Averiguar
a influência que a família teve no comportamento delinquente; 4) Verificar o impacto que o
internamento teve no jovem, a nível individual e a nível familiar; e 5) Perceber o que os
jovens perspetivam para si e para as suas famílias após a saída do CE.

1.2. Participantes
O presente estudo contou com a participação de 12 jovens do sexo masculino a
cumprir MTE de internamento num CE português, 2 em regime fechado e 10 em regime
semiaberto. As idades dos jovens estavam compreendidas entre os 15 e os 19 anos de idade
(M=17; DP=1.04). A escolha do grupo participante no estudo obedeceu aos seguintes
critérios: (i) o cumprimento de medida tutelar de internamento há pelo menos 6 meses, para
que a vivência do internamento possibilitasse a construção de significados em torno dessa
experiência, especialmente no que às relações familiares se refere; e (ii) o tipo de factos
ilícitos praticados pelos jovens, de modo a que o grupo escolhido apresentasse um padrão
criminal diversificado. Foi também tida em conta a relação de empatia e confiança
construída ao longo do tempo resultante da realização de um estágio curricular na instituição.
No que se refere aos factos ilícitos foi possível perceber que dois jovens tinham
praticado factos ilícitos considerados não violentos graves, relacionados com o tráfico de
estupefacientes, sendo os únicos no centro educativo nesta condição. Sete jovens praticaram
factos ilícitos considerados violentos (e.g., crime de roubo, ofensa à integridade física

17
simples), sendo que quatro destes jovens apresentam um padrão exclusivamente aquisitivo
(i.e., apenas crimes de roubo e/ou furto). Por fim, três jovens praticaram factos ilícitos
considerados violentos graves (e.g., ofensas à integridade física agravada). Através da
consulta dos processos individuais foi, ainda, possível perceber que sete jovens tinham
processos tutelares educativos anteriores, cumpridos ou não, e três jovens tinham ainda
processos tutelares para cumprir no fim da atual medida de internamento. Destes jovens,
nove estavam sinalizados por MPP da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ)
antes da entrada no centro educativo.

1.3. Instrumento: a entrevista semiestruturada


A ideia de que os estudos sobre a infância e a juventude requerem o recurso a
estratégias de investigação que auxiliem a aproximação à complexidade dessa realidade
social, enquanto construção social, é hoje defendida por diversos investigadores nesta área
de conhecimento (Pinto, 1997, cit. in Manso e Almeida, 2009). Considera-se que as
abordagens qualitativas facilitam o acesso aos discursos e significados associados à infância
e à juventude, não os desvinculando dos contextos vários em que se inscrevem (Manso e
Almeida, 2009). A seleção da metodologia qualitativa foi, por isso, tida em conta dado o seu
papel de facilitador do discurso dos indivíduos não só sobre o seu comportamento, mas
principalmente sobre a sua família. Esta é, aliás, uma temática suscetível de causar
desconforto e resistência nos participantes. Foi por isso assumida uma atitude de abertura da
entrevistadora, que, aliada à relação empática que se tinha vindo a construir no âmbito do
estágio curricular efetuado na instituição, se considerou que poderiam colmatar as possíveis
dificuldades dos jovens ao falar neste assunto.
A entrevista foi elaborada a partir da revisão da literatura efetuada (Cf. Anexo 1). As
questões relativas à monitorização do comportamento (e.g., “O teu pai/mãe ou equivalentes
tentavam saber quem eram os teus amigos?”) baseou-se numa das questões do Questionário
dos Estilos Educativos Parentais – QEEP (Ducharne, Cruz, Marinho, & Grande, 2006). A
entrevista procurou explorar diversas características consideradas essenciais relativamente à
família destes jovens, bem como a relação com o internamento, tendo sido dividida em três
grandes grupos: questões relativas à organização e dinâmicas familiares, questões relativas
à relação família-internamento, e, finalmente, numa análise prospetiva, procurou conhecer-
se os planos e perspetivas de futuro dos jovens.

18
1.4. Procedimento
Após a obtenção da autorização dos Serviços Centrais da Direção Geral de
Reinserção e dos Serviços Prisonais (DGRSP) e da instituição, procedeu-se à recolha dos
dados. Inicialmente foi disponibilizada pelo CE uma lista dos jovens que permitiu fazer uma
pré-seleção dos jovens que estavam a cumprir medida há pelo menos seis meses. A partir
dessa lista, foram recolhidas informações acerca da medida de internamento atual, de modo
a selecionar os jovens pelos factos ilícitos. Nesta seleção foi possível perceber que apenas
dois jovens praticaram factos não violentos, ainda que graves, e uma minoria tinha cometidos
factos ilícitos violentos graves. Deste modo, os participantes selecionados tinham, na sua
maioria, praticados factos ilícitos violentos. Com os doze jovens selecionados e de modo a
perceber, ainda que de uma forma breve, os seus percursos, através da consulta dos processos
individuais, procurou-se informação acerca de existência de processos tutelares educativos
anteriores e/ou por cumprir, e se, no âmbito da LPCPJ, já tinham sido abrangidos por
medidas de promoção e proteção (MPP).
Para a realização das entrevistas, e de forma a salvaguardar a ética de todo o processo,
foi apresentado aos jovens o termo de consentimento informado (cf. Anexo 3), que informou
acerca do tema em estudo, os seus objetivos e a atividade a ser desenvolvida, procedendo-se
ao esclarecimento de possíveis dúvidas. Foi obtida autorização para a gravação em áudio,
garantindo-se o sigilo e a confidencialidade das informações fornecidas, tal como está
previsto no artigo 176.º da LTE.
Após a compreensão do que se pretendia, foi iniciada a entrevista, sendo esta
semiestruturada, permitindo uma maior flexibilidade. As entrevistas decorreram no CE em
horário autorizado pelo Diretor da instituição, numa sala disponibilizada para o efeito, tendo
estas durado cerca de 30 minutos cada.
Para a análise das entrevistas, foi escolhido o método de análise de conteúdo. Para
Bardin (1977/2011), a análise de conteúdo enquanto método torna-se um conjunto de
técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de
descrição do conteúdo das mensagens. Considera-se, por isso, um método adequado ao
presente estudo, dado que permite a análise das representações dos participantes. Realizadas
todas as entrevistas, procedeu-se, então, à transcrição integral de cada uma das entrevistas,
fazendo-se uma leitura flutuante do seu conteúdo, de modo a haver uma familiarização com
o seu conteúdo. Posteriormente, e após mais leituras, efetuou-se um procedimento de
categorização do conteúdo das narrativas, que consistiu na divisão das respostas em
categorias e subcategorias de temas. Estas, segundo Bardin (1977/2011) organizam os

19
indicadores significativos para a inferência do conteúdo implícito e explícito que se procura
compreender. A criação destas categorias (cf. Anexo 2) baseou-se na conjugação entre o
conteúdo das entrevistas e os conceitos teóricos centrais desenvolvidos no enquadramento
teórico deste trabalho. Esta categorização ajudou na organização, análise e interpretação do
discurso dos jovens entrevistados.

2. Resultados

“O que me trouxe esta vida?


Para ser sincero, não me trouxe nada.”
(E11_CM_17)

2.1. Organização familiar

2.1.1. Estrutura e transições familiares


No início da entrevista procurou-se perceber com quem o jovem vivia antes de ser
internado no centro educativo, bem como as possíveis mudanças que viveram. Constatou-se
que apenas três jovens viviam com ambos os progenitores, sendo que numa das famílias se
inclui outros membros da família alargada (tios, sobrinhos). Os restantes jovens tinham os
pais separados, dois deles vivendo com apenas com a mãe e três apenas com o pai. Um dos
jovens vivia com a irmã devido a problemas que teve com a mãe e outros três jovens estavam
institucionalizados no âmbito de Medidas de Promoção e Proteção da CPCJ.
Os jovens relatam as transições familiares por que passaram, tendo-se dividido esta
categoria em duas subcategorias: a separação dos pais e a instabilidade estrutural assente
na experiência de sucessivas mudanças na estrutura familiar.
Relativamente à separação dos pais, a maioria dos jovens fazem referência a esta
experiência, nomeadamente em idades precoces: “Eles estão separados desde os 5 anos.
(E6_LM_15)”, “A partir dos 8 anos [viver apenas com a mãe], quando o meu pai saiu,
quando se separaram. (E4_AG_17)”. Apenas dois dos jovens com os pais separados não
experienciaram a rutura, uma vez que nunca viveram com o pai porque a separação ocorreu
quando ainda eram bebés. Um dos jovens faz referência ao sofrimento familiar causado pela
separação dos progenitores: “O meu pai…desde que os meus pais se separaram ninguém
podia falar do meu pai, a minha irmã e a minha mãe começavam logo a chorar assim nos
primeiros tempos” (E4_AG_17).

20
No que respeita à instabilidade estrutural, dois jovens, que à data da entrada no
centro educativo estavam institucionalizados em lares de infância e juventude, relatam as
sucessivas mudanças por que passaram ao longo dos anos:

Com a minha mãe…mas saí de casa dela e fui para uma instituição. [E sempre viveste com a tua mãe?]
Não vivi sempre com ela. Dos 5 aos 8 vivi com uma família de acolhimento e depois fui morar com a
minha mãe, depois fui morar com o meu pai, e era assim…era um bocado complicado, sim. [A
instituição…Porque é que foste para lá?] Se calhar foi por eu não ter muitas regras. Eu e o meu irmão.
(E10_EC_17)

Na Casa Pia. [E sempre viveste assim?] Desde 2010, 2009… [Com quem é que vivias antes?] Com os
meus avós. [Com os teus pais nunca viveste?] Sim, mas foi até aos 7, 8 anos. E foi só com a minha mãe.
(E12_DE_17)

2.1.2. Situação socioeconómica/laboral


No que respeita à atividade laboral dos progenitores percebe-se que todos exercem
funções em áreas que requerem pouca qualificação (i.e., limpezas, construção civil, cozinha,
jardinagem). Atualmente, três jovens têm um dos progenitores desempregado, dois jovens
desconhecem a situação laboral do pai, uma vez que não têm contacto com o mesmo, e um
dos jovens têm ambos os pais reformados por invalidez:

O meu pai caiu-lhe um andaime em cima e ele ficou numa cadeira de rodas, mas prontos, ficou com
problemas e não pôde trabalhar mais. (….) A minha mãe também teve um problema que foi cancro e
depois também ficou com o atestado de invalidez e não trabalha. (E1_MP_17).

