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HEGEMONIA E IMPÉRIOS ORIENTAIS
EM HERÓDOTO1
Matheus Treuk Medeiros de Araujo* * Doutorando em
RESUMO: A palavra grega ἡγεμονίη figura algumas vezes nas Histórias
de Heródoto. Em muitos desses casos, o termo é usado para designar
realidades helênicas, em especial o comando militar da aliança contra
os persas durante as Guerras Médicas. Não obstante, um conjunto
igualmente relevante de ocorrências diz respeito aos impérios do Oriente
Próximo, denotando os reinos persa ou medo, algo inusitado na Grécia
clássica. Considerando o desenvolvimento semântico do vocábulo
e, ademais, a ausência de estudos significativos sobre a ἡγεμονίη em
contextos orientais, necessário se faz um estudo sistemático de seus usos
em Heródoto. As conclusões sobre o significado e alcance do termo nesse
período refletem as circunstâncias históricas da composição herodotiana,
bem como as intenções específicas do autor, trazendo possíveis balizas
ao exame de seu desenvolvimento subsequente.
PALAVRAS-CHAVE: Hegemonia; Império; Heródoto; Oriente
Próximo.
HEGEMONY AND ORIENTAL EMPIRES IN HERODOTUS
ABSTRACT: Ancient Greek word ἡγεμονίη occurs a few times in
Herodotus’ Histories. In many of these cases, the word is used to designate
Greek realities, particularly the military command of the alliance against
the Persians during the Persian Wars. However, an equally meaningful set
of occurrences is related to Near Eastern empires, such as the Median and
Persian realms, a very uncommon usage in classical Greece. In the light
of its further semantic development and due to the lack of satisfactory
studies concerning ἡγεμονίη as an eastern phenomenon, systematic study
of the word and its uses in Herodotus are still necessary. Our conclusions
on the meaning and reach of the word at this time reflect the historical
1
Trabalho desenvolvido com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (FAPESP) e estágio de doutorado sanduíche na École
Française de Rome financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES).
História Social pela
Universidade de
São Paulo. Membro
do Laboratório do
Antigo Oriente
Próximo (LAOPUSP).
mathtreuk@gmail.
com
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circumstances of Herodotus’ composition, as well as the author’s particular intentions, suggesting
possible limits to the study of the term’s further development.
KEYWORDS: Hegemony; Empire; Herodotus; Near East.
N
o estudo da geopolítica e das relações internacionais, muitos são os termos
empregados para descrever a subordinação de Estados, nações e países a outros
entes estatais, ou, inversamente, a fim de expressar uma relação de dominação.
Fala-se em império, nas suas variedades direta ou indireta, como o “império britânico” e o
norte-americano. Invocam-se as noções de vassalagem, “Estado cliente” ou protetorado.
E, amiúde, emprega-se a palavra hegemonia para definir uma posição assumida por entes
estatais em relação a outros. Mas, afinal, o que é hegemonia?
Modernamente, trata-se de um termo empregado pela ciência política para expressar
a supremacia de facto ou o poder diretivo de um Estado sobre outros de um ponto de vista
cultural, militar ou econômico. Um Estado hegemônico exerce, mediante tal preeminência,
orientação, influência e até fascínio sobre as demais comunidades de um sistema internacional,
imprimindo-lhes, sem emprego direto da força, algum grau de controle e servindo-lhes,
ademais, como modelo (Belligni, 1998, p. 589). Nesse panorama, a hegemonia diferiria
do puro “domínio”, conceito denotando um exercício de poder coativo e direto, já que
seria dotada de maior legitimidade e reservaria alguma margem de autonomia aos entes
hegemonizados.
Na teoria marxista de Antonio Gramsci, o vocábulo passou a ser empregado
igualmente para se referir às relações de poder entre classes sociais. Mais especificamente,
a ordem sociopolítica imaginada por Gramsci encontraria seu fundamento na combinação
de força e consenso, uma face do que o autor chamou de “hegemonia”, a direção moral das
classes dominantes sobre as dominadas (a ponto de fazer estas últimas aceitarem passivamente
seu controle político). De fato, os Quaderni del carcere descrevem a noção de hegemonia, em
uma de suas acepções, como liderança intelectual e moral exercida pelas classes dominantes
sobre as subordinadas, liderança indispensável, em maior ou menor grau, para a sobrevivência
do Estado (Fontana, 2000, p. 307-308; Gramsci, 1977, p. 41; 59; Octaviani, 2014, p. 25).
Para onde quer que se olhe, portanto, o uso moderno de hegemonia tem sido
associado a contextos de exercício de controle político consentido e, por conseguinte,
revestido de alguma aparência de legitimidade. Em geral, essa noção é indissociável do
fenômeno “domínio” ou “dominação”, partilhando com este uma mesma natureza, em
virtude da qual se exerce uma forma de poder de facto, e diferenciando-se, ao mesmo tempo,
pela ausência de recurso imediato ou exclusivo à força (Belligni, 1998, p. 589). À diferença
de um império, a hegemonia exigiria volição e só poderia existir em meio à soberania externa
dos entes hegemonizados.2
“Império” e “Estado” são conceitos movediços que exigem definições flexíveis a fim de servirem
como instrumentos heurísticos. Algumas acepções são correntes. Na Allgemeine Staatslehre, o Estado é,
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Na Antiguidade Clássica, os historiadores gregos e latinos fabricaram suas próprias
noções de hegemonia, a ἡγεμονία (hēgemonía)3 da língua helênica, sendo decerto possível
traçar liames entre esta palavra e o conceito moderno. Tal tarefa, de resto, foi encetada há
anos por numerosos especialistas.
De acordo com a communis opinio do século XIX, a hegemonia clássica muito se
aproximaria da ideia moderna de supremacia (Arnold, 1847, p. 428) e, assim, o legado
da Antiguidade não seria apenas morfológico, mas também, em algum grau, semântico.
