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2016, Estudos Lusófonos: múltiplos olhares. Coleção Lusofonia - Vol. III
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As conceptualizações tornam-se, muitas vezes, problemáticas. Não obstante existirem inúmeras publicações que tentam descodificar conceitos – desde os dicionários ditos ‘convencionais’, dedicados à língua e à correspondência interpretativa de cada palavra, aos que fazem a sua correspondência ao significado numa língua estrangeira -, a não satisfação com uma delimitação explicativa, faz com que se enverede por caminhos em que os termos se tornam polissémicos (fazendo toda a diferença o contexto em que são aplicados), ou declinados no plural, como que a sublinhar um potencial interpretativo que vai para além do que está ‘convencionado’ na dicionarização. Já Umberto Eco (1983) chamou a atenção para o facto de os dicionários e as enciclopédias não coincidirem com as noções teóricas enquanto categorias de uma semiótica geral, observando que muitos dicionários contêm informação correspondente a uma enciclopédica e muitas enciclopédias contém informação que mais parece pertencer a um qualquer dicionário. Não obstante, a dicionarização muitas vezes seja parca nas propostas interpretativas que fornece, deixando de fora palavras que circulam na linguagem corrente, situação que pode ser explicada ou por opção ideológica, ou por mero critério linguístico. Ainda muito antes de Umberto Eco, Almeida Garrett nas suas “Viagens na Minha Terra”, mostrava-se cético no que respeita à relação existente entre as palavras e as coisas, ao pretender “afectar nas palavras a exactidão, a lógica, a rectidão, que há nas coisas”, no que sublinhava ser “a maior e mais perniciosa de todas as incoerências” (Garrett, 1972 [1846]: 171). E, mesmo que o filósofo Ludwig Wittgenstein (1958) sublinhe que o sentido que se dá às palavras seja o seu uso, torna-se necessário uma contextualização para evitar eventuais equívocos, como são os casos da ‘portugalidade’ e da lusofonia. O primeiro, não tipificado pelos dicionários de referência e, o segundo, com múltiplos sentidos interpretativos. Afinal, se os conceitos servem para propor interpretações, o facto de serem constantemente postos em causa pode ter em vista um ajuste à visão de quem tem explicações diferentes das que são propostas pelos manuais. É perante este quadro que vou abordar a ‘lusofonia. E, quando a ela me refiro, vem de imediato ao de cima toda a parafernália descrita no parágrafo anterior. Mesmo que se afirme que já tudo foi escrito sobre ela, faltando apenas colocá-la em prática como refere Miguel Real (2012), o termo – e tudo o que lhe está associado -, está longe de ser consensual. Desde logo por remeter etimologicamente para uma centralidade portuguesa, sendo que a palavra foi forjada a partir da francofonia . Dessa forma, teria ficado de fora um eventual recorte ideológico como possibilidade interpretativa da palavra, mesmo que, no caso português, a descolonização só tenha sido completada em 1975. Mas, na prática, nada dessa lógica aparentemente ‘pueril’ corresponde à verdade uma vez que as clivagens em torno do assunto são grandes e decorrem do período pós-revolução do 25 de abril e, consequentemente, reportam-se ao período pós-colonial português.
