Dissertacao Maria Clara - Versão Final PDF
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ALM DA MARCHA:
A (RE) FORMAO DA COLUNA MIGUEL COSTA - PRESTES
GUARULHOS
2016
MARIA CLARA SPADA DE CASTRO
ALM DA MARCHA:
A (RE)FORMAO DA COLUNA MIGUEL COSTA - PRESTES
GUARULHOS
2016
CASTRO, Maria Clara Spada.
1
AGRADECIMENTOS
2
dando todas as condies para isso. Obrigada s mulheres da minha vida:
Leudina, Ana Paula, Patrcia, Christina, Estela, Marina, Eullia, Ftima, Alba e
Ilza.
Ao Caio Gerbelli, companheiro de todas as horas, no cabe em palavras
o quanto sou grata por tudo, alm da imensa ajuda com a dissertao, pelas
provocaes e dedicao ao ler e reler as linhas que seguem, que devo a voc,
inclusive. Obrigada pela nossa famlia.
3
- Vem c Brasil. Deixe eu ler a sua mo,
menino.
Ponha agora um tosto pra buena
dicha.
Repare esse trao forte que voc tem na
mo, menino.
a linha da vida. Voc tem o Amazonas.
Nunca lhe h de faltar nada quando voc
quiser ficar rico.
Aqui o So Francisco a linha da
inteligncia. (...)
- E esse risquinho em cruz na beira da
mo?
- No faa caso... o Iguau.
Pequenas contrariedades nos seus
amores.
(...)
- Voc est vendo esse risco fundo
Que atravessa a mo de baixo para cima?
Pois a linha do corao:
Voc ainda h de ser muito feliz, menino.
Essa linha... da marcha da Coluna
Prestes.
4
RESUMO
5
ABSTRACT
6
Sumrio
INTRODUO ................................................................................................. 10
CAPTULO I - A Hidra de Lerna: Redes de sociabilidade, movimentaes e
propaganda da revolta pelo Brasil ................................................................ 18
O incio da dcada de 1920 e o caso das Cartas Falsas .............................. 18
Revoltas de 1922 no Rio de Janeiro ............................................................. 21
Revolta de 1924 em So Paulo ..................................................................... 25
Revolta de 1923 e 1924 no Rio Grande do Sul e o surgimento da Coluna Miguel
Costa - Prestes.............................................................................................. 39
Outros apoios e algumas consideraes....................................................... 43
7
SIGLAS UTILIZADAS
AEL Arquivo Edgard Leuenroth - Unicamp
AESP Arquivo Pblico do Estado de So Paulo
4 B.C. 4 Batalho de Caadores (So Paulo SP)
26 B.C. 26 Batalho de Caadores (Belm PA)
27 B.C. 27 Batalho de Caadores (Manaus AM)
28 B.C. 28 Batalho de Caadores (Aracaju SE)
Bda. Brigada
3 B.E. 3 Batalho de Engenharia (Cachoeira do Sul RS)
1 B.F. 1 Batalho Ferrovirio (Santo ngelo RS)
4 B.I. 4 Batalho de Infantaria (Quitana SP)
Cap. Capito
CEDEM/UNESP - Centro de Documentao e Memria da UNESP
Cel. Coronel
CPDOC Centro de Pesquisa e Documentao de Histria do Brasil
Comte./Comt. Comandante
3 D.I. 3 Diviso de Infantaria (Porto Alegre RS)
1 D.R. 1 Diviso Revolucionria
D.S.P. Diviso So Paulo
E.F. Estrada de Ferro
EMR Escola Militar do Realengo
3 G.A.C. 3 Grupo de Artilharia a Cavalo (Alegrete RS)
4 G.A.C 4 Grupo de Artilharia da Costa (bitos PA)
Gal General
2 G.A.M. 2 Grupo de Artilharia da Montanha (Jundia SP)
PCB Partido Comunista do Brasil
PL Partido Libertador
PRD Partido Republicano Democrtico
PRR Partido Republicano Riograndense
Q.G. Quartel General
4 R.A.M. 4 Regimento de Artilharia Montada (Itu SP)
2 R.C. 2 Regimento de Cavalaria (Alegrete RS)
8
2 R.C.I 2 Regimento de Cavalaria Independente (So Borja RS)
3 R.C.I 3 Regimento de Cavalaria Independente (So Luiz Gonzaga RS)
5 R.C.I 5 Regimento de Cavalaria Independente (Uruguaiana RS)
5 R.I. 5 Regimento de Infantaria (Lorena SP)
6 R.I. 6 Regimento de Infantaria (Caapava SP)
S.L. Sem local especificado
S.D. Sem data especificada
Ten. Tenente
9
INTRODUO
1 BORGES, Vavy Pacheco. Tenentes, tenentismo, tenentismo versus oligarquia: reflexes para
uma reviso historiogrfica. In Anaes do Museu Paulista, tomo XXXIV. So Paulo: USP, 1985,
p. 142.
2 BORGES, Vavy Pacheco. Tenentismo e Revoluo Brasileira. So Paulo: Brasiliense, 1992, p.
23.
3 SANTA ROSA, Virgnio. O Sentido do Tenentismo. Rio de Janeiro: Civilizao, 1932.
10
por ele como classe mdia, desejosa de instaurar no pas um regime liberal-
democrtico efetivo e contrrio poltica oligrquica.
A problematizao em reduzir os "tenentes" categoria de classe mdia
se faz presente na historiografia brasileira desde a dcada de 1960 4. Todavia,
em meio a ela, os "tenentes" foram pensados apenas como membros de
corporaes militares, predominantemente o Exrcito, cuja viso de mundo e
objetivos se relacionavam com sua socializao apenas naquele mbito, dando
a impresso de que os soldados, ao adentrarem a instituio, incorporavam o
discurso imposto e passavam a ter sua personalidade definida pelo militarismo,
deixando de lado suas experincias anteriores e sua origem social. Alm disso,
sabido que nem todos os integrantes do tenentismo possuam envolvimento
militar ou eram de fato detentores da patente de tenente.
Em paralelo, uma segunda interpretao se aproximou de uma anlise
mais global. Para Paulo Srgio Pinheiro, a anlise do papel dos tenentes deve
ser feita atravs das seguintes dimenses:
53.
6 FORJAZ, Maria Ceclia Spina. Tenentismo e poltica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977, p. 28.
11
Por outro lado, nos parece bastante complexo definir o que seriam essas
"camadas mdias urbanas" e, recorrendo aos estudos acerca do recrutamento
no perodo em questo, havia grandes possibilidades de boa parte destes
"tenentes" terem suas origens nas camadas mais baixas da sociedade. Como
afirma McCann, "A taxa de cmbio flutuante e a inflao de preos tornavam o
salrio dos oficiais insuficientes para manter a famlia, (...) os oficiais com
patentes inferiores de coronel [como os tenentes] viviam margem da classe
mdia"7.
Vavy Pacheco Borges8 foi bastante crtica com relao historiografia que
a antecedeu, acerca da Primeira Repblica, por no refletir sobre o uso dos
termos "tenentismo" e "oligarquia", muitas vezes homogeneizando diferentes
agentes histricos e colocando-os de maneira simplista um contra o outro.
Todavia, como veremos adiante, as fronteiras entre um e outro, por vezes, no
eram to claras e confluam.
A autora ainda critica as delimitaes temporais dadas ao "tenentismo" e
as tentativas de simplificar as suas mltiplas faces:
Essa pesquisa, por sua vez, tem como objetivo compreender a formao
da Coluna Miguel Costa Prestes e, portanto, tem como incio de seu recorte
temporal 1924, s vezes retrocedendo at 1922 j que muito dos envolvidos nos
levantes de 22 continuaram nas conspiraes militares, e se encerrando em
7 MACCANN, Frank D. Soldados da Ptria: histria do exrcito brasileiro, 1889-1937. Trad. Laura
Teixeira Motta. - So Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 312 e 313.
8 BORGES, Vavy Pacheco. Tenentismo e Revoluo Brasileira. So Paulo: Brasiliense, 1992.
Tenentes, tenentismo, tenentismo versus oligarquia: reflexes para uma reviso historiogrfica
in Anaes do Museu Paulista, tomo XXXIV. So Paulo: USP, 1985.
9 BORGES, Vavy Pacheco. Tenentismo e Revoluo Brasileira. So Paulo: Brasiliense, 1992, p.
230.
12
1927 com o exlio da Coluna na Bolvia. Dessa maneira, buscou-se refletir acerca
das movimentaes polticas tidas como tenentistas dentro deste recorte.
Nossa inteno inicial era verificar as relaes da chamada Revoluo de
1924, que foi nosso objeto de estudo em trabalho anterior10, com a Coluna
Prestes, devido a um contato inicial com o Manifesto de Santo ngelo, no qual
Luiz Carlos Prestes afirmava que:
10 CASTRO, Maria Clara Spada de. Tenentismo em 1924: a participao civil na Revoluo
Esquecida. Guarulhos, Monografia de concluso de curso, 2013. (Orientao de Edilene Toledo)
11 PRESTES, Luiz Carlos. Manifesto de Santo ngelo. Santo ngelo, 29 de outubro de 1924.
14
memorialstica de Loureno Moreira Lima12 a mesma carta se encontra nas
pginas 107 a 111, mas curiosamente, conforme pudemos verificar, algumas
partes foram suprimidas sem as devidas indicaes. Em uma dessas
supresses, Prestes trata da fuga dos caudilhos Ruy Zubaran, Innocencio Silva
e Pedro Aaro para a Argentina e a falta de confiana que ele tinha no coronel
Fidncio de Mello. Ainda constam no livro mudanas de palavras e diversas
correes no texto da carta.
Por outro lado, estas obras so de extrema importncia por se tratar de
memrias de membros do comando da Coluna ou de seu entorno e nos ajudam
a refletir sobre algumas questes que outras fontes no permitem. Estes
diversos livros nos possibilitaram esboar algumas trajetrias e verificar o
trnsito de alguns dos tenentes pelo territrio brasileiro que foram essenciais na
difuso do clima de revolta naquele momento.
Nesse sentido, importante a inspirao do trabalho de Giovanni Levi no
que se refere, principalmente, ao desenvolvimento de seu dossi prosopogrfico,
pois nos auxilia na reflexo acerca das identidades sociais "concebidas como
realidades dinmicas (...) que se constituem e se deformam diante dos
problemas com os quais os atores sociais so confrontados" 13. Isso nos permite,
assim como desejado por Jacques Revel, estudar o social como um conjunto de
inter-relaes mveis dentro de configuraes em constante adaptao,
salientando a construo de papis sociais sua interao.14
Se o mbito da investigao for suficientemente circunscrito, as sries
documentais podem sobrepor-se no tempo e no espao de modo a
permitir-nos encontrar o mesmo indivduo ou grupo de indivduos em
contextos sociais diversos. O fio de Ariana que guia o investigador no
labirinto documental aquilo que distingue um indivduo de um outro,
em todas as sociedades conhecidas: o nome.15
A partir do nome, pode-se, segundo Ginzburg, acompanhar o sujeito em
suas mltiplas inseres sociais, na complexa rede de relaes na qual ele est
16 Ibidem, p. 175.
17 ABREU, Alzira Alves de; BELOCH, Israel (Coord.). Dicionrio histrico-biogrfico
brasileiro: ps 1930. Rio de Janeiro: FGV, 2001.
18 Successos Subversivos de So Paulo. Denuncia apresentada ao Exmo. Sr. Dr. Juiz Federal
16
destrinchamos algumas questes geradoras de conflitos para entendermos
melhor essa formao e algumas de suas caractersticas elaboradas em meio
marcha, bem como alguns traos que nos do indcios das origens sociais de
seus membros.
No terceiro captulo, verificamos a aproximao dos tenentes com os civis
do campo e da cidade. Com relao aos do campo, esta proximidade foi bastante
dificultada pelos coronis, havendo na maioria nos casos um distanciamento. No
meio urbano, as ideias tenentistas tiveram mais vazo e atraram pessoas de
diversas classes sociais e afinidades ideolgicas. Exemplos significativos so os
contatos que foram estabelecidos com o operariado anarquista e membros do
Partido Comunista.
17
CAPTULO I - A Hidra de Lerna: Redes de sociabilidade,
movimentaes e propaganda da revolta pelo Brasil
22 MCCANN, Frank D. Soldados da Ptria: Histria do Exrcito Brasileiro 1889-1937. Trad. Laura
Teixeira Motta. - So Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 282.
23 SILVA, Hlio. 1922: Sangue na areia de Copacabana. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira,
1964, p. 61.
