Videos by Vitor de Sousa
O Dever de Memória, título que Primo Levi (2011) deu a um dos seus livros, consubstancia toda a ... more O Dever de Memória, título que Primo Levi (2011) deu a um dos seus livros, consubstancia toda a lógica que está subjacente à restituição cultural, num processo que
está em marcha, tendente a promover a reparação dos danos provocados pelo colonialismo. Muito embora a reparação nunca seja completamente concretizada, a atitude
que lhe está subjacente pode atenuar ressentimentos, num sinal assente na diversidade e não, como quase sempre aconteceu, numa lógica unilateral, decorrente de um olhar
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Entrevista no quadro do II Edição das Jornadas do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Po... more Entrevista no quadro do II Edição das Jornadas do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. 2 views
Lançamento do livro “Da ‘Portugalidade’ à Lusofonia”. Entrevista com Vítor de Sousa
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Conferência para assinalar o Dia Mundial da Língua Portuguesa (5 de maio de 2022), no quadro de ... more Conferência para assinalar o Dia Mundial da Língua Portuguesa (5 de maio de 2022), no quadro de um convite do Camões IP, Centro de Língua Portuguesa, Beira-Moçambique/Universidade do Licungo. 1 views
Falou sobre o impacto da Covid-19 na investigação nas universidades, das identidades culturais, d... more Falou sobre o impacto da Covid-19 na investigação nas universidades, das identidades culturais, das lusofonias, da colonização/descolonização e dos desafios do jornalismo. Awards by Vitor de Sousa
My investigation is about identity and what is adjacent to it. Which leads us to the 'portugality... more My investigation is about identity and what is adjacent to it. Which leads us to the 'portugality' and the naturalizing dynamics of the term. A dated term - which is inscribed in the Estado Novo portuguese period, between the 50s and 60s of the 20th century -, but which, in recent times, has been somewhat revived, even though it does not appear in the reference dictionaries and, in the 'mainstream', it is synonymous, for example, with 'truly sense of what is Portuguese'. And what is this truly Portuguese, I ask? This was, moreover, one of the reasons that led me to investigate 'portugality'. Now, nothing happens from this moment on. There is a memory that needs to be preserved and contextualized, namely the terms that are used, so that they can be rehabilitated in context and not be naturalized without further ado. The concept of 'portugality' derives, therefore, from a state-novist logic for the former colonies to be seen by the UN not as autonomous territories, but as an integral part of Portuguese territory (ie: as overseas provinces), which was corroborated by the parliamentary speech of the National Assembly, from 1951 (date of the revocation of the Colonial Act). This whole strategy was aimed at combating the independence movements that emerged in the former colonies, defending the belonging of these territories to Portugal, through their 'historic destiny'. This fact would be underlined in the political discourse of 'portugality', with the assumption of Portugal, as a single and indivisible country: "Portugal from Minho to Timor". Therefore, I consider that integrating 'Portugality' in Lusophony is an absurdity, since it refers to a Portuguese centrality in an immaterial cultural space integrated by other countries with their own legal status, which were once Portuguese colonies, but which are now independent. Nevertheless, the whole dynamics of Lusophony comes up against a series of mistakes that have to be undone, which prevent its development. And, in this specific case, the political plan does little to achieve this goal, namely due to the Portuguese-Tropicalist logic that is still hovering. This is an important prize for me, because it has an international spectrum and because it reiterates the work that I developed over several years on 'Portugality', in a real obsession. It is an incentive for the area of Social and Human Sciences, highlighting the need to promote critical thinking and deconstruction, at a time when society favors consensus. And for Lusophony itself, which, in this way, reaches a level of attention rarely observed.
A minha investigação fala de identidade e do que lhe está adjacente. O que nos leva à 'portugalidade' e à dinâmica naturalizadora do termo. Um termo datado-que se inscreve no período do Estado Novo, entre as décadas de 50 e 60 do século XX-, mas que, nos últimos tempos, tem sido de certa forma, ressuscitado, mesmo que não conste dos dicionários de referência e, nos 'mainstream', seja sinónimo, por exemplo, de 'sentido verdadeiramente do que é português'. E o que será isso de verdadeiramente português, pergunto eu? Essa foi, de resto, uma das razões que me levou a investigar a 'portugalidade'. Ora, nada acontece a partir deste momento. Existe uma memória que é necessário preservar e contextualizar, nomeadamente os termos que se utilizam, para que estes sejam reabilitados em contexto e se não naturalizem sem mais. O conceito 'portugalidade' decorre, assim, de uma lógica estado-novista para que as ex-colónias fossem vistas pela ONU não como territórios autónomos, mas como parte integrante do território português (ou seja: como províncias ultramarinas), o que foi corroborado pelo discurso parlamentar da Assembleia Nacional, a partir de 1951 (data da revogação do Ato Colonial). Toda essa estratégia ia no sentido de combater os movimentos independentistas que emergiam nas antigas colónias, defendendo a pertença desses territórios a Portugal, por via do seu 'destino histórico'. Esse facto seria sublinhado no discurso político da 'portugalidade', com a assunção de Portugal, como um país uno e indivisível: " Portugal do Minho a Timor ". Considero, por isso, que integrar a 'portugalidade' na lusofonia, é um contrassenso, já que remete para uma centralidade portuguesa num espaço cultural imaterial integrado por outros países com estatuto jurídico próprio, que antes foram colónias portuguesas, mas que hoje são independentes. Não obstante, toda a dinâmica da lusofonia esbarra numa série de equívocos que têm que ser desfeitos, que impedem o seu desenvolvimento. E, neste caso concreto, o plano político ajuda pouco à concretização desse desiderato, nomeadamente pela lógica luso tropicalista que ainda vai pairando. Este é um prémio importante para mim, porque tem um espectro internacional e porque reitera o trabalho que desenvolvi ao longo de vários anos sobre a 'portugalidade', numa verdadeira obsessão. É um incentivo para a área das Ciências Sociais e Humanas, evidenciando a necessidade de promover o espírito crítico e a desconstrução, numa altura em que a sociedade privilegia os consensos. E para a própria lusofonia que, desta forma, atinge um patamar de atenção raramente observado.
Articles in scientific journals by Vitor de Sousa
EIA - Revista de Estudos Ibero-americanos
A lusofonia é um conceito pós-colonial, não podendo ser encarado em associação com qualquer tipo ... more A lusofonia é um conceito pós-colonial, não podendo ser encarado em associação com qualquer tipo de ‘portugalidade’, termo cunhado durante o Estado Novo e alinhado com o slogan “Portugal do Minho a Timor”, então vigente. A lusofonia ficaria, desde logo, amputada se correspondesse apenas aos falantes de português espalhados pelo mundo e não consubstanciasse um lugar simbólico e cultural, extravasando essa correspondência semântica de proximidade que lhe esteve na origem, num mundo cada vez mais globalizado, que se inscreve no presente. Desvia-se, assim, da ideia da existência de uma língua única e de um ideário sem os quais não haveria promessa de continuidade entre Portugal e as suas então províncias ultramarinas. Por não se tratar de um assunto encerrado, o passado colonial pode revelar-se problemático. O conceito de lusofonia encerra, assim, algumas clivagens, não tendo sido por acaso que o acordo de formalização da CPLP (1996) tenha deixado de fora a palavra, não devido a uma mera coincidência, mas por remeter etimologicamente para uma centralidade portuguesa. E, mesmo que se afirme que já tudo foi escrito sobre a lusofonia, faltando apenas colocá-la em prática, ela não é consensual, havendo vários equívocos que têm que ser dirimidos para que se assuma na sua dinâmica pós-colonial. Este artigo propõe observar o percurso da lusofonia através da publicação de notícias nos média online lusófonos, que permita vislumbrar o alinhamento do que vai sendo publicado em relação com as políticas desenvolvidas por alguns países membros da CPLP, principalmente em Angola. Como metodologia, foi utilizada uma amostragem não probabilística, tendo o processo sido desenvolvido por acessibilidade ou conveniência. A recolha de dados foi feita através de documentação indireta, em que na pesquisa se utilizaram as notícias dos média lusófonos que estavam disponíveis online.
Journal of Iberian and Latin American Research, Jun 8, 2024
The vast majority of national ethnology museums, specifically in Europe, narrate the exploits of ... more The vast majority of national ethnology museums, specifically in Europe, narrate the exploits of the West, pointing to the dynamics of the former colonized, whose role is consigned to the other side of the process. The colonial past still weighs heavily today, reinforcing a one-sided view of a narrative that is diverse. It is easy to conclude that what exists in museums can be said differently, contributing to interculturality. This is a decolonial/post-colonial dynamic, which allows for the decolonization of knowledge and in which the contribution of curatorial artivism can play an important role which, although subversive, can draw attention to the necessary diversity. In this article we present the intervention carried out at the Royal Museum of Africa (Belgium), as well as Dan Hicks’s perspective on what he calls brutal museums, which continue to display the bronzes from Benin.
RCH.-Revista de Ciências Humanas, Feb 16, 2024
O desenvolvimento de uma metodologia, no quadro de uma investigação científica, pressupõe um bom ... more O desenvolvimento de uma metodologia, no quadro de uma investigação científica, pressupõe um bom conhecimento do campo onde ela é desenvolvida. No caso particular das Ciências Sociais e Humanas (CSH), em que se situa a nossa proposta, não é muito frequente a utilização de uma única metodologia, mas de metodologias compósitas. O que resulta da necessidade que se afigura, em cada momento, ao investigador, face aos problemas que vai enfrentando. Em problemáticas complexas e datadas-em que o rasto digital é escasso, pelo que é necessário consultar fontes primárias-, a hermenêutica interpretativa revela-se uma boa proposta a seguir. Pressupõe leituras exaustivas e comparações e desenvolvimento de eventuais novas teorias delas resultantes, para alem de convocar outro tipo de interpretações do mundo, com ajuda, por exemplo, da análise de conteúdo e de outras ferramentas. O pós-colonialismo, apesar de ter as suas debilidades, constituiu um momento para pulverizar categorias anteriormente consideradas canónicas e, por conseguinte, pouco questionáveis. A descolonização do conhecimento permitiu dar passos em frente, apesar de desestabilizar o mundo social. Que, não sendo reificado, não poderá gerar ele-próprio conhecimento reificado, mas dinâmico. Neste artigo, apresentamos a 'portugalidade' como caso prático de uma investigação assente, fundamentalmente, na hermenêutica.
revista ph, Feb 2024
Descolonizar el museo y resignificar los monumentos: la escena del crimen coordina Marisa Gonzále... more Descolonizar el museo y resignificar los monumentos: la escena del crimen coordina Marisa González de Oleaga 76 _a debate Descolonizar el museo y resignificar los monumentos: la escena del crimen
PHILOROSAE – Revista de Filosofia e Cultura, Jan 8, 2024
With this article we intend to focus on the concept of Lusophony
and the cleavages it contains. D... more With this article we intend to focus on the concept of Lusophony
and the cleavages it contains. Despite claiming that everything has already
been said or written about Lusophony, the term is far from being consensual.
Only by overcoming the misconceptions in which it navigates will it be
possible to take consistent steps towards building a Lusophony that favours interculturality. It is urgent, therefore, to re-imagine Lusophony, decolonizing the minds of its protagonists, in a logic of transculturality and transnationality.Keywords: Lusophonies; Empire; Decolonization; Portugality; Cross-cultural identities.
Estudos em Comunicação/Communication Studies, 2023
Luso-Brasilian Review, Jun 23, 2023
Today, in Europe, any museum displays the spoils that stem from the curation of an empire, not to... more Today, in Europe, any museum displays the spoils that stem from the curation of an empire, not to mention that the objects shown are almost all stolen, as Dan Hicks (Oxford University and curator of the Pitt-Rivers Museum in Great Britain) notes, which advocates its urgent return, as part of a broader project aimed at dealing with the outstanding debt of colonialism. Few artefacts better embody this history of voracious and extractive colonialism than the Benin Bronzes, a collection of thousands of carved
brass plates and ivory tusks that depict the history of the Royal Court of the Obas of the City of Benin, Nigeria, sacked during a British naval attack in 1897.
This is the kmain idea of the interview he was given and where he underlines what he had already made clear in the book he published in 2020 entitled The Brutish Museums. The Benin bronzes, colonial violence and cultural restitution.
ODEERE, Aug 31, 2022
Covid-19 brought back memories of past pandemics. In society, a pandemic imaginary was installed,... more Covid-19 brought back memories of past pandemics. In society, a pandemic imaginary was installed, framing an imaginary landscape, alongside a rationalized pandemic intellect to which the media contributed a lot.
We live immersed in tele technologies, adding present to the past and past to the present. At a time when home confinement became the rule, this was even more highlighted. In this screen technological Era, social practices were even more subject to the five great sociotechnical effects that condition information and the way it articulates memory and the present: ubiquity, instantaneity, acceleration, mobilization and presentism.
This article intends to demonstrate the presence of the imaginary of past pandemics in the present (Applying Einstein's Theory of General Relativity), the way in which we appropriate these memories to create solutions and the way in which we mix the present with the solutions that came from the past.
Universitas-XXI, Revista de Ciencias Sociales & Humanas de la Universidad Politécnica Salesiana (Ecuador), Aug 23, 2022
This article focuses on journalistic activities in the context of the first wave of Covid-19, in ... more This article focuses on journalistic activities in the context of the first wave of Covid-19, in 2020, when ahigh presence of post-truth and fake news was identified in news production, which is justified in addressing these two conceptual objects. The objective was to understand how problems in the production process, suchas job insecurity during the pandemic, allowed information gaps, which were filled by misinformation andinfodemics. For this, a quantitative method was used, with the application of an online survey to 365 participantsfrom Ibero-America during 2020, on production processes, work routines, and information generatedduring the quarantine of journalists, and consumption of information during confinement to journalists andonline news receivers. As a result, most journalists have changed their work routine, such as digital datachecking and preference for scientific sources. About half of news receivers valued press work positively,even though news consumption has generated negative prospects. As conclusions, there is a need to reviewcertain productive practices in the journalistic field, during exceptional situations such as the pandemic.
Comunicação e Sociedade, Jun 22, 2022
O Dever de Memória, título que Primo Levi (2011) deu a um dos seus livros, con-substancia toda ... more O Dever de Memória, título que Primo Levi (2011) deu a um dos seus livros, con-substancia toda a lógica que está subjacente à restituição cultural, num processo que está em marcha, tendente a promover a reparação dos danos provocados pelo colonia-lismo. Muito embora a reparação nunca seja completamente concretizada, a atitude que lhe está subjacente pode atenuar ressentimentos, num sinal assente na diversidade e não, como quase sempre aconteceu, numa lógica unilateral, decorrente de um olhar ocidental. Através da utilização da memória, que, no caso de Levi, incidiu sobre o holo-causto — a que se reporta a cunhagem da expressão “dever de memória” —, foi dado o seu testemunho enquanto judeu que foi prisioneiro dos nazis, para que nada semelhan-te alguma vez voltasse a acontecer. Há um urgente dever de memória tendente a reparar atrocidades cometidas em tempo colonial, através do exercício da violência por parte de quem colonizava. Por conseguinte, a ideia de “dever da memória” quer significar a responsabilidade ética de nunca esquecer.
The Duty of Memory, the title that Primo Levi (2011) gave to one of his books, em-bodies the whole logic that underlies cultural restitution in a process that is underway, aimed at promoting the repair of the damage caused by colonialism. Although repara-tion will never be completely achieved, the attitude underlying it may reduce resentment in a sign based on diversity and not, as has almost always been the case, on a unilateral logic stemming from a western gaze. Through the use of memory, Levi focused on the holocaust — from which he coined the expression “duty of memory” — he gave his tes-timony as a Jew who was a prisoner of the Nazis so that nothing similar would ever hap-pen again. An urgent duty of memory is to repair atrocities committed in colonial times through the use of violence by those who colonised. Therefore, the “duty of memory” represents the ethical responsibility never to forget.
Comunicaçao e Sociedade, Jun 22, 2022
O Dever de Memória, título que Primo Levi (2011) deu a um dos seus livros, consubstancia toda a l... more O Dever de Memória, título que Primo Levi (2011) deu a um dos seus livros, consubstancia toda a lógica que está subjacente à restituição cultural, num processo que está em marcha, tendente a promover a reparação dos danos provocados pelo colonialismo. Muito embora a reparação nunca seja completamente concretizada, a atitude que lhe está subjacente pode atenuar ressentimentos, num sinal assente na diversidade e não, como quase sempre aconteceu, numa lógica unilateral, decorrente de um olhar ocidental. Através da utilização da memória, que, no caso de Levi, incidiu sobre o holocausto — a que se reporta a cunhagem da expressão “dever de memória” —, foi dado o seu testemunho enquanto judeu que foi prisioneiro dos nazis, para que nada semelhante alguma vez voltasse a acontecer. Há um urgente dever de memória tendente a reparar atrocidades cometidas em tempo colonial, através do exercício da violência por parte de quem colonizava. Por conseguinte, a ideia de “dever da memória” quer significar a responsabilidade ética de nunca esquecer.
CMC: Comunicação, Mídia e Consumo, Apr 29, 2022
:The article deals with questions about cultural policies and forms of
musealization and how the... more :The article deals with questions about cultural policies and forms of
musealization and how these issues adapt to the virtualization process of museums, whose intermediation of symbolic and cultural goods makes understanding the phenomenon more complex. As a theoretical framework, it uses the post-coloniality and decoloniality, which point out how the discourse originated in colonial empires must be overcome, and interculturality, which dismantles hate speech and favors effective symbolic exchanges between the global North and South.
Finally, it brings considerations about cultural consumption ircumscribed to museological spaces, specifically in virtual museums, which the case study is the Virtual Museum of Lusophony (MVL), an environment organized according to the post-colonial concept of Lusophony, and which recently composes one of the museums from Google Arts & Culture.