A maioria dos jovens define a condição económica dos progenitores como sendo
suficiente para as despesas do dia-a-dia, sendo que dois jovens identificam algumas
dificuldades, colmatadas por ajudas de terceiros (e.g., “A minha avó ajuda a gente porque a
minha mãe não tem um ordenado propriamente fixo”, E8_PS_18).

2.2. Relacionamento afetivo


As questões relativas ao relacionamento afetivo referem-se à relação do jovem com
os seus pais e com os seus irmãos e à relação entre os seus pais.
Quanto à relação com os progenitores, quatro jovens definem a relação como sendo
positiva com ambos, sem efetuarem qualquer distinção entre eles. Outros cinco jovens
definem a relação como sendo positiva com ambos, mas melhor com um dos progenitores:
quatro como se relacionando melhor com a mãe, sendo que dois justificam tal com o facto
de o pai estar pouco presente (e.g., “Com o meu pai é boa, mas com a minha mãe é muito
melhor. Porque passo mais tempo com a minha mãe, damo-nos melhor, com o meu pai não
passo muito tempo.”, E10_EC_17); e um como se relacionando melhor com o pai, estando

21
a mãe pouco presente na sua vida: “[Pai] Bem. [Mãe] Também. [Mas notas diferenças nas
duas relações?] Sim…o meu pai dá-me mais atenção que a minha mãe.” (E6_LM_15). Este
jovem refere ainda que o acordado era que ele estivesse com a mãe de 15 em 15 dias, mas
que isso não acontecia por ela viver longe: “[Estavas com a tua mãe?] Era de 15 em 15 dias,
mas como ela estava em Viseu eu nunca ia. Só nas férias” (E6_LM_15).
Dois dos jovens referem não ter atualmente qualquer relação com o progenitor, sendo
que um deles demonstra hostilidade:

Com o meu pai não há relação. Com a minha mãe é uma boa relação. [Tens perspetivas de retomar a
relação com o teu pai?] Não. Já tentei aqui dentro, já dei um passo…ele não o quis devolver, portanto
fica assim. (E2_MM_18)

Um jovem comparou dois momentos na relação com os pais: antes de ser internado
não tinha grande ligação com ambos, e depois de ser internado a relação tornou-se mais
próxima:

Neste momento? Neste momento está boa. Mantenho contacto sim, com a minha mãe. Com o meu pai
também, liga-me mais do que o habitual, liga duas a três vezes por semana. [E como era a relação lá
fora?] Com a minha mãe nunca foi assim, hum, muito ligado, tá a ver? Só que agora melhoramos o
nosso relacionamento, já nos respeitamos uns aos outros, só que, pronto, o meu pai antigamente…não
tínhamos muito contacto. (E12_DE_17)

No que respeita aos irmãos, todos os jovens têm irmãos (entre um e oito irmãos) e
definem as relações como positivas.
No que respeita ao relacionamento entre os pais, dos nove jovens que têm os pais
separados foi possível perceber três padrões de relacionamento: um em que os progenitores
comunicam entre si e até são amigos, outro em que os progenitores comunicam pouco,
limitando-se a falar sobre os filhos, e outro em que os pais não efetuam qualquer tipo de
comunicação entre si. Dos três jovens com os pais juntos, estes percecionam as relações
entre estes como sendo positivas.

2.3. Práticas educativas familiares


Nas práticas educativas familiares procurou explorar-se a perceção dos jovens
relativamente ao comportamento educativo parental, nomeadamente no que respeita ao
estabelecimento de regras e limites em contexto familiar, a perceção dos jovens
relativamente à utilidade dessas regras e limites, as tentativas dos pais em supervisionarem
o comportamento dos filhos em diversas áreas de atuação (e.g., amigos, atividades de tempos
livres), e a forma como se resolvem os problemas em contexto familiar.

22
2.3.1. Existência de regras e limites
A maioria dos jovens identifica a presença de regras em contexto familiar, mas
sublinha o comportamento de desobediência em relação a elas:
Eu regras podia ter mas eu não obedecia, pronto. (E1_MP_17)
Existir, existia, eu é que não as cumpria. (E2_MM_18)
Existir, existiam. Eu é que nunca as cumpria. (E3_RP_16)
Existiam, mas eu não as cumpria. (E4_AG_17)
Quando estava com os meus pais era não chegar tarde a casa. Tinha algumas regras, era rigoroso, mas
chegava sempre tarde na mesma. (E5_ML_16)
Nunca as cumpria. (E6_LM_15)
Não quer dizer que eu as cumpria, mas tinha. (E9_RR_17)

A atitude de permissividade dos pais em relação ao estabelecimento de regras e


limites foi notória no discurso dos jovens:

Os meus pais já não tinham…como é que eu lhe hei-de explicar…não tinham controle em mim. Eles
não mandavam em mim já. [Mas que regras é que eles te impunham e não cumprias?] Eles já não me
impunham regras, já não conseguiam, de certa forma já não dava. (E1_MP_17).

Na minha casa não tem muitas regras. Não tenho assim grandes regras, mas respeito o meu pai, não
tenho propriamente horas de chegar a casa, chegava quando quisesse. (E8_PS_18)

Desde os 11 anos comecei a chegar a casa lá pras onze, lá pra uma. Diziam sempre “ah, anda pra casa
mais cedo”, não ouvia e continuava a chegar a essas horas assim. E depois chegou uma altura em que
não me diziam nada… [Que idade tinhas quando não te diziam nada?] Tinha 14, 13 e nem diziam nada,
não diziam nada. Entregavam-me a chave de casa e eu entrava e saía quando quisesse. (E11_CM_17)

Um dos jovens aponta a doença oncológica da mãe e a consequente depressão do pai


como causas para que a supervisão do seu comportamento diminuísse:

Como a minha mãe esteve doente, o meu pai assim entrou um pouco em depressão e depois começaram
a não ter…não puderam ter a mão em mim. Depois a minha mãe ficou bem, o meu pai começou a tomar
comprimidos por causa da depressão e ficou tudo bem, só que já não conseguiam controlar-me.
(E1_MP_17)

Foi ainda referido por um jovem que os problemas de comportamento e de


desobediência das regras teve início em idade precoce e em contexto escolar:

Tinha de estar em casa à meia-noite e não estava. A partir dos 14 não cumpria. Mas antes eu já tinha
tido problemas com a justiça, desde 2007 que ando com isso. Nesta altura desobedecia às regras da
escola, não às de casa. (E3_RP_16)

Foi notório no discurso dos jovens a incongruência entre os progenitores em relação


ao estabelecimento de regras e limites:

Em casa do meu pai tinha de estar em casa à hora certa senão não saía, ficava de castigo. Na casa da
minha mãe podia chegar às horas que eu quisesse. (E10_EC_17)

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Na casa do meu pai sim, era pra chegar lá pelas onze, e assim, lá pras dez, nove; na casa da minha
mãe, txi [sic], chegava lá pras tantas. (E11_CM_17)

[Notas diferenças entre os teus pais quanto às regras?] O meu pai não é muito para regras, ele tem
regras, só que é… como hei-de dizer? Muito jovem, tá a ver? Menos responsabilidade. (E12_DE_17)

2.3.2. Perceção da utilidade das regras


Os jovens posicionam-se maioritariamente como sendo favoráveis às regras,
percebendo-se que houve mudanças na maneira de as percecionar com a entrada no centro
educativo: “Se fosse agora se calhar cumpria todas elas.” (E4_AG_17). As regras são vistas
pela maioria dos jovens como sendo “precisas” (E7_MA_19), “corretas” (E9_RR_17),
“normais” (E12_DE_17), devendo “ser cumpridas” (E5_ML_16) e “tem de se respeitar.
Deve-se respeitar os pais” (E10_EC_17). Foi referida, ainda, a importância das regras para
evitar o comportamento desviante: “Eu não obedecia, mas eu sempre soube que são
necessárias. E é assim, se eu tivesse ido por aí, como eles [pais] me diziam, não estaria aqui,
por isso são importantes” (E1_MP_17).
Dois dos jovens percecionam as regras de forma negativa, sendo que estas “não
faziam nada, não tinham efeito” (E3_RP_16) e que “nunca valeram de nada as regras (...)
não me portava melhor por haver regras, não me portava bem na mesma, era a mesma coisa”
(E11_CM_17).
Dois jovens colocam-se numa posição neutra face às regras: “Sei lá, nem sei o que é
que hei-de pensar dessas regras” (E2_MM_18), “Quando estava lá fora não pensava nelas”
(E6_LM_15).

2.3.3. Atitude dos pais no cumprimento de regras


Quando questionados se os pais os faziam cumprir as regras e se existiam castigos
em caso de desobediência foi possível perceber que os pais não tinham uma postura ativa no
cumprimento das regras, parecendo progressivamente demitir-se das suas responsabilidades
parentais, adotando uma atitude de permissividade:

É assim, quando eu era mais novo eles tiravam-me o telemóvel, essas coisas, não me deixavam mexer
no computador, só que a partir daí, dos 14/15, já não faziam nada. (E1_MP_17)

Diziam que eu ficava de castigo, mas chegava à hora e nunca me punham. (E3_RP_16)

Chegou a um ponto que não insistiam; não me deixam de parte, mas já começam a facilitar mais um
bocado. (E4_AG_17)

A minha mãe não tanto, deixava-me mais à vontade (E7_MA_19)

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A minha mãe não me tirava nada. Ela não me metia assim de castigo porque ela sabe que eu saía pela
janela. (E10_EC_17)

Um dos jovens faz referência à punição do seu comportamento transgressivo por


parte do pai: “Eu de vez em quando fazia algumas coisinhas. Havia castigos. Não sair de
casa depois, mais…ouvia umas boas, levava uma ou duas galhetas… O meu pai era mais
rigoroso, o meu pai já falava mais como um homem comigo” (E5_ML_16).
Outros jovens referem que os pais tentavam fazer cumprir as regras, mas que não
tinham resultado (e.g., “Tentava. Era difícil”, E2_MM_18; “O meu pai fazia cumprir, mas
eu não as cumpria. Tiravam-me a playstation, mas não me fazia diferença”, E6_LM_15)
Um dos jovens faz referência à não-aceitação de controlo por parte de outras pessoas
da família, neste caso da companheira do pai: “A minha madrasta também punha regras, mas
eu também não me preocupava, dizia que ela não era minha mãe. Sei que não devia ter dito
aquilo, porque ela ficou mal, eu sei, mas agora já passou” (E6_LM_15).
No que a castigos se refere, alguns jovens referem que o incumprimento de regras
não era alvo de sanções (e.g., “Não havia castigos”, E8_PS_18; “Castigos não. Se eu ficasse
sem telemóvel arranjava outro”, E9_RR_17; “Não tinha castigos. Nunca tive esses castigos
[ficar sem televisão]”, E11_CM_17)