24 Ibidem, p. 63.
25 Ibidem, p. 70-72.
19
possvel de Hermes da Fonseca, tendo em vista a movimentao das classes
armadas26. Todavia, o entrave poltico j estava feito e muitos ainda continuaram
convencidos de que Bernardes era o verdadeiro autor das citadas cartas27.
Em junho de 1922, Bernardes foi eleito Presidente28, para assumir o cargo
no incio do ano seguinte. Ao final do mesmo ms, o marechal Hermes da
Fonseca soube da interveno de Epitcio Pessoa no governo estadual de
Pernambuco com a utilizao de militares, o que resultou no envio do seguinte
recado a Jaime Pessoa, comandante geral das foras federais do referido
estado:
26 Ibidem, p. 90-92. BASTOS, Abguar. Prestes e a revoluo social. So Paulo: Hucitec, 1986,
p. 112.
27 DANTAS, Jos Ibar Costa. O tenentismo em Sergipe. Rio de Janeiro: Vozes, 1974, p. 77.
28 SILVA, op. cit., p. 101. BASTOS, op. cit., p. 127.
29 SILVA, op. cit., p. 105 e 106.
30 Ibidem, p. 106-111.
20
armamentos31. Havia tambm a lentido nas promoes, que alm de deixar os
militares insatisfeitos, acumulava revoltosos, a partir de anistias concedidas, nas
patentes de 1 e 2 tenentes32.
In PINHEIRO, Paulo Sergio (Org.). Histria Geral da Civilizao Brasileira. Tomo 3 - O Brasil
Republicano, Vol. 9 Sociedade e instituies (1889-1930). So Paulo: Bertrand Brasil, 2006, p.
225.
33 SILVA, op. cit., p. 189 e 192.
34 Ibidem, p. 126 e 127.
21
Para combater os rebeldes foram organizados os Fortes de So Lus e
Imbu, em Niteri, alm de navios da Marinha e hidroavies. Pela manh, o Forte
do Vigia, levantado em apoio ao de Copacabana35, foi dominado por legalistas,
assim como a Vila e a Escola Militar, restando apenas o levante no Forte de
Copacabana.36
Na manh do dia 6, o capito Eurico Gaspar Dutra, um dos encarregados
de reprimir a revolta, ordenou que os navios encouraados So Paulo e Minas
Gerais, juntamente com o destroyer Paran, abrissem fogo contra o Forte.
Todavia, o ataque foi respondido a canhes por Siqueira Campos e os navios
recuaram 37.
Informados pelo prprio ministro da Guerra, Calgeras, que eram a nica
unidade ainda revoltada, este sugeriu que se rendessem. As opinies sobre a
continuidade do movimento entre os revoltosos divergiam e Euclides Fonseca
dispensou os que eram a favor da rendio, sobrando apenas ele juntamente
com mais 28 homens.38 Ao sair do Forte para negociar com o governo, o capito
Euclides Fonseca foi preso no Catete. Conforme depoimento:
35 Ibidem, p. 120.
36 Ibidem, p. 121 e 122.
37 Ibidem, p. 129 e 130.
38 Ibidem, p. 132.
39 Idem.
40 Seriam os 28 listados: os 1s tenentes Antnio Siqueira Campos e Eduardo Gomes; 2 s
tenentes Nilton Prado e Mario Tamarindo Carpenter; 1 mecnico eletricista Jos Pinto de
Oliveira; auxiliar de mecnico Artur Pereira da Silva; cabo Raimundo de Lima Cruz; soldados
Manoel Antnio dos Reis, Benedito Jos do Nascimento, Antnio Camilo de Freitas, Jos
22
pedaos, distribuindo entre os presentes, guardando consigo um a mais para
Euclides Fonseca.41
Ao incio da marcha pela Avenida Atlntica quatro soldados resolveram
ficar no forte. De um grupo de civis que se encontravam frente do Forte, dois
se voluntariaram e solicitaram que fossem armados. Aps o embate com
legalistas enquanto se dirigiam ao Palcio do Catete, vrios corpos ficaram pelo
caminho como Nilton Prado, Mario Tamarindo Carpenter, o eletricista Jos Pinto
de Oliveira, dois soldados do Forte de Copacabana no identificados, o civil
Otvio Correia, o corneteiro Manoel Antonio dos Reis e Hildebrando da Silva
Nunes 42.
Por fim, todos os envolvidos que sobreviveram ao combate foram presos
e processados. Esses processos desenrolaram-se durante um rigoroso estado
de stio, permeados por prises polticas e censura imprensa. Por outro lado,
os presos e foragidos continuavam a conspirar43. A sequncia de represso e
negativa de anistia contriburam para a continuao do movimento e para o
aumento de adeses44. Alm disso, seguiu-se uma sucesso de quebra de
costumes para os militares, vista por eles como uma afronta. Oficiais do exrcito
foram aprisionados juntamente com civis nas mesmas condies, e houve,
ainda, a quebra de hierarquia, por exemplo, com generais sendo presos por
inspetores, e a realizao de julgamentos do processo em foro civil.45
Rodrigues da Silva, Jos Joaquim da Costa, Jos Olmpio de Oliveira, Manoel Ananias dos
Santos, Heitor Ventura da Silva, Pedro Ferreira de Melo, Marcelo Miranda, Jos Rodrigues
Marmeleiro, Hildebrando da Silva Nunes, Francisco Ribeiro de Freitas, Rosendo Cardoso,
Alberto Alves da Cunha Machado e Sandoval Alexandre Vicente; civis Joo Antnio Falco de
Melo, Antnio Luciano da Silva, Manoel Felipe da Costa, Lourival Moreira da Silva, Joaquim M.
Pereira Jr. Ibidem, p. 180 e 181.
41 Ibidem, p. 137 e 138.
42 Ibidem, p. 145 e 165.
43 Ibidem, p. 235.
44 MAYNARD, op. cit., p. 66.
45 Ibidem, p. 24.
23
estado Raul Fernandes. Na Bahia, J.J. Seabra, oposicionista de Bernardes, foi
obrigado por foras federais a deixar seu cargo. O mesmo aconteceu no
Maranho46. Foi aprovada ainda a Lei da Imprensa, apelidada pelo povo de "Lei
Infame", e aos revoltosos de 1922, que esperavam a anistia, coube a acusao
de golpe contra o poder estabelecido.
O autoritarismo de Bernardes tambm incomodava amplos setores, como
se observa nesse trecho de Anita Prestes:
46 SODR, Nelson Werneck. Histria Militar do Brasil. 2 Ed. So Paulo: Expresso Popular,
2010, p. 268-269.
47 O Z Povo quer a goiabada Campista
24
O Rio de Janeiro em 5 de julho de 192249
49JOFFILY, Bernardo (Org.). Isto Brasil 500 Anos. Atlas Histrico. So Paulo: Grupo de
Comunicao Trs S/A, 1998, p. 115.
25
Exrcito Isidoro Dias Lopes.50 Reformado em 1923 e escolhido no ano seguinte
como lder da revoltar a eclodir, viajou pelos estados de So Paulo, Paran e Rio
Grande do Sul estabelecendo contatos nos meios militares e elaborou, junto com
Joaquim e Juarez Tvora, um plano de ocupao da capital paulista .51
Juarez Tvora sentou praa no Realengo e em 1917 iniciou os estudos
na Escola Militar, decidido a cursar Engenharia. Em 1919, serviu como estagirio
no 1 Batalho de Engenharia, na Vila Militar. No ano seguinte, serviu em
Curitiba, no 5 Batalho de Engenharia e em maio de 1921 foi promovido a 1
tenente e classificado no 4 Batalho de Engenharia, em Itajub, Minas Gerais,
onde comandou a Companhia de Telefonistas e Telegrafistas. Em 1922, foi
designado para servir como auxiliar de instrutor de Arma de Engenharia, na
Escola Militar do Realengo, substituindo Luiz Carlos Prestes que havia sido
promovido a capito e designado para comandar a Companhia Ferroviria52. Na
Escola Militar, acabou se envolvendo nos levantes daquele ano:
50 CORREA, Anna Maria Martinez. A Rebelio de 1924 em So Paulo. So Paulo: Hucitec, 1967,
p. 68.
51 MCCANN, op. cit., p. 344 e 345.
52 PRESTES, Anita Leocdia. Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro. So Paulo:
54 Ibidem, p. 120-130.
55 Ibidem, p. 129 e 130. ABREU, Alzira Alves de; BELOCH, Israel (Coord.). Dicionrio histrico-
biogrfico brasileiro: ps-1930. Rio de Janeiro: FGV, 2001.
56 COSTA, Yuri Abyaza. Miguel Costa: um heri brasileiro. So Paulo: Imprensa Oficial do Estado
27
A revolta em 1924 em So Paulo, na qual Miguel foi uma das lideranas,
foi planejada em ligao com outras pelo Brasil, articuladas simultaneamente.
Isso visava garantir uma slida posio dentro da estratgia geral de luta. No
plano inicial, a cidade de So Paulo serviria como ponto de concentrao do
movimento revolucionrio a partir do estabelecimento de relaes com as
unidades localizadas em outras cidades do interior e em outros estados como
Mato Grosso, Paran, Minas Gerais, bem como com a regio do Vale do Paraba
e a descida da Serra do Mar, com a inteno de isolar a cidade do Rio de
Janeiro58.
A tomada da cidade de So Paulo se iniciou com violncia na manh do
dia 5 de julho de 1924, tida pelos rebeldes como necessria para garantir o
deslocamento e proteo das tropas revoltosas. Assim, houve a destruio
sistemtica de pontes, tneis, passagens e aterros, bloqueios de ferrovias,
cortes de linhas telefnicas e telegrficas que visava dificultar a chegada de
tropas legalistas para conter o movimento rebelde.59
O plano inicial dos revoltosos era tomar So Paulo em poucas horas,
devendo, logo em seguida, dois destacamentos mistos de tropas do Exrcito e
da Fora Pblica marchar, um em direo a Santos, atravs da So Paulo
Railway, e outro para a Barra do Pira, por meio da Estrada de Ferro Central do
Brasil. Tal estratgia visava controlar estas reas para garantir a ligao de So
Paulo com Minas Gerais e isolar a capital federal. Todavia, o plano comeou a
dar errado desde o incio de sua execuo, havendo um primeiro atraso de 20
horas na chegada de Isidoro Dias Lopes a So Paulo. Isso fez com que a
Marinha, que havia destacado no Porto de Santos, ficasse sem orientaes e,
consequentemente, no se rebelasse.60
Em So Paulo, Miguel Costa, aps assumir o comando do Regimento de
Cavalaria da Fora Pblica, conduziu a ocupao das estaes ferrovirias do
61 Ibidem, p. 20 e 25.
62 Ibidem, p. 51.
63 Ibidem, p. 52.
64 Ibidem, p. 55.
65 Ibidem, p. 60.
29
interior para o abastecimento da cidade. Os operrios foram obrigados
abandonar o trabalho. Em relatrio, a prefeitura apontou que 212.385
passageiros deixaram a cidade pelas ferrovias, em uma mdia de 9.199 pessoas
por dia, sendo que a cidade na poca possua 800 mil habitantes66. O movimento
causou prejuzos populao e deu oportunidade para que se manifestassem
tendncias mltiplas, conforme os interesses dos grupos envolvidos. Os
operrios que j estavam insatisfeitos com o governo viam com bons olhos a
manifestao. J os donos de indstrias e armazns, tendo os seus interesses
prejudicados, encaravam a revolta como uma ruptura da ordem que deveria ser
combatida pelo Estado.
Com a falta de matria-prima e gneros alimentcios, comeou-se a
praticar saques aos armazns e depsitos de mercadorias, como ocorreu no
Mercado Municipal, por exemplo, onde o tenente Joo Cabanas se colocou como
responsvel:
30
passaram a exigir proteo da parte daqueles que haviam ocupado militarmente
a cidade68.
No dia 11, chegaram cidade de So Paulo 30 mil homens legalistas. No
mesmo dia, iniciaram-se pesados bombardeios aos bairros do Brs, Belenzinho,
Mooca e Luz, que ficaram abandonados69. As famlias mais abastadas
procuraram sair da cidade, em automveis, com destino a Santos, Jundia e
Campinas.70
Diante de tal situao, foi enviada uma mensagem telegrfica ao
presidente Arthur Bernardes, solicitando a suspenso dos ataques, onde
assinaram o arcebispo Metropolitano de So Paulo, Dom Duarte, e o presidente
da Liga Nacionalista, Frederico Steidel. Para responder, o presidente indicou o
ministro da guerra, marechal Setembrino de Carvalho, o qual props que os
paulistas fizessem apelo aos militares rebeldes, pedindo-lhes que aceitassem o
combate em campo aberto:
Para Anna Maria Martinez Correa, tal resposta expe claramente que para
o governo tratava-se de uma situao de guerra, na qual todos os recursos eram
vlidos, inclusive os bombardeios72, pouco importando a situao em que se
encontrava a populao paulistana.
