Experiências em Educação e Diversidade Sexual
Experiências em Educação e Diversidade Sexual
Experiências em Educação e Diversidade Sexual
EXPERINCIAS
EM EDUCAO
E DIVERSIDADE SEXUAL
EXPERINCIAS
EM EDUCAO
E DIVERSIDADE SEXUAL
E96
SUMRIO
Prefcio......................................................................................................11
UNIDADE I
ISBN:
...................................................................................................................47
CDD: 323.6
CDU:372.832
..................................................................................................................59
.................................................................................................................103
E-mail: mjr@mjreditora.com.br
Monteiro)...................................................................................................119
Wilson Ricardo.........................................................................................245
.................................................................................................................137
.................................................................................................................257
Luanda Queiroga......................................................................................179
................................................................................................................ 295
.................................................................................................................197
Ribeiro Machado........................................................................................311
.................................................................................................................219
UNIDADE II
Secretarias Municipais...........................................................................242
UNIDADE III
Movimento Social.....................................................................................323
................................................................................................................ 325
PREFCIO
MAIO/2015
10
11
cidads que interpelam com seus corpos e sexualidades o rigor das normas de
gnero.
escola pblica no poderia ficar alheia a esta discusso, uma vez que dados
prpria organizao da escola como uma instituio, dada seu carter normativo
homofbico.
12
13
gnero que se fazem, ao mesmo tempo, matria corporificada e invisvel. Eis que
temos aqui um paradoxo de difcil enfrentamento: quanto mais corporificadas
so as normas, menos visveis elas parecem ser. Tal paradoxo tem exigido, de
da outra, tem sido importante pensar a escola e sua relao com a democracia
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17
UNIDADE
I
Projetos de Interveno
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FAZ DE CONTA NA
EDUCAO INFANTIL:
AGUANDO O OLHAR SOBRE
O COMPORTAMENTO DE
1
MENINOS E MENINAS
Leonardo Lima Rocha Tolentino
Valquria Nonata da Silva
RESUMO
Este artigo tem a inteno de apresentar a construo sistematizada do
projeto de interveno, fruto da realizao do curso de formao de educadoras/
es do Projeto Educao Sem Homofobia, promovido pelo Ncleo de Direitos
Humanos e Cidadania LGBT da Universidade Federal de Minas Gerais, realizado
no municpio de Santa Luzia/MG, entre os meses de abril e novembro de 2010.
O pblico-alvo foram professoras atuantes em turmas de educao infantil da
rede pblica do municpio.
O texto apresenta a trajetria de uma educadora motivada em oferecer
um espao de discusso sobre a sexualidade de crianas de zero a seis anos. Alm
disso, este artigo reconstri a busca, quase inacreditvel, de material disponvel
para esse pblico de pequenos cidads/cidados e de materiais que pudessem
Para Autran (in memoriam), pela convivncia, em que o amor, o prazer, o respeito, a musicalidade
e a sabedoria estiveram presentes plena e absolutamente.
1
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que se tomou como o ponto de partida para as observaes acerca das prticas
2. A ESCRITA DO PDI
Dentro do cronograma do curso de formao, estava prevista a produo
e desenvolvimento de um Projeto de Interveno (PDI). At ento, o que eu sabia
que teria de aplicar os conhecimentos adquiridos no curso em minha rea
de atuao. Como no estava em sala de aula, pensei na dificuldade dessa
aplicao. Com a proposta do PDI o desafio estava posto, e foi ento que me vi
com a imensa responsabilidade de pensar o que fazer. A nica certeza que tinha
1. INTRODUO
Ao receber a notcia da realizao do curso Educao Sem Homofobia
Percebi que meu interesse tinha algo mais forte do que o simples desejo em
elas lidariam com a temtica se estivessem no meu lugar. Fui aos poucos
durante todo o tempo, tentava relacionar esses contedos com a minha prtica
sculo XVII e na qual a tradio religiosa um marco, ocupada por uma vasta
alguma relao com os temas abordados. Era como se buscasse uma frmula
Esse texto foi escrito a partir da experincia da professora Valquria Nonata na construo e
execuo do projeto de interveno aqui relatado. Tanto o projeto de interveno quanto a escrita
do texto contou com a orientao e participao do mestrando em Psicologia/UFMG, Leonardo
Tolentino. Assim, optamos por manter o uso da primeira pessoa do singular, quando nos referirmos
trajetria pessoal da professora no curso e no desenvolvimento do projeto de interveno; e da
primeira pessoa do plural, quando nos referirmos s reflexes e anlises terico-crticas construdas
pela autora e autor deste texto.
2
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26
27
Esses
instrumentos
pedaggicos
podem
ser
reconhecidos
como
e constrangimento.
Louro (2010) tambm afirma que a sexualidade pode ser entendida a partir
da interveno que deveria fazer. Como j descrito, era como se existisse uma
distncia entre o tema da diversidade sexual e a criana de zero a seis anos. Era
28
Sobre tecnologias do eu, consultar: Foucault (1993), Louro (2008), Larrosa (1994), Gore (1994).
29
no cotidiano das escolas infantis. Mais uma vez, o texto de Felipe e Bello (2009)
apresentou-me interessantes observaes acerca do comportamento das/os
educadoras/es atuantes na educao infantil, alm do reflexo de posturas que
contribuem para a reafirmao da heteronormatividade e do grande desafio em
perceber, discutir e enfrentar comportamentos homofbicos que so ensinados
de maneira naturalizada s crianas no ambiente escolar. Ou seja, no so
percebidas as falas preconceituosas ditas nos corredores, os comentrios das
novelas sobre algum caso relativo homossexualidade, as piadinhas de algum
membro da comunidade ou at mesmo os apelidos, to usuais, que inferiorizam
o papel da mulher na sociedade e relacionam a figura de mulherzinha aos
gays. Como afirma Louro,
Vemos com isso que as crianas estabelecem uma relao entre suas
experincias e as situaes que as cercam criando, assim, sua prpria maneira
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educao e de relaes.
municpio.
projetos que tinham alguma afinidade puderam trocar experincias. Foi ento
minha motivao foi aguada quando pude ver a quantidade de livros literrios
iniciando uma discusso sobre a prtica educativa e dando, com isso, abertura
enfrentamento homofobia.
Costa Martins. A leitura desse livro abriu meus olhos e meu corao. Percebi-me
como uma educadora que ainda precisava romper inmeros obstculos, sendo
da escola e da famlia, mas com os longos anos em que meus olhos e ouvidos
estiveram fechados, assegurados pela norma que nos rege na vivncia da nossa
realidade.
sexualidade.
A ideia inicial era sensibilizar a direo das escolas, bem como toda a
Abri-me absurdamente para ter acesso aos vrios artigos que fui
32
O relato de desenvolvimento do PDI da professora Luciana Camilo est publicado neste volume.
33
o curta Boneca na mochila (2007), dirigido por Reginaldo Bianco. Por ser um
material de fcil visualizao e de interesse das participantes, o curta contribuiu
aponta Ribeiro:
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masculino?
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as alunos/as.
gnero.
apresentaram uma pergunta crucial: o que devo fazer nesse caso? Percebemos
que elas veem o problema antes como delas do que como da instituio. Mais do
que isso: compartilhar tal dificuldade seria mostrar suas prprias fragilidades e
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o que elas adotam como prtica de vida (com base na religio) e a proposta
que, para elas, eram conflitantes e sem respostas. Na verdade, elas estavam
em busca de receitas para lidarem com essas situaes. Mediante tudo isso,
educao infantil.
4. CONCLUSO
O interesse e a participao das educadoras foi determinante para
perceber a necessidade de ampliar a discusso sobre a sexualidade e diversidade
sexual na educao, bem como a formao continuada.
Importante destacar, como perfil, a maneira como as profissionais
de ensino da educao infantil interagiram numa dinmica como a que foi
proposta. Corporalmente, elas se permitiram vivenciar o que proposto, o que
facilita a compreenso do assunto.
Evidentemente, as situaes pessoais e de trabalho relacionadas s
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41
REFERNCIAS
BIBLIOGRFICAS
Boneca na mochila. Dir. Reginaldo Bianco. Ecos: Comunicao em sexualidade.
So Paulo, 1997.
FELIPE, Jane; BELLO, Alexandre Toaldo. A Construo de Comportamentos
homofbicos na educao infantil. In: JUNQUEIRA, Rogrio Diniz (Org.). Diversidade
sexual na educao: problematizaes sobre a homofobia nas escolas. Braslia:
Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e
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LOURO, Guacira Lopes. Uma poltica ps-identitria para a educao. In: LOURO,
Guacira Lopes. Um corpo estranho ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo
Horizonte: Autntica, 2008.
MARTINS, Georgina da Costa. O menino que gostava de ser. 3.ed. So Paulo:
Difuso Cultural do Livro, 2008.
RIBEIRO, Claudia Maria. Prazeres e desprazeres das crianas pequenas. Ptio
Educao Infantil, Artmed, Porto Alegre, ano VIII, n. 25, p.38-41, outubro/
dezembro, 2010.
SO PAULO (SP). Secretaria Municipal de Educao. Orientaes curriculares
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Educao Infantil, 2007.
FARIA, Vitria Lbia Barreto de; SALLES, Ftima Regina Teixeira de. Currculo na
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Paulo: Scipione, 2007.
FOUCAULT, Michel. Microfsica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1993.
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Tadeu da (Org.). O sujeito da educao: estudos foucaultianos. Petrpolis: Vozes,
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Porto Alegre, ano XIII, n. 50, p.28-31, maio/julho, 2009.
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sujeito da educao: estudos foucaultianos. Petrpolis: Vozes, 1994.
LOURO, Guacira Lopes. Pedagogias da sexualidade. In: LOURO, Guacira Lopes (Org).
O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autntica, 2010.
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43
ANEXOS:
PROJETO DE INTERVENO:
PROGRAMAO DAS OFICINAS
Credenciamento e lanche.
Sensibilizao.
Dinmica do brincar na
educao infantil: espao
brinquedoteca.
Debate.
Convidada: Carmen Clia Lima
Mendes (psicloga Secretaria
Municipal de Educao
Coordenadoria de Apoio e
Incluso)
Lanche.
Contao de histria: O
menino que brincava de ser.
Debate sobre o livro.
Exposio de filme: Boneca
na mochila.
Debate sobre o filme.
Avaliao e entrega de
certificado.
criana.
OBJETIVOS
Estimular o envolvimento das participantes com a temtica abordada;
Apresentar referencial terico sobre o significado do faz de conta na
educao infantil e debater sobre o comportamento de meninos e meninas
nesse espao;
Proporcionar questionamentos sobre prticas e posturas homofbicas
no universo das escolas.
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RESUMO
O presente texto trata de um projeto de interveno desenvolvido pelas
alunas Brbara Marques e Raquel Silveira, que participaram do curso de
capacitao Educao Sem Homofobia (ESH), realizado pelo Ncleo de Direitos
Humanos e Cidadania LGBT da Universidade Federal de Minas Gerais (NUH/
UFMG) em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora, o Movimento Gay
de Minas (MGM) e a Secretaria de Educao de Juiz de Fora. A proposta do curso
educar, informar e esclarecer temas como a diversidade sexual, o preconceito e a
homofobia, formando professores(as) para que possam lidar com essa temtica
na escola.
O projeto de interveno das alunas foi executado na escola municipal
Escola Professor Helyon de Oliveira/CAIC, localizada na cidade de Juiz de Fora/MG,
e contou com o apoio da equipe diretiva da escola e da professora que trabalha
com as crianas no curso Contadores de Histrias. O projeto constituiu-se da
confeco e leitura de um livro que aborda a temtica da homossexualidade
em um contexto ldico. O objetivo era observar as reaes e interpretaes das
crianas atravs de desenhos para que os pontos relevantes acerca da temtica
abordada, na opinio das crianas, pudessem ser observados.
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1. INTRODUO
O projeto de interveno aqui apresentado faz parte do currculo do curso
de formao de educadores(as) Educao Sem Homofobia (ESH), realizado pelo
Ncleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT da Universidade Federal de Minas
Gerais (NUH/UFMG), com financiamento da SECAD/MEC e que, em Juiz de Fora,
formou parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora, com o Movimento
Gay de Minas (MGM) e com a Secretaria Municipal de Educao. O curso
2. FUNDAMENTAO TERICA
Partindo do princpio de que a escola tem papel fundamental na formao
e constituio da identidade do indivduo, o respeito s diferenas torna-se
suas dvidas e exigncias, sem impor valores, crenas e opinies como verdades
absolutas.
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3. METODOLOGIA
Primeiramente, o projeto de interveno foi apresentado diretora
da escola e professora responsvel pelas turmas envolvidas no projeto dos
Contadores de Histrias. A equipe diretiva foi bastante receptiva quanto
aplicao do projeto de interveno na escola. No foram criados obstculos e
o espao da escola foi disponibilizado para futuras intervenes. A professora
do projeto tambm se mostrou disponvel e ofereceu o horrio da aula para a
aplicao do projeto. Em nenhum momento encontramos dificuldades para
conversar, apresentar e aplicar a proposta.
