Econometria Series Financeiras
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Econometria Series Financeiras
ARIO
3.2 Modelos de volatilidade condicional nao lineares . . . . . . . . 40
3.2.1 Modelo EGARCH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.2.2 Modelo TARCH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.2.3 Modelo QGARCH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.3 Teste para GARCH linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.4 Teste para GARCH nao linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.5 Testes de adequacao do modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.6 Volatilidade estocastica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Captulo 1
Conceitos basicos de series
temporais
Neste primeiro captulo apresentamos os conceitos fundamentais de series
temporais segundo a modelagem Box-Jenkins. O captulo seguinte inicia a
abordagem de series temporais aplicadas a Financas.
1.1 Conceitos fundamentais
Denicao: Serie temporal e qualquer conjunto de observacoes ordenado no
tempo. A abordagem da analise pode ser no domnio do tempo com modelos
parametricos ou no domnio da freq uencia com modelos nao parametricos.
As series temporais podem ser classicadas em:
(i) Discretas - quando o conjunto de observacoes for nito ou innito enu-
meravel;
(ii) Contnuas - quando o conjunto for innito nao enumeravel;
(iii) Estocasticas - quando houver um componente aleatorio;
(iv) Determinstica - quando nao houver componente aleatorio e o modelo
puder ser denido por funcoes determinsticas;
(v) Multivariadas - quando a serie temporal e representada por um vetor;
(vi) Multidimensional - quanto t assume dimensao superior a 1.
Denicao: Um processo estocastico X e uma colecao de variaveis aleatorias
(X
t
, t T) = (X
t
(), t T, )
1
2 CAP
ITULO 1. CONCEITOS B
ASICOS DE S
ERIES TEMPORAIS
denidas em algum espaco .
Por exemplo, se a variavel X
t
representa a taxa de cambio que esta sendo
negociada determinada moeda em um mercado, o valor de X esta associado
tanto ao instante de tempo t quanto a possveis realizacoes . Assim, para
um instante de tempo t xo a variavel aleatoria e:
X
t
= X
t
(),
Para um determinado estado da natureza, , a variavel aleatoria e uma
funcao do tempo:
X
t
= X
t
(), t T
A funcao e denominada realizacao, trajetoria ou caminho do processo de X.
Denicao: Autocovariancia
k
-
E a covariancia entre duas variaveis da
serie defasadas por k intervalos de tempo, isto e:
k
= Cov (y
t
, y
t+k
) = E [(y
t
) (y
t+k
)] (1.1)
onde e a media = E (y
t
). Para uma amostra y
1
, y
2
, . . . , y
N
, temos o
estimador de
k
:
k
=
1
N
Nk
t=1
(y
t
y) (y
t+k
y) (1.2)
onde y =
1
N
N
t=1
y
t
e
k
e um estimador nao tendencioso de (1.1).
Denicao: Funcao de autocorrelacao (FAC) e denida por
k
=
k
0
=
Cov (y
t
, y
t+k
)
V ar (y
t
)
. (1.3)
onde
0
e a variancia da serie. O estimador de
k
e
k
=
k
0
(1.4)
Para testar a hipotese conjunta de que todos os
k
sao simultaneamente iguais
a zero pode-se usar a estatstica Q desenvolvida por Box e Pierce, denida
por:
Q(m) = N
m
k=1
2
k
( ) (1.5)
onde N e o tamanho da amostra e m a defasagem (ou lag) considerado. A
estatstica Q em grandes amostras e distribudo como uma qui-quadrado com
1.1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 3
m graus de liberdade.
Outro teste usual para vericar a signicancia de
k
e o teste de Ljung-Box
(LB). A estatstica LB e dada por:
LB(m) = N (N + 2)
m
k=1
2
k
( )
N k
(1.6)
que se distribui como uma qui-quadrado com m graus de liberdade em
grandes amostras. A estatstica LB possui mais poder estatstico para amostras
pequenas que a estatstica Q.
Denicao: A funcao de auto-correlacao parcial (FACP) e a correlacao entre
as variaveis y
t
e y
t+k
dado que sao conhecidos y
t+1
,y
t+2
,. . . , y
t+k1
.
A FACP para um processo estacionario com media zero pode ser obtido
a partir da regressao
y
t+k
=
k1
y
t+k1
+
k2
y
t+k2
+. . . +
kk
y
t
+
t+k
Multiplicando ambos os lados por y
t+kj
e calculando o valor esperado e
dividindo pela variancia, tem-se
j
=
k1
j1
+
k2
j2
+. . . +
kk
kj
Entao para j = 1, 2, . . . , k, temos:
1
=
k1
0
+
k2
1
+. . . +
kk
k1
2
=
k1
1
+
k2
0
+. . . +
kk
k2
.
.
.
k
=
k1
k1
+
k2
k2
+. . . +
kk
0
(1.7)
Para k = 1
11
=
1
Para k = 2
1
=
21
+
22
1
e
2
=
21
1
+
22
Ou podemos escrever a ultima equacao em notacao matricial:
_
1
2
_
=
_
1
1
1
1
_ _
21
22
_
4 CAP
ITULO 1. CONCEITOS B
ASICOS DE S
ERIES TEMPORAIS
cuja solucao para o estimador
22
e dada pela regra de Cramer:
22
=
1
1
1
2
1
1
1
1
1
=
31
+
32
1
+
33
2
=
31
1
+
32
+
33
3
=
31
+
32
1
+
33
Em notacao matricial temos:
_
_
3
_
_
=
_
_
1
1
2
1
1 1
2
1
1
_
_
_
_
31
32
33
_
_
cuja solucao para o estimador
33
e dada por:
33
=
1
1
1
1
1
2
2
1
3
1
1
2
1
1
1
2
1
1
E assim sucessivamente.
Denicao: Seja {
t
} uma seq uencia de variaveis aleatorias independentes
e identicamente distribudas (iid) com variancia
2
; Cov (
t
,
t+k
) =
k
= 0 k = 0;
k
= 1 se k = 0,
k
= 0 se
k = 0.
Denicao: Considere
t
um rudo branco, seja
y
t
= y
t1
+
t
(1.8)
O processo descrito pro y
t
e denido como sendo um passeio aleatorio (ran-
dom walk).
1.1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 5
Exerccio 1: Seja y
t
um passeio aleatorio como denido na equacao (1.8).
Calcule E (y
t
), V ar (y
t
),Cov (y
t
, y
s
).
Em series temporais e usual trabalhar com operadores que defasam a variavel.
