Thesis Chapters by Flavio R . Benayon
Tese de doutorado, 2022
Protestos, movimentos sociais e greves, ao tensionarem a sociabilidade capitalista, jogam com a p... more Protestos, movimentos sociais e greves, ao tensionarem a sociabilidade capitalista, jogam com a possibilidade de irrupção do alhures, levando o Estado a criminalizá-los. Ancorado na Análise do Discurso Materialista, este trabalho pergunta como o Estado, pelo Direito, significa diferentes movimentos insolentes e seus integrantes ao indiciá-los em processos judiciais. A análise é constituída a partir de recortes extraídos de sentenças judiciais que indiciam integrantes de três movimentos diferentes, realizados na segunda década do século XXI, sendo eles: os protestos de Junho de 2013; a ocupação de uma propriedade improdutiva por ativistas do MST, em 2015; e a greve de policiais e bombeiros militares baianos, em 2012. No Rio de Janeiro, vinte e três manifestantes de Junho de 2013 foram responsabilizados pelo crime de associação criminosa, sendo incriminados por desrespeitarem os poderes constituídos. Em Santa Helena de Goiás, quatro ativistas do MST foram sentenciados à prisão, acusados da prática de organização criminosa. Na Bahia, sete integrantes da greve de bombeiros e policiais militares foram presos, indiciados por cometerem delitos contra a segurança nacional. Nas sentenças judiciais, as práticas dos manifestantes insolentes comparecem em contradição à administração dos sentidos estabilizados que garantem a reprodução dos princípios da democracia-capitalista. Nos processos, a filiação dos tribunais à posição de sujeito incriminador faz com que os movimentos insolentes sejam significados como criminosos e violentos, sem que suas demandas sejam dadas a saber. A partir dessa posição, a insolência é deslegitimada, os princípios da democracia-capitalista são reproduzidos e a possibilidade de irrupção do alhures é interditada. Há a inviabilização da ressignificação dos sentidos de organização, violência, propriedade e hierarquia militar, constitutivos da ordem estabelecida. As reivindicações dos movimentos insolentes não cabem nas urnas nem no jurídico e, por não se encaixarem no estreito espaço representativo do sistema eleitoral e da lei, são significadas como ameaça.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Dissertação de Mestrado, 2017
A partir da Análise do Discurso Materialista, esta dissertação questiona a história institucional... more A partir da Análise do Discurso Materialista, esta dissertação questiona a história institucionalizada sobre a designação "revolução", em 1930, na formação social brasileira.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Papers by Flavio R . Benayon
Discurso e crise societária: buscando sentidos para além do capital, 2023
Marielle Franco. Mulher, negra, moradora da favela da Maré, foi eleita vereadora no Rio de Janeir... more Marielle Franco. Mulher, negra, moradora da favela da Maré, foi eleita vereadora no Rio de Janeiro pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) em 2016, com a quinta maior votação. Relatora da comissão que monitorou a intervenção federal no estado, intervenção essa comandada pelo militar Braga Neto, candidato a vice-presidente de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, Marielle denunciou incisivamente a violência empregada pela polícia nas favelas. Marielle se fez presente em todos os seus gestos e seu assassinato, chorado por muitos e festejado por outros tantos, é um divisor entre a sensibilidade e o descaso social, principalmente no que concerne à população das favelas no Rio de Janeiro. Integrante da Câmara de Vereadores, Marielle se faz presente e materializa, em seu nome e em seu corpo, sentidos que afrontam a manutenção da violência cotidiana vivida nas regiões estigmatizadas do Rio.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Revista Leitura, 2023