Aps a apresentao, as alunas do curso Educao Sem Homofobia
deram incio s atividades previstas. Inicialmente, foi realizado um perodo de
observao para que ambas pudessem conhecer melhor os alunos e as alunas
das salas selecionadas, fazendo com que eles e elas se sentissem seguros com a
presena de novas pessoas durante o projeto dos Contadores de Histrias.
Em um segundo momento, deu-se a aplicao do projeto de interveno
do curso Educao Sem Homofobia em duas turmas da escola em questo. Uma
turma contava com alunos(as) de seis anos e a outra com alunos(as) entre sete
e oito anos. Nesta aplicao, foi necessria apenas uma aula para cada turma.
Diferentes materiais didticos foram utilizados, dentre eles o livro Toda
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Forma de Amor6, cuja histria aborda a relao de uma famlia composta por
dois pais e uma criana adotada. A obra conduz a narrativa de modo a levantar
uma pea infantil, pois todos comemoravam a Semana da Criana. Essa pea
era parte de outro projeto, voltado para o Teatro, em que as crianas da escola e
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maioria dos(as) alunos(as) desenhou o casal gay com a personagem Lusa, filha
adotiva do casal. No surgiram muitas discusses sobre o tema.
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parceiros homossexuais e falou: Ele usa roupa justa, colorida e tem o cabelo
tanto da escola quanto das crianas, para que possamos problematizar questes
4. CONSIDERAES FINAIS
no curso Educao Sem Homofobia, este fato ficou claro, apontando a urgente
percebe-se que a abordagem do tema com os alunos e alunas pde provocar uma
nas escolas nos diversos nveis de ensino (em reunies pedaggicas, reunies de
pais, trabalhos extraclasse, entre outros). Pode-se, assim, acreditar que ensinar
opinies.
Acreditamos que, se fosse possvel aplicar esse projeto de interveno
em todas as turmas de todos os turnos, talvez tivssemos uma gama maior de
reaes, demonstrando diferentes posies frente ao preconceito e homofobia.
O fato dos alunos e alunas superarem desafios cognitivos e avanarem nas
sries escolares no significa, necessariamente, que eles e elas se tornam mais
REFERNCIAS
BIBLIOGRFICAS
aqui apresentado.
estas sexuais, de gnero, de cor, entre outras , o que nos leva a pensar que,
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OS NOVOS CONTOS
DE FADAS VO
ESCOLA:
RESUMO
Inserida no debate sobre educao e diversidade sexual, a presente
reflexo compartilha uma experincia de interveno sobre gnero e
sexualidade no contexto da educao infantil. A partir da demanda do curso
de formao continuada Educao Sem Homofobia, foram desenvolvidas
atividades com alunos, pais e professores, estimulados pela leitura e reflexo de
histrias infantis que abordam a temtica do gnero e da diversidade de forma
crtica e contextual, os chamados Novos Contos de Fadas. As interaes com
os diferentes segmentos da comunidade escolar apontam para a necessidade
de se debater questes como esteretipos, preconceito e violncia no ambiente
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2. ALGUNS PORQUS
As reflexes aqui propostas so referentes a um projeto de interveno
(PDI) desenvolvido no ano de 2011, ao longo do curso de formao continuada
Educao Sem Homofobia. O chamado PDI se refere a um projeto construdo
conjuntamente entre educadora/cursista e equipe do curso de formao, que
deve ser desenvolvido, executado e avaliado no decorrer da formao do curso
Educao Sem Homofobia. Tal projeto visa conhecer e intervir no ambiente de
1. INTRODUO
obtenha renda mnima, cerca de 50% dos alunos esto inseridos em projetos
pais, mes, alunos(as)) seriam: como faz-lo? Quando e como abordar gnero e
essas e outras inquietaes, este texto se prope a refletir sobre uma experincia
no interior da escola.
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bons costumes.
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3. A CONSTRUO DO PROJETO
No planejamento e execuo desse intermdio, partiu-se do pressuposto
que um projeto de interveno com a temtica da diversidade sexual e de gnero
desenvolvido na educao infantil deveria apresentar um formato que motivasse
os(as) alunos(as) (que fosse estimulante, divertido), que pudesse embasar a
interao com os outros atores. A partir da experincia de trabalho da cursista
com a educao infantil, observou-se que a criana questiona, opina, interage,
reivindica e pratica mudanas no meio em que est inserida. So recorrentes
relatos de familiares avaliando que, a partir dos conhecimentos e habilidades
adquiridos pela criana, toda a famlia incentivada a mudar hbitos, prticas,
rotinas e at a cultura familiar. Dessa forma, o(a) educador(a) infantil tem
grande responsabilidade, uma vez que apresenta a seus(suas) curiosos(as)
alunos(as) as temticas que sero investigadas.
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4. A INTERVENO
Ao observar que as (re)produes dos papis de gnero tradicionais no
apareciam como uma questo a ser discutida no trabalho cotidiano dos(as)
educadores(as) da instituio, mostrou-se indispensvel que os(as) mesmos(as)
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Princesa Sabichona, de autoria de Babette Cole (2000). Ambas foram citadas por
Vidal (2008), pesquisadora que tambm inspirou o nome deste PDI. A obra A
permanecer solteira e feliz. O Prncipe Cinderelo, por sua vez, conta a histria
que encontra sua cala perdida numa fuga. Durante as apresentaes (o contar
encantado que lhe salva, casando-se com ele e invariavelmente vivendo felizes
para sempre. Essa gentil e tola mulher deve sempre ser amparada pelo pai
e depois pelo marido, j que ela nada sabe da vida e suas artimanhas. Nos
o que era? O que ensinava? Para quem estava destinado? Surgiram tambm
para a educao infantil? O debate foi iniciado com uma explicao mais
pais e mes foram convidados(as) a ler os Novos Contos de Fadas que estavam,
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5. ENTRAVES E PREOCUPAES
O desenvolvimento da interveno como um todo se deu a partir de
negociaes internas e externas instituio. Por se tratar de educao infantil,
foi de fundamental importncia que pais e mes estivessem envolvidos(as) neste
projeto, tanto a ttulo de conhecimento dos contedos trabalhados na escola,
quanto a um chamado da mesma para que estas questes fossem pensadas e
refletidas tambm em mbito familiar. Esse aparente cuidado revela nuances
importantes da discusso de gnero e diversidade sexual na educao. Sempre
rodeada por uma cautela com os contedos ministrados, a educao infantil
aparece marcada por regulaes e vigilncia da expresso dos gneros.
A construo dos gneros e das sexualidades dse atravs de inmeras aprendizagens e prticas,
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por espritos sem luz, por obsessores; segundo estes, tal fato nunca ser
encarado como natural. A maioria dos(as) educadores(as) afirma ainda que esta
sobre tal vivncia por um familiar, disseram que sofreriam muito junto ao
mesmo.
indiferena.
mais cmoda seria no ter de pens-la. Prado e Junqueira (2011) alertam para o
fato de que a prtica homofbica no s tem sua entrada franqueada pela escola,
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71
Afinal, se almejamos uma escola e uma sociedade mais inclusiva, temos que
pas propicia.
6. CONSIDERAES FINAIS
de combate homofobia, tanto dentro como fora da sala de aula, precisam fazer
apoiados por uma legislao que norteie e possibilite a criao de espaos onde
a literatura infantil. Elas podem ensinar, entre outras coisas, diferentes formas
de conceber e de viver o gnero e a sexualidade, sustentando cotidianamente
aes excludentes e violentas baseadas em concepes normativas.
temtica, o(a) professor(a) deve assumir uma postura crtica frente aos mtodos
72
73
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
Babette.
principe
cinderelo.
Martins
Fontes,
2000
um
debate
contemporneo.
Petrpolis:Vozes,2003.
74
75
LITERATURA INFANTIL
E DIVERSIDADE
SEXUAL: UM PROJETO
EM PRTICA
Luciana Camilo Pereira
Igor Ramon Lopes Monteiro
RESUMO
No presente artigo, relataremos sinteticamente a implementao de
um projeto de interveno voltado discusso da temtica da diversidade
sexual. Inicialmente, sero pontuados os motivos que levaram a professora, por
um lado, a realizar o curso de formao e, por outro, a optar pelo trabalho da
temtica LGBT no ensino fundamental. Depois que descrevermos as primeiras
atividades diagnsticas, ser explicitada a articulao feita para que as aes
do projeto possam ser vistas com maior legitimidade institucional. Aps esse
momento, passaremos a apresentar o processo metodolgico da interveno,
destacando os materiais didticos escolhidos e sua assimilao durante os
encontros realizados. Por fim, ser feita uma anlise crtica de toda a trajetria,
ressaltando os alcances e as limitaes da proposta pedaggica em que se fundou
esta prtica formativa.
PALAVRAS-CHAVE: Cidadania; Diversidade Sexual; Ensino Fundamental;
Heteronormatividade e Literatura.
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77
medicina, psicologia, etc. Vi, entre outras coisas, a importncia dos movimentos
do sculo XIX.
trat-la como o ser da pureza pode trazer vrios inconvenientes. Isso pode fazer
impacto na mdia, no Direito, nas unidades familiares, etc. Tudo isso convergiu
Frente a isso, acredito que alguns temas, menos que inexistirem, na verdade
difcil de realizar.
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2. SONDAGENS PRVIAS
Embora reconhea que o meu processo de formao tenha sido rduo,
interveno na minha rea de atuao profissional essa era uma das exigncias
de agressividade tanto dentro como fora de sala. Alm disso, reforando certa
diviso por gnero, durante a realizao de atividades conjuntas era comum que
alunos e alunas se separassem entre grupos de meninos e grupos de meninas.
uma folha de papel dividida ao meio, revistas diversas, tesoura e cola. As crianas
comparado a uma borboleta ansiosa por vida e por proliferao da mesma, mas
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81
3. ARTICULAES: EMPODERAMENTOS
Ao longo da minha carreira docente, sempre defendi que as histrias
literrias podem agir como formadoras de opinio, envolvendo quem as l em
seus mais recnditos sentidos. Acredito que com as crianas isso no se d de
maneira distinta: elas se deixam envolver nas mais belas histrias, nas lutas e
Para uma abordagem introdutria dessa tradicional diviso sexual das funes, leia: HIRATA,
2010.
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83
sexual no fosse reiterado, dando, assim, lugar aos discursos que geralmente
uma postura crtica em relao ao que est posto como norma -, contribussem
ao afirmar que:
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obras como bases para o incio dos trabalhos: Jubonaldo, o leo e o Fusquinha
inusitados: na primeira obra, um leo que vivia por esconder seus gostos, por
4. A INTERVENO
Aps a anlise dos livros que tratavam da diversidade sexual, do respeito
e da violncia, e aps negociar e articular a execuo do projeto na escola, meu
prximo passo seria a implementao das atividades pedaggicas13.
Com seu vis interdisciplinar, entendendo que a complexidade abarcada
pela diversidade sexual no uma questo que diz respeito exclusivamente a uma
nica perspectiva do conhecimento. Minha proposta era de que as discusses
utilizassem a literatura como o eixo a partir do qual a temtica comearia a ser
pensada, e no como o nico lugar para sua abordagem. Nesse sentido, desde o
princpio da implementao eu contava com apoio de outros profissionais para
dar seguimento s questes surgidas no contexto da interveno.
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Sobre construes de normalidades a partir do contexto escolar, veja, por exemplo, LOURO,
2000, p. 8-34.
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com carrinhos rosa, eles diziam que no. As justificativas eram as mais variadas:
de outras formas.
as cores eram para todas as pessoas, mas que, para ele, meninos deveriam usar
diagnsticas.
Os resultados desse momento foram fundamentais: primeiro, por ratificar
Dando seguimento interveno j em outras rodas de leitura, observei
que a segunda obra chamou bastante ateno da turma, talvez por se tratar de
segundo, por apontar que a lgica social e seus respectivos padres excludentes
eram muito mais difceis de contornar do que eu previa mesmo em idades
por ser um brinquedo tpico de meninos, mas com uma cor atribuda ao
interpelveis.
literatura infantil:
maioria, defendiam que todas as cores e brinquedos eram para todas e todos.
90
91
Dente de siso
Um menino
Outro menina
(Pode ser grande ou pequenina)
padro heteronormativo, tanto em relao orientao sexual quanto ao gnero,
(...)
Nada defeito
Nem qualidade
Tudo humano,
Bem diferente
responder enquetes sobre alguns mitos todo menino tem que jogar futebol?,
Cada um na sua
E no faz mal
Di-ver-si-da-de
que legal
Vamos, venhamos
Isto um fato:
Tudo igualzinho
Ai, como chato!