Denimos entao o operador lag L como um operador linear tal que:
L
i
y
t
= y
ti
(1.9)
Sao validas as seguintes propriedades do operador L:
(i) O lag de uma constante e a propria constante Lc = c
(ii) O operador lag segue a propriedade distributiva em relacao `a soma
(L
i
+L
j
) y
t
= L
i
y
t
+L
j
y
t
= y
ti
+y
tj
(iii)
E valida a propriedade associativa da multiplicacao L
i
L
j
y
t
= L
i
(L
j
y
t
) =
L
i
(y
tj
) = y
tij
. Ou ainda L
i
L
j
y
t
= L
i+j
y
t
= y
tij
(iv) Potencias negativas de L signicam um operador de avanco, L
i
y
t
=
L
j
y
t
fazendo j = i. Entao L
i
y
t
= L
j
y
t
= y
tj
= y
t+i
(v) Se |a| < 1 a soma innita (1 +aL +a
2
L
2
+. . .) y
t
=
y
t
1aL
(vi) Se |a| > 1 a soma innita
_
1 + (aL)
1
+ (aL)
2
+. . .
_
y
t
=
aL
1aL
y
t
Exerccio 2: Mostre a validade das propriedades (v) e (vi) acima do opera-
dor L.
Denicao: Quando o processo estocastico que gerou a serie de observacoes
e invariante no tempo diz-se que e estacionario. Um processo e estritamente
estacionario se as distribuicoes de y
t
e y
t+k
sao identicas (ou seja, a funcao
densidade e a mesma). Um processo e estacionario de segunda ordem se a
media e a variancia de y
t
sao identicas para qualquer t e covariancia e funcao
apenas da defasagem.
A motivacao para o estudo de series temporais e denir o processo gerador
de dados, fazer previsoes futuras da serie, identicar ciclos, tendencias ou
sazonalidades de forma que a decisao que envolve a variavel em questao seja
a mais acurada possvel.
6 CAP
ITULO 1. CONCEITOS B
ASICOS DE S
ERIES TEMPORAIS
1.2 Formulacao dos modelos Box-Jenkins
A metodologia Box e Jenkins e a interpretacao e analise de uma serie tem-
poral como sendo oriunda de uma realizacao de um processo estocastico. O
objetivo e inferir sobre o processo gerador de dados. Busca-se identica-
lo baseado nas informacoes contidas na serie levando-se em consideracao a
parcimonia do modelo, ou seja, tratando o modelo com o menor n umero de
parametros possvel. A estrategia envolve a repeticao do processo de inden-
cacao ate encontrar o modelo que seja mais satisfatorio.
Os modelos Box-Jenkins sao tais que a serie y
t
e escrito como
p
(L) y
t
=
q
(L)
t
(1.10)
onde L e o operador lag, e sao polinominos de graus p e q, respectiva-
mente e
t
e RB(0,
2
). Mais apropriadamente
p
(L) = 1
1
L
2
L
2
. . .
p
L
p
(1.11)
q
(L) = 1
1
L
2
L
2
. . .
p
L
p
(1.12)
O polinomio
p
(L) dene a parte auto-regressiva (AR) do modelo enquanto
o polinomio
q
(L) dene a parte denominada media movel (MA). Assim,
o modelo em (1.10) e denominado ARMA(p, q). Por exemplo, o modelo
ARMA(2, 3) e escrito como;
2
(L) y
t
=
3
(L)
t
_
1
1
L
2
L
2
_
y
t
=
_
1
1
L
2
L
2
3
L
3
_
t
y
t
1
y
t1
2
y
t2
=
t
1
t1
2
t2
3
t3
y
t
=
1
y
t1
+
2
y
t2
1
t1
2
t2
3
t3
+
t
No caso em que
q
(L) = 1 temos o modelo ARMA(p, 0) ou melhor AR(p).
Da mesma forma, para o caso em que
p
(L) = 1 temos o modelo ARMA(0, q)
ou simplesmente MA(q).
A condicao de estacionariedade de um modelo AR(p) deve ser tal que as
razes do polinomio
p
(L) = 0 devem estar fora do crculo unitario. Para os
modelos MA(q) a estacionariedade e trivial. Para um modelo ARMA(p, q)
as condicoes de estacionariedade sao aquelas de um modelo AR(p).
A condicao de inversibilidade de um modelo AR(p) e trivial. Para um
modelo MA(q) a inversibilidade ocorre sempre que as razes do polinomio
1.2. FORMULAC
AO DOS MODELOS BOX-JENKINS 7
q
(B) = 0 estiverem fora do crculo unitario. Ja um modelo ARMA(p, q)
tem a inversibilidade sob as mesmas condicoes de um MA(q).
Pode-se resumir no quadro abaixo o comportamento dos modelos com relacao
a estacionariedade e inversiblidade.
Modelo Condicoes
p
(L) y
t
=
t
p
(L) = 0 razes fora do crculo unitario
estacionario e trivialmente inversvel.
y
t
=
q
(L)
t
q
(L) = 0 razes fora do crculo unitario
inversvel e trivialmente estacionario.
p
(L) y
t
=
q
(L)
t
p
(L) . . . razes fora do cculo unitario estacionario.
q
(L) . . . razes fora do crculo unitario inversvel.
Exerccio 3: Considere o modelo AR(1): y
t
= y
t1
+
t
, onde || < 1 e
t
RB(0,
2
).
(i) o modelo e estacionario?
(ii) o modelo e inversvel?
(iii) calcule a media = E (y
t
)
(iv) calcule
0
,
1
, . . . ,
k
e
0
,
1
, . . . ,
k
(v) escreva o modelo sob a forma inversa.
Exerccio 4: Considere o modelo AR(1): y
t
= +y
t1
+
t
onde || < 1 e
t
RB(0,
2
).
(i) calule a media = E (y
t
)
(ii) calcule a variancia
0
= V ar (y
t
)
(iii) calcule as covariancias
1
, . . . ,
k
Exerccio 5: Considere o modelo MA(1): y
t
=
t
+
t1
, onde
t
RB(0,
2
).
(i) calcule a media = E (y
t
)
(ii) calcule a variancia
0
= V ar (y
t
)
8 CAP
ITULO 1. CONCEITOS B
ASICOS DE S
ERIES TEMPORAIS
(iii) calcule a FAC
(iv) o modelo e inversvel?
Exerccio 6: Suponha que a receita das vendas de petroleo R
t
seja modelada
pelo seguinte processo estocastico R
t
= + R
t1
+
t
onde
t
N(0,
2
).
O que dizer da tendencia da receita? Se o processo fosse modelado por
R
t
= +R
t1
+
t
onde || < 1, voce mudaria a sua resposta?