Ancorado na Análise do Discurso de vertente materialista, o presente trabalho analisa a insolênci... more Ancorado na Análise do Discurso de vertente materialista, o presente trabalho analisa a insolência inscrita na instalação de um memorial às vítimas de uma operação policial realizada na favela do Jacarezinho. O memorial do Jacarezinho, após uma semana de sua instalação, foi derrubado e reduzido a cacos pela Polícia Civil, que interditou a ameaça posta pela tensão entre os sentidos reproduzidos pela ordem vigente e o não sentido. A insolência, compreendida como a resistência no social, dialoga com o não sentido, o não-realizado, ameaçando a administração dos sentidos existentes. Ao qualificar a política vigente no Estado do Rio de Janeiro como genocida e racista, o memorial explicita a corriqueira violência criminosa do Aparelho Repressor, denuncia a barbárie praticada regularmente pela polícia e tensiona sentidos em contradição à descartabilidade biológica do corpo negro, morador da favela.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Afeto(s) e(m) discurso: movimentos dos sujeitos e dos sentidos na história, 2022
“Nossos mortos têm voz”. É assim que Bruna da Silva, mãe de Marcos Vinícius, jovem de 14 anos as... more “Nossos mortos têm voz”. É assim que Bruna da Silva, mãe de Marcos Vinícius, jovem de 14 anos assassinado pela polícia enquanto ia para a escola, produz sentido a respeito de sua dor transformada em militância. O estranhamento semântico provocado por uma formulação que alinha “estar morto” e “ter voz” fala-nos de uma morte presente, de uma morte ainda sem paz, da impossibilidade e um “silêncio sepulcral”. É preciso falar dos mortos, falar pelos mortos, ser a voz dos mortos. Não se trata de “dar voz” aos mortos, mas ser a voz deles. Os mortos morreram, mas seus nomes ecoam como gritos de guerra: “Marcos Vinícius, presente!”.
Essa voz-presença revive a vida e a morte daqueles que já foram. Ela deixa as feridas abertas. Uma forma de denúncia que funciona “como ferida aberta esperando outros modos de cicatrização e que deixa o sangue fluir por precisão e não porque se gosta da dor” (MODESTO, 2019, p. 143). Ser a voz dos mortos, a presença deles entre nós, mobiliza a dor, o luto, a tristeza, a desesperança e a quebra dos sonhos, mas também, em alguma medida, a felicidade, o soerguimento, a luta. Tudo isso em favor de uma militância que (re)significa o(s) afeto(s) colocando-o(s) na tensão entre o social e o político.
É assim, então, que escolhemos falar do afeto em sua relação com o social. Um afeto contraditoriamente marcado pela dor e pela força, pelo luto e pela luta. Concordando com Frantz Fanon, compreendemos ser possível percorrer pelos sentidos da dor, da miséria, do luto e da luta de modo “táctil e afetivamente” (FANON, 2008, p. 86). Ressaltamos, nesse sentido, os efeitos do político e do social no afeto e na dor-luto-luta (ou na dor-luto-luta como afeto), para marcarmos outra posição diferente daquela para a qual tanto a dor quanto o afeto configurariam como alegorias entre o privilégio e o sentimento de culpa humanista e burguesa.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Práticas contemporâneas em análise do discurso: gestos (d)e leituras, 2021
Em A memória saturada, Régine Robin nos conta: "Retornos, repetições, paródias, imitações, ilusõe... more Em A memória saturada, Régine Robin nos conta: "Retornos, repetições, paródias, imitações, ilusões, em forma de fantasmas e de espectros, há retorno do recalcado no acontecimento (…). Diga-me que cadáveres você escondeu nos baús da história, e eu lhe direi que tipo de acontecimento você deve esperar” (ROBIN, 2016, p. 60). Certamente os baús da história brasileira guardam muitos cadáveres insepultos, que vagam pelo chão de nossa terra lançando murmúrios em busca de escuta, e que, no entanto, os Aparelhos de Estado e também parcela da população fazem questão de não escutar.
A violência da negação de escuta aos sussurros produzidos por nossos cadáveres recorrentemente se materializa na forma de outra violência, constituída pelo Estado como um imaginário do perigo da “ideologia comunista”. Os dizeres contra a esquerda e contra o comunismo, assim como um fantasma que nos assombra, insistem em retornar, em um processo de atualização de uma memória que ocorre em diferentes condições de produção.