2.3.4. Supervisão e monitorização do comportamento


Nesta questão procurou-se conhecer a perceção dos jovens relativamente ao
comportamento de supervisão e monitorização dos progenitores em diversas áreas
fundamentais na vida do adolescente: amigos, saídas, atividades de tempos livres, gasto de
dinheiro e desempenho na escola. Em todas estas áreas as respostas dos jovens dividiram-se
em duas subcategorias: (1) pais tentavam saber e (2) pais não tentavam saber. Para além
disto, procurou saber-se qual o comportamento dos jovens face às tentativas dos pais em
supervisionarem o seu comportamento, e de uma forma geral, a mentira e a omissão de
informações e comportamentos surgiu como ponto comum em todas as áreas alvo de
supervisão dos progenitores.
Relativamente aos amigos, a perceção da maioria dos jovens é a de que os
progenitores não supervisionavam este aspeto (sete jovens): “Ele [pai] via-a me com os
amigos, mas nunca me perguntava quem eram.” (E6_LM_15). Seis destes jovens
justificaram tal pelo conhecimento que os pais já tinham acerca dos amigos (e.g., “Não, já
sabiam. Eram de infância”, E5_ML_16). Dos jovens que percecionam a existência de
monitorização (cinco jovens), um deles estabelece distinções entre os progenitores: “A

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minha mãe mais que o meu pai porque o meu pai separou-se e depois não teve tanto tempo
comigo” (E4_AG_17). Destes jovens, apenas um afirmou contar a verdade acerca dos
amigos e todos os outros admitiram mentir ou omitir quem eram os amigos, nomeadamente
para esconder o comportamento desviante destes:

Não os escondia, simplesmente não os apresentava. (E2_MM_18)


Eu dizia que eram uns, mas depois ia ter com outros. (E3_RP_16)
No 5º ano ainda dizia, mas depois no 6º comecei a desviar-me… (E4_AG_17)
Diziam-me às vezes “aquele é um tal tal tal”, essas coisas assim e eu dizia “ah ele não é nada”. [Dizias
a verdade?] Sim, às vezes sim, às vezes não. Ele dizia “ah, aquele ali é uma má companhia”, eu dizia
“não”, e no dia a seguir já estava com ele. (E11_CM_17)

No que respeita aos amigos, surgem também as críticas e os avisos dos pais em relação
a estes:
A minha mãe perguntava “então, hoje foste com quem?”, e eu “fui com este, este, este”, e ela “ah, esse
aí não sei quê…” (E4_AG_17)
O meu pai era um bocado mais coiso [sic] com os amigos, se me visse assim com muitos amigos dizia
“ai vê lá mas é com quem te metes” e não sei quê. Ele dizia pra ter cuidado porque eles podiam fumar
ou roubar, não sei quê… (E10_EC_17).

Relativamente às saídas, a maioria dos pais (onze jovens) tentavam saber onde iam os
filhos quando saíam: “Perguntava se fui à escola, o que é que fui fazer depois, eu dizia
sempre que tinha ido jogar bola” (E4_AG_17). Dois destes jovens estabelecem distinções
entre os progenitores:
A minha mãe sempre. Até ainda hoje pergunta. O meu pai não, porque eu vivia com a minha mãe e
não com o meu pai, ia à casa dele de vez em quando. (E5_ML_16)

A minha mãe não. Eu dizia só que ia levar a chave e ela dizia que estava bem. O meu pai perguntava
sempre “aonde é que vais?”, o meu pai era mais… (E10_EC_17)

A maioria (oito jovens) admite nem sempre dizer a verdade:


Eu dizia que ia para a escola quando saía de manhã, mas depois ia para outro lado. (E3_RP_16)
Eu dizia sempre que tinha ido jogar bola. [Isso era verdade?] Algumas vezes, outras não, mas…Quando
a minha mãe às vezes passava e me via a jogar à bola, corria bem às vezes. (E4_AG_17)
Às vezes dizia, às vezes não. Não ia à escola, dizia uma mentira. (E5_ML_16)
Não. Eu ia para fora do bairro, mas dizia que ia jogar à bola com eles, mas não ia. (E6_LM_15)

Relativamente às atividades dos tempos livres, a maioria dos pais (oito jovens)
tentavam saber o que os jovens faziam. Nesta área surge ainda a distinção entre os
progenitores: “A minha mãe às vezes perguntava. O meu pai por acaso não” (E10_EC_17);
e o abandono progressivo da prática de supervisão: “Eles perguntavam mas chegou a um
certo ponto que eles já sabiam o que eu ia fazer, não era? O que é que eu ia fazer? Ia pras
festas. Deixaram de me perguntar porque já sabiam” (E1_MP_17). Novamente a surge a
mentira (e.g., “Dizia que ia para casa e nunca mais aparecia”, E3_RP_16), nomeadamente

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para esconder o comportamento transgressivo: “Depende, nem sempre, depende de algumas
situações. Quando ia fazer asneiras não dizia a verdade” (E2_MM_18). Três jovens
justificam a não monitorização dos pais por estes já saberem o que eles faziam (e.g., “A
minha mãe sabia sempre o que eu fazia, ou era computador ou ia jogar à bola”, E4_AG_17).
Relativamente ao gasto de dinheiro, os jovens dividem-se, sendo que metade
perceciona que os pais monitorizam os gastos e a outra metade não. A mentira também surge

aqui (e.g., “Dizia que era para carregar o cartão da escola. E não era”, E3_RP_16;

“Perguntava, mas claro que eu mentia”, E6_LM_15)


No que respeita à escola, para além da monitorização feita pelos pais percecionada
como frequente pela maioria (dez jovens), surgiram outras questões como o abandono
escolar (“Eu lá fora há um ano que já não andava na escola”, E1_MP_17); o absentismo
escolar (“Não gostava daquela escola, ia à escola, mas não ia às aulas”, E2_MM_18; “Eu
saltava sempre as grades”, E4_AG_17; “Eu faltava sempre às aulas”, E8_PS_18), as críticas
dos progenitores (“O meu pai reagia sempre mal, dizia ‘olha para os teus irmãos, estão todos
a tirar cursos, 11º’s, 12º’s, e tu és o mesmo, estás sempre na mesma coisa’”, E5_ML_16); e
a indiferença parental perante a transgressão escolar (“Eles sabiam que eu faltava às aulas
e essas coisas”, E8_PS_18; “Dizia que não ia. Eles diziam que era melhor ir, porque senão
depois ia ter consequências graves”, E9_RR_17). Novamente surge o comportamento de
mentir (e.g., “Mentia às vezes”, E1_MP_17; “A minha mãe quando eu chegava a casa
perguntava se a escola correu bem. Eu dizia que sim. Mas não corria muito bem”,
E3_RP_16). Alguns jovens revelam que apenas contavam a verdade porque não tinham
como mentir: “Se eu não fizesse os trabalhos de casa, a stôra [sic] ligava, ele sabia sempre
(….) tinha de dizer [a verdade]”, E6_LM_15; “Aí já não tinha muito como mentir, por isso
dizia a verdade”, E7_MA_19), e que inventavam desculpas (e.g., “Se não dissesse o diretor
de turma ia ligar. Se eu faltasse dizia que faltei, mas da verdade inventava uma mentira”,
E5_ML_16).

2.3.5. Resolução de problemas familiares


Quando questionados acerca da forma como os problemas são resolvidos no seio
familiar, todos os jovens referem a conversa como maneira de os resolver, considerando esta
como a melhor forma de resolução dos problemas. Nesta questão um dos jovens relata a
época em que tinha problemas na família, causados pelo consumo de substâncias e pela
reclusão do progenitor:

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Já não existem há muito tempo. Existiam quando o meu pai andava nas drogas, mas depois já não
existem. Tive quando o meu pai esteve preso, tinha de andar sempre a ir e vir. Ainda era pequeno,
lembro-me de ir visitá-lo. (E3_RP_16)

Outro jovem revela menor aceitação pela forma como o pai tenta resolver as
discussões com ele: “O meu pai lixa-me logo a cabeça, começa logo a lixar-me a cabeça. O
meu pai é assim, mais agressivo, mas é a maneira dele ser já” (E10_EC_17).

2.4. Crime e família

2.4.1. Contribuição da família para o comportamento desviante


A maioria dos jovens não considera que a forma como a sua família organizou a sua
educação contribuiu para a prática dos crimes, sendo que um jovem até considerou que “se
eu aproveitasse, ela [educação], até servia”, E2_MM_18. De facto, através dos discursos dos
jovens, foi possível perceber que a responsabilidade da prática criminal é atribuída a si
próprios:
Acho que dependeu mais de mim. A minha mãe dizia sempre que eu vinha aqui parar, mas eu dizia
“não, achas que vou ali parar?”. Eu achava que nunca acontecia nada. (E3_RP_16)

Eu é que pratiquei, eu é que me desviei. (E9_RR_17)

Não. Veio da minha cabeça. (E12_DE_17)

Dois jovens apontaram o divórcio dos pais como o desencadeador dos problemas de
comportamento, devido ao excesso de liberdade sentida e à revolta suscitada:

Acho que se eles [pais] ainda estivessem juntos acho que isto nunca tinha acontecido. [Achas que
sentiste mais liberdade?] Claro! Porque não tenho lá em casa o meu pai. (E4_AG_17)

Não foi a parte da educação, mas foi a parte da separação dos meus pais que influenciou. Fiquei
revoltado. Todos ficam! (E6_LM_15)

Um dos jovens revela que os problemas de saúde dos pais contribuíram para que eles
deixassem de supervisionar o seu comportamento, o que levou o jovem a iniciar o consumo
de drogas, que, por sua vez, levou a que começasse a traficar para sustentar o vício:

Eu quando entrei, quando comecei nas drogas, comecei a consumir haxixe e quando comecei foi quando
a minha mãe esteve doente, e quando o meu pai já estava a entrar em depressão, eles não conseguiram
gerir tanto, porque eles nem sabiam que eu faria uma coisa dessas…e eu comecei aí. E depois, pronto,
foi-se agravando a pouco-e-pouco, fui continuando cada vez mais, e depois como não tinha dinheiro
comecei a traficar e fui cada vez agravando. (E1_MP_17)