Segundo uma teoria popular inaugurada por George Grote (1851, p. 291, n. 1), Tucídides,
o historiador da “Guerra do Peloponeso”, teria se empenhado em descrever a transição da
hēgemonía ateniense a uma ἀρχή (archḗ), no caso, de uma liderança consentida a um exercício
puro de poder sobre os aliados. A fim de amparar tal leitura, Grote procedeu ao seguinte
exame terminológico:
Deve-se lembrar que a palavra hegemonia, ou liderança, é
extremamente genérica, denotando qualquer caso em que se segue
um líder e de obediência, mesmo que temporária, qualificada ou até
mesmo pouco mais que honorária. (...) Mas as palavras ἀρχή, ἄρχειν
ἄρχεσθαι, voc. pass., possuem um significado muito menos extensivo
e implicam tanto dignidade superior quanto autoridade coercitiva,
em maior ou menor grau. (Grote, 1851, p. 291-292, n. 1)4
Muitas inferências similares foram realizadas a partir desta distinção. Alguns autores
pensaram que Atenas, pólis à qual fora atribuída a prerrogativa da liderança (hēgemonía) durante
o continuado esforço militar contra os persas, teria, aos olhos de Tucídides, corrompido sua
relação com os aliados ao abandonar qualquer pretensão de legitimidade, assumindo uma
posição tirânica que, ao fim e ao cabo, culminou na sua derrota contra Esparta durante a
Guerra do Peloponeso. A narrativa de Tucídides, nessa perspectiva, seria o relato de uma
trajetória imperial fracassada, evidenciando a necessidade de moderação na relação entre
Estados hegemônicos e hegemonizados (Lebow, 2001). Em harmonia com tal corolário,
Wickersham também reconheceu a distinção fundamental entre hēgemonía e archḗ, alegando,
ademais, que a transmutação de uma hegemonia num império se explicaria, na narrativa,
pelo caráter impulsivo dos atenienses (Wickersham, 1994, p. 37-61).
A delimitação da hēgemonía como uma forma de direção não coativa foi igualmente
identificada nos textos dos oradores áticos. Uma posição acadêmica dominante e bastante
grosso modo, entendido como a articulação de três componentes: território, povo e poder coercitivo
(Jellinek, 1921, p. 28). Um Império, por sua vez, seria um controle efetivo imposto sobre a soberania
de outras sociedades políticas (Doyle, 1986, p. 19) ou um tipo de Estado caracterizado por sua
diversidade étnica e ampla extensão territorial (Duverger, 1980, p. 8).
3
Na variação ática, mas hēgemoníē nos outros dialetos jônicos (Cf. Buck, 1910, p. 19).
4
Todas as traduções de obras e fontes citadas neste artigo são de nossa autoria, realizadas a partir
dos textos estabelecidos pelas edições que se encontram nas referências. A transliteração de termos
gregos empregada pelos próprios especialistas foi mantida nas citações.
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convincente destaca o caráter consentido, militar e espontâneo da hegemonia grega nos
discursos de Isócrates, Ésquines e Demóstenes (Antela-Bernárdez, 2000, p. 2-5), à semelhança
do que supostamente se constata em Tucídides. Deve-se recordar, ainda, o suposto conselho
de Aristóteles a Alexandre, o Grande, de que tratasse os gregos ἡγεμονικῶς (hēgemonikō̂s) e os
bárbaros δεσποτικῶς (despotikō̂s), como se estes últimos fossem plantas ou animais, indicando
a maior dignidade atrelada à primeira forma de comando internacional.5
Infelizmente, na atração da aparência, não é sempre trivial o ofício do historiador. O
exame conjunto e sumário da casuística acima poderia sugerir, de um lado, que a hegemonia
dos antigos e a hegemonia moderna encontrariam paralelos, seja em razão de certo grau de
legitimidade advinda do consentimento dos entes hegemonizados, seja devido à ausência de
exercício “nu e cru” da força por aqueles que detêm preeminência. De outro lado, contudo, é
preciso realçar as especificidades da visão antiga, a fim de evitar uma abordagem superficial
e anacrônica da questão. Nesse sentido, tratar a dicotomia hodierna entre dominação e
hegemonia como o amadurecimento progressivo de conceitos tão remotos quanto a Guerra
do Peloponeso pode conduzir os especialistas a alguns equívocos.
De fato, nem a leitura de Grote sobre Tucídides é inconteste, nem as fontes antigas
permitem atingir um grau coerente de generalização do termo. Na Antiguidade grega e
romana, como veremos, hēgemonía teve ampla aplicabilidade e pôde, eventualmente, indicar
realidades que hoje consideraríamos formas de “dominação” ou “império”. À diferença do
que por vezes se lê nos modernos, também não se pode negar a natureza precipuamente
militar da hegemonia clássica, geralmente vinculada à liderança dentro de uma coalizão ou
aliança de cidades-estado.6 E, a bem da verdade, a hēgemonía antiga padece de tão elevado
grau de imprecisão, como notou o próprio Grote, que seria temerário proceder a uma síntese
sem redobrada cautela e alguma perspectiva diacrônica.
Heródoto de Halicarnasso, a quem devemos as primeiras ocorrências do termo
às quais temos acesso, parece ter muito a nos dizer. E, sem dúvida, “desvendaríamos” o
sentido de hēgemoníe em Heródoto facilmente se pudéssemos sobrepor as interpretações
modernas ao variado conjunto de significados fornecido pelas ocorrências da palavra na
Antiguidade. Essa abordagem, contudo, é dificultada pelo emprego do vocábulo nas Histórias
para descrever entidades políticas orientais, impérios, como o persa, que eram percebidos
como particularmente despóticos.7 Esse uso, há de se sublinhar, é raramente atestado além
das Histórias.
5
Cf. Plutarco, Moralia 329b.
Wilkinson nota que o termo hegemonia foi “deliberadamente revivido” pelos modernos ao longo
do século XIX, adquirindo um significado econômico e cultural que originalmente não detinha. Cf.
Wilkinson, 2008, p. 119 e ss.
7
Ou bem Heródoto, como Ésquilo, concebeu uma dicotomia fundamental entre gregos e persas
fundada na distinção entre liberdade e tirania (Hartog, 1980, p. 328-345), ou então adotou como
objeto central de sua narrativa os temas da dominação e da resistência, acima de qualquer distinção
fundamentalmente étnica, enfatizando a trágica e dolorosa dimensão da conquista (Payen, 1997, p. 218).
De uma forma ou de outra, sejam (ou não) os persas a via alusiva e indireta de uma crítica a Atenas, e
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Ao que tudo indica, os gregos de eras mais remotas desconheciam a palavra
hēgemonía, da qual a moderna hegemonia é decalque latino, mas conheciam verbos como
´
ἡγέομαι (hēgéomai) ou ἡγεμονεύω (hēgemoneúō) e um substantivo de agente ἡγεμών (hēgemōn).