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Por fim, gostaria apenas de comentar que esta breve descrio do meu
alm das aes que foram expostas, outras foram agregadas s obras lidas,
possibilitando efetivas situaes promotoras da competncia escrita tais como
consigo, por exemplo, uma das marcas de que cada ser nico: a impresso
digital. Nessas aulas, mais uma vez entraram em cena as consideraes sobre a
vida de Jubonaldo, do fusquinha cor-de-rosa e sobre o tamanho dos nossos ps,
ressaltando que o fato de termos nascido menina ou menino no implicava,
necessariamente, na adoo de determinadas prticas.
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95
5. CONSIDERAES FINAIS
Em relao ao processo de formao de pessoas, no me parece pertinente
pretender resultados objetivos, pretender concluses seguras e definitivas;
minhas palavras, aqui, assumiro toda a parcialidade que pode haver em
momentos como este.
Contrariando as probabilidades naturalizantes em relao turma em
que o trabalho foi realizado, houve uma reduo bastante significativa no tocante
s agresses verbais entre alunos e alunas principalmente aqueles insultos,
entendidos como homofbicos, que tanto me causaram perplexidade no incio
do ano letivo. Ao fim do projeto, naquele nosso cantinho, naquele mundo
parte, a homofobia habitual j no era mais exteriorizada to sem pudor talvez
porque tenham incorporado uma nova lgica, talvez porque aquele ambiente j
no era mais compatvel com essas prticas obsoletas, talvez porque sabiam que
eu no seria omissa ou, ainda, talvez por algum outro motivo que me escapa.
Considerando a turma que acompanhei, tenderia a dizer que a interveno foi
fantstica; mas, para o meu pesar idealista e entusiasta, ainda so necessrias
outras apreciaes tambm em perspectiva.
como uma pequena amostra dessas dificuldades, por exemplo, na quantidade
Ao refletir sobre o processo de interveno, inclino-me a achar que o
espao que experimentamos juntos era como uma ilha, um solo seguro, porm
iniciar o projeto foi preciso articular e fortalecer uma rede que me desse suporte
muito diferente das guas salobras que nos circundavam, muito diferente do
mar e oceano que so a escola e a sociedade. Em que pese todo meu esforo
e transexual.
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97
REFERNCIAS
BIBLIOGRFICAS
BELINKY, Tatiana. Diversidade. So Paulo: Quinteto Editorial, 1999.
BRANCO, Sandra. Por que meninos tm ps grandes e meninas tm ps pequenos?.
Ao considerar a experincia no ESH durante todo o processo, muitos
mim, quem so as pessoas frente desse processo formativo? Que ideias, valores
98
99
Mariano. Infncia
poder:conformao
da
pedagogia
100
101
102
103
1. INTRODUO
curso Educao Sem Homofobia (ESH), que em nosso municpio foi promovido
2. FUNDAMENTAO TERICA
A possibilidade de realizar um projeto inserido no contexto da Secretaria
de Educao de Juiz de Fora mais especificamente na Superviso de
homofobia.
104
105
Junqueira (2009) ainda aponta que a escola, muitas vezes, atua como
legitimadora de hierarquias e relaes de poder que a fazem funcionar como
um espao de opresso e at mesmo de violncia. Por tais circunstncias, tornase fundamental que tanto as escolas e seus profissionais quanto os agentes
formuladores de regulamentaes reflitam acerca das diretrizes e prioridades
estabelecidas.
Neste cenrio a escola ocupa lugar central, pois abriga diversas realidades
e, de acordo com Louro (1999, p. 21), suas proposies, suas imposies e
(2007), que tem como eixo fundamental a proposta de pautar direitos sexuais
como direitos humanos e, assim, garantir efetivamente seu alcance universal.
cada vez menos frequentes. Para isso, importante que esta discusso seja
claramente alvo de polticas pblicas mais aproximadas da realidade social em
que vivemos e que, nesta luta, a escola novamente ocupe lugar de destaque como
uma poderosa ferramenta de transformao.
No entanto, vale lembrar que grande parte das vezes os discursos mais
autorizados nas sociedades, como afirma Louro (2009), acabam por repetir
106
107
3. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento da proposta, foi elaborado um questionrio
estruturado com perguntas de mltipla escolha que apontaram os conhecimentos
(ou no) dos(as) colegas quanto s questes relacionadas homofobia. Tal
questionrio foi realizado aps o consentimento livre e esclarecido dos(as)
participantes, no havendo a necessidade de identificao.
Coletados os dados, um levantamento foi realizado para, em seguida,
oferecer uma palestra em uma reunio pedaggica do DEAP para divulgar as
informaes. Alm disso, seria sugerido chefe do departamento que promovesse
o curso Educao Sem Homofobia para todos(as) os(as) participantes envolvidos,
direta ou indiretamente, com a educao em suas atribuies. A avaliao do
projeto foi efetuada, a partir das concepes relatadas pelos(as) participantes,
atravs de uma anlise dos questionrios e da palestra realizada.
palestra com o Professor Dr. Roney Polato, abordando temas como: Pedagogias
108
109
Esteretipo;
Preconceito
(sexismo,
androcentrismo,
uma hora, acabou se desdobrando em trs horas. Ao final, foi sugerido chefe
marcada por preconceitos que nos atravessam e nos constituem e que, por isso,
pessoas a identificaram como parte de suas funes, 02 disseram que esta tarefa
uma formao neste mbito para os(as) profissionais que atuam no DEAP,
com comentrios do tipo: urgente! e essa formao daria preparo para o
profissional saber como agir no caso de uma situao homofbica.
Fica claro, neste recorte, que propostas que abordam temas como a
diversidade sexual e de gnero, a homofobia, os preconceitos e a diversidade
so identificadas como positivas e necessrias nos mbitos que esto, direta ou
indiretamente, relacionadas educao. Neste sentido, o desconhecimento e a
no reflexo acerca de nosso papel na produo e reproduo de certas verdades
pode acarretar a perpetuao de situaes que ns mesmos(as) julgamos
inaceitveis.
Entretanto, para a efetivao de trabalhos que colaborem com a
desconstruo de preconceitos, preciso mais do que a boa vontade, como
nos lembra Junqueira (2009), de algumas pessoas inseridas neste contexto:
fundamental, um apoio institucional para que aes deste tipo se fortaleam
110
111
REFERNCIAS
BIBLIOGRFICAS
112
ANEXO
QUESTIONRIO
Responda de acordo com seus conhecimentos e/ou
opinies:
1- O termo adequado :
( ) homossexualidade
( ) homossexualismo
( ) ambos
Comentrio ______________________________________
2- Ser Homossexual:
( ) uma coisa natural
( ) uma doena perverso
( ) um desajuste emocional
( ) outro(s) __________________
Comentrio ______________________________________
3-Gays, lsbicas, bissexuais, travestis e transexuais so
todos homossexuais?
( ) sim
( ) no
( ) no sei
( ) outro(s) __________________
Comentrio ______________________________________
4- Heterossexual ou homossexual:
( ) j nasce assim
( ) fruto de uma construo social
( ) outro(s) __________________
113
Comentrio ______________________________________
5- Voc tem ideia do que homofobia?
( ) sim
( ) no
Comentrio ______________________________________
6- Voc acha que as escolas so espaos homofbicos?
( ) sim
( ) no
( ) s vezes
( ) no sei
Comentrio ______________________________________
7-Voc j vivenciou (praticou, sofreu ou presenciou)
alguma situao de homofobia?
( ) sim
( ) no
( ) no sei
( ) outro(s) __________________
Comentrio ______________________________________
8- Combater a homofobia:
( ) faz parte das minhas funes
( ) no faz parte das minhas funes
( ) dever de todos
( ) um dever s dos interessados no assunto
Comentrio ______________________________________
114
( ) em curso
( ) em curso
( ) em curso
( ) em curso
115
Gnero:
( ) feminino
( ) masculino
Idade:
( ) 18 a 30 anos
( ) 31 a 40 anos
( ) 41 a 50 anos
( ) acima de 50 anos
116
117
118
119
1. O INCIO DA TRAJETRIA
Observar a manifestao do preconceito contra a(s) homossexualidade(s)
nas relaes familiares e na religio sempre me causou alguma indignao.
Em maro de 2010, ao receber um e-mail que falava de um curso intitulado
Educao Sem Homofobia (ESH), cuja proposta era tambm discutir questes
ligadas temtica LGBT sigla que designa Lsbicas, Gays, Bissexuais, Travestis
e Transexuais , vi a oportunidade de me envolver criticamente com o assunto e,
em consequncia, pensar melhor o tema. Resolvi, ento, me inscrever.
o fato de sentir e reconhecer que em alguma medida fui formada para viver
120
121
122
Decidi colocar um nome fictcio para proteger a identidade da pessoa atendida naquela ocasio.
123
124
125
o filme Medo de qu?, produzido pela ECOS e parte do kit anti homofobia, que
O filme retrata a histria de um jovem que mora com os pais, que depositam
contedo para contribuir com o trabalho. Diante disso, como minha proposta
homem: ser valente, gostar de carros, namorar mulheres, etc. Contudo, ao longo
da histria o garoto descobre que gosta de outro garoto e, a partir da, mesmo
sem a anuncia de seus familiares e da sociedade, ele assume uma relao
3. A INTERVENO
Depois de confirmadas as datas de apresentao, tentei elaborar
os encontros a partir da minha vivncia no curso e experincia profissional.
Durante a minha capacitao, percebi que vrias pessoas da sala no sabiam
o que era heteronormatividade. Coincidentemente, tambm notei que em
meu ambiente de trabalho a situao era semelhante. Ento, pensei que seria
oportuno promover, inicialmente, uma reflexo acerca da heteronormatividade,
dando nfase a este conceito a partir de sua vinculao ideia de sexualidade
enquanto construo social.
Por razes de proximidade e complementaridade, tambm acabei
considerando conveniente a abordagem do conceito de sexismo, na inteno
considerada de maneira ampliada, entendida como decorrente da qualidade de vida, resultante do
acesso das pessoas e coletividades s polticas, aos bens e servios sociais (BRASIL, 2010, p.4).
126
homossexual.
O filme foi, em certa medida, utilizado para que eu mostrasse alguns
apontamentos sobre performatividade, ou seja, sobre discursos ou prticas
discursivas que constroem sujeitos a partir de determinados contextos
opressores/subjugadores. Especialmente, queria pincelar a produo/reproduo
daquilo que chamamos de gnero, fosse ele masculino ou feminino, bem como
os conflitos ou harmonizaes inerentes a esse processo de generificao/
sujeio dos corpos.
Hioka (2008, p.98), baseada nos trabalhos de Butler, afirma que a
performatividade se inicia bem cedo, desde que o mdico anuncia para a grvida:
um menino ou uma menina. A partir de ento, um nome feminino ou
masculino dado ao beb, os pais compram o enxoval, planejam o futuro da
127
criana, fazem tudo em grande parte influenciados pelo gnero que se atribuiu
muitos outros que so adequados para algumas pessoas, mas no para outras.
populao LGBT.
Era esse cenrio que eu tentava apontar no filme Medo de qu?, sobretudo a
partir dos conflitos discursivos - ou seja, a partir do momento em que o garoto
se reconhece homossexual.
Esse primeiro encontro, a meu ver, foi bastante polmico. Foi difcil
para o grupo pensar que o binarismo de gnero e sexo, pautado nas categorias
sexualmente ao outro.
(Brasil, 2010, p.12) e, alm disso, como ns, profissionais da sade, teramos o
dever tico-legal de mudar esse quadro.
de forma dual: uma vez que Deus fez o homem e a mulher para a reproduo
da espcie, esta seria colocada em xeque se no tivssemos tal modelo binrio.
Apesar de poder analis-la de outros modos, naquele momento respondi
dizendo que no se tratava de colocar a homossexualidade como a nica
forma de se relacionar, mas apenas como mais uma das formas possveis.
Apesar do dissenso que me deixou um pouco desconfortvel , a discusso foi
interessante, pois pude perceber o quo complexa e cheia de atravessamentos
128
129
3.
130
131
4.
que perpassa os mais diversos mbitos sociais, ela acontece desde o nascimento
nas unidades de sade, acredito que a interveno deveria ter sido executada
Poltica para cada um dos cinco servios de sade mental, com o intuito de que
hora cada.
era um dado; em que ela estava presente e poderia ser experienciada sem
me parece ter se concretizado algumas prticas, por mais injustas que sejam,
sexual insistisse em se mostrar, ela era vista em grande medida como a doena,
132
133
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BERLANT, Laurent y WARNER, Michael. Sexo en Pblico. In: JIMNEZ, Rafael M.
M. (ed.). Sexualidades Transgresoras: una antologa de estudios queer. Barcelona,
Icaria, 2002. p. 229-257.