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Os fatores do meio foram apontados por dois jovens, nomeadamente a influência do
bairro e a associação a pares desviantes:
Cresci num bairro social muito degradado. Acho que isso influenciou bastante, só vejo droga à minha
frente…há lá roubos todos os dias. Os meus pais controlavam, mas eu fugia. Foi mais o bairro.
(E5_ML_16)
Também a companhia dos amigos. (E6_LM_15)

2.4.2. Conhecimento e reação da família à prática de crimes


Onze jovens relatam que os pais só souberam através das autoridades (polícia ou
cartas enviadas pelo tribunal), sendo que muitos jovens fazem referência à primeira ida à
esquadra: “foi quando fui pra esquadra pela primeira vez. E soube logo” (E2_MM_18), “a
primeira vez que vim à esquadra, a minha mãe foi-me buscar” (E5_ML_16), sendo que estas
idas à esquadra se tornaram frequentes na vida destas famílias (e.g., “Já fui muitas vezes
parar à esquadra e o meu pai é que me ia buscar”, E6_LM_15). Um dos jovens relata que o
seu progenitor, com quem não mantinha contactos regulares, só ficou a saber dos seus
problemas com a polícia “depois de eu entrar no centro educativo” (E4_AG_17).
Dois jovens fazem referência às desconfianças que os pais tinham antes de
descobrirem efetivamente o seu comportamento desviante, chegando a haver confronto dos
pais ao jovens que mentiram para esconder o seu comportamento:

Eles podiam desconfiar mas não tinham certezas. [Mas nunca te confrontaram com isso?] Ah,
confrontaram com o tráfico, eu menti. Não sei se acreditaram em mim, supostamente não, não sei, acho
que me deram o benefício da dúvida. (E1_MP_17)
Os vizinhos falam muito, falam demais. Os meus pais perguntaram mas eu disse que não era nada de
mal. (E9_RR_17)

No que respeita à reação dos pais quando confrontados com o comportamento


criminoso dos filhos, a maioria dos jovens (oito) considera que os pais reagiram mal: “Um
bocado mal” (E2_MM_18), “chateados” (E3_RP_16), “Reagiu como todas as mães reagem:
mal” (E5_ML_16), “ficou triste, espantado com o que eu fiz” (E6_LM_15), “Reagiu muito
mal mesmo” (E7_MA_19), “surpreendidos, zangados” (E9_RR_17), “a minha mãe
começou a mandar vir e o meu pai dizia sempre ‘ah, não sei o que é que hei-de fazer, não
sei quê’” (E10_EC_17), “mal “ (E12_DE_17), destacando, assim, os sentimentos
experienciados pelos pais. A habituação dos progenitores ao mau comportamento é referido
por um dos jovens: “Não me bateram, da primeira vez ralharam comigo mas agora já não
era uma coisa doutro mundo. Acho que se habituaram” (E8_PS_18).

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Os conflitos com os progenitores é ainda destacada por um dos jovens:

Ela [mãe] disse “vais pro centro educativo”, mãe que é mãe não quer ver uma pessoa na cadeia. E eu
disse-lhe “só vou pro centro educativo no dia em que me apanharem, não me vou entregar” (…) estava
a discutir com a minha mãe porque ela disse “a carta já chegou há 15 dias e ainda continuas a fazer só
porcaria”. O meu pai só soube passado um mês de eu estar aqui, porque eu não liguei ao meu pai. É
assim, eu fiquei chateado. Quando eu disse [que tinha recebido a carta] ele não veio, também não lhe
disse quando vim pra aqui, não lhe fez diferença quando eu vim pra aqui. Depois ele ficou todo chateado
“então tu roubaste e não sei quê”. (E4_AG_17).

Este jovem relata ainda a desresponsabilização por parte do progenitor, que atribuiu
a culpa à mãe do jovem: “Depois pai empurra pra mãe ‘ah a culpa é da tua mãe’ e não sei
quê” (E4_AG_17). Para além dos conflitos, os jovens também referem a ausência de um dos
progenitores: “A minha mãe nunca sabia porque nunca estava ao pé dela. O meu pai ligava
ou ela ligava a ver se estava tudo bem comigo e ele dizia” (E6_LM_15); “O meu pai soube
depois, mas ele não vive cá, não teve influência nisso” (E7_MA_19). Um dos jovens destaca,
ainda, as tentativas dos pais para mudar o jovem: “ela [mãe] tentou sempre mudar-me. Ela
disse-me para aceitar ir para uma comunidade terapêutica, que ela pagava, não sei quê, que
era pra no tribunal eu não vir pra aqui. (E1_MP_17)

2.4.3. Criminalidade familiar


Quanto à existência de familiares com problemas com a justiça quase todos os jovens
(nove) referem a existência de criminalidade familiar, sendo que em seis jovens esta inclui
a família nuclear (pais e irmãos), e três inclui apenas a família alargada (primos e tios). Um
dos jovens refere que “Metade da minha família, senão toda” (E5_ML_16) tem problemas
com a justiça, mas que na família nuclear ele é o único com problemas.
É referida a prisão dos progenitores por dois jovens:” O meu pai esteve várias vezes
preso, ao todo foram 20 anos, sei que era roubos de casas, essas coisas assim, tráfico de
droga, esteve a consumir” (E3_RP_16); “E o meu pai também já esteve preso” (E6_LM_15).
A prisão do progenitor é percecionada por um dos jovens como uma consequência positiva,
uma vez que “fez-se lá um homem, ainda bem. Ele mudou muito, para melhor” (E3_RP_16).
Os irmãos também se destacam pelo comportamento criminal, sendo que são
referidos como companheiros de crimes: “Também foi na companhia deles [irmãos], para
eles eu era um exemplo” (E6_LM_15). O comportamento desviante do jovem é
percecionado como uma das consequências da criminalidade familiar, em que os modelos
negativos influenciam o seu comportamento: “Houve coisas que vi o meu pai fazer, dava-
lhe aquilo na cabeça e estava um bocado revoltado, e pronto, fazia coisas erradas. [Achas

30
que isso te influenciou na tua prática?] Hum, mais ou menos. Eu ficava revoltado, claro”
(E10_EC_17).

2.4.4. Doenças e dependências


Apenas um dos jovens refere doenças graves na família, tendo anteriormente
reconhecido a influência que estes acontecimentos tiveram no início da sua dependência de
drogas, que levou ao comportamento de tráfico: “Tive a minha mãe [com cancro], é assim o
meu pai não foi doença, foi um acidente de trabalho” (E1_MP_17).
Em relação a dependências, três jovens referem problemas dos progenitores com
álcool e drogas, sendo que dois destes jovens referem que tais problemas estão ultrapassados
(um dos progenitores como estando a metadona). Um dos jovens identifica as consequências
resultantes da dependência do pai pelas drogas: “O meu pai era dependente, mas agora está
a metadona. Ele estragou-se, está magro, não tem dentes. Para a família tem o sofrimento.
Mas nunca o abandonamos” (E3_RP_16). Um dos jovens refere o consumo de “charros” e
de bebidas alcoólicas por familiares e por ele próprio, considerando um comportamento
normal e aceitável: “Como se diz? Vivem a vida. [Achas que para viver a vida é preciso
álcool e drogas?] Não é preciso, mas dá um empurrãozinho. (E5_ML_16)”.

2.5. O Internamento
“O que é que há aqui para fazer?
Nada, aqui só se pensa, viemos aqui para pensar.”
(E5_ML_16)
2.5.1. Reações ao internamento
Relativamente à perceção que os jovens têm da reação dos progenitores e das próprias
ao internamento estas dividem-se como considerando o internamento justo ou injusto,
apresentando os argumentos para justificar a sua perceção. Deste modo foram elaboradas
subcategorias das explicações dadas em cada uma das perceções do internamento como justo
ou injusto.
Os jovens que consideram que os pais acham o internamento uma medida justa (nove
jovens) apresentam argumentos como a necessidade do comportamento desviante ser punido
(e.g., “Pelo que eu estava a fazer tinha de pagar por isso”, E3_RP_16), o internamento como
evitando a prisão (e.g., “acharam, pronto, que se calhar era melhor eu vir para aqui agora do
que ir para a cadeia daqui a uns anos”, E1_MP_17); o sentimento de tristeza inicial, mas o
reconhecimento da necessidade do internamento (e.g., “A minha mãe fica triste de eu estar
aqui né? Mas diz que me prefere ver aqui, acha que me está a fazer bem”, E2_MM_18);

31
reconhecimento dos benefícios a nível individual (“Porque ele [pai] também já esteve preso
né? [sic] Ele sabia que eu também ia mudar aqui dentro, o meu pai já não tinha mão em
mim” E6_LM_15). Apesar disto, dois jovens apontam críticas ao conteúdo das medidas,
nomeadamente a altura tardia em que ocorreu o internamento e o tempo excessivo da
medida.
Os jovens que consideram que os pais acham o internamento uma medida injusta
(três jovens) apontam o descontentamento com as autoridades (e.g., “Acho que não acharam
justo, porque não havia provas nem nada e foram dizer que fui eu” E11_CM_17), e os pais
não quererem ver o filho num centro educativo (e.g., “Ele [pai] disse no tribunal que não
queria que eu viesse para aqui, a minha mãe também”, E10_EC_17).
Relativamente à perceção dos jovens em relação ao internamento a maioria considera
uma medida justa (oito jovens). Os jovens falam novamente no internamento como punição
pelo comportamento desviante e o evitar a prisão como argumentos. Quatro jovens revelam
que inicialmente consideraram a medida injusta, mas acabaram por aceitar e até reconhecer
os seus benefícios:

A princípio achei mal vir para aqui, um bocadinho. Mas agora é assim, acho que é bom para a minha
vida, porque senão eu já tinha deixado de estudar, o que é que eu ia fazer da minha vida? Traficar? Por
isso é melhor vir para aqui do que pra cadeia. (E1_MP_17)

Na altura não concordei em vir para aqui. Agora acho que foi bom vir para aqui. (E6_LM_15)

Eu achei que ia ser complicado mas foi importante. Ao início senti-me mal um bocado, mas agora acho
que até foi bom. (E7_MA_19)

Eu não concordei, achei mal, mas já aceitei, já passou e acho que me fez bem o tempo que estive aqui.
(E8_PS_18)