No primeiro caso, o verbo denotava o ato de andar à frente, guiar, orientar, liderar, ser o líder
(“marcher devant, aller en tête, guider, être chef de”: Chantraine, 1990, p. 405; “vorangehen, führen, den
Weg weisen, der Führer sein”: Snell, 1979, p. 889), um uso comum em Homero (Odisseia, 14.48;
Ilíada, 2.816). A segunda palavra, por sua vez, designava originalmente um comandante de
natureza precipuamente militar (Snell, ibidem), como na Ilíada, onde denota os comandantes
das forças aliadas contra Troia (Ilíada, 2.494-759).
Nos autores clássicos, hēgemonía é um termo bastante vago e genérico. Em Platão,
por exemplo, aparece relacionado à liderança militar (Leis, 1641a; Eutidemo, 273c) e política
(Leis, 4711c), ao comando supremo em uma aliança militar (Crítias, 120d) e à orientação
de forma geral (Mênon, 99a). Em sentido lato, a hegemonia de Platão pode ser conferida a
elementos (Epínomis, 981c) ou partes do corpo (Timeu, 45b).
Na Política, de Aristóteles, hēgemonía é a liderança militar ou política de Estados, grupos
e indivíduos (1272a9; 1285b9-10; 1288a9; 1296a32-39; 1304a23; 1333b.41).8 Xenofonte a
emprega de forma bastante similar em mais de uma obra (Anábase, 4.7; Agesilau, 2.28-30;
Helênicas, 7.1.2). A Constituição dos Atenienses utiliza a palavra como sinônimo de liderança
militar (23.1-2) e, em determinada passagem, parece equiparar ou aproximar hēgemonía e
archḗ (24.1-2):
μετὰ δὲ ταῦτα θαρρούσης ἤδη τῆς πόλεως, καὶ χρημάτων ἡθροισμένων
πολλῶν, συνεβούλευεν ἀντιλαμβάνεσθαι τῆς ἡγεμονίας, καὶ καταβάντας
ἐκ τῶν ἀγρῶν οἰκεῖν ἐν τῷ ἄστει· τροφὴν γὰρ ἔσεσθαι πᾶσι, τοῖς μὲν
στρατευομένοις, τοῖς δὲ φρουροῦσι, τοῖς δὲ τὰ κοινὰ πράττουσι· εἶθ᾽ οὕτω
κατασχήσειν τὴν ἡγεμονίαν. πεισθέντες δὲ ταῦτα καὶ λαβόντες τὴν ἀρχὴν τοῖς
συμμάχοις δεσποτικωτέρως ἐχρῶντο, πλὴν Χίων καὶ Λεσβίων καὶ Σαμίων·
τούτους δὲ φύλακας εἶχον τῆς ἀρχῆς, ἐῶντες τάς τε πολιτείας παρ᾽ αὐτοῖς
καὶ ἄρχειν ὧν ἔτυχον ἄρχοντες.
ainda que a dominação absoluta de alguns soberanos fosse tida como adequada a algumas realidades,
fato é que o modelo oriental de subordinação internacional é tido como genericamente despótico
(senhorial) nas Histórias. Aristóteles, mais tarde, concebeu uma categoria de monarquia específica, a
realeza bárbara, caracterizada por uma relação despótica entre governantes e súditos (Política, 1285a).
Esse modelo, certamente objeto de alguma censura, seria, contudo, temperado pelo princípio da
hereditariedade e a aderência dos monarcas asiáticos às normas. Aristóteles traça explícitos paralelos
entre o domínio persa e o império ateniense (Política, 1284a39-1284b2). Cf. Koebner, 1971, p. 276.
8
Quando trata das prerrogativas da monarquia “real”, Aristóteles menciona a hēgemonía, sem dúvida com
o sentido de comando militar (Política, 1285b9-10), algo que se repete na descrição das prerrogativas
dos magistrados de Creta (Política, 1272a9). O estagirita também fala de uma hēgemonía qualificada
“política”, implicando uma autoridade civil (Política, 1288a9). Quanto à passagem 1296a39, debatese a identidade do titular da hegemonia e a natureza desse comando (doméstico ou internacional?),
como exposto nos comentários da edição de Jean Aubonnet (1971, p. 317, nota 4).
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Depois disso, estando agora confiante a cidade e tendo muitos
bens sido armazenados, ele [Aristides] começou a aconselhar que
tomassem a hegemonia e, após abandonar os campos, residissem na
área urbana, pois haveria alimento para todos: aos que serviam no
exército, aos que faziam vigília e aos que se ocupavam dos assuntos
públicos; e que assim manteriam a hegemonia. Após terem sido
convencidos quanto a essas coisas e tomado o império, trataram
os aliados mais despoticamente, à exceção de Quios, Lesbos e
Samos: a esses tinham como guardiães do império, permitindolhes suas constituições, bem como governar aqueles que por acaso
governavam.
Aparentemente, ao indicar que o conselho de Aristides para a obtenção da
“hegemonia” teria sido acompanhado pela aquisição de uma archḗ, ou império, a Constituição
dos Atenienses demonstraria a tênue fronteira entre esses dois termos já na segunda metade
do século IV a.C. Espécies de um mesmo gênero, tais noções se comunicavam e, por vezes,
poderiam ser intercambiáveis.
Não obstante, se considerarmos que a linguagem de Aristides, citada pelo autor em
discurso indireto, fosse temperada por retórica ou decoro, parece provável que hēgemonía e
archḗ fossem diferenciadas a essa altura em algum nível. Há, afinal, uma nítida divisão entre
o início da passagem, onde o termo hēgemonía é parte de um discurso aconselhador, e a
conclusão do parágrafo, em que se descreve a sequência dos fatos, com duas ocorrências de
archḗ. A liderança militar, assim, poderia corresponder à face discursiva de um projeto imperial.