Keywords: Virtual Museum of Lusophony; cultural policies; post-coloniality; decoloniality; interculturality; Google Arts & Culture
Academia Letters, Dec 27, 2021
Eduardo Lourenço underlined a Portuguese hyper-identity due to a deficit of real identity, which ... more Eduardo Lourenço underlined a Portuguese hyper-identity due to a deficit of real identity, which tends to compensate on the imaginary level. But that is not why the essayist invoked "Portugality" to justify it, quite the contrary, as he made clear in an interview with RTP (Portuguese public channel), in which he stated that there was no "the" Portuguese, much less "Portugalities".
Chasqui - Revista Latinoamericana de Comunicación, Aug 21, 2021
AbstractThe identity of the “I” is subject to the presence of an “other”, not in order to erase i... more AbstractThe identity of the “I” is subject to the presence of an “other”, not in order to erase its own values, but to allow the expansion of its worldviews. Through the concept of transculturality (Welsch, 1999), the idea is maintained that cultures are in a constant process of interaction and mixing. This article, dedicated to the problem of transnational and transcultural identities, leaves behind the Portuguese tropicalism of the Brazilian sociologist Gilberto Freyre (1953; 1961) and the ancestral and univocal concept of culture, which punctuated the discourse of the Portuguese dictatorship of the Estado Novo, returning for the diversity of Portuguese-speaking countries. In this context, the Virtual Museum of Lusophony may be of fundamental importance as an intercultural possibility.Keywords: transnational and transcultural identities, luso-tropicalism, Lusophony, Virtual Museum of Lusophony, post-colonial studies, interculturality.
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está em marcha, tendente a promover a reparação dos danos provocados pelo colonialismo. Muito embora a reparação nunca seja completamente concretizada, a atitude
que lhe está subjacente pode atenuar ressentimentos, num sinal assente na diversidade e não, como quase sempre aconteceu, numa lógica unilateral, decorrente de um olhar
ocidental.
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A minha investigação fala de identidade e do que lhe está adjacente. O que nos leva à 'portugalidade' e à dinâmica naturalizadora do termo. Um termo datado-que se inscreve no período do Estado Novo, entre as décadas de 50 e 60 do século XX-, mas que, nos últimos tempos, tem sido de certa forma, ressuscitado, mesmo que não conste dos dicionários de referência e, nos 'mainstream', seja sinónimo, por exemplo, de 'sentido verdadeiramente do que é português'. E o que será isso de verdadeiramente português, pergunto eu? Essa foi, de resto, uma das razões que me levou a investigar a 'portugalidade'. Ora, nada acontece a partir deste momento. Existe uma memória que é necessário preservar e contextualizar, nomeadamente os termos que se utilizam, para que estes sejam reabilitados em contexto e se não naturalizem sem mais. O conceito 'portugalidade' decorre, assim, de uma lógica estado-novista para que as ex-colónias fossem vistas pela ONU não como territórios autónomos, mas como parte integrante do território português (ou seja: como províncias ultramarinas), o que foi corroborado pelo discurso parlamentar da Assembleia Nacional, a partir de 1951 (data da revogação do Ato Colonial). Toda essa estratégia ia no sentido de combater os movimentos independentistas que emergiam nas antigas colónias, defendendo a pertença desses territórios a Portugal, por via do seu 'destino histórico'. Esse facto seria sublinhado no discurso político da 'portugalidade', com a assunção de Portugal, como um país uno e indivisível: " Portugal do Minho a Timor ". Considero, por isso, que integrar a 'portugalidade' na lusofonia, é um contrassenso, já que remete para uma centralidade portuguesa num espaço cultural imaterial integrado por outros países com estatuto jurídico próprio, que antes foram colónias portuguesas, mas que hoje são independentes. Não obstante, toda a dinâmica da lusofonia esbarra numa série de equívocos que têm que ser desfeitos, que impedem o seu desenvolvimento. E, neste caso concreto, o plano político ajuda pouco à concretização desse desiderato, nomeadamente pela lógica luso tropicalista que ainda vai pairando. Este é um prémio importante para mim, porque tem um espectro internacional e porque reitera o trabalho que desenvolvi ao longo de vários anos sobre a 'portugalidade', numa verdadeira obsessão. É um incentivo para a área das Ciências Sociais e Humanas, evidenciando a necessidade de promover o espírito crítico e a desconstrução, numa altura em que a sociedade privilegia os consensos. E para a própria lusofonia que, desta forma, atinge um patamar de atenção raramente observado.
Articles in scientific journals by Vitor de Sousa
and the cleavages it contains. Despite claiming that everything has already
been said or written about Lusophony, the term is far from being consensual.
Only by overcoming the misconceptions in which it navigates will it be
possible to take consistent steps towards building a Lusophony that favours interculturality. It is urgent, therefore, to re-imagine Lusophony, decolonizing the minds of its protagonists, in a logic of transculturality and transnationality.Keywords: Lusophonies; Empire; Decolonization; Portugality; Cross-cultural identities.
brass plates and ivory tusks that depict the history of the Royal Court of the Obas of the City of Benin, Nigeria, sacked during a British naval attack in 1897.
This is the kmain idea of the interview he was given and where he underlines what he had already made clear in the book he published in 2020 entitled The Brutish Museums. The Benin bronzes, colonial violence and cultural restitution.
We live immersed in tele technologies, adding present to the past and past to the present. At a time when home confinement became the rule, this was even more highlighted. In this screen technological Era, social practices were even more subject to the five great sociotechnical effects that condition information and the way it articulates memory and the present: ubiquity, instantaneity, acceleration, mobilization and presentism.
This article intends to demonstrate the presence of the imaginary of past pandemics in the present (Applying Einstein's Theory of General Relativity), the way in which we appropriate these memories to create solutions and the way in which we mix the present with the solutions that came from the past.
The Duty of Memory, the title that Primo Levi (2011) gave to one of his books, em-bodies the whole logic that underlies cultural restitution in a process that is underway, aimed at promoting the repair of the damage caused by colonialism. Although repara-tion will never be completely achieved, the attitude underlying it may reduce resentment in a sign based on diversity and not, as has almost always been the case, on a unilateral logic stemming from a western gaze. Through the use of memory, Levi focused on the holocaust — from which he coined the expression “duty of memory” — he gave his tes-timony as a Jew who was a prisoner of the Nazis so that nothing similar would ever hap-pen again. An urgent duty of memory is to repair atrocities committed in colonial times through the use of violence by those who colonised. Therefore, the “duty of memory” represents the ethical responsibility never to forget.
musealization and how these issues adapt to the virtualization process of museums, whose intermediation of symbolic and cultural goods makes understanding the phenomenon more complex. As a theoretical framework, it uses the post-coloniality and decoloniality, which point out how the discourse originated in colonial empires must be overcome, and interculturality, which dismantles hate speech and favors effective symbolic exchanges between the global North and South.
Finally, it brings considerations about cultural consumption ircumscribed to museological spaces, specifically in virtual museums, which the case study is the Virtual Museum of Lusophony (MVL), an environment organized according to the post-colonial concept of Lusophony, and which recently composes one of the museums from Google Arts & Culture.
Keywords: Virtual Museum of Lusophony; cultural policies; post-coloniality; decoloniality; interculturality; Google Arts & Culture
está em marcha, tendente a promover a reparação dos danos provocados pelo colonialismo. Muito embora a reparação nunca seja completamente concretizada, a atitude
que lhe está subjacente pode atenuar ressentimentos, num sinal assente na diversidade e não, como quase sempre aconteceu, numa lógica unilateral, decorrente de um olhar
ocidental.
A minha investigação fala de identidade e do que lhe está adjacente. O que nos leva à 'portugalidade' e à dinâmica naturalizadora do termo. Um termo datado-que se inscreve no período do Estado Novo, entre as décadas de 50 e 60 do século XX-, mas que, nos últimos tempos, tem sido de certa forma, ressuscitado, mesmo que não conste dos dicionários de referência e, nos 'mainstream', seja sinónimo, por exemplo, de 'sentido verdadeiramente do que é português'. E o que será isso de verdadeiramente português, pergunto eu? Essa foi, de resto, uma das razões que me levou a investigar a 'portugalidade'. Ora, nada acontece a partir deste momento. Existe uma memória que é necessário preservar e contextualizar, nomeadamente os termos que se utilizam, para que estes sejam reabilitados em contexto e se não naturalizem sem mais. O conceito 'portugalidade' decorre, assim, de uma lógica estado-novista para que as ex-colónias fossem vistas pela ONU não como territórios autónomos, mas como parte integrante do território português (ou seja: como províncias ultramarinas), o que foi corroborado pelo discurso parlamentar da Assembleia Nacional, a partir de 1951 (data da revogação do Ato Colonial). Toda essa estratégia ia no sentido de combater os movimentos independentistas que emergiam nas antigas colónias, defendendo a pertença desses territórios a Portugal, por via do seu 'destino histórico'. Esse facto seria sublinhado no discurso político da 'portugalidade', com a assunção de Portugal, como um país uno e indivisível: " Portugal do Minho a Timor ". Considero, por isso, que integrar a 'portugalidade' na lusofonia, é um contrassenso, já que remete para uma centralidade portuguesa num espaço cultural imaterial integrado por outros países com estatuto jurídico próprio, que antes foram colónias portuguesas, mas que hoje são independentes. Não obstante, toda a dinâmica da lusofonia esbarra numa série de equívocos que têm que ser desfeitos, que impedem o seu desenvolvimento. E, neste caso concreto, o plano político ajuda pouco à concretização desse desiderato, nomeadamente pela lógica luso tropicalista que ainda vai pairando. Este é um prémio importante para mim, porque tem um espectro internacional e porque reitera o trabalho que desenvolvi ao longo de vários anos sobre a 'portugalidade', numa verdadeira obsessão. É um incentivo para a área das Ciências Sociais e Humanas, evidenciando a necessidade de promover o espírito crítico e a desconstrução, numa altura em que a sociedade privilegia os consensos. E para a própria lusofonia que, desta forma, atinge um patamar de atenção raramente observado.
and the cleavages it contains. Despite claiming that everything has already
been said or written about Lusophony, the term is far from being consensual.
Only by overcoming the misconceptions in which it navigates will it be
possible to take consistent steps towards building a Lusophony that favours interculturality. It is urgent, therefore, to re-imagine Lusophony, decolonizing the minds of its protagonists, in a logic of transculturality and transnationality.Keywords: Lusophonies; Empire; Decolonization; Portugality; Cross-cultural identities.
brass plates and ivory tusks that depict the history of the Royal Court of the Obas of the City of Benin, Nigeria, sacked during a British naval attack in 1897.
This is the kmain idea of the interview he was given and where he underlines what he had already made clear in the book he published in 2020 entitled The Brutish Museums. The Benin bronzes, colonial violence and cultural restitution.
We live immersed in tele technologies, adding present to the past and past to the present. At a time when home confinement became the rule, this was even more highlighted. In this screen technological Era, social practices were even more subject to the five great sociotechnical effects that condition information and the way it articulates memory and the present: ubiquity, instantaneity, acceleration, mobilization and presentism.
This article intends to demonstrate the presence of the imaginary of past pandemics in the present (Applying Einstein's Theory of General Relativity), the way in which we appropriate these memories to create solutions and the way in which we mix the present with the solutions that came from the past.
The Duty of Memory, the title that Primo Levi (2011) gave to one of his books, em-bodies the whole logic that underlies cultural restitution in a process that is underway, aimed at promoting the repair of the damage caused by colonialism. Although repara-tion will never be completely achieved, the attitude underlying it may reduce resentment in a sign based on diversity and not, as has almost always been the case, on a unilateral logic stemming from a western gaze. Through the use of memory, Levi focused on the holocaust — from which he coined the expression “duty of memory” — he gave his tes-timony as a Jew who was a prisoner of the Nazis so that nothing similar would ever hap-pen again. An urgent duty of memory is to repair atrocities committed in colonial times through the use of violence by those who colonised. Therefore, the “duty of memory” represents the ethical responsibility never to forget.
musealization and how these issues adapt to the virtualization process of museums, whose intermediation of symbolic and cultural goods makes understanding the phenomenon more complex. As a theoretical framework, it uses the post-coloniality and decoloniality, which point out how the discourse originated in colonial empires must be overcome, and interculturality, which dismantles hate speech and favors effective symbolic exchanges between the global North and South.
Finally, it brings considerations about cultural consumption ircumscribed to museological spaces, specifically in virtual museums, which the case study is the Virtual Museum of Lusophony (MVL), an environment organized according to the post-colonial concept of Lusophony, and which recently composes one of the museums from Google Arts & Culture.
Keywords: Virtual Museum of Lusophony; cultural policies; post-coloniality; decoloniality; interculturality; Google Arts & Culture
Desse lugar de partida, o dossiê “o contemporâneo visto pelo ecrã: políticas, culturas, memórias e identidades” se propôs em reunir reflexões que discutam as inseguranças de nossos tempos. “Ecrãs”, na tradução para a língua portuguesa do Brasil, pode ser entendido como tela de cinema, televisão, computador, celular, tablet, etc., o que a transforma em um espaço de circulação de informações, “máquinas de produção de subjetividades”, como sugere Félix Guatari (1982).
Na tradução dessas máquinas de produção de subjetividades aparecem um conjunto de inseguranças, para o bem e para o mal. Inseguranças que “colocam em xeque” a ordem (política, econômica, social, cultural, moral, ética, intelectual, simbólica e subjetiva) estabelecida a partir de um consenso cêntrico “ditado” pela cultura ocidental, mas traz, consigo, o fortalecimento do debate sobre a condição humana.
Dessa premissa, impõe leituras distintas da realidade, em que se abrem perspectivas para outros e novos conhecimentos abafados, calados, omitidos, desprivilegiados, subalternizados, colonizados ou para novas e outras interpretações de distintas formas de linguagem e comunicação social, diante de um modelo hegemônico de desenvolvimento, crescimento e progresso aplicados, com maior ou menor grau, a todos, em escala mundial.
Abrem-se, face às "imposições" dos tempos informacionais e tecnológicos que experimentamos, amplos campos de disputa “dos”, "nos" e “pelos” sistemas de linguagens que afetam dimensões do político, da cultura, das memórias e das identidades, forjando a necessidade de diferentes modos de compreensão do mundo.
PALAVRAS-CHAVE: Crise; Imitação; Condição humana; Pós-pandemia
O livro intitula-se "Pathologies and Dysfunctions of Democracy in the Media Context - The Return of the Propaganda Model: Emotions, Populism, and Polarization". É editado pelo João Carlos Correia e a chancela da LabCom Books (ISBN - 978-989-654-964-0).
Trazem contribuições de pertinência que conectam cultura e desenvolvimento e, por meio do potencial da cultura, problematizam sobre a ordem social (sustentada na competição, individualização, concorrência e exploração de poucos sobre muitos), correlacionadas com a economia, comunicação, escolhas socioculturais, sustentabilidades, inteligências, bem viver e dinâmicas simbólicas. Sintetizam revisões ao desenvolvimento econômico pela ampliação dos olhares a respeito de organizações sociais menos perversas ou para epistemológicas que permitam outra inscrição de sociedade, perpassada por princípios coletivos, participativos, distributivos e de dignidade às pessoas.
Portanto, o desenvolvimento não pode ficar aprisionado em estruturas e funcionais, pontuais, monolíticas, lineares e centralista, considerando que o conceito (desenvolvimento) se traduz num paradoxo por assumir característica polifônica e polissêmica e, do ponto de vista da cultura, possibilita a promoção de outras visões “de”, “do”, “para”, “no” e “sobre” o mundo e se refletem, por um lado, na cultura local – suas particularidades, essências e matizes – e, por outro, na proposta hegemônica de globalidade – universalização e padronização das coisas. Ao leitor: uma ótima leitura!
Nas relações entre Portugal e o Brasil, continua a haver muito que fazer. E, mesmo queimando etapas, trata-se de uma tarefa difícil de completar, uma vez que assenta numa lógica imaterial. Não é possível fazer quantificações sobre assuntos que cruzam ambos os países – por razões históricas -, sob pena de deixar de parte os que se afiguram mais sublinhados e que, em última análise, podem ter que ver com a lógica identitária existente. Mesmo partindo do princípio de que as identidades (e as culturas) não são reificadas, tal como a sociedade o não é; se a sociedade muda, também as identidades e as culturas vão mudando.
Edson Capoano, Vítor de Sousa & Vinicius Prates
This text starts from the hate speech promoted during
the presidency of Jair Messias Bolsonaro (2019-2022) to
reflect on how we got here as individuals, communicators
and society and what are the characteristics of this
contemporary communicational phenomenon. For this,
we will present three perspectives on hate speech to understand
hate speech in an interdisciplinary way. The
first will be the individual and biological sphere, on the
neurological triggers of anger, the emotion that sustains
hate speech, a theme so dear to the social sciences that
it has caused the so-called emotional turn in the field.
The colonial past still weighs heavily today, reinforcing a western and one-sided look at a narrative that, being diverse, promotes the subordination of countries that were colonies, but which have been self-determined for some years. The vast majority of national museums of ethnology narrate the heroic Western deeds of those who were colonizers, through the exhibition of their ‘war trophies’, whitening the dynamics of the ex-colonized, whose role is referred to the “other” of the process. This is how the debate about the need to decolonize knowledge arises, whether in museums, statuary or book publishing. It is here that the concept of “artivism” comes into play, which highlights an artistic rupture resulting from social demands and which appeals to less than peaceful links between art and politics, encouraging artistic impact as an act of resistance and subversion. This collision with the “State of Law” runs the risk of being on the verge of vandalism.
reconsiderar todo o sistema. Como acontece no quadro Paisagem Com a Queda de Ícaro (cerca de 1558), de Pieter Bruegel, em que as pernas do filho de Dédalo, quando por fim se dá por elas, evidenciam uma morte por afogamento, sem que ninguém sequer note a tragédia em curso. O que faz com que Bhabha questione sobre quem é hoje a testemunha moral do sofrimento humano, sendo essa uma das perguntas que a cultura pode lançar ao mundo (Rato, 2015). Este artigo propõe uma reflexão sobre a relação entre identidade e cultura, observando de que forma as identidades culturais se situam num mundo globalizado, olhando para a lusofonia enquanto possibilidade
intercultural, transcultural, crítica e inclusiva, por oposição à globalização cosmopolita.