Os jovens que consideram a medida injusta são os mesmos que percecionam que os
pais também o consideram, dando justificações semelhantes, como o descontentamento com
as autoridades e criticando o conteúdo da medida. Um dos jovens é claramente contra o
internamento, desvalorizando o possível efeito que este poderia ter, argumentando,

Não é longe da minha família que me vão mudar, não é eu vir pra aqui que me vão fazer mudar. Aqui
pensam que estão a mudar e não estão a mudar nada, não é o estar preso que nos vai fazer mudar,
mudamos se quisermos. Não é por estarmos aqui fechados dois anos ou três que vamos chegar lá fora e
não fazer nada. Se eu tivesse de mudar era à beira do meu pai e da minha mãe, da minha família.
(E4_AG_17)

32
2.5.2. O apoio durante o internamento
A maioria dos jovens relata ter contacto regular com a família, especialmente através
de telefonemas. As visitas são menos regulares, sendo justificadas por muitos dos familiares
viverem longe do centro educativo, ou por alguns dos jovens usufruírem de saídas de férias
e de fins-de-semana e por isso não sentirem a necessidade de receber visitas. Três jovens
referiram a ausência de um dos progenitores durante o internamento:

O meu pai veio duas ou três vezes, só que também trabalha e isso. Ele liga-me, só que eu não lhe ligo.
[Porquê?] Porque não. [Mas querias que ele te visitasse mais?] Para mim tanto faz…agora já não…
(E4_AG_17)

Pouco [contacto] com o meu pai. (E5_ML_16)

Com a minha mãe, quando ela estava no norte ela ligava-me sempre, desde que foi para Lisboa já não
me ligou. (E6_LM_15)

Um dos jovens refere ainda as mudanças positivas que o internamento teve na relação
com os progenitores: “No início de internamento era mais ou menos, porque ainda me estava
a habituar a ter uma boa relação com a minha mãe. Já melhoramos. Com o meu pai acho que
temos uma boa relação” (E12_DE_17).

2.5.3. Mudanças relacionais familiares durante o internamento


Quando questionados acerca das mudanças que sentem na relação com a família, os
jovens dividem-se nesta questão, com metade a afirmar que não sentem diferença na relação
com os familiares desde que estão no centro (e.g., “Não, tá [sic] igual. Sempre nos mantemos
muito unidos” E10_EC_17).
Das mudanças familiares identificadas estas dividem-se em mudanças positivas e
mudanças negativas. As mudanças positivas identificadas foram a maior proximidade e
maior valorização em relação à família:

Estamos mais ligados, porque de certa maneira eu dou mais valor à minha família. Sinto-me arrependido
pelo que lhes fiz passar. Na altura eu não pensava tanto neles como agora. (E1_MP_17)
Se calhar antes não dava tanto valor à minha mãe, se calhar comecei a dar mais valor à minha mãe.
(E4_AG_17)
Sinto-me mais próximo de todos. (E9_RR_17)

Um dos jovens refere a melhoria da relação não só com os pais, mas também com a
sua avó: “Eu chegava a casa e ela ‘estiveste a fazer porcaria’, a mandar bocas e, pronto,
agora cheguei cá dentro trata-me de forma diferente. Pensa que isto é duro para as pessoas,
tá [sic] a ver, que muda as pessoas” (E12_DE_17).

33
Nas mudanças negativas, dois jovens referem sentir maior afastamento em relação à
família, o que suscita sentimentos negativos:

Afastamo-nos um bocado. Acho que afastou mais. [Como te sentes em relação a isso?] Sinto-me um
bocado mal, mas sei que vai voltar ao normal. Afastamo-nos, quase não falo com eles. Porque o tempo
aqui também não é muito para falar, senão falava com eles sempre. Tenho alguns irmãos em França e
também não dá pra falar. (E5_ML_16)
Com a minha irmã. Estou mais afastado. Ela nunca me liga. [Como te sentes em relação a isso?] Sinto-
me triste. Queria ter mais proximidade com ela. (E6_LM_15)

Também a descoberta do comportamento desviante pela família é referido por um


dos jovens como uma mudança negativa:
Os meus familiares não sabiam a vida que eu tinha e agora já ficaram a saber. Se calhar agora não olham
para mim da mesma maneira, não sei. [Como te sentes em relação a isso?] Oh, claro que não me sinto
bem. Vou evitar se calhar a minha família que não sabia, ainda pensam que os vou roubar ou assim, não
sei…não sei se pensam isso, nem se não. (E4_AG_17)

2.5.4. Consequências do internamento para o jovem e para a família


A maioria dos jovens faz um balanço positivo do internamento, conseguindo
identificar aspetos positivos e negativos do mesmo para si e para a sua família. Apenas dois
dos jovens consideram haver mais aspetos negativos no internamento, mas mesmo estes
conseguiram identificar aspetos positivos do internamento.
Como consequências positivas os jovens identificam a valorização da família (e.g.,
“A distância faz dar mais valor à família”, E1_MP_17; “dou-lhe mais valor”, E4_AG_17),
o crescimento pessoal e mudança do estilo de vida, considerando que o internamento,

Ajudou a crescer um bocado, a pensar de outra maneira, a viver outras realidades. (E2_MM_18)

Mudar a minha vida (E6_LM_15)

O facto de eu estar a estudar, alterar a minha maneira de pensar, alterar a forma como estava a levar a
minha vida, acho que foi importante. (E7_MA_19)

Já sou mais crescido, já tenho outra forma de pensar, faço coisas que antes não fazia, mudei muito.
(E8_PS_18)

Formação, estudos, maneira de pensar, maneira de agir. (E9_RR_17)

Mudei muito. A postura, o aspeto. Escuto mais as pessoas agora, respeito mais as pessoas. Mudei muito,
mudei muito. Foi positivo. Fiquei um bocadinho revoltado, mas fiquei um bocadinho bonzinho.
(E11_CM_17)

O internamento foi muito bom. Aspetos positivos como responsabilidade, visão do futuro, planos,
melhoramentos [sic] a nível social, com as outras pessoas lá de fora, mas também com a minha família.
(E12_DE_17)

Abriu-me um bocado os olhos e a ver certas cenas. A ver tudo: quem eram os meus amigos, ver as
coisas doutra maneira, roubar aquilo e aquilo pra vir pra aqui. (E5_ML_16)

34
Dois jovens definem o internamento como sendo um mal necessário para evitar
consequências mais graves (“É melhor do que estar lá fora e quem sabe um dia acontecer
alguma coisa de grave”, E7_MA_19; “Se calhar a esta hora estava em cana se continuasse
lá fora”, E4_AG_17).
Como consequências negativas do internamento os jovens apontam a distância física
da família (“A única coisa negativa é estar longe da minha família”, E1_MP_17; “Negativo
foi não poder acompanhar um ano e meio da vida deles”, E12_DE_17), a imagem negativa
do jovem e da família na sociedade,

Agora vão-me perguntar “ah aonde é que estiveste?”, vou dizer que estive lá no centro
educativo…ficamos sempre com aquilo na garganta, sempre, isso para mim é uma coisa importante. A
minha mãe esforça-se para trabalhar, esforça-se por mim e pelos meus irmãos e agora ouvir por aí as
pessoas a falar “aquela tem um filho que anda aí a roubar”, fica mal para a nossa família também.
(E4_AG_17)

Referem, ainda, a perceção da medida aplicada como injusta (e.g., “Eu fiz umas
coisinhas, podia ter feito uma coisa muito mais coisa e apanhava quase a mesma medida (…)
se eu roubasse uma ourivesaria, como era menor, apanhava 3 anos no fechado, se fosse maior
apanhava 9 anos na cadeia”, E5_ML_16), e ter ficado mais revoltado (“Ainda mudei um
bocadinho, mas por outro lado fiquei mais revoltado. Acho que fiquei”, E11_CM_17).

2.6. Perspetivas e desejos para o futuro

2.6.1. Aspirações individuais


A nível individual, a maioria dos jovens pretendem continuar os estudos e/ou
ingressar no mercado de trabalho, tendo até um dos jovens intenção de estudar no ensino
superior (“Quero estudar direito”, E1_MP_17). Dois jovens, que têm filhos, referem que a
prioridade é sustentar a família. Um dos jovens pretende construir uma família: “Quero ter
um filho. Vou ter um filho mal saia. Os meus pais também me tiveram quando eram novos.
Construir a minha família” (E5_ML_16). Um dos jovens refere a vontade de “Ser um
cidadão normal como os outros, sem problemas com a polícia” (E9_RR_17). Três jovens
manifestaram vontade em concretizar sonhos: “fazer a tropa especial” (E4_AG_17); “ser
jogador de futebol” (E5_ML_16), (E11_CM_17).

2.6.2. Perspetivas de mudanças familiares


Procurou saber-se se os jovens consideram se a vida familiar será diferente ou igual
quando saírem do centro educativo. A maioria dos jovens considera que a vida familiar será

35
diferente do que era antes do internamento (e.g., “Vai ser diferente. Vai ser mais ativa,
mais…acho que vai ser melhor”, E2_MM_18). Os jovens realçam especialmente o
cumprimento de regras, que perspetivam como a maior mudança:
Antes eu dava preocupações aos meus pais, noutras vezes ia e não dormia em casa, outras vezes ia
depois do jantar e chegava no outro dia. Agora não quero não avisar. (E1_MP_17)

Já não vou fazer as mesmas coisas. Vou tentar cumprir regras. Vou dar votos de confiança. (E3_RP_16)

As regras agora já vou cumprir um bocado mais, mas tenho de fugir a umas ou outras. (E4_AG_17)

Vai mudar um bocado. Vou cumprir regras. Tenho mais cabeça. Vou cumprir regras. Até posso chegar
10 minutos atrasado a casa, mas… (E6_LM_15)

Vai ser diferente, ya [sic]. Vou tentar, já disse que ia tentar seguir regras, vou sair um homem daqui,
quando era pequeno tinha hora, mas agora sou grande, tenho juízo. (E5_ML_16)

Um dos jovens revela conflitos com o progenitor e antecipa o seu comportamento


perante as exigências do pai:
O meu pai já sei que me vai querer impor regras, mas não vai levar nada também. Discutir, porque me
vai tentar tocar, mas eu não vou deixar. Nunca levantei as mãos aos meus pais, mas eu não vou deixar
que me toque. (E5_ML_16)

É perspetivada maior responsabilidade e ajuda à família:


Agora já tou [sic] maior, pronto, já tou [sic] maior entre aspas…já tenho mais idade, já acompanho
melhor as coisas, já posso ajudar a minha mãe e tudo, já… Ei, nem gosto de pensar em ir pra uma prisão
e a minha mãe a ver-me lá. [E o teu pai?] Tudo o que ele precisar também vou ajudar. (E10_EC_17)

Um jovem considera que a família “vai ser mais próxima” (E9_RR_17). Outro revela
vontade em voltar para a instituição e não para o seio familiar: “[Porquê?] Para me dar mais
hipótese. A minha mãe já tem uma filha com ela, tá a ver, tem de cuidar dela, não quero que
ela vá parar a uma instituição também.”, E12_DE_17). É referido ainda por um dos jovens
perspetivas de mudanças relacionadas com fatores contextuais, como é o caso da perspetiva
de saída do bairro (“Vou viver com a minha mulher, com a minha namorada fora do bairro”),
e perspetiva de resistência à influência dos pares desviantes (“Vou manter os amigos de
infância. [Eles têm problemas com a polícia?] O que é que acha? Sim, claro, todos. Não vou
ser influenciado, sou forte, sei dizer não, eu dizia sim porque queria”, E5_ML_16).
Dois jovens não perspetivam mudanças familiares no futuro, sendo tal justificado por
um dele por “somos família unida e damo-nos bem” (E7_MA_19).

