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Resenha crítica "História Econômica do Brasil"

Uma curta resenha crítica sobre a obra "História Econômica do Brasil", de Caio Prado Jr.

UFPE | PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO – MDU DISCIPLINA DE TEORIA DO PLANEJAMENTO E DA GESTÃO URBANA DOCENTE: CRISTINA ARAUJO DISCENTE: CAMILLA DE ANDRADE LINS PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 26ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1981. 366 p. História Econômica do Brasil traça um panorama histórico sobre o Brasil, desde o descobrimento destas terras pelos portugueses até o período de 1930, sob a perspectiva econômica. Sendo a primeira edição datada de 1945, Caio Prado Júnior trouxe pela primeira vez um rico levantamento historiográfico e econômico do Brasil, desenvolvendo seu trabalho sob um viés dialético a partir do momento em que ele revisita o processo de formação do país para explicar o Brasil de sua contemporaneidade e, consequentemente, ainda o dos dias atuais. A obra foi dividida em oito partes, que tratam do período que vai de 1500 a 1930, tendo sido acrescentado um post-scriptum em 1976 pelo próprio autor contendo suas considerações atualizadas para o contexto econômico desta década. Dos oito itens, o primeiro trata dos momentos preliminares do Brasil enquanto território recém tocado pelo europeu (1500-1530); os três itens seguintes abordam o período colonial (1530-1808); os dois itens adiante versam sobre o Império (18081889); e os dois últimos tratam do período republicano (1889-1930...?). O livro se inicia tratando do período colonial (1530-1808), do descobrimento desta terra pelos portugueses e como se deu o processo de exploração da nova colônia. Neste período, se inicia o tráfico de africanos para servir de mão de obra escrava, juntamente com os índios nativos, primeiramente na extração do paubrasil, depois em lavouras de cana e algodão; por isso, uma das fortes atividades econômicas brasileiras é o mercado de escravos. Através de expedições exploratórias, são descobertos o ouro e o diamante em Minas Gerais, o que atrai para a região o foco da exploração, apesar desta ser fortemente taxada pela coroa. O Nordeste perde seu papel de principal fonte de riqueza para a coroa depois de 150 anos de forte e desordenada exploração. O autor inicia narrando o período seguinte, o Império (1808-1889), com a vinda da corte portuguesa para o Rio de Janeiro. O processo de independência acontece de cima para baixo, com o reconhecimento do Estado brasileiro por parte de Portugal, mediante o pagamento de um tributo e do estabelecimento de um tratado de comércio com a Inglaterra, fatos que deixam o Brasil já comprometido 1 economicamente. É neste período que o café passa a ser o produto mais importante da economia brasileira, seu cultivo se instalando em latifúndios no Centro-Sul. O Nordeste perde definitivamente seu papel de indutor da economia, com suas terras devastadas pela densa exploração e decadência dos seus produtos no mercado internacional. Com isto, são incentivadas imigrações europeias de colonização e subvencionadas; a primeira para expandir a ocupação do Sul do país e a segunda para “suprir” a mão de obra necessária às fazendas de café. O fim do Império chega com a abolição da escravatura e assim se inicia a análise de Caio Prado sobre a próxima periodização brasileira – a República (18891930...?). Este momento se caracteriza pelo fortalecimento da industrialização no país, apesar de serem visíveis os seus entraves: a falta de fontes de energia, basicamente o carvão mineral; de capital para investimento nessa área e o deficiente mercado consumidor, explicado pela carência da população. Ao mesmo tempo, o autor também elenca que a mão de obra abundante e barata e o alto custo dos produtos importados eram fatores que poderiam impulsionar a produção nacional. Quando da crise mundial de 1929 e o consequente enfraquecimento das exportações, o país também entra em crise porque a recente burguesia brasileira não consegue arcar com sua produção sem a subvenção estatal – ela sempre fora dependente das políticas protecionistas do Estado. A esta época, capitais estrangeiros vêm para subsidiar a produção industrial, com interesses na facilidade de matérias-primas, de mão de obra barata e do crescente mercado consumidor. É, então, que o Brasil assume um papel sempre secundário de produtor agrícola e findou por não investir efetivamente em um processo industrial consistente e independente, ficando sempre a mercê do capital estrangeiro e o levando a flutuar na balança comercial a cada crise econômica. São bastante importantes as análises feitas por Caio Prado Júnior frente à sociedade da sua época. Primeiramente, o minucioso levantamento destes dados compilados que resultaram na História Econômica do Brasil demonstra o quanto o autor se debruçou em busca da montagem deste panorama econômico – também politico e social – brasileiro. É importante salientar como o autor esclarece as mudanças que ocorreram no decorrer dos séculos nas divisões territorial do trabalho no Brasil, com a transferência das fontes de produção e riqueza instaladas inicialmente no Nordeste para a região Centro-Sul no século XIX, e social do trabalho, a partir do momento que o imigrante europeu aqui chega e tem mais valor que o negro primeiramente escravizado e posteriormente alforriado. Além disto, Prado Júnior destaca a formação da elite brasileira, constituída em diferentes momentos da economia em suas respectivas regiões por senhores de engenho, grandes mineradores e fazendeiros de café. 2 Com esta obra, Caio Prado esclarece que a elite que se constituiu brasileira e as condições da geopolítica sempre corroboraram para estender a qualidade de colônia do país até os dias atuais, pois a política de exploração de Portugal iniciada desde a colonização se reafirmou durante o Império e a República. O autor critica que o Brasil sempre teve de produzir para satisfazer mercados internacionais, mesmo depois do processo de independência. O Brasil permanece, portanto, como um exportador de produtos primários, que ainda sobrevive da estrutura latifundiária monoculturista e que não desenvolveu uma indústria forte, o que agrava a questão agrária e acirra as desigualdades socioespaciais. O fato do processo de independência não ter partido originalmente de uma burguesia aqui formada, que tivesse suas causas reivindicadas em prol do país que se constituía, contribuiu para a formação de uma sociedade voltada para o exterior e com o mínimo de perspectiva para melhoria interna. Esta obra é, portanto, recomendada para todos aqueles que sentem a necessidade de esclarecer o panorama econômico brasileiro, seja para a vida acadêmica e escolar, seja para conhecimento pessoal. Com uma linguagem simples e direta, Prado Júnior consegue transmitir a mensagem de maneira acessível, além de montar um quadro histórico do Brasil de forma exemplar e de fácil visualização. O autor traz também as questões internacionais que influenciaram diretamente na construção econômica do país de forma igualmente descomplicada. Caio Prado Júnior (1907-1990), nascido em São Paulo, foi um importante intelectual brasileiro, graduado em Direito em 1928 e tendo publicado seu primeiro livro em 1933, Evolução Política do Brasil. Acabou entrando para a política, atuando como deputado estadual em 1947 filiado ao Partido Comunista Brasileiro – o que evidenciava seu perfil esquerdista – porém teve seu mandato cassado quando do cancelamento do partido pelo Tribunal Superior Eleitoral. Passou a ser livre-docente da Universidade de São Paulo desde 1956 com a tese Diretrizes para uma Política Econômica Brasileira e recebeu o título de intelectual do ano em 1966 pela obra A Revolução Brasileira. Foi também o fundador da Editora Brasiliense, a qual publicou à época e ainda detém os direitos autorais da História Econômica do Brasil. Esta resenha crítica foi escrita por Camilla de Andrade Lins, discente de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial de nota para a disciplina de Teoria do Planejamento e Gestão Urbana ministrada pela professora doutora Cristina Araujo. 3