Encantadora de baleias
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Encantadora de baleias - Witti Ihimaera
Copyright © Witi Ihimaera, 1987
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida em qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer armazenamento de informação, e sistema de cópia, sem permissão escrita do editor.
Capa: Emília Albano
Todos os direitos desta edição reservados à Barany Editora © 2012
São Paulo - SP - Brasil
contato@baranyeditora.com.br
Livro para Ser Livre
www.baranyeditora.com.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
______________________________________________________
Ihimaera, Witi.
A encantadora de baleias / Witi Ihimaera : tradução Roberto Cattani e Katia Maria Bortoluzzi
-- São Paulo: Barany Editora, 2012.
ISBN: 978-85-61080-22-8
Título original: The whale rider.
1. Ficção neozelandesa I. Título
12-07529
CDD - 823
______________________________________________________
Índice para Catálogo Sistemático:
1. Ficção : Literatura beozelnadesa em inglês
823
Para Jessica Kiri e Olivia Ata,
as melhores meninas de todo esse amplo mundo
Esta história está ambientada em Whangara, na Costa Leste da Nova Zelândia, onde Paikea é o ancestral tipuna.
Porém, a história, as pessoas e os acontecimentos descritos são inteiramente ficcionais e não foram baseados em nenhuma pessoa de Whangara.
He tohu aroha ki a Whangara me nga uri o Paikea.
Agradeço também a Julia Keelan, Caroline Haapu e Hekia Parata por seu conselho e ajuda.
Prólogo
A Vinda de Kahutia Te Rangi
Kia hora te marino
Kia whakapapa pounamu te moana
Kia tere te karohirohi
I mua i tou huarahi
Que a calma se alastre
Que o oceano brilhe como jade
Que o esplendor da luz
Dance para sempre no teu caminho
1
Nos velhos tempos, nos anos que aconteceram antes de nós, a terra e o mar sentiam um grande vazio, um anseio. As montanhas como escadas para o céu, e o luxuriante verde da floresta tropical era um manto ondulado de muitas cores. O céu era iridescente, rodopiando com os movimentos do vento e das nuvens; às vezes refletindo o prisma do arco-íris, às vezes da aurora boreal. O mar, em eterno movimento, reluzia fundindo-se com o céu. Era o poço do fundo do mundo, e quando você olhava para dentro dele sentia como se fosse possível enxergar o fim da eternidade.
Isso não quer dizer que a terra e o mar não tivessem vida, vivacidade. O tuatara, o antigo lagarto com seu terceiro olho, estava de sentinela, piscando no sol escaldante, vigiando o Leste à espera. Os moa, em manadas gigantes sem asas, pastavam pela ilha do Sul. Por dentro da barriga quente da floresta, os kiwi, os weka e outros pássaros ciscavam em busca de huhu e outros insetos suculentos. As florestas ressoavam com o estalo das cascas das árvores, a cantoria das cigarras, o murmúrio dos riachos cheios de peixes. Às vezes a floresta ficava silenciosa repentinamente, e dentro da vegetação molhada ouvia-se a filigrana das risadas dos seres mágicos, como um glissando borbulhante.
O mar também pululava de peixes, mas eles também pareciam estar à espera de algo. Nadavam em brilhantes cardumes como uma chuva de paetês, pelas profundezas de jade – hapuku, manga, kahawai, tamure, moki e warehou – com o tubarão mango ururoa como pastor. Algumas vezes via-se de longe uma branca silhueta voar pelo mar, mas seria só o voo sereno da tarawhai, a arraia com o ferrão na cauda.
Esperando. Esperando pela semeadura. Esperando pela dádiva. Esperando pela benção que viria.
De repente, olhado para a superfície, os peixes começaram a ver as barrigas escuras das canoas vindo do leste. Os primeiros Anciões estavam chegando, em sua viagem do reino insular além do horizonte. Depois de um tempo, as canoas foram vistas voltando para o leste, deixando longas fendas no brilho da superfície. A terra e o mar suspiraram de felicidade:
Fomos descobertos
A notícia está sendo levada de volta para a terra dos Anciões
A dádiva virá logo.
Enquanto aguardavam, a terra e o mar começaram a sentir as pontadas da urgência, que acabasse, enfim, a espera. As florestas soltaram suaves perfumes aos ventos do leste, e guirlandas de pinheiros pohutukawa nas correntes do leste. O mar cintilava com o voo dos peixes voadores, se lançando bem alto para enxergar além do horizonte e serem os primeiros a anunciar o advento; na água rasa os cavalos marinhos camaleões vigiavam em volteios. Os únicos que relutavam era os seres mágicos, que preferiam se refugiar, com suas argentinas risadas, em grutas de cachoeiras cintilantes.
O sol nascia e se punha, nascia e se punha. Até que um dia, no ápice do meio-dia, é feito o primeiro avistamento. Uma espuma no horizonte. Uma silhueta escura surgindo das profundezas de jade do oceano, assustador, leviatã, irrompendo na superfície e se projetando rumo ao céu antes de cair no mar novamente. Debaixo da água, aquele trovão abafado ressoava como uma grande porta abrindo longe, e o mar e a terra tremiam pelo impacto daquele mergulho.
De repente o mar ecoou com um canto deslumbrante, uma canção impregnada de eternidade, uma canção para a terra:
Vocês chamaram e eu vim,
trazendo o presente dos Deuses.
A silhueta escura subindo, subindo novamente. Uma baleia, gigante. Um monstro marinho. No momento em que ele irrompeu do mar, um peixe voador pulando alto em seu êxtase viu água e ar fluindo em espuma trovejante do nobre animal, e soube, ah sim, que era chegada a hora. Já que o monstro exibia o signo sagrado, uma tatuagem em espiral impressa em sua fronte.