Comunicação e Cultura, 2012
A nossa proposta vai no sentido de se saber até que ponto a marca da ‘portugalidade’, profusamente difundida em pleno Estado Novo, sublinhando alegadas características adstritas ao povo português, numa relação apologética ao regime em vigor e que serviu, de resto, de bandeira à Exposição do Mundo Português (1940), ‘afectou’, por via da propaganda e da ideia de ‘império ultramarino’ - que constituiu um dos pilares e dos mitos do regime de Salazar (Rosas, 2001) -, as dinâmicas relacionais com os povos das ex-colónias portuguesas, plasmadas na ideia de lusofonia. É nesse quadro que surge o título do presente projecto: “Da ‘portugalidade’ à lusofonia”. Pretendemos congregar pistas para responder à pergunta “De que falamos, quando falamos de lusofonia?”. Será de uma extensão de uma alegada ‘portugalidade’? Ou de um espaço ligado, apenas (ou eventualmente), através de uma língua comum? Em contexto pós-colonial, que debate sobre o ‘outro’ é possível fazer-se? Palavras-chave: ‘Portugalidade’; lusofonia; Estado Novo; globalização; multiculturalismo
Cultura e Sociedade, 2020
As conceptualizações tornam-se, muitas vezes, problemáticas. Não obstante existirem inúmeras publicações que tentam descodificar conceitos – desde os dicionários ditos “convencionais”, dedicados à língua e à correspondência interpretativa de cada palavra, aos que fazem a sua correspondência ao significado numa língua estrangeira -, a não satisfação com uma delimitação explicativa, faz com que se enverede por caminhos em que os termos se tornam polissémicos (fazendo toda a diferença o contexto em que são aplicados), ou declinados no plural, como que a sublinhar um potencial interpretativo que vai para além do que está ‘convencionado’ na dicionarização. Já Umberto Eco (1983) chamou a atenção para o facto de os dicionários e as enciclopédias não coincidirem com as noções teóricas enquanto categorias de uma semiótica geral, observando que muitos dicionários contêm informação correspondente a uma enciclopédica e muitas enciclopédias contêm informação que mais parece pertencer a um qualquer dicionário. Não obstante a dicionarização muitas vezes seja parca nas propostas interpretativas que fornece, deixando de fora palavras que circulam na linguagem corrente, situação que pode ser explicada ou por opção ideológica, ou por mero critério linguístico. Ainda muito antes de Umberto Eco, Almeida Garrett nas suas “Viagens na Minha Terra”, mostrava-se cético no que respeita à relação existente entre as palavras e as coisas, ao pretender “afectar nas palavras a exactidão, a lógica, a rectidão, que há nas coisas”, no que sublinhava ser “a maior e mais perniciosa de todas as incoerências” (Garrett, 1972 [1846], p. 171). E, mesmo que o filósofo Ludwig Wittgenstein (1958) sublinhe que o sentido que se dá às palavras seja o seu uso, torna-se necessário uma contextualização para evitar eventuais equívocos, como são os casos da ‘portugalidade’ e da lusofonia. O primeiro caso, não é tipificado pelos dicionários de referência e, o segundo, integra múltiplos sentidos interpretativos. Afinal, se os conceitos servem para propor interpretações, o facto de serem constantemente postos em causa pode ter em vista um ajuste à visão de quem tem explicações diferentes das que são propostas pelos manuais. É perante este quadro que vou abordar a “lusofonia”. E, quando a ela me refiro, vem de imediato ao de cima toda a parafernália descrita no parágrafo anterior. Mesmo que se afirme que já tudo foi escrito sobre ela, faltando apenas colocá-la em prática como refere Miguel Real (2012), o termo – e tudo o que lhe está associado -, está longe de ser consensual. Desde logo por remeter etimologicamente para uma centralidade portuguesa, sendo que a palavra foi forjada a partir da francofonia1. Dessa forma, teria ficado de fora um eventual recorte ideológico como possibilidade interpretativa da palavra, mesmo que, no caso português, a descolonização só tenha sido completada em 1975. Mas, na prática, nada dessa lógica aparentemente “pueril” corresponde à verdade uma vez que as clivagens em torno do assunto são grandes e decorrem do período pós-revolução do 25 de abril e, consequentemente, reportam-se ao período pós-colonial português.
O debate sobre o termo “lusofonia” enferma frequentemente de confusões conceptuais, particularmente no que aos conceitos de língua e cultura diz respeito. Neste ensaio pretende-se fazer uma análise desapaixonada desses conceitos procurando abrir caminho para soluções pragmáticas e sensatas.