Exerccio 7: Considere o modelo MA(1): y
t
=
t
t1
.
(i) calcule a media = E (y
t
)
(ii) calcule a variancia
0
= V ar (y
t
)
(iii) calcule a FAC
Exerccio 8: Considere o modelo
y
t
= 0, 8y
t1
0, 3
t1
+
t
(i) verique se e estacionario e inversvel
(ii) calcule a media e a variancia
(iii) calcule a FAC
(iv) escreva o modelo como um MA()
Na pratica os processos sobre os quais fazemos inferencia atraves de uma
serie temporal, sao geralmente nao estacionarios. Trataremos dos processos
nao estacionarios homogeneos, ou seja, processos cuja a diferenciacao produz
processos estacionarios. A diferenciacao e denida por y
t
= y
t
y
t1
=
(1 L) y
t
.
Seja entao Z
t
um processo nao estacionario e y
t
um processo estacionario
obtido de Z
t
por diferenciacao sucessivas. Inversamente, pode-se dizer que
Z
t
e obtido a partir de y
t
por integracao. Tem-se que
d
Z
t
= y
t
(1.13)
1.3. IDENTIFICAC
AO DOS MODELOS 9
onde d representa o n umero de diferenciacoes. O processo estacionario y
t
pode ser representado por um modelo ARMA(p, q), logo
p
(L) y
t
=
q
(L)
t
,
ou entao
p
(L)
d
Z
t
=
q
(L)
t
(1.14)
Dizemos que o modelo Z
t
e auto-regressivo-integrado-medias moveis, ou
ARIMA(p, d, q).
Exerccio 9: Considere o modelo y
t
= 1, 5y
t1
0.5y
t2
+
t
+ 0, 6
t1
.
(i) identique o modelo
(ii) escreva o modelo como um AR().
1.3 Identicacao dos modelos
Para os modelos ARMA(p, q) a estrategia de idencacao da ordem p e q mais
apropriada e atraves da funcao de auto-correlacao parcial FACP. Desta forma
busca-se a idencacao do modelo comparando-se a FAC e FACP teoricas com
aquelas oriundas do modelo.
As series temporais que apresentam comportamento nao estacionarios sao
diferenciadas ate que seja identicada a estacionariedade. Os testes de esta-
cionariedade, comumente referidos como testes da raz unitaria, serao apre-
sentados em detalhes no proximo captulo. Os diversos padroes teoricos para
as FAC e FACP sao apresentados pelo software EVIEWS, junto com o cor-
relograma das series calculadas a partir dos dados. No caso de um ou mais
modelos serem selecionados, baseados nos criterios da FAC e FACP, pode-se
investigar qual o modelo apresenta melhor ajuste dentro da amostra. Infe-
lizmente a medida R
2
nao e util para os modelos de series temporais lineares
por estar relacionado somente aos valores dos parametros. Os criterios de
selecao mais apropriados sao os criterios de informacao de Akaike (1974) e
Schwarz(1978). O criterio de Akaike e referido como AIC (Akaike Information
Criteria). O criterio de Schwarz e referido como BIC (Bayesian Information
Criteria). Estes criterios comparam o ajuste dentro da amostra, que e me-
dido pela variancia dos resduos, contra o n umero de parametros estimados.
O criterio de Akaike e
AIC (k) = N ln
2
+ 2k (1.15)
ond e k = p +q +1,
2
=
1
N
N
t=1
2
t
, sendo
t
os resduos do modelo ARMA.
Os valores de p e q que minimizam AIC (k) sao as ordens apropriadas do
10 CAP
ITULO 1. CONCEITOS B
ASICOS DE S
ERIES TEMPORAIS
modelo ARMA.
O cirterio de Schwarz, ou ainda o criterio BIC e calculado por
BIC (k) = N ln
2
+k ln N (1.16)
Como ln N > 2 para N > 8, o criterio BIC penaliza mais fortemente que
o criterio AIC a introducao adicional de parametros. Portanto, usando o
criterio BIC o modelo selecionado tende a ser mais parciomonioso que aquele
orindo do criterio AIC.
1.4 Funcao impulso resposta
A analise da estacionariedade de uma serie pode ser feita pelos teste Dickey-
Fuller (DF) e Augmented Dickey-Fuller (ADF) que serao detalhados no
proximo captulo. Vale ressaltar entretanto que atraves de tecnicas de sim-
ulacao pode-se vericar os efeitos que os choques causam em um modelo.
Tomemos o caso do modelo AR(p):
y
t
=
1
y
t1
+
2
y
t2
+. . . +
t
t = 1, 2, . . . , N (1.17)
Fazendo-se substituicoes recursivas otem-se para y
t
y
t
=
p
i=1
y
1i
+
t1
i=0
c
i
ti
(1.18)
onde a seq uencia de c
1
, . . . , c
t1
e obtida por
c
i
=
min(i,p)
j=1
j
c
ij
i = 1, . . . , t 1 (1.19)
A seq uencia c
k
e denominada de funcao impulso reposta. Outra maneira de
denir a funcao impulso resposta e por
IRF (k, ) = E [y
t+k
|
t
= ,
t+1
= . . .
t+k
= 0]
E [y
t+k
|
t
=
t+1
= . . .
t+k
= 0] (1.20)
Isto e a funcao IRF (k, ) mede o efeito de um choque em t em relacao
`a situacao de nao existencia do choque. Quando os choques sao transientes
o efeito do choque em t nos futuros valores de y
t
desfaz-se rapidamente.
Em um processo AR(p) a presenca dos choques transientes ocorre se razes
1.5. ESTRAT
ITULO 1. CONCEITOS B
ASICOS DE S
ERIES TEMPORAIS
1.6 Previsao
Seja agora a situacao em que foi realizada a estimacao do modelo e feitos
os testes de adequacao do mesmo. Desejamos realizar previsoes para os
valores das series y
t
. Considere que estamos no instante t (na origem) e
desejamos fazer previsoes perodos `a frente. Esta previsao e denominada
y
t
() = E
t
(y
t
()). Vale ressaltar que E
t
(
t+
) = 0 para 1. Aqui tratare-
mos da previsao com erro quadratico mnimo. Para maiores detalhes veja
Morettin e Toloi (2004).