Palavras-chave: cultura, identidade, globalização, lusofonia, interculturalidade
na criação de riqueza e na dinamização de atividades económicas globais. Isso mesmo foi vertido na declaração da “XII Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP”, que teve lugar, na Ilha do Sal (Cabo Verde), em 2019, e que adotou o lema “As pessoas. A cultura. Os oceanos”.
Num olhar mais específico, inscrito na Declaração Sobre Cultura e Indústrias Criativas Como Sector Estratégico na CPLP (2018), é reafirmada a adequação da instituição com a Agenda 2030 das Nações Unidas. Os países da CPLP pretendem fazer o levantamento de informações sobre atividades culturais no âmbito da mobilidade de artistas e agentes culturais dos seus Estados-membros e a sua ampla divulgação, para a promoção da diversidade cultural, da língua portuguesa, reforçando os laços históricos. Para tanto, ficou decidido incentivar a promoção da mobilidade de artistas, criadores e das suas obras dentro do espaço da comunidade, para além de desenvolver a partilha de informação entre os Estados-membros sobre as políticas culturais nacionais, a legislação em matéria de circulação de bens, serviços e empreendimentos culturais, os dados estatísticos relativos às atividades culturais e ao seu impacto na economia e na sociedade, para além do estado de adesão e de implementação das convenções da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Os graves problemas financeiros da CPLP parecem não impedir esta nova abordagem da instituição em relação ao setor cultural, pretendendo contribuir para o aumento da empregabilidade de artistas e agentes da cultura, em consonância com as políticas culturais atuais assentes na mobilidade.
Unlike Newton's “canonical” logic, in which time is one thing and space quite another, Albert Einstein, in his Theory of General Relativity, revolutionized the concept, maintaining that time is one of the dimensions of space.
In times of social confinement due to the Covid-19 pandemic, it can be a nonsense since, for a body that is tendently stopped, time runs at top speed, so it is difficult to be sure about confinement dynamics along time and its future repercussions. In this “new normality”, it is certain that the future will be (even more) uncertain than usual.
já que as ideias preconcebidas sobre si próprio, sobre o outro e sobre o mundo são postas em causa (Dubar, 2011).
E, muito embora a globalização relativize as influências dos Estados e a sua própria soberania, em tempo de crise emergem os apelos ao patriotismo. Foi o que aconteceu no caso português que, apesar de o país ter estado sob assistência económica externa, viu os responsáveis políticos a assumirem, transversalmente, posições com um recorte “nacional” sublinhado; o mesmo aconteceu com muitos eventos ligados ao branding, que recuperaram a ideia estado-novista de “portugalidade”, em contraciclo com a realidade vivenciada. Philippe C. Schmitter (2013) refere-se a uma combinação de fatores que poderá levar a um neocorporativismo, especialmente em países europeus de pequena dimensão e internacionalmente vulneráveis, como é o caso de Portugal. Zygmunt Bauman (2013) realça o divórcio entre o poder e a política, com o “velho mundo” a definhar, sem que tenha nascido um outro alternativo, o que pode explicar a perspetiva de Edgar Morin (2010), que observa que a ideia de futuro é marcada pela incerteza.
com a exploração assassina de territórios conquistados à custa de muito sangue, violações e usurpações. Antes de o século XX nos atormentar com as duas guerras mundiais e de o fim do colonialismo em muitos territórios colonizados na Ásia, América Latina e África nos trazer alento com as lutas anticoloniais e de emancipação política e pós-colonial, há muito que a Europa
fazia estragos consideráveis, à luz de uma ideia candidamente enraizada numa era celebrada pelo seu esclarecimento moral de emancipação, progresso e civilização.
O resultado é ainda visível hoje pelos complexos legados desse passado da modernidade ocidental colonial e imperial nas chamadas ex-metrópoles colonizadoras e nos territórios ex-colonizados. Lembrar o passado não é uma ferramenta de escavação para dele retirarmos apetrechos para aprimorar e sossegar este presente inquieto e estranho. O passado serve como postura
ética, moral, cívica, ao chamar para o plano da reflexão elos de continuidade, os legados e veios de interpretação que nos permitam contextualizar, entender e sinalizar com maior exatidão este tempo inseguro e espinhoso que estamos a testemunhar em pleno século XXI.
Já Umberto Eco (1983) chamou a atenção para o facto de os dicionários e as enciclopédias não coincidirem com as noções teóricas enquanto categorias de uma semiótica geral, observando que muitos dicionários contêm informação correspondente a uma enciclopédica e muitas enciclopédias contém informação que mais parece pertencer a um qualquer dicionário. Não obstante, a dicionarização muitas vezes seja parca nas propostas interpretativas que fornece, deixando de fora palavras que circulam na linguagem corrente, situação que pode ser explicada ou por opção ideológica, ou por mero critério linguístico. Ainda muito antes de Umberto Eco, Almeida Garrett nas suas “Viagens na Minha Terra”, mostrava-se cético no que respeita à relação existente entre as palavras e as coisas, ao pretender “afectar nas palavras a exactidão, a lógica, a rectidão, que há nas coisas”, no que sublinhava ser “a maior e mais perniciosa de todas as incoerências” (Garrett, 1972 [1846]: 171). E, mesmo que o filósofo Ludwig Wittgenstein (1958) sublinhe que o sentido que se dá às palavras seja o seu uso, torna-se necessário uma contextualização para evitar eventuais equívocos, como são os casos da ‘portugalidade’ e da lusofonia. O primeiro, não tipificado pelos dicionários de referência e, o segundo, com múltiplos sentidos interpretativos. Afinal, se os conceitos servem para propor interpretações, o facto de serem constantemente postos em causa pode ter em vista um ajuste à visão de quem tem explicações diferentes das que são propostas pelos manuais.
É perante este quadro que vou abordar a ‘lusofonia. E, quando a ela me refiro, vem de imediato ao de cima toda a parafernália descrita no parágrafo anterior. Mesmo que se afirme que já tudo foi escrito sobre ela, faltando apenas colocá-la em prática como refere Miguel Real (2012), o termo – e tudo o que lhe está associado -, está longe de ser consensual. Desde logo por remeter etimologicamente para uma centralidade portuguesa, sendo que a palavra foi forjada a partir da francofonia . Dessa forma, teria ficado de fora um eventual recorte ideológico como possibilidade interpretativa da palavra, mesmo que, no caso português, a descolonização só tenha sido completada em 1975. Mas, na prática, nada dessa lógica aparentemente ‘pueril’ corresponde à verdade uma vez que as clivagens em torno do assunto são grandes e decorrem do período pós-revolução do 25 de abril e, consequentemente, reportam-se ao período pós-colonial português.
novo, faz com que a portugalidade esteja datada nas décadas de 50 e 60 do séc. XX. tratase de uma construção, que atropela o processo de identidade dos portugueses, já que não espelha as suas idiossincrasias. talvez por isso, distante das apropriações que se fizeram dos escritos de Camões ou de Pessoa para sustentar a tese em que assentou a propaganda do regime de Salazar, e bem mais perto de Paula Rego e do grotesco.
“portugalidade” and trying to contribute to the clarification of its introduction / existence in Portuguese vocabulary.
Therefore, we have resourced to the speeches made during the Estado Novo (“Assembleia Nacional”, 1935-1974),
comparing them with the period through post-April 25th, 1974 (“Assembleia da República”, 1976-2012).
Through the interpretive hermeneutic we analyzed the speeches given in daily sessions provided by the database
of parliament, in order to know the circumstances and context of the use of the term. The choice of parliamentary
discourse analysis stems from the fact that we have concluded that the “Estado Novo” was behind the attempt
to spread the term “portugalidade” (50 and 60 decades of Twentieth century. The year of 1951 coincided with
the repeal of the “Colonial Act “, which caused that two years later the expression “colonies” were replaced by
“overseas provinces”. The discourse on “portugalidade” made since 1953 underlined the idea of “Portugal from
Minho to Timor”(a one and indivisible territory).
Keywords: “portugalidade”, Portuguese parliamentary speech, “Assembleia Nacional”, “Assembleia da República”
Palavras-chave: ‘Portugalidade’; lusofonia; Estado Novo; globalização; multiculturalismo
Tratar-se-á de um ponto de vista, apenas, como defendia Nietzsche (Gonçalves 2011)? Apenas? A verificar-se, neste livro, o “apenas” terá recortes muito curtos, face a este tipo de frases: “o passado acabou. Não temos de carregar o que não é nosso” (Figueiredo 2022, 271). O que se cruza (muito) com a memória. As mentiras como bengalas que ajudam as pessoas a caminhar sem se magoarem (idem, 51).
O que é apanágio de obras de ficção que ajudam a expirar antasmas/passados. Talvez por isso, Umberto Eco preferisse as mentiras à verdade1. De novo a memória, que muitos reputam de ser mentirosa. Aquela que, segundo um ditado africano (sendo que África não é um país…), vai ao bosque e de lá traz a lenha que quer.
perfeita. É isso, afinal, que se pretende de um título. Em The Brutish
Museums não é defraudada a ideia que lhe esteve na base e que pode
ser complementada, desde logo, por quem o lê, através do pós-título
da obra, The Benin Bronzes, Colonial Violence and Cultural Restitution.
Ou seja: o que os museus britânicos mostram é resultado de atividades
violentas remetendo, desde logo, para a brutalidade colonial, onde se
encontram os bronzes do Benim; por isso, em equação está sua restituição à procedência, por terem sido roubados.
The author “starts from the assumption that colonialism works as a system of practices and representations and, as such, can be analyzed as a culture” and, perhaps because he is a trained anthropologist, the author studied the phenomenon “investigating what the ‘natives’ think and do that give meaning to this culture”, regardless of their role during the colonial process (n.p.).
O autor “parte do pressuposto de que o colonialismo funciona como um sistema de práticas e representações e, como tal, pode ser analisado como cultura” e, talvez por ser antropólogo de formação, o autor estudou o fenómeno “investigando o que pensam e o que fazem os ‘nativos’ que conferem sentido a essa cultura”, independentemente do seu papel durante o processo colonial (s.p.).
“A conferência ‘A Europa no Mundo e o Mundo na Europa: Crise e Identidade’, ocorrida em junho de 2015, no Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, pretendeu constituir um momento de reflexão acerca das antinomias que atravessam a Europa contemporânea nos seus múltiplos quadros de relação com o mundo. Tratava-se de discutir, num contexto de krisis, os caminhos que se oferecem à Europa, convocando o que de mais digno nos legou a cultura europeia: o pensamento crítico. Porque a Europa se fez no mundo, foi esta conferência ocasião para debater de que forma se posiciona a Europa perante as transformações societais contemporâneas, tendo como pano de fundo as relações políticas e culturais tecidas pela história. (…)
Neste livro publicam-se reflexões que estiveram em debate na conferência e que, pela sua diversidade, patenteiam quão amplo é o pensamento que se tece sobre a condição da Europa no mundo e porque são fundamentais quadros analíticos pluridisciplinares” [Nota introdutória, pp. 5-8]
Tendo-se desmoronado a maior parte dos impérios com o fim da II Guerra Mundial, no caso português o assumido ‘império’ prolongar-se-ia por mais três décadas. De que forma é que toda essa dinâmica se refletiu na lusofonia? É possível encarar a lusofonia centrada em Portugal, como produto da ‘portugalidade’? Faz sentido essa perspetiva quando a globalização esbateu as fronteiras e diluiu as singularidades identitárias, permitindo que se perspetivassem relações multiculturais e/ou interculturais?
Este seminário teve como objetivo apresentar o livro Representing Gender-Based Violence: Global Perspectives (Palgrave 2023), através de uma conversa com as duas editoras, Caroline Williamson Sinalo (University College Cork) e Nicoletta Mandolini (CECS – Universidade do Minho).
O livro explora a política, a ética e as armadilhas das práticas de representação em torno da Violência Baseada no Género. Examina a forma como esta é representada através da filosofia/epistemologia, ficção e representações não ficcionais dos média. Discute o feminismo em relação às tendências globais para identificar a sua linha de frente cultural.
Caroline Williamson Sinalo é professora de Línguas Mundiais na University College Cork. É autora de Rwanda after Genocide: Gender, Identity and Posttraumatic Growth (Cambridge University Press 2018) e co-autora de Transmitting Memories in Rwanda: From a Survivor Parent to the next Generation (Brill 2023). É também a coeditora de Representing Gender-Based Violence: Perspectivas Globais (Palgrave Macmillan, 2023). A investigação de Williamson Sinalo centra-se no conflito e violência na região dos Grandes Lagos em África, e tem sido apoiada pelo AHRC, o Aegis Trust, o Irish Research Council, o Government of Ireland e a Enterprise Ireland. É cofundadora do cluster de investigação Violência, Conflito e Género, no Centro de Estudos Avançados em Línguas e Culturas (CASiLaC) da University College Cork.
Nicoletta Mandolini é investigadora da FCT no CECS da Universidade do Minho (Portugal), onde está a trabalhar no projeto Sketch Her Story and Make It Popular. Using Graphic Narratives in Italian and Lusophone Feminist Activism Against Gender Violence. Trabalhou como investigadora pós-doutorada da FWO na KU Leuven (Bélgica) e tem um doutoramento do University College Cork (Irlanda). É autora da monografia Representations of Lethal Gender-Based Violence in Italy Between Journalism and Literature: Femminicidio Narratives (Routledge 2021). Para além de numerosos artigos e capítulos de livros sobre o abuso sexista na literatura, arte e meios de comunicação contemporâneos, co-editou os volumes Rappresentare la violenza di genere. Sguardi femministi tra critica, attivismo e scrittura (Mimesis 2018) e Representing Gender-Based Violence: Global Perspectives (Palgrave 2023). É membro activo do CASiLaC (Centro de Estudos Avançados em Línguas e Culturas), um grupo de investigação sobre Violência, Conflito e Género, que coorganizou de 2016 até 2019. É membro fundador do SnIF (Studying’n’Investigating Fumetti).
Jorge Correia Jesuíno é doutorado em Sociologia pela Universidade Técnica de Lisboa. Professor Emérito no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Lisboa. Tem-se dedicado ao ensino e investigação nas áreas do Comportamento Organizacional, Psicologia Social, Sociologia e Filosofia da Ciência. É membro do Centro de Filosofia da Ciência da Universidade de Lisboa (CFCUL) desde 2015. Tem ampla obra publicada sobre liderança, processos de grupo, representações sociais e epistemologia. Da sua obra destacamos o livro “Processos de Liderança (Livros Horizonte, 4ª edição)”.
Álvaro de Vasconcelos é fundador do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais de Lisboa (IEEI). É investigador do CEIS20 da Universidade de Coimbra. Foi professor convidado do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo e Diretor do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia/EUISS. É fundador e coordenador do Forum Demos.
Colunista regular na imprensa, coordenou e editou o relatório que o EUISS produziu para a União Europeia Global Trends 2030 e vários relatórios do Arab Reform Iniciative. Entre as suas obras, destacamos o livro “Memórias em Tempo de Amnésia: uma campa em África” (Edições Afrontamento, 2022).
Ana Cristina Pereira é licenciada em Teatro pelas escolas Superior de Teatro e Cinema de Lisboa e Música e Artes do Espetáculo do Porto. Mestre em Ciências da Educação pela Universidade de Aveiro. Doutora em Estudos Culturais pela Universidade do Minho. É investigadora do CECS-Universidade do Minho, como membro do Migrações, media e ativismos em língua portuguesa: descolonizar paisagens mediáticas e imaginar futuros alternativos” (PTDC/COM-CSS/3121/2021). É coordenadora do Grupo de Trabalho de Cultura Visual da SOPCOM, desde 2019. Entre as suas obras, destacamos o livro “Abrir os Gomos do Tempo: conversas sobre cinema em Moçambique” (2022, UMinho Editora).
Esta sessão foi uma parceria entre o Museu Virtual da Lusofonia, o projeto MigraMediaActs e a Casa do Conhecimento.
Decorrereu dia 24 de novembro, pelas 12h00, mais uma sessão do Seminário em Comunicação e Diversidade. Sofia Pinto Coelho foi a convidada deste seminário que teve como tema o documentário Daniel e Daniela. Histórias à minha filha (2022).
Sofia Pinto Coelho nasceu em Lisboa e é licenciada em Direito. Desde 1990, é jornalista, tendo se especializado em Justiça e Direitos Humanos. É autora de vários programas de informação, dois documentários e quatro livros.
Enquanto jornalista e realizadora, Sofia Pinto Coelho também dinamiza o site com o seu nome.
Esta sessão decorreru via Zoom, em parceria com o projeto MigraMediaActs.
O evento científico contou com a participação de Alix Didier Sarrouy e dedica-se ao tema “A arte de construir cidadania: juventude, práticas criativas e ativismo”.
Dança, música, artes plásticas, vídeo, fotografia, performance, ativismo digital, entre tantas outras, são formas de expressão usadas criativamente por jovens na intervenção em prol de múltiplas causas e lutas sociais. Para dar conta desta diversidade, o livro de Alix Didier Sarrouy -com o mesmo título do seminário – divide-se em quatro meios de intervenção artística – o corpo, o som, a imagem e a tecnologia. Recolhe contributos de cientistas sociais e artistas de vários países, explorando novos diálogos e sinergias entre áreas disciplinares.
No âmbito do centenário do nascimento do poeta moçambicano José Craveirinha, este colóquio procura olhar e refletir de uma forma partilhada o legado de Craveirinha como homem e pensador que pela sua escrita poética, pelo seu olhar de cidadão atento soube desconstruir, mapear, analisar e interpretar com rigor e sagacidade o contexto moçambicano colonial, pós-independência. Acima de tudo, a vida humana no seu contínuo embate entre história, memória e identidade.
Poeta de uma nação em constante devir, Craveirinha fez da sua poesia a ferramenta mestra para com ela mapear ausências, desigualdades, a mágoa, a dor, o luto, e a morte, mas também, a fraternidade, a esperança, o amor, a ternura e o exercício constante pela dignidade da humana.
Da Comissão Científica do colóquio fizeram parte os seguintes investigadores: Debora Mazza, Esser Jorge Silva, Ezra Nhampoca, Fernando Moreira, Gonçalo Fernandes, Orquídea Ribeiro, Sheila Khan, Tânia Machonisse e Vítor de Sousa.
