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Ken Bugul: aquela que não foi desejada

2019, Anais Eletrônicos do XII SEPECH – UEL

Mariètou Mbaye Biléoma, escritora senegalesa, adota o pseudônimo Ken Bugul, que em uolofe significa “aquela que não foi desejada”, para partir numa busca identitária sobre si mesma e seu lugar no mundo. Seu pseudônimo é criado a partir da rejeição de sua mãe, que a abandona no interior do Senegal aos cuidados de um pai idoso. Esse fato marcante, além de nortear toda sua obra, é capaz fazê-la romper com tabus e questionar tanto as imposições da tradição senegalesa, como do “ocidentalismo” imposto pelo europeu ao africano. Ken Bugul tem uma obra pujante e polêmica, capaz de defender o feminismo e a poligamia. A autora premiada em seu país e na França vem lentamente sendo reconhecida fora do mundo francófono, em traduções para o inglês, espanhol e recentemente, alemão – um sinal de que sua obra merece um maior estudo e reconhecimento. Nossa proposta é então apresentar um pouco da obra de Ken Bugul e seu feminismo para lá de particular, que muitas vezes ficam restritos àqueles que tem o domínio da língua francesa.

KEN BUGUL: AQUELA QUE NÃO FOI DESEJADA Adriana Mattoso Rodrigues1 Resumo: Mariètou Mbaye Biléoma, escritora senegalesa, adota o pseudônimo Ken Bugul, que em uolofe significa “aquela que não foi desejada”, para partir numa busca identitária sobre si mesma e seu lugar no mundo. Seu pseudônimo é criado a partir da rejeição de sua mãe, que a abandona no interior do Senegal aos cuidados de um pai idoso. Esse fato marcante, além de nortear toda sua obra, é capaz fazê-la romper com tabus e questionar tanto as imposições da tradição senegalesa, como do “ocidentalismo” imposto pelo europeu ao africano. Ken Bugul tem uma obra pujante e polêmica, capaz de defender o feminismo e a poligamia. A autora premiada em seu país e na França vem lentamente sendo reconhecida fora do mundo francófono, em traduções para o inglês, espanhol e recentemente, alemão – um sinal de que sua obra merece um maior estudo e reconhecimento. Nossa proposta é então apresentar um pouco da obra de Ken Bugul e seu feminismo para lá de particular, que muitas vezes ficam restritos àqueles que tem o domínio da língua francesa. Palavras-chave: literatura senegalesa; literatura francófona; autoria feminina. A literatura produzida por mulheres na África subsaariana demora a florescer e tem seu início por volta dos anos 1960. Como aponta MACHADO (2016), a independência tardia das ex-colônias francesas, a escolarização tardia e limitada das mulheres africanas e o apagamento de seu papel como transmissoras de conhecimento e genealogias, primeiro pelos brancos e posterirormente pelos intelectualidade negra que começava a despontar, são fatores que contribuíram para essa demora. A princípio, as temáticas das primeiras escritoras são mais ligadas à condição feminina e têm uma preocupação especial em colocar as mulheres africanas dentro dos acontecimentos históricos. Já a geração posterior, consegue uma maior complexidade estética e 1 É professora colaboradora do Departamento de Línguas Estrangeiras Modernas da Universidade Estadual de Londrina – UEL, e mestra em Literatura pela Universidade de Brasília – UnB. E-mail: adrianamattosorodrigues@gmail.com. 1 temática, rompendo os silêncios e abordando temas tabus, como a excisão, a prostituição entre outros. Ken Bugul figura entre as escritoras africanas contemporâneas, tendo iniciado sua carreira nos anos 1980, com a publicação de Le baobab fou(O baobá louco – tradução nossa). Mariètou Mbaye Biléoma, é senegalesa e adota o pseudônimo Ken Bugul, que em uolofe significa “aquela que não foi desejada”, para partir numa busca identitária sobre si mesma e seu lugar no mundo. Ken Bugul tem uma obra pujante e polêmica, capaz de defender o feminismo e a poligamia ao mesmo tempo e colocar nossas certezas em xeque. A autora premiada em seu país e na França vem lentamente sendo reconhecida fora do mundo francófono, em traduções para o inglês, espanhol e recentemente, alemão – um sinal de que sua obra merece um maior estudo e reconhecimento. Ken Bugul já escreveu mais de 10 livros entre romances, ensaios e livros de contos. Seu livro Riwan – ou le chemin de sable ganhou o grande prêmio da África Negra de 1999. A autora possui uma obra constante sendo o