No dia 14 de julho, os canhes legalistas comearam a atacar bairros at
ento poupados, como o da Liberdade, Aclimao e Vila Mariana73,
intensificando ainda mais o xodo em direo s cidades vizinhas, que
68 SOARES, Jos Carlos de Macedo. Justia: A revolta militar em So Paulo. Paris: Imp. Paul
Dupont, 1925, p. 41-45.
69 PEREIRA, op. cit., p. 75.
70 CORREA, op. cit., p. 125.
71 Ibidem, p. 71.
72 Ibidem, p. 142.
73 PEREIRA, op. cit., p. 91.
31
comeavam a enfrentar dificuldades de abastecimento para atender a grande
populao vinda de fora74. Nos bairros operrios, o bombardeio continuava.
Segundo Cabanas,
33
A Revoluo de 1924 em So Paulo83
34
Para Ilka Cohen, foram mortos 723 civis, segundo o nico registro que
restou pertencente Santa Casa. Em mdia 30 cadveres e 100 feridos86 por
dia na cidade, alm das dificuldades impostas pela falta de abastecimento. Trata-
se, talvez, do maior massacre urbano realizado durante os governos
republicanos87.
Aps sarem da cidade de So Paulo, reagruparam-se em Bauru, no dia
29 de julho, com 3.000 pessoas88, e executaram o primeiro plano rebelde:
avanar sobre Porto Presidente Epitcio, para transpor o rio Paran e formar um
"Estado livre revolucionrio" no sudoeste de Mato Grosso. Conseguiram ocupar
a localidade em 6 de agosto e a rebatizaram de Porto Joaquim Tvora, tenente
falecido no dia 19 de julho de 1924 aps ser ferido em combate. Depois de vrios
confrontos com tropas legalistas, os rebeldes foram fortemente atacados em
Trs Lagoas e resolveram seguir rumo aos estados do Paran, Santa Catarina
e Rio Grande do Sul, com a inteno de sublevar o sul do pas com a ajuda dos
"libertadores" de Assis Brasil e de outros oficiais rebeldes, como Luiz Carlos
Prestes e o tenente Siqueira Campos, vindo da Argentina, onde se encontrava
exilado89.
Outras cidades pelo interior do estado de So Paulo tambm se
revoltaram em 1924. Segundo Clifford Welch, "registros policiais mostravam
'atos de evidente rebelio' (...) em 87 muncipios do interior, e manifestaes de
apoio para a rebelio em outros 37"90.
Em Jundia, o 2 Grupo de Artilharia da Montanha se levantou, assim
como So Paulo, no dia 5 de julho. A ligao com a revolta em So Paulo se
deu, principalmente, atravs do tenente intendente do 2 Grupo de Artilharia de
Montanha Joaquim Nunes de Carvalho, que tambm escrevia sob o pseudnimo
86 COHEM, Ilka Stern. Bombas sobre So Paulo: A revoluo de 1924. So Paulo: UNESP, 2006.
87 ROMANI, Carlo. Antecipando a era Vargas: a Revoluo Paulista de 1924 e as prticas de
controle poltico e social. Topoi. Vol. 12. Rio de Janeiro, 2011, p. 161.
88 TVORA, Juarez. Uma vida e muitas lutas: memrias. Vol. 1 - Da plancie borda do altiplano.
36
regio o tenente Cabanas e sua coluna, da qual trataremos mais frente,
expulsando as tropas legalistas95.
Data de abril o incio da conspirao no 4 Regimento de Artilharia
Montada de Itu, atravs de Joaquim Tvora e de oficiais de Jundia. O levante
aconteceu em 8 de julho, quando o comandante do regimento foi preso pelo
tenente Alcides Teixeira de Araujo, frente de um grupo de sargentos. Boa parte
dos revoltosos partiu no dia seguinte para So Paulo e o restante ficou tomando
conta da cidade, na qual o capito dr. Oscar de Sampaio Vianna, mdico da
unidade militar local, ficou como prefeito at o dia 27.96
Em Caapava, a maioria da oficialidade do 6 Regimento de Infantaria ali
aquartelado estava envolvida com o movimento. O tenente Luiz Cordeiro de
Castro Afilhado, que participava das reunies de planejamento do levante, era a
principal ligao da regio com os revoltosos de So Paulo, e seguiu no dia 4
para a capital paulista a fim de ajudar no levante do 4 Batalho de Caadores97.
Em Lorena, o 5 Regimento de Infantaria foi enviado sob o comando do
tenente Azaury de S Brito e Souza, para enfrentar os rebeldes em So Paulo,
embarcando no dia 6. Chegando ao destino, o Regimento se incorporou s
foras revoltosas em So Paulo. O mesmo ocorreu com 6 Regimento de
Infantaria de Caapava98, comandado pelo major Raul Dowsley Cabral Velho.
Ambos os comandantes frequentavam as reunies de planejamento na casa do
tenente Custdio de Oliveira em So Paulo.99
Neste contexto, de disseminao da revolta pelo interior do Estado de So
Paulo, uma figura importante foi o tenente da Fora Pblica Joo Cabanas100,
que comandava a chamada Coluna da Morte.
38
"pode-se dizer que a populao de Campinas ali estava em peso, sem distino
de classes. O desembarque foi efetuado sob aclamaes".106
Em Esprito Santo do Pinhal, para onde seguiram a fim de dispersar
legalistas ali acumulados, a tropa de Cabanas passou a ser chamada de Coluna
da Morte:
39
oposies gachas, que, em contraposio candidatura de Borges de
Medeiros em mbito estadual, tinha na figura de Assis Brasil o representante dos
antigos democratas, federalistas e dissidentes republicanos.
A reeleio de Borges de Medeiros em 1923 foi fortemente contestada
pela oposio que a acusava de ter sido fraudulenta. A partir desta acusao, se
iniciou o movimento armado com a inteno de depor Medeiros ou provocar
interveno federal, que ocorreu oito dias aps a apurao da comisso que
declarou vitria ao candidato. Neste movimento armado, destacaram-se alguns
caudilhos como Zeca Neto, Leonel Rocha e Honrio Lemes, que tiveram tambm
importante participao na Coluna Miguel Costa - Prestes.
Da interveno, realizada pelo ento ministro da Guerra, general
Setembrino de Carvalho, foi assinada em dezembro de 1923 uma tentativa de
pacificao com o Pacto de Pedras Altas, que colocou fim s reeleies, ao voto
aberto e nomeao dos vice-presidentes e vice intendentes municipais no Rio
Grande do Sul110.
Diante das permanentes agitaes na regio, Setembrino permaneceu no
estado a fim de investigar e desmobilizar foras gachas ainda revoltosas,
constitudas tanto por civis quanto por militares. No Paran, Joaquim de
Magalhes Barata agitou guarnies que pretendiam prender Setembrino em
Ponta Grossa, na sua volta ao Rio Grande do Sul. Simultaneamente, conforme
o planejado, iriam se amotinar tropas no Rio de Janeiro ligadas as do sul por
intermdio do capito Leopoldo Nri da Fonseca. Todavia, o plano foi
descoberto, Barata foi preso e enviado a Manaus111. Em 1924, guarnies
militares localizadas no rio Amazonas, nos estados do Amazonas e Par, se
levantariam com o seu auxlio, como veremos mais adiante.
Luiz Carlos Prestes, em 1922, preparava a Companhia Ferroviria de
Deodoro, localizada no Rio de Janeiro, onde servia, para os levantes que
40
ocorreriam na cidade. Todavia, na vspera, ficou bastante debilitado, com tifo, e
sua companhia no se revoltou conforme o combinado. Retornando ao trabalho
aps o fim de sua licena mdica, meses aps os levantes, foi transferido para
o 1 Batalho Ferrovirio de Santo ngelo, no Rio Grande do Sul.
Na regio das Misses, noroeste do estado do Rio Grande do Sul,
formava-se um pequeno ncleo conspiratrio, tendo Prestes em Santo ngelo,
com o 1 B.F.; Joo Pedro Gay, em So Luiz Gonzaga com o 3 Regimento de
Cavalaria Independente; Anbal Benvolo em So Borja, com o 2 Regimento de
Cavalaria Independente, alm do 5 Regimento de Cavalaria Independente de
Uruguaiana e Siqueira Campos, no Uruguai, que fazia a ligao com os
exilados.112 Para alm da questo geogrfica que os aproximava, muitos destes
indivduos tiveram sua formao principal na Escola Militar do Realengo e j se
conheciam do perodo de sua formao no Rio de Janeiro.
Em contato com o movimento de So Paulo, ao amanhecer de 29 de
outubro de 1924, as guarnies gachas se levantaram, sendo apoiadas logo
em seguida por soldados revoltosos do 3 Grupo de Artilharia a Cavalo,
localizado em Alegrete, comandado pelos tenentes Joo Alberto Lins e Barros e
Renato da Cunha Melo. No dia 9 de novembro, o 3 Batalho de Engenharia, de
Cachoeira do Sul, sob o comando do Capito Fernando Tvora, irmo de Juarez
e Joaquim, tambm aderiu ao movimento, alm das foras civis dos caudilhos
Honrio Lemes, Zeca Neto, Leonel Rocha e Jlio Barros113.
Em contato com as tropas que se retiravam de So Paulo, foi decidido
seguir ao encontro das tropas paulistas. A coluna recm-formada, que se retirava
do Rio Grande do Sul contava com
114 TVORA, op. cit., p. 163. Rafael Danton Garrastazu Bandeira Teixeira, primo de Emlio
Garrastazu Mdici, parece ter feito parte de um grupo que em meio juno da Coluna advinda
do Rio Grande do Sul com a de So Paulo preferiu o exlio, mas, conforme informaes contidas
em cartas, continuava ajudando o movimento na regio da fronteira. TEIXEIRA, Rafael Bandeira.
Cartas para Alfredo de Simas Eneas. Concepcin, Paraguai, 14 de outubro e 15 de novembro
de 1925. AESP Cartas da Revoluo de 1924. Ingressante da Escola Militar do Realengo em
1917, era capito em 1925 e s foi promovido novamente 1933. ABREU; BELOCH (Coord.), op.
cit. Disponvel em http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/rafael-danton-
garrastazu-bandeira-teixeira Acesso em 25/09/2016.
115 BASTOS, op. cit., p. 119 e 120.
116 PRESTES, Luiz Carlos Prestes. Carta para Isidoro Dias Lopes. Barraco, 10 de fevereiro de
118 BASBAUM, Lencio. Histria Sincera da Repblica: de 1889 a 1930. Vol. 2. 4 Ed. So Paulo:
Alfa-mega, 1976, p. 226.
119 SILVA, op. cit., p. 212 e 213.
120 Successos Subversivos de So Paulo, op. cit., p. 180.
121 Ibidem, p. 18 e 19.
122 Ibidem, p. 110 e 112.
123 DANTAS, op. cit., p. 84.
44
com que muitos deles preferissem "fugir a deixar-se apanhar num julgamento
que lhes poderia ser fatal"124. Foi a partir do ncleo constitudo pelos envolvidos
em 1922, que se iniciaram as conspiraes que resultaram nos movimentos que
vieram a acontecer em 1924 e perduraram at incio de 1927.
Conforme consta na Denncia dos indiciados pelo levante em So Paulo
em 1924,
logo que na Capital Federal foi decretada a pronuncia dos officiais do
Exercito envolvidos nos criminosos successos de 1922 uma grande
parte dos pronunciados, fugindo ao mandado de priso, veiu homisiar-
se em So Paulo, e aqui permaneceu, sob disfarce, trabalhando
intensa e activamente, com um enthusiasmo que tocava s raias do
fanatismo, na propaganda da nova mashorca. (...) Na Rua Vautier, n.