A partir da experiência da exposição “Presentes! Africanos e Afrodescendentes no Porto” e do trabalho preparatório para a edição em livro que dará continuidade ao projeto, foi desenvolvida uma discussão do modo como as artes e em particular a fotografia podem ser um instrumento de promoção da visibilidade e da autoestima de comunidades sub-representadas ou pouco visibilizadas no espaço público português.
José Sérgio nasceu em Maputo, Moçambique, em 1970. Iniciou-se na fotografia ainda na adolescência, na associação cultural Casa Velha, e completou a sua aprendizagem no Centro de Documentação e Formação Fotográfica. Integrou a equipa de fotografia do Instituto Nacional de Desenvolvimento de Educação de 1989 a 1994 e foi, paralelamente, fotojornalista do Jornal de Notícias e do Desafio. Em 1998, juntou-se à organização Médicos Sem Fronteiras, para a qual supervisionou diversos projetos de saúde e saneamento e assegurou a cobertura fotográfica do Programa Cólera.
Radicado em Portugal desde 2000, foi fotógrafo dos semanários Blitz (2000-2006) e Sol (2006-2015). Ao serviço deste jornal, e no âmbito de um trabalho continuado sobre minorias residentes em Portugal e a sua relação com o país de acolhimento, conquistou por duas vezes, juntamente com a jornalista Ana Cristina Câmara, o Prémio de Comunicação “Pela Diversidade Cultural”, atribuído pelo Alto Comissariado para as Migrações: primeiro em 2012, pela reportagem “Uma Orquestra de Todos”, e depois em 2015, pela reportagem “Estrangeiro, o que vês?”.
Desde 2018, vem procurando dar corpo a uma pesquisa pessoal em torno de temas como a imigração, as comunidades africanas e/ou afrodescendentes e as relações entre Portugal e África no atual contexto pós-colonial. Desta pesquisa resultaram já duas exposições individuais, “A Viagem que Guerra Junqueiro Nunca Fez” (Casa-Museu Guerra Junqueiro, Porto, 2019), e “Presentes! Africanos e Afrodescendentes no Porto” (Mira Forum, Porto, 2020). Atualmente, prepara um livro a partir desta última exposição.
Nesta apresentação, tratar-se-á de mapear estes desenvolvimentos disciplinares, sinalizando o seu potencial, mas também os seus riscos. Fá-lo-emos focando-nos em dois domínios particulares que são particularmente elucidativos a este respeito: 1) as histórias do desenvolvimento colonial; 2) a formação e evolução de um regime universal dos direitos humanos e as lutas pela reforma social e pela auto-determinação política. Em ambos os casos, procurar-se-á articular aquilo que é a nova investigação internacional em torno dos impérios coloniais europeus com os estudos sobre o império português em particular.
O encontro contou com a participação de Jacob Lussento Cupata, Armindo Armando e Alice Balbé e foi moderado por Rosa Cabecinhas.
Esta mesa temática decorreu no âmbito da exibição da exposição “Império do Medo: exposição sobre a escravatura e o tráfico negreiro”, patente na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, de 12 de janeiro a 12 de fevereiro.
Esta atividade foi uma parceria entre a Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva e o CECS, através do Seminário Permanente de Comunicação e Diversidade, do Seminário Permanente de Estudos Pós-Coloniais e do projeto Culture, Past & Present – Memórias, culturas e identidades: o passado e o presente das relações interculturais em Moçambique e Portugal.
O evento decorreu online.
Vídeo completo disponível.
Na sequência da revolução do 25 de abril e em resultado do corte ideológico com o regime deposto, este conceito, após um hiato, é no entanto reintroduzido, seja através da classe política, dos profissionais de marketing ou de branding, ou pela via de situações aleatórias.
O certo é que a palavra está ausente dos dicionários de referência portugueses, bem como das enciclopédias. As tentativas de fixar o significado da palavra vão sendo desenvolvidas pelos dicionários mais comuns, muito embora o façam com um ângulo de tal modo aberto que, mais do que tipificá-lo, alimentam os equívocos que lhe estão subjacentes. Defende-se, por isso, que a palavra ‘portugalidade’ seja tipificada, contextualizando-a.
O conceito ‘portugalidade’ decorre de uma lógica estado-novista para que as ex-colónias fossem vistas pela ONU não como territórios autónomos, mas como parte integrante do território português (províncias ultramarinas), corroborado pelo discurso parlamentar da Assembleia Nacional, a partir de 1951 (data da revogação do Ato Colonial), pela introdução da palavra nos discursos dos deputados. Toda essa estratégia ia no sentido de combater os movimentos independentistas que emergiam nas antigas colónias, defendendo a pertença desses territórios a Portugal, por via do seu ‘destino histórico’. Esse facto seria sublinhado no discurso político da ‘portugalidade’, com a assunção de Portugal, como um país uno e indivisível: “Portugal do Minho a Timor”.
Tendo-se desmoronado a maior parte dos impérios com o fim da II Guerra Mundial, no caso português o assumido ‘império’ prolongar-se-ia por mais três décadas. De que forma é que toda essa dinâmica se refletiu na lusofonia? É possível encarar a lusofonia centrada em Portugal, como produto da ‘portugalidade’? Faz sentido essa perspetiva quando a globalização esbateu as fronteiras e diluiu as singularidades identitárias, permitindo que se perspetivassem relações multiculturais e/ou interculturais?
Em resultado desta investigação pode concluir-se que, sendo a lusofonia uma construção de difícil concretização, um processo prenhe de clivagens entre os países integrantes da CPLP (o que se pode constatar através da observação do seu histórico relacional), ela pode desembocar numa utopia, caso não se desfaçam os equívocos em que navega: as narrativas do antigo Império e a sua associação a uma centralidade portuguesa, o luso-tropicalismo associado à ideia de colonização doce e a sua rejeição por parte de quem está ressentido com a colonização dos portugueses, os ‘outros’ das ex-colónias (Martins, 2014). Desta forma, não poderá existir lusofonia com ‘portugalidade’, sendo mesmo um contrassenso avançar com tal associação.
Mesmo que os políticos a ela ligados insistam em adiá-la, a lusofonia deve ser feita por quem a encara com uma dinâmica cosmopolita resultante da globalização, de forma a permitir combater um dos outputs dessa mesma globalização: a homogeneização cultural. Para concretizar esse desiderato, é necessário que quem pretenda colocá-la em prática, esteja mentalmente ‘descolonizado’ para que os equívocos que lhe estão associados possam desaparecer. A lusofonia deverá ser construída, assim, diariamente.
This research aims to observe how the 'Portugalidade' - a term coined during the ‘Estado Novo’ a result of a colonial imaginary centered in Portugal, in a supposedly superior level to its former colonies - punctuates the construction of a post-colonial concept, the concept of Lusophony.
After the revolution of April 25 (‘The Carnation Revolution’) and as a result of an ideological break from the previous regime, this concept has been however reintroduced, either through the political class, through marketing or branding professionals, or by means of random situations.
The truth is that the word is absent from most Portuguese reference dictionaries, and encyclopedias. Attempts to determine the meaning of the word are being developed by the most common dictionaries, although they do so in such an open way that rather, more than typifying it, they feed the misconceptions underlying it. It is argued, therefore, that the word 'Portugalidade' should be exemplified, by contextualization.
The concept 'Portugalidade' results from the objective of the ‘Estado-Novo’, to let its former colonies be recognized by the United Nations not as non-autonomous territories, but as part of the Portuguese territory (overseas provinces). This concept was reinforced by the parliamentary political speeches of the National Assembly members, from 1951, abolition date of the ‘Ato Colonial’ (Colonial Act). All this strategy aimed to combat the independence movements that emerged in the former colonies, defending that these territories belonged to Portugal, via its 'historical destiny'. This fact was underlined in the political discourse of 'Portugalidade', with the assumption of Portugal, as a unified country: “Portugal from "Minho to Timor”.
With the end of World War II, most of the empires collapsed whereas in the Portuguese case the assumed 'empire' would extend for over three decades. How was all this dynamic reflected in the Portuguese-speaking world? Can Lusophony be centered in Portugal, as a product of the 'Portugalidade'? Does this perspective make sense when globalization has brought down the boundaries and diluted the singular identities, allowing you to envisage relations based on multiculturalism and interculturalism?
As a result of this investigation it can be inferred that the Lusophony is a difficult construction to achieve in a process full of dividing lines among the member countries of the CPLP (which can be seen by observing their relational history) and that it can develop into an utopia if the misconceptions which surround it are not solved: the narratives of its ancient empire, its association with a Portuguese centrality, the Luso-tropicalism and sweet colonization idea and its rejection by those who are resentful of the colonization of the Portuguese, the 'other' from former colonies (Martins, 2014). Therefore, Lusophony cannot coexist with 'Portugalidade', and it is even an absurdity to move forward with such an association.
Even if politicians insist on postponing it, Lusosphony should be made by those who look at it from a cosmopolitan perspective resulting from globalization, in order to combat one of the outputs of globalization: cultural homogenization. In order to achieve this aim, those who want to put it into practice, should be mentally 'decolonized' so that the misunderstandings associated to it, could disappear. The Lusophony should be built, ‘so-to-speak’ on a daily basis.
Foi assumido como referencial o conceito abrangente de “Educação para os Media”, enquanto conjunto de competências (e processos da respectiva aquisição) relativas ao acesso, uso esclarecido, pesquisa e análise crítica dos media, bem como capacidades de expressão e comunicação através desses mesmos media.
Calls abertas - PAINEL 20: "Reparações históricas e a desmontagem do passado colonial" - coord. Vítor de Sousa & Sheila Khan (CECS-Universidade do Minho)
Todas as propostas de trabalho devem ser enviadas até 15 de setembro e devem conter:
- Título da Comunicação
- Resumo até 300 palavras
- 3 a 5 palavras-chave
Formulário: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSedZVxgE8lKq2M7G9Z87J-utOUxzKlXYIGhs7INTg-smuXJsw/viewform?fbclid=IwAR2H_LjIcT-1I1wdfZbpvJAP1XVPxDjSrDZRcTsxJt05quDV4fYU5MfyFBo
Call completa: https://activismsinafrica2023.weebly.com/call-for-papers...
Organização:
Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto (CEAUP)
Parceiros institucionais:
Centro de História da Universidade de Lisboa (CH – ULisboa)
Centro de Estudos Sociais Amílcar Cabral (CESAC)
Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP)
Apoio: Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT)
O Congresso ILIC é um evento interdisciplinar que procura refletir sobre os diferentes fenómenos que constituem e relacionam os países lusófonos. Toma-se como ponto de partida as efemérides que compõem o mosaico cultural brasileiro: os 200 anos da Independência do Brasil e os 100 anos da Semana de Arte Moderna de São Paulo. As atividades do ILIC_22, ocorrerão simultânea, presencial e virtualmente no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da Universidade do Minho, no Centro de Comunicação e Letras (PPGL/CCL) da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Editors: Vítor de Sousa, vitordesousa@ics.uminho.pt (CECS, University of Minho, Portugal), Sheila Khan, sheilakhan31@gmail.com (CECS, University of Minho, Portugal) and Pedro Schacht Pereira, pereira.37@osu.edu (State University State University ohio State University, USA)
The contestation of ethnocentrism by post-colonial critique, among other consequences, has questioned various panegyrics of memory in public space. Concepts whose mission was to confer stability on the social world are therefore being questioned today and are becoming increasingly obsolete. In this specific case, there is the idea of the museum and other manifestations in the public space, such as statuary. In addition, issues considered to be fractious, such as systemic racism, the survival of old colonial logics of racialisation and racial surveillance, and the struggles for gender equality, are adding up against the status quo.
2020-12-22
Organizadores:
Carlos Alberto Máximo Pimenta / Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI- Brasil)
Edson Capoano / Universidade do Minho (UMinho-Portugal)
Pedro Rodrigues Costa / Universidade do Minho (UMinho-Portugal)
Vítor de Sousa / Universidade do Minho (UMinho-Portugal)
Trata-se de chamada pública de textos para compor o dossiê “O contemporâneo visto pelo ecrã: políticas, culturas, memórias e identidades”, a ser publicado na RCH–Revista Ciências Humanas (e-ISSN 2179-1120) dos Programas de Pós-Graduação em Desenvolvimento Humano e em Educação da Universidade de Taubaté. Portanto, este dossiê se propõem reunir reflexões que discutam as inseguranças de nossos tempos que “colocam em xeque” a ordem política, econômica, social, cultural, moral, ética, intelectual, simbólica e subjetiva estabelecida a partir de um consenso cêntrico “ditado” pela cultura ocidental que desfila nos ecrãs (entendido como “tela” de cinema, televisão, computador, celular, tablet, etc.), mas traz, consigo, o fortalecimento do debate sobre a condição humana.
Dessa premissa, impõe leituras distintas da realidade, em que se abrem perspectivas para outros e novos conhecimentos “abafados”, “calados”, “omitidos”, “desprivilegiados”, “subalternizados”, “colonizados” ou para “novas” e “outras” interpretações de distintas formatações de linguagem e comunicação social, diante de um modelo hegemônico de desenvolvimento, crescimento, ordem e progresso aplicados, com maior ou menor grau, a todos, em escala mundial. Abrem-se, por isso mesmo, face as “imposições” dos tempos informacionais e tecnológicos que experimentamos, amplos campos de disputa “dos”, “nos” e “pelos” sistemas de linguagens e de comunicações sociais que “afetam”, para o bem e para o mau, questões de políticas, culturas, memórias e identidades.
Do quadro enunciado, esperamos que este dossiê aglutine um conjunto de textos, pesquisas e pesquisadores que trabalhem temáticas contemporâneas, de caráter interdisciplinar, teórico e empírico, tendo questões e interfaces entre “políticas”, “culturas”, “memórias” e “identidades” vividas e experenciadas que aglutinem preocupações que percebam as disputas no campo das comunicações e linguagens sociais no sentido de constituir outras plataformas de desenvolvimento social, ambiental e econômico, tais como:
(1) problemáticas, desafios e consequências da era digital (participação, formação, educação, ética, violências, subjetividades);
(2) políticas e (bio)diversidades culturais;
(3) inovações, manifestações e processos populares de geração de renda;
(4) Trajetos e trajetórias descolonizadoras do sul ao norte, do “centro” à “periferia”; (5) Relações migratórias–travessias, dinâmicas interculturais, identidades transculturais e “artivismo curatorial”.
Prazo de Submissão: 30 de março de 2021 .
Data Prevista das Publicações : a partir de abril de 2021.
Critérios: - Os textos devem ser escritos dentro das exigências da RCH, conforme diretrizes indicados no endereço: https://www.rchunitau.com.br/index.php/rch/about/submissions.
https://www.rchunitau.com.br/index.php/rch/announcement/view/10
A complexidade do tema que nos reúne nesta conferência apela a um debate escorado num pensamento transdisciplinar que convida para a mesa de trabalhos o contributo de áreas diversas das ciências sociais e humanas. Em tempo de crispação social, económica e política na Europa, impõe-se a necessidade de pensar criticamente sobre as transformações que vêm sublinhar as contradições e fissuras do espaço europeu e que nos interpelam, enquanto europeus do Sul, a compreender o lugar da Europa no mundo contemporâneo. Para tal, importa revisitar o lastro de história e memória de que se fazem as relações entre as nações europeias, mas também com os espaços extra-europeus, particularmente no quadro das dominações coloniais. Do mesmo modo, é dada especial atenção à forma com as ligações da Europa ao mundo são trabalhadas no campo da produção cultural e artística. No quadro de grandes mudanças societais, que nos confrontam com os limites da condição humana e da sua relação com a natureza, e face à tibieza das respostas políticas, este encontro pretende discutir as reconfigurações que se operam na relação da Europa com o mundo e do mundo com a Europa.
O equipamento cultural sofreu as vicissitudes relativas às transformações políticas que o país também sofreu, tendo estado mesmo fechado durante um período de tempo, logo a seguir à independência de Moçambique. O que determinou que a cultura devia estar ao serviço da “moçambicanidade”, e não da retórica colonial portuguesa, como é sublinhado na brochura que foi publicada para assinalar os 50 anos do Museu, tipificado como a sua alma mater. Trocou-se um essencialismo colonial por outro pós-colonial, num processo que ainda hoje não é fácil, uma vez que tem que se adaptar à realidade social, que navega num mar de imensa pobreza e em que a cultura não é um bem de primeira necessidade.
Sendo diverso nas suas diferentes geografias, por conseguinte a “moçambicanidade” também o deveria ser, o que não deixa de ser um contrassenso, nomeadamente à forma como se tentou implementar essa dinâmica identitária, refletindo uma alegada unidade nacional, muito longe da realidade. Atribui-se a Eduardo Mondlane a paternidade dessa “moçambicanidade” que o atual museu faz questão de sublinhar, muito por culpa do acervo sobre a cultura Makonde, que constitui o seu pilar mais forte, lembrando que a guerra de libertação que derrotou o colonialismo português, também teve por missão resgatar a identidade cultural dos moçambicanos. É assim que, na contemporaneidade, os descendentes dos Makonde vão sublinhando que eles tinham sido vítimas de colonização cultural por parte dessa “moçambicanidade”, facto que que tinha que ser desconstruído, através do regate da “sua” identidade, integrando essa memória com a contemporaneidade.
A “moçambicanidade”, enquanto identidade reificada constitui um problema, já que a ela se associa o povo, restando perguntar quem é, afinal, o povo que, embora pertença a um país através da nacionalidade, é diverso entre si e, mesmo, entre pessoas do mesmo grupo. Escrever que a “moçambicanidade” é sinónimo do conjunto dos caracteres e das maneiras de pensar, de sentir e de se exprimir próprios dos moçambicanos (ideia a que se pode chegar pela consulta de qualquer dicionário), não deixa também de ser problemático.
Sublinhar a “moçambicanidade” enquanto recorte identitário, mostra a adequação daquele espaço cultural como estando ao serviço da política do poder vigente, daí ter sido incluído na rede nacional moçambicana de museus. Trata-se de um ideário que decorre do corte com o colonialismo português e da emergência do socialismo “libertador” consequente.