2.6.3. Desejos de mudanças familiares e individuais


Para finalizar, foi perguntado aos jovens se gostavam que alguma coisa mudasse na
sua atitude e da família quando saíssem do centro educativo. Os jovens fazem referência às

36
mudanças já efetuadas com o internamento e os aspetos que ainda poderão melhorar. De
forma geral, reconhecem uma necessidade maior de mudança das suas atitudes e
comportamentos individuais do que das atitudes e comportamentos da família.
Relativamente às mudanças efetuadas com o internamento, os jovens referem o
crescimento pessoal por que passaram:
Já mudei muito, acho que estou diferente. (E2_MM_18)

Eu mudei muito, eu era um puto quando vim para aqui, mudei muito (….) Já tenho cabeça, a minha
atitude mudou completamente, uma pessoa já tem mais postura, se eu fosse a mesma coisa isto não
estava a fazer mesmo nada, uma pessoa aqui pensa (E5_ML_16)

Eu agora já estou maior, já sei mais quais as consequências, já percebo melhor as consequências, já
tenho uma maneira de pensar diferente. A minha atitude é diferente. (E10_EC_17)

Na minha atitude, já mudou muito. Já mudou muito aqui dentro. Vou conseguir manter (….) já sou
grande, de altura e de mentalidade. Mudei muito aqui dentro. (E11_CM_17)

Um dos jovens identifica mudanças familiares: “já gosto mais da minha mãe, da
minha avó, que me dá muitos conselhos, do meu avô que é como se fosse meu pai”
(E2_MM_18).
No que respeita às mudanças que ainda poderão efetuar, a nível individual os jovens
esperam ter mais maturidade e autocontrolo:
É assim eu acho que quando sair vou ter uma perspetiva diferente, não vou fazer as coisas como fazia
antes, não é?, mal será que eles tenham de ter mão em mim, que eu faça coisas que eles tenham de…eu
é que tenho de ter mão em mim mesmo, quando eu sair daqui já sou maior de idade. (E1_MP_17)

Na minha atitude, ser mais maduro, tentar ajudar o mais possível. (E8_PS_18)

Esperam, ainda, mudar o comportamento, apesar da incerteza do futuro (e.g., “Não


ir parar à esquadra, não fazer mais coisas. A minha intenção é não fazer, mas só depois na
altura é que eu vou saber”, E3_RP_16), ter mais consciência da realidade (“A minha maneira
de pensar às vezes das coisas…penso que às vezes a vida é muito fácil, mas quando chego
lá fora é que vejo. As coisas estão muito difíceis lá fora”, E4_AG_17).
A nível familiar os jovens gostariam que houvesse maior união (“Mais união com a
família em geral, tipo tios, tias, a minha mãe, o meu pai, primos”, E5_ML_16), mais
afetividade (“Que se preocupassem mais comigo. É a única coisa. A minha mãe, a minha
irmã, os meus outros irmãos também”, E6_LM_15), que houvessem menos conflitos
(“Queria que não discutissem tanto, por exemplo a minha mãe e a minha avó (….) Dão um
bocadinho de choque”, E12_DE_17) e que se empenhassem na procura de atividade laboral
(“Gostava que muitos dos meus irmãos que não têm trabalho que procurassem um trabalho,
que arranjassem um trabalho”, E8_PS_18).

37
3. Discussão e Conclusões

Diversas investigações têm demonstrado o interesse em estudar os comportamentos


antissociais e delinquentes praticados por menores, nomeadamente em conhecer os fatores
de risco associados a estes comportamentos. Este interesse deve-se ao facto de, ao
conhecerem-se os fatores de risco e de proteção mais relevantes na vida de cada jovem, se
possa intervir no sentido de prevenir e diminuir a prática dos comportamentos desviantes.
O presente estudo procurou compreender, através da perceção dos jovens que estão
a cumprir uma MTE de internamento em CE, quais as características da organização,
funcionamento e dinâmicas familiares, bem como o papel que a família desempenha na
prática criminal dos jovens e ao longo do cumprimento da medida de internamento. Para tal
foi utilizada a entrevista semiestruturada de forma a conhecer as formas de pensar, agir e
sentir dos jovens.
Da análise de conteúdo efetuada foi possível perceber a existência de interligação das
diversas categorias analisadas e que permitiram compreender os quadros de vida familiares
destes jovens. Podemos afirmar que os significados emergentes dos discursos dos jovens
acabaram por se revelar próximos das expectativas inicialmente formuladas e que vão de
encontro ao que a revisão da literatura nos diz acerca desta temática. De seguida serão
discutidos os resultados mais relevantes.
De uma forma geral, os discursos dos jovens reproduzem o discurso científico em
torno dos fatores de risco para o comportamento delinquente (e.g., Farrington, 2008), muitos
sendo comuns em vários participantes: as condições socioeconómicas desfavorecidas, as
dificuldades relacionais com um dos progenitores, as pobres práticas parentais, a
criminalidade familiar, nomeadamente dos pais e irmãos, e a existência de problemas
familiares relacionados com o consumo de substâncias (i.e., drogas e álcool).
As famílias da maioria dos jovens provém de meios socioeconómicos médios baixos,
com ligações frágeis ao mercado de trabalho formal, onde exercem atividades laborais em
área pouco qualificadas, estando presente o desemprego e algumas dificuldades económicas,
tal indo de encontro às características identificadas por investigações relativamente a
famílias de jovens com percursos delinquentes (e.g., Fischer, 1984; Glueck & Glueck, 1950).
Muitos dos participantes são originários de famílias pouco estruturadas e/ou
monoparentais, algumas delas pautadas pela ocorrência de acontecimentos de vida
marcantes causadores de alguma desestruturação que teve efeitos no seu desenvolvimento.

38
A separação dos pais, vivida por sete dos jovens e, em alguns casos, em idades
precoces, é apontada não só nas questões relativas às mudanças ocorridas no contexto
familiar, mas também como sendo um desencadeador dos problemas de comportamento,
devido não só à liberdade sentida pela ausência de uma das figuras parentais, como também
pela revolta suscitada por esse acontecimento. Tal vai de encontro aos estudos que
relacionam as dissoluções ou alterações familiares com o comportamento delinquente (e.g.,
Vanassche et al., 2014; Wells & Rankin, 1991) nomeadamente por tal permitir a perda de
capacidade de supervisão e controlo do comportamento dos filhos (Ferreira, 1997).
No processo de separação/divórcio existem outros fatores a ter em conta,
nomeadamente a relação pais-filhos (Price & Kunz, 2003). A figura parental masculina foi
apontada, na maioria dos casos, como estando menos presente na vida destes jovens, sendo
com ela que existem mais relações conflituosas ou até mesmo ausência de relação,
principalmente nos jovens que viviam apenas com a progenitora. A relação com a figura
parental masculina é especialmente importante no desenvolvimento dos rapazes dado o
processo de identificação com a figura masculina e, em processos de divórcio, estes parecem
ter maiores dificuldades em superar a crise, apresentando problemas de externalização, como
a irritabilidade (Wallerstein et al., 1980, cit. por Martins, 2010). Alguns jovens justificam
mesmo o melhor relacionamento com a mãe do que com o pai por este estar pouco presente
ou mesmo ausente. A ausência do progenitor foi ainda referida relativamente ao
conhecimento e à reação à prática de crimes e durante o cumprimento da medida de
internamento, em que o progenitor assumia uma atitude distante. Curiosamente a figura
paterna era a que detinha a guarda da maioria das famílias monoparentais identificadas neste
estudo, sendo que numa delas o papel da figura materna era desempenhado pela madrasta e
não pela mãe, que se encontrava ausente na vida do jovem. Nalguns casos, a ausência de um
dos progenitores (pai ou mãe) na vida dos jovens sugere a presença de estilos educativos
negligente, em que a afetividade e o controlo são mínimos. A negligência parental é uma das
condições identificadas por diversos estudos de ter um papel de influência dos
comportamentos desviantes (Baumrind, 1991; Maccoby & Martin, 1983; Steinberg et al.,
1994, cit. in Born, 2005; Chen et al., 2011; Loeber & Stouthamer-Loeber,1986; Stevenson,
2007).
Ainda no que se refere a acontecimentos relevantes, importa referir a
institucionalização anterior em lares de infância e juventude. Na recolha de dados dos
processos individuais dos jovens foi possível perceber que nove dos jovens estiveram
sinalizados por MPP, na qual se inclui o acolhimento institucional. Nas entrevistas, três