Aí o peixe voador viu que cavalgando a cabeça subindo para o céu, havia um homem. Era maravilhoso de se olhar, o cavaleiro da baleia. A água fluía dele e ele abria a boca para inspirar o ar frio. Seus olhos brilhavam de esplendor. As gotas em seu corpo ofuscavam como diamantes. Em cima da besta imensa, ele parecia uma pequena figura tatuada, marrom escuro, brilhante e ereta. Transmitia tanta força que parecia ser ele puxando a baleia para o céu.
Subindo, subindo. E o homem sentia a potência da baleia enquanto ela se projetava para fora do mar. Lá ao longe ele viu a terra que buscava há tanto tempo e agora achara, e ele começou a arremessar pequenas lanças para o mar e a terra, enquanto seguia sua magnífica viagem rumo à terra.
Algumas das lanças, no meio do voo, se transformaram em pombas, que voaram para a floresta. Outras, caindo no mar, transformaram-se em enguias. E a canção lá no mar permeava o ar de música sem tempo, e a terra e o mar abriram-se para ele, o presente sempre esperado: tangata, o homem. Com alegria e gratidão, o homem gritou para a terra:
Karanga mai, karanga mai, karanga mai.
Me chame. Mas havia uma lança, assim nos contam, a última que, quando o cavaleiro da baleia tentou lançar, recusou-se a sair de sua mão.Por muito que tentasse, a lança não queria voar.
Então o cavaleiro da baleia proferiu uma prece para a lança de madeira, dizendo: – Que esta lança seja fincada nos anos que virão, pois há lanças suficientes já plantadas. Que esta seja aquela que florescerá quando o povo estiver aflito e mais precisar dela.
Então a lança pulou alegremente de suas mãos e subiu para o céu. Cruzou, em seu voo, mil anos. Quando atingiu a terra, não se transformou mas ficou esperando por mais cento e cinquenta anos até que precisassem dela.
As nadadeiras da baleia varreram majestosamente o céu.
Hui e, haumi e, taiki e.
E assim seja.
Primavera
A Força do Destino
2
APenínsula de Valdés, Patagônia. Te Whiti Te Ra. A maternidade, o berço dos cetáceos. As baleias gigantes migraram quatro meses antes de suas pastagens na Antártica, para acasalar, parir e criar seus filhotes em duas grandes e calmas ba í as. Seu líder, o velho macho dominante, junto com as fêmeas mais velhas, flautavam m ú sicas de baleias de uma magnificência benigna, enquanto tomavam conta do resto do bando. Naquele mar transparente como vidro, chamado de Caminho do Sol, sob a rotação brilhante das estrelas, aguardavam até que os recém-nascidos estivessem fortes o suficiente para as longas viagens que os esperavam.
Enquanto controlava tudo, o velho macho se deixava levar pelas lembranças de seu próprio nascimento. Sua mãe fora estraçalhada por tubarões três meses depois; enquanto chorava sua morte nas águas baixas de Hawaiki, foi socorrido pelo humano dourado que se tornara seu mestre. O homem ouvira o lamento da jovem baleia e entrara no mar, tocando uma flauta. O som era choroso e triste, tentando se juntar à dor da jovem baleia. Embora o músico nem tivesse realmente consciência, as cadências das melodias da flauta relembravam o canto de acalanto das baleias. O pequeno macho chegou mais perto daquele ser humano, que o aninhou e esfregou seu nariz contra o do órfão em saudação. Quando o bando seguiu caminho, o jovem macho ficou para trás e cresceu sob a tutela de seu mestre.
O jovem macho se tornara belo e viril, e amava o mestre. No começo, quando o mestre tocasse sua flauta, a baleia atendia o chamado. Até mesmo com o cansaço da idade, o velho macho conseguia evocar sua adolescência e seu mestre; naqueles momentos, emitia longos lamentos ondeantes na água luminosa. As fêmeas mais velhas se precipitavam ao seu lado, porque o amavam, e o consolavam carinhosamente no calor dos pontos de luz da água.
Numa profusão de sons, o velho macho comunicava sua saudade. Então, na reverberação da água, podia ouvir a flauta de seu mestre. Imediatamente a baleia parava de alimentar-se e tentava pular para fora do mar, como sempre fazia quando era jovem em condições de se precipitar ao encontro do mestre.
Com o passar dos anos, a felicidade daquela época era como um canto de sereias para o velho macho. Mas isso amedrontava as fêmeas mais velhas; para elas, aquela rapsódia da adolescência, aquela melodia da flauta, parecia significar somente que seu líder estava com os pensamentos focados nas perigosas ilhas ao sudoeste.
3
Acho que se esta história tem um começo, é com Kahu. Afinal, foi Kahu quem estava lá no fim, e foi a intervenção de Kahu que talvez tenha salvado a todos nós. Sempre soubemos que um dia haveria uma criança assim, mas quando Kahu nasceu, bem, estávamos literalmente voltados para outro lado. Acabávamos de chegar à casa dos nossos avós, eu e os meninos, quando tocou o telefone.
– Uma menina –, Vovô, Koro Apirana, disse, revoltado. – Não vou querer saber dela. Ela rompeu a sequência de descendência masculina da tribo –. Ele jogou o telefone para nossa avó, Vó Flowers, dizendo: – Toma. É tudo sua culpa. Seu lado feminino foi forte demais –. Então enfiou suas botas e saiu batendo a porta.
Quem ligara era o neto mais velho de todos, meu irmão, Porourangi,