Interessa-nos, neste trabalho, analisar a circulação e o funcionamento do retorno do “fantasma do comunismo”, na forma como comparece em decretos-lei e em pronunciamentos políticos produzidos em três diferentes condições de produção: o governo de Getúlio Vargas, especificamente na década de 1930; o início do governo militar do Marechal Castello Branco, isto é, logo após o golpe de 1964; e o início do governo do presidente Jair Bolsonaro, em 2019.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Discurso, cultura e mídia: pesquisas em rede (Vol.4), 2021
Analisamos uma tensão social a partir de um funcionamento que imputamos ser uma prática discursiv... more Analisamos uma tensão social a partir de um funcionamento que imputamos ser uma prática discursiva cínica de um Estado cujas funções necropolíticas trabalham o exercício de matar, deixar viver e expor à morte. Questionamos, a partir de dois materiais, a fala de agentes de segurança do Estado do Rio de Janeiro, ao comentar a morte de Ágatha Félix, uma criança assassinada por um policial militar no Complexo do Alemão, em 2019. O primeiro apresenta o comandante da PMERJ afirmando: “os confrontos ocorrem por opção dos criminosos” e “ocorreu naquele momento [morte de Ágatha] uma fatalidade quase inexplicável”. O segundo traz um comentário do secretário de Polícia Civil: “Casos como esses [de Ágatha] devem ser investigados. [...] Não é verdade que a política de segurança está causando todas essas mortes. Eu afirmo que não tem momento melhor na segurança pública”. O cinismo projetado aí parece pautar posições ideológicas de autonegação, “na medida em que o sujeito não diz outra coisa do que faz, mas, ao contrário, justifica de maneira consistente o que faz” (Nizo, 2019). Afastando-se de um voluntarismo, o cinismo como prática das autoridades citadas parece possibilitar um funcionamento fetichista, onde saber sobre algo que invalide uma crença não a impede de funcionar (Baldini e Nizo, 2015). O saber sobre a morte de Ágatha não impede a manutenção das práticas geradoras de assassinatos nas favelas, como também é colocado como uma atualização necessária de uma memória necropolítica, determinada pelo racismo constitutivo do social.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
III JISE, 2021
A partir da Semântica do Acontecimento, imbricada à Análise de Discurso Materialista, analisamos ... more A partir da Semântica do Acontecimento, imbricada à Análise de Discurso Materialista, analisamos a “Ordem do Dia Alusiva ao 31 de Março de 1964”, publicada em 2019 e em 2020 por determinação do governo presidencial de Jair Bolsonaro. Ambos os textos negam relatos e pesquisas que afirmam a ocorrência de um golpe militar em 1964, seguido de uma ditadura que perdurou por 21 anos durante o regime republicano brasileiro. A legitimação da tomada de poder pelos militares é configurada a partir da invenção de inimigos e ameaças, significados como comunismo, nazifascismo, ideologias totalitárias, extremos do espectro ideológico. A alusão ao golpe como um movimento democrático e popular perpetua o imaginário de proteção da liberdade e da democracia garantida pelos militares, silenciando as mortes e perseguições contra opositores e a censura contra professores, cientistas e jornalistas. A exaltação do Movimento de 1964 como um marco para a democracia brasileira indica que o dizer presidencial se produz a partir da posição do militarismo autoritário e do reacionarismo, que nega o caráter antidemocrático e repressivo da tomada do poder da República em 1964 pelos militares.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Anais do IX SEAD, 2019
A suposta ameaça da tomada de poder pela “extrema-esquerda” e o imaginário da disseminação do “ma... more A suposta ameaça da tomada de poder pela “extrema-esquerda” e o imaginário da disseminação do “marxismo cultural” tem circulado em diferentes momentos da história brasileira, que apresentam tanto dessemelhanças em suas condições históricas de produção, quanto semelhanças. Diante disso, ancorados na Análise do Discurso Materialista, nosso objetivo é analisar os modos de circulação dessa suposta ameaça, a fim de compreender por quais mecanismos linguísticos e discursivos esse alegado perigo comunista é construído e como retorna no fio da história.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Fragmentum, 2019