Seja o modelo MA-1 dado por
y
t
= + (1 L)
t
(1.21)
onde
t
NID(0,
2
). O valor de y
t
passos `a frente e
y
t
() = +
t+
t+1
(1.22)
Tomando o valor esperado dadas as informacoes ate o instante t, temos
y
t
() = +E
t
(
t+
) E
t
(
t+1
) (1.23)
Considere = 1 para prever 1 passo `a frente, entao camos com
y
t
(1) = +E
t
(
t+1
) E
t
(
t
) = + 0
t
onde
t
= y
t
y
t1
(1)
Para = 2, faremos a previsao 2 passos `a frente:
y
t
(2) = + 0 0 =
E para > 2 a situacao acima repete-se. Deste modo podemos escrever:
y
t
() =
_
1
(y
t
y
t1
(1)) para < 2
para 2
A variancia do erro de previsao e dada por
V ar (e
t
()) = E
t
_
e
2
t
()
_
onde e
t
() = y
t
() y
t
().
A variancia do erro para = 1 e dada por
V ar (e
t
(1)) = E
t
_
e
2
t
(1)
_
1.6. PREVIS
AO 13
onde e
t
(1) = y
t
(1) y
t
(1). Ainda temos que
y
t
(1) = +
t+1
t
e y
t
(1) =
t
Logo temos e
t
(1) =
t+1
, portanto V ar (e
t
(1)) =
2
V ar (e
t
()) = E
t
_
t+2
+
2
t+1
2
t+2
t+1
+
2
=
_
1 +
2
_
ITULO 1. CONCEITOS B
ASICOS DE S
ERIES TEMPORAIS
Captulo 2
Series nanceiras - retornos
Este captulo analisa o comportamento das series nanceiras. A questao da
previsibilidade e tratada sob os diversos modelos de passeio aleatorio (ran-
dom walk) conforme a classicacao de Campbell, Lo e MacKinlay (1997).
Posteriormente analisamos os diversos testes nas series nanceiras identi-
cando a dependencia linear. A dependencia nao linear e tratada no captulo
seguinte.
2.1 Serie de retornos
A maior parte dos estudos nanceiros concentra-se na analise da serie de
retornos ao inves do uso da serie de precos. A razao desta preferencia, con-
forme Campbell et al (1997), esta relacionada a dois fatos. Em primeiro
lugar o retorno de um ativo nanceiro contem as informacoes que atendem
aos interesses dos investidores. Em segundo lugar a serie de retornos possui
propriedades estatisticamente mais atrativas que a serie de precos.
O retorno de um ativo entre os instantes de tempo entre t 1 e t e dado por
R
t
=
P
t
P
t1
P
t1
(2.1)
Ou ainda podemos escrever
R
t
=
P
t
P
t1
1 1 +R
t
=
P
t
P
t1
O retorno em k perodos entre os intervalos t k e t e dado por
R
t
(k) =
P
t
P
tk
P
tk
1 +R
t
(k) =
P
t
P
tk
=
P
t
P
t1
P
t1
P
t2
. . .
P
tk+1
P
tk
15
16 CAP
ITULO 2. S
t=2
f (r
it
|r
it1
. . . r
i1
; ) (2.4)
O aspecto relevante e a observacao de como as distribuicoes do ativo evoluem
no tempo, ou seja, a especicacao da distribuicao condicional. Por ex-
emplo, uma das versoes do passeio aleatorio RW, que sera vista adiante,
pressupoe que a distribuicao condicional e igual `a distribuicao incondicional
f (r
it
|) = f (r
it
). Assim, os retornos sao independentes e conseq uentemente
nao previsveis.
Exerccio 13: Uma consideracao usual para a distribuicao de retornos r
t
e
r
t
NID
_
,
2
_
Portanto, R
t
sera uma distribuicao log-normal iid. Calcule a media e a
vari ancia de R
t
.
2.4 Previsibilidade dos retornos
A previsibilidade dos retornos e um fato intrigante em Financas e ao qual
muitos pesquisadores tem devotado atencao. Nao ha uma conclusao de-
nitiva sobre o problema e a questao continua aberta ao debate academico.
A analise da previsibilidade e considerada diante das informacoes passadas
dos retornos e consequentemente da distribuicao dos retornos. Seguiremos
a classicacao de Campbell et al (1997). Esta classicacao baseia-se nos
varios tipos de passeio aleatorio e na propriedade martingal. Assim temos os
seguintes modelos para retorno RW1, RW2, martingal e RW3.
18 CAP
ITULO 2. S
t
onde
t
NID(0, 1) e
2
t
=
0
+
1
r
2
t1
. Mostre que o processo r
t
e uma diferenca martingal.
2.4.4 Modelo RW3
O modelo RW3 relaxa a hipotese de independencia do modelo RW2 con-
siderando a dependencia e a descorrelacao dos incrementos. Assim, pode-se
dizer que Cov (
t
,
tk
) = 0, porem Cov
_
2
t
,
2
tk
_
= 0. Este processo e de-
scorrelatado mas nao independente pois os quadrados dos resduos sao cor-
relacionados.
Exerccio 15: Seja o modelo ln P
t
= + ln P
t1
+
t
onde
t
= c
2
t1
+
t
,
onde
t
NID(0,
2
), e c e constante. Mostre que:
(i) Cov (
t
,
tk
) = 0
(ii) Cov (r
t
, r
tk
) = 0
(iii) E
_
t
,
2
t1
_
= 0
20 CAP
ITULO 2. S
3
_
(2.9)
A curtose desta mesma distribuicao e
K (X) = E
_
(X )
4
4
_
(2.10)
Para a distribuicao normal A = 0 e K = 3. Os estimadores para a media e
variancia sao:
=
1
N
N
i=1
X
i
(2.11)
2
=
1
N
N
i=1
(X
i
)
2
(2.12)
Os estimadores para a assimetria e curtose sao:
A =
1
N
N
i=1
(X
i
)
3
3
(2.13)
K =
1
N
N
i=1
(X
i
)
4
4
(2.14)
2.6. TESTE DE ESTACIONARIEDADE 21
Demonstra-se que
A N
_
0,
6
N
_
e
K N
_
3,
24
N
_
. Bera e Jarque (1981) uti-
lizaram este fato para identicar se uma amostra provem de uma distribuicao
normal. A estatstica do teste e
JB =
_
_
A 0
_
6
N
_
_
2
+
_
_
K 3
_
24
N
_
_
2
(2.15)
que sob a hipotese nula de normalidade distribui-se como uma qui-quadrado
com dois graus de liberdade.
Teste Jarque-Bera
As hipoteses nula e alternativa para o teste Jarque-Bera sao:
H
0
: X
t
e normal
H
A
: X
t
nao e normal
Calcule a estatstica JB usando as equacoes (2.13), (2.14) e (2.15). Obtenha
da tabela o valor crtico =
2
ITULO 2. S
i=1
i
y
ti
+
t
(2.22)
Este e o teste ADF e a hipotese nula e a mesma, ou seja, H
0
: = 0 ou = 1.