seu primeiro romance – Le baobab fou, que data de 1982 até seu último, Cacophonie, que data de 2016. Seus livros foram publicados, principalmente pela editora Présence Africaine, mas ela também tem alguns romances pela Hartman. Suas narrativas contam, quase sempre, com protagonistas femininas que são também, narradoras. Bugul aborda as temáticas femininas a partir de uma perspectiva rica e legítima, de mulher negra do interior do Senegal, aliadas a descrição dos costumes e tradições do interior muçulmano a autora discute também a independência feminina, a literatura produzida por mulheres no Senegal, a questão do Outro, o branco, a poligamia e a dicotomia entre tradição e feminismo, e aquilo que ela chama de “literatura mundo”, abordando ainda assuntos considerados “tabus” por muitas escritoras até hoje, como a prostituição e a excisão. Os seus três primeiros romances; Le baobab fou, Cendres et Braises e Riwan – ou le chemin de sable, foram considerados pela estudiosa de sua obras, Inmaculada Diáz Narbona, como compondo uma trilogia. Essa interpretação se deu a partir do conteúdo dos três romances, que abordam o percurso de formação da personagem, que no caso, é a própria autora. Le baobab fou aborda a infância da protagonista, sua estadia na Europa e sua volta para o Senegal. Cendres et Braises aborda o período logo após a sua volta, sua readaptação à vida no seu país de origem, o reencontro com a família, e o momento 2 onde aceita o pedido de casamento do Serigne2. Riwan – ou le chemin de sable aborda o período o casamento e a convivência com as outras 27 esposas do Serigne, esse senhor já idoso. Este livro, ganhador do prêmio em 1999 é também considerado o mais polêmico da autora e marca uma reviravolta na sua obra. A trilogia de Ken3 Como já dito, os três primeiros romances da autora são considerados como uma trilogia. No primeiro volume, que é também o primeiro livro publicado pela autora, conta a história de sua infância no interior do Senegal, sua entrada na escola francesa, a ida para a Bélgica, sua estadia e o posterior retorno ao país de origem. Algumas marcas do romance são: a clareza com que temas como sexo e a prostituição são abordados e a crítica feita à presença do branco europeu, sem deixar de lado, entretanto, as “máscaras brancas” da elite senegalesa. A autora conta com detalhes acontecimentos que a levaram a abandonar os estudos e acabar se prostituindo em Bruxelas. O segundo romance, Cendres et braises, conserva o tom crítico, mas trata agora da violência doméstica sofrida pela personagem, que, deslocada de sua família e não se readaptando à vida do interior, acaba se envolvendo em um relacionamento abusivo com um empresário francês. A personagem se envolve com esse homem, que a leva para morar na França. Ela, ao chegar, descobre que ele era casa e que, na verdade, ela era sua amante. Dentro desse relacionamento, fica claro o caráter dúbio no imaginário masculino que tem a sexualidade feminina. Para a esposa, um tratamento respeitoso, roupas comportadas, já para a amante, sexualidade objetificada. Vestida para causar inveja, e sempre a companhia em jantares de negócios, no resto do tempo, era mantida quase em cativeiro. Pois sua liberdade se limitava a estar à disposição do amante sempre que ele quisesse ou pudesse vê-la. Ao final do romance, ela se liberta do relacionamento pela proposta de casamento de um Serigne, amigo da família, e já casado com vinte e sete esposas4. 2 Serigne é uma espécie de sábio conhecedor da religião muçulmana, bastante respeitado por seus conterrâneos. 3 A trilogia da autora não tem nome definido pela crítica. Colocamos aqui a trilogia de quem para facilitar a identificação. Mas uma nominalização mais acertada ficaria a encardo de um exame mais profundo. Cabe observar ainda que a autora não coloca seu nome em todas as personagens da trilogia, essa correlação é mais clara no primeiro romance, Le baobab fou. 4 No Senegal a poligamia é legalizada para homens. Entretanto, esses precisam do consentimento da primeira esposa, sendo o limite máximo de quatro esposas por homem. Sabe-se que essa regra não é 3 O último volume dessa trilogia, Riwan – ou le chemin de sable, conta a história desse relacionamento que encerra o segundo livro. Aborda desde a cerimônia de casamento, passando pela intimidade da vida na casa do Serigne, como sua