O contraste entre hēgemonía e archḗ é, sem sombra de dúvida, mais nítido nos oradores
atenienses, como já foi brevemente mencionado. Ésquines emprega o termo hēgemonía ao se
referir à possível liderança consentida de Atenas em uma aliança de cidades-estado (Contra
Ctesifonte, 58) e o mesmo faz Isócrates ao relembrar um glorioso passado de seus conterrâneos
(Areopagítico, 17). Isócrates fala, ainda, da liderança naval dos Atenienses livremente concedida
pelos aliados nas Guerras Médicas (Panatenaico, 67). Por essas e outras razões, Balot assevera
que “Isócrates distingue genericamente archē de hēgemonia em nível terminológico” e afirma
que, “apesar da sutil fluidez” de sua terminologia, “ele certamente concebeu uma distinção
conceitual entre hegemonia e império” (Balot, 2014, p. 153; Cf. também Poulakos, 1997,
p. 81-82).
Christian Bouchet, em volume dedicado à hegemonia em Isócrates, assume posição
similar, ainda que mais complexa:
Se a primeira acepção da palavra hegemonia é o comando militar,
Isócrates vislumbra, com uma certa modernidade, outras formas de
direção e mesmo de presidência. Uma condução dos negócios que
rompa com as práticas reputadas injustas e que seja tal que ela mesma
conduza a uma forma de felicidade e prosperidade, à eudaimonia,
é perfeitamente louvável e invejável; ao contrário, a supremacia e
o poder se associando a uma política imperialista e acabando por
ser julgado tirânico são odiosos, sobretudo a partir dos anos 350.
(Bouchet, 2014, p. 31)
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Outros usos do termo nos oradores áticos envolvem a liderança dentro de um
Estado (Isócrates, Panatenaico 143), a liderança militar numa coalizão (Isócrates, Antídose, 57;
Panegírico 17; Ésquines, Contra Ctesifonte, 98), o generalato dos reis espartanos (Isócrates, Carta
a Filipe, 33) ou a proeminência internacional (Isócrates, Arquidamo, 110). Em numerosos
casos, ademais, o termo é empregado para indicar a presidência em um tribunal (Contra
Ctesifonte, 14; 27; 29).
Para Demóstenes, em particular, a hegemonia poderia ser uma forma de liderança
internacional ou militar (Quarta Filípica, 6; Contra Neera, 96; Contra Léptines, 68; Pela liberdade
dos Ródios, 17; Do tratado com Alexandre, 22) ou espécie de poder e autoridade (Sobre a
falsa embaixada, 260; Sobre a Coroa, 65). É notável que a hēgemonía de Demóstenes seja
recorrentemente associada à noção de “independência” (eleuthería, com o sentido de soberania
externa) e contraposta à tirania e à archḗ no plano internacional. A derrota de Esparta contra
Conão é condição para que Atenas novamente aspirasse à hēgemonía (Contra Léptines, 68). Não
por acaso, Conão é descrito como liberador dos aliados de Atenas (Contra Léptines, 69) e
destruidor da tirania e archḗ de Esparta (Contra Léptines, 70). Como os espartanos, Filipe da
Macedônia é acusado de almejar o exercício de uma archḗ e uma tirania sobre todos os gregos
(Sobre a Coroa, 66), tendo, para isso, destruído a liberdade e hēgemōnía de vários Estados (Sobre
a Coroa, 65). É nítido, à luz dessas passagens, o vínculo entre hēgemonía e soberania externa
(eleuthería), geralmente contrapostas à archḗ ou à tirania internacional.
O caso de Tucídides, por sua vez, foi objeto de numerosos comentários. Como
já foi notado, uma corrente majoritária atribui ao ateniense a preocupação em diferenciar
“hegemonia” de outras formas de poder ou domínio imperiais (Wickersham, 1994, p. 37-61;
Lebow, 2001, p. 550), tratando-a como o exercício legítimo de autoridade dentro de uma
coalizão militar. Outros autores, minoritários, acreditam que o historiógrafo não forneceria
uma distinção com a qual se poderia operar. Tucídides, afinal, “usa hegemonia de maneira
intercambiável com arche e strategia. (...) Não há por conseguinte, distinção essencial entre
hegemonia e arche em Tucídides” (Bloedow, 1994). Ou, nas palavras de Winton, “os termos
arche e hegemonia e seus verbos cognatos são regularmente usados de maneira intercambiável”
(Winton, 1981, p. 151).
Ao que tudo indica, contudo, assistiria razão à corrente majoritária,9 bem sintetizada
por Ian Morris:
O ponto de partida óbvio é a terminologia de Tucídides. Ele
normalmente apelida a unidade política liderada por Atenas de archê,
literalmente “domínio”. Ele parece ter distinguido cuidadosamente
A hēgemonía de Tucídides é, em muitos casos, idêntica ao comando militar de indivíduos, como, por
exemplo, Pausânias e Nícias (1.94.2; 1.130.1; 4.91; 5.7.2; 7.15.2). Em tantos outros, parece indicar uma
liderança ou comando de uma cidade-estado dentro de uma coalizão (1.76.1; 1.95.6; 1.96.1; 5.47.7;
5.69.1; 6.82.3). Há, por fim, um caso de aparente preeminência política de indivíduos (5.16.1). Os
verbos cognatos são usados de forma muito mais genérica. Ao falar do império persa, por outro lado,
Tucídides prefere empregar archḗ (8.43.3), inclusive em sentido territorial (8.48.4).
9
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archê e hêgemonia, “hegemonia”, que denotava uma forma de
aliança ou controle mais flexível. Em 1.97 ele descreve a aliança
consideravelmente consensual anti-persa de 478 como hêgemonia e
o controle impopular de Atenas em 431 como archê. (Morris, 2008,
p. 128)
As inscrições áticas mais remotas pouco ou nada acrescentam ao problema. Um
decreto para o conserto das muralhas do Pireu, datado da segunda metade do século IV
a.C., usa a palavra hegemonia com um sentido já notado em Isócrates: a “presidência” de
um tribunal (IG II² 244.32). Décadas depois, uma estela ateniense fala de ἡγεμονίαι como
“regimentos” (IG II² 657.23). No final do século III a.C., outro decreto parece empregar
a palavra para indicar alguma espécie de liderança militar, embora seu estado não permita
longas elucubrações (IG II² 843.17).