Dickey e Fuller (1979) provaram que a estatstica de teste nao e a estatstica-
t convencional. Eles deniram os valoes crticos com base na simulacao
de Monte-Carlo. Mais recentemente Mackinnon (1991) apresentou valores
crticos e p-valores para um espectro maior de cenarios.
Teste Phillips-Perron (PP)
O teste PP utiliza uma correcao na estatstica de teste baseado em um ajuste
2.7. TESTE PARA AUTOCORRELAC
AO 23
nao parametrico na forma desta estatstica, a qual corrige a presenca de he-
terocedasticidade e/ou autocorrelacao nos resduos. As regressoes sao as
mesmas descritas acima sem a presenca do somatorio do teste ADF. Os val-
ores crticos permanecem os mesmos.
Exerccio 15: Considere a serie de precos e a sua respectiva serie de re-
tornos. Realize os testes de normalidade JB e os teste de raz unitaria ADF
e PP.
2.7 Teste para autocorrelacao
Ja vimos anteriormente que os testes Box-Pierce e Ljung-Box sao utilizados
para detectar autocorrelacao. Iremos detalhar os procedimentos para realiza-
los.
Testes Box-Pierce e Ljung-Box
Primeiramente escolha o lag k para vericar a autocorrelacao. As hiposteses
dos testes sao:
H
0
:
1
=
2
= . . . =
k
= 0
H
A
: pelo menos um nao e nulo
Calcule as estatsticas:
Q(k) = N
k
j=1
2
j
( ) (2.23)
LB(k) = N (N + 2)
k
j=1
(N j)
1
2
j
( ) (2.24)
As estatsticas em (2.23) e (2.24) distribuem-se como uma qui-quadrado
com k graus de liberdade. Escolha o nvel de signicancia . Rejeite H
0
se
as estatsticas acima forem superiors que o valor crtico =
2
(k). Os testes
acima sao plenamente validos se a distribuicao e normal e estacionaria. Em
caso de uma (ou as duas) premissa(s) nao se vericar(em) a potencia do teste
ca reduzida.
24 CAP
ITULO 2. S
t=s
I (y
m
t
, y
m
s
, ) (2.25)
onde N
m
= Nm+1, t e s variam entre 1 e Nm+1. A funcao indicadora
em (2.25) e
I (y
m
t
, y
m
s
, ) =
_
1 se y
m
t
y
m
s
0 caso contrario
A correlacao integral ira medir a fracao dos pares (y
m
t
, y
m
s
) para os quais a
distancia entre y
m
t
ey
m
s
nao e superior a . Por exemplo, a distancia entre y
3
1
e y
3
3
e calculada por y
3
1
y
3
3
= [y
1
y
3
, y
2
y
4
, y
3
y
5
]. Escolhe-se o maior
elemento do vetor resultante. Este maior elemento e comparado com . Se
for maior que o par e contado, caso contrario nao. Variando-se t e s, con-
tamos os pares que satisfazem a condicao. Entao divide-se o n umero total
de pares que satisfazem a condicao pelo n umero total de pares. Isto leva `a
fracao de pares que estao dentro da distancia . Se todos os pares satiszerem
a condicao C (, m, N) = 1. Se nenhum satiszer C (, m, N) = 0.
2.8. TESTE DE INDEPEND
ENCIA 25
Sob a hipotese nula de independencia a estatstica BDS e assintoticamente
N (0, 1):
BDS (, m, N) =
N [C (, m, N) C (, 1, N)
m
]
1
2
V
1
2
(2.26)
onde V e a variancia. Observe que a estatstica e funcao de e m. A aprox-
imacao assintotica e valida para
T
m
> 200. Quando em amostras pequenas
este fato nao e observado pode-se usar a tecnica do bootstrap para gerar diver-
sos cenarios de p-valores. O software EVIEWS disponibiliza esta alternativa.
Na pratica deve-se testar a estatstica para varios valores de m e .
Teste BDS
Escolha uma matriz de valores para m e . Considere variando de 0, 5
a 2 vezes o desvio padrao da serie. Para cada valor da matriz realize o teste
considerando
H
0
: y
t
e independente (RW1)
H
A
: dependencia
A hipotese alternativa de dependencia descrita acima signica efetivamente
dependencia linear, dependencia nao linear (na media/ variancia) ou caos de-
terminstico. Esta ultima esta fora do escopo deste trabalho. Caso estejamos
procedendo o teste nos resduos apos o ajuste de um modelo AR `a serie, a
hip otese alternativa cara limitada `a condicao de dependencia nao linear na
media, na variancia ou ambas.
Calcule a estatstica BDS em (2.26) e compare com os valores crticos para
o nvel de signicancia . Rejeite H
0
caso |BDS| > |
|.
Rejeitar a independencia signica alguma forma de dependencia. Para descar-
tar a possibilidade de dependencia linear, enfatizamos que a mesma deve ser
ltrada atraves de um modelo autoregressivo. Neste caso a rejeicao de H
0
limitara `a situacao de dependencia nao linear.
Exerccio 16: Considere o processo media movel nao linear
y
t
=
t
+ 8
t1
t2
Simule uma serie de tamanho N = 1500. Realize os testes Box-Pierce para
vericar a correlacao. Em seguida realize o teste BDS para testar a inde-
pendencia da serie.
26 CAP
ITULO 2. S
Nk
j=1
_
2
j
2
_ _
2
j+k
2
_
N
j=1
_
2
j
2
_
2
(2.27)
onde
2
=
1
N
N
j=1
2
j
. Considere as hipoteses:
H
0
: quadrado dos resduos descorrelatados
H
A
: autocorrelacao nos quadrados dos resduos
A estatstica de teste e dada por:
McL(k) = N (N + 2)
k
j=1
(N j)
1
2
j
_
2
_
(2.28)
Quando aplicado aos resduos de um processo ARMA(p, q), a estatstica
McL tem uma distribuicao assintotica
2
(k p q). Para um nvel de sig-
nicancia de verique o valor crtico =
2
(k p q). Rejeite H
0
para
McL > . Uma vez rejeitada H
0
no teste de McLeod e Li ha evidencia de
nao linearidade.
Da mesma forma, uma vez que foi rejeitada a hipotese nula no teste BDS,
apos o ajuste de um processo AR, resta a condicao de nao linearidade na
media e/ou na variancia. O teste de Hsieh permite a diferenciacao entre as
duas situacoes.
