Motivação e Aprendizagem em Contexto Escolar
Motivação e Aprendizagem em Contexto Escolar
Motivação e Aprendizagem em Contexto Escolar
Filomena Ribeiro
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Resumo
O presente artigo procura salientar a importncia da motivao nos processos de aprendizagem e no sucesso dos alunos em contexto escolar. O envolvimento dos alunos nas disciplinas curriculares parece variar em funo de diversos factores, individuais e de contexto, ligados motivao. As actuais teorias cognitivas da motivao consideram que algumas alternativas para conseguir o envolvimento dos estudantes so representadas pela motivao intrnseca e pelas formas de autoregulao da motivao extrnseca. Esta reflexo pretende apontar algumas orientaes para a prtica educativa. Palavras-chave: Motivao; aprendizagem; contexto escolar
Introduo
A palavra motivao , actualmente, uma das mais usadas pelos professores e outros responsveis pela educao, em particular a educao formal, para justificar quer o insucesso quer o sucesso dos alunos, em particular no ensino e na aprendizagem da cincia escolar. Muitos professores colocam a alegada falta de motivao dos alunos como primeiro obstculo compreenso e aprendizagem dos contedos escolares. Curiosamente, grande parte das dificuldades do professor tem tambm origem na sua motivao para o desenvolvimento de um slido conhecimento profissional, susceptvel de o ajudar na difcil tarefa de diagnosticar os interesses e necessidades dos alunos e de ter em conta as diferenas individuais e outros problemas e condicionantes de aprendizagem (Campos, 1986). Muitos modelos tradicionais de aprendizagem das cincias, como os emergentes das perspectivas de autores como Ausubel, Piaget ou
Driver, atribuam as dificuldades dos alunos sobretudo a caractersticas estruturais e funcionais a eles intrnsecas, dominantemente cognitivas. As propostas de superao emergentes desses modelos incidiam, por isso, fundamentalmente sobre a cognio, visando, nomeadamente, o desenvolvimento de situaes de ensino mais estruturadas e mais adequadas ao nvel cognitivo real dos alunos, o diagnstico dos seus conhecimentos prvios ou a estimulao do conflito cognitivo e da mudana conceptual (Ribeiro, 2001). A dimenso afectiva era desse modo descurada, parecendo ignorar-se que, como cada vez mais se defende, a cognio e a afectividade constituem uma mesma unidade funcional, holstica e sistmica (Damsio, 1995). O dualismo tradicional, traduzido no estabelecimento de dicotomias de validade meramente analtica entre cognio e afectividade, razo e emoo, tem vindo, assim, a ser crescentemente questionado, no fazendo, pode dizer-se, parte da matriz paradigmtica que caracteriza o tempo presente. Face riqueza, diversidade e complexidade da motivao humana, tm sido, em concreto, propostas vrias teorias que tm tentado explicar esse conceito, cada uma delas caracterizando-o de forma diferente, mas todas procurando explicar como o comportamento humano activado e dirigido. Mesmo para Piaget (1977), que centrou a sua actividade investigativa no desenvolvimento cognitivo, o papel da afectividade de natureza funcional na inteligncia. Tambm a perspectiva vygotskiana expressa uma viso integradora entre as dimenses cognitiva e afectiva do funcionamento psicolgico. Para todos os inmeros autores que hoje trabalham no contexto do paradigma socioconstrutivista de Vygotsky, o desenvolvimento cognitivo (e metacognitivo) est intrinsecamente ligado ao desenvolvimento social e emocional, significando isso que mudanas fundamentais no pensamento tm de ser acompanhadas por uma reorganizao dos objectivos, das atitudes e das formas de mediao (Vygotsky, 1998). A motivao escolar constitui, actualmente, uma rea de investigao que, na opinio de Gutirrez (1986), permite, com alguma relevncia, explicar, prever e orientar a conduta do aluno em contexto escolar. A forma como os indivduos explicam os seus xitos e fracassos relacionase com a sua motivao, a qual denota geralmente um factor ou factores que levam a pessoa a agir em determinada direco (Weiner, 1979; Bzuneck, 2001; Cavenaghi, 2009). Nos contextos de aprendizagem, como apontam Stipek (1998) e Printrich (2003), a motivao pode ser inferida por meio de comportamentos observveis dos alunos, os quais incluem o iniciar
rapidamente uma tarefa e empenhar-se nela com esforo, persistncia e verbalizaes. Segundo Nieto (1985), a maioria dos psiclogos define motivao como um processo que tenta explicar factores de activao, direco e manuteno da conduta, face a um objectivo desejado. Seja qual for a perspectiva que se adopte, o que sempre se verifica a existncia de dois tipos de motivao: extrnseca e intrnseca.
reaces de inibio. Destes dois tipos de comportamento advm geralmente resultados escolares diferentes, mais satisfatrios no primeiro e menos no segundo, algo que vrios autores atribuem a diferenas motivacionais dos sujeitos (Fontaine, 1990.
distintas formas de promover a motivao, a principal que o prprio professor seja um modelo de pessoa motivada. A ltima palavra cabe, todavia, sempre ao aluno. Martn Daz e Kempa (1991) defendem, a esse respeito, que se devem ter em conta as caractersticas individuais dos alunos, se o objectivo for o de melhorar o processo de ensino e de aprendizagem. Na sua opinio, os materiais didcticos podero at ser os melhores, mas tornarem-se inteis se os alunos no estiverem interessados neles; as supostas melhores estratgias didcticas no tero qualquer resultado positivo se os alunos no se encontrarem motivados para elas. Estas preferncias por mtodos de ensino e por estratgias de aprendizagem diferentes so determinadas pelo estilo motivacional de cada um. A literatura sobre esta problemtica identifica, a esse respeito, quatro categorias de alunos: os que procuram o sucesso, os curiosos, os conscienciosos e os socialmente motivados (Martn Daz e Kempa, 1991). Do ponto de vista educativo, partilhamos com Neto (1996) a ideia de que o ideal no acto educativo seria o professor ter em conta a multiplicidade de estilos motivacionais existentes na sala de aula e ser capaz de adaptar as caractersticas dos procedimentos didcticos a essa multiplicidade. Se existe grande preocupao face forma como os conhecimentos prvios dos alunos influem na forma como aprendem e constroem conhecimento, tambm devem ser tidos em conta as suas caractersticas motivacionais. Os alunos socialmente motivados, por exemplo, reagem melhor em situaes de aprendizagem em grupo e os curiosos em situaes de resoluo de problemas.A fora motivadora de determinada estratgia resulta, desse modo, no da estratgia em si, mas da interaco da mesma com as caractersticas individuais dos alunos, nomeadamente com os seus estilos motivacionais e cognitivos. Estamos conscientes, no entanto, que, perante a realidade concreta, intrinsecamente complexa e imprevisvel, essa tarefa se apresenta difcil. Seja como for, o professor dever optar sempre, em nosso entender, por uma diversidade de processos pedaggicos, visando promover a motivao (intrnseca, extrnseca ou combinada) do maior nmero de alunos.
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