Mais tarde, no período romano, o termo hēgemonía efetivamente amplia seu espectro
de significados.10 Em documentos diplomáticos da República tardia, hēgemonía traduz imperium
significando o “Estado” Romano enquanto entidade política e, no Principado, figura na
tradução das Res Gestae de Augusto (novamente como versão de imperium), com o sentido
de autoridade ou poder imperial (Richardson, 2008, p. 104-105; 118-119). Plutarco fala da
magnitude ou extensão de uma hēgemonía bárbara, em sentido territorial (Artaxerxes, 6.1;
Címon, 18.6).11 Diodoro Sículo faz o mesmo ao falar do “império” dos citas (2.43.5).12 Em
Estrabão, por fim, a palavra chega a ser empregada com o sentido de um império territorial,
em referência ao domínio romano (Geografia, 17.3.25; Richardson, 2008, p. 137-138).13
10
Nas inscrições do império e do principado, o termo é comumente usado quanto ao reinado dos
imperadores romanos, com propósito cronológico (IGL Syr. 3,1: 867; IGL, Syr. 3,2: 1044; SEG 32:
1386; etc.). Em uma inscrição (parcialmente reconstituída por Thomas Drew-Bear) do século IV d.C.,
denota o império em sentido evidentemente territorial (SEG 31:1116). Não seria demais recordar uma
mesma profecia sobre o governo do imperador Galba citada pelos historiadores e biógrafos latinos, nas
quais os termos hēgemonía, imperium e archḗ são usados alternadamente e com o mesmo propósito. Em
seus Anais, Tácito atribui a Tibério a fala (originalmente em grego) de que Galba também provaria do
imperium (6.20). Dio Cássio reporta o discurso direto em grego: “tu também provarás da hēgemonía um
dia” (57.19.4). Suetônio confere a fala a Augusto e emprega, no lugar de hēgemonía, archḗ (Galba, 4.1).
11
Plutarco conta que Címon tinha em mente a dissolução de “toda” a hegemonia do rei persa (“ὅλης
... τῆς βασιλέως ἡγεμονίας κατάλυσιν”), sendo aferível, pela passagem, que essa totalidade se expressava
em termos geográficos (Plutarco, Címon, 18.6). Na biografia de Artaxerxes, por sua vez, fala-se da
magnitude do império persa, provavelmente em sentido territorial – o que, é verdade, não exclui
outra possível (mas improvável) leitura, na qual tal “grandeza” se referiria somente ao elevado grau
de dignidade do poder real (Plutarco, Artaxerxes, 6.1).
12
A hegemonia dos citas nesta passagem pode representar tão somente um poder abstrato com
desdobramentos territoriais. De toda forma, é inegável o caráter imperial e despótico dessa autoridade,
descrita por Diodoro como a “escravização” de vários povos.
13
Cf. também Políbio, 1.63.9.
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A partir dos casos acima elencados, poderíamos supor que o termo hēgemonía, ou
hegemonia, iniciou sua carreira como designador de uma liderança militar consentida e, mais
tarde, passou a ser empregado igualmente para descrever um exercício de poder coativo,
denotando até mesmo territórios imperiais. Heródoto, contudo, já empregara o termo no
século V a.C. para descrever realidades políticas orientais, algo inusitado para uma palavra
supostamente atrelada ao exercício de domínio consentido, ao menos se considerarmos a
visão predominantemente negativa que os gregos clássicos nutriam de seus adversários persas
e medos (Cartledge, 2002, p. 76-77; Hall, 1997, p. 44; Hall, 1989, p. 56-69).
Dezenove são as ocorrências de hēgemoníē na obra do historiógrafo de Halicarnasso.
Em seis casos, ao contrário do que ocorre nas demais fontes dos séculos V e IV a.C., a
palavra designa uma realidade oriental (1.7.1, 1.46.1; 3.65.6; 7.2.1, 7.8A.1; 9.122.2).14 Outras
nove ocorrências se referem a um poder exercido por Estados gregos (7.148.4, 7.149.2,
7.159, 7.160.2, 7.161.3; 8.3.1, 8.3.2). As restantes dizem respeito à liderança de indivíduos
(6.2.1; 7.88.2; 9.10.2) ou até ao comportamento de peixes em cardume (2.93.2). Destarte,
resulta que uma proporção bastante significativa de ocorrências não poderia descrever a
liderança de Estados gregos numa aliança militar, restringindo-se à caracterização do poder
de lídios, persas e medos.
Se fosse ignorada a origem dos entes aos quais se refere, a hegemonia de Heródoto
poderia ser separada em duas categorias. De um lado, haveria a hegemonia de indivíduos e
dinastias (1.7.1, 1.46.1; 6.2.1; 7.2.1, 7.88.2; 9.10.2) e, de outro, a hegemonia cujos titulares
são povos ou Estados inteiros (3.65.6; 7.8A.1, 7.148.4, 7.149.2, 7.159, 7.160.2, 7.161.3; 8.3.1,
8.3.2; 9.122.2). Em contextos orientais, um exemplo da primeira categoria seria o prólogo
da famosa história de Giges e Candaules, reis da Lídia (1.7.1-2):
ἡ δὲ ἡγεμονίη οὕτω περιῆλθε, ἐοῦσα Ἡρακλειδέων ἐς τὸ γένος τὸ Κροίσου,
καλεομένους δὲ Μερμνάδας. ἦν Κανδαύλης, τὸν οἱ Ἕλληνες Μυρσίλον
ὀνομάζουσι, τύραννος Σαρδίων, ἀπόγονος δὲ Ἀλκαίου τοῦ Ἡρακλέος.
De tal forma a hegemonia, tendo sido dos Heraclidas, passou à estirpe de
Creso, chamada Mermnada. Candaules, quem os gregos chamam Mirsila,
era rei de Sárdis, descendente de Alceu, filho de Héracles.
Aqui, a hegemonia da qual se fala não parece representar mais do que o poder
exercido pela dinastia reinante em Sárdis. O trecho inteiro é uma crônica de sucessões
dinásticas, chegando Heródoto a empregar o termo archḗ com o mesmo propósito que
hēgemoníē ao falar da ascensão dos próprios Heraclidas “por meio de um oráculo” (1.7.4). A
Lídia dos Heraclidas, ao que se pode aferir pela narrativa, não era um império, isto é, um
domínio coativo sobre outros povos e territórios. Teria sido Giges, primeiro dos Mermnadas,
o responsável por uma incipiente expansão (7.14), continuada nos reinados de Árdis, Sadiata,
Aliata e, finalmente, Creso, quem Heródoto considera “o primeiro dos bárbaros que nós
14
Demos preferência à divisão da edição de Alfred Denis Godley.