Denicao: Diz-se que existe dependencia nao linear na media se o valor
2.9. TESTE PARA DEPEND
ENCIA N
AO LINEAR 27
esperado condicional dos resduos em relacao `as informacoes passadas e difer-
ente de zero, isto e:
E (
t
|y
t1
, . . . , y
tk
,
t1
, . . . ,
tk
) = 0 (2.29)
Exemplos de dependencia nao linear na media sao os modelos media movel
nao lineares, como por exemplo:
y
t
=
t
+
t1
t2
Outros modelos que apresentam nao linearidade na media sao os modelos
TAR (Threshold Autoregressive) propostos por Tong e Lim (1980):
y
t
=
_
1
y
t1
+
t
se y
t1
2
y
t1
+
t
se y
t1
>
onde
t
e RB e y
t
segue dois regimes dependendo do valor de y
t1
.
Ainda dentro da classe dos modelos nao lineares na media podemos citar
os modelos bilineares propostos por Granger e Andersen (1978):
y
t
= y
t1
+y
t1
t1
+
t
onde
t
e RB.
Denicao: Diz-se que existe dependencia nao linear na variancia para o
caso em que o valor esperado de
t
e zero:
E (
t
|y
t1
, . . . , y
tk
,
t1
, . . . ,
tk
) = 0 (2.30)
Os exemplos de nao linearidade na variancia sao os modelos de volatilidade
condicional heterocedastica, ou modelos da famlia GARCH mais apropri-
adamente.
O teste de Hsieh (1989) considera a hipotese nula de nao linearidade na
variancia, ou seja, o coeciente de autocorrelacao de terceira ordem e zero.
A hipostese alternativa e que o mesmo seja zero. O teste para a autocor-
relacao de terceira ordem e dado por
V
ij
=
N
(3)
ij
W
ij
(2.31)
onde os termos da equacao (2.31) sao:
(3)
ij
=
E (y
t
, y
ti
, y
tj
)
[E (y
2
t
)]
3
2
28 CAP
ITULO 2. S
N
t=1
ti
tj
_
1
N
N
t=1
2
t
_3
2
(2.32)
W
ij
=
1
N
N
t=1
2
t
2
ti
2
tj
_
1
N
N
t=1
2
t
_
3
(2.33)
A estatstica V
ij
, sob a hipotese nula de que o coeciente de autocorrelacao
de terceira ordem e nulo, e normal.
Teste de Hsieh
Ap os ajustar um modelo AR que remova a dependencia linear da serie y
t
,
proceda a analise dos resduos da serie como se segue.
Inicialmente considere i = 1 e j = 1. Calcule os valores de
(3)
e W
ij
con-
forme as equacoes (2.32) e (2.33). Avalie a estatstica V
ij
conforme equacao
(2.31). As hipoteses do teste sao:
H
0
: dependencia nao linear na variancia
H
A
: dependencia nao linear na media
Rejeite H
0
se |V
ij
| >
, onde
ENCIA N
AO LINEAR 29
Tabela 2.1: Estatstica V
ij
i/j 1 2 3
1 V
11
V
12
V
13
2 V
21
V
21
V
23
3 V
31
V
32
V
33
Tabela 2.2: p-valores de V
ij
i/j 1 2 3
1 p
11
p
12
p
13
2 p
21
p
21
p
23
3 p
31
p
32
p
33
Exerccio 17: Verique se os modelos
(i) y
t
=
t
+
2
t1
t
NID(0,
2
)
(ii) y
t
=
t
h
1
2
t
com h
t
=
0
+
1
y
2
t1
e
t
NID(0,
2
)
apresentam nao linearidade na media ou na variancia.
30 CAP
ITULO 2. S
2
t
_
= E
_
2
t
|I
t1
_
Agora admitiremos que a variancia condicional varie com o tempo, con-
siderando que
E
_
2
t
|I
t1
_
= h
t
(3.2)
onde h
t
representa a variancia do resduo instante t. Assim o modelo em
(3.1) torna-se
y
t
= E (y
t
|I
t1
) +h
1
2
t
t
(3.3)
onde
t
e iid com media zero e variancia 1. Em princpio iremos adotar
t
NID(0, 1). Assim podemos dizer que
t
|I
t1
N (0, h
t
).
3.1 Modelos de volatilidade condicional line-
ares
Esta secao trata de alguns modelos da famlia GARCH que foram denomina-
dos GARCH lineares por nao capturarem os efeitos assimetricos dos choques.
Tratam-se pricipalemente dos modelos classicos propostos por Engle (1982)
e Bollerslev (1986).
3.1.1 Modelo ARCH
O modelo de Engle (1982) considera que a volatildade em t e uma funcao
linear do quadrado do choque em t 1, assim denominado ARCH(1).
y
t
= h
1
2
t
t
(3.4)
h
t
= +y
2
t1
onde > 0 e 0 sao condicoes que garantem a positividade de h
t
.
Mais genericamente pode-se considerar o modelo ARCH(1) escrito como na
equacao (3.1)
y
t
= a
0
+a
1
y
t1
+
t
(3.5)
3.1. MODELOS DE VOLATILIDADE CONDICIONAL LINEARES 33
t
= h
1
2
t
t
h
t
= +
2
t1
onde
t
e
t1
sao independentes.
O modelo ARCH(1) pode ser analisado sob a otica de um processo autore-
gressivo em
2
t
. Somando e subtarindo
2
t
na variancia h
t
, temos:
h
t
+
2
t
= +
2
t1
+
2
t
2
t
= +
2
t1
+u
t
(3.6)
onde u
t
=
2
t
h
t
= h
t
2
t
h
t
= h
t
(
2
t
1). Ainda E (u
t
|I
t1
) = E (h
t
) E (
2
t
1) =
0. Em (3.6) o processo para
2
t
e estacinario de segunda ordem se < 1.
Neste caso os momentos em t e t 1 sao iguais, ou seja
E
_
2
t
_
= +E
_
2
t1
_
E
_
2
t
_
=
1
(3.7)
Ainda note que E (
t
) = 0. Observe tambem em (3.4) que valores grandes de
y
t1
(positivos ou negativos) sao seguidos por valores grandes de y
t
. O mesmo
ocorre para valores pequenos. Ou seja, o modelo captura os aglomerados de
volatilidade. Alem disso, a curtose de y
t
e dada por
K
y
=
3 (1
2
)
1 3
2
(3.8)
onde 1 > 3
2
e K
y
sera maior que 3 o que signica que o modelo captura o
excesso de curtose, um dos fatos estilizados das series de retornos nanceiros.