27, onde o Tenente Custodio de Oliveira, do 2 Grupo Independente de
Artilharia Pesada, aquartelado em Quitana, mantinha uma espcie de
"republica", assiduamente freqentada, ou eventualmente habitada
pelos organizadores do plano subversivo; na Rua da Fabrica, n. 6,
onde residia o Tenente Henrique Ricardo Hall, e se hospedavam ou se
reuniam os Capites Octavio Muniz Guimares, Joaquim e Juarez do
Nascimento Fernandes Tvora e os Tenentes Victor Cesar da Cunha
Cruz, Granville Bellerophonte de Lima e Eduardo Gomes, todos
desertores do Exercito, foragidos da justia; no escriptorio do dentista
Jos Paulo de Macedo Soares, Rua da Quitanda, n. 14; na casa do
individuo Waldomiro Rosa, Travessa Frederico Alvarenga, n. 46; na
casa do Major Miguel Costa, fiscal do Regimento de Cavallaria da
Fora Publica, e nesse prprio Regimento, as reunies dos
conspiradores se succediam, e o estudo dos planos da mashorca
proseguia com uma perfeio de clculos (...). Os officias desertores
do Exercito, aqui homisiados, procuraram no subterfgio da troca de
nomes uma vlvula de segurana para o tranqilo e pleno exito de sua
ininterrupta e tenaz actividade subversiva.125
46
Soarino de Mello terminou a Escola Militar em 1921, ano em que voltou
para Sergipe. Manuel Xavier de Oliveira ingressou na mesma escola em 1918 e
em 1922, por conta de envolvimento na revolta, foi desligado do Exrcito e
retornou para sua cidade de origem, onde foi professor e jornalista do Correio de
Aracaju. Maynard, por sua vez, como aluno da Escola Militar, participou da
revolta da vacina em 1904 e em virtude disso foi expulso, retornando tambm
para Aracaju. No governo de Afonso Pena foi anistiado e em 1922 j cursava a
Escola de Aperfeioamento para Oficiais como tenente. Envolvido nos levantes
daquele ano, foi preso e enviado Ilha das Cobras, de onde fugiu e retornou
para Sergipe.130
Para alm da causa poltica afirmada pelos revoltosos de Aracaju em
1924, contrria ao governo de Bernardes, podemos apontar outros motivos
internos ao Exrcito presentes tambm nos outros movimentos, como, por
exemplo, o atraso no pagamento dos soldos. Consta, por exemplo, que em
novembro de 1923 os praas do 28 B.C. estavam h dois meses sem receber
os vencimentos. Neste mesmo perodo, em dezembro, a unidade foi enviada de
trem para Salvador para depor o governador do estado Jos Joaquim Seabra,
uma das maiores figuras antibernardistas no momento. Nesta ocasio, o tenente
Augusto Maynard tentou convencer Seabra a lhe fornecer homens para garantir
sua permanncia no Palcio do Governo131.
No mesmo dia da ecloso do levante em So Paulo, 5 de julho, alguns
oficiais sergipanos foram chamados ao quartel e tiveram conhecimento sobre o
movimento paulista. Dois dias depois receberam um despacho telegrfico do
Ministrio da Guerra que lhes ordenava a se aprontarem para seguir para ao Rio
de Janeiro assim que possvel132, a fim de conter os levantes no Sudeste. O
andamento da revolta em So Paulo fazia com que o governador de Sergipe e o
chefe de polcia indicassem que o embarque para a conteno deste movimento
ocorreria logo, e, por conta disso, os tenentes em Aracaju resolveram antecipar
130 Ibidem, p. 84 e 85
131 MAYNARD, op. cit., p. 33.
132 Ibidem, p. 42.
47
o levante planejado para a regio.
Com a ecloso da revolta, em poucas horas os revoltosos ocuparam o
Palcio do Governo estadual, prenderam o governador do estado e tomaram a
estao dos telgrafos, suas oficinas e depsitos, com a inteno de isolar as
linhas telegrficas em Aracaju para que as comunicaes diretas entre Bahia e
Pernambuco no fossem interceptadas pelo governo133 Em poucos dias
conseguiram levantar tambm algumas cidades pelo interior do estado.
Buscando o apoio de outras regies, os revoltosos em Sergipe enviaram
telegramas para batalhes em Macei, Paraba, Natal, Fortaleza, So Lus,
Teresina, Belm e Manaus. A partir desta ligao, oito dias depois, o 27
Batalho de Caadores de Manaus iniciou um levante na cidade134.
Em 2 de agosto policiais trocaram tiros com alguns revoltosos que
estavam na cidade de gua Bonita, onde 25 revoltosos se renderam. "Os
soldados no sabiam como agir. Atnitos, alguns permaneceram no 28 B.C., e
outros fugiram imediatamente135. Devido superioridade das foras do governo,
incertezas e confuses, como a fuga dos prisioneiros do quartel de Aracaju, o
tenente Jos de Figueiredo Lobo, legalista e que havia sido preso pelos
revoltosos, assumiu a direo do Batalho. As tropas pelo interior, vencidas e
sem lideranas, retornaram a Aracaju. Lideranas foram presos em poucos dias
com exceo de Maynard, que foi preso somente em fevereiro do ano seguinte
no Rio de Janeiro.136
O estado do Amazonas, por sua vez, recebia diversos revoltosos que o
governo federal enviava a fim de desarticular as rebelies das regies sul e
sudeste como, por exemplo, o tenente Joaquim de Magalhes Cardoso Barata,
envolvido na tentativa de atentado contra Setembrino de Carvalho em Ponta
Grossa, em dezembro de 1923137, e o tenente da armada Jos Backer Azamor,
48
envolvido nos levantes de 1922 no Rio de Janeiro138.
A revolta na regio Norte iniciou-se em 23 de julho no 27 Batalho de
Caadores de Manaus, com a liderana do capito Jos Carlos Dubois e do
tenente Augusto Ribeiro Jnior, que logo ocuparam a sede do governo estadual,
o Palcio Rio Negro, e o quartel da polcia.139
Diferentemente de So Paulo, Sergipe e Rio de Janeiro, as foras
estaduais do Amazonas no dispunham de pessoal suficiente para oferecer
alguma resistncia aos militares na tomada da cidade. Dessa maneira, os
revoltosos alm de ocuparem o palcio do governo e o quartel da polcia,
tambm prenderam as autoridades locais, tomaram as estaes telegrficas e
telefnicas, bem como o vapor Bahia ancorado no porto de Manaus, isolando,
assim, a cidade140.
O tenente Augusto Ribeiro Jnior, nomeado governador, utilizava as
oficinas grficas do Dirio Oficial do Amazonas e do Jornal do Povo para divulgar
informaes populao. Frente ao difcil governo que fazia Csar Rego
Monteiro, o curto perodo em que o estado foi governado pelo tenente foi de
grande popularidade.141
A problemtica da situao local gerou confuso ao entendimento dos
civis, pois estes, ao apoiarem o movimento militar, colocavam-se contrrios ao
governo estadual142 e seguiam indiferentes ao federal, que era o principal foco
dos militares. Os militares em Manaus, alguns deles vindos de outras regies do
pas, enviados por ordens federais a fim de desmobilizar movimentos revoltosos
no Rio de Janeiro, por sua vez, pouco interesse tinham na poltica local.
Aps a dominao da capital do Amazonas pelos revoltosos do 27
Batalho de Caadores, organizou-se uma expedio at bidos, no Par, em
26 de julho. Tal cidade passagem obrigatria para as embarcaes que sobem
o rio Amazonas em direo a Manaus, e era guarnecida pelo 4 Grupo de
138 SANTOS, Elona Monteiro dos. A Rebelio de 1924 em Manaus. Manaus: Suframa, 1990, p.
48-49.
139 Ibidem, p. 55.
140 Ibidem, p. 56 e 57.
141 Ibidem, p. 58, 59 e 66.
142 Ibidem, p. 78.
49
Artilharia da Costa. A inteno do movimento ali era bloquear o acesso capital
e para isso ocuparam as cidades de Alenquer, Santarm, Monte Alegre, Prainha
e Almeirim. Buscava-se alcanar Belm e de l seguir para o Maranho e
Piau.143
50
almirante Saddock de S, chefiavam a conspirao. Era seu genro o tenente
Valdemar Mota, o elemento de ligao com a oficialidade do So Paulo" 147
O tenente Hercolino Cascardo, subchefe da seo de tiro do
encouraado, foi comunicado dos planos rebeldes no dia em que eclodiu a
revolta. Com a baixa adeso, os oficiais de baixa patente resolveram
desembarcar. Cascardo assumiu o comando e mandou fornecer uma canoa aos
retirantes, ficando a bordo ele e mais 6 segundos-tenentes148.
O So Paulo aguardava a adeso da fortaleza Santa Cruz, em Niteri,
todavia ao se aproximar dela foi bombardeado, assim como tambm pelo Forte
de Copacabana. Ao se retirar da Baia de Guanabara, o bombardeio cessou e o
encouraado seguiu para o Rio Grande do Sul, com a inteno de auxiliar as
foras de Zeca Neto149. Ainda segundo Hlio Silva:
153 A Escola de Aviao do Exrcito se localizava no Campo dos Afonsos, na regio do Realengo,
e foi criada aps o trmino da Primeira Guerra Mundial. In: CAMARGO, Aspsia; GES, Walter
de. Meio sculo de combate: dilogo com Cordeiro de Farias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1981, p. 78.
154 CHEVALIER, Carlos Saldanha da Gama. Memrias de um revoltoso ou legalista? Niteri:
Vitria, 1927.
155 CHEVALIER, op. cit.
156 TVORA, op. cit., p. 206 e 207.
52
com que acontecesse exatamente o contrrio. Ao invs dos motins serem
desmobilizados e desarticulados com as distncias impostas, eles comeam a
eclodir nos mais diversos pontos do pas, mesmo com os precrios meios de
comunicao do perodo. Os envolvidos em revoltas, quando transferidos,
conseguiam muitas vezes, mobilizar a guarnio para onde tinham sido
enviados. Todavia, as dificuldades em articular a movimentao pelo pas se
impunham dadas as distncias, os meios disponveis e a vigilncia do Estado.
Isso explica como houve tantos motins nos mais diversos locais e, embora
estivessem conectados, possuam conexo frgil e falha, como se observa
abaixo, no fragmento da entrevista cedida por Cordeiro de Farias:
Por outro lado, um fator que intensificava as ligaes era o fato de muitos
dos militares envolvidos terem sido contemporneos durante o perodo em que
cursavam a Escola Militar do Realengo. Segundo Farias, em 1924,
54
CAPTULO II A formao da Coluna Miguel Costa - Prestes:
conflitos e (re) construes
165 LIMA, Moreira Loureno. A Coluna Prestes: marchas e combates. So Paulo: Ed. Alfa-mega,
1979, p. 113 e 114.
166 Ibidem, p. 114 e 115.
167 LOPES, Isidoro Dias. Carta para Luiz Carlos Prestes. S.L, 23 de dezembro de 1924. CPDOC
168 ABREU, Alzira Alves de; BELOCH, Israel (Coord.). Dicionrio histrico-biogrfico
brasileiro: ps-1930. Rio de Janeiro: FGV, 2001. Disponvel em
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/biografias/estillac_leal "O Estillac, a ultima
hora, resolveu ficar aqui uns dias (!) para descansar. Esse entende que no deve commandar
mais nada porque s tem 22 homens". LOPES, Isidoro Dias Lopes. Carta para Alfredo de Simas
Enas. S.L., S.D., documento n 96. Arquivo Pblico do Estado de So Paulo, conjunto
documental Cartas da Revoluo de 1924.
169 DRUMMOND, Jos Augusto. O Movimento Tenentista: a interveno poltica dos oficiais
56
Brasil, o que garantia, por exemplo, a resistncia das foras de Assis Brasil frente
s governistas de Borges de Medeiros.
Inicialmente, a Coluna, aps a juno de foras paulistas e gachas, foi
organizada da seguinte maneira: chefe supremo da Revoluo marechal Isidoro
Dias Lopes; comandante general de brigada: Miguel Costa; Estado Maior: major
Coriolano de Almeida Jr. (da Fora Pblica de So Paulo), capites Djalma
Soares Dutra (carioca, cursava a Escola Militar quando se envolveu no levante
em 1922), Loureno Moreira Lima (civil, paraibano, cursou a Faculdade de
Direito do Cear e foi advogado de defesa dos implicados em 1922, mais tarde
foi nomeado secretrio da Coluna) e Alberto Costa (carioca, ex-aluno da Escola
Militar, expulso por conta do levante em 1922); chefe do corpo de sade: 1
Tenente dr. Jos Athayde; e encarregado do material blico: tenente Raff. 171
Da Brigada "Rio Grande": comandante coronel Luiz Carlos Prestes;
Estado Maior formado por major Paulo Kruger (do regimento de So Luiz
Gonzaga, cursou a Escola Militar do Realengo junto com Juarez e Fernando
Tvora), capito talo Landucci (civil, um dos organizadores do Batalho Italiano
em 1924 em So Paulo) e os tenentes Sadi Valle Machado e Nicacio Costa; 1
B.F. liderado pelo tenente-coronel Oswaldo Cordeiro de Farias (pertencente
esquadrilha de Santa Maria) ; 2 R.C. liderado pelo tenente-coronel Joo Alberto,
da cidade de Alegrete; 3 R.C. liderado pelo tenente-coronel Siqueira Campos
(liderana do Forte de Copacabana em 1922) e 1 Esquadro de Cavalaria
Independente comandado pelo Capito Ary Salgado Freire (de So Luiz
Gonzaga).172
A Brigada "So Paulo" com o comandante tenente-coronel Juarez Tvora
(liderana de 1924 em So Paulo); Estado Maior: major Aldo Mario Geri
(correspondente italiano do Banco talo-Belga em So Paulo), juntamente com
os tenentes Mario e Morgado; 2 Batalho de Cavalaria liderado por major
Manoel Alves Lyra; 3 B.C. comandado por major Virglio Ribeiro dos Santos
(tenente de Rio Claro), Batalho de Artilharia Montada liderado pelo capito
173 Idem.
174 Boletim n 1. Santa Helena, 14 de abril de 1925. CEDEM/UNESP.
175 DANTAS, Jos Ibar Costa. O tenentismo em Sergipe. Rio de Janeiro: Vozes: 1974, p. 87.
176 Successos Subversivos de So Paulo. Denuncia apresentada ao Exmo. Sr. Dr. Juiz Federal
177O Sr. General Bernardo de Araujo Padilha, que com muita inteligencia, zelo e dedicao vem
commandando a D.S.P., pediu exhonerao do commando da Diviso. O seu pedido causou
magua a todos os seus commandados, pois que todos conheciam as qualidades incontestes do
general Padilha, razo porque houve toda insistncia para que o seu pedido fosse retirado.