In complex and dated issues - where the digital trail is scarce and it is therefore necessary to consult primary sources, which are sometimes difficult to access - interpretative hermeneutics proves to be a good approach. It presupposes exhaustive reading, comparisons and the development of possible new theories resulting from them, as well as calling for other types of interpretations of the world, with the help, for example, of other qualitative methodologies.
Post-colonialism, despite its weaknesses, was a time to pulverise categories that were previously considered canonical and therefore not very questionable. The decolonisation of knowledge made it possible to take steps forward in research, despite destabilising the social world, which was based on logics that were thought to be reified. Since society has never been reified, neither has the social world, so the paradigm for problematising knowledge had to change.
In this communication, we present 'portugality' as a practical case of an investigation based fundamentally on hermeneutics. In conclusion, we define "portugality" as an essentialism of the Portuguese dictatorial regime (Estado Novo), coined in the 50s and 60s of the 20th century, in order to emphasise that Portugal was a single, indivisible country that went all the way to East Timor, embodied in the slogans that "Portugal is not a small country" / "Portugal from Minho to Timor", which was in vogue at the time. Aimed to emphasise to the UN that the overseas provinces/colonies were part of the country's alleged "historical destiny", at a time when when independence movements were emerging in the former colonies and the colonial/liberation war was raging.
Partindo do princípio de que a sociedade não é reificada e estando as identidades dentro da própria sociedade, também elas não podem ser, necessariamente, estáticas. Ao contrário, são dinâmicas e diversas. Pelo que a relação com o outro não pode ser um espelho que reproduza o próprio, como acontecia no tempo colonial, mas uma possibilidade intercultural, assente na diversidade. O que quer dizer que a cultura é composta de um número diverso de culturas, diretamente proporcional às características de determinado grupo de indivíduos. Tem como pressuposto imprescindível a compreensão elaborada da sociedade contemporânea, o que só será possível através do contraste com a sociedade tradicional europeia, anterior à revolução industrial. Pelo que a cultura não é algo de estático, uma vez que é composta por heranças espirituais, por crenças religiosas, por manifestações da atividade humana, que estão relacionadas de forma direta com as condições económicas, políticas e sociais de cada ser humano e de cada comunidade, pelo que os desafios a que esta realidade está exposta são muitos e contraditórios. Apesar de muitas vicissitudes em que navegam, os estudos pós-coloniais permitiram, progressivamente, descolonizar o conhecimento e quebrar com o cânone, desestabilizando o mundo social que, até então, não estava aberto à contestação de categorias. Declinar identidade e a cultura no plural, esbate as determinações relativas à pertença territorial, através da ideia de transculturalidade e de transnacionalidade.
Nenhuma sociedade pode existir sem cultura, englobando esta tanto os aspetos intangíveis como os aspetos tangíveis, podendo os valores, mesmo no seio de uma sociedade ou comunidade, ser contraditórios e entrarem em conflito. O conceito de cultura – de culturas -, é, dessa forma, uma ferramenta inestimável que tem sido largamente ignorada nas tentativas de reconfigurar as formas como os governos planeiam o futuro e avaliam o passado. A relação entre as culturas e o desenvolvimento sustentável tem sido um caminho traçado progressivamente ao nível internacional
E, mesmo que Agenda das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (2015), não referisse objetivos para a cultura entre as 17 metas globais, ela é aqui assumida como o “quarto pilar da sustentabilidade”.
Palavras-chave: Informação e Comunicação; Educação para os Média; Culturas; Identidades; Culturas e desenvolvimento sustentável
O que significa falar, hoje, em diáspora? A dispersão, associada à origem do conceito, ainda serve de significado em tempo de globalização? Com esta comunicação pretende-se observar a evolução do conceito de “diáspora” à luz da ideia de que o fim do colonialismo não impediu que o imperialismo persistisse. Mapeiam-se as problematizações sobre diáspora, olhando para o caso português.
Através do conceito de transculturalidade, sustenta-se a ideia de que as culturas estão em processo constante de interação e de mistura. É deixado para trás o luso-tropicalismo e o conceito unívoco de cultura, voltando-se o foco para a diversidade das lusofonias.
A reboque de José Eduardo Agualusa (“Os Vivos e os Outros”, 2020), evidencia-se a perspetiva de que nas cosmovisões africanas as contradições são relativas, pelo que uma mesma história pode ser habitada por ritmos muito diferentes de histórias que funcionam juntas apesar das suas diferenças.
A interculturalidade está patente na diáspora? O que acontece quando se associa a diáspora à “portugalidade”? De que forma é que o emergir dos nacionalismos pode colocar em causa a diversidade?
O que significa então, hoje, a verdade? Será que a luz ilumina a realidade? A luminosidade em excesso não pode provocar cegueira? Há um mundo paralelo criado pela dissimulação da luz? O dos média, por exemplo, que deixam fora do agenda setting e do framing, a maior parte da realidade? (Sousa, 2017).
Partindo das noções de gatekeeping e de newsmaking, esta comunicação pretende refletir sobre o ethos do campo jornalístico (Bourdieu, 1992), e a criação de uma realidade paralela, por vezes equívoca e com recortes totalizantes, abordando o fenómeno crescente da infodemia, que ganhou lastro com a pandemia da C-19 e das fake news, e do desenvolvimento generalizado das redes sociais. Para tanto, apresenta-se um estudo desenvolvido junto de alguns jornalistas portugueses e brasileiros durante a pandemia (Sousa, Costa, Capoano, & Paganotti, 2020; Sousa, Costa, Capoano, & Paganotti, 2022), para além de uma análise no quadro das redes sociais relativa à comunicação do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro ([no prelo], Capoano & Sousa, 2023).
Conclui-se que os sistemas mediáticos reforçam, nais do que desafiam, as estruturas sociais de poder.
Referências
Bourdieu P. (1992). Réponses. Paris, Seuil.
[no prelo] Capoano, E. & Sousa, E. (2023).
Leiderfarb, L. (2015, 18 de abril). Entrevista a Umberto Eco. Expresso (Revista), pp. 28-33.
Berger, P. L. & Luckmann, T. (1999 [1966]). A Construção Social da Realidade. Lisboa: Dinalivro.
Sousa, V. (2017). A luz, as sombras e a procura da verdade. Os média e a construção de uma realidade equívoca e totalizante. (OBS*) Observatorio, Vol 11, nº1 (20-40). DOI: 10.7458/obs1102017979 [http://obs.obercom.pt/index.php/obs/article/view/979/pdf] [https://hdl.handle.net/1822/45211]
Sousa, V., Costa, P. R., Capoano, E & Paganotti, I. (2020). Riscos, dilemas e oportunidades: Atuação jornalística em tempos de Covid-19. Estudos em Comunicação/ Communication Studies, nº 31, (1-33). DOI: 10.25768/20.04.03.31.01 [https://hdl.handle.net/1822/68692]
Sousa, V., Capoano, E, Costa, P. R. y Paganotti, I. (2022). ¿La Covid-19 ha infectado las noticias? Cómo los periodistas, las audiencias y los procesos de producción son alterados por las pandemias. Universitas-XXI, Revista de Ciencias Sociales & Humanas de la Universidad Politécnica Salesiana, Ecuador, 37, pp. 19-41. https://doi.org/10.17163/uni.n37.2022.01 [https://hdl.handle.net/1822/79464]
representar o “outro”? O que vai no sentido contrário a uma visão colonialista, assente num tempo único e global, tendo em mente a possibilidade de construção e reformulação das identidades (Hall, 1992; Bhabha, 1994) e que nos leva ao conceito de transculturalidade, que Wolfgang Welsh (1999) desenvolveu, deitando por terra a ideia de culturas únicas. O momento atual é paradigmático em relação a essa dinâmica, com os lugares de enunciação a modificarem-se progressivamente, mudando paradigmas que antes não eram postos em causa. É nesse contexto que o ICOM-Conselho Internacional de Museus, a maior organização internacional de museus, redefiniu o próprio conceito de museu, sublinhando tratar-se de
estruturas inclusivas, fomentando a diversidade (Keep, 2022). O que quer dizer que aquilo que existe nos museus e nos arquivos pode ser dito de outra maneira. O que não significa, no entanto,que se devam esconder partes da História, como sublinha Nicholas Mirzoeff, professor universitário, ativista visual, em entrevista à revista Visão (Correia, 2020). O mesmo acontece com a estatuária pública edificada em período colonial mas que collide com dinâmicas que nada têm que ver com colonialism, ou mesmo outras estátuas que emergiram já sem Impérios, mas remetendo para imaginários anacrónicos. É neste quadro que surge o conceito de “artivismo”, que ainda é um neologismo e está longe de ser consensual na área das Ciências Sociais e Humanas e, mesmo no das artes. Pode ser encontrado em intervenções sociais e políticas, refletindo e interrogando temas e situações num dado contexto histórico e social, visando a mudança ou a resistência a determinado statu quo. Esta postura de, que está na fronteira, muitas vezes, do que o Estado de Direito impõe, podendo
transformar-se em vandalismo, faz questionar a postura do investigador, quanto à sua posição de atuação.
Nesta comunicação, para exemplificar a dinâmica “artivista”, promovemos a reflexão sobre esta problemática, observando a tentativa de descolonização do Museu Real da África, em Tervuren (Bélgica), um símbolo colonial por excelência, que reabriu em 2018 como o AfricaMuseum, após cinco anos de reforma; exemplificamos, ainda, com as pichagens das estátuas portuguesas do Cónego Melo (Braga, 2013), e do Padre António Vieira (Lisboa, 2017). Palavras-Chave Descolonização do conhecimento; “Artivismo”; Interculturalidade; Estatuária; Museologia Keywords
Decolonization of knowledge; “Artivism”; Interculturality; Statuary; Museology
Referências
1. Bhabha, H. (1994). O local da cultura. Editora UFMG.
2. Brito, J. P. (2016). Museus e interrogações num mundo global. In D. R. Curto (org.), Estudos Sobre a Globalização (pp. 509-515). Lisboa: Edições 70.
3. Correia, A. (2020, 12 de junho). Entrevista a Nicholas Mirzoeff: “Não podemos afirmar que os europeus descobriram o resto do mundo. Dizê-lo significa aceitar que aqueles povos não são nossos iguais”. Visão online [https://tinyurl.com/y82cfvh7/]
4. Hall, S. (1992). A identidade cultural na pós-modernidade. DP&A Editora.
5. Keep (2022, 26 de agosto). ICOM aprova nova definição de museu
[https://tinyurl.com/2p8rysbj]
6. Welsch, W. (1999). Transculturality - the puzzling form of cultures today. In M. Featherstone and S. Lash (ed.), Spaces of culture: City, nation, world, pp 194-213. London: Sage.
Utilizando apenas imagens captadas pelos serviços da propaganda do Estado, a montagem que o realizador fez delas evidencia a verdade oficial, que refletia uma paz única, enquanto o mundo estava envolvido numa guerra global. Foi essa a fantasia que deu o nome ao filme. Nos anos 40 do século XX Lisboa, que acolhia refugiados de todo o mundo, vivia uma fantasia de paz e de felicidade em contracorrente com as capitais da Europa atingidas pela invasão nazi.
Mostram-se muitas imagens da Exposição do Mundo Português de 1940 (o ponto alto da propaganda do Estado Novo), justapondo-se textos de três viajantes estrangeiros célebres que passaram por Lisboa durante aquele período, fugindo do conflito: Alfred Döblin, autor de "Berlin Alexanderplatz", Erika Mann, filha de Thomas Mann, e Antoine de Saint-Exupéry, autor de "O Principezinho". Este, sublinhava que Lisboa lhe surgia como uma espécie de paraíso claro e triste, evidenciando a para realidade criada. O filme cruza as imagens triunfalistas do Portugal paradisíaco com o olhar simultaneamente poético e lúcido dos textos lidos em "voz off" e funciona como uma desmontagem metódica da tentativa de criação de uma identidade virtual.
Canijo desmonta a irrealidade identitária portuguesa, inoculada no tempo do fascismo, e que perdura na atualidade, pautada por uma alegria melancólica, mostrando como o Portugal de ontem continua, de certa forma, na contemporaneidade.
Muitos dos panegíricos de memória que pontuam o espaço público têm sido colocados em causa pela crítica pós-colonial. Conceitos que, antes, davam estabilidade ao mundo social, têm vindo a ser estilhaçados, como é o caso dos museus, da estatuária, e da toponímia. Por outro lado, são discutidos assuntos que, anteriormente, pareciam ser reificados, como o racismo sistémico, a sobrevivência de velhas lógicas coloniais de racialização e de vigilância racial, e as lutas pela igualdade de género.
A modernidade ocidental sustentou a sua ideologia através da hegemonia, da violência, da racialização e, entre outras, da vigilância racial, distanciando o mundo da sua diversidade. O que aconteceu através do desenvolvimento de políticas decorrentes de um olhar hegemónico do Ocidente, por intermédio de critérios que excluíam, desde logo, todos aqueles que não estavam enquadrados nessa narrativa de civilização. O que se repercutiu em quase todo o planeta e, em consequência, condenou ao atraso de muitos milhares de seres humanos. Estudar o passado pode traduzir-se, assim, numa postura ética, moral e cívica, promovendo a reflexão e o questionamento sobre a permanência de antigas lógicas de colonialidade na contemporaneidade. A globalização permite outros modos de relacionamento, sustentados, por exemplo, numa lógica alter-globalista, em que se sublinha o argumento de que o mundo não é estático, nem historicamente homogéneo.
O caminho percorrido até ao pós-colonialismo foi duro e tortuoso e, por isso, exige um exercício de dever de memória coletivo. É importante compreendermos os legados dessa colonialidade moderna, pelo que urge colocar no cerne do debate – que deve extravasar a academia -, as múltiplas vozes e as narrativas que ajudam a contribuir para um mapeamento mais profundo, e compreensivo dos mecanismos do passado colonial ainda ativos na nossa contemporaneidade. Tanto mais que, num quadro em que já não existem colónias, a narrativa pouco mudou. O olhar – que permanece ocidental -, é agora dirigido para uma dinâmica relacional ecuménica e universal, continuando a dirigir-se para o outro para que se veja o próprio, deixando de fora, uma vez mais, a diversidade.
As memórias, as narrativas, os manifestos, os ativismos sociais e os debates em torno do reconhecimento e da reparação histórica transformaram-se do ponto de vista cultural e político num terreno fértil e um compromisso onde se travam combates pela construção de uma narrativa mais justa, equitativa e reparadora.
Este painel está aberto a comunicações que contemplem temáticas como i) os legados da colonialidade; ii) colonialidade vs. interculturalidade; iii) luso-tropicalismo e repercussões na sociais atuais; iv) descolonização de museus, estátuas e outros monumentos públicos; v) arte, memória e literaturas pós-coloniais; vi) a pós-memória como dever de memória; vii) reparação histórica: memória, escravatura e raça/genética humanista e raça/nacionalismo e populismo; viii) Black Lives Matter como movimento reparador; ix) artivismo curatorial; x) redes digitais e interculturalidade; xi) novas ferramentas de colonialidade: Big Data e algoritmos; xii) discursos mediáticos, memória e transformação.
Palavras-chave: Passado colonial; Reparações históricas; Descolonização do conhecimento
Em problemáticas complexas e datadas – em que o rasto digital é escasso, pelo que é necessário consultar fontes primárias -, a hermenêutica interpretativa revela-se uma boa proposta a seguir. Pressupõe leituras exaustivas e comparações e desenvolvimento de eventuais novas teorias delas resultantes, para alem de convocar outro tipo de interpretações do mundo, com ajuda, por exemplo, da análise de conteúdo e de outras ferramentas.
O pós-colonialismo, apesar de ter as suas debilidades, constituiu um momento para pulverizar categorias anteriormente consideradas canónicas e, por conseguinte, pouco questionáveis. A descolonização do conhecimento permitiu dar passos em frente, apesar de desestabilizar o mundo social. Que, não sendo reificado, não poderá gerar ele-próprio conhecimento reificado, mas dinâmico.
Nesta comunicação, apresentamos a ‘portugalidade’ como caso prático de uma investigação assente, fundamentalmente, na hermenêutica.
Este trabalho vai utilizar dados coletados pela empresa APExata, que obteve dois anos (janeiro de 2019 a dezembro de 2020) de posts no Twitter, geolocalizados em 145 cidades, de todos os 27 estados brasileiros, sobre comentários que tratam do então presidente do Brasil. Nessa mostra, obtida através da análise de sentimentos e polaridades, foram medidas as emoções alegria, confiança, medo e tristeza, com as quais se pôde ponderar se as menções ao presidente foram positivas ou negativas. Os dados mostram menções positivas durante 275 dias (34.03% da coleta total), 463 dias negativos (57.30%) e 70 dias neutros (8.66%). A APExata também realizou avaliação dos picos e vales da popularidade do presidente, que oscilou entre positiva e negativa até o início da pandemia de covid-19 (março de 2020), quando então só se registraram avaliações negativas.
Nesta comunicação, será defendida a hipótese de que o presidente utiliza recursos populistas e emocionais (Araújo & Prior, 2021) para reagir aos piores momentos de avaliação nas redes sociais, materializados através de discursos, fatos ou factoides, publicados na imprensa profissional ou nas redes sociais. Para isso, serão apresentadas 10 notícias logo ao dia seguinte algumas das piores avaliações sobre governo, registradas por análise de sentimentos de tweets, entre 3 de janeiro de 2020 e 18 de março de 2021. Destas, será feita uma análise de como recursos populistas e emocionais nos fatos, factoides ou discursos buscaram reverter a queda de popularidade digital de Bolsonaro.
O referencial teórico deste trabalho se ancora nos conceitos de emoções (Keltner & Haidt, 2001; Skonieczny, 2018; Barclay, 2021; Umraliyeva et al., 2022); a relação das emoções com o discurso populista (Rico et al., 2017; Kinnvall, 2018; Demertzis, 2019); a ascensão do populismo e do nacionalismo nas mídias sociais (Cesarino, 2019; 2020; Kissas, 2020; Gil de Zúñiga et al., 2020; Schroeder, 2021; Mendonça & Caetano, 2021).