Exerccio 18: Mostre que para o modelo em (3.4) que a curtose e dada por
K
y
=
3 (1
2
)
1 3
2
Exerccio 19: Seja o modelo dado em (3.5):
(i) calcule a media condicional de y
t
(ii) calcule a variancia condicional de y
t
34 CAP
1 ( +)
2
2
2
36 CAP
i=1
i
y
2
ti
+
p
j=1
j
h
tj
(3.13)
Alternativamente o modelo pode ser escrito como:
h
t
= +(L) y
2
t
+ (L) h
t
(3.14)
onde
(L) =
1
L +. . . +
q
L
q
(L) =
1
L +. . . +
p
L
p
O modelo em (3.13) ou (3.14) sera estacionario de segunda ordem caso as
razes do polinomio 1 (L) (L) estiverem fora do crculo unitario. A
selecao da ordem p, q do modelo deve ser feita minimizando os criterios de
informacao tais como o AIC (Akaike Information Criteria) e BIC (Bayesian
Information Criteria) nas equacoes (1.15) e (1.16). Na maior parte dos
casos praticos o modelo GARCH(1,1) atende as necessidades de modelagem.
3.1.3 Estimacao do modelo GARCH(1,1)
O modelo GARCH(1,1) na equacao (3.11) esta aqui reescrito
y
t
= h
1
2
t
t
(3.15)
h
t
= +y
2
t1
+h
t1
onde sao observadas as mesmas restricoes dos parametros e
t
NID(0, 1).
A funcao distribuicao conjunta do modelo e dada por
f (y
1
, y
2
, . . . , y
N
) = f (y
1
) f (y
2
|y
0
, y
1
) . . . f (y
N
|y
0
, . . . , y
N1
)
f (y
1
, y
2
, . . . , y
N
) = f (y
1
)
N
t=2
f (y
t
|y
0
, . . . , y
t1
) (3.16)
A funcao verossimilhanca do modelo e
L(; y) = ln f (y
1
, y
2
, . . . , y
N
) = ln (y
1
) +
N
t=2
ln f (y
t
|y
0
, . . . , y
N1
)
3.1. MODELOS DE VOLATILIDADE CONDICIONAL LINEARES 37
onde representa o vetor dos parametros = [, , ]. E a funcao de
verossimilhanca dado y
1
sera dada por:
L(; y) =
N
t=2
ln f (y
t
|y
0
, . . . , y
N1
) (3.17)
Por outro lado temos que a funcao densidade de
t
e
f (
t
|y
t1
) =
1
2
exp
_
1
2
2
t
_
Da equacao (3.15) temos que
g (y
t
) =
y
t
h
1
2
t
e g (y
t
) =
1
h
1
2
t
(3.18)
E a funcao f (y
t
|y
0
, . . . , y
N1
) sera escrita por
f (y
t
|y
0
, . . . , y
N1
) = f (g (y
t
)) g (y
t
) (3.19)
Usando a equacao (3.18) na equacao (3.19), teremos:
f (y
t
|y
0
, . . . , y
N1
) = f
_
y
t
h
1
2
_
1
h
1
2
t
(3.20)
Levando a equacao (3.20) na equacao (3.17), temos
L(; y) =
N
t=2
ln f
_
y
t
h
1
2
t
_
+
N
t=2
ln h
1
2
t
(3.21)
Mas f
_
y
t
/h
1/2
t
_
=
1
2
exp
_
1
2
y
2
t
h
t
_
e o seu logartmo e
ln f
_
y
t
h
1
2
t
_
=
1
2
ln 2
1
2
y
2
t
h
t
Levando este resultado em (3.21), nalmente teremos:
L(; y) =
N
t=2
_
1
2
ln 2
1
2
_
y
2
t
h
t
__
1
2
N
t=2
ln h
t
L(; y) =
N
2
ln 2
1
2
N
t=2
ln h
t
1
2
N
t=2
y
2
t
h
t
(3.22)
38 CAP
(2)
, a
funcao densidade de
t
e
f (
t
|) =
(( + 1) /2)
(/2)
_
( 2)
_
1 +
2
t
2
_
+1
2
(3.23)
para > 2 onde (z) =
_
0
y
z1
e
y
dy. E seguindo as mesmas etapas ante-
riores chegaremos a
f (y
t
|y
0
, . . . , y
N1
) =
N
t=2
(( + 1) /2)
(/2)
_
( 2)
1
h
1/2
t
_
1 +
y
2
t
( 2) h
t
_
(3.24)
Se o valor dos graus de liberdade for uma variavel exogena tem-se para a
funcao verossimilhanca:
L(; y) =
N
t=2
_
+ 1
2
ln
_
1 +
y
2
t
( 2) h
t
_
+
1
2
ln h
t
_
(3.25)
Se o n umero de graus de liberdade estiver sendo estimado, acrescente-se `a
funcao anterior a parcela que se segue ao produtorio em (3.24).
3.1.4 Previsao da volatilidade condicional
Seja novamente o modelo em (3.15), a variancia condicional em t e dada por
h
t
= +y
2
t1
+h
t1
A variancia um passo `a frente e
h
t+1
= +y
2
t
+h
t
O valor esperado
h
t+1
e
h
t+1
= + y
2
t
+h
t
= +y
2
t
+h
t
= h
t+1
(3.26)
Para o instante t + 2, temos
h
t+2
= +y
2
t+1
+h
t+1
3.1. MODELOS DE VOLATILIDADE CONDICIONAL LINEARES 39
Por conseguinte o valor esperado sera
h
t+2
= + y
2
t+1
+
h
t+1
= +
h
t+1
+h
t+1
= + ( +) h
t+1
onde foi usado o resulado da equacao (3.26). Repetindo o procedimento em
t + 3, teremos
h
t+3
= + ( +) + ( +)
2
h
t+1
E para t +s, s Z, teremos
h
t+s
=
s2
i=0
( +)
i
+ ( +)
s1
h
t+1
(3.27)
3.1.5 Modelo IGARCH
O modelo IGARCH (Integrated GARCH) e util em se tratando de dados de
alta freq uencia. Neste modelo + = 1. Retomando a equacao (3.12),
podemos escrever
(1 L) y
2
t
= u
t1
+u
t
(3.28)
O modelo nao e estacionario de segunda ordem. Porem pode-se demonstrar
que estritamente estacionario, veja Nelson (1990).