18
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sabemos ter submetido alguns dos gregos ao pagamento de tributo” (1.6.2).15 Se hegemonia
aqui se referisse a um império ou a um domínio internacional, tal teria provavelmente
representado uma contaminação do relato de 1.7.1 pela realidade póstuma de Creso,
governante de numerosos povos e mencionado por Heródoto apenas algumas linhas antes.
Como autoridade militar de indivíduos, a hegemonia é atribuída a gregos e orientais
sem distinção. Ao descrever a extensão e organização das tropas de Xerxes contra os gregos,
Heródoto menciona um incidente ocorrido com Farnuces, general dos persas, que teria
adoecido após uma queda, perdendo sua “hegemonia” ou comando das tropas (7.88.2). Da
mesma forma, Heródoto nota que Plistarco, filho de Leônidas (o herói das Termópilas), era
muito novo para assumir a “hegemonia” que lhe pertencia por direito, restando o comando
militar das tropas espartanas nas mãos do notável Pausânias, seu tutor e primo (9.10.2).
Ora, nesses e em outros casos, a hegemonia é antes de tudo uma posição militar de
liderança estratégica e hierárquica. Às vezes, vislumbra-se um uso mais genérico, denotando
o domínio de autoridades e dinastias, mas seria exagero ver nessas ocorrências a ideia de
império ou domínio internacional.
Na segunda categoria, contudo, de uma hegemonia pertencente a povos e nações,
encontram-se exemplos helênicos e bárbaros, todos indicando alguma forma de proeminência
internacional. Essa categoria é a que mais interessa, sendo expressão de um uso bastante
particular do termo hegemonia.
Das histórias sobre as disputas dos helenos pela “hegemonia”, nada de inusitado
se extrai. Unidos pela necessidade de fazer frente à Pérsia, mas separados por pretensões
inconciliáveis, Esparta, Atenas, Argos e Siracusa disputam recorrentemente pela “hegemonia”
ou comando militar supremo das tropas aliadas. Devido ao prestígio que lhe era atrelado, a
hēgemoníē é inclusive condição para a colaboração na guerra e um tema recorrente do sétimo
livro das Histórias.
Na narrativa de Heródoto, os argivos são, em primeiro lugar, instados pelos aliados
gregos a contribuir para o esforço de guerra, ao que respondem exigindo metade da
“hegemonia” (comando da aliança militar) que lhes pertenceria por direito (7.148.4). Após
a recusa dos espartanos, os argivos teriam declarado ser preferível o domínio bárbaro à
submissão pelos espartanos (7.149.3), curiosa forma de tratar um comando “por direito”. Na
passagem seguinte, Heródoto não hesita em chamar a pretensão dos espartanos à hegemonia
simplesmente de archḗ (7.150.3).
Mais tarde, os gregos procuram a ajuda de Gelão de Siracusa, envolvendo-se em
mais um embate retórico pela hegemonia (7.159, 7.160.2, 7.161.3). Por fim, Heródoto lembra
que, mesmo tendo sacrificado seu direito à hegemonia durante o embate com Xerxes, os
atenienses a recobrariam dos espartanos no futuro (8.3.1-2).
Ao contrário do comando militar das forças gregas, a “hegemonia” de medos e
persas é de extremo interesse. A expressão, dissemos, causa espanto, justamente por sugerir
que os bárbaros teriam uma forma de domínio similar àquela reivindicada por espartanos e
15
“(...) βαρβάρων πρῶτος τῶν ἡμεῖς ἴδμεν τοὺς μὲν κατεστρέψατο Ἑλλήνων ἐς φόρου ἀπαγωγήν (...)”.
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19
atenienses. Nas três ocorrências desse tipo que encontramos, aliás, o objeto referido parece
ser um império de tipo oriental, significando, no mínimo, o exercício de poder coativo de
um povo sobre povos, Estados e territórios diversos. As falas de Artembares a Ciro ao final
das Histórias (9.122.2), de Cambises aos nobres persas denunciando o golpe de Smérdis
(3.65.6) e, por fim, de Xerxes à aristocracia justificando sua política expansionista (7.8A.1)
são todos exemplos desse uso da palavra “hegemonia”.
De forma alguma poderíamos duvidar de que Artembares se refere a um exercício de
poder imperial em 9.122.2, já que este nobre iraniano descreve o vasto controle dos persas
em termos demográficos (“muitos homens”) e territoriais (“toda a Ásia”). Ainda assim,
hēgemoníē é o termo escolhido para descrever tal entidade:
‘ἐπεὶ Ζεὺς Πέρσῃσι ἡγεμονίην διδοῖ, ἀνδρῶν δὲ σοὶ Κῦρε, κατελὼν Ἀστυάγην,
φέρε, γῆν γὰρ ἐκτήμεθα ὀλίγην καὶ ταύτην τρηχέαν, μεταναστάντες ἐκ
ταύτης ἄλλην σχῶμεν ἀμείνω. εἰσὶ δὲ πολλαὶ μὲν ἀστυγείτονες πολλαὶ δὲ
καὶ ἑκαστέρω, τῶν μίαν σχόντες πλέοσι ἐσόμεθα θωμαστότεροι. οἰκὸς δὲ
ἄνδρας ἄρχοντας τοιαῦτα ποιέειν· κότε γὰρ δὴ καὶ παρέξει κάλλιον ἢ ὅτε γε
ἀνθρώπων τε πολλῶν ἄρχομεν πάσης τε τῆς Ἀσίης;’
“Uma vez que Zeus entregou a hegemonia aos persas e, dentre os homens,
tendo derrotado Astíages, a ti, Ciro, vamos, agora, após abandonar essa terra
pequena e dura que possuímos, ter outra melhor. Há muitas terras vizinhas
e muitas terras mais distantes. Tomando uma dessas, seremos maior motivo
de admiração para muitos mais. É justo que os homens que governam façam
isso, pois quando haverá melhor ocasião do que agora que governamos
muitos homens e toda a Ásia?” (9.122.2)
Em outra passagem, Xerxes, uma personagem de caráter ambíguo, mas
inequivocamente despótico no controle de povos subjugados, fala da “hegemonia” que
os persas haviam conquistado com a derrota dos medos: “tal como sou informado pelos
anciãos, após tomar aos medos esse império, tendo Ciro destruído Astíages, nunca antes
ficamos inativos” (7.8A.1).16 Ela se insere na descrição de uma política expansionista e de
domínio sobre vários povos, constituindo apologia e justificativa da campanha contra os
atenienses, algo marcadamente diferente do que era conhecido como hēgemonía entre gregos,
livremente concedida.