A partir da análise de vídeos que documentam atuações das Tropas de Nhoque, procuramos compreende... more A partir da análise de vídeos que documentam atuações das Tropas de Nhoque, procuramos compreender o funcionamento da paródia – em particular, frente aos Aparelhos Repressivos de Estado – como mecanismo que possibilita o deslocamento de sentidos. Os grupos denominados Tropas de Nhoque compõem performances cênicas nas quais são utilizados narizes de palhaço, escudos de papelão (com a inscrição NHOQUE) e armas de brinquedo, entre outros artefatos, satirizando as violentas operações dos batalhões de choque das polícias militares em confrontos com manifestantes. Os episódios analisados ocorreram nas ruas do Rio de Janeiro e de Porto Alegre, em julho e setembro de 2013.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Revista Letras, Santa Maria, 2018
Ancorado na Análise de Discurso Materialista, de Michel Pêcheux, proponho trabalhar a desigualdad... more Ancorado na Análise de Discurso Materialista, de Michel Pêcheux, proponho trabalhar a desigualdade constitutiva da relação entre diferentes objetos paradoxais, especificamente na política institucionalizada. Procedo mobilizando a noção de objetos paradoxais desiguais, formulada a partir de meu encontro com determinados objetos. O percurso que seguirei retoma, primeiramente, análises que desenvolvi apontando os sentidos de revolução no fim da Primeira República Brasileira. Em um segundo momento, analiso os sentidos de mudança no segundo turno das eleições de 2014, no Brasil. Em uma terceira parte, aponto possíveis relações entre revolução e mudança na constituição dos objetos paradoxais desiguais.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Anais Enelin 2017, 2018
A partir de uma imbricação entre Análise do Discurso e Semântica do Acontecimento, analisamos a p... more A partir de uma imbricação entre Análise do Discurso e Semântica do Acontecimento, analisamos a produção de uma homogeneização no pronunciamento de 1930 de Getúlio Vargas. Nele, comparece um efeito de unidade entre porta-voz e povo. O imaginário de homogeneidade constitui-se através do nós inclusivo e da não pessoa discursiva, que operam em relação aos sentidos de movimento revolucionário. Esta designação, no entanto, produz derivas para uma relação de divisão entre povo e porta-voz.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Anais SEAD 2017, 2017
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Revista Entremeios, 2015
O trabalho tomou como suporte teórico a Análise do Discurso desenvolvida por Pêcheux e Orlandi, b... more O trabalho tomou como suporte teórico a Análise do Discurso desenvolvida por Pêcheux e Orlandi, buscando analisar, na revista Caros Amigos, as manifestações ocorridas no Brasil a partir de junho de 2013. O aparato teórico incluiu o estudo das denominações, colocando-se como questionamento que memórias se inscrevem nos diferentes dizeres sobre as manifestações; de que lugar(es) se enuncia; e até que ponto diferentes formações discursivas constituem os enunciados.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Anais SEAD 2015, 2015
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Books by Flavio R . Benayon
Discurso, cultura e mídia: pesquisas em rede (Volume 3), 2019
O presente trabalho empreende uma leitura sobre diferentes máscaras que circularam em corpos de m... more O presente trabalho empreende uma leitura sobre diferentes máscaras que circularam em corpos de manifestantes no acontecimento histórico de Junho de 2013. Colocamos em questão o processo de produção de sentidos sobre as máscaras de Guy Fawkes (do filme V de Vingança) e a de palhaço, considerando o modo como diferentes imagens circularam na mídia hegemônica. Dessemelhanças constituíram os sentidos produzidos por esses objetos, como a relação com o anonimato, entretanto a atualização da memória da insurgência configurou-se como um funcionamento regular e produtivo, marcando, por vezes, a radicalidade da dissimetria entre o Aparelho Repressivo de Estado e os manifestantes. O insuportável da insurgência impôs uma proibição jurídica à máscara de V de Vingança, e não à de palhaço, produzindo questões quanto à desigualdade na circulação de sentidos.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