3.1.6 Modelo GARCH-M
O modelo GARCH-M (GARCH na media) foi proposto por Engle, Lilien e
Robins (1997) com a nalidade de capturar a relacao entre risco e retorno tao
bem estabelecida dentro da teoria de Financas. O modelo GARCH(1,1)-M
pode ser assim descrito:
y
t
= +cg (h
t
) +
t
(3.29)
t
= h
1/2
t
t
h
t
= +
2
t1
+h
t1
onde , c, , , e sao parametros. A funcao g (h
t
) em geral e g (h
t
) = h
1/2
t
ou g (h
t
) = h
t
. O parametro c e o premio de risco. Para c positivo ha
indicacao de que o retorno esta positivamente correlacionado `a volatilidade
passada.
40 CAP
AOLINEARES41
garantida pela especicacao da funcao g (y
t
) em (3.32). Se
t
NID(0, 1)
entao E (||) =
_
2
. Se
t
e uma distribuicao t de Student padronizada dada
em (3.23), entao
E (|
t
|) =
2
2 (( + 1) /2)
( 1) (/2)
i=1
i
y
2
t1
+
p
j=1
j
h
tj
+
r
k=1
k
y
2
tk
(1 I (y
tk
> 0)) (3.34)
onde r representa a ordem do choque que impacta a volatilidade.
3.2.3 Modelo QGARCH
O modelo QGARCH (ou quadratic GARCH) tambem captura os efeitos de
choques de diferentes sinais. Foi proposto por Sentana (1995) e pode ser
escrito por
h
t
= +y
t1
+y
2
t1
+h
t1
(3.35)
Deferencia do GARCH tradicional pela introducao do termo y
t1
. O modelo
em (3.35) pode ser escrito por
h
t
= +
_
y
t1
+
_
y
2
t1
+h
t1
(3.36)
42 CAP
i=1
i
y
2
ti
forem nulos.
Teste ARCH-LM
Fazendo-se uma regressao em que
e
2
t
= +
q
i=1
i
e
2
ti
+
t
(3.37)
3.4. TESTE PARA GARCH N
AO LINEAR 43
onde e
t
sao os resduos estimados da regressao, podemos testar a hipotese
nula:
H
0
:
1
=
2
= . . . =
q
= 0 (sem efeito ARCH)
H
A
: presenca do efeito ARCH
O teste e baseado no princpio dos multiplicadores de Lagrange. A estatstica
LM e LM = N R
2
distribuindo assitoticamente como uma
2
(q) sendo
o nvel de signicancia.
3.4 Teste para GARCH nao linear
Os testes propostos por Engle e Ng (1993) vericam a presenca do efeito
assimetrico dos choques na volatilidade.
Teste do sinal do choque
Este teste verica se magnitude do quadrado do choque em t e afetado
pelo sinal do choque em t 1. Considere uma variavel dummy N
t1
em
que N
t1
= 1 se o choque em t 1 e negatio, isto e y
t1
< 0, e zero caso
contrario. Faca a regressao
e
2
t
=
0
+
1
N
t1
+
t
(3.38)
Considere as hipoteses:
H
0
:
1
= 0
H
A
:
1
= 0
Para
1
= 0 nao existe assimetria ou efeito alavanca. A estatstica de teste
e a estatstica t tradicional. Rejeite H
0
se estatstica t > t
(N 2) onde e
o nvel de signicancia e N o tamanho da serie.
Teste do tamanho do choque
Neste teste e vericado se alem do sinal, o tamanho do choque em t 1
afeta o quadrado do choque em t. Faca a regressao
e
2
t
=
0
+
1
N
t1
e
t1
+
t
(3.39)
Nesta regressao e investigado se o choque negativo e sua magnitude afetam
e
2
t
e consequentemente a variancia condicional, o teste e analisado sob a es-
tatstica t.
44 CAP
ASTICA 45
3.6 Volatilidade estocastica
Os modelos ate entao analisados consideram que a volatilidade em t e funcao
dos choques e volatilidades passadas. Portanto, dadas as informacoes em
t 1 a volatilidade condicional e determinstica. Alem deste fato, os choques
na serie y
t
e na volatilidade h
t
possuem a mesma natureza.
No modelo de volatilidade estocastica os choques simultaneos na media da
serie y
t
e na volatilidade h
t
sao governados por processos descorrelatados. O
modelo de volatilidade estocastica foi proposto por Taylor (1986). Este mo-
delo recebeu pouca atencao devido `as diculdades de estimacao. No entanto,
com a evolucao computacional e a reducao do tempo de processamento, no-
vas tecnicas de estimacao tem sido utilizadas. Desta forma, o modelo de
volatilidade estocastica tem recebido especial atencao principalmente no que
se refere a metodologias de estimacao.
O modelo pode ser escrito como:
y
t
=
t
t
(3.42)
2
t
= k e
h
t
h
t
= h
t1
+
t
onde
t
NID(0, 1),
t
NID
_
0,
2
_
, || < 1 e E (
t
ts
) = 0 para s 0.
Isto signica que o processo seguido por h
t
e estacionario.
Exerccio 24: Seja o modelo de volatilidade estocastica formulado em (3.42).
(i) calcule a media e variancia incondicionais de h
t
(ii) calcule a media e variancia condicional de y
t
(iii) calcule a media e a variancia incondicional de y
t
(iv) calcule o quarto momento de y
t
e a curtose K
y
(v) calcule os demais momentos pares de y
t
, isto e, o sexto, oitavo, ... e o
2m-esimo momento.
(vi) calcule a covariancia de y
t
(vii) calcule a correlacao de y
2
t
46 CAP
ASTICA 47
Elevando ao quadrado a equacao e tomando o logartmo, temos:
ln y
2
t
= ln
2
+ ln
2
t
+h
t
Somando e subtraindo E (ln
2
t
)
ln y
2
t
= ln
2
+E
_
ln
2
t
_
+ ln
2
t
E
_
ln
2
t
_
+h
t
ln y
2
t
= k +h
t
+
t
(3.44)
onde
t
= ln
2
t
E (ln
2
t
) e k = ln
2
+ E (ln
2
t
). Observe que nao ha
necessidade de assumir uma distribuicao particular de
t
. O metodo de quase-
maxima verossimilhanca ignora qual a correta distribuicao de ln y
2
t
ou
t
e
adota como sendo normalmente distribuda. Fuller (1996) propos a seguinte
transformacao para y
t
:
ln y
2
t
= ln
_
y
2
t
+cs
2
y
_
cs
2
y
y
2
t
+cs
2
y
para t = 1, . . . , N
onde s
2
y
e a variancia amostral de y
t
e c e uma constante adotada como
0, 02 em varios estudos, veja Breidt e Carriquiry (1996) e Bollerslev e Wright
(2001).
48 CAP
ASTICA 49
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