LPII2012 - Aulas de Mudança Linguística

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Língua Portuguesa III – Prof.

Cesar Casella

Mudança linguística

UnU Goiás – Agosto/Setembro de 2012


A PERCEPÇÃO DA MUDANÇA

► As línguas mudam com o passar do tempo e essa


dinâmica é o objeto de estudo da Linguística Histórica.
► A configuração estrutural das línguas se altera ao longo do
tempo, mas elas não perdem nunca a sua plenitude estrutural
e nem seu potencial semiótico.
► Os falantes, geralmente, não se dão conta de que a sua
língua está mudando.
A PERCEPÇÃO DA MUDANÇA

► Os falantes têm uma sensação de permanência mais do


que uma percepção da mudança, entre outras coisas pois:

A). As mudanças são lentas;


B). As mudanças são parciais em relação ao sistema;
C). As mudanças são refreadas pela escrita.
A PERCEPÇÃO DA MUDANÇA

► Há algumas situações em que os falantes pode perceber


melhor a mudança:

A). Exposição aos textos antigos;


B). Convívio com gerações mais distantes (idosos/jovens);
C). Interação com classes sociais/culturas mais oralizadas.

► Nestas situações há um nítido contraste entre uma imagem


da língua e a sua realidade.
A PERCEPÇÃO DA MUDANÇA

► Alguns exemplos são trazidos por Carlos Alberto Faraco


(Linguística histórica: uma introdução ao estudo da história
das línguas. São Paulo: Parábola, 2005. P. 16-22):

A). Uma tenção de Pedr' Amigo do século XIII;


B). Uma Lenda do Rei Lear do século XIII ou XIV;
C). A conservação do /l/ no final de palavras entre os idosos;
D). A conservação do /s/ final de plural entre os integrantes da
classe média alta.
A PERCEPÇÃO DA MUDANÇA

► A implementação das inovações é feita principalmente


pelas gerações mais jovens e pelos grupos socioeconômicos
intermediários.
► Em Linguística Histórica, nem toda variação implica
mudança, mas toda mudança pressupõe variação. Não é
qualquer diferença de fala (entre gerações ou grupos sociais)
que indica mudança linguística.
A PERCEPÇÃO DA MUDANÇA

► A língua escrita é normalmente mais conservadora que a


língua falada, por isso o contraste entre as duas nos faz
perceber os fenômenos inovadores. O exemplo dado é o da
utilização de preposições no início de orações relativas (p.
25).
► A escrita é mais conservadora pois é mais duradoura e
sujeita a maior controle social, além de estar ligada a
contextos de uso mais formais.
A PERCEPÇÃO DA MUDANÇA

► Entretanto, nem todas as diferenças entre fala e escrita são


indícios de mudança. Muitas são fruto de características
próprias da oralidade e da escrita.
► O linguista pode estabelecer uma escala progressiva da
mudança (que não é uma obrigatoriedade): fala informal de
grupos socioeconômicos intermediários → fala informal de
grupos socioeconômicos mais altos → situações formais de
fala → escrita.
A PERCEPÇÃO DA MUDANÇA

► A primeira reação dos falantes frente às formas inovadoras


é frequentemente negativa.
► Às reações negativas como forma 'errada', 'incorreta',
'imprópria', 'feia' ou 'degeneração' da língua escapa o fato de
que a mudança é inevitável e não afeta a plenitude estrutural
e o potencial semiótico das línguas.
► Juízos de valor sobre a língua são juízos de valor sobre os
falantes desta língua. A língua é estigmatizada porque os
seus falantes são socioculturalmente estigmatizados.
A PERCEPÇÃO DA MUDANÇA