vigésima oitava esposa, até o momento que deixa esse relacionamento, dando a entender que essa saída teria provocado a morte do Serigne. Esse último romance, ganhador do prêmio de melhor romance africano do ano, causou um certo estranhamento na crítica, sobretudo em relação aos dois primeiros. Afinal, a posição da autora, sempre foi vista como bastante feminista, criticando sempre a dominação masculina sobre as mulheres, nesse último volume nos deparamos com uma descrição parcial da poligamia. Como acontece com os escritores contemporâneos estão vivos e sempre disponíveis a darem suas opiniões, Ken Bugul não é diferente. E algumas vezes seus estudiosos são chamados a revisitar suas teorias a respeito do seu “autor”. Ao defender a poligamia nesse livro, Ken Bugul faz um apelo ao conforto das tradições senegalesas em relação aos costumes vindos do Ocidente. Posição que nos romances anteriores aparecia como um dos lados de uma reflexão e soava também como uma crítica às duas sociedades, nesse último romance aparece mais como àquela que reflete o pensamento da autora, quando ela, de dentro do harém conta como se dá a rotina das mulheres com os afazeres domésticos, a divisão do tempo com o Serigne e o cuidado com as crianças. Para Bernadette Kassi (2002), essa mudança de perspectiva entre uma postura feminista no primeiro romance, que tenta conciliar a tradição e a modernidade, para uma quase conformista de aceitação à tradição e retorno aos costumes exemplifica como é difícil para mulher africana romper o silêncio e vencer todas as formas de colonização porque passam. Já Inmaculada Díaz Narbona faz uma leitura de volta ao tempo para reanalisar toda a trilogia a partir da saída desse último romance, lançado 10 anos após os demais. Para ela, longe de ser um simples conformismo e uma aceitação da ordem vigente, o romance coloca em perspectiva o significado do amor e do sexo dentro de um ambiente poligâmico, e vê o amor em um relacionamento monogâmico aos moldes ocidentais como algo pueril e fantasioso. A parte das muitas tentativas de justificar a poligamia, Bugul estaria, na visão de Narbona, completando um ciclo de sua vida e a poligamia seria seu encerramento – a volta ao seu papel tradicional, como prometera a seu pai no primeiro romance. Hipótese que pode ser reforçada pela semelhança do muito respeitada, sendo conhecido vários casos de homens com numerosas esposas, inclusive se casando novamente sem o conhecimento da primeira esposa. 4 Serigne com o primeiro. Ambos dedicaram suas vidas às tradições e os costumes da religião muçulmana, ganhando respeito da comunidade por isso. A questão se volta então para a autora. É possível colocá-la simplesmente como a personagem da trilogia? Em entrevista concedida a BOURGET e D’ALMEIDA (2003), a autora faz questão de pontuar essa diferença, quando perguntada sobre sua crítica ao feminismo em Riwan. Ela pontua que essa crítica se refere a uma crítica enquanto ela personagem, que criticava as feministas significava na verdade uma crítica a ela mesma: Quer dizer, sou eu a quem eu repreendo quando estava nos meus vestidos de seda vaporosos, porque eu acreditava que era com esses vestidos que se seduzia. Eu queria também um homem só para mim. Um outro aspecto da minha personagem, é a mulher do Serigne. Significa que eu tinha necessidade de fazer essa comparação para ver como eu podia me encontrar como a vigésima oitava mulher de um homem, andar de pés descalços, chamar atenção ao pequeno pano fatal que eu tinha rejeitado no Le Baobab fou e em Cendres et Braises. Então eu me remeto implicitamente como “feminista”, e essa feminista sou eu, aquela que ama discutir com os homens porque eu pensava que com homens a gente devia discutir. Então sou eu implicitamente, não são absolutamente todas as feministas. (BOURGET e D’ALMEIDA, p. 355, 2003, tradução nossa)5 Conclusão Levando em consideração essa posição da autora, divergimos em parte da posição apresentada por Narbona pois, independente dos desejos internos da autora – que sempre quis ter uma mãe ao seu lado, viver em família na paz do seu país, uma pequena região do Senegal chamada Ndoucoumane –,os acontecimentos que ocorreram em sua vida da autora a fizeram enxergar o mundo com outros olhos e marcaram para sempre sua perspectiva. Mesmo que haja um certo saudosismo em relação às tradições ela não deixa de questioná-las, seja abertamente em seus romances, seja pelo destino de sua auto-personagem, que não finda o último romance dentro do harém do Serigne. 