Apesar de tal insistncia, esse dedicado Commandante conseguiu exhonerar-se, continuando,
porem como revolucionrio ardoroso, que nos animara com a sua presena e nos inspirar com
o seu exemplo. In: Boletim n 1. Santa Helena, 14 de abril de 1925. CEDEM/UNESP.
59
Attravesado o rio Dourados, a 20, foi, nessa mesma data, accupada,
aps ligeiro combate, a "Patrimonio de Dourados", cuja estao
telegrafica foi inutilizada.
A 24 foi transposto o rio Brilhante e, successivamente, o Vaccaria, o
Anhaduhy, o Anhanduhyzinho, o Lontra e o So Felix, este ultimo a 30.
A 31 foi feita uma demostrao de fora sobre a [ilegvel] de "Rio
Pardo", na E. F. Noroeste do Brasil, tendo sido destruida, em pleno
combate, o apparelho telegrephico da Estao.
O fim dessa demostrao, que era obrigar o governo a concentrar
naquelle ponto extrategico um grande contigente, desguardecendo as
demais estaes entre Rio Pardo e Campo Grande, foi inteiramente
[ilegvel] [...]
Ao completar-se, assim, o 34 dia de nossa marcha passa a Norte, os
bravos soldados da Revoluo - alguns dos quaes vm desde
Catanduvas e Contestado a p - j percorreram, - expugnando
trincheiras, transpondo rios e [ilegivel] pantanos e areias - mais de 1000
kms!
Testemunhas quotidianas dessa energia inquebrantavel que anima os
soldados gloriosos da liberdade - ns os officiaes da Revoluo
sentimos um indizivel orgulho de dirigir um punhado de brasileiros que
so dignos - valentes da roa generosa dos retirantes de Laguna!
E no devemos por isso da veracidade desta [ilegivel] feliz de Arthur
[ilegvel], endereada ao povo de nossa Patria:"A revoluo brasileira
poder nao ser victoriosa; mas ser invencivel". 178
178 COSTA, Miguel Costa. Carta para Batista Luzardo. Fazenda "So Romo" (Estrada de Mato
Grosso), 2 de junho de 1925. CPDOC - Fundo Juarez Tvora, JT dpf 1924.05.10, p. 245-249.
179 HOLL, Henrique Ricardo. Telegrama para Alfredo de Simas Enas. 30 de maro de 1925.
Machado, SVM/00.00.1924/1927/21.
183 LIMA, op. cit., p. 150 e 151.
61
O comando da coluna Miguel Costa - Prestes184
184 Porto Nacional, Gois, 1925. Da esquerda para direita, em p: Jos Pinheiro Machado,
Atanagildo Frana, Emdio da Costa Miranda, Joo Pedro, Paulo Kruger da Cunha Cruz, Ari
Salgado Freire, Nelson Machado, Manuel Lima Nascimento, Sadi Vale Machado, Andr Trifino
Correia, talo Landucci; da esquerda para direita, sentados: Djalma Dutra, Siqueira Campos, Luis
Carlos Prestes, Miguel Costa, Juarez Tvora, Joo Alberto e Cordeiro Farias AEL, Fundo Arthur
Bernardes, rolo 23. Disponvel em
http://segall.ifch.unicamp.br/site_ael_antes_migracao/AEL/website-ael_ab/website-
ael_ab_img1.htm Acesso em 23 de janeiro de 2017.
62
advogado pernambucano Loureno Moreira Lima, e o italianos Aldo Mario Geri
e talo Landucci.
As correspondncias nos apresentam indcios de como era construdo o
comando da Coluna. Neste bilhete de Joo Francisco, por exemplo, o coronel
estabelece estabelece que as deliberaes sobre as foras sob seu comando
deveriam ser definidas por um conselho formado por ele e mais dois, havendo
suplentes:
185 SOUSA, Joo Francisco Pereira de. Ordem do Dia n 17, 3 de outubro de 1924. CPDOC -
Fundo Juarez Tvora, JT dpf 1924.05.10, p. 16.
186 CABANAS, Joo. A Coluna da morte. So Paulo: Editora Unesp, 2014, p. 73.
63
ordem do general, que indignado, afastou-se do comando187. Esse conflito inicial,
como j vimos, foi resolvido quando se descobriu a fuga do presidente do estado,
Carlos de Campos, para Quitana, o que, inclusive, deu um novo nimo ao
movimento. Contudo, a partir desse fato, podemos notar o quanto Isidoro era
centralizador enquanto exercia o comando. Isso tambm foi refletido, por
exemplo, nos ndices da participao civil que era estimulada por Miguel Costa
e Joaquim Tvora, mas inibida pelo general. Isso nos d pistas acerca das
distintas concepes, dentre os envolvidos, do carter poltico que movimento
deveria ter.
Com a adoo da ttica de guerrilha188 e considerando a idade avanada
de Isidoro, este ficou na Argentina como chefe supremo, mas bastante ciente do
seu real poder de comando:
187 CORREA, Anna Maria Martinez. Rebelio de 1924 em So Paulo. So Paulo: HUCITEC,
1967, p. 55.
188 Ver SAINT-PIERRE, Hctor Luis. A poltica armada: fundamentos da guerra revolucionria.
189 LOPES, Isidoro Dias. Carta para Alfredo de Simas Enas. 7 de outubro de 1924. AESP -
Cartas da Revoluo de 1924.
190 LOPES, Isidoro Dias. Carta para Alfredo de Simas Enas. Santo Tom, 14 de novembro de
191 LOPES, Isidoro Dias. Carta para Bernardo de Araujo Padilha, Miguel Costa, Estillac Leal e
Luiz Carlos Prestes. 3 de abril de 1925. CPDOC - Fundo Juarez Tvora, JT dpf 1924.05.10, p.
64-66.
192 LOPES, Isidoro Dias. Carta para Alfredo de Simas Enas. Sem local nem data, documento n
67
aglutinaria as oposies gachas. Defendendo a reviso da Constituio federal,
a ampliao das autoridades estaduais e municipais e defendendo que as
eleies presidenciais deveriam ser feitas indiretamente pelo Congresso, a
durao do PRD foi efmera e seu programa partidrio, redigido pelo prprio
Assis Brasil, foi a base do programa posteriormente elaborado para o Partido
Libertador (PL), fundado em 1928. Depois dessa experincia malsucedida,
afastou-se da poltica e se aposentou da vida diplomtica em 1912, dedicando-
se, a partir da, pecuria na cidade de Pedras Altas.197
Em fins de 1923, a disputa presidencialista no Rio Grande do Sul assumiu
outra dimenso por se vincular questo estadual, uma vez que a vitria de
Arthur Bernardes garantiu o apoio do governo federal s oposies gachas. Em
contraposio candidatura de Borges de Medeiros, Assis Brasil representava
os antigos democratas, federalistas e a dissidncia republicana, descontentes
com a poltica agrria praticada. 198
Em 17 de janeiro de 1923, a comisso de apurao da eleio do estado,
constituda pelos deputados Getlio Vargas, Ariosto Pinto e Jos de
Vasconcelos Pinto, declarou a vitria de Medeiros com 106.360 votos, contra
32.216 de Assis Brasil.
A reeleio foi fortemente contestada pela oposio, que a acusava de
ser fraudulenta. Assis Brasil solicitou ento a criao de um tribunal arbitral, mas
Borges de Medeiros condicionou sua aceitao a que o arbitramento tivesse
como desempatador o presidente recm-eleito Arthur Bernardes, que se recusou
a se envolver no caso. A partir disso, a oposio, liderada por Brasil, iniciou um
movimento armado contra o governo gacho com a inteno de depor Borges
de Medeiros ou provocar a interveno federal, que ocorreu em 25 de janeiro de
1923. Nesse movimento, destacaram-se alguns caudilhos como Zeca Neto,
197Idem.
198Fonte deste e dos trs prximos pargrafos: MOREIRA, Regina da Luz. "Revoluo Gacha
de 1923" in http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-
republica/REVOLU%C3%87%C3%83O%20GA%C3%9ACHA%20DE%201923.pdf Acesso em
14/10/2015.
68
Leonel Rocha e Honrio Lemes, que auxiliaram mais tarde a Coluna Miguel
Costa - Prestes.
Em outubro de 1923, o general Fernando Setembrino de Carvalho, ento
ministro da Guerra, recebeu a funo de mediar a pacificao. Por fim, Assis
Brasil aceitou uma proposta apresentada pelo governo federal, e em 14 de
dezembro de 1923 foi assinado o Pacto de Pedras Altas.
Em janeiro de 1924, as oposies gachas se uniram e formaram a
Aliana Libertadora, sob a liderana de Assis Brasil, que tinha como objetivo a
luta pela liberdade poltica e o combate situao dominante no Rio Grande do
Sul, uma vez que o Pacto de Pedras Altas no conseguiu pr fim crise no
estado e os oposicionistas continuaram a ser perseguidos por Borges de
Medeiros. Com a ecloso dos levantes tenentistas do mesmo ano, houve uma
aproximao entre os dois movimentos, sendo, Assis Brasil nomeado por Isidoro
como chefe civil da revoluo, mesmo ele no tendo participado do
planejamento do movimento199.
200 LOPES, Isidoro Dias. Carta para Luiz Carlos Prestes. S.L., 23 de dezembro de 1924. CPDOC
- Fundo Juarez Tvora, JT dpf 1924.05.10, p. 21-23.
201 Annaes da Camara dos Deputados. Sesso em 29 de dezembro de 1924, p. 450-453.
Disponvel online em
http://imagem.camara.gov.br/dc_20b.asp?selCodColecaoCsv=A&Datain=29/12/1924 Acesso
em 27 de maio de 2016.
202 MARTINS, Vanessa Gandra Dutra. Reflexo sobre a escrita epistolar como fontes histrica a
partir da contribuio da teoria da literatura. Revista Lngua & Literatura. V. 13, n. 20, agosto de
2011, p. 65.
203 MALATIAN, Teresa. "Narrador, registro e arquivo" in PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA, Tnia
Os apontamentos feitos pelo autor acima podem ser muito bem notados
na fala do deputado Batista Luzardo na Cmara dos Deputados antes da leitura
204Ibidem, p. 209.
205 PROCHASSON, Christophe. ''Ateno: Verdade!" Arquivos Privados e Renovao das
Prticas Historiogrficas. Estudos Histricos, vol. 21, 1998, p. 111 e 112.
71
da carta recebida de Assis Brasil. Muito provavelmente a correspondncia
quando escrita por Assis j teria a finalidade de ser lida em plenrio e anunciar
sua posio com relao ao movimento, sendo desde seu princpio um
documento pblico e no privado, detentora no de questes pessoais, mas sim
de um coletivo.
Segue trecho da carta em questo:
72
se vm afundando aos olhos de todos e com o reconhecimento de
todos, - as instituies e a Patria. (...)206
206 BRASIL, Assis. Carta para Batista Luzardo. Berachi, 15 de dezembro de 1924. Annaes da
Camara dos Deputados. Sesso em 29 de dezembro de 1924, p. 450-453. Disponvel online em
http://imagem.camara.gov.br/dc_20b.asp?selCodColecaoCsv=A&Datain=29/12/1924 Acesso
em 27 de maio de 2016.