Tese de Doutoramento em Ciências da Comunicação (Comunicação Intercultural), 2015
A presente investigação pretende observar de que modo a 'portugalidade' - termo cunhado durante o Estado Novo assente num imaginário colonial centrado em Portugal, num patamar supostamente superior às suas ex-colónias - pontua a construção de um conceito pós-colonial, o da lusofonia. Na sequência da revolução do 25 de abril e em resultado do corte ideológico com o regime deposto, este conceito, após um hiato, é no entanto reintroduzido, seja através da classe política, dos profissionais de marketing ou de branding, ou pela via de situações aleatórias. O certo é que a palavra está ausente dos dicionários de referência portugueses, bem como das enciclopédias. As tentativas de fixar o significado da palavra vão sendo desenvolvidas pelos dicionários mais comuns, muito embora o façam com um ângulo de tal modo aberto que, mais do que tipificá-lo, alimentam os equívocos que lhe estão subjacentes. Defende-se, por isso, que a palavra ‘portugalidade’ seja tipificada, contextualizando-a. O conceito ‘portugalidade’ decorre de uma lógica estado-novista para que as ex-colónias fossem vistas pela ONU não como territórios autónomos, mas como parte integrante do território português (províncias ultramarinas), corroborado pelo discurso parlamentar da Assembleia Nacional, a partir de 1951 (data da revogação do Ato Colonial), pela introdução da palavra nos discursos dos deputados. Toda essa estratégia ia no sentido de combater os movimentos independentistas que emergiam nas antigas colónias, defendendo a pertença desses territórios a Portugal, por via do seu ‘destino histórico’. Esse facto seria sublinhado no discurso político da ‘portugalidade’, com a assunção de Portugal, como um país uno e indivisível: “Portugal do Minho a Timor”. Tendo-se desmoronado a maior parte dos impérios com o fim da II Guerra Mundial, no caso português o assumido ‘império’ prolongar-se-ia por mais três décadas. De que forma é que toda essa dinâmica se refletiu na lusofonia? É possível encarar a lusofonia centrada em Portugal, como produto da ‘portugalidade’? Faz sentido essa perspetiva quando a globalização esbateu as fronteiras e diluiu as singularidades identitárias, permitindo que se perspetivassem relações multiculturais e/ou interculturais? Em resultado desta investigação pode concluir-se que, sendo a lusofonia uma construção de difícil concretização, um processo prenhe de clivagens entre os países integrantes da CPLP (o que se pode constatar através da observação do seu histórico relacional), ela pode desembocar numa utopia, caso não se desfaçam os equívocos em que navega: as narrativas do antigo Império e a sua associação a uma centralidade portuguesa, o luso-tropicalismo associado à ideia de colonização doce e a sua rejeição por parte de quem está ressentido com a colonização dos portugueses, os ‘outros’ das ex-colónias (Martins, 2014). Desta forma, não poderá existir lusofonia com ‘portugalidade’, sendo mesmo um contrassenso avançar com tal associação. Mesmo que os políticos a ela ligados insistam em adiá-la, a lusofonia deve ser feita por quem a encara com uma dinâmica cosmopolita resultante da globalização, de forma a permitir combater um dos outputs dessa mesma globalização: a homogeneização cultural. Para concretizar esse desiderato, é necessário que quem pretenda colocá-la em prática, esteja mentalmente ‘descolonizado’ para que os equívocos que lhe estão associados possam desaparecer. A lusofonia deverá ser construída, assim, diariamente. This research aims to observe how the 'Portugalidade' - a term coined during the ‘Estado Novo’ a result of a colonial imaginary centered in Portugal, in a supposedly superior level to its former colonies - punctuates the construction of a post-colonial concept, the concept of Lusophony. After the revolution of April 25 (‘The Carnation Revolution’) and as a result of an ideological break from the previous regime, this concept has been however reintroduced, either through the political class, through marketing or branding professionals, or by means of random situations. The truth is that the word is absent from most Portuguese reference dictionaries, and encyclopedias. Attempts to determine the meaning of the word are being developed by the most common dictionaries, although they do so in such an open way that rather, more than typifying it, they feed the misconceptions underlying it. It is argued, therefore, that the word 'Portugalidade' should be exemplified, by contextualization. The concept 'Portugalidade' results from the objective of the ‘Estado-Novo’, to let its former colonies be recognized by the United Nations not as non-autonomous territories, but as part of the Portuguese territory (overseas provinces). This concept was reinforced by