5 C'est- à-dire, c'est moi que je reprends quand j'étais dans mes chemises de nuit vaporeuses, parce que je croyais que c'était avec des chemises de nuit qu'on séduisait. Je voulais aussi un homme pour moi toute seule. Un autre aspect de mon personnage, c'est la femme du Serigne. C'est-a-dire que j'avais besoin de faire cette comparaison pour voir comment je pouvais me retrouver vingt-huitième femme d'un homme, marcher pieds nus, faire attention au petit pagne fatal que j'avais rejet' dans Le Baobab fou et dans Cendres et braises. Donc je me remets en filigrane en "féministe", et cette féministe-là, c'est moi, celle qui aime discuter avec les hommes. Parce que je pensais qu'avec un homme on devait discuter. Donc c'est moi en filigrane, ce ne sont pas du tout les féministes. 5 A autora, assim como sua personagem, deixa seu relacionamento poligâmico. A autora vive hoje sozinha em Dakar depois de ter tido um relacionamento monogâmico, o casamento com um médico do Benin e uma filha. Aquela que não é desejada, como significa seu pseudônimo em uolofe, passou por diversas experiências e no fim, resolveu viver só. O desfecho do último romance da trilogia deixa uma mensagem para a mulher senegalesa: seu mundo ainda não oferece uma alternativa para a mulher que, mesmo respeitando suas tradições, queira ser independente. E aqui, voltamos a concordar com Narbona. Talvez a posição da autora que nos parece muitas vezes vacilante seja fruto da dificuldade que a mulher africana enfrenta ao quebrar o silêncio. Vale ressaltar que o pseudônimo foi escolhido no lugar do nome, porque o editor achou que a temática da prostituição era muito forte para ser descrita daquela forma por uma mulher. Além disso, o pseudônimo também é criado a partir da rejeição de sua mãe, que a abandona no interior do Senegal aos cuidados de um pai idoso. Esse fato marcante, além de nortear toda sua obra, é capaz fazê-la romper com tabus e questionar tanto as imposições da tradição senegalesa, como do “ocidentalismo” imposto pelo europeu ao africano. Tanto pela maneira de narrar, conduzindo o leitor suavemente para dentro do seu sentir e do seu pensar, quanto pela posição crítica, a obra de Ken Bugul nos faz refletir nossa condição, sendo capaz também de nos colocar no lugar da autora. Que ainda assim nos deixa uma mensagem, que vale também para as mulheres senegalesas, que é possível criar e se reinventar a partir da condição de subalternidade. A tentativa de defesa da poligamia em Riwan não significa apenas um saudosismo de um momento anterior à dominação do homem branco. Ela significa uma tentativa de união entre as mulheres africanas, quase como um apelo que diz que não é preciso romper com tudo para que elas se unam em prol de uma vida digna. E que para ter independência não é necessário adotar o modo de vida europeu. Segundo a própria Ken Bugul, sua defesa da poligamia foi um ambiente mais seguro que pode curá-la da situação em que se encontrava. Quando esteve com o Serigne, pode ter um relacionamento mais intelectual com ele do que sexual. Além disso, segundo ela, as relações poligâmicas no interior e nas cidades se diferem. Para ela, uma menor preocupação com bens materiais possibilita às mulheres do campo aproveitarem seu status dentro do casamento para se desenvolverem. Ela reforça ainda a complexidade 6 Evidentemente eu vou sublimar esse meio que me recuperou, porque eu não me sentia bem e eu tinha tentado todas as outras formas de me reencontrar comigo mesmo, que falharam. Então tem um pequeno lado de sublimação, querendo ou não querendo, por reconhecimento a essas pessoas que me recolocaram em pé. Como eu disse hoje, dificilmente eu aceitaria estar num relacionamento poligâmico a menos que fosse com um “Serigne”, se não eu vou novamente ter os sentimentos decadentes que eu tinha antes. Deve-se realmente olhar a situação psicológica do personagem que eu incarno; eu não tinha outros recursos. (BOURGET e D’ALMEIDA, p. 357, 2003, tradução nossa)6 No trecho abaixo, também retirado da entrevista a Carine Bourget e Irène Assiba d’Almeida (2003), a escritora explica um pouco esse sentimento de reconhecimento da própria cultura quando perguntada sobre seu lugar de fala, como ela se sentiria em relação a ser uma porta-voz das mulheres de seu país: [...] Aldeã e nativa, eu não era verdadeiramente privilegiada. Na minha aldeia tivemos acesso à escola em 1955, enquanto em outras vilas do país a escola já existia desde do começo do século. Então, para minha geração houve um boom na educação, especialmente no meio rural, e muitas pessoas tiveram acesso à escola. A taxa de analfabetismo sofreu diversas variações. Houve uma época onde a gente não era alfabetizado porque simplesmente não se havia escola. A escola tradicional africana era uma educação oral dada pela mamãe, uma espécie de iniciação. Por causa da colonização que nós abandonamos nossos próprios meios de educação, e a colonização trouxe uma nova língua que se devia aprender primeiro a falar e depois a escrever. Nós tínhamos as nossas línguas. Não havia analfabetos, mas de códigos e de símbolos. Eu não me sinto obrigada a me fazer porta-voz, mas é algo de evidente, de natural, de normal permitir aos outros poderem conhecer aquilo que você conhece. (BOURGET e D’ALMEIDA, p. 354, 2003, tradução nossa)7 6 Forcement je vais sublimer ce milieu qui m'a récupérée, parce que je ne me sentais pas bien et que j'avais essayé toutes autres formes de retrouvailles avec moi-même qui avaient échoué, donc il y a un petit c6te de sublimation voulue ou non voulue, par reconnaissance pour des gens qui m'ont remise sur pied. Comme je le dis aujourd'hui, j'accepterais difficilement d'être dans un ménage polygamique a moins que ce soit avec un Serigne, sinon je vais encore avoir les sentiments décadents que j'avais avant. II faut vraiment voir la situation psychologique du personnage que j’incarne ; je n'avais plus d'autre recours. 7 Villageoise et indigène, je n'étais pas vraiment privilégiée. Dans mon village on a eu accès à l’école en 1955, alors que dans d'autres villes du pays, l'école était 1à depuis le début du siècle. Donc pour ma génération il y a eu un boum dans l'éducation surtout en milieu rural, et beaucoup de gens ont eu accès à l'école. Le taux d'analphabétisme a suivi plusieurs variances. Il y a une époque où on n'était pas alphabétisé parce qu'il n'y avait tout simplement pas d'école. L'école traditionnelle africaine était une éducation orale, donnée par la maman, une sorte d'initiation. C'est à cause de la colonisation qu'on a délaisse nos propres moyens d'éducation, et la colonisation a apporté une nouvelle langue qu'il fallait apprendre d'abord à parler et ensuite à écrire. On avait nos langues. On n'avait pas d'alphabet, mais des codes et des symboles. 7 Para finalizar, por mais que muitos digam que o casamento ou os relacionamentos monogâmicos ocidentais sejam mais justos, o que vemos de concreto são: a permanência do teto de vidro, a tripla jornada feminina, a diferença salarial e a quase exclusividade no cuidado parental. A posição de Ken Bugul nos parece um feminismo reflexivo, mais na linha dos “feminismos plurais” que levam sempre em consideração o lugar de fala, de escrita e sobretudo as experiências individuais e de vida de cada mulher. Referências BOURGET, Carine & D’ALMEIDA, AssibaIrène. Entretien avec Ken Bugul In: The French Review, Vol. 77, No. 2 (Dec., 2003), pp. 352-363 BUGUL, Ken. Le baobab fou. Paris: PrésenceAfricaine Éditions, 2009. . Cendres et braises. Paris: Éditions L’Harmattan, Collections EncresNoires, 1994. . Riwan – ou le chemin de sable. Paris: PrésenceAfricaine Éditions, 1999. KASSI, Bernadette. Représentations dela condition féminine dans les textes des écrivaines africaines. In: Québec français, nº 127, 2002, p/ 39-44. http://id.erudit.org/iderudit/5580ac. Acesso em 6/01/2014. MACHADO, Murad Fernanda. Personagens Femininas e Escritoras na Literatura francófona da África Subsaariana. Revista Letras Raras, Letras Raras, v. 5 n.2, p. 4858, 2016. Acesso em: 07/11/2018. http://revistas.ufcg.edu.br/ch/index.php/RLR/article/view/671/414 NARBONA, D. Inmaculada. Une lecture à rebrousse-temps de l’oeuvre de Ken Bugul: critique féministe, critique africaniste. Étudesfrançaises, vol. 37, n° 2, 2001, p. 115-131.URI: http://id.erudit.org/iderudit/009011ar, DOI: 10.7202/009011ar Je ne me sens pas obligée de me faire le porte-parole, mais c'est quelque chose d'évident, de naturel et de normal de permettre aux autres de pouvoir connaitre ce que vous connaissez. 8