O Caçador de Esmeraldas - Olavo Bilac PDF
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Universidade da Amaznia
O Caador de
Esmeraldas
de Olavo Bilac
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O Caador de Esmeraldas
Episdio da Epopia Sertanista do XVII Sculo
de Olavo Bilac
I
Foi em maro, ao findar das chuvas, quase entrada
Do outono, quando a terra, em sede requeimada,
Bebera longamente as guas da estao,
Que, em bandeira, buscando esmeraldas e prata,
frente dos pees filhos da rude mata,
Ferno Dias Pais Leme entrou pelo serto.
Ah! quem te vira assim, no alvorecer da vida,
Bruta Ptria, no bero, entre as selvas dormida,
No virginal pudor das primitivas eras,
Quando, aos beijos do sol, mal compreendendo o anseio
Do mundo por nascer que trazias no seio,
Reboavas ao tropel dos ndios e das feras!
J l fora, da ourela azul das enseadas,
Das angras verdes, onde as guas repousadas
Vm, borbulhando, flor dos cachopos cantar;
Das abras e da foz dos tumultuosos rios,
Tomadas de pavor, dando contra os baixios,
As pirogas dos teus fugiam pelo mar...
De longe, ao duro vento opondo as largas velas,
Bailando ao furaco, vinham as caravelas,
Entre os uivos do mar e o silncio dos astros;
E tu, do litoral, de rojo nas areias,
Vias o Oceano arfar, vias as ondas cheias
De uma palpitao de proas e de mastros.
Pelo deserto imenso e lquido, os penhascos
Feriam-nas em vo, roam-lhes os cascos...
A quantas, quanta vez, rodando aos ventos maus,
O primeiro pego, como a baixis, quebrava!
E l iam, no alvor da espumarada brava,
Despojos da ambio, cadveres de naus.
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II
Para o norte inclinando a lombada brumosa,
Entre os nateiros jaz a serra misteriosa;
A azul Vupabuu beija-lhe as verdes faldas,
E guas crespas, galgando abismos e barrancos
Atulhados de prata, umedecem-lhe os flancos
Em cujos socaves dormem as esmeraldas.
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III
Ferno Dias Pais Leme agoniza. Um lamento
Chora longo, a rolar na longa voz do vento.
Mugem soturnamente as guas. O cu arde.
Trasmonta fulvo o sol. E a natureza assiste,
Na mesma solido e na mesma hora triste,
agonia do heri e agonia da tarde.
Piam perto, na sombra, as aves agoireiras.
Silvam as cobras. Longe, as feras carniceiras
Uivam nas lapas. Desce a noite, como um vu...
Plido, no palor da luz, o sertanejo
Estorce-se no crebro e derradeiro arquejo.
Ferno Dias Pais Leme agoniza, e olha o cu.
Oh! esse ltimo olhar ao firmamento! A vida
Em surtos de paixo e febre repartida,
Toda, num s olhar, devorando as estrelas!
Esse olhar, que sai como um beijo da pupila,
Que as implora, que bebe a sua luz tranqila,
Que morre... e nunca mais, nunca mais h de v-las!
Ei-las todas, enchendo o cu, de canto a canto.
Nunca assim se espalhou, resplandecendo tanto,
Tanta constelao pela plancie azul!
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IV
Adoa-se-lhe o olhar, num fulgor indeciso:
Leve, na boca aflante, esvoaa-lhe um sorriso...
E adelgaa-se o vu das sombras. O luar
Abre no horror da noite uma verde clareira.
Como para abraar a natureza inteira,
Ferno Dias Pais Leme estira os braos no ar.
Verdes, os astros no alto abrem-se em verdes chamas;
Verdes, na verde mata, embalanam-se as ramas;
E flores verdes no ar brandamente se movem;
Chispam verdes fuzis riscando o cu sombrio;
Em esmeraldas flui a gua verde do rio,
E do cu, todo verde, as esmeraldas chovem...
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Fim