► O processo de expansão de uma inovação se dá com a


quebra progressiva dos estigmas que afetam os usos.
► Exemplo de mudança linguística desencadeada como
diferenciação cultural: o trabalho de William Labov em
Martha's Vineyard (p. 28).
► “A mudança linguística está envolvida por um complexo
jogo de valores sociais que podem bloquear, retardar ou
acelerar sua expansão de uma para outra variedade da
língua” (p. 29).
A PERCEPÇÃO DA MUDANÇA

► O linguista que trabalha com Linguística Histórica deve


cuidar para que:

A). se use uma metodologia que apreenda cientificamente a


relação entre mudança e valorização social da língua;
B). não se transfira juízos de valor próprios para o trabalho;
C). se entenda a língua como uma realidade heterogênea.
A HETEROGENEIDADE LINGUÍSTICA

► Não existe língua homogênea, como nos faz crer os


estudos gramaticais escolares, que cristaliza uma das
variedades e a identifica como a 'melhor', toda e qualquer
língua é um conjunto heterogêneo de variedades.

► Neste sentido, é interessante a noção de plurilinguismo


social, destacada em citação de um trecho de Bakhtin (p. 32).
A HETEROGENEIDADE LINGUÍSTICA

► “Do ponto de vista exclusivamente linguístico (isto é,


estrutural, imanente), as variedades se equivalem e não há
como diferenciá-las em termos de melhor ou pior, de certo ou
errado: todas têm organização (todas têm gramática) e todas
servem para articular a experiência do grupo que a usa” (p.
33) . A diferença entre as variedades está na avaliação social
que se faz do falante, portanto. E é isto que cria as chamadas
normas cultas ou prestigiadas.
O QUE PODE MUDAR NA LÍNGUA?

► Qualquer parte da língua pode mudar:


A. Aspectos da Fonética e/ou da Fonologia;
B. Aspectos da Morfologia;
C. Aspectos da Sintaxe;
D. Aspectos da Semântica;
E. Aspectos do Léxico;
F. Aspectos da Pragmática.

► A língua é um sistema de sistemas: as mudanças, muitas


vezes, afetam mais de um deles.
MUDANÇAS FONÉTICO FONOLÓGICAS

► É o nível mais estudado em Linguística histórica e por isso


tem metodologia e terminologia mais refinada e fixa.

► A mudança fonética é uma alteração de pronúncia de


alguns segmentos em determinados ambientes sem acarretar
alterações nos fonemas: a substituição do /l/ por /w/ no PB.

► A mudança fonológica acarreta alteração nos fonemas: o


surgimento de /ɲ/ e /ʎ/ na passagem do latim ao português.
MUDANÇAS MORFOLÓGICAS

► São mudanças que alteram a estrutura da palavra:

1). Palavras autônomas tornam-se morfemas derivacionais:


placare > sub + placare > supplicare (latim).
2). Sufixos desaparecem e passam a integrar a raiz: artus >
articulus > artelho. (-ulu- indicador de diminutivo).
3). Mudança do sistema flexional: desaparecimento do
sistema da flexão de caso na passagem do latim ao
português.
MUDANÇAS SINTÁTICAS

► São mudanças que afetam a organização da frase:

1). Da ordem flexível para a ordem fixa: Paulum Maria amat


ou Maria Paulum amat > Maria ama Paulo.
2). Da ordem sintética para ordem analítica: Dare lupo
alimentum > dar alimento ao lobo.
2). Gramaticalização: vossa mercê > vosmecê > você > cê.
MUDANÇAS SEMÂNTICAS

► São mudanças que afetam o sentido:

1). Por processos que reduzem o significado de uma palavra:


'Arreio' significava, na Idade Média, qualquer enfeite.
2). Por processos que ampliam o significado: na origem a
palavra 'revolução' era somente um termo da astronomia.

► Um estudo tradicional desta área é a etimologia.


MUDANÇAS PRAGMÁTICAS E LEXICAIS

► As primeiras são mudanças que afetam o uso:

1). O falante modifica a estrutura gramatical a partir de suas


necessidades: Vossa mercê (pronome de tratamento) > Você
(pronome pessoal).