207 PRESTES, Luiz Carlos. Carta para Isidoro Dias Lopes. Barraco, 10 de fevereiro de 1925.
208 Idem.
209 LOPES, Isidoro Dias. Carta para Luiz Carlos Prestes. S.L., 23 de dezembro de 1924. CPDOC
- Fundo Juarez Tvora, JT dpf 1924.05.10, p. 21-23.
210 PRESTES, Luiz Carlos. Carta para Isidoro Dias Lopes. Barraco, 10 de fevereiro de 1925.
O trecho de carta abaixo, assinada por Muller, que imaginamos ser Filinto
Muller, nos d pistas para pensar por que vrios integrantes resolviam
abandonar a luta.
Aps o envio de sua carta citada acima para Miguel Costa, Muller desertou
e se exilou na Argentina213. Tendo participado do movimento de 1922 na Escola
Militar do Realengo, ficou preso por cinco meses. Em 1924, foi um dos lderes
da revolta do 4 B.I. em So Paulo, participou da retirada das tropas revoltosas
da cidade em direo ao Paran e foi promovido por Miguel Costa de capito
para major214. Como substituiu, juntamente com Henrique Ricardo Hall, o tenente
Custdio de Oliveira no comando do 2 Grupo Independente de Artilharia depois
do incio da revolta, no levante de 1924 em So Paulo,215 supomos que ele
211 SOUSA, Joo Francisco Pereira de. Ordem do Dia n 11. Porto Mendes, 20 de setembro de
1924. CPDOC - Fundo Juarez Tvora, JT dpf 1924.05.10, p. 9.
212 MULLER. Carta para Miguel Costa. Foz do Iguau, 14 de maio de 1925. CPDOC - Fundo
75
desertou juntamente com Hall, aps o encontro da Diviso So Paulo com a
Coluna de Prestes devido proximidade entre ambos. Mais tarde, durante a
ditadura de Vargas, foi torturador, chefe da polcia poltica, responsvel pela
priso e extradio de Olga Benrio. Segundo o jornalista Fernando Morais,
neste perodo:
216
MORAIS, Fernando. Olga. 17 edio. So Paulo: Companhia das Letras, 1994, p. 125 e 126.
217COSTA, Miguel. Boletim n 5. Santa Helena, 19 de abril de 1925 apud PRESTES, Anita
Leocdia. A Coluna Prestes. 3 Ed. So Paulo: Brasiliense, 1991, p. 425.
76
Outro ponto fomentador de divergncias principalmente a posteriori ao
movimento foi a maneira pela qual se referiam a ele. Na prpria obra de Moreira
Lima, encontramos algumas possibilidades como cruzada regeneradora218, 1
Diviso Revolucionria, "constituda pelas Brigadas 'So Paulo' e 'Rio
Grande219, ou ainda:
Segundo nossas fontes, no parece ter existido entre Miguel Costa e Luiz
Carlos Prestes nenhum tipo disputa pela liderana do movimento. Pelo contrrio,
embora Miguel Costa, na hierarquia do comando, fosse superior a Prestes
ambos assinavam os comunicados e participavam das discusses coletivamente
como j foi posto. Todavia, o mesmo no ocorreu posteriormente, nas disputas
de construo da memria do movimento, conforme podemos notar nos trechos
de carta de Miguel Costa para Nelson de Melo:
Voc sabe como o quero bem e, por isso, no estranhar esta carta
que lhe escrevo procurando esclarecer alguns tpicos de sua
entrevista ao "Estado de So Paulo". Tenho certeza que o bom Amigo,
admirador que da verdade dos fatos, h de gostar de contribuir para
a restaurao histrica dos acontecimentos. Sua entrevista precisa de
pequenos reparos, o que no ocorreria caso Voc, em logar de ter sido
preso, heroicamente em Catanduvas, tivesse continuado a luta
comnosco e, permanecendo no teatro das operaes, participasse da
travessia do Paraguai.
Nessa entrevista Voc diz:
1 - Que a marcha da Coluna no fora prevista, o que rigorosamente
certo;
2 - "Que essa marcha foi um episdio isolado, em face das
circunstncias em que ficou a tropa de Prestes, que resolveu
atravessar a fronteira do Paraguai e de La fazer uma nova incurso
pelo territrio nacional", o que no corresponde realidade histrica.
77
O restante da entrevista certo, com excesso da ltima frase: "A
Coluna Prestes foi iniciativa exclusiva de Prestes".
No querendo magoar a quem quer que seja, no procurando diminuir
as glrias de ningum e, menos ainda, no buscando
engrandecimentos pessoaes - pois a minha prpria atuao nada mais
foi do que um "simples episdio imposto pelas circunstncias do
momento", para empregar suas oportunas e ajuizadas palavras,
procurarei, to somente, e a bem da Histria, recapitular os fatos. (...)
A 14 de abril, conforme se pode verificar no livro "Marchas e Combates"
de Moreira Lima, 1. Vol. pags. 453 a 458, reorganizei a tropa cujo
comando assumi: Destacamento "Rio Grande" sob o comando de
Prestes, Destacamento "So Paulo" sob o comando de Juarez; um
Regimento de cavalaria Divisionria a uma Bateria de artilharia Mista;
denominava-se essa tropa, Primeira Diviso Revolucionria (pag. 453
do citado livro) e no Coluna Prestes. A "Coluna Prestes" que vinha do
Sul, portanto, desapareceu, deixou de existir, incorporada que foi a
Primeira Diviso Revolucionria. (...) Resumindo: (...) 4 - A "Coluna
Prestes" que veio do Sul, desapareceu antes da travessia da Repblica
do Paraguai; 5 - no foi, portanto, a "Coluna Prestes" que atravessou
o territrio (...).221
221 COSTA, Miguel. Carta para Nelson de Melo. So Paulo, 14 de agosto de 1959. AEL/UNICAMP
- Fundo Miguel Costa, Pasta 42.
222 SAVAGE, Mike. Classe e Histria do Trabalho. In BATALHA, Claudio H. M.; SILVA, Fernando
223 Ibidem, p. 34 e 44. BERSTEIN, Serge. A Cultura Poltica. In RIOUX, Jean-Pierre & SIRINELLI,
Jean-Franois. Para uma Histria Cultural. Lisboa: Estampa, 1998, p. 349-363.
224 DECCA, Edgar Salvadori de. 1930: O silncio dos vencidos - Memria, histria e revoluo.
No trecho acima, podemos notar duas posies. A posta por McCann 229,
de que a tomada de deciso para a adeso era, para alguns, influenciada
conforme a de amigos ou de "admiradores", mas tambm havia aqueles que
viam o movimento de maneira crtica (e ctica) como Klinger o fez. Entretanto,
temos outra possibilidade que a adeso sem ao menos saber o que se
passava, apenas cumprindo ordens superiores:
De todo modo, nos parece muito difcil que essas adeses, induzidas por
comandantes, tenha levado comandados para a marcha da Coluna e que estes
tenham feito todo o sofrido trajeto at o exlio. Outra possibilidade de que tal
justificativa tenha sido dada para que responsabilidades e punies recassem
sobre o comandante, a partir de sua prpria orientao, a fim de safar seus
homens de perseguies e punies.
80
De 1924 a 1927, vrios foram os escritos que indicavam um programa
poltico do movimento. Em 1924, na cidade de So Paulo, foi publicado um
manifesto que o colocava como patritico, nacional, contra o governo de Arthur
Bernardes, em honra ao Exrcito afrontado em 1922, contra o nepotismo, contra
a coero nas urnas e as perseguies polticas, em defesa da Constituio e
da integridade moral:
81
caracterizando-se por actos de vingana pessoal, inspirados em dio
poltico. (...) 231
83
1 - Dissoluo de todas as Camaras Municipaes e Congressos
Estaduaes e Federal que no representam a vontade do povo nem
correspondem, de forma alguma aos interesses da collectividade
brasileira pois foram constitudas pelos [ilegvel] de politiqueiros de
profisso.
2 - Ampliar e systematizar a autonomia e as attribuies das Camaras
Municipaes, de forma a constiturem de facto a base do systema
federativo da Republica.
3 - Respeito absoluto a autonomia dos Estados acabando-se com o
direito das intervenes attentatorias do principio federativo
4 - Proibio das reeleies para cargos representativos
5 - Abolir o uso discricionrio do estado de sitio de que dispoem os
governantes
Problema moral
1 - Organizao em terrenos do Governo de colnias nacionaes
(idnticas s colnias estrangeiras, no Rio Grande do Sul) em que os
terrenos sejam vendidos a prestaes mdicas - Dotadas que sejam
as colnias das vias de transporte indispensveis ao prprio
desenvolvimento econmico
2 - Distribuio nos actuaes centros agrcolas de ferramentas e
sementes que facilitem ao povo o trabalho da terra 232
232
Notas de Prestes "Doc. 5 da Columna R. Grande", copiadas e contidas no fundo Loureno
Moreira Lima, AEL/Unicamp.
84
um programa poltico unificado. Por exemplo, o item 5 das anotaes de Juarez,
que propunha a uniformizao de todas as Constituies estaduaes, pelo
modelo da Federal era contrrio aos projetos federalistas de Luzardo, Assis
Brasil e dos diversos maragatos envolvidos no movimento.
Dessa maneira, podemos notar que temos vrios programas com uma
base comum a todos, mas que cada qual apresenta suas especificidades, que
seus autores consideravam importantes para serem agregadas pauta da
revolta. Para Prestes, por exemplo, se fazia necessrio suspender as leis que
permitiam a extradio de estrangeiros por conta de crimes polticos, utilizadas
pelo governo para desarticular principalmente o movimento operrio, e
desenvolver polticas que permitissem uma reforma agrria, para a qual ele
prope subsdios para a organizao de colnias nacionais, nas quais os
terrenos pblicos fossem financiados, e que o governo distribusse ferramentas
e sementes ao povo.
Embora o movimento no tenha tido um plano coeso, nos parece bastante
interessante algumas atitudes tomadas pela Coluna, descritas por Moreira Lima,
que denotam alguma ideia e ao acerca das propostas de busca pela liberdade
de um modo amplificado:
235 DRUMMOND, op. cit., p. 139-140. CAMARGO, Aspsia; GES, Walter de. Meio sculo de
combate: dilogo com Cordeiro de Farias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981, p. 103.
236 BORGES, Vavy Pacheco. Tenentismo e Revoluo Brasileira. So Paulo: Brasiliense, 1992.
237 Ibidem, p. 20, 132, 145 e 150.
238 Ibidem, p. 146 a 148.
86
Embora os chamados "tenentes", participantes dos movimentos
tenentistas, possussem em sua boa parte a patente mdia de tenente, estavam
presentes tambm militares possuidores de outras patentes, alm dos membros
da Fora Pblica de So Paulo e dos operrios e profissionais liberais que se
envolveram nos movimentos, caracterizados frequentemente apenas como
militares ocorridos na dcada 1920.
Em paralelo, a distino entre trabalhadores e militares nos parece
inadequada no s porque os operrios e profissionais liberais envolvidos eram
chamados de "tenentes", no deixando evidente essa participao, mas tambm
porque os soldados, fossem do Exrcito ou da Fora Pblica, eram trabalhadores
que praticavam um ofcio. Como argumenta Beattie:
239 BEATTIE, Peter M. Tributo de Sangue: Exrcito, Honra, Raa e Nao no Brasil, 1864-1945.
Trad. Fbio Duarte Joly. So Paulo: Edusp, 2009, p. 196.
240 MATTOS, Marcelo Badar. A classe trabalhadora atravs do materialismo histrico: passado
88
tentculos do controle social, chegou ao fim com a lei de 1916 que implantava o
sorteio militar. Porm, antes disso, em 1874, foi aprovada uma nova legislao
de recrutamento "que estabelecia o alistamento universal e o sorteio para cobrir
as vagas no preenchidas pelo voluntariado e pelo reengajamento". Entretanto,
os responsveis pelo alistamento e sorteio eram as juntas paroquiais, dirigidas
pelos juzes de paz, juntamente com procos e subdelegados. Segundo Jos
Murilo de Carvalho, "o resultado foi continuar o servio pesando totalmente sobre
pessoas sem recursos financeiros ou polticos", pois havia isenes especiais
para bacharis, padres, proprietrios, caixeiros, entre outros, alm da
possibilidade de pagamento e apresentao de um substituto, continuando,
assim, o recrutamento sendo feito como era antes244. A mesma lei de 1874 aboliu
os castigos fsicos245, todavia a prtica continuou na Marinha e Exrcito, tanto
que tivemos a Revolta dos Marinheiros em 1910, apontando o quanto ainda
havia presente de herana das relaes entre senhores e escravos do sculo
anterior246.