O discurso nas fronteiras do social: uma homenagem à Suzy Lagazzi (Volume 1), 2019
A partir de um trajeto de leitura por juristas e analistas do discurso materialistas, o autor pro... more A partir de um trajeto de leitura por juristas e analistas do discurso materialistas, o autor propõe analisar uma sentença que condenou vinte e três manifestantes, dos protestos de 2013, à prisão. Ao questionar sobre os sentidos produzidos pela peça jurídica, o autor afirma: “o corpo dos movimentos de massa, por não ser nem universal nem individual, sofre uma ressignificação a partir da leitura jurídica”. O aspecto técnico e o imaginário universal e neutro da forma jurídica produzem a individualização dos manifestantes para os criminalizar melhor, ao mesmo tempo que apaga a historicidade e as demandas dos protestos.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Ancorados na Análise do Discurso de filiação francesa, constituída por Michel Pêcheux, analisamos... more Ancorados na Análise do Discurso de filiação francesa, constituída por Michel Pêcheux, analisamos a produção de imaginários de homogeneidade nos pronunciamentos de posse de Getúlio Vargas, João Goulart e Humberto Castello Branco. Neles, comparece um efeito de unidade na designação de povo, produzindo sentidos na relação com os diferentes chefes de Estado e seus modos de governança. O imaginário de homogeneidade constitui-se através de diferentes processos discursivos, que operam em relação aos sentidos de povo, movimento revolucionário, vontade popular e Forças Armadas. Estas designações, no entanto, produzem também derivas que apontam para os sentidos de uma relação de divisão e litígio entre povo e governo.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Talks by Flavio R . Benayon
I Jornada de Análise do Discurso da UFRRJ: Sujeito e Ideologia, 2019
O presente minicurso propõe realizar uma leitura sobre as bases da teoria materialista do discurs... more O presente minicurso propõe realizar uma leitura sobre as bases da teoria materialista do discurso para, em momento posterior, estudar uma das principais reconfigurações propostas por Michel Pêcheux. Em um primeiro momento de nosso trajeto, leremos "Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado", de Louis Althusser, atentando para a noção de ideologia. Em uma segunda parte, visitaremos "Semântica e discurso", de Pêcheux, objetivando definir as noções de identificação, contraidentificação e desidentificação – para isso, devemos compreender, minimamente, a relação guardada entre ideologia e discurso. No terceiro momento, parte final de nosso trajeto, leremos o famoso "Anexo 3", conhecido também como "Só há causa daquilo que falha", atentando para as retificações propostas pelo autor, sobretudo, ao retornar à noção de desidentificação para a desmontar, mostrando como sobre ela comparece um grave problema.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Livros by Flavio R . Benayon
O discurso nas fronteiras do social, organizado em dois volumes, constitui uma homenagem a Suzy L... more O discurso nas fronteiras do social, organizado em dois volumes, constitui uma homenagem a Suzy Lagazzi.Ambos os livros reúnem capítulos sobre o cotidiano e o juridismo, entremeado ao político; as formas de resistência simbólica para o sujeito; e o trabalho com diferentes materialidades significantes imbricadas. As variadas leituras presentes nos volumes percorrem campos profundamente explorados por Suzy, tornando-a figura eminente na Análise de Discurso de visada materialista. Os textos presentes nos volumes proporcionam um indício dos desdobramentos da corajosa empreitada traçada pela autora.
Bookmarks Related papers MentionsView impact
Uploads
Thesis Chapters by Flavio R . Benayon
Papers by Flavio R . Benayon
Essa voz-presença revive a vida e a morte daqueles que já foram. Ela deixa as feridas abertas. Uma forma de denúncia que funciona “como ferida aberta esperando outros modos de cicatrização e que deixa o sangue fluir por precisão e não porque se gosta da dor” (MODESTO, 2019, p. 143). Ser a voz dos mortos, a presença deles entre nós, mobiliza a dor, o luto, a tristeza, a desesperança e a quebra dos sonhos, mas também, em alguma medida, a felicidade, o soerguimento, a luta. Tudo isso em favor de uma militância que (re)significa o(s) afeto(s) colocando-o(s) na tensão entre o social e o político.