Por fim, num trecho célebre da narrativa, Cambises discursa aos nobres persas para
confessar o assassinato do irmão e expressar seu último desejo: que os persas não deixassem
o poder imperial retornar às mãos dos medos que, por meio de artifícios, haviam recobrado
sua autoridade (3.65.6). Mais adiante, Cambises emprega a palavra archḗ com sentido análogo
(3.65.7) e lança uma maldição para incitar os conterrâneos à defesa de sua causa.
16
“ὡς γὰρ ἐγὼ πυνθάνομαι τῶν πρεσβυτέρων, οὐδαμά κω ἠτρεμίσαμεν, ἐπείτε παρελάβομεν τὴν ἡγεμονίην
τήνδε παρὰ Μήδων, Κύρου κατελόντος Ἀστυάγεα (...)”.
20
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Se, como vimos, a hegemonia indicava preponderantemente um domínio exercido
“por direito” e sobre aliados formalmente independentes, o que teria motivado seu uso para
descrever um império de tipo oriental, reiteradamente descrito como um exercício de poder
despótico ao longo das Histórias? Por que, além disso, uma palavra revestida de tamanha
dignidade teria sido empregada para descrever entidades políticas bárbaras, um uso não
atestado até muito mais tarde, no auge da Roma imperial?
Os especialistas criaram intrincadas formulações a fim de esclarecer as referidas
passagens. Para Payen,
A noção de hegemonie está associada à arkhe em três passagens
essenciais do relato, sempre utilizada para designar um poder bárbaro.
Pouco antes de morrer, Cambises adjura os nobres aquemênidas
presentes “a não tolerar que a hegemonie retorne novamente aos
medos”, pois seria desse “poder” (arkhen) que dependeriam todos
os recursos (karpon) e a liberdade. O último capítulo lembra que,
uma vez, Ciro, ao escolher transformar a “hegemonia” dada aos
persas por Zeus em um “poder” (arkhein) sobre outrem, renunciava
conscientemente aos mesmos frutos admiráveis (karpon thômaston)
para evitar a “escravidão”. Mais que a hegemonia, que pode
simplesmente ser entregue, a arkhe é a escolha concertada de uma
forma de dominar, sem a qual não há liberdade. (Payen, 1997, p. 195)
A engenhosa posição de Payen não é de grande ajuda. Se a hegemonia pudesse ser
simplesmente dada ou entregue, espanta que esse não seja o caso em nenhuma das três
passagens examinadas. Cambises autoriza que a hegemonia seja recobrada por dolo ou
pela força, Artembares claramente associa a concessão divina da hegemonia à derrota de
Astíages em combate e Xerxes expressamente fala de uma hegemonia tomada aos medos
militarmente. Nenhuma dessas hēgemoníai foi simplesmente “dada”, o que também não é o
caso da transição dos Heraclidas aos Mermnadas em outra passagem já analisada.
Da mesma forma, tentar diferenciar a archḗ da hēgemoníē da forma como faz Payen é
um exercício hermenêutico incrivelmente difícil. A fala de Ciro em resposta a Artembares
meramente indica que os persas perderiam a archḗ que já detinham se se fixassem em outras
localidades. Antes de Ciro, aliás, o próprio Artembares utiliza o verbo árchein para ilustrar a
hegemonia dos persas. É praticamente impossível, por fim, evidenciar qualquer diferença
na formulação que Cambises faz aos persas empregando archḗ e hēgemoníē alternadamente.
Wickersham adota uma posição mais plausível e aduz que:
Hêgemoniê, no sentido de comando internacional, é quase inteiramente
limitada por Heródoto aos casos que eu discuti, dos quais todos
dizem respeito ao comando, parcial ou total, da resistência contra
Xerxes. Além desse status grego, a palavra denota a posição dos
senhores da Tessália (9.1) e do Império Persa. (3.65, 7.8, 9.122)
Embora nas últimas três ocorrências a hêgemoniê denote um império
oriental, elas não demonstram que Heródoto tenha usado hegemonia
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21
como sinônimo de arkhê, uma vez que todas as três se encontram
em contextos onde a ideia de honra está fortemente associada à
hegemonia, precisamente como nos casos gregos. (Wickersham,
1993, p. 21)
Essa interpretação, contudo, é dificultada pelo fato de que Heródoto está precisamente
empregando hēgemoníē como sinônimo de archḗ em dois trechos destacados por Wickersham
(3.65.6-7; 9.122.1-2). A resposta, portanto, deve residir em outro lugar.
Ao que tudo indica, Heródoto empregou o termo “hegemonia” enquanto comando
militar supremo como analogia a fenômenos orientais que lhe eram de custosa designação.
É forçoso lembrar que Lídia, Pérsia e Média eram entidades inequivocamente imperiais na
narrativa de Heródoto, que dedicou várias linhas a descrever-lhes as numerosas conquistas
(em termos de diversidade étnica e territorial).17 Tanto a liderança grega quanto o império
oriental partilhavam uma natureza comum, na medida em que se referiam à relação de
subordinação de uma entidade política a outras, ou de um povo a outros, motivo pelo qual
poderiam ser aproximadas em hipóteses específicas.
No século V a.C., os gregos e suas póleis se viram pela primeira vez diante de uma
entidade estrangeira de magnitude e natureza radicalmente diversa do que a Grécia havia
conhecido até então. Os grandes éthnē da Hélade e arredores poderiam ser Estados extensos,
mas continuavam restritos a populações que se identificavam étnica e culturalmente. As póleis
gregas continentais, por outro lado, começavam a caminhar rumo ao domínio internacional,
mas mesmo a Atenas imperial não chegaria a controlar povos especialmente distantes (ao
menos como estes próprios se percebiam) ou um território particularmente vasto (Morris,
2009, p. 133).