244 CARVALHO, Jos Murilo de. As Foras Armadas na Primeira Repblica: o poder
desestabilizador. In PINHEIRO, Paulo Sergio Pinheiro, et al. O Brasil Republicano, v. 9:
sociedade e instituies (1889-1930) - 8 Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006, p. 205.
245 Ibidem, p. 207.
246 NASCIMENTO, lvaro Pereira do. Cidadania, cor e disciplina na Revolta dos Marinheiros em
247As informaes deste e dos prximos pargrafos foram retiradas de TVORA, Juarez. Uma
vida e muitas lutas: memrias. Vol. 1 - Da plancie borda do altiplano. Rio de Janeiro: Editora
do Exrcito, 1973, p. 7-108.
90
arranjamos boa comida, por 60$000 mensais, para cada. Sobravam-
nos, assim, para a lavagem de roupa e pequenas dispesas pessoais,
quase 40$000, que, prudentemente aplicados, chegavam para tudo e
ainda sobrava alguma coisa.248
Prestes, por sua vez, era filho de Antnio Pereira Prestes, capito do
Exrcito, que faleceu aos 38 anos. A famlia que morava em Porto Alegre, se
mudou em 1904 para o Rio de Janeiro em busca de tratamento para Antnio,
mas este faleceu em 1908. A partir disso, Leocdia e os filhos pequenos, tendo
o mais velho, Luiz Carlos, dez anos de idade, tinham dificuldades em se
manterem apenas com a penso paga pelo Exrcito. Logo, a viva comeou a
dar aulas e se tornou professora.249
Luiz Carlos ingressou no Colgio Militar em 1909, por intermdio do
coronel Bento Ribeiro Carneiro Monteiro, amigo da famlia, uma vez que eram
matriculados ali apenas filhos de coronis e netos de generais.
91
desgostoso com a situao, pediu demisso e retornou para Deodoro.252
Embora tenha se envolvido nos preparativos dos levantes de 1922,
quando estes eclodiram, Prestes encontrava-se bastante doente. Ao fim de sua
licena mdica foi transferido para Santo ngelo, Rio Grande no Sul, onde se
tornou chefe da Seo de Construo do 1 B.F.
Podemos notar nas biografias feitas por Anita Prestes e por Daniel Aaro
Reis254, que Luiz Carlos Prestes foi se decepcionando com o Exrcito por conta
da burocracia e corrupo que presenciava em suas experincias profissionais.
Pouco antes da ecloso da revolta no Rio Grande do Sul em 1924, Prestes
solicitou sua exonerao255. Antes, quando chegou ao Batalho Ferrovirio, este
estava responsvel pela construo da estrada de ferro do Ramal de Santo
ngelo, que fazia parte da linha Marcelino Ramos - Santa Maria. Em entrevista,
ele descreveu o que encontrou aps sua transferncia e como era o dia-a-dia
nesta construo:
92
de instruo desse grupo que eu pretendia levar revoluo, queria
levar para a luta armada.256
vlido lembrar que o que nos permite utilizar as cartas, que foram
trocadas entre os militares nos movimentos que estudamos, enquanto fontes,
a alfabetizao destes em um Brasil em que 71,2% da populao era
analfabeta257. Inclusive, alguns destes militares, como vimos, se voluntariavam
ao recrutamento como nica forma encontrada para estudar, o que possibilitava
alguma mobilidade social.
Quanto importncia desse processo de alfabetizao desenvolvido por
Prestes, Neil Macaulay explica:
e 45.
93
apenas aspectos negativos sem o devido trabalho de fontes que a questo exige.
Sabemos que as fontes legalistas e os relatos dados pelos sertanejos
entrevistados tanto no perodo quanto posteriormente, quando trabalhados sem
os devidos cuidados que a histria oral requer, induzem ao erro uma vez que
no h o confronto de fontes, fato este auxiliado pela circunstncia de que os
feitos da Coluna foram muito mal registrados por conta de sua intensa
movimentao.
Tentaremos, a partir de fragmentos de aproximaes entre revoltosos e
sertanejos, verificar como a Coluna tentou criar mecanismos para que essa
populao no sofresse abusos e para refletirmos como as lideranas
revolucionrias, em sua maioria oriundos da cidade, viam esta populao.
A fim de evitar arbitrariedades, as solicitaes s populaes por onde
passavam os rebeldes, desde a sada da coluna gacha em fins de 1924, s
podiam ser feitas pelos comandantes. No entanto, elas persistiam, sem muita
clareza de quem eram os seus praticantes. Estes roubos, assassinatos,
incndios, estupros e invases s propriedades, corroboravam para a mitificao
da Coluna pelo serto nordestino.
Em correspondncia no assinada recebida por Juarez Tvora consta:
O soldado brasileiro, surgido normalmente das classes inferiores onde
se accentuam os foros ancestrais que se enfeixam no patrimonio de
nossa nacionalidade - privada de polimento q. mesmo nos caracteres
brutus imprime a instruco - um ser de tendencias fatalmente
inferiores. 259
259 Remetente no identificado. Carta para Juarez Tvora. Rio de Janeiro, 1926. CPFOC -JT, dpf
1924.05.10, p. 661-664.
260 Idem.
94
negativamente nos jornais, o comando comeou a tomar medidas para inibir tais
prticas:
Esta reunido todos os esforos para evita as depredaes inuteis. E
quando pode apurar a culpa de algum soldado longe de encobri-lo,
empenha-se cruelmente em castiga-lo. O aoite simples, com expulso
e o fuzilamento so penas brutaes e entretanto algumas vezes
applicadas na columna revolucionaria. Digo que o castigo brutal
sobretudo porq. o soldado revolucionario so amigos dedicados de
seus chefes, por cuja causa deixam familia e interesses, e em cuja
defesa jogam a vida fora (...).261
Outro ponto curioso desta carta recebida por Tvora diz respeito aos
castigos fsicos empregados como pena. A indisposio da situao em utiliz-
los, como pudemos observar, que na Coluna as chefias eram mantidas por
laos de amizade, que poderiam ser tensionadas, gerando as temidas
deseres. Mas por falta de outro artifcio para ser manter a ordem, utilizava-se
a exemplificao e o medo.
Podemos notar nos trechos que seguem diversas denncias que cobram
dos comandantes posturas que tinham a finalidade de cessar tais prticas
abusivas s populaes locais. Estas denncias vinham tanto de membros do
movimento revolucionrio262 quanto de civis 263 que eram vtimas, como se
261 Idem.
262 THEODORO, Philogonio Antonio. Carta para Miguel Costa. CPDOC - Fundo Juarez Tvora,
JT dpf 1924.05.10, p.564-566 (...) no alto Paran em pleno serto at Cantanduvas, onde se
batia pela liberdade desse povo, vim encontrar dolorosa decepo na retirada de Catanduvas,
ao ouvir dos primeiros habitantes da Villa de Benjamin que j clamavam contra os saques
exercidos por parte da tropa revolucionaria. At mesmo no Paraguay (em paiz extrangeiro) se
praticou saque. No Matto Grosso os saques e os incendios eram seguidos, sem motivo que os
justificassem. Familias expostas ao rigor do tempo, seminuas foram encontradas por mim que
fazia a retaguarda do extinto Batalho Lyra. Tropa que diz bater se pela liberdade dum povo, no
pratica incendios, saques e no viola senhoras indefezas, como at aqui se tem praticado. (...)
Os saques continuam, os culpados no apparecem e o bom nome da revoluo continua
abalado. Eu como revolucionario, julgo-me no direito de exigir a punio dos culpados. E como
medida preventiva lembro o seguinte: que os Sres comtes de destacamento marchem com suas
tropas reunidas, afim de evitar que homens dispersos e que precedem a vanguarda, procedam
da forma que lhes parea, tornando-se difficil apurar os responsaveis pelos saques, ou roubos
(...).
263 D.V. Carta para Miguel Costa. CPDOC - Fundo Juarez Tvora, JT dpf 1924.05.10, p.581-586.
Esta carta meu general no poder destruir a amizade sincera que lhe professo e a simpathia
que tenho pela sua causa, pois no tenho outro resentimento que d perdido material que por
no ser homem rico me prejudica grandemente. Antes de hontem alguns soldados vosso,
passaram pela caso do Snr. Augusto Valente, a uma legua e meia desta povoao, onde minha
filha e minhas criadas se havia refugiado, e comettendo violencias com uma pobre me que que
tratava de uma filha doente.
95
observa no fragmento de carta abaixo, escrito por Juarez Tvora:
Tenho aqui denuncias gravssimas contra as seguintes pessoas, todas
do 3 Destacamento:
1) Soldado Accacio (preto, gago) accusado de violncia carnal contra
duas mulheres - uma na porta de Bom-tempo e outra aqui em Riacho.
2) Sargento Sebastio - accusado do roubo de 2:000$000 e saque da
casa de um Sr. Em Riacho.
3) Sargento Corste - accusado de saques e violncias em diversas
casas dos arredores de Riacho.
Levo testemunhas occulares desses factos e algums documentos
comprobatrios.
Peo-lhe que prenda immediatamente os accusados e os affaste do
respectivo destacamento. (...)
No esquea a priso dos accusados de que lhe falei e por cujo castigo
exemplar [ilegvel] lanar.264
As punies, para alm dos castigos fsicos, variavam. Alguns podiam ser
presos, rebaixados, excludos e at fuzilados:
O dito snr. Valente havia escondido as minhas malas, assim como, 2 silhes e 2 arroios em uma
baraca no centro do matto, esto malas cheias de roupas de muito valor como sejam: talheres
de prata e outros objectos do mesmo metal, os quaes no os deichei em Formoza por medo da
revoluo. Os taes soldados entraram na barraca e como l acharam marimbondo, puzeram fogo
na mesma, antes porem, conduzindo o que puderam. (...)
264 TVORA, Juarez. Carta para Luiz Carlos Prestes. Riacho, 26 de novembro de 1925. AEL -
266 COSTA, Miguel. Boletim n 16. Fazenda gua Branca, Gois, 7 de agosto de 1925. AEL
Fundo Moreira Lima.
267 LIMA, op. cit., p. 372 e 373.
268 LIMA, Carlos Haag. Declarao. So Raymundo, 4 de dezembro de 1924. AEL Fundo
Moreira Lima.
269 CABANAS, op. cit., p. 98.
97
- publicamos aqui aquillo que os nossos commandados no devem
praticar:
1) Somente os Cmts de Destos, ou officiaes com ordem escripta delles,
podero penetrar em casa habitadas ou no, e retirar do seu interior
objectos considerados de utilidade para a tropa
2) As roupas, as joias e o dinheiro dos particulares, em hypotheses
alguma, podero ser requisitados.
3) falta gravissima o desrespeito s senhoras, - principalmente os
attentados contra o pudor.
4) expressamente proibida alguem marchar fora da columna de seu
Dest, sem ordem escripta o respectivo Cmt.
5) prohibido deitar fogo nos campos, cortar cercas de arame e causar
quaesquer dannos, sem ordem ou necessidade real que os justifiquem.
6) expressamente prohibido atirar no acampamento, ou em marcha.
Somente com ordem expressa de seu Cmt. de Dest, poder alguem
matar animais a tiros.
7) A embriaguez considerada falta grave.
8) crime gravissmo atirar sobre civis pacificos ou maltrat-los, pelo
facto de elles fugirem ao avistarem as nossas foras.
Somente contra os que nos aggridem, temos o direito de voltar as
nossas armas.270
270 QUARTEL GENERAL. Circular aos Comandantes de destacamentos. S.L., S.D. CPDOC -
Fundo Juarez Tvora, JT dpf 1924.05.10, p. 344.
271 Que inclusive receberam patentes militares hierarquicamente acima da de tenente.
98
A organizao da Coluna desta maneira fez com que se atribusse um
comandante especfico para cada um destes destacamentos, o que lhes
ofereceu autonomia e reforou os laos de alianas e coletividade. Como
veremos adiante, ainda dentro destes destacamentos existiam os foges,
sistematizaes orgnicas que reuniam em torno de dez ou mais pessoas.
Essa ideia de sustentao do movimento atravs de uma rede de relaes
pessoais se fazia presente no s para movimentar geograficamente a Coluna,
mas tambm para que ela existisse e tivesse mais adeptos:
99
maior ou aos destacamentos, dependendo da instncia, como se observa em
entrevista dada por Cordeiro de Farias:
100
dos comandantes e pelas relaes pessoais. Cordeiro de Farias, quando
questionado como havia feito para se manter a coeso e moral da tropa,
respondeu:
102
Cabia vanguarda o reconhecimento do terreno e o
levantamento topogrfico da frente e dos flancos, sendo as suas
informaes pontos bsicos para a direo da marcha. (...)