Peter Dahlgren (2014) afirma que as redes sociais são plataformas com um grande déficit de democracia, uma vez que funcionam à base da replicação da semelhança e não da promoção da diferença; o que potencia o surgimento de um aparente consenso, plasmado em bolhas sem contestação nas relações entre indivíduos intermediadas por essas plataformas online. José Pedro Zúquete (2022) compara o populismo a um camaleão. Talvez por isso, é que os políticos populistas direcionam o seu discurso quase exclusivamente para os novos média, relegando para um lugar nada relevante os média tradicionais, alterando o ecossistema que tem estado em vigor, relativo ao papel escrutinador dos média.
Líderes políticos aproveitam a dinâmica de presentismo (Hartog, 2003), em que tudo o que emerge na sociedade, parece ter começado hoje não havendo um histórico que contextualize os procedimentos. O que quer dizer que a simultaneidade terá sido responsável por um novo regime de historicidade, uma espécie de presente contínuo, caracterizado pela aceleração, e em que o presente e o passado se dão a mostrar de forma disruptiva. É nesse quadro que Enzo Traverso (Observing Memories, 2018) sublinha a urgência em libertar o presentismo da sua gaiola – como se produzisse um mundo trancado no presente sem capacidade de olhar para o futuro – acomodando as memórias existentes.
Se não houver medidas tendentes a inverter este status quo, como o incremento da regulação dos média -, a situação pode degradar-se para níveis de difícil recuperação. Mesmo que a indignação, quando exercida pelos cidadãos, continue a contribuir para resolver conflitos e problemas (Innerarity, 2019). O que pode, por outro lado, significar que as redes sociais que ajudaram a abrir o caminho a Bolsonaro, também podem destituí-lo, caso não corresponda às expectativas de quem o elegeu (Fernandes, 2018).
Araújo, B., & Prior, H. (2021). Framing political populism: The role of media in framing the election of Jair Bolsonaro. Journalism Practice, 15(2), 226-242.
Barclay, K. (2021). Emotions in the history of emotions. History of Psychology, 24(2), 112–115. https://doi.org/10.1037/hop0000162
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PALAVRAS-CHAVE: Luso-tropicalismo; Identidades transnacionais e transculturais; Lusofonias; Estudos Pós-coloniais; Interculturalidade.
A identidade do “eu” está sujeita à presença de um “outro”, não de forma a apagar os seus próprios valores, mas a permitir a expansão das suas visões de mundo. Através do conceito de transculturalidade (Welsch, 1999), sustenta-se a ideia de que as culturas estão em processo constante de interação e de mistura. Tal como a identidade e a lusofonia, a noção de cultura deve ser declinada no plural, não remetendo para uma centralidade hegemónica, como quando o conceito era convocado no século XVIII.
É por isso que encarar o facto de os países que falam português se poderem (des)entender através dos mesmos códigos comunicativos, percebendo as idiossincrasias de cada um, pode ser importante para combater a globalização uniformizadora.
O pressuposto da interculturalidade impede a homogeneidade e a uniformidade, promovendo a diversidade. Esta comunicação, dedicada à problemática das identidades transnacionais e transculturais, tem um posicionamento pós-colonial, olhando para as lusofonias enquanto possibilidade intercultural.
É por isso que encarar o facto de os países que falam português se poderem (des)entender através dos mesmos códigos comunicativos, percebendo as idiossincrasias de cada um, pode ser importante para combater a globalização uniformizadora, que reduz ao mesmo tudo o que é diverso.
Tal como a identidade e a lusofonia, a noção de cultura deve ser declinada no plural, não remetendo para uma centralidade hegemónica, como quando o conceito era convocado no século XVIII. Nesse quadro, o Museu Virtual da Lusofonia (MVL) pode dar um contributo importante, através da via digital, no desenvolvimento da interculturalidade. Assenta na hipótese de que possa ser feita uma travessia tecnológica, transnacional e transcultural, com o objetivo de desenvolver o interconhecimento dos países que falam português enquanto espaços híbridos, marcados por um passado colonial comum, para além de promover o desenvolvimento da cooperação científica, cultural e artística entre os seus povos.
Mesmo que, na prática, as relações não sejam assim mensuráveis, já que a forma como o poder é exercido, o contexto e o seu desenvolvimento, podem pesar para um dos lados. Só que, o pressuposto da interculturalidade impede a homogeneidade e a uniformidade, promovendo a diversidade.
Numa época em que o confinamento domiciliário se tornou a regra, o consumo desse imaginário pandémico pela via ecrãnica e digital ganhou ainda mais destaque. Instalou-se, por esta via, um imaginário pandémico, enquadrando uma paisagem, também ela imaginária, ao mesmo tempo que se desenvolvia um intelecto pandémico racionalizado para o qual muito contribuíram os média.
Para além do imaginário, as práticas sociais foram também afetadas. A ecranização da vida quotidiana ao longo do período pandémico fortaleceu os cinco grandes efeitos sociotécnicos que condicionam a informação e a forma como ela articula a memória e o presente: ubiquidade, instantaneidade, aceleração, mobilização e presentismo. A compressão espácio-temporal no período pandémico foi avassaladora. As restrições de diversas práticas sociais evidenciaram um estilhaçamento das teorias canónicas de Newton, fazendo-se olhar para as de Einstein, que incluíam tempo e espaço juntos e não vistos de forma separada, pelo que se torna difícil ter certeza sobre a dinâmica do confinamento num determinado período, bem como avaliar as suas repercussões futuras.
Um dos grandes impactos das forças que irradiaram da pandemia foi a nuance colocada sobre o presente, nesse espaço-tempo que permite a consistência do movimento no fluxo da vida e o encontro e a intensificação das forças vivas do passado e do futuro. Ao gerar diversas crises em simultâneo no mesmo espaço tempo, dificultou a perceção à escala macro. Algo que só teria paralelo nas duas guerras mundiais. A crise relacionada à pandemia Covid-19 parece ser a terceira, pois tem recortes globais e quase nenhum país escapou. O problema dessa crise foi o seu imediatismo, fator esse que constitui a grande diferença em relação às outras crises.
O confronto com a “verdade” pandémica (histórica e científica) no conforto do ecrã pode ter acelerado o futuro, colocando-o à mercê de processos sócio-históricos que já estavam em curso. Uma vida mais digital é já um indício. Porém, não se vislumbram, a curto, médio ou longo prazo, grandes correções dos atuais e anteriores desequilíbrios sociais e económicos a um nível global. O certo é que o futuro será (ainda mais) incerto do que o normal. Será este um novo normal, induzido por um intelecto tecnológico que estava em crescendo, que aproveitou a compressão espácio-temporal para acelerar?
Esta comunicação pretende sugerir pistas para esta questão, bem como demonstrar a presença do imaginário das pandemias passadas na atualidade, observando assim a forma como nos apropriamos dessas memórias para criar soluções e práticas no presente.
Palavras-chave: Pandemia Covid-19; Pandemias ao longo da história; Memória; Tempo; Espaço
A adoção do luso-tropicalismo por parte do Estado Novo serviu para justificar a sua retórica em relação aos então territórios ultramarinos. Primeiro, enquanto colónias e, já nos anos 50 do século XX, designados de províncias. Uma dinâmica tendente a sublinhar o slogan então em vigor, “Portugal não é um país pequeno”, para além de marcar posição junto da Organização das Nações Unidas, no sentido de que os movimentos independentistas que emergiam nas então “províncias ultramarinas” vissem inviabilizada a sua pretensão de autodeterminação, uma vez que pertenciam a Portugal, por via do seu “destino histórico”. Foi, de resto, neste período que foi cunhado o conceito de ‘portugalidade’, com a assunção de Portugal como um país uno e indivisível, o que ficou plasmado na ideia então propagandeada que ficou conhecida como “Portugal do Minho a Timor” (Sousa, 2017).
O luso-tropicalismo serve, hoje, para dar corpo ao mito da tolerância racial dos portugueses e até a um alegado nacionalismo integrador e universalista, que conceptualmente não deixa de ser problemático, já que esse tipo de epítetos estão associados normalmente a práticas xenófobas. Isso mesmo pode ser observado no discurso político, como no caso do atual presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, durante o seu primeiro mandato (2016-2021). Mesmo que se perceba que elas estão distantes de um olhar xenófobo, a utilização de conceitos ligados a essas práticas não deixam de levantar vários problemas, tornando as dinâmicas pretendidas equívocas. As intervenções do Presidente da República são mapeadas nesta comunicação através de uma metodologia compósita, assentando numa amostragem não probabilística (por conveniência), tendo sido também utilizada alguma análise de conteúdo. Corrobora-se a ideia defendida por Cláudia Castelo (2011), de que estudar a receção do luso-tropicalismo em Portugal permite perceber como é que as ideias de Gilberto Freyre ainda ecoam no atual discurso político, com o risco atual a residir no facto de o conceito continuar a ser usado de forma acrítica e imobilista.
Palavras-chave: Luso-tropicalismo; Intervenções do presidente da República (2016-2021); O mito da tolerância racial dos portugueses; O nacionalismo português integrador e universalista; Memória
Referências
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Sousa, V. (2017). Da ‘portugalidade’ à lusofonia. Braga/Famalicão-CECS/Húmus.
As investigações científicas dependem fundamentalmente da razão, muito embora o cruzamento com um ideário mítico, simbólico, messiânico e, algumas vezes, esotérico, pareça querer desviar o caminho dos trilhos definidos. Gonçalo M. Tavares (2016) assinala, assim, que a metodologia serve para alcançar o início, mesmo que evidencie que, mediante determinada metodologia, não se chegue a um resultado, mas apenas a uma metodologia.
O que colide com as ciências aplicadas, por não obedecer a critérios lineares, compostos pelas tradicionais ‘etapas’, presentes nos diversos locais de produção de conhecimento. O que pode desvirtuar o que esteve na base do nascimento das próprias Ciências Sociais e Humanas sendo que, hoje, ao nível científico, não se promove a reflexividade, uma vez que se aposta na construção e não na desconstrução. E, tendo presente que a sociedade não é reificada, a ciência, através dos métodos e das técnicas, está a converter a contingência da vida em eternidade, numa lógica em que o interesse social se mede pela quantidade de tecnologia e de ‘ciência’ aplicadas, como assinala Moisés de Lemos Martins (Coelho & Carvalho, 2013). E, sendo o discurso ação, é o investigador quem deve ser o protagonista dessa mesma ação, uma vez que o discurso é performativo, sendo que os métodos e as técnicas devem estar disponíveis para serem utilizados sempre que se justifiquem, como se estivessem numa caixa de ferramentas (Foucault, 2010/1975).
Coelho, Z. P. & Carvalho, A. (2013). Interview with Moisés de Lemos Martins. In Z. P. Coelho & A. Carvalho (Eds.), Academics responding to discourses of crisis in higher education and research (pp. 61-72). Braga: CECS.
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Tavares, G. M. (2006). Breves notas sobre ciência. Lisboa: Relógio D’Água.
palavras-chave: metodologia; hermenêutica; métodos qualitativos; ciência aplicada vs Ciências Sociais e Humanas
Esta apresentação aborda o caso concreto da lusofonia como possibilidade intercultural.
Palavras-chave: Luso-tropicalismo; Intervenções do presidente da República (2016-2021); O mito da tolerância racial dos portugueses; O nacionalismo português integrador e universalista; Memória
A identidade do “eu” está sujeita à presença de um “outro”, não de forma a apagar os seus próprios valores, mas a permitir a expansão das suas visões de mundo, já que o indivíduo se insere, ao mesmo tempo, no campo de visão de um “outro”. Por meio do conceito de transculturalidade (Welsch, 1999), sustenta-se a ideia de que as culturas estão em processo constante de interação e de mistura. Esta apresentação, dedicada à problemática das identidades transnacionais e transculturais, aborda a lusofonia como possibilidade intercultural, não obstante o seu difícil percurso afetado pelo luso-tropicalismo e pela 'portugalidade' (Sousa, 2017).
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2021-05-05 - Para celebrar o Dia Mundial da Língua Portuguesa, a PLOAD-Portuguese Language Office of Astronomy for Development/Grupo Lusófono de Astronomia para o Desenvolvimento, uma ONG, levou a cabo a iniciativa "A Língua Portuguesa na Astronomia", em que fui convidado. Falei sobre “Identidades transnacionais e transculturais. Pós-colonialidade, lusofonias e interculturalidade. O caso do Museu Virtual da Lusofonia. O português como língua de ciência” (14h00). O ppainel foi assim constituído: Hélio Rocha, presidente da Sociedade Astronómica Brasileira, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil, Eliana Inge Pritsch, professora da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, UNISINOS/BR, doutorada em Literatura Brasileira, Literatura Portuguesa e Literaturas Luso-Africanas, pela UFRGS, Brasil; Paulino Lima Fortes – Universidade de Cabo Verde, Cabo Verde; Teresa Manjate, Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique; Vítor de Sousa – investigador do CECS/UMinho, Projeto Cultures Past&Present e Museu Virtual da Lusofonia, Portugal
A iniciativa teve transmissão direta no Facebook da PLOAD: https://www.facebook.com/PLOAD.IAU/videos/1414193478914543
A lusofonia encerra, no entanto, algumas clivagens, não obstante se afirmar que já tudo foi escrito, faltando apenas colocá-la em prática (Real, 2012). Moisés de Lemos Martins (2014) enumera quatro equívocos que podem explicar esse estado de coisas: olhar a lusofonia a partir da centralidade portuguesa; através da reconstrução das narrativas do antigo império; pela via do luso-tropicalismo e da ideia de colonização doce; e através da narrativa de uma história do ressentimento.
Deixar de considerar as diferenças entre histórias coloniais e processos de colonização pode levar a impor sobre um povo a narrativa pós-colonial de um outro, o que significa, segundo Ana Paula Ferreira (2007) que o colonialismo pode estar a falar em nome de um pós-colonialismo crítico, descentrado e não-hegemónico. O que, consubstancia a apropriação de uma metalinguagem crítica, historicamente descontextualizada, e que acarreta riscos teóricos consideráveis, nomeadamente o de perpetuar a um outro nível a relação colonial que se pretende abolir (Pereira, 2017).
Falar de lusofonia implica abrir o significado da palavra, levando-o para além do seu sentido estrito. A lusofonia ficaria amputada se correspondesse, apenas, aos falantes de português espalhados pelo mundo e não consubstanciasse um lugar simbólico e cultural, extravasando a correspondência semântica de proximidade que lhe esteve na origem, num mundo cada vez mais globalizado, que se inscreve no presente (Martins, 2006).
A consideração desta variável na problemática da lusofonia faz toda a diferença nas possíveis produções de sentido da palavra, cuja utilização foi disseminada após a queda do ‘império colonial português’ tendo, por conseguinte, um recorte pós-colonial. Do trauma decorrente da relação unidirecional de poder entre colonizadores e colonizados subjazem laços culturais e uma língua comum, embora falada de forma diferente consoante as coordenadas geográficas. Trata-se de uma constatação que se reporta à etimologia da palavra com a referência-base a remeter para “luso” (português), que decorre de “lusitanidade” e pode invocar uma ‘portugalidade’ encapotada, termo que serviu de bandeira ao Estado Novo português, mormente a partir das décadas de 50 e 60 do século XX, através da ideia “Portugal do Minho a Timor”.
O conceito de lusofonia encerra, no entanto, algumas clivagens e, não obstante se afirmar que já tudo foi escrito, faltando apenas colocá-lo em prática (Real, 2012), o termo não é consensual. Moisés de Lemos Martins (2014) enumera quatro equívocos que podem explicar esse estado de coisas: olhar a lusofonia como ranço colonial (a partir da centralidade portuguesa); através da reconstrução das narrativas do antigo império; pela via do luso-tropicalismo e da ideia de colonização doce; e através da narrativa de uma história do ressentimento.
Com esta comunicação proponho-me observar o difícil percurso da lusofonia pelos trilhos da ‘portugalidade’ e do ressentimento, observando a publicação de notícias nos média, em determinados momentos, que permita observar o alinhamento que vai sendo publicado com as políticas desenvolvidas pela CPLP e por alguns dos seus países membros. Ratificando a ideia de que a construção social da realidade tem uma grande quota parte de responsabilidade dos média, evidenciando a existência de múltiplas realidades todas elas socialmente construídas (Berger & Luckmann, 1966).
Foi utilizada uma amostragem não probabilística, em que as comparações não apresentam fundamentação matemática ou estatística, dependendo unicamente da escolha do investigador. O processo foi feito por acessibilidade ou conveniência, tratando-se de uma forma destituída de qualquer rigor estatístico, em que o investigador selecionou os elementos a que teve acesso, admitindo que esses podiam, de alguma forma representar o universo. Quanto à recolha de dados, ela foi feita através de documentação indireta, em que na pesquisa documental se utilizou a pesquisa bibliográfica (notícias dos média).
The previous world’s view, too primary, if it didn’t exclude God, interpreted the notions of "Heaven" and "Hell" as consequences of human actions themselves (Mattoso, 2012). The truth is that despite the announced death of God, uncertainty and emptiness still reactivate old and new spiritualities (Lipovetsky, 2007).
What then means the truth today? Does the light illuminate reality? Can the excess of light cause blindness? Is there a parallel world created by concealment of light? Does the media world with its ‘agenda setting’ and 'framing', exclude most of reality? These are reflections that will be dealt with in this article.
São dados que decorrem da análise relativa ao surgimento da ‘portugalidade’ no discurso político do Estado Novo, através da hermenêutica interpretativa dos discursos dos deputados da Assembleia Nacional (1935-1974) – em que existia partido único, refletindo a ideologia dominante -, e que indicam que o termo surge em 1951 (o que coincide com a alteração do ‘ato colonial’ e com a ideia então disseminada ‘Portugal do Minho a Timor’). O que, não obstante a ‘portugalidade’ estar ausente dos dicionários de Língua Portuguesa de referência (mas não das edições mais vulgares), se aproxima do que refere o portal ‘Ciberdúvidas da Língua Portuguesa’, que aponta o surgimento da ‘portugalidade’ nos anos 50-60 do séc. XX.