► As segundas são mudanças que afetam o léxico de língua:


empréstimos e neologismos.
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► A mudança é contínua. Todas as línguas mudam e cada


estado dela é sempre resultado de um longo e contínuo
processo histórico.

► O desaparecimento de uma língua só ocorre com o


desaparecimento da sociedade que a usava (aniquilamento
ou assimilação total da sociedade). Há casos, como o do
latim, em que o fluxo histórico não se interrompeu: as línguas
românicas são uma continuidade do latim.
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► A mudança é lenta e gradual. Ela não se dá abruptamente


e nunca ocorre de forma global. Um exemplo da longa cadeia
evolutiva é a passagem de medicina (latim) à mezinha (PE).

► Por isso, “a mudança não é discreta, ou seja, x não é


trocado diretamente e de imediato por y; ao contrário, há
sempre, no processo histórico, períodos de coexistência e
concorrência das formas em variação até a vitória de uma
sobre a outra” (p. 46).
FONTE: http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=mezinha
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► Apesar da mudança ser lenta e gradual, costuma-se


trabalhar com a periodização da história das línguas. Por isso
se fala em 'português arcaico', 'português clássico' e
'português moderno'.

► Estas divisões são cortes arbitrários e se utilizam, em


geral, dos séculos ou dos grandes períodos históricos como
referência. É uma ferramenta auxiliar de análise para a
Linguística Histórica.
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► A mudança é relativamente regular. “Desencadeada a


mudança, há regularidade e generalidade no processo,
atingindo de forma bastante sistemática o mesmo elemento,
dadas as mesmas condições, em todas as suas ocorrências”
(p. 50). O exemplo é a passagem do encontro consonantal /kl/
e /pl/ do latim para /ʎ/ e /ʃ/ em espanhol e português:

clamare – llamar – chamar plenu – lleno – cheio


clave – llave – chave plicare – llegar – chegar
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► A regularidade não pode ser entendida como absoluta. Ela


é, “em geral, relativizada pelo modo não-uniforme como se dá
a difusão de uma mudança, tanto no interior da língua (…)
quanto entre os diversos grupos de falantes (...)” (p. 54). As
“leis fonéticas” não são absolutas e a troca não é direta:

/kl- > ky- > ktš- > tš- > š-/


CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► Múltiplos fatores interferem no processo histórico e geram


fatos que não estão em conformidade com as tendências
regulares da mudança. Há, portanto, dados que fogem à
regularidade esperada:

plaga, pleno, clave, clamar (conservação do /pl/ e /kl/)

praia (de plaga), cravo (de clauum) (substituição por /pr/ e /kr/)
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► Questões que se abrem a partir destas constatações:

1. Encaixamento estrutural e encaixamento social;


2. História interna e história externa da língua;
3. Formas básicas de correlação entre as histórias externa e
interna: aditiva e integrativa;
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► A mudança emerge da heterogeneidade. É preciso integrar


o interno e o externo da língua nos estudos históricos, ou
melhor, “o núcleo do estudo histórico das línguas é o
complexo jogo dialético entre o social e o estrutural” (p. 68).

► Dentro desta perspectiva, é importante a questão dos


contatos entre falantes e línguas. Estudos linguísticos, desde
o início do século XX, já tratam da questão com os conceitos
de substrato, superestrato e adstrato.
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► A partir do entendimento da heterogeneidade linguística,


mais questões se apresentam:

1. Conflitos de concepções de mudança linguística;


2. Motivação da mudança;
3. Causas e condições da mudança;
4. Degeneração e progresso das línguas;
5. Questão da teleologia nas mudanças.
CARACTERÍSTICAS DA MUDANÇA

► Sistematizando:

A. A mudança é contínua.
B. A mudança é lenta e gradual.
C. A mudança é relativamente regular.
D. A mudança é decorrência da heterogeneidade.

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