39
jovens referiram viver em lares de infância e juventude antes da entrada no centro educativo.
A família, apesar de assumir um papel principal e insubstituível no processo de
desenvolvimento das crianças e jovens, nem sempre reúne todas as condições emocionais,
afetivas e materiais para garantir que este se faça da melhor forma (Rodrigues, 1997), o que
leva ao afastamento dos descendentes da família de origem. Um dos jovens nesta situação
aponta as práticas educativas permissivas da progenitora como causadoras deste seu
afastamento da família, bem como o do irmão, e consequente institucionalização.
Nos estudos centrados na relação família-delinquência, as práticas educativas
parentais ressaltam como uma das características familiares mais fortemente relacionada
com estes comportamentos (e.g., Hoeve et al., 2009). Na perceção dos jovens relativamente
ao comportamento educativo parental, é notório a presença de dois cenários: se por um lado
os jovens revelavam nos seus contextos de origem uma postura de desobediência às regras,
por outro lado os pais pareciam não assumir uma atitude ativa no estabelecimento de limites
e de disciplina, bem como na supervisão e monitorização dos seus comportamentos. Em
alguns casos esta atitude mais permissiva parece ser acompanhada de uma demissão
progressiva das suas responsabilidades parentais, nomeadamente na atitude face aos
comportamentos transgressivos dos descendentes (e.g., um jovem que diz que os pais se
habituaram a ir buscá-lo à esquadra e, por isso, deixaram de reagir a isso). Tal vai de encontro
à tendência das famílias com jovens delinquentes de exercerem práticas disciplinares menos
restritivas e mais erráticas identificadas pelas investigações (e.g., Bandura & Walters, 1959;
Sampson & Laub, 1993, 2005).
Os jovens apesar de revelarem a presença de afetividade nas relações com os
progenitores (por vezes com apenas uma destas figuras), não deixam de reconhecer que em
relação às práticas educativas estes não eram tão interventivos, identificando, muitas vezes,
incongruência na parentalidade dos dois progenitores. Esta incongruência foi identificada
pelos jovens em relação ao estabelecimento de regras e limites (e.g., na casa de um
progenitor tinha regras, na outra fazia o que queria) e na monitorização do comportamento
(e.g., um progenitor tentava saber aspetos da vida dos filhos e o outro não). Neste último
aspeto, os pais não dão a atenção necessária a todos os aspetos da vida dos filhos (os jovens
percecionam maior monitorização das atividades dos tempos livres, das saídas e do
desempenho na escola, e menos dos amigos e dos gastos de dinheiro). Deste modo, tal como
sugeriram Snyder e Patterson (1987) surge o risco de rejeição de pares normativos e
associação com pares agressivos e antissociais. É, ainda, de salientar que nem todos os

40
progenitores mantinham comunicação entre si, o que dificulta a existência de práticas
educativas consistentes e estáveis (Martins, 2010).
A mentira aos pais surge como um aspeto comum no discurso dos jovens, tendo como
função esconder o próprio comportamento desviante e o dos amigos, os locais proibidos que
frequentam e as atividades convencionais a que se escapam (e.g., escola). Investigações
sugerem que a mentira o único meio dos jovens conseguirem fugir aos castigos ou deterem
algum controlo na relação com os progenitores (Lewis, 1993; Wilson, Smith & Ross, 2003,
cit. in Warr, 2007). Neste sentido compreende-se o porquê da maioria dos pais dos jovens
terem tido conhecimento dos factos ilícitos praticados por estes apenas através das
autoridades policiais e/ou judiciais (e.g., na primeira ida à esquadra ou quando receberam
uma carta do tribunal).
Na relação da família com a prática criminal, a maioria dos jovens não considera que
a família tenha contribuído para a prática dos comportamentos desviantes. A maioria refere
a prática de crimes como uma opção pessoal, e em que eles é que tiveram o poder de decisão
em transgredir ou não. Contudo, o divórcio (referido anteriormente) e a doença dos
progenitores foram fatores apontados como tendo levado a maior liberdade de
comportamento dos jovens e que facilitou a prática criminal e o consumo de drogas. Neste
último caso, o jovem, proveniente de uma família sem grandes riscos associados, revela que
os problemas de saúde dos pais (cancro da mãe e consequente depressão do pai) contribuíram
para que eles deixassem de supervisionar o seu comportamento, o que o levou a iniciar o
consumo de drogas. Isto, por sua vez, levou a que começasse a traficar para sustentar o vício,
referindo que mesmo depois dos problemas de saúde estarem ultrapassados, os pais já não
conseguiram controlar o seu comportamento. Este caso exemplifica a influência recíproca
entre a parentalidade e o comportamento delinquente, sendo definida por Gault-Sherman
(2012) como “uma rua de dois sentidos”: se por um lado existe um fator de risco familiar
que facilita o envolvimento em comportamentos delinquentes, por outro lado o
comportamento delinquente faz com que a práticas educativas fiquem afetadas.
Também os irmãos foram identificados como “companheiros de crime” exercendo
influência nos comportamentos dos jovens. Investigações mostram que os irmãos,
principalmente os mais velhos, servem como modelos, nomeadamente no que se refere à
partilha do grupo de pares, nomeadamente de pares antissociais (e.g., Rende et al, 2005;
Windle, 2000, cit. in Whiteman, Jensen & Maggs, 2014). Estes últimos e o bairro são
percecionados por dois jovens como tendo tido influência no seu comportamento.

41
No que se refere à prática de crimes e ao cumprimento da medida de internamento,
os jovens enfatizam os sentimentos negativos experienciados pelos pais, mas que, de forma
geral, estes e os próprios jovens aceitaram a medida aplicada. A maioria perceciona apoio
familiar desde que está no CE, sendo esse apoio mais comum através de telefonemas e menos
por contactos face a face. Os participantes neste estudo apontam a distância geográfica como
justificação, bem como a possibilidade de efetuarem saídas de férias e aos fins-de-semana
(no caso dos jovens em regime semiaberto e em fases mais avançadas do internamento) que
os leva a não sentir a necessidade de receber visitas.
Em forma de balanço do impacto do internamento no jovem e na sua família, este é
percecionado, pela maioria, como tendo trazido mudanças e consequências positivas e
negativas. Identificam melhorias no relacionamento com os seus familiares, nomeadamente
maior proximidade e maior valorização, bem como o crescimento pessoal e mudança do
estilo de vida. Negativamente dois jovens sentem maior afastamento das famílias e relatam,
ainda, os constrangimentos provocados pela descoberta do comportamento desviante,
demonstrando preocupação com a sua imagem e a da família na sociedade.
Numa análise prospetiva, o discurso dos jovens é um discurso de intenções mais do
que um discurso de projetos (Neves, 2008). Intenções de continuar os estudos, de trabalhar,
de não se envolverem mais em problemas com a polícia e de concretizar sonhos. Perspetivam
mudanças no contexto familiar, destacando-se, mais uma vez, a intenção de cumprirem
regras, de serem mais responsáveis e de ajudarem a família. Contudo, foi possível notar que
a sombra da incerteza paira sobre estas intenções, pois, apesar dos jovens reconhecerem que
já efetuaram mudanças (e.g., crescimento pessoal), identificam mudanças ainda a ser
efetuadas, tanto a nível individual (e.g., mais maturidade e autocontrolo) como a nível
familiar (e.g., mais união, afetividade e menos conflitos). Deste modo é reconhecida a
possibilidade da mudança uma vez terminado o tempo de internamento, embora manifestem
algumas incertezas e receios, nomeadamente no que à reincidência diz respeito (Manso &
Almeida, 2010). Estas incertezas e receios são compreensíveis na medida que, terminado o
internamento, o CE e o sistema judicial deixam de ter responsabilidade sobre o jovem
(quando não existem medidas tutelares pendentes) que assim passa abruptamente de uma
vigilância e enquadramento permanentes na instituição para o seu meio exterior,
frequentemente desestruturado (Neves, 2008). Assim, as mudanças conseguidas com o
internamento podem ser colocadas em causa por o meio não estar preparado para receber o
jovem de uma forma que permita a continuação do percurso em direção ao comportamento

42
normativo retomado dentro do CE. As famílias ao manterem o seu funcionamento habitual
não atuam como facilitadoras da mudança (Santos et al., 2004).
Para concluir a apresentação do estudo realizado importa referir as limitações e as
propostas para futuras investigações deste tema. Primeiramente é de referir que o estudo
centrou-se apenas em jovens do sexo masculino. A falta de dados relativamente ao sexo
feminino deve-se à dificuldade em recolher dados nos CE junto desta população, pois nem
todos acolhem raparigas, como é o caso do contexto de recolha deste estudo. Em
investigações futuras seria interessante acrescentar as perceções em relação à família das
raparigas internadas, de modo a identificar semelhanças e diferenças com os rapazes.
Outra limitação prende-se com a unidirecionalidade do estudo, ou seja, apenas são
conhecidas as perceções dos jovens acerca da família e não se conhecem as perceções dos
familiares, principalmente dos progenitores, em relação às dinâmicas familiares e ao próprio
comportamento transgressivo dos seus descendentes. Esta limitação justifica-se pelo facto
de ser muito difícil aceder aos progenitores dos jovens que cumprem medidas tutelares, tal
devendo-se à organização da própria rotina do CE (em que os pais assumem uma presença
física de tempo limitado apenas aos fins-de-semana) ou por muitos dos jovens serem de
outras zonas do país e que impossibilita que os seus familiares efetuem visitas regularmente,
ou até mesmo pela falta de envolvimento de alguns progenitores ao longo do cumprimento
da medida de internamento. Contudo, uma vez que as investigações sugerem um efeito
bidirecional entre a parentalidade e a delinquência seria importante incluir os progenitores
dos jovens em estudos futuros.
Por fim, como limitação pode ainda ser apontada a familiarização com a
investigadora (advinda do estágio realizado na instituição), a qual poderá ter levado os
participantes a omitirem certas informações por considerarem que estas já seriam conhecidas
pela investigadora.
Para finalizar, este estudo pretende chamar a atenção para a necessidade das
mudanças a serem efetuadas para que as medidas tutelares educativas tenham um efeito
positivo a longo prazo na vida destes jovens. Apesar de ser difícil mudar alguns fatores de
risco (e.g., condições socioeconómicas), os programas de intervenção destinados às famílias
podem concentrar-se nos fatores de proteção para amenizar os riscos (Shade, 2004). Alguns
fatores de risco como as práticas parentais ineficazes são suscetíveis a mudanças acessíveis
através de programas que ensinam competências parentais e fornecem serviços de apoio
familiar.