Antes disso, os gregos do período arcaico certamente interagiram com Estados
orientais que combinavam largas extensões territoriais e diversidade étnica, como a Assíria
ou a Lídia, mas esse contato era mais esparso ou menos intenso. Ainda que ignorássemos o
grau de interação entre “gregos”,18 de um lado, e as monarquias orientais, de outro, o fato é
que o império da Pérsia foi inédito em magnitude e diversidade demográfica mesmo para os
parâmetros orientais. Mais importante, foi apenas (ou precipuamente) no século V a.C. que
os gregos desenvolveram gêneros de expressão em prosa inteiramente originais combinados
a uma forma igualmente nova de reflexão política.
A associação de um contexto geopolítico inédito à aparição de novas formas de
expressão textual exigiu dos autores clássicos uma maneira adequada de enquadrar e referir
as monarquias orientais, mas esse processo não deve ter sido simples. Para dar expressão
às estranhas realidades do Oriente Próximo, os gregos clássicos fizeram uso de conceitos e
palavras com os quais suas audiências estariam familiarizadas. Ésquilo, no início do século V
17
Heródoto, 1.7-16, 72.1-2, 106.2, 188.1, 207 etc.
A adequação da categoria para povos de períodos mais remotos esbarra no problema da identidade
helênica e a data de sua sedimentação. Seu uso aqui, portanto, é didático. Ressalte-se a importância
de sofisticados estudos recentes a esse respeito (Kim, 2013; Skinner, 2012).
18
22
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a.C., fala da monarquia persa e do império inteiro como uma pólis (Os persas, v. 213; 511-512;
682; 715; 781). Heródoto, na carência de termo melhor, usou hēgemoníē, entre outras palavras.
Mais que isso, contudo, é notável que Heródoto tenha, por assim dizer, “colocado”
o termo hēgemoníē “na boca” de nobres e reis persas. Em outras palavras, o vocábulo,
designando o controle sobre povos e Estados, figura no discurso direto dos orientais, talvez
emulando um uso retórico e decoroso empregado pelos próprios gregos (em especial, os
atenienses) que não queriam confessar o caráter despótico de seu domínio. Destarte, o uso
de hēgemoníē na fala de persas para se referir a seu próprio domínio internacional deve ter
sido um recurso narrativo que ironizava ou apenas representava a tentativa dos bárbaros
de mitigar a brutalidade do seu poderio, fazendo com que este se passasse por um controle
revestido do verniz da legitimidade. Nesse sentido, apurada seria a opinião de Wickersham
sobre a associação da hēgemoníē a situações de honra e dignidade.
O uso da palavra grega hegemonia para descrever impérios orientais em Heródoto
deve, por conseguinte, refletir uma maior dignidade atrelada a esse termo no período clássico,
o que ratificaria a corrente majoritária sobre Tucídides e se coadunaria com outros achados
do período, como vimos na Constituição dos Atenienses, acima. Por outro lado, sendo muito
indeterminada, a terminologia decerto não foi empregada em sentido técnico ou estanque,
havendo uma tênue fronteira entre a hegemonia, de um lado, e outras formas de controle,
de outro. No período romano, a hegemonia passou a se confundir mais intimamente com
outras formas de poder coativo, vindo a ser designação corrente de domínios imperiais,
inclusive o próprio Império Romano. Além de adquirir conotação territorial, o termo passou
a ser empregado novamente para se referir a impérios orientais, como o persa, da forma que
se encontra na biografia de Artaxerxes por Plutarco (6.1).
As aproximações conceituais e terminológicas entre hēgemoníē e archḗ na obra de
Heródoto, às quais fizemos referência em alguns momentos, também relevam um aspecto
importante do léxico político da historiografia clássica. Quando se recusaram a ceder a
hēgemoníē aos espartanos, os argivos, na verdade, revelaram considerar aquela liderança uma
forma de domínio ou submissão. Ou, em outras palavras, ainda que os espartanos falassem
em hēgemoníē, outros gregos interpretavam tal comando militar em termos de pura dominação
(talvez, mas não necessariamente, imperial). Cambises, por outro lado, emprega em seu
discurso alternadamente as palavras hēgemoníē e archḗ para se referir a uma mesma realidade
política, seja porque a archḗ teria sentido mais lato nesse contexto, seja devido a uma possível
confusão entre a realidade despótica do império e o discurso apologético que os grandes
reis faziam do mesmo.
A archḗ, enquanto domínio internacional, é limitada por Heródoto a contextos
orientais, com uma suposta exceção (6.98.2). Destarte, é provável que a palavra pudesse
então expressar um arranjo institucional de tipo oriental, o império territorial, especialmente
quando qualificada, no atributivo ou predicativo, como “grande” (megálē), o que ocorre
mais de uma vez ao longo das Histórias (1.185.1; 1.53.3; 1.87.3).19 Nesse contexto, o termo
19
Para a mesma expressão, sempre usada para a Pérsia, cf. Xenofonte, Ciropedia, 8.1.13 e Políbio,
Histórias, 1.2.2.
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facilmente seria associado à dolorosa realidade da conquista bárbara, carregando conotações
negativas. Um exame mais aprofundado do uso de archḗ nesses contextos, contudo, exigiria
uma dissertação à parte, desnecessária para os propósitos ora almejados.
Em conclusão, a análise histórica da palavra hegemonia combinada ao exame
sistemático de seu uso em Heródoto permite afirmar que, de fato, o termo teria sido
associado ao exercício de poder consentido, adquirindo uma coloração mais prestigiosa se
comparado a outros vocábulos do mesmo campo semântico. Esse uso particular, é claro, se
restringe à descrição de relações interestatais, sendo comum encontrar a palavra, em outros
contextos, com escopo mais genérico: poder, autoridade ou comando. Por analogia, e num
momento histórico de desenvolvimentos e contatos inéditos, hēgemoníē chegou a ser usada
por Heródoto para descrever o domínio de persas e medos sobre outros povos, mas apenas
limitadamente e em contextos onde se esperaria uma linguagem mais decorosa. De toda
forma, a palavra serviu a diferentes propósitos na Antiguidade, tendo um primeiro significado,
mais técnico, vinculado à hierarquia militar, e outros, muito variados, como o de um império
territorial durante o Principado. Se, por um lado, o período clássico testemunha uma mais
nítida distinção entre hegemonia e domínio coativo, por outro, no período romano, pode-se
constatar o uso do termo denotando uma autoridade imperial. Por essa razão, a hēgemoníē
não poderia ser equiparada à hegemonia moderna sem fortes ressalvas.
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Recebido em 19 de abril de 2017
Aprovado em 01 de julho de 2017