the parliamentary political speeches of the National Assembly members, from 1951, abolition date of the ‘Ato Colonial’ (Colonial Act). All this strategy aimed to combat the independence movements that emerged in the former colonies, defending that these territories belonged to Portugal, via its 'historical destiny'. This fact was underlined in the political discourse of 'Portugalidade', with the assumption of Portugal, as a unified country: “Portugal from "Minho to Timor”. With the end of World War II, most of the empires collapsed whereas in the Portuguese case the assumed 'empire' would extend for over three decades. How was all this dynamic reflected in the Portuguese-speaking world? Can Lusophony be centered in Portugal, as a product of the 'Portugalidade'? Does this perspective make sense when globalization has brought down the boundaries and diluted the singular identities, allowing you to envisage relations based on multiculturalism and interculturalism? As a result of this investigation it can be inferred that the Lusophony is a difficult construction to achieve in a process full of dividing lines among the member countries of the CPLP (which can be seen by observing their relational history) and that it can develop into an utopia if the misconceptions which surround it are not solved: the narratives of its ancient empire, its association with a Portuguese centrality, the Luso-tropicalism and sweet colonization idea and its rejection by those who are resentful of the colonization of the Portuguese, the 'other' from former colonies (Martins, 2014). Therefore, Lusophony cannot coexist with 'Portugalidade', and it is even an absurdity to move forward with such an association. Even if politicians insist on postponing it, Lusosphony should be made by those who look at it from a cosmopolitan perspective resulting from globalization, in order to combat one of the outputs of globalization: cultural homogenization. In order to achieve this aim, those who want to put it into practice, should be mentally 'decolonized' so that the misunderstandings associated to it, could disappear. The Lusophony should be built, ‘so-to-speak’ on a daily basis.
A empresa, de séculos atrás, que Portugal conduziu com os descobrimentos e o "achamento", na expressão de Gilberto Freyre, de territórios fora do continente europeu permitiu-nos alcançar o presente século com uma comunidade alargada de povos e países com ligações seculares a Portugal e aos portugueses.
2017
Financiado pelo COMPETE: POCI-01-0145-FEDER-007560 e FCT – Fundacao para a Ciencia e Tecnologia, no âmbito do projeto: UID/CCI/00736/2013
Configurações, 2013
O difícil percurso da lusofonia pelos trilhos da"portugalidade' Vitor de Sousa' I Resumo: Com este artigo, pretendemos observar de que modo a 'portugalidade' termo cunhado durante o Estado Novopontua a construção da lusofonia, que é um conceito pós-colonial. Não obstante afirmar-se que apenas falta colocá-lo em prática, o conceito de lusofonia não é consensual, subsistindo vários equívocos interpretativos. Ou se olha para ele a partir de uma centralidade portuguesa, reconstruindo as narrativas do antigo império, pela via d o luso-tropicalismo ou ainda numa lógica de história do ressentimento. Ainda que, de forma residual, o discurso político português faça a ligação entre 'portugalidade' e lusofonia, concluímos que ambos os conceitos, quando associados, são incompatíveis, já que remetem sempre para uma centralidade portuguesa, o que não é compaginável com uma lógica pós-colonial, de interculturalidade. Palavras-chave: lusofonia, império, descolonização, 'portugalidade'. introdução Falar de lusofonia' implica abrir o significado da palavra, levando-o para além do seu sentido estrito. Trata-se, no entanto, de um exercício que denota, desde logo, uma incapacidade: a de sintetizar numa palavra apenas uma ideia que aglutine um pensamento e o representeo que pode ser visto também como ' CECS-Centro de Estudos de Comunica~ão e Sociedade, Univeriidade do Minho Ivitorderouna@gmail com). ' A lusofonia é, normalmente, traduzida pelos dicionários como a conjunto de identidades culturais existentes em paiser, regiões, Estados ou cidades falante? da língua portuguesa, como ráo or
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Éditions La Dondaine, Medium.com, 2024
Revue d'éthique et de théologie morale, 2007
LL14 Workshop: Landscapes of Utopia and Dystopia , 2022
European Modern Studies Journal , 2024
International Braz J Urol, 2014
Eskişehir Osmangazi Üniversitesi, 2019
CAPIC REVIEW
Εν Χανίοις, 2020
PROKONS Jurusan Teknik Sipil
arXiv (Cornell University), 1998
Nephrology Dialysis Transplantation, 2016
International Journal of Language & Linguistics, 2020
Jurnal agrotek tropika, 2016
IQRA`: Jurnal Ilmu Perpustakaan dan Informasi (e-Journal), 2018