43
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50
Anexos

51
Anexo 1: Instrumentos de recolha de dados:

I. Dados do jovem

1. Nome: ____________________________

2. Idade: _______ 3. Data de Nascimento: _____/_____/______

4. Medida de Internamento Atual:


4.1. Duração: ____________ Início:______ Fim:_______

4.2. Regime de execução: _____________________________

4.2. Factos ilícitos que motivaram a intervenção:


_________________________________________________________________________

5. Processos Tutelares Educativos Anteriores:


Sim v Não v
5.1. Em casocde resposta positiva,
c indicar:
D D
Medida(s) educativa(s)
e aplicada(s):
e
v v
_________________________________________________________________________
e e
a a
6. ProcessossTutelares Educativos
s Pendentes:
s s
Sim i v Não i v
6.1. Em casoncde resposta positiva,
nc indicar:
aD aD
Medida(s) educativa(s)
le aplicada(s):
le
a v av
_________________________________________________________________________
re re
ca ca
os (Medidas de Promoção
7. Sinalização os e Proteção – CPCJ/ISSS/Outras)
ms ms
Sim uiv Não uvi
7.1. Em casomnde mcn indicar:
c resposta positiva,
aaD aDa
Medida(s) aplicada(s):
cle cel
r av rva
_________________________________________________________________________
ure uer
zca zac
( os (so
xm xm 52
s s
) ui )iu
nm n nmn
oa oa
II. Entrevista

1. Organização e dinâmicas familiares

o Com quem vivias antes de vires para o Centro Educativo? Sempre viveste assim?
o Como é a tua relação com o teu pai/mãe (ou equivalentes)?
o Como é a relação entre os teus pais (ou equivalentes)?
o Tens irmãos/irmãs? Que idades têm? Como é a tua relação com eles?
o O teu pai/mãe trabalham? O que é que fazem? Achas que o dinheiro que ganham é
suficiente?
o Em relação a regras, existiam muitas regras em tua casa? Que tipo de regras existiam?
o O que pensas dessas regras?
o Os teus pais faziam-te cumprir essas regras? Havia castigos se não as cumprisses?
o O teu pai/mãe (ou equivalentes) tentavam saber (em caso afirmativo, questionar se os
jovens respondiam com a verdade):
- Quem eram os teus amigos?
- Onde ias quando saías?
- O que fazias nos teus tempos livres?
- Como gastavas o dinheiro?
- Como estava o desempenho na escola?
o Quando existem problemas na tua família como é que estes são resolvidos? Concordas
com essa forma? O que farias de diferente?
o Achas que a forma como a tua família organizava a tua educação contribuiu para praticar
esses crimes?
o Os teus pais tinham conhecimento que andavas a fazer o que não devias ou só
descobriram quando foste apanhado pela polícia?
o Qual foi a reação deles?
o Tens familiares que já tiveram problemas com a justiça?
o Tens familiares com doenças graves e/ou com histórico de dependências?

53
2. Relação Família-Internamento

o O que acharam os teus pais de vires para aqui? Acharam justo?


o E tu? Concordas com a opinião deles? O que achaste de vires para aqui?
o Tens tido contacto com a tua família? De que forma (telefonemas, visitas)? Com quem
tens mais contactos?
o Notas alguma diferença na tua relação com alguns dos teus familiares desde que estás no
centro? Como te sentes em relação a isso?
o Achas que o internamento teve mais consequências negativas ou positivas para ti e para
a tua família? Porquê?

3. Planos e perspetivas para o futuro

o O que queres que aconteça contigo quando saíres daqui?


o Achas que a tua vida familiar será diferente? Ou achas que será tudo igual?
o Gostavas que alguma coisa mudasse na atitude da tua família quando saísses do centro?
E na tua atitude? O quê e porquê?

54
Anexo 2: Tabela com categorias e subcategorias

Tabela 1. Organização Familiar

Categoria Subcategorias

Biparental
Alargada/Biparental
Monoparental Pai
Estrutura familiar Mãe
Alargada
Instituição

Separação dos pais


Transições familiares Instabilidade estrutural

Trabalho pouco qualificados


Desemprego de um dos progenitores
Situação socioeconómica/laboral Desconhecimento da situação laboral do pai
Reforma/Invalidez
Dificuldades económicas

Tabela 2. Relacionamento Afetivo

Categoria Subcategoria

Positivo com ambos, sem distinções


Positivos com ambos, melhor com a mãe
Relacionamento afetivo com os Positivos com ambos, melhor com o pai
pais Sem relação com o pai
Relação modificada com o internamento

Relacionamento afetivo com os Positivo


irmãos
Pais Sem comunicação
separados
Pouca comunicação
Relacionamento afetivo entre os
Comunicação
pais
Pais Positiva
juntos

55
Tabela 3. Práticas Educativas Familiares

Categoria Subcategoria

Comportamento de desobediência às regras


Permissividade parental/autonomia precoce
Existência de
Escola como contexto inicial dos problemas em idade precoce
regras e limites
Incongruência entre os progenitores

Positivas
Perceção da
Negativas
utilidade das
regras Posição neutra

Permissividade parental
Punição do comportamento desviante
Atitude dos pais
Tentativas de controlo, sem resultado
no cumprimento
de regras Não-aceitação de controlo por parte de outras pessoas da família
Ausência de castigos

Supervisão
Monitorização:
Amigos Pais tentavam saber Mentira/omissão
Pais não tentavam saber
Pais criticam os
amigos/fazem avisos
Saber onde ia Pais tentavam saber Mentira/Omissão
quando saía Pais não tentavam saber
Atividades no Pais tentavam saber Mentira/Omissão
tempo livre Pais não tentavam saber
Gasto do dinheiro Pais tentavam saber Mentira/Omissão
Pais não tentavam saber
Desempenho na Pais tentavam saber Mentira/Omissão
escola Verdade porque não tinham como mentir
Inventar desculpas
Pais com conhecimento do absentismo do
jovem
Pais não tentavam saber
Críticas do pai
Abandono escolar
Absentismo escolar

Resolução de Melhor forma de resolução


problemas Problemas existentes na família (consumo de substâncias e reclusão
familiares do pai)
Menor aceitação pela forma como o pai tenta resolver as discussões

56
Tabela 4. Crime e Família

Categoria Subcategoria

Família sem relação com a prática criminal


Responsabilidade própria
Contribuição da família Fatores Divórcio dos pais
para o comportamento familiares que Doença oncológica da mãe/Depressão do
desviante influenciaram pai
Fatores do Bairro
meio Associação a pares desviantes

Pais descobriram através das autoridades


Jovem contou aos pais antes das autoridades
Conhecimento Idas frequentes à esquadra
Desconfiança dos pais – mentir para esconder o
Crimes comportamento desviante
dos Sentimentos experienciados pelos pais
jovens Desvalorização por parte dos pais do comportamento
desviante
Reação Conflitos com os progenitores
Ausência de um dos progenitores
Tentativas dos progenitores de mudar o jovem

Sim Incluindo família nuclear


Apenas família alargada
Não
Criminalidade familiar Consequências Balanço positivo da prisão do pai, apesar
de ter custado ao jovem
Família como influência no
comportamento desviante

Doenças graves
Dependências Alcoolismo
Doenças e dependências Drogas
Visão positiva do consumo

57
Tabela 5. O Internamento

Categoria Subcategoria

Reações ao Pais Justo Punição pelo comportamento desviante


internamento Evitar a prisão
Sentimento de tristeza, mas reconhecimento
da necessidade do internamento
Reconhecimento dos benefícios individuais

Injusto Descontentamento com as autoridades


Não querer ver o filho na prisão

Jovens Justo Punição pelo comportamento desviante


Evitar a prisão
Reação negativa inicial, mas aceitação e
reconhecimento dos benefícios

Injusto Descontentamento com as autoridades


Crítica à medida
Desvalorização do efeito do internamento

Apoio familiar Regularidade de contactos (telefonemas/visitas)


durante o Ausência dos progenitores
internamento Mudanças relacionais com os progenitores

Mudanças no Aspetos Mais proximidade, maior valorização


relacionamento positivos Melhoria das relações
com a família Aspetos Maior afastamento
durante o negativos Comportamento desviante descoberto pela família
internamento
Consequências Consequências Valorização da família
do positivas Crescimento pessoal e mudança do estilo de vida
internamento Internamento como mal necessário para evitar
para o jovem e consequências mais graves
para a família
Consequências Distância física da família
negativas Imagem negativa do jovem e da família na sociedade
Perceção da medida aplicada como injusta
Mais revolta

58
Tabela 6. Perspetivas e desejos para o futuro

Categoria Subcategoria

Continuar os estudos e ingressar no mercado de trabalho


Sustentar a família
Aspirações Construir uma família
individuais Não ter problemas com a polícia
Concretizar sonhos

Mudanças familiares Cumprimento de regras


Não permitir a autoridade punitiva do pai
Maior responsabilidade individual e ajuda à família
Perspetivas Maior proximidade familiar
de mudanças
familiares Desejo de voltar para uma instituição
Outras mudanças Resistência à influência dos pares desviantes
Sair do bairro

Mudanças efetuadas Crescimento pessoal


Mudanças relacionais
Mudanças a efetuar Individuais Mais maturidade e autocontrolo
Mudança do comportamento,
Desejo de incerteza da reincidência
mudanças Mais consciência da realidade
individuais e
familiares Familiares Mais união
Mais afetividade
Menos conflitos
Empenho na procura de
atividade laboral

59
Anexo 3: Termo de Consentimento Informado

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

Tema do estudo: Papel da Família na Delinquência Juvenil


Investigadora: Andreia Nunes
Instituição: Universidade do Porto, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

Objetivo do estudo: Conhecer as formas de pensar, agir e sentir dos jovens a cumprir medida tutelar
educativa de internamento em centro educativo no que se refere às suas relações familiares;

Procedimentos: A participação neste estudo consistirá na resposta oral a um conjunto de perguntas


sobre a tua vida. A entrevista será gravada (áudio) e terá a duração média de 30 minutos;

Sigilo: As informações fornecidas são totalmente confidenciais e de conhecimento apenas da


investigadora. Os participantes do estudo nunca serão identificados, mesmo quando os resultados
forem divulgados, e os dados não serão utilizados para outros fins que não a presente tese de
mestrado.

No âmbito do estudo acima mencionado, integrado no meu projeto de Mestrado Integrado em


Psicologia, na área de Psicologia do Comportamento Desviante e da Justiça, da Universidade do
Porto, sob a orientação do Prof. Doutor Jorge Negreiros, é pedida a tua colaboração para participar
no referido estudo, através de uma entrevista.

Após ter sido devidamente informado de todos os aspetos deste estudo e ter esclarecido as minhas
dúvidas, concordo em participar neste estudo.

Porto, ____ de_______________ de 2014

1
Participante Responsável Legal Investigadora
______________________ _______________________ ____________________________
(Andreia Nunes)

1
No caso de não ser possível obter autorização dos pais, representante legal ou quem detenha a guarda de
facto do jovem, deverá ser assinado pelo responsável no Centro Educativo; em caso de ter idade igual ou
superior a 18 anos não é necessária a autorização dos pais.

60

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