BORRILLO, Daniel.Homofobia:histria e crtica de um preconceito.Belo Horizonte:
Autntica, 2010.
com o movimento LGBT. Reconheo que teria sido de extrema importncia que
tais pessoas tivessem protagonizado comigo a interveno, imagino que suas
em xeque a coerncia das teses desse sistema; com sua presena, com seus
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do sexo. In: LOURO,
olhar sobre as relaes de gnero e, em certa medida, reconheo que isso foi
134
135
APRENDER A EDUCAR
SEM HOMOFOBIA:
RELATOS DE TODOS
& TODAS
Alessandra Junho Gama Belo
Cristina Ferreira da Silva
Leonardo Tolentino Lima Rocha
RESUMO
Este texto descreve as atividades desenvolvidas durante o curso de
formao continuada Educao Sem Homofobia (ESH), relacionadas incluso
do tema da diversidade sexual na escola e ao combate homofobia institucional.
Percebe-se atualmente que, devido s suas singularidades, a escola constitui-se
em um espao importante para o enfrentamento ao preconceito e discriminao
contra as experincias no heterossexuais. Para tanto, necessrio politizar o
debate a partir de um processo democrtico que envolva toda a comunidade
escolar. Faz-se necessrio, portanto, reconhecer as caractersticas prprias
dessa instituio e implementar polticas pblicas que objetivem a promoo
do respeito diversidade sexual, por meio de procedimentos que levem em
considerao o funcionamento e as especificidades da escola. Igualmente
importante a legislao vigente para auxiliar educadores(as) na incluso
da diversidade sexual na escola, no tratamento do tema nas disciplinas e no
combate s prticas homofbicas no espao escolar. Assim, imprescindvel
que, na escola pblica, seja reconhecida a laicidade do Estado para promover
136
137
SILVA, 2004; BRASIL, 2009). Em pesquisa realizada para traar o perfil sociopoltico
2006).
Igualmente ilustrativa a pesquisa realizada pela Fundao Perseu
1. INTRODUO
Este trabalho compartilha a trajetria de estudantes do curso de formao
continuada Educao Sem Homofobia (ESH), verso 2010, desde a constituio
do Coletivo Todos&Todas at a realizao do nosso projeto de interveno
(PDI). Destacamos, neste relato, o combate s prticas homofbicas no espao
escolar. Consideramos, para tanto, a homofobia institucional como resultado
da manuteno da hierarquizao e da legitimao da inferiorizao social
de lsbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais LGBT (PRADO; MARTINS;
TOLENTINO, 2009). Segundo Seffner:
H um nvel mais problemtico de discusso que diz
respeito a quem merece ou no ser includo. (...)
A escola pblica brasileira foi e ainda largamente
utilizada como instrumento de excluso da cidadania.
Numa sociedade como a brasileira, em que muito
poucos esto equilibrados no patamar superior, acima
de uma enorme massa de excludos, normal que os
de cima queiram utilizar a escola para justificar essa
situao (SEFFNER, 2009, p.127-129).
138
Curiosamente, os ateus so o segundo grupo que mais provoca averso e intolerncia: http://
www2.fpa.org.br/uploads/img498f2300a97af.jpg.
20
http://www2.fpa.org.br/uploads/img498f2835971c7.jpg.
21
http://www2.fpa.org.br/uploads/img49f8c12453719.jpg.
19
139
140
141
esse preconceito manifesta-se no espao escolar, o que pode ser feito para evitar
2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
assim, que h vrios fatores que precisam ser considerados para tratar da
incluso da diversidade sexual nas escolas, entre os quais: as demandas dos
movimentos sociais; o impacto causado pela diversidade de crianas e jovens
que chegam escola a partir da conquista da universalizao do ensino; as
singularidades prprias da organizao escolar; os possveis caminhos a serem
seguidos para o dilogo entre movimentos sociais e a comunidade escolar;
estratgias de enfrentamento homofobia e de incluso do tema da diversidade
sexual no contexto escolar; a laicidade do Estado (SEFFNER, 2009).
Para ns, essas questes ficaram mais complexas diante dos avanos,
no Brasil, das decises judiciais em torno do tema da diversidade sexual
(jurisprudncias22) e, ainda que em menor expressividade, aprovao de leis
142
http://todostodas2010.blogspot.com.
143
luta. Alm disso, pudemos perceber uma articulao entre o movimento social
conhecimento.
com mais de 5000 visitas. Com o decorrer do tempo o contedo do blog foi se
HOMOFOBIA
4. ATIVIDADES VIVENCIAIS
estagirios(as) do NUH/UFMG.
25
Horizontes da Paz.
A escola est localizada na regio leste de Belo Horizonte, no bairro
Nessas visitas, tivemos a oportunidade de nos aproximarmos do
se tem produzido entre as lutas sociais. As apropriaes que os(as) ativistas dos
Os endereos, telefones e e-mails das entidades citadas esto disponveis no blog Todos&Todas.
144
145
146
147
ficou evidente para ns que os(as) professores(as) no sabem o que fazer, e eles(as)
quiseram saber se havia uma atitude padro para lidar com a homossexualidade
na escola.
148
149
homofobia.
experincias no heterossexuais.
formaes sobre o tema. Pudemos observar isso no convite que recebemos para
150
151
frente s injustias.
comunidade escolar.
Louro afirma:
afirma que:
152
153
escolar. Sobre isso, Seffner (2009) pontua que os documentos oficiais da escola
enriquece. Nesse aspecto, entendemos que a formao docente hoje possui suas
como os(as) professores(as) poderiam dar conta de toda demanda que chega na
escola.
154
6. CONSIDERAES FINAIS
Por fim, cabe ressaltarmos a importncia de nossa participao no
projeto Educao Sem Homofobia para resignificarmos uma srie de questes
nos planos pessoal e profissional. Exemplo disso a declarao de uma das
integrantes do coletivo Todos&Todas, de que seu objetivo em relao ao curso de
formao do projeto Educao Sem Homofobia foi a busca de um crescimento
pessoal e profissional diante da lacuna de um saber acadmico sobre esse tema
na sua formao de psicloga. No exerccio profissional, ela vivencia situaes
que necessitam dessa abordagem terica. Assim, o curso foi fundamental na
compreenso dos casos clnicos que surgiram durante o percurso dessa formao
continuada.
Acreditamos que os debates que tivemos durante a formao contriburam
para nos possibilitar outros olhares sobre a homofobia e ofereceram ferramentas
importantes para a problematizao desse tema na escola. Ao mesmo tempo,
continuamos buscando informaes sobre o papel da escola e as diferentes
maneiras de insero das polticas pblicas de incluso da diversidade sexual
no espao escolar. Temos desenvolvido um olhar mais crtico sobre o debate
155
importante
continuar
realizando
intervenes
em
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ABRAMOVAY, Mriam; CASTRO, Mary Garcia; SILVA, Lorena Bernadete da.
Juventudes e sexualidade. Braslia: UNESCO, 2004.
ANIS Instituto de Biotica, Direitos Humanos e Gnero. Legislao e
jurisprudncia LGBTT: Lsbicas Gays Bissexuais Travestis Transexuais
Transgneros. Atualizada at 09-2006. Braslia: LetrasLivres, 2007.
ARROYO, Miguel Gonzles. In: SOUZA, Joo Valdir Alves de (Org.). Formao de
professores para a educao bsica: dez anos da LDB. Belo Horizonte: Autntica,
2007. p.191-209.
BORTOLINI, Alexandre. Diversidade sexual na escola. Rio de Janeiro: Pr-Reitoria
de Extenso/UFRJ, 2008. Disponvel em: < http://www.diversidade.papocabeca.
me.ufrj.br/images/stories/diversidadeweb.pdf>. Acessado em 01 de junho de
2011.
BRASIL. Congresso Nacional. Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as
diretrizes e bases da educao nacional. Dirio Oficial da Unio, Poder Executivo,
Braslia, DF, 20 dez. 1996. Disponvel em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/L9394.htm>. Acessado em 04 de junho de 2011.
BRASIL. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil,
1988.
Disponvel
em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
156
157
CARRARA, Srgio; RAMOS, Slvia; SIMES, Jlio Assis; FACCHINI, Regina. Poltica,
<
http://www.cchla.ufrn.br/bagoas/v03n04art11_pradomartinsrocha.pdf>.
portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000015502.pdf>. Acessado em
01 de junho de 2011.
de 2011.
em:
publica/pesquisas-realizadas/dados-comparativos>.
158
<http://www.fpabramo.org.br/o-que-fazemos/pesquisas-de-opiniaoPublicado
em
08
de
159
ARTE CONTEMPORNEA
SEM HOMOFOBIA
Brbara de Oliveira Ahouagi
Gustavo Fortunato Duarte
RESUMO
O presente artigo apresenta um relato de o projeto de interveno
pedaggica, realizado entre junho e outubro de 2010, na Escola Municipal
Vereador Rafael Barbizan, em Betim. Objetiva-se descrever a construo de
um Projeto de Interveno Pedaggica baseado nas aulas do curso Educao
Sem Homofobia (ESH). Apresentam-se questes relativas discusso do tema
da homofobia no contexto escolar e os efeitos dessa interveno nos atores
envolvidos no processo. O projeto foi desenvolvido na rea do ensino de Artes
Visuais, baseado no trabalho dos artistas Hlio Oiticica, Cildo Meireles e Grupo
Poro de destaque na produo nacional, que influenciaram e inspiraram a
produo dos(as) estudantes durante o projeto de interveno. H uma breve
explanao acerca do processo de construo didtica das aulas e alguns
resultados dos trabalhos desenvolvidos. O texto uma apresentao de um
exemplo de possibilidade de produo de projetos interdisciplinares, com
participao de alunos(as) e professores(as), a partir de um tema muitas vezes
deixado de lado pela comunidade escolar.
160
161
sempre muito generosa com a maioria dos projetos artsticos que apresentei,
por mais experimentais e incompreensveis que pudessem parecer. A conversa
prvia com a equipe pedaggica foi muito importante, pois foi onde obtive
apoio e respaldo para a aplicao de meu projeto, uma vez que, mesmo sabendo
tratar de um assunto delicado, era coerente a aplicao naquele ambiente. O
bullying estava na mdia, era a palavra do momento. Nas revistas e jornais
eram comentados processos judiciais e a discriminao de alunos(as) e do corpo
escolar contra as minorias. De tal forma, meu projeto obteve acolhimento total
da direo e equipe.
A escola em que o projeto foi aplicado situa-se na periferia da cidade
de Betim, na regio metropolitana de Belo Horizonte. uma escola pequena,
com apenas sete turmas do ensino fundamental e, como em muitas escolas,
as manifestaes de preconceito so constantes e cotidianas. Ingressei no
corpo docente da escola em maio de 2008, e desde ento presenciei diversas
manifestaes de preconceito aos homossexuais, tanto entre educadores(as)
como entre os(as) alunos(as). Tambm no era raro presenciar cenas de racismo
e discriminao por padres fsicos ou at de classe social, mesmo em um lugar
de considervel pobreza econmica.
complexo de ser trabalhado dentro da escola, por outro lado ali um dos espaos
em que lidar com esse tema se faz extremamente necessrio. No que tange
De certa forma, fui bem afortunada, uma vez que a direo da escola foi
162
163
3. PLANEJAMENTO DA PROPOSTA
A turma escolhida para a aplicao do programa de interveno foi
uma classe da nona srie, formada por alunos(as) com cerca de quatorze anos
que vinham, durante dois anos, pesquisando meios de expresso artstica
e diversos artistas que compem o rico ambiente da Arte Contempornea
Brasileira. Fotografia, vdeoarte instalaes, performances, parangols, arte de
rua, objetos, ready-mades, arte conceitual, vrias possibilidades de desenho na
contemporaneidade: todos eram termos e conceitos j utilizados e conhecidos
pelos(as) alunos(as). Era um terreno bem adubado para que o trabalho sobre a
diversidade crescesse forte.
O ponto de partida da interveno se deu com a proposta de um objetivo
final: que os(as) alunos(as) desenvolvessem projetos artsticos utilizando o
164
165
ignorncia acerca das vivncias de gays e lsbicas, por exemplo; o lugar fixo
designado para os papis de gnero, que enquadram homens e mulheres em
esteretipos preestabelecidos e que tem como um de seus efeitos a excluso de
vivncias de travestis e transexuais como aceitveis, todos esses foram aspectos
abordados em sala. Havia sempre, no entanto, uma abordagem respeitosa em
relao linguagem com os(as) alunos(as), alm do espao para a escuta das
prprias experincias, preconceitos e angstias dos(as) estudantes acerca do
tema.