Tais elementos informativos eram obtidos dos moradores do
lugar, interrogados hbil e pacientemente.
Abrir caminho era misso da responsabilidade de um
destacamento. O grosso ficava a duas ou trs lguas da vanguarda e
mesma distncia da retaguarda, ocupando a Coluna, de uma
extremidade a outra crca de quarenta quilmetros.
O servio de vanguarda durava vinte e quatro horas e era
rendido pela manh. O destacamento terminava-o permanecendo
acampado at a passagem da retaguarda, cujo contrle assumi;
descansava assim um dia inteiro antes de entrar no novo servio e se
havia inimigo no nosso rastro, azar dle que devia combater por vinte
e quatro horas. sse revesamento proporcionava a cada unidade trs
dias de folga, em perodos normais.
Uma corrente contnua de ligaes assegurava contacto
permanente do Q.G. com tdas as unidades em movimento, enquanto
que os flancos iam sendo explorados pelos piqutes de potreadores 284.
Miguel Costa.
103
Bento Manoel, que pertencera ao 6 R.I. (...) era um esplndido
bagageiro e serviu-me at a fazenda Cantinho, no Piau, onde o passei
a pronto por me ter feito vrias m-criaes.
Bento preto, baixo, gordo, com uns grandes olhos flor do rosto,
moo de uns vinte e trs anos, circunspecto e srio como um
conselheiro.
dado a leitura e fez um "Dirio" da campanha. (...) 287
O capito Landucci tirou-o para seu bagageiro e Bento o serviu at
entrarmos na Bolvia.
Eu no tinha confiana no valor militar de Bento, porque, quase
sempre, os bagageiros eram pssimos combatentes.
Em Goiaz (...) o capito Landucci (...) passou a comandar um
esquadro do destacamento Cordeiro de Faria.
Bento o acompanhou, portando-se com denodo em todos os combates
e no de Pantanal destacou-se pelo seu herosmo.288
Assim como outros negros, como veremos abaixo, Bento Manoel era
bagageiro e carregava alguns dos poucos pertences da Coluna. Embora no
tenhamos feito uma anlise sistemtica acerca dos bagageiros, nem tido acesso
a fontes que tratem destes homens em especfico, curioso o fato de os poucos
negros citados por Moreira Lima possurem, em sua maioria, esse trabalho, ou
outros do gnero como cuidador de animal, como se observa no trecho abaixo:
(...) soldado Henrique, o tal preto repicador de sinos, que foi meu
bagageiro at a Bahia, onde dispensei (...). 289
(...) confiava o meu animal ao cidado Z Bigode, voluntrio piauiense.
Z Bigode era um mulato, alto, magro e forte (...).
Pouco depois de incorporado Coluna, tomou conta do cargueiro do
arquivo e s o largou ao entrarmos na Bolvia.290
104
Apoderamo-nos da ponta dessa corda e pescamo-lo, arrastando-o at
a margem, onde Z Grande vomitou a gua que bebera, olhando o rio
apavoradamente.292
105
a nossa sada, encontrando a pobre preta, sangrou-a cruelmente, no
cemitrio, obrigando-a antes a abrir a sua prpria cova.295
295 DONATO, Hernani. A Grande Marcha: as mulheres na Coluna Prestes. Revista Do Leitura.
So Paulo, 13 de junho de 1994, p. 2.
296 Idem.
297 CAMARGO; GES, op. cit., p. 131.
298 "Ao chegar a Santa Catarina, tentamos fazer com que elas desistissem e voltassem. Meu voto
era favorvel idia de mant-las conosco, mas fui voto vencido. Em princpio, portanto,
deveramos ter passado para Santa Catarina sem mulheres. Mas quando nos dirigamos para
Foz do Iguau, eis que elas penetraram na floresta e surgem novamente entre ns." Idem.
299 Idem.
106
sector inimigo e procuravam mitigar as dores dos soldados que ali
haviam sido deixados.300
Era comum conduzirem as armas dos soldados para que estes
descansassem.301
Dentre elas, uma que recebeu grande destaque nestes escritos foi a
enfermeira austraca Hermnia, que acompanhava os revolucionrios desde a
retirada da cidade de So Paulo e os seguiu at a Bolvia:
300 AMARAL, Luiz. Conversando com as mulheres da Columna Prestes. O Jornal, Rio de Janeiro,
10 de julho de 1927, p. 6.
301 LIMA, op. cit., p. 131.
302 LANDUCCI, op. cit., p. 169.
303 LIMA, op. cit., p. 131.
107
contou-me que cerca de trinta homens (...) haviam regressado com o
objetivo de escoltar a Santa Rosa (...)
Logo ao amanhecer, chegou a nova do nascimento da filha de Santa
Rosa. (...) Esperamo-la at o meio dia quando ela apareceu a cavalo,
em montaria de amazona, com a criana nos braos. (...)
Em poucos dias, trajada de homem, montava novamente a cavaleiro,
confundindo-se como antes, com o resto da tropa.304
Outra que teve filho em meio marcha foi Elza Schmidtke, alem, que
acabou sendo presa e depois se exilou.
Conflitos em geraes
110
polticas da revolta de 1922315, a represso do governo para com esses
envolvidos, que despertou diversas movimentaes de solidariedade, e tambm
o perodo em que Prestes foi auxiliar de instrutor e depois diretor de instruo de
engenharia na Escola Militar316, onde passou a ter maior contato com as novas
turmas.
Dessa maneira, a prtica de lidar com as tropas, desenvolvidas pelas
lideranas da Coluna, que se baseavam em camaradagem, proximidade e
confiana, tambm buscava conquistar e no tensionar com as patentes mais
altas e com os costumes dos homens mais velhos.
315 Na Escola Militar do Realengo quase a totalidade dos alunos declarou-se conscientemente
rebelada. Com isso, 608 dos 666 matriculados na EMR foram expulsos.. DRUMMOND, op. cit.,
p. 93.
316 PRESTES, op. cit., p. 28 e 29.
111
CAPTULO III Aproximaes e distanciamentos com as
populaes do campo e da cidade
317 Falecida em 1921 na Frana, podia-se acreditar que era ela mesma, viva.
318 LIMA, Moreira Loureno. A Coluna Prestes: marchas e combates. So Paulo: Ed. Alfa-mega,
1979, p. 199.
319 Ibidem, p. 181.
112
possuam com o governo federal.
Prestes, em entrevista, afirmou que mesmo assim existiu simpatia por
parte de alguns sertanejos que compreendiam que a Coluna lutava contra quem
os oprimia, no caso, o governo em suas diversas esferas e os coronis. Todavia,
no tinham perspectivas de que fosse possvel venc-los, logo ajudavam os
revoltosos de maneira que no se comprometessem.320
Quando questionado da repercusso que a Coluna teve entre a populao
do interior do Brasil, Cordeiro de Farias avaliou: "Foi limitada, como no podia
deixar de ser. Falvamos para homens que no tinham noo nem do Estado e
s vezes nem mesmo do municpio em que viviam. 321 Na avaliao de Loureno
Moreira Lima:
320 PRESTES, Anita Leocdia. A Coluna Prestes. 3 Ed. So Paulo: Brasiliense, 1991, p. 231.
321 MOTA, Loureno Dantas (org.). O tenentismo mais fantasia do que realidade. In A Histria
Vivida (I). So Paulo: O Estado de S. Paulo, 1981, p. 67-68.
322 LIMA, op. cit., p. 182.
323 CABANAS, Joo. A Coluna da Morte. So Paulo: Editora Unesp, 2014, p. 172.
324 Idem.
113
Passados quatro dias, comeou a chegar o pessoal, formando-se
depois uma multido de mais de mil indivduos andrajosos, tendo cada
um em si os caractersticos da vida miservel que passavam sem os
mais rudimentares cuidados de higiene; uns, bestializados pelos maus
tratos, riam alvarmente (...). A grande maioria com os artelhos
deformados pelos bichos de p, faces intumescidas pela
ancilostomase ou pelo mal de Chagas, movia-se lentamente; (...)
sentavam-se aos grupos pelo povoado, tendo ao redor crianas cor de
mbar, ventre crescidos, sonolentas e tristes (...). [Este] rebanho
humano (...) parecia ter surgido de ignotas paragens onde o sol no
penetra e no existe civilizao (...). O trabalhador do erval , sem
dvida alguma, um verdadeiro escravo olvidado pela lei de 13 de maio
de 1888 (...). Comovido (...) socorria [aquela gente] com os recursos
de que podia dispor e aconselhei-a tomasse rumo de Porto Mendes
(...). Aceito o meu conselho, em poucos dias Piqueri foi evacuado,
ficando unicamente 93 homens que voluntariamente assentaram praa
na minha coluna. 325
325
Ibidem, p. 172, 173 e 176.
326
PRESTES, Luiz Carlos. Carta para Isidoro Dias Lopes. Barraco, 10 de fevereiro de 1925.
AESP - Cartas da Revoluo de 1924.
114
contemplava o sertanejo, mas algumas aes, mesmo que momentneas,
buscaram amenizar seu sofrimento.
O costume de soltar presos das cadeias por onde passavam e incorporar
alguns desses, quando desejavam, em suas fileiras, fez com que a Coluna fosse
bastante criticada pelos jornais. Entretanto, podemos notar que essa prtica
estava associada ideia de que a justia, atravs do estado, no se fazia aos
pobres. Em passagem, descrita na obra de Moreira Lima, o advogado lembra
que por diversas vezes pessoas iam consult-lo acerca de processos. Observa
tambm que:
327
LIMA, op. cit., p. 299.
328
Remetente no identificado. Carta para Juarez Tvora. Rio de Janeiro, 1926. CPFOC -JT, dpf
1924.05.10, p. 661-664.
115
Paraba e Pernambuco329. Um exemplo, o caso do lavrador Manuel Bernardino,
cearense, tido como inimigo da oligarquia maranhense e chefe mais poderoso
da regio de Graja, que abrangia o centro e o nordeste do estado do Maranho.
Conhecido como "O Lenine da Mata"330, juntou-se Coluna acompanhado de
200 homens, todos armados de Winchesters. Acompanhou as tropas de 2 de
dezembro at o Cear, onde desertou, em companhia de um seu irmo de nome
Joo Bernardino e de doze camaradas. Os demais, que obedeciam s suas
ordens, recusaram-se segui-los e continuaram na Coluna"331.
O movimento tenentista na dcada de 1920, conforme pudemos analisar
em suas tentativas de elaborar um programa poltico, discordava da maneira em
que se firmava a estrutura do poder no pas que tinha em sua base os poderes
locais exercidos pelos coronis. Paradoxalmente, por vezes, em sua existncia,
estes movimentos se aproximaram destes poderes locais, como em Sergipe, por
exemplo, onde o coronel Manoel Gomes da Cunha, pai do tenente Maynard,
declarava-se, em telegrama enviado ao filho no incio da revolta, satisfeito e fazia
votos pela vitria da causa que ns abraamos e que tu, com tanta abnegao
e patriotismo defendes332.
Dono do engenho Campo Redondo, localizado no municpio de Rosrio
do Catete, Manoel era chamado de coronel em virtude das terras que possua e
de sua influncia poltica333. Quando, na tomada de tal regio, parte das tropas
revoltosas ficou em suas terras e recebeu todo tipo de apoio.
Neste sentido, "os militares se afirmavam contra a corrupo poltica que
se observava no Brasil, mas na prtica acabaram procurando entender-se com
as lideranas polticas do interior de Sergipe"334, o que se mostra bastante
problemtico, j que se colocavam contrrios ao governo sustentado pela
116
chamada poltica dos governadores, que tinha em sua base justamente esses
coronis locais, como o pai do tenente Maynard.
Enquanto alguns apoiavam o movimento rebelde, outras lideranas
polticas dos municpios mais distantes de Aracaju se mobilizavam para ajudar a
combater a revolta, organizando foras a fim de protegerem seus poderes e
restaurarem a ordem, fornecendo jagunos, transportes, armas e dinheiro 335.
Boa parte da represso que a Coluna sofreu, para alm da exercida pelo
prprio Exrcito, foi feita pelas polcias estaduais, que atuavam com
destacamentos mistos juntamente com tropas federais, e pelos chamados
batalhes patriticos, formados a partir de iniciativa de chefe locais, que
organizava e remunerava estes grupos. Inclusive, vrios chefes de patriticos
e jagunos foram posteriormente comissionados como oficiais da reserva do
Exrcito.337
Os coronis embora fossem figuras polticas diversas dos caudilhos, pois
estabeleciam relaes de poder visando objetivos eleitorais, tendo o voto papel
primordial338, ambos