É assim, então, que escolhemos falar do afeto em sua relação com o social. Um afeto contraditoriamente marcado pela dor e pela força, pelo luto e pela luta. Concordando com Frantz Fanon, compreendemos ser possível percorrer pelos sentidos da dor, da miséria, do luto e da luta de modo “táctil e afetivamente” (FANON, 2008, p. 86). Ressaltamos, nesse sentido, os efeitos do político e do social no afeto e na dor-luto-luta (ou na dor-luto-luta como afeto), para marcarmos outra posição diferente daquela para a qual tanto a dor quanto o afeto configurariam como alegorias entre o privilégio e o sentimento de culpa humanista e burguesa.
A violência da negação de escuta aos sussurros produzidos por nossos cadáveres recorrentemente se materializa na forma de outra violência, constituída pelo Estado como um imaginário do perigo da “ideologia comunista”. Os dizeres contra a esquerda e contra o comunismo, assim como um fantasma que nos assombra, insistem em retornar, em um processo de atualização de uma memória que ocorre em diferentes condições de produção.
Interessa-nos, neste trabalho, analisar a circulação e o funcionamento do retorno do “fantasma do comunismo”, na forma como comparece em decretos-lei e em pronunciamentos políticos produzidos em três diferentes condições de produção: o governo de Getúlio Vargas, especificamente na década de 1930; o início do governo militar do Marechal Castello Branco, isto é, logo após o golpe de 1964; e o início do governo do presidente Jair Bolsonaro, em 2019.
Books by Flavio R . Benayon
Talks by Flavio R . Benayon
Livros by Flavio R . Benayon
Essa voz-presença revive a vida e a morte daqueles que já foram. Ela deixa as feridas abertas. Uma forma de denúncia que funciona “como ferida aberta esperando outros modos de cicatrização e que deixa o sangue fluir por precisão e não porque se gosta da dor” (MODESTO, 2019, p. 143). Ser a voz dos mortos, a presença deles entre nós, mobiliza a dor, o luto, a tristeza, a desesperança e a quebra dos sonhos, mas também, em alguma medida, a felicidade, o soerguimento, a luta. Tudo isso em favor de uma militância que (re)significa o(s) afeto(s) colocando-o(s) na tensão entre o social e o político.
É assim, então, que escolhemos falar do afeto em sua relação com o social. Um afeto contraditoriamente marcado pela dor e pela força, pelo luto e pela luta. Concordando com Frantz Fanon, compreendemos ser possível percorrer pelos sentidos da dor, da miséria, do luto e da luta de modo “táctil e afetivamente” (FANON, 2008, p. 86). Ressaltamos, nesse sentido, os efeitos do político e do social no afeto e na dor-luto-luta (ou na dor-luto-luta como afeto), para marcarmos outra posição diferente daquela para a qual tanto a dor quanto o afeto configurariam como alegorias entre o privilégio e o sentimento de culpa humanista e burguesa.
A violência da negação de escuta aos sussurros produzidos por nossos cadáveres recorrentemente se materializa na forma de outra violência, constituída pelo Estado como um imaginário do perigo da “ideologia comunista”. Os dizeres contra a esquerda e contra o comunismo, assim como um fantasma que nos assombra, insistem em retornar, em um processo de atualização de uma memória que ocorre em diferentes condições de produção.
Interessa-nos, neste trabalho, analisar a circulação e o funcionamento do retorno do “fantasma do comunismo”, na forma como comparece em decretos-lei e em pronunciamentos políticos produzidos em três diferentes condições de produção: o governo de Getúlio Vargas, especificamente na década de 1930; o início do governo militar do Marechal Castello Branco, isto é, logo após o golpe de 1964; e o início do governo do presidente Jair Bolsonaro, em 2019.