Aps as aulas tericas preparatrias, foram aplicadas algumas dinmicas
que trabalharam a questo da diversidade sexual por um ponto de vista mais
interativo e ldico. A primeira dinmica, de valor fundamental, foi feita de
modo que cada aluno escrevesse brevemente algumas situaes de preconceito
envolvendo aes homofbicas ou sexistas, e levassem para a aula seguinte. Na
segunda aula, a turma foi dividida em dois grupos, colocados um frente ao outro,
de forma que apenas um grupo lia uma das situaes apresentadas. Este grupo
espao da escola e a circulao de informaes na mesma, com o intuito de
em Brumadinho.
escolar, de modo a fazer os alunos pensarem sobre sua prpria realidade, e ainda
166
167
168
169
ideolgicos: projeto Coca-Cola por exemplo, Meireles alterou o texto gravado nos
seres humanos.
em sala por todos(as) os(as) alunos(as) da classe. Nesse espao todos discutiam
pontos fortes e fracos de cada ideia. Tambm foram colocadas em pauta algumas
produo e apresentao.
4. ALGUMAS REAES
os(as) alunos(as). Tambm fizemos uma visita ao Instituto Inhotim onde, entre
pela UFMG, mas tambm para evidenciar uma atitude de pregao religiosa
por professores(as) de determinadas crenas durante suas aulas. Esses(as)
a ser aplicado junto s temticas que exigem repensar as relaes sociais. Tal
170
171
espao foi feita uma fila, e eram recebidas apenas trs pessoas por vez, envolvidas
em uma msica pop bem animada. Ao redor da obra, foram dispostas colagens
respondeu que o rendimento dele nada tinha a ver com sua escolha sexual.
5. OS PROJETOS
Diante do desafio proposto aos discentes, foram vrios os trabalhos que
tiveram densidade e maturidade artstica dignas de mrito. Esta avaliao foi
realizada tendo em vista a faixa etria e o nvel cognitivo dos(as) alunos(as).
Tambm se levou em considerao o nvel da exigncia colocada a eles(as),
em funo de um contexto escolar de escassez de recursos em que estes(as)
alunos(as) deveriam providenciar toda a estrutura material e logstica dos seus
projetos.
Um grupo formado por trs alunos(as) V., A. e P. construiu, na escada
que liga a biblioteca a uma sala de aula, uma instalao coberta com lenis que
lembrava muito a esttica visual dos Penetrveis, de Oiticica. Para entrar no
Apesar de o trabalho com a temtica em sala de aula visar desconstruir a imagem de travestis como
estritamente ligadas prostituio, esse esteretipo ainda constri o imaginrio popular acerca de
travestis e transexuais, o que provavelmente motivou a fala da me da aluna. Por conseguir conceber
travestis apenas como prostitutas, a opinio dessa me reflete o prprio contexto heteronormativo a
que se pretendia criticar na execuo desse projeto.
27
172
173
Nora, que a traa com Vera. A partir da, a trama se desenrolou com a descoberta
Outro grupo de alunas J., Ar., Al. e R. tambm fez uma instalao,
e dessa vez o cenrio era uma sala escura. Todos deveriam tirar os sapatos
sua relao com a namorada e, por fim, uma harmonia familiar restabelecida
pensam sobre esse assunto sem ter necessariamente alguma resposta. Alm
Foi desenvolvida ainda, por um grupo de cinco alunas, uma pea teatral.
projeto, foram fundamentais para todo este processo. Muitas ideias puderam
Nela, Nora era a filha lsbica de um casal, Luza interpretava o pai que noite
ser construdas a partir das propostas iniciais. Vrias das aulas ministradas
na escola foram possveis apenas a partir das aulas do curso Educao Sem
174
175
ITA
CULTURAL.
Cildo
Meireles
Disponvel
em:
<http://
www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.
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Acessado em 10 de Maio de 2011.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
176
177
O TEATRO-FRUM
NA EDUCAO SEM
HOMOFOBIA: DUAS
EXPERINCIAS PARA ALM
DAS PAREDES DA
SALA DE AULA
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props a apresentar a msica Vai, Wilson, vai, uma pardia de I will survive28
que diz: No nasci gay, a culpa do meu pai que contratou um tal de Wilson
para ser meu capataz. Eu vi o bofe tomar banho, sua maleta era demais (...) No
nasci gay, mas assumi....
ESCOLA
A pea de Teatro-Frum 100 Preconceitos foi montada com um grupo
de estudantes com idade entre 11 e 13 anos, do Programa Beija-Flor da Escola
Municipal Carlos Drummond de Andrade, em julho de 2007. Este programa, que
existe desde 1997, foi criado aps o assassinato de um dos professores da escola
em um crime homofbico, fato que ganhou repercusso nos jornais locais.
postas pela turma; cabia a ns, agora, promover reflexes sobre elas. Para o
grupo da atuao, a sugesto foi identificar, discutir e encenar situaes de
homofobia nas escolas. Para o grupo da msica, houve a reflexo sobre seu
contedo falacioso, anlise do conceito de opo versus o de orientao sexual e
a proposta de criar uma nova pardia.
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uma personagem oprimida e sem sucesso na luta por seus direitos. Estava dada
a base para uma pea de Teatro-Frum. Nesse sentido, como continuidade
do processo, foi proposta uma oficina para estudantes interessados(as) em
desenvolver o trabalho j iniciado, cujo objetivo era montar uma pea para ser
apresentada em outros espaos, para outros pblicos, promovendo discusses
sobre heteronormatividade, homofobia e diversidade.
A pea retratava a histria de Cris, um estudante do sexo biolgico
masculino com uma performance de gnero associada ao feminino. Devido a
este contexto, a personagem sofria discriminao na rua e na escola da qual
fora excluda , e foi expulsa de casa pelo irmo com o consentimento da me.
Durante os dez minutos de durao da pea, seus conflitos revelaram temas
como: xingamentos e ofensas verbais relacionadas orientao sexual e
discriminao sexista; agresses fsicas negligenciadas pela diretora da escola;
heteronormatividade e sua correspondente linearidade bipolar exigida entre
sexo, gnero e orientao sexual; nome de registro x nome social; excluso
escolar e expulso domstica, comumente vivenciadas pela populao LGBT.
As cenas foram curtas, rpidas, mas suficientes e eficientes para retratar a
problemtica social em questo.
Primeiramente, apresentou-se a pea na prpria escola e, depois, para
estudantes e educadores(as) de outras duas escolas municipais. A pea foi
apresentada tambm para mes e pais de estudantes do Programa Beija-Flor,
para profissionais da sade do municpio de Contagem e em eventos como o
Ciclo de Debates Contagem sem Homofobia (no Teatro da Casa Azul, no centro
da cidade) e a 1 Semana Universitria da Diversidade Sexual (na Universidade
Federal de Minas Gerais). Essas exibies foram possveis graas a conversas com
professores(as) de outras escolas, profissionais da sade e representantes dos
eventos citados, para os quais mencionamos a existncia da pea e o interesse
em ampliar suas apresentaes.
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quarenta minutos uma hora e meia e, no fosse a limitao imposta pelo tempo
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caricatural era como se fosse necessrio afirmar, a todo instante, que eles no
Beijo.
elementos.
A pea retratou uma situao de opresso e violncia vivenciada por
As palavras da estudante J., de 14 anos, fazem referncia ao prazer de
TEATRAL
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As
que enfrentar esse debate e ir contra essas instituies to arraigadas nos seres
de:
em nosso pas.
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mbito profissional: tanto atuando em cena como na vida real, as pessoas esto
4. CONSIDERAES FINAIS
Foram apresentadas duas experincias bastante diferentes em termos de
espacialidade, durao, pblico-alvo, formas de desenvolvimento do processo
e proposta educativa, especialmente no que tange sua insero no Sistema de
Ensino. Ambas, porm, foram ministradas por uma professora de educao
artstica efetiva da Rede Municipal de Educao de Contagem, que assumiu a
192
193
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BOAL, Augusto. O arco-ris do desejo: o mtodo Boal de teatro e terapia. Rio de
Janeiro: Civilizao Brasileira. 1996.
BORRILLO, Daniel. Homofobia: histria e crtica de um preconceito. Belo Horizonte:
Autntica. 2010.
BRITIZMAN, D. O que essa coisa chamada amor. Identidade homossexual,
educao e currculo. Educao e Realidade. Vol. 21, jan/jul. 1996.
FURLANI, Jimena. Educao sexual: possibilidades didticas. In: LOURO, Guacira
Lopes e outras (orgs). Corpo, gnero e sexualidade: um debate contemporneo na
educao. Petrpolis: Vozes. 2003.
194
195
PRTICA EDUCATIVA,
MUDANAS POSSVEIS:
UM NOVO OLHAR SOBRE
VELHAS PRTICAS
Douglas Tomcio Lopes Monteiro
Luanda Queiroga
RESUMO
O trabalho a seguir descreve a atuao de profissionais, alunos e alunas
de uma escola da rede pblica estadual de ensino, na cidade de Ibirit, Minas
Gerais. Trata-se de uma interveno possibilitada pelo curso Educao Sem
Homofobia (ESH), promovido pelo Ncleo de Direitos Humanos e Cidadania
LGBT da Universidade Federal de Minas Gerais (NUH/UFMG). Por meio do
trabalho exposto, buscou-se refletir a sociedade na qual estamos inseridos,
identificando, pelo NUH nesta, os discursos hegemnicos de padronizao
diversos principalmente aqueles relativos questo de gnero e/ou orientao
sexual. Frequentemente analisados sob uma perspectiva heteronormativa que
no raro os concebe de maneira anmala, os sujeitos e ou prticas desviantes da
norma so alvos de discursos/prticas de intolerncia, alm de, muitas vezes,
serem estes marcados pelas violncias fsica e simblica, o presente trabalho
surge como uma possibilidade de interveno a esses problemas e tantos
outros que ainda hoje tendem a ser percebidos como invisveis ou normais
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teia social.
Creio que no seja difcil perceber que, ainda estamos muito aqum do
que se pode conceber como uma sociedade justa e igual, que respeita os sujeitos
cursos a fim de, por exemplo, facilitar a escolha dos estudantes, dentre outras
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De maneira rasante, podemos dizer que se trata de uma postura que aceita a heterossexualidade
como norma, e que, geralmente, rechaa o que/quem dessa norma se desvia.
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principais objetivos:
1.
200
Dentre elas: LOURO, Guacira Lopes. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria
Queer. Belo Horizonte: Autntica, 2004; LOURO, Guacira Lopes (org.). O corpo educado:
pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autntica, 2001; CARRARA, Srgio e VIANNA,
Adriana R. B. As vtimas do desejo: os tribunais cariocas e a homossexualidade nos anos 1980.
In: CARRARA, Srgio, GREGORI, Maria Filomena e PISCITELLI, Adriana. Sexualidades e
saberes: convenes e fronteiras. Rio de Janeiro, Garamond, 2004.
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201
2.
3.
sexual;
rduo a ser seguido; contudo, mais cincia tinha da necessidade desse tipo de
um mesmo assunto, foi fator privilegiado, uma vez que assim se podia melhor
entretanto, diante do que evidenciei com a exibio do filme, pensei que poderia
Cabe destacar que a diviso especificada se deu apenas por uma questo didtica. As
atividades desenvolvidas se apresentavam de maneira entrelaada, isto , mesclando as diferentes
possibilidades de interveno.
32
202
O contato com stios e blogs destinados temtica da diversidade sexual se mostrava bastante
rico, pois trazia filmes, reportagens, denncias etc, que muito raramente so veiculados em outros
meios. Um exemplo a ser citado o www.espacogls.com, que apresenta uma discusso profcua
de inmeros aspectos relativos ao movimento LGBT. Alm disso, iniciativas com esta tendem a
ser bem recebidas pelos alunos que, geralmente, deslocam-se da sala de aula para o laboratrio de
informtica, ainda to pouco explorado em muitos contextos.
34
Como se pde perceber, a anlise sobre os aspectos textuais e discursivos, tais como as estratgias
lingusticas, a funo scio-comunicativa, os interlocutores, dentre outros, foi essencial. Entretanto,
no menos importante a anlise acerca de elementos presentes em interdiscursos veladamente
estabelecidos, aspectos sobre os quais devemos estar sempre atentos, caso se queira uma atuao
verdadeiramente no obliterada.
35
Essa mesma frase dava nome ao PDI.
33
203
3.3. Palestras:
diverso.
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209
feira que, por sua vez, diante do sucesso da atividade, fomentou a criao de
A experincia no Instituto Yara Tupynamb com alunos(as) do 3 ano
Talvez estou cada vez mais certo disto mais interessantes que meus
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certamente, no por acaso. Vale destacar que ainda estamos imersos em uma
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nunca faltar. Afinal, por meio dela podemos sim lutar por outra realidade,
por uma sociedade ainda sonhada que conceba a todos de maneira no
excludente. No se trata de um olhar ingenuamente utpico, mas de um olhar
que, perturbado, insiste por ver outros horizontes e por eles luta.
Como sujeitos histricos educadores(as) enfim , acredito que um
significativo passo se d quando no cruzamos os braos frente negao do
direito de ser ou no ser. Atuemos, portanto, com uma postura combativa, que
no aceita os fatalismos advindos da misria cotidiana, dos discursos velados,
dos olhares insensveis.