Cruzei, também, estes dados com os obtidos da análise do discurso parlamentar durante o período pós-revolução 25 de abril ('Constituinte', 1976) e até à atualidade (Assembleia da República, 1974-2012), para observar eventuais alterações nas práticas discursivas em relação à ‘portugalidade’, em tempo de democracia.
Pretendo abordar os conceitos de nacionalismo e patriotismo, com as suas ligações à identidade nacional e, também, observar os contextos da hispanidade e da englishness (e da britishness) com a ‘portugalidade’; e mostrar algumas representações que atualmente são feitas da ‘portugalidade’ na sociedade portuguesa (desde a publicidade à política).
Ainda de que de forma muito abreviada, pretendo expor algumas ideias de como terá sido cunhada a lusofonia, num contexto em que a ‘portugalidade’ se manteve presente e que, ainda hoje, provoca constrangimentos na relação com o ‘outro’ (em ambos os sentidos).
The director shows in an overwhelming way the images used in the Portuguese World Exhibition of 1940 (the high point of propaganda of the Estado Novo) as a reference, overlapping texts of three famous foreign travelers who passed through Lisbon during World War II (Alfred Doblin, author of "Berlin Alexanderplatz", Erika Mann, daughter of Thomas Mann, and Antoine de Saint-Exupéry, author of "The Little Prince"). The mixture of simultaneous triumphal images of paradisiacal Portugal and the lucid and poetic texts read in "voice-off", function as a methodical disassemble with which the film begins (the phrase "everything for the nation" by Salazar) and the attempt to create a virtual identity. It shows a nation of fantasists concerned with the superfluous and where, paradoxically, the foreigners are the ones who believe the least in this less evident reality.
Canijo shows how the Portugal of the past continues today and dispels the unreality of the Portuguese identity, inoculated at the time of fascism, and which still lingers today. After all, the bombing never existed and the people did not wake up, they moved on as sleepwalkers enjoying a melancholy bliss.
- Proceder a um levantamento de informação pertinente sobre a crise do jornalismo, recorrendo a fontes diversificadas (notícias, comentários, ensaios, investigações…);
- Constituir uma base de dados sobre o assunto, devidamente organizada;
- Mapear as mudanças, focando particularmente as alterações nas redacções e nas rotinas jornalísticas; as transformações nos géneros e formatos; as lógicas empresariais e dos grupos mediáticos; a formação e os papeis e identidades dos profissionais; e finalmente os desafios para o jornalismo e para a cidadania, decorrentes do acesso e uso de ferramentas de auto-edição em rede.
- Propor um quadro interpretativo das transformações no campo, reflectindo em que medida tais transformações exprimem e/ou induzem rupturas ou continuidades relativamente aos valores canónicos do jornalismo.
uno, por via do incremento da velocidade e da subversão do conceito de tempo e a consequente fragmentação
(Martins, 2011). Uma mudança que se alastrou ao plano identitário através da ruína dos referentes que davam
aos indivíduos estabilidade no mundo social (Hall, 1992). A disseminação da globalização, encurtou as distâncias,
muito embora sublinhasse as assimetrias. Não obstante, o Ocidente está a perder protagonismo (Huntington,
1996; Morris, 2010), e os estados dos países mais vulneráveis, em perda progressiva de soberania, vão apelando
ao patriotismo, numa atitude que contrasta com o curso dos acontecimentos. A crise vincou a incerteza sobre o
futuro, bem como consolidou a ideia de apocalipse, condicionandoa ideia de ‘esperança’.
notion of dispersion associated with the origin of the concept, a
meaning in the times of globalization? Is there only one or several
Diasporas? With this article we intend to observe the evolution
of the concept of Diaspora based in the idea of Said (1994) who
argues that the end of colonialism did not stop imperialism. We
connected the problematizations made on the Diaspora, among
others, by Cohen (1997), Hall (1998), Bhabha (1998), Riggs (2000)
and Morier-Genoud & Cahen (2013), to the Portuguese case and
the idea of Lusophony. Is interculturality, which promotes identity
interpenetration, reflected in Diaspora? What happens when
combining Diaspora with “portugalidade”? Eduardo Lourenço
(1999) is ironic about the idea of Diaspora, claiming that that is
an abnormality that our long emigrant history will be perceived
as such. And, even if one starts from the idea that “meaning is
use” (Wittgenstein, 1958), the ‘naturalization’ of certain realities,
ideologically aligned can increase misunderstandings and prevent
an ethical dimension, which happens when the ‘other’ comes into
play (Eco, 1997).
associada à origem do conceito, ainda serve de significado em
tempo de globalização? Existe apenas uma ou várias diásporas?
Com este artigo pretendemos observar a evolução do conceito de
“diáspora” à luz da ideia de Said (1994) de que o fim do colonialismo
não impediu que o imperialismo persistisse. Relacionamos as
problematizações sobre diáspora feitas, entre outros, por Cohen
(1997), Hall (1998), Bhabha (1998), Riggs (2000) e Morier-
Genoud & Cahen (2013), chegando ao caso português e à ideia
de lusofonia. A interculturalidade, que promove a interpenetração
identitária, está patente na diáspora? O que acontece quando se
associa a diáspora à “portugalidade”? Eduardo Lourenço (1999)
é cáustico em relação à ideia de diáspora, afirmando mesmo ser
uma aberração que a nossa longa gesta emigrante seja percebida
enquanto tal. E, mesmo que se parta da ideia de que “o sentido
é o uso” (Wittgenstein, 1958), a ‘naturalização’ de determinadas
realidades, ideologicamente alinhadas, pode incrementar
equívocos e impedir uma dimensão ética, que acontece quando o
‘outro’ entra em cena (Eco, 1997).
The director shows in an overwhelming way the images used in the Portuguese World Exhibition of 1940 (the high point of propaganda of the Estado Novo) as a reference, overlapping texts of three famous foreign travelers who passed through Lisbon during World War II (Alfred Doblin, author of "Berlin Alexanderplatz", Erika Mann, daughter of Thomas Mann, and Antoine de Saint-Exupéry, author of "The Little Prince"). The mixture of simultaneous triumphal images of paradisiacal Portugal and the lucid and poetic texts read in "voice-off", function as a methodical disassemble with which the film begins (the phrase "everything for the nation" by Salazar) and the attempt to create a virtual identity. It shows a nation of fantasists concerned with the superfluous and where, paradoxically, the foreigners are the ones who believe the least in this less evident reality.
Canijo shows how Portugal of the past continues today and dispels the unreality of the Portuguese identity, inoculated at Estado Novo, and which still lingers today. People did not wake up, they moved on as sleepwalkers enjoying a melancholy bliss."
Observamos, assim, a utilização da palabra “portugalidade” no discurso político, nomeadamente no parlamento, verificando se os discursos dos deputados reflectem a acção política do Estado Novo, durante a ditadura, na Assembleia Nacional (1935-1974) em relação ao assunto; e se, após o 25 de Abril de 1974, na Assembleia da República (1976-2012), se se verificou (ou verifica) alguma mudança. Para o efeito, através da hermenêutica interpretativa analisamos os discursos dos deputados, consultando os diários das sessões disponibilizados pela base de dados do parlamento, no sentido de saber se o termo foi/é utilizado e, caso isso se verifique, em que contexto e circunstâncias.
Porquê a análise do discurso parlamentar? É que concluímos que o Estado Novo está na origem da tentativa de disseminação do termo “portugalidade” na sociedade portuguesa, podendo-se balizá-la nas décadas de 50 e 60 do séc. XX. Uma data importante é a do ano de 1951, em que é revogado o “Acto Colonial”, e em que as “colónias” são substituídas por “províncias ultramarinas”. No contexto das alterações constitucionais, a Carta Orgânica do Império Colonial Português foi substituída pela Lei Orgânica do Ultramar Português (1953), assumindo-se Portugal como um país uno e indivisível que se auto-designava de “Portugal do Minho a Timor”, e em que o discurso sobre a “portugalidade” foi incrementado. Não é, por isso, por acaso que só 16 anos após o início da Assembleia Nacional é que os deputados comecem a introduzir a palabra “portugalidade” nos seus discursos.
De resto, a utilização da palabra “portugalidade” nos discursos dos deputados da AN e da AR é quase residual (menos de 140 vezes em 75 anos de sessões). E, não obstante a conotação do termo ao Estado Novo, este foi utilizado de forma transversal pelos deputados da Assembleia da República e em sentidos diversos. No entanto, na maioria das vezes, a “portugalidade” serviu para enfatizar uma alegada marca nacional, nomeadamente em países onde existe emigração portuguesa ou que pertenceram ao denominado ‘Império Ultramarino’.
O facto é que a maior parte dos temas dos discursos sobre os quais os deputados mais utilizam a palabra “portugalidade” se cruza durante os dois períodos. Diáspora, emigração, a condição de “ser-se português”, as colónias e as excolónias (durante o Estado Novo), ou a lusofonia (no período pós-25 de Abril), são assuntos e que os deputados mais invocam a “portugalidade” verificando-se, no entanto, uma diferença de perspectiva quando as duas épocas se confrontam, já que no pós-25 de Abril, o país regressou aos seus limites geográficos iniciais, deixando cair o ‘ultramar’.
Proponho uma reflexão sobre a relação entre identidade e cultura, observando de que forma as identidades culturais se situam num mundo globalizado, olhando para possibilidades interculturais, por oposição às lógicas osmopolitas.
- O ethos jornalístico
- Do acontecimento à notícia
- Nem todos os acontecimentos são notícia
- Os valores
notícia ( newsmaking
- O gatekeeping
- O agenda setting e o framing
- O lead e a prirâmide invertida
- Exercícios
- As fake news
A lusofonia corresponde a um sistema de comunicação linguístico-cultural na língua portuguesa, cujas variedades pertencem a vários povos que a utilizam, seja enquanto língua materna seja como segunda língua. Também comporta o português da Galiza.
A Língua Portuguesa é utilizada por mais de 260 milhões de pessoas, sendo a quarta língua mais falada no mundo. De acordo com projeções das Nações Unidas, em 2050 haverá perto de 400 milhões de lusofalantes, número que crescerá para os 500 milhões no final do século.
Por outro lado, o português é a terceira língua do mundo mais utilizada na internet - facto que valoriza a língua no contexto das novas tecnologias do presente e do futuro.
A lusofonia é aqui entendida enquanto olhar pós-colonial num percurso difícil afetado pela colonialidade. A lusofonia que está aqui em causa não é lusocentrada, não tem, por conseguinte, o jugo da 'portugalidade' a pesar-lhe sobre os ombros. A lusofonia de que se fala aqui, como defende Moisés de Lemos Martins, tem um recorte intercultural e vai para além de uma significação meramente gramatical, tratando-se de um termo na área cultural e de construção simbólica num mundo cada vez mais globalizado, que se inscreve no presente e com o destino do ‘continente imaterial’ dos países que a integram.
Por isso, quando Miguel Real refere que já tudo foi escrito sobre a lusofonia, faltando colocá-la em prática, teremos que ver de que lusofonia estamos a falar...
É verdade que já muita coisa já foi escrita sobre o assunto. Mas porque será que a prática revela anticorpos quer do lado do ex-colonizador, quer do lado do ex-colonizado?
Moisés de Lemos Martins destaca quatro equívocos em que navega a lusofonia e que devem ser desmontados, para que ala avance:
- uma lusofonia que remeta para a centralidade portuguesa
- uma lusofonia que promova a reconstrução das narrativas do antigo império
- uma lusofonia assente no luso-tropicalismo apropriado pelo Estdo Novo e ideia de colonização doce
- uma lusofonia que assete numa narrativa de uma história do ressentimento (que tem duas vias, segundo Marc Ferro).
Ora, como refere Margarida Calafate Ribeiro, não se trata apenas de descolonizar a linguagem das grandes narrativas europeias, a que apelava Edward Said, mas de descolonizar as pessoas, descolonizar o descolonizador e a sua imagem e descolonizar o descolonizado e a sua imagem, como assinalam Hesse Barnor e Bobby Sayyid.
O MVL é uma plataforma de cooperação académica, em ciência, ensino e artes, no espaço dos países de língua portuguesa e das suas diásporas, que se estende à Galiza e a Macau. Integra universidades, com projetos de investigação e de ensino pós-graduado na área das Ciências da Comunicação e dos Estudos Culturais, associações culturais e artísticas, na construção e no aprofundamento de uma comunidade lusófona. Pretende ser um mecanismo que convide à participação ativa dos cidadãos, na disponibilização de registos, no comentário às ‘obras’ preservadas no museu, na (re)construção de uma memória coletiva.
Eduardo Lourenço sublinhava uma hiperidentidade portuguesa devido a um défice de identidade real, que se compensava no plano imaginário. Mas, nem por isso o ensaísta invocou a “portugalidade” para o justificar, bem pelo contrário, como deixou claro em entrevista à RTP, em que afirmava não existir “o” português, muito menos “portugalidades” .
Na segunda classe, já noutra sala, os então “professores estagiários” (ligados ao Magistério Primário da cidade), já não sei bem a propósito de quê, incentivaram-me, a mim e aos outros colegas, a pintar um mural que estava à entrada do edifício, mesmo ao lado da porta principal. Um mural de azulejos azuis e brancos ficou, de súbito, todo pintalgado de tinta amarela, vermelha, azul… Uma verdadeira “obra de arte” coletiva de todos quantos pegaram nos pincéis e meteram mãos à obra.
Já depois dos 18 anos, quando fui votar já não sei em que eleições, tinha como destino a minha antiga escola. Ia cheio de entusiasmo: votaria pela primeira vez!!!| Ia exercer um direito por que muitos tinham lutado e uma das razões para que o 25 de Abril tivesse tido lugar. Já atraído pelas lides jornalísticas (ainda era um aprendiz de jornbalista) olhei em volta. Olhar para ver e interpretar o que via. Para absorver um ambiente ao qual não voltara há muitos anos. Parecia-me tudo diferente. Mas igual. Afinal cedo percebi que eu é que tinha mudado mais. Percebe-se assim o porquê de as sociedades não serem reificadas, ao contrário do que muitos propalam.Voltemos ao mural. Ele estava no mesmo sítio. Mas já sem a intervenção surrealista do grupo de alunos que integrei e, afincadamente, deram nos pincéis como se não houvesse amanhã. Limpo. Fui ler, por curiosidade, o que rezavam os azulejos, para tentar perceber o porquê de nos terem incentivado a pinta-lo: era sobre uma doação que alguém tinha feito para a construção do equipamento, com uma referência final ao “Estado Novo”. Do género, “Estado Novo, tantos de tal de mil novecentos e troca o passo”. Sorri. Entrei na mesa de voto. Era a “minha” sala, onde o poster do João Abel Manta tapara o crucifixo que estava na parede, por cima do quadro. Em tons de verde e branco. Com um militar do MFA, com a sua espingarda, ao lado de um cidadão, representando o “povo” (o que será isso?), de espalhadora na mão. Pois bem: o poster, desaparecera. Mantinha-se o crucifixo. Sorri, outra vez.
25 de abril, sempre!
Esta sessão foi uma parceria entre o Museu Virtual da Lusofonia e o projeto MigraMediaActs.
É investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (Universidade do Minho), onde coordenou o Grupo de Estudos Culturais (2021-2022) e é cocoordenador do Seminário Permanente de Estudos Pós-coloniais. É formador de professores de História e Geografia do Ensino Secundário, no âmbito de um projeto que cocoordena, intitulado “As narrativas da História e a pós-colonialidade. Mitos, conceitos e problemáticas”, tratando assuntos como a Memória e Reparações históricas. Integra o Projeto Cultures Past&Present – “Memories, cultures and identities: how the past weights on the present-day intercultural relations in Mozambique and Portugal?” (FCT/Aga Khan) e o Museu Virtual da Lusofonia.
Uma conversa em torno da Portugalidade e o que o termo quer dizer hoje.
O evento científico conta com a participação de Alix Didier Sarrouy e dedica-se ao tema “A arte de construir cidadania: juventude, práticas criativas e ativismo”.
Dança, música, artes plásticas, vídeo, fotografia, performance, ativismo digital, entre tantas outras, são formas de expressão usadas criativamente por jovens na intervenção em prol de múltiplas causas e lutas sociais. Para dar conta desta diversidade, o livro de Alix Didier Sarrouy -com o mesmo título do seminário – divide-se em quatro meios de intervenção artística – o corpo, o som, a imagem e a tecnologia. Recolhe contributos de cientistas sociais e artistas de vários países, explorando novos diálogos e sinergias entre áreas disciplinares.
É já na próxima quinta-feira, 20 de outubro, via Zoom: Alix Didier Sarrouy, “A arte de construir cidadania: juventude, práticas criativas e ativismo”, no Seminário Permanente de Comunicação e Diversidade do CECS
https://www.cecs.uminho.pt/seminario-comunicacao-e-diversidade-com-alix-didier-sarrouy/
https://www.youtube.com/watch?v=ZcF9s0D7v9k
Este vídeo é a continuação de outra reportagem: "Portugal deve perdão e reparação ao Brasil?" https://youtu.be/fwLKyyimwuc
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Dever de Memória, título que Primo Levi (2011) deu a um dos seus livros, consubstancia toda a lógica que está subjacente à restituição cultural, num processo que está em marcha, tendente a promover a reparação dos danos provocados pelo colonialismo. Muito embora a reparação nunca seja completamente concretizada, a atitude que lhe está subjacente pode atenuar ressentimentos, num sinal assente na diversidade e não, como quase sempre aconteceu, numa lógica unilateral, decorrente de um olhar ocidental. Através da utilização da memória, que, no caso de Levi, incidiu sobre o holocausto — a que se reporta a cunhagem da expressão “dever de memória” —, foi dado o seu testemunho enquanto judeu que foi prisioneiro dos nazis, para que nada semelhante alguma vez voltasse a acontecer. Há um urgente dever de memória tendente a reparar atrocidades cometidas em tempo colonial, através do exercício da violência por parte de quem colonizava. Por conseguinte, a ideia de “dever da memória” quer significar a responsabilidade ética de nunca esquecer.
O Curso de Português da Faculdade de Letras da Universidade Licungo anuncia duas Jornadas com quatro comunicações em formato híbrido. Na primeira Jornada, as temáticas aludirão ao ensino da língua portuguesa nos países lusófonos e à(s) lusofonia(s).
#centrodelinguaportuguesadabeira
#centrodelinguaportuguesadequelimane
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As ACD, que se realizam nos dias 6 e 13 de maio, entre as 18h30 e as 21h00, destinam-se à área da docência, ou seja, áreas do conhecimento que constituem matérias curriculares nos vários níveis de ensino. Vão ser ministradas pelos investigadores Sheila Khan (Da invisibilidade à reparação histórica: o dever de memória hoje), Vítor de Sousa (“Artivismo”: contributo para a descolonização mental, como possibilidade intercultural ou vandalismo?) e Pedro Rodrigues Costa (Contestar patrimónios: controvérsias sobre processos de descolonização cultural).
Esta aula, dedicada à problemática das identidades transnacionais e transculturais, utiliza o conceito de “lusofonia” para tentar perceber o fenómeno. Aborda-se, assim, a lusofonia, enquanto “comunidade imaginada”, de caráter transcultural e transnacional. Um projeto com um passado assente na língua portuguesa enquanto denominador comum aos diversos países que integram o espaço, bastante disperso, e onde habitam cidadãos de diversas etnias e com diferentes culturas. Para se poder perspetivar o futuro da lusofonia interessa, por isso, não apenas compreender a sua complexa construção no presente, pejada de vários equívocos que urge desfazer, como também os desafios que tem pela frente, em que se joga uma luta simbólica pela divisão da comunidade internacional em áreas culturais (Martins, 2018).
Segundo Cláudia Castelo, as ideias de Gilberto Freyre tiveram de esperar pela década de 1950 até que o regime salazarista as aceitasse. É que, nos anos 30 e 40 do século XX, segundo a historiadora, o Estado Novo ignorara ou rejeitara a tese do sociólogo, “devido à importância que conferia à mestiçagem, à interpenetração de culturas, à herança árabe e africana na génese do povo português e das sociedades criadas pela colonização lusa” (Castelo, 2013, s. p.). Foi na sequência do novo quadro político internacional saído da II Guerra Mundial e da necessidade de o Governo português sublinhar que o seu território se estendia “Do Minho a Timor”, tentando garantir que as colónias não eram territórios autónomos, pelo que não fazia sentido a sua autodeterminação, que, a partir da década de 1950, o regime adotou “uma versão simplificada e nacionalista do luso-tropicalismo como discurso oficial, para ser utilizado na propaganda e na política externa” (Castelo, 2013, s. p.). Paralelamente, segundo Cláudia Castelo, “assistiu-se à penetração do luso-tropicalismo no meio académico e científico, em particular o ligado à formação dos quadros da administração ultramarina [10] e à chamada ‘ocupação científica’ das colónias” (Castelo, 2013, s. p.), tendo sido, na sequência do início da guerra colonial, promulgado, por Adriano Moreira, um pacote de medidas com um recorte ‘luso-tropicalista’. Um contexto em que se procurou incutir nos portugueses “a ideia da benignidade da colonização lusa ou, de forma mais eufemística, ‘do modo português de estar no mundo’”, em que a propaganda teve um papel fundamental, tratando de “moldar o pensamento para conformar a ação, sobretudo dos colonos e dos agentes do poder colonial no terreno” (Castelo, 2013, s. p.). A historiadora refere que, desde então, foi entrando no imaginário nacional “uma versão simplificada do luso-tropicalismo”, que contribuiu para que a imagem dos portugueses sobre si próprios fosse consolidada, enquanto “povo tolerante, fraterno, plástico e de vocação ecuménica” (Castelo, 2013, s. p.). Foi, de resto, durante este período (décadas de 50 e 60 do século XX) que foi cunhado o conceito de ‘portugalidade’ decorrendo, por conseguinte, de uma lógica estado-novista para que as ex-colónias fossem vistas pela ONU como parte integrante do território português (províncias ultramarinas), corroborado pelo discurso parlamentar da Assembleia Nacional, a partir de 1951 (data da revogação do Ato Colonial), pela introdução da palavra nos discursos dos deputados. Toda essa estratégia ia no sentido de combater os movimentos independentistas que emergiam nas antigas colónias, defendendo a pertença desses territórios a Portugal, por via do seu ‘destino histórico’. Esse facto seria sublinhado no discurso político da ‘portugalidade’, com a assunção de Portugal, como um país uno e indivisível: “Portugal do Minho a Timor”.
Para a legitimação da política estado-novista muito contribuíram, então, os estudos de Gilberto Freyre, criador do controverso conceito de “Democracia Racial”. Portugal ocupou um lugar central no seu pensamento, que foi um dos pioneiros no estudo histórico e sociológico dos territórios de colonização portuguesa como um todo, plasmado no luso-tropicalismo, um ramo próprio de pesquisa. Segundo Ruth Rosengarten, as teorias de Freyre, sendo aparentemente liberais, eram simultaneamente regionalistas e conservadoras, adaptando-se na perfeição “aos interesses do salazarismo no final dos anos 1950 e na década de 1960”, já que o seu esforço na localização de “uma cultura híbrida”, que consubstanciava “uma síntese ‘lusotropical’”, conferia cobertura ideológica ao novo clima político (Rosengarten, 2009, pp. 135-136). A idealização do colonizador português como mais ‘humano’ foi posta ao serviço do regime depois dos anos 1950, tendo as autoridades portuguesas levado mesmo Gilberto Freyre a visitar o ‘império’, retribuindo o sociólogo com elogios a Portugal. Na década seguinte já o luso-tropicalismo tinha sido apropriado pelo Estado Novo, justificando assim a longa presença portuguesa em África e ratificando-a academicamente (Rosengarten, 2009).
Por outro lado, Cláudia Castelo admite que o carácter científico do luso-tropicalismo tenha sido, desde cedo, questionado, por uma panóplia diversa de atores, havendo quem o defina como ideologia. A historiadora parece estar de acordo com o epíteto, muito embora evidencie que se continuam a esgrimir argumentos contra essa definição: “parece-nos que ela é pertinente se tivermos em conta a manipulação que o Estado Novo fez da doutrina gilbertiana”, já que parte de pressupostos históricos e lugares-comuns sobre um alegado carácter imutável do português e da sua forma ‘de estar no mundo’, anunciando “uma civilização ideal que está em vias de se concretizar plenamente” (Castelo, 2011 [1999], p. 41). E, não obstante Cláudia Castelo referir que a comunidade luso-tropical de que fala Gilberto Freyre “nunca deixou de ser um mito e uma aspiração”, já que o luso-tropicalismo, a par dos seus sucedâneos portugueses, “foi inventado de ‘costas voltadas’ para os factos históricos e para a realidade concreta” (Castelo, 2011 [1999], p. 140), José Carlos Venâncio assume a existência de várias razões para uma releitura da obra do sociólogo, “a quem se deve uma das primeiras interpretações da expansão portuguesa no mundo” e que é responsável pelo estabelecimento dos “alicerces sociais e culturais do que hoje se entende por lusofonia” (Venâncio, 2000, p. 12). Numa altura em que a globalização atingiu níveis que seriam inimagináveis ainda há poucos anos, e em que “o nosso destino é paulatinamente entregue […] [a] entidades que tanto têm de poder como de invisibilidade”, o autor sustenta ser pertinente que se fale da lusofonia, “se, de algum modo, funcionar como uma plataforma de entendimento” (p. 12). Ou seja, se os que falam português, “face a um mundo cada vez mais concorrencial, puderem, de alguma forma, rever-se nela em termos identitários e estratégicos” (p. 12). Nesse sentido, refere que o luso-tropicalismo “poderá também neste domínio contribuir para uma melhor clarificação do que se entende por lusofonia e do que dela se pretende” (p. 12). No mesmo sentido vai Moisés de Lemos Martins, ao defender que o luso-tropicalismo não seja reduzido a estereótipos, “com a voz de quem manda a reinar sozinha por cima da cabeça dos países de expressão portuguesa”, preferindo sublinhar os contributos dos diferentes povos integrantes da lusofonia, tendo presente que “a ‘unidade de sentimento e de cultura’ deve sobrepor-se a questões de soberania, podendo florescer no seio de uma entidade transnacional ou supranacional uma federação cultural com lugar para muitos Estados” (Martins, 2004, p. 11). O autor refere, a propósito, que a lusofonia decorre da raiz luso-tropicalista, que diz ser uma “composição” e que, “convoca hoje uma comunidade transnacional, com propósitos político-culturais”, tendo presente uma perspetiva pós-colonial, porém “liberta da componente colonialista em que o Estado Novo português enredou o luso-tropicalismo” (pp. 11-12). A este propósito, Cláudia Castelo refere que o estudo de receção do luso-tropicalismo em Portugal dá uma ajuda na perceção de como as ideias de Gilberto Freyre “ainda ecoam no atual discurso político e cultural” (Castelo, 2011 [1999], p. 140). E, muito embora já não estejam ligadas ao colonialismo, “servem agora para justificar a criação formal de uma comunidade lusófona com propósitos culturais, económicos e de cooperação em matéria de política externa” (p. 140). São disso exemplo os manuais escolares do ensino secundário para a área de História, que integram uma visão romântica de que os portugueses cumpriram uma missão civilizatória, ou seja, que foram bons colonizadores, mais benevolentes do que outros povos europeus (Araújo & Maeso, 2010). Cláudia Castelo adverte, assim, que o risco atual reside no facto de o conceito continuar a ser usado de forma acrítica e imobilista. Se, no passado, serviu “para legitimar o colonialismo português”, hoje, é utilizado para dar corpo ao “mito da tolerância racial dos portugueses e até de um nacionalismo português integrador e universalista, em contraponto aos ‘maus’ nacionalismos, fechados, etnocêntricos e xenófobos” (Castelo, 2013, s. p.).
Segundo Cláudia Castelo, as ideias de Gilberto Freyre tiveram de esperar pela década de 1950 até que o regime salazarista as aceitasse. É que, nos anos 30 e 40 do século XX, segundo a historiadora, o Estado Novo ignorara ou rejeitara a tese do sociólogo, “devido à importância que conferia à mestiçagem, à interpenetração de culturas, à herança árabe e africana na génese do povo português e das sociedades criadas pela colonização lusa” (Castelo, 2013, s. p.). Foi na sequência do novo quadro político internacional saído da II Guerra Mundial e da necessidade de o Governo português sublinhar que o seu território se estendia “Do Minho a Timor”, tentando garantir que as colónias não eram territórios autónomos, pelo que não fazia sentido a sua autodeterminação, que, a partir da década de 1950, o regime adotou “uma versão simplificada e nacionalista do luso-tropicalismo como discurso oficial, para ser utilizado na propaganda e na política externa” (Castelo, 2013, s. p.). Paralelamente, segundo Cláudia Castelo, “assistiu-se à penetração do luso-tropicalismo no meio académico e científico, em particular o ligado à formação dos quadros da administração ultramarina [10] e à chamada ‘ocupação científica’ das colónias” (Castelo, 2013, s. p.), tendo sido, na sequência do início da guerra colonial, promulgado, por Adriano Moreira, um pacote de medidas com um recorte ‘luso-tropicalista’. Um contexto em que se procurou incutir nos portugueses “a ideia da benignidade da colonização lusa ou, de forma mais eufemística, ‘do modo português de estar no mundo’”, em que a propaganda teve um papel fundamental, tratando de “moldar o pensamento para conformar a ação, sobretudo dos colonos e dos agentes do poder colonial no terreno” (Castelo, 2013, s. p.). A historiadora refere que, desde então, foi entrando no imaginário nacional “uma versão simplificada do luso-tropicalismo”, que contribuiu para que a imagem dos portugueses sobre si próprios fosse consolidada, enquanto “povo tolerante, fraterno, plástico e de vocação ecuménica” (Castelo, 2013, s. p.). Foi, de resto, durante este período (décadas de 50 e 60 do século XX) que foi cunhado o conceito de ‘portugalidade’ decorrendo, por conseguinte, de uma lógica estado-novista para que as ex-colónias fossem vistas pela ONU como parte integrante do território português (províncias ultramarinas), corroborado pelo discurso parlamentar da Assembleia Nacional, a partir de 1951 (data da revogação do Ato Colonial), pela introdução da palavra nos discursos dos deputados. Toda essa estratégia ia no sentido de combater os movimentos independentistas que emergiam nas antigas colónias, defendendo a pertença desses territórios a Portugal, por via do seu ‘destino histórico’. Esse facto seria sublinhado no discurso político da ‘portugalidade’, com a assunção de Portugal, como um país uno e indivisível: “Portugal do Minho a Timor”.
Para a legitimação da política estado-novista muito contribuíram, então, os estudos de Gilberto Freyre, criador do controverso conceito de “Democracia Racial”. Portugal ocupou um lugar central no seu pensamento, que foi um dos pioneiros no estudo histórico e sociológico dos territórios de colonização portuguesa como um todo, plasmado no luso-tropicalismo, um ramo próprio de pesquisa. Segundo Ruth Rosengarten, as teorias de Freyre, sendo aparentemente liberais, eram simultaneamente regionalistas e conservadoras, adaptando-se na perfeição “aos interesses do salazarismo no final dos anos 1950 e na década de 1960”, já que o seu esforço na localização de “uma cultura híbrida”, que consubstanciava “uma síntese ‘lusotropical’”, conferia cobertura ideológica ao novo clima político (Rosengarten, 2009, pp. 135-136). A idealização do colonizador português como mais ‘humano’ foi posta ao serviço do regime depois dos anos 1950, tendo as autoridades portuguesas levado mesmo Gilberto Freyre a visitar o ‘império’, retribuindo o sociólogo com elogios a Portugal. Na década seguinte já o luso-tropicalismo tinha sido apropriado pelo Estado Novo, justificando assim a longa presença portuguesa em África e ratificando-a academicamente (Rosengarten, 2009).
Por outro lado, Cláudia Castelo admite que o carácter científico do luso-tropicalismo tenha sido, desde cedo, questionado, por uma panóplia diversa de atores, havendo quem o defina como ideologia. A historiadora parece estar de acordo com o epíteto, muito embora evidencie que se continuam a esgrimir argumentos contra essa definição: “parece-nos que ela é pertinente se tivermos em conta a manipulação que o Estado Novo fez da doutrina gilbertiana”, já que parte de pressupostos históricos e lugares-comuns sobre um alegado carácter imutável do português e da sua forma ‘de estar no mundo’, anunciando “uma civilização ideal que está em vias de se concretizar plenamente” (Castelo, 2011 [1999], p. 41). E, não obstante Cláudia Castelo referir que a comunidade luso-tropical de que fala Gilberto Freyre “nunca deixou de ser um mito e uma aspiração”, já que o luso-tropicalismo, a par dos seus sucedâneos portugueses, “foi inventado de ‘costas voltadas’ para os factos históricos e para a realidade concreta” (Castelo, 2011 [1999], p. 140), José Carlos Venâncio assume a existência de várias razões para uma releitura da obra do sociólogo, “a quem se deve uma das primeiras interpretações da expansão portuguesa no mundo” e que é responsável pelo estabelecimento dos “alicerces sociais e culturais do que hoje se entende por lusofonia” (Venâncio, 2000, p. 12). Numa altura em que a globalização atingiu níveis que seriam inimagináveis ainda há poucos anos, e em que “o nosso destino é paulatinamente entregue […] [a] entidades que tanto têm de poder como de invisibilidade”, o autor sustenta ser pertinente que se fale da lusofonia, “se, de algum modo, funcionar como uma plataforma de entendimento” (p. 12). Ou seja, se os que falam português, “face a um mundo cada vez mais concorrencial, puderem, de alguma forma, rever-se nela em termos identitários e estratégicos” (p. 12). Nesse sentido, refere que o luso-tropicalismo “poderá também neste domínio contribuir para uma melhor clarificação do que se entende por lusofonia e do que dela se pretende” (p. 12). No mesmo sentido vai Moisés de Lemos Martins, ao defender que o luso-tropicalismo não seja reduzido a estereótipos, “com a voz de quem manda a reinar sozinha por cima da cabeça dos países de expressão portuguesa”, preferindo sublinhar os contributos dos diferentes povos integrantes da lusofonia, tendo presente que “a ‘unidade de sentimento e de cultura’ deve sobrepor-se a questões de soberania, podendo florescer no seio de uma entidade transnacional ou supranacional uma federação cultural com lugar para muitos Estados” (Martins, 2004, p. 11). O autor refere, a propósito, que a lusofonia decorre da raiz luso-tropicalista, que diz ser uma “composição” e que, “convoca hoje uma comunidade transnacional, com propósitos político-culturais”, tendo presente uma perspetiva pós-colonial, porém “liberta da componente colonialista em que o Estado Novo português enredou o luso-tropicalismo” (pp. 11-12). A este propósito, Cláudia Castelo refere que o estudo de receção do luso-tropicalismo em Portugal dá uma ajuda na perceção de como as ideias de Gilberto Freyre “ainda ecoam no atual discurso político e cultural” (Castelo, 2011 [1999], p. 140). E, muito embora já não estejam ligadas ao colonialismo, “servem agora para justificar a criação formal de uma comunidade lusófona com propósitos culturais, económicos e de cooperação em matéria de política externa” (p. 140). São disso exemplo os manuais escolares do ensino secundário para a área de História, que integram uma visão romântica de que os portugueses cumpriram uma missão civilizatória, ou seja, que foram bons colonizadores, mais benevolentes do que outros povos europeus (Araújo & Maeso, 2010). Cláudia Castelo adverte, assim, que o risco atual reside no facto de o conceito continuar a ser usado de forma acrítica e imobilista. Se, no passado, serviu “para legitimar o colonialismo português”, hoje, é utilizado para dar corpo ao “mito da tolerância racial dos portugueses e até de um nacionalismo português integrador e universalista, em contraponto aos ‘maus’ nacionalismos, fechados, etnocêntricos e xenófobos” (Castelo, 2013, s. p.).
Será que a mente está descolonizada em Moçambique (Mbembe, 2017)? É a pergunta que, com este ensaio, me proponho dar resposta.