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Análise das Organizações de Educação e Formação - Reflexão

2022, Análise das Organizações de Educação e Formação

"Para estudarmos as organizações temos de juntar bocados, fragmentos, partículas de teoria de organização e de dados empíricos de origens muito diversas" (March e Simon, 1979).

Análise das Organizações de Educação e Formação - 2021/2022 Docente: Prof. Dr.ª Sofia Viseu Discente: Ernesto Ribeiro 2. Comente a seguinte afirmação: "Para estudarmos as organizações temos de juntar bocados, fragmentos, partículas de teoria de organização e de dados empíricos de origens muito diversas" (March e Simon, 1979). De acordo com a afirmação de March e Simon (1979) acima exposta, é fundamental perceber as organizações sob vários prismas, na medida em que estas são constituídas por diferentes variáveis ou componentes, tais como sejam a “estrutura, (a) comunicação, (a) liderança, (as) rotinas, (o) poder, (ou os) sistemas de remuneração e (a) divisão de trabalho” (Gomes, 1987, p. 33). Estas constituem as partes que dão lugar ao todo como um sistema complexo, que, por sua vez, apresenta caraterísticas muito especificas. Como afirmado por March e Simon (1979,) no estudo das organizações tornase determinante “juntar bocados, fragmentos, partículas de teoria de organização e de dados empíricos de origens muito diversas”. Assim, englobando os diversos elementos das teorias da análise organizacional, constata-se, segundo Magalhães (2005), existirem dois paradigmas organizacionais: o velho e o novo paradigma. No primeiro paradigma, a organização é tida como uma estrutura complexa, constituída por recursos humanos e matérias. Este paradigma é essencialmente caraterizado pela ideia de que as organizações são estruturas que processam informações, as quais são respondidas de forma mecânica pelos seus integrantes. Esta visão não entende o indivíduo por gerador de conhecimentos, mas sim como processador e reprodutor de informações. O segundo paradigma, por seu lado, considera a organização como um sistema complexo de interações humanas, materiais ou imateriais. Este sistema é caraterizado essencialmente pelas noções de comunicação, cultura, clima e pela criação de conhecimentos, produzidas em função da interação que é realizada dentro e fora da organização. Assim, estes conceitos revelam-se fundamentais para a caraterização das organizações, na medida em que os mesmos operam a aproximação do ideal ao real, conjugando-se, desta forma, o corpo teórico com a realidade organizacional. Nonaka (1988), Nonaka e Takeuchi (1995) e Weick (1995), classificam como conhecimento organizacional esta nova linha de raciocínio das teorias organizacionais (Magalhães, 2005). O conhecimento organizacional seria o “[…] processo cumulativo de construção da realidade organizacional, através de uma contínua interpretação e reinterpretação da sua envolvente, pelos membros da organização, […] sentando-se no relacionamento entre as pessoas a todos os níveis – individual, grupal, organizacional e inter-organizacional” (idem, p. 87). Também a análise específica das teorias da organização nos permite ir juntando outros elementos por forma a melhor estudar e caracterizar a organização. Assente em quatro grandes teorias: a clássica; a teoria das relações humanas; a teoria dos sistemas abertos e da contingência; e a teoria da ação concreta e emergentes, esta sistematização revela diferentes tipos de abordagem na definição e descrição da organização. A primeira teoria é orientada por fatores técnicos, racionais e normativos, considerando a organização como um sistema fechado, virado simplesmente para a eficiência produtiva e enquadrando-se no velho paradigma de análise. A segunda teoria tem por essência a troca de relações pelos indivíduos dentro da organização. Não obstante estas relações, a organização continua a ser considerada como um sistema fechado e tem como principais abordagens o modelo behaviorista e o modelo de desenvolvimento organizacional. A terceira teoria concebe a organização como um sistema aberto, por realizar trocas de informações e matéria com o seu meio envolvente. Perspetivas importantes desta teoria são as abordagens neoclássica e a da administração por objetivos, as quais se enquadram no novo paradigma de análise organizacional. Por último, a quarta teoria destaca a interação com o meio envolvente, a aprendizagem, a produção de conhecimentos e a capacidade de organização e reorganização, em resultado da complexidade de contexto em que a organização se encontra. Esta teoria dá maior relevância a estes fatores, dadas as turbulências (por exemplo, a concorrência e a competição no mercado) que caraterizam os tempos atuais e a emergência do pensamento complexo (Sérieyx, 1993). Conceptualiza-se o pensamento complexo como o processo de operacionalização da autoorganização e produção, do projeto, da exigência variada, criação e diálogos, assim como renovadas formas de ver e pensar as organizações. O próprio conceito de organização assume várias interpretações e perspetivas. Para Schein (1968), esta é uma coordenação racional de atividades de indivíduos com vista a um objetivo comum, pressupondo uma divisão de funções e tarefas. Nesta linha da organização como um sistema composto de grupo de trabalho entrosado, vão também Tiffin e McCormick (1969). O termo organização, referindo-se a um complexo padrão de comunicações e relações num grupo de seres humanos, é defendido por Simon (1976), citado por Vala et al (1994). Sousa (1990) defende uma ideia de organização como um meio socioeconómico e de corporização humana. Seja a organização tida como uma entidade social (Bilhim, 2006, p.21) ou o resultado da interação social (Lima, 2002, p.23), esta assume-se como um sistema complexo, onde cada entidade organizacional apresenta características específicas que necessitam ser interpretadas e caracterizadas. Na junção de dados empíricos de origens muito diversas, conjugando-as com as partículas, bocados e fragmentos da teoria das organizações teremos, a cada momento, o registo diferenciador entre cada uma delas, e a unidade comum que as caracteriza: uma realidade social, organizada e estruturada com vista à realização de fins comuns aos seus membros integrantes. BIBLIOGRAFIA BILHIM, J. A. F. (2006). Teoria Organizacional – estrutura e pessoas. Lisboa: Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas – ISCTE. GOMES, J. F. (1987). Comportamento organizacional. Revista de Administração de Empresas, 27 (2), 30-35. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rae/v27n2/v27n2a05.pdf. LIMA, L. (2002). Modelos organizacionais de escola: perspetivas analíticas, teorias administrativas e o estudo da ação. Política e gestão da educação: dois olhares (pp. 3353). Rio 117 de Janeiro: DP&A. MAGALHÃES, E. (2005). Fundamentos da gestão do conhecimento organizacional. Lisboa: Edições Sílabo. SCHEIN, H. E. (1968). A Psicologia na organização. Lisboa: Clássica Editora. SÉRIEYX, H. (1993). O big bang das organizações. Lisboa: Instituto Piaget. TIFFIN, J. e MCCORMICK, E. (1969). Psicologia industrial. São Paulo: Editora Herder. VALA, J., LIMA, B. M. e CAETANO, A. (1994). Psicologia social das organizações: estudos em empresas portuguesas. Oeiras: Celta Editora.