Talvez seja possvel dizer, conforme diz Martins, que:
H nisso uma proposta metodolgica e terica;
observar a sociedade a partir da margem, do mundo
cinzento daqueles aos quais a contradio da vida
social deram a aparncia de insignificantes e como
insignificantes so dados pela cincia e, no entanto, se
movem. (MARTINS, 2000:135)
Por fim, retomando as colocaes de APPLE (1989), esperamos que este
Este PDI surgiu como uma postura de adentramento nesse mundo
cinzento para, enfim, demonstrar as cores nele presentes, estejam estas nos
ainda que talvez distante de algo que se possa celebrar jubilosamente, fomente
214
215
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
APPLE, Michael W. Educao e poder. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1989.
AUAD, Daniela. Relaes de gnero na sala de aula Educar para a submisso ou
para a transformao? Disponvel em:
<ttp://educacaoonline.pro.br/ndex.php?option=content&view=article&catid=
4%3Aeducacao&id=17%3Arelacoes-de-genero-na-sala-de-aula-educar-para-asubmissao-ou-para-a-transformacao&Itemid=15> . Acesso em 08 de abr. de 2011
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa.
36. ed. So Paulo: Paz e Terra, 2007.
FOUCAULT, Michel. Histria da sexualidade.13. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1999
MARTINS, Jos de Souza. A sociabilidade do homem simples:cotidiano e histria
na modernidade anmala. So Paulo: Hucitec, 2000. 210p
216
217
DIVERSIDADE E DIREITOS:
RELENDO A CONSTRUO
CULTURAL DA SEXUALIDADE
COM ALUNOS DA EJA
Andr Luiz Fraga
Gustavo Fortunato Duarte
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219
1. Os sujeitos e o espao
a afirmao seguinte:
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221
2. Objetivos iniciais
Ao propor a interveno ao grupo, buscou-se criar estratgias que
levassem os(as) estudantes a:
1. Perceber a construo histrica e cultural das atribuies designadas ao
homem e mulher na sociedade para trabalhar, assim, uma postura
crtica no contexto dessa reflexo, adotando procedimentos contrrios
s discriminaes a elas associadas;
2. Reconhecer a vivncia da sexualidade como um direito e uma dimenso
legtima da experincia humana entendendo a sexualidade como
constituda para alm das determinaes biolgicas , identificando
tabus e preconceitos, incitando os(as) estudantes a combat-los;
3. Respeitar a diversidade sexual, valores, crenas e comportamentos dos
sujeitos no-heterossexuais a partir da compreenso das diferentes
formas de atrao sexual.
No se sabia, entretanto, o quanto seria possvel avanar na proposta,
uma vez estabelecida a dinmica do trabalho de acordo com as discusses do
grupo e com os resultados da interveno.
3. Mtodo
aspecto importante a ser debatido, pois trata de relaes que, em grande medida,
objetivo desse primeiro momento foi propor reflexes como nas discusses
222
223
Para esse debate foram usados dois jogos desenvolvidos pela equipe de
na internet.
escritos no quadro da sala e, medida que estes termos eram escritos, o grupo
garota marcada pelo preconceito e pelos maus tratos por parte dos que a criaram
grupo e seu posicionamento relativo ao tema dos papeis de gnero. Foi possvel
fizessem listas do que seria bom e do que seria ruim, naturalmente, em ser
com pessoas do mesmo sexo e como isso pode ser diferente em outras sociedades.
homem e em ser mulher. medida que cada grupo apresentava sua compilao,
o outro podia contrapor suas ideias. O papel do professor foi intermediar este
sem necessariamente vincular esse ato sua orientao sexual. O debate desse
hegemnico masculino.
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225
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e que promovem visibilidade positiva aos indivduos LGBT tais como textos que
vises positivas sobre a temtica , textos estes que se opem aos primeiros,
(2007), que trata de um depoimento que, segundo Munhoz (2007), (...) foi feito
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percorrido pelo debate dessa proposta foi o de discutir a efetivao dessa lei
por eles. A mdia uma esfera da sociedade que produz e reproduz a norma
Para alm desse poder normativo, a mdia tambm pode ser entendida como
suas crenas e valores, denominada por eles(as) como Lei da Mordaa. Esse
230
231
36
www.youtube.com
232
233
4. Avaliao
Durante o processo do trabalho, procurou-se identificar quais eram as
compreenses que os(as) estudantes faziam a respeito da diversidade sexual e
das relaes de gnero, quais eram as resistncias dessas pessoas em aceitar
aquele que difere da norma e de que modos a norma heterossexual est presente
nas relaes sociais. A partir dessa identificao num esforo de sempre
debater e respeitar as opinies do grupo , buscou-se discutir e desconstruir as
Para ilustrar as possibilidades da adoo por casais homossexuais
utilizou-se o vdeo Twee Vader, que apresenta o adolescente Terrence Van
pois entendiam que o fato de ser adotada por um casal homossexual levaria a
234
235
eles no sabem disso. Todo mundo tinha que estar aqui ento, n?.
Apesar das explcitas falas de apoio e respeito diversidade sexual,
importante diagnosticar que uma reviso completa, radical e criticamente
contestadora
de
padres
prticas
indicativas
de
posicionamentos
alguns/algumas
estudantes
ainda
mantiveram
236
237
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ABRAMOVICH, Fanny. Pra que que presta uma menininha? Em: ABRAMOVICH,
com/HYPERLINK
www.youtube.com/watch?v?HYPERLINK
http://www.youtube.com/watchwatchHYPERLINK
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http://www.youtube.com/
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re=related=t4MTZRBxCRgHYPERLINK http://www.youtube.com/watch?v=t4MT
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homofobia.
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238
239
240
241
1
1
UNIDADE
II
Secretarias Municipais
242
243
HOMOFOBIA NA EDUCAO:
REPENSANDO (PR)
CONCEITOS NO PROCESSO
DE ENSINO-APRENDIZAGEM
NA SECRETARIA MUNICIPAL
DE EDUCAO DE BELO
HORIZONTE
Claudia Caldeira Soares
Cludio Eduardo R. Alves
Jos Wilson Ricardo
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247
248
249
da diversidade sexual, tanto por parte das equipes pedaggicas das escolas
quanto por parte dos prprios estudantes, que no entendiam a relevncia dessa
sexual nas escolas e viabilizaram uma segunda edio do curso, dessa vez com a
a divulgao e o incio do curso tenha sido bastante curto. Alm dos pedidos
da cidadania.
250
251
diretores(as)
e do NUH/UFMG.
aes como mesas de debate por temas, incluindo uma mesa destinada aos
conselheiros(as)
municipais
de
educao
das
cidades
252
253
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:
BELO HORIZONTE. Secretaria Municipal de Educao: Cadernos de sexualidade,
Belo Horizonte,1998.
BRASIL. MINISTRIO DA EDUCAO. Secretaria de Educao Continuada,
Alfabetizao e Diversidade: Gnero e Diversidade Sexual na Escola: reconhecer
diferenas e superar preconceitos. Braslia: SECAD/MEC, 2007.
BRASIL. MINISTRIO DA EDUCAO. Secretaria de Ensino Fundamental.
Parmetros Curriculares Nacionais: Orientao Sexual Braslia: SEF/MEC, 1996.
CASTRO, Mary.; ABRAMOVAY, Miriam.; SILVA, Lorena.; Juventudes e Sexualidade.
Braslia: UNESCO Brasil, 2004, 426p.
HISTRICO DO PROJETO DE EDUCAO AFETIVO SEXUAL DA REDE MUNICIPAL DE
EDUCAO DE BELO HORIZONTE. Disponvel em: afetivosexualpbh.blogspot.com
Acesso em 28/05/11.
PERRENOUD, Philippe.
Artmed, 2000.
254
255
PROCESSOS EDUCATIVOS
E DIVERSIDADE
SEXUAL: PERSPECTIVAS
INTERDISCIPLINARES
Caticilene Maria Camilo de Mendona
Henrique Moreira de Castro
Leila ris Borges da Cruz
Letcia Caldeira Quintella
256
257
com duas turmas e mais de 120 inscritos. Muitas hipteses nos levam a pensar
acerca dessa grande procura: a curiosidade sobre o tema; o desconhecimento
1. Introduo
Educao. Desde ento, houve interesse pela proposta de parceria para formao
fragmentados e encaixotados.
258
259
ritmo.
Essa ideia ganhou impulso com a ida para Betim de cursos voltados para
importante ressaltar que, mesmo com o estranhamento, timidez
e dificuldades em lidar com essa nova temtica, ocorreram avanos com
a temtica das diversidades, tais como o Projeto Educao Sem Homofobia, A Cor
da Cultura e outros.
260
261
para divulgao, entre outros , a festa ganhou mais pblico e brilho com a
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por alguns sites como a melhor Parada do Estado de Minas Gerais, por sua
264
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nem sempre est de acordo com o sexo biolgico de nascena ou com a genitlia
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37
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267
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269
esse grupo uma identidade uma vez que muitos nunca haviam participado de
blindagem ao preconceito.
9. Consideraes finais
O curso Educao Sem Homofobia, oferecido pelo Ncleo de Direitos
Humanos e Cidadania LGBT da Universidade Federal de Minas Gerais (NUH/
UFMG) em parceria com a Secretaria Municipal de Educao, com a carga
horria de 80 horas aula, proporcionou aos participantes uma viso ampliada
sobre a questo da diversidade sexual, no qual muitos preconceitos e tabus
foram desvelados. Proporcionou tambm vivncias significativas fora da sala
de aula, incentivando os cursistas a participarem de ciclos de debates, tanto em
Betim quanto nos municpios vizinhos, alm da participao nas Paradas do
Orgulho LGBT em Betim, Belo Horizonte e Contagem.
Importante ressaltar que o NUH/UFMG esteve presente em todas as Paradas
com um stand personalizado, marcando seu territrio e desvendando os olhares
sobre a multiplicidade da diversidade sexual, proporcionando visibilidade ao
curso ESH e lutando contra toda forma de opresso visto que a homofobia
ainda no considerada crime no Brasil , que uma das principais bandeiras
do Movimento LGBT. Um diferencial na multido que participava das Paradas
270
271
272
273
Cultura (SEDUC) organizou um Grupo de Trabalho (GT) cuja tarefa era construir
tambm contribuiu para que temticas como a incluso das crianas com
entanto, ficou perceptvel que o tema entrou para a ordem do dia e resultou
38
polticas institudas.
Foi nesse cenrio que, em 2005, a Secretaria Municipal de Educao e
274
275
administrao municipal.
e gestores(as).
Desde ento, o Programa Gnese vem se consolidando a partir de aes
276
O projeto Contagem sem Homofobia est, nesse ano de 2011, em sua stima edio e conta com
uma programao que rene o Ciclo de Debates, a exposio de Artes Visuais DiVERcidade, a
Mostra de filmes Cine Diverso e a Parada do Orgulho LGBT.
41
A primeira edio do Seminrio sobre Gnero e Diversidade Sexual foi realizada em 2007 e a
segunda edio no ano de 2010.
40
277
fortalecer e consolidar.
278
279
a prtica diria nas salas de aula. Tambm indagou as fragilidades dos projetos
consequentemente, na escola.
280
281
manifestaes.
maioria dos(as) professores(as) afirmou nunca ter tido contato com o material
enviado pela Secretaria s escolas no ano de 2007, material este composto por
sexual.
Esse espao tem possibilitado o permanente dilogo e a troca de
Foi tambm em funo das problematizaes e demandas advindas da
282
283
284
285
dimenses.
286
4. Consideraes finais
A abordagem das polticas pblicas educacionais, na contemporaneidade,
passa obrigatoriamente pelo debate em torno da democratizao e da garantia de
direitos. A universalizao do acesso educao resultou em novas correlaes
de fora no espao escolar, e marcadores tais como o pertencimento tnico racial,
a gerao, a identidade de gnero e a orientao sexual que no podem mais
ser desconsiderados quando analisamos os processos de excluso e violao de
direitos nessa instituio.
287
e/ou produzido por meio das prticas, dos ritos, dos silncios, das interdies,
dos saberes, dos mtodos e de uma infinidade de discursos que presumem uma
288
289
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:
BRASIL. Presidncia da Repblica Secretaria Especial de Direitos HumanosTexto-base da Conferncia Nacional de Gays, Lsbicas, Bissexuais, Travestis e
Transexuais. Ano.
marcas do seu gnero, da sua raa, da sua orientao sexual, da sua gerao.
DINIZ, Margareth; VASCONCELOS, Renata Nunes (Orgs.). Pluralidade cultural
A Educao precisa se firmar como processo de emancipao dos
sujeitos; emancipao de todo preconceito, de toda discriminao, de toda
excluso. Para isso, necessrio desnaturalizar as hierarquizaes consolidadas
pelas relaes sociais de poder e construir novas bases para uma sociedade que,
mesmo no se furtando dos conflitos, se realiza mais justa e solidria.
290
291
292
293
TENSES E DESAFIOS NA
EXPERINCIA DO PROJETO
EDUCAO SEM HOMOFOBIA
EM JUIZ DE FORA (MG)
Roney Polato de Castro
294
295
farei alguns apontamentos para pensar nas tenses e nos desafios colocados a
partir do projeto.
de gnero.
gnero;
3. O Plano Nacional de Promoo da Cidadania e Direitos
Humanos de LGBT46, institudo em 2009 pela Secretaria Especial dos
1. Introduo
cidadania.
296
297
298
299
curso. Porm, diante da pouca procura por parte dos(as) profissionais da rede
municipal de ensino, as inscries foram estendidas para a rede estadual e para
graduandos(as) de cursos de Licenciatura da UFJF e de faculdades particulares.
Cabe ressaltar o esforo desprendido pela equipe da professora Juliana na
divulgao do curso, sem o qual no teramos avanado nas inscries.
O curso iniciou-se no dia 10 de abril com a aula inaugural proferida pela
Prof. Dr. Guacira Lopes Louro, aula esta transmitida por videoconferncia
para os(as) participantes reunidos na sede do MGM. Nesta ocasio tambm foi
apresentado brevemente o Projeto, bem como toda a equipe de trabalho do ESH em
Juiz de Fora e o coordenador executivo do projeto, Daniel Arruda (representando
a equipe da UFMG). As aulas do curso aconteceram em duas turmas (nos horrios
de 13:00 s 17:00 e 18:00 s 22:00), no perodo de abril a outubro de 2010. As aulas
foram realizadas no CPA Centro de Psicologia Aplicada da UFJF, localizado na
regio central de Juiz de Fora, fato que facilitou e estimulou a participao no
curso. A culminncia do ESH se deu durante a I Semana da Diversidade Sexual
inscries para outros cursos da SME j terem sido efetuadas e destes j terem
iniciado suas atividades em 2010. Foi apontado ainda o fato de que j havia outro
curso. A equipe de trabalho do ESH em Juiz de Fora foi composta por membros
SME. Discutidas essas preocupaes, ficou tratado que o ESH seria acompanhado
do projeto.
47
diretores(as) das escolas municipais de Juiz de Fora. Nessa ocasio, a Prof. Dr.
modos, essas prticas podem estar afetando o campo das polticas pblicas de
47
Tratava-se do curso Tecendo gnero e diversidade sexual nos currculos da Educao Infantil.
300
301
projetos. Durante as aulas do curso ESH em Juiz de Fora, ouvimos diversos relatos
302
Ainda permanece uma viso geral reducionista sobre sexualidade, como algo que da natureza
humana, que diz respeito instintos e desejos com os quais nascemos e que so determinados
biologicamente. A partir dessa viso, a sexualidade, no singular, se torna um problema a ser
enfrentado e no um componente das experincias humanas de prazeres e desejos, de sociabilidade,
a serem discutidas.
48
303
nas escolas como homossexuais, cujos conflitos e tenses como, por exemplo, o
Juiz de Fora. Ou seja, no h orientao especfica para que estes temas sejam
abordados nas escolas e pouco o incentivo para que atividades e projetos sejam
desenvolvidos, o que pode contribuir para que estes fiquem somente cargo de
nosso olhar e regulam as formas com que nos relacionamos com essas temticas.
Nesse sentido, retomamos o argumento de que projetos como o ESH podem servir
somente pela SME para a incluso destes temas nas propostas curriculares,
Digo isto porque, finalizando este texto-relato, podemos ser conduzidos a pensar
49
304
305
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
LOURO, Guacira Lopes. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria
queer. Belo Horizonte: Autntica, 2004.
306
307
308
309
PROJETO EDUCAO
SEM HOMOFOBIA NA
SECRETARIA MUNICIPAL DE
EDUCAO DE SANTA LUZIA
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1. Introduo
(PDI) teve como pblico alvo os(as) gestores(as) escolares, nossa ponte com
formao educacional.
municipais.
Quanto aos aspectos histricos de Santa Luzia, o municpio situado
rua Direita, bero de abastadas famlias que viram seus filhos crescerem e
como por que um menino e no uma menina? surgiram, e eis que surgiu
nas diferenas entre os sexos: meninos e meninas so diferentes? Para que isso
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diferenas dos sujeitos e grupos. A escola, como um espao pblico, tem o papel
Cabe a problematizao sobre a construo
dos sentidos e significados que temos atribudo
historicamente sexualidade humana, suas nuanas
e as desigualdades sociais oriundas de herana
cultural ocidental em que o prazer e o desejo ainda nos
remetem incondicionalmente ao pecado, ao castigo,
penitncia. A hegemonia da heterossexualidade
condiciona o grupo LGBTT marginalidade e
clandestinidade social. (JOCA, A. 2010, p. 2)
3. Implicaes e impactos
Acreditamos que, numa viso realista, ancorada e subsidiada pela parceria
entre a Prefeitura Municipal de Santa Luzia e o NUH/UFMG, conseguimos fazer
com que os gestores escolares reflitam sobre a legitimao dos direitos humanos
se tarefa rdua romper com esses valores, o que pode ser observado pelas
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4. Concluso
Mediante a avaliao de satisfao preenchida pelos(as) gestores(as)
do sexo biolgico. A tolerncia um valor tico que deve ser ensinado e inserido
Deve-se ainda afirmar que toda e qualquer forma de preconceito e
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do terceiro milnio.
papel da educao, papel este evidenciado por ter a referncia de outro olhar
em relao ao diferente, ao diverso. Objetiva-se um olhar que possa ser
apresentado aos(s) nossos(as) educandos(as), procurando formar alunos(as)
com conscincia crtica, que saibam respeitar a diversidade sexual e os direitos
humanos e que sejam capazes de discernir, por si prprios(as), qual o valor
agregador da violncia. Acredito que a questo fundamental o convvio com o
diferente, a desnaturalizao do natural. Afinal, o respeito pela diversidade faz
parte do processo educativo.
Mais uma vez ser central o papel da educao.
Mesmo com todas as dificuldades, a escola um
espao no interior do qual e a partir do qual podem
ser construdos novos padres de aprendizado,
convivncia, produo e transmisso de conhecimento,
sobretudo se forem ali subvertidos ou abalados
valores, crenas, representaes e prticas associados
a preconceitos, discriminaes e violncias de ordem
racista, sexista, misgina e homofbica. (JUNQUEIRA,
R. 2009)
dever das escolas problematizar a tolerncia e o respeito s diversidades
de gnero, expresses de sentimentos, raa, etnia e religio para que as
instituies no se tornem refns de um medo urbano, arraigado a dimenses
sociais e ticas do ser humano. Tambm papel da Secretaria Municipal de
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
JUNQUEIRA, Rogrio Diniz. Diversidade Sexual na Educao: problematizaes
sobre a homofobia nas escolas. Braslia: Ministrio da Educao, Secretaria de
Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade, UNESCO, 2009.
JOCA, Alexandre Martins. Diversidade sexual na Escola: um problema posto a
mesa. 2008. Tese (Mestrado). Faculdade de Educao da Universidade Federal do
Cear UFC.
WEEKS Jeffrey; BRITZMAN Deborah; HOOKS bell; PARKER Richard. Em: LOURO,
Guacira Lopes (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte:
Autntica. 2001a, p. 05 - 24.
RIOS, Terezinha Azeredo. Para que Servem os resultados das Avaliaes? Editora
Abril: Revista Nova Escola, 15 de dezembro de 2010.
MINISTRIO
DA
EDUCAO;
SECRETARIA
DA
EDUCAO
FUNDAMENTAL.
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UNIDADE
III
Movimento Social
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ENTREVISTA:
SORAYA MENEZES,
PRESIDENTE DA ALEM1
Isadora Teixeira Vilela
Luanda Queiroga
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Associao Lsbica de Minas - SEDE: Rua da Bahia, n 573 / Sala 703. Telefone: (31)3267-7871
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ms da Visibilidade Lsbica. Eu acho que essa foi uma deciso importante para o
movimento de lsbicas, porque podemos levar cinco mil mulheres num sbado
que anteceda a Parada, mas se levarmos s ruas trinta e duas mulheres, ou dez
mulheres, que seja, no dia da Visibilidade, isso o mais importante. Isso sim
visibilizar um segmento que sofre preconceito por ser mulher e por ser lsbica
e quando somos negras e pobres este preconceito aumenta!
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eu tenho um aluno de seis anos e eu acho que ele .... Bom, ento todas essas
questes foram discutidas nas aulas. A gente desconstruiu aquela questo do
achar que das identidades de gnero e foi tudo muito interessante. s vezes
aprendemos tudo! Temos que aprender cada dia mais e bom que seja uma troca.
para desconstruir tabus, onde eu notei que muitos ainda pensavam eu digo
lsbicas eram lsbicas porque tiveram uma decepo horrvel com os homens!
Pois , esses mitos que permeiam nossa sociedade esto tambm dentro
fazer parte do ESH me fez ter, como pessoa, os olhos mais voltados pra educao.
terreno onde voc pode trabalhar nesse sentido. Com certeza vamos colher
muitos frutos advindos desse belo trabalho, e um destes frutos ser um sociedade
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ENTREVISTA:
ANYKY LIMA, VICE
PRESIDENTE DO
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CELLOS-MG
Isadora Teixeira Vilela
Centro de Luta pela Livre Orientao Sexual de Minas Gerais - Sede: Av. Afonso Pena, n 867 Edifcio Acaiaca - 22 andar - Sala 2207. Centro - Belo Horizonte-MG. Telefone: (31) 3075-5724
- E-mail: cellosmg@yahoo.com
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Cabeleireiro em Belo Horizonte, muito conhecido na cena LGBT.
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Universidade no faz nada por mim, eu no vou mais! Mas se pra tudo que eu
preciso a Universidade est sempre de braos abertos, eu vou continuar! E isso
ningum tira de mim, porque eu sei o que melhor pra minha comunidade, eu
que vivencio sei.
Gerais (NUH/UFMG), tive uma visibilidade muito grande. Eu posso dizer que
a Universidade me deu essa visibilidade que eu no tinha. Todo mundo me
conhecia, mas conhecia como Anyky. Hoje eu sou conhecida como uma militante
graas Lili, que fez essa ponte entre eu e a Faculdade.
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dormir, entendeu? Ela no tem outro tipo de renda, tem que correr atrs mesmo!
Ainda mais se no tiver pessoas pra apoiar nos lugares onde elas moram.
Travesti que vive com o pai e com a me totalmente diferente de uma
que foi expulsa de casa com quatorze anos. Essa perde a referncia da famlia.
Porque se voc tem famlia, voc tem tudo! Voc se sente uma pessoa amada,
forte, voc tem coragem de meter a cara em qualquer lugar porque voc sabe
que tem algum ali que vai te defender. Mas se voc no tem famlia, voc vai
confiar em quem?
Eu acho que aqui, em Belo Horizonte, est acontecendo uma coisa boa,
que essa parceria com a Universidade. Eles vo minha casa, eles conversam
com as meninas. Eu acho que as outras casas de meninas deviam dar essa
oportunidade a eles para esclarecer sobre os direitos delas, falar do INSS, por
exemplo... Tem muitas demandas importantes que precisam ser atendidas.
Elas precisam desse tipo de formao! Como eu sou igual a elas, se eu for falar
evento pra travesti. Foi ter um evento depois que eu me associei Lili, (integrante
alguma coisa elas vo dizer ih, essa velha t doida!. diferente quando chega
uma pessoa formada pra conversar, elas vo entender melhor e sentir mais
Antes no tinha isso. Mas s vezes culpa da prpria travesti, que no procura
mostrar a cara dela, no procura os seus direitos. Mas eu acho assim: isso
culpa delas ao mesmo tempo em que no .
Pelo fato de no ter estudado, de ter sofrido a vida inteira, a pessoa fica
quais direitos elas tem. Porque eu vejo muito as meninas falarem assim ah, eu
desacreditada, ignorante. Quando voc chega na rua pra conversar com uma
travesti, s vezes ela se arma. E as pessoas falam travesti corta, travesti mata,
vai acontecer nada. Elas sabem que se elas levarem uma pancada na rua no vai
mas no assim; aquilo um meio pra ela se defender. Ela acha que toda pessoa
acontecer nada com quem as agrediu. Temos que pensar em alguma coisa para
que chega perto pra agredir. Se voc chega perto pra falar que ela bonita, ela
alert-las, pra elas se sentirem seguras, poderem contar com algum. Porque
vai achar que voc est debochando, que t fazendo hora com a cara dela. E
outra coisa que, na rua, todo momento que ela desvia a ateno pra conversar
com voc ela pode perder um cliente, e no outro dia ela tem que comer, tem que
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porque eu nunca estudei, mas quando eu chego ali eu me sinto assim, a rainha!
E eu sou muito paparicada! Por eu no ter estudado, no ter aquele envolvimento
com a escola, estou doida pra comear a ir pra l de novo.
Durante as aulas, quem mais falou fui eu! Tinha todo espao pra falar, todo
mundo queria saber sobre a minha experincia. Eu era o centro das atenes,
eu e minha colega Luiza, que fez as aulas comigo. Foi uma oportunidade pra
Universidade e pra gente. Pra Universidade por a gente estar ali, porque
muito difcil entrar nesse mundo das travestis, porque travesti um mito. As
pessoas falam muitas coisas, mas at voc chegar ali, no sabe como . Foi uma
oportunidade que ns demos para a Universidade e que a Universidade deu
pra gente, porque eles viram que no nada daquilo, tanto que as meninas da
Universidade frequentam a minha casa at hoje.
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travesti idosa. Me preocupo muito com a travesti que doente, que portadora
do HIV, porque a gente no tem, assim, uma carta de apoio, uma aposentadoria.
tudo fantasia, brincadeira, mas quando voc chega a uma certa idade, o que
tem como sobreviver; ento pega quatro, cinco travestis e coloca dentro de casa,
logo voc vira cafetina! Voc vira marginal de novo! Mas voc tem que sobreviver,
o que a sociedade espera de voc? Que voc viva debaixo de uma ponte at
morrer, pedindo esmola? Parece que a sociedade quer isso, por que no temos
lutando sozinha pela causa das travestis, pelas oportunidades que elas no
travesti no trabalha porque no quer. No! Se ela tiver uma oportunidade ela
retorno durante as aulas, porque tem certas coisas que eu no entendo; estou na
vai trabalhar. Mas se ela expulsa de casa com quatorze, quinze anos, como ela
militncia h muito tempo mas, por eu no ter estudado, preferi colocar algum
vai sobreviver? Ela vai ter que ir pra casa de algum, um hotel no vai aceit-la
de graa. Ela pode at ser bem recebida, mas no dia em que ela no tiver uma
diria, ela vai ter que sair, no vai comer, no vai beber. Na casa onde eu moro
com as meninas a casa delas, se no tiverem dinheiro num dia, no outro elas
coisas que fazemos, como quando eu coloco uma menina dentro do nibus
pra voltar pra cidade dela porque aqui est usando droga, por exemplo, essas
voc comea a imitar! Voc no fez faculdade, mas aprende uma palavra difcil,
preocupaes que eu tenho com o apoio travesti que sai debilitada da cadeia e
escreve, aprende o significado dela, a voc incorpora a palavra na sua fala. E pra
que sem cuidados vai direto beber e usar drogas, a falta de assistncia na cadeia.
mim foi timo! Esses recursos que eu obtive no curso me deram mais segurana
porque agora eu tenho uma Universidade nas minhas costas. Eu no tinha
nada! E voc sabe que uma Universidade Federal uma Universidade Federal!
E as pessoas falam ah, depois os alunos saem e vo deixar voc. Mas a vm
outros alunos, outras experincias, e no mundo travesti sempre tem novidade!
Ningum nunca sabe da vida da travesti totalmente, uma coisa que pode ser
sempre investigada...
Eu quero fazer agora alguma coisa com a Universidade sobre a questo da
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Eu vou falar por mim e pelas travestis. Eu ouo muitas pessoas, militantes,
falarem mal da Universidade. Agora eu acho que a Universidade s me ajudou
em tudo, porque ningum nunca deu chance pra travesti, nunca! Porque pegar
uma travesti e colocar ela em cima de uma televiso, fazer dela um bibel uma
coisa; agora voc jogar a travesti nos lugares pra ela aprender, pra correr junto
com ela, ajudar a fazer alguma coisa, diferente. Eu acho que a Universidade
me acrescentou muito. J encontrei pessoas que me disseram assim voc vai
ter que escolher, ou a Universidade ou a ONG, e eu fico com a Universidade! Ela
me deu o apoio que eu preciso, porque sem apoio, sem visibilidade, eu ia voltar a
ser o que eu era. Sem isso voc no sabe conversar com a polcia, voc no tem
segurana. No dia em que as meninas foram apedrejadas na rua, o professor
Marco Aurlio saiu da casa dele noite, mais de dez, onze horas da noite, e veio
pra Avenida Pedro II me dar apoio. Eu acho que eu devo muito Universidade.
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GUDDS! :
DESDOBRAMENTOS E
ENTRAVES PARA UMA
ACADEMIA MILITANTE
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Fiz contato atravs de e-mails e minha participao tem sido mais atravs
das listas de e-mails, devido impossibilidade de participar das reunies
Igor: Concordo muito com isso. Acredito ainda que nossa participao
mais reflexiva, pois exigiu do grupo uma organizao para participar do projeto.
Acredito tambm que tem outro recorte importante de nossa participao no ESH
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eu tambm sou jovem. Outro ponto interessante uma nova noo de rede
que temos construdo: os integrantes do GUDDS! circulam em diversos espaos
institucionais. Isso no s possibilita como tambm cria rearranjos de discursos
e de experincias. E isso tem a ver com uma perspectiva de grupo, de coletivo.
histria para discutir formas de senado, por exemplo, est fazendo militncia.
Talvez eu esteja banalizando demais a palavra, chamando um monte de coisa
de militncia. No se trata de dizer se eu sou ou no militante. No s uma
questo de pertencimento grupal se eu sou do CELLOS (Centro de Luta pela Livre
Orientao Sexual), do GUDDS! ou da ALEM (Associao Lsbica de Minas Gerais)
se eu me identifico com uma instituio ou com um grupo identitrio. uma
questo de que existem muitas possibilidades de ao poltica que nos permitem
repensar o status quo sexual.
rika: Eu comecei a estudar homossexualidade porque aquilo me
inquietava, porque eu sou lsbica. Eu tambm queria aprofundar meus estudos,
at porque o Direito bem fechado. Acredito que isso muito interessante:
ns somos pesquisadores, estamos na academia, somos homossexuais e nos
inquietamos com questes que se referem a essa experincia que, historicamente,
no tem espao para discusso nas universidades. A nossa militncia se d
nesse contexto, por isso eu comecei a estudar homofobia e homossexualidade.
Ento quando eu pesquisava e participava pela internet de algumas discusses
do GUDDS! ou outras discusses como por exemplo no Escritrio de Direitos
Humanos, onde a gente trabalhava bastante essa questo , eu achava que
aquilo era militncia. E era militncia, afinal estvamos propondo debates em
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pelo acompanhamento dos educadores que fizeram o curso e etc. Nessa equipe
comeamos a pensar qual seria o conceito do Projeto ESH, qual conceito seria
executado. Porque claro que ele carregava um conceito, uma proposta, mas era
militncia.
aqueles vrios atores ali e reconhecendo tambm que alguns atores circulavam
sociedade.
no projeto sempre foi uma pauta importante. Todo tempo a gente inseriu atores
Igor: A pergunta que deve ser feita nesse processo sobre o que a
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chegavam perto de mim e diziam nossa, mas voc to novo e gay!, e o que eu
propunha era vamos discutir isso de outra forma?. Eu acho que o impacto de
incio esse, ter pessoas que do nome pras coisas. Porque no incio a gente
escutava muitos professores dizendo ento, ele ... sabe?... daquele jeito...
diferente.
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transexualidade; ela no sabe como lidar, e se a gente falar que simples, que
s cham-la pelo nome que ela quer ser chamada, o professor vai discordar e
dizer que no, espera a; no assim, eu tenho outros professores, eu tenho a
comunidade, eu tenho a escola. Porque pra mim, como estudante de Direito,
simples falar para um professor como ele deve agir; mas outra coisa totalmente
diferente a realidade dele. Essa mesma diretora relatou uma questo de um
livro com o qual eles trabalhavam e que tratava sobre Candombl: uma criana
simplesmente pegou o livro e levou-o para casa, mas os pais eram evanglicos.
Para no ter problema com a famlia que foi l reclamar e com o resto da
escola, a diretora simplesmente tirou o livro de circulao. a mesma coisa que
acontece com os temas da homossexualidade e da homofobia: muito mais fcil
para ela, enquanto diretora, abafar aquela discusso. muito difcil trabalhar
essa questo como pesquisadora, como capacitadora. Eu achei que fosse mais
fcil, que era simplesmente chegar l e falar sobre Direito ou sobre homofobia,
mas no to simples assim. Ento o ESH pra mim foi muito bom, porque me
militncia diferente, porque a gente traz uma carga de estudo e quer aplicar
isso. Acho que essa , pelo menos, a minha inquietao. Eu estudo isso e eu quero
com o que a constituio diz, com o que certo e com o que direito. Quando voc
chega l, o professor te relata que ele um dos atores sociais da escola que est
ali fazendo o curso, mas tem a comunidade, tem a escola... Isso me fez pensar
militante para tentar ajudar aqueles professores que estavam ali, porque eu fui
como capacitadora, mas aprendi muito mais sobre homofobia com eles do que
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movimento social LGBT; voc percebe que professores que no iam Parada
Gay comeam a ir. nesse sentido que eles comeam a chegar a espaos do
movimento social ou que a gente supe serem apenas do movimento social.
Ao mesmo tempo, o movimento social comea a reconhecer essas aes dos
educadores na escola e em outros lugares como uma forma de militncia. A
gente comea a entender que quando a Emiliana (cursista do ESH), por exemplo,
desenvolve um projeto de Teatro do Oprimido com o tema da sexualidade para
crianas, ela est politizando o cotidiano, ela est fazendo militncia e isso
legtimo, mesmo que ela faa isso de um linguajar que no o da militncia.
Ela vai juntar professores que compartilham da mesma indignao contra a
homofobia; esses professores vo questionar a direo; a direo vai levar esse
problema para a secretaria, da cria-se uma rede de pessoas que compartilham
de determinado pensamento e que esto questionando. Eu acho que o que o ESH e
a capacitao de professores para o enfrentamento da homofobia esto dizendo
que a questo da homossexualidade e da homofobia so tambm questes
6. Implicando a escola com o enfrentamento da homofobia como uma questo
importante para se pensar a democracia
Igor: Quando eu falei que, no ESH, a gente comea a reconhecer aes que
os professores fazem como militncia, essa fronteira do que movimento social
e do que uma educao para movimentos sociais pelos professores comea a
ser diluda. Porque a gente est falando de responsabilidade e implicao social,
de politizar o cotidiano. Ento se o que a militncia faz isso problematizar
7. Oxigenando a escola
descobrir o que era homofobia e perceber o quo danoso isso era porque eu senti a
potencializa novos espaos por onde esses educadores vo circular. Ento voc
no vive num pas em que as pessoas percebem que elas no podem discriminar
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perceber que existe o Dia do Orgulho Gay, o Dia da Conscincia Negra ou o Dia
de aula. E isso implica uma mudana social em todos os sentidos. , no fim das
dessas pessoas devido sua orientao sexual, sua cor da pele ou ao fato de ter
nascido mulher. Ento essas aes afirmativas, como o Projeto Educao Sem
professor que est cursando o ESH reveja os seus prprios valores e consiga
ser humano. Se a gente quer mudar uma sociedade para que a homofobia no
exista ou para que seus efeitos sejam menores na vida das pessoas, projetos
ainda que o foco seja esse , mas o projeto implica tambm em construir
novas demandas.
queremos construir.
Igor: Eu acho que isso mesmo que a rika est dizendo. A escola um
espao onde a gente passa muito tempo, e um espao em que normas esto
sendo reafirmadas, comportamentos esto sendo moldados. Afinal de contas,
que sociedade a gente quer construir? Porque ela comea ali na escola, ela
reafirmada ali. Quando o ESH chega, ele questiona, ele diz essa escola fechada
e higienizada com a qual estamos lidando, ela est falha na medida em que
ela no reconhece que existem outros corpos, outras experincias que no se
conformam com a heterossexualidade e que so marginalizadas. E isso muito
importante, isso ampliar o conceito de cidadania que trabalhado na escola.
E quando ampliamos o conceito de cidadania, ampliamos tambm para vrias
outras questes, no s para LGBTs. Ns trabalhamos com uma concepo
de sujeito mais amplo, trabalhamos com mulheres, com negros, com idosos.
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LISTA DE AUTORES
E AUTORAS
Anyky Lima
Plstica pela mesma escola. Atua como artista plstica, produzindo desenhos,
Contato: crisf.s@ig.com.br.
gmail.com
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gmail.com
de Educao.
gmail.com
Igor Leal - Ator formado pelo Centro de Formao Artstica Cefar, Palcio
das Artes. Graduando em Psicologia pela UFMG. Membro fundador do Grupo
Universitrio em defesa da Diversidade Sexual GUDDS! Ex-bolsista do NUH.
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polatojf@yahoo.com.br.
Raquel Silveira
Secretria Escolar na escola onde o projeto foi aplicado. Endereo para contato:
raquel-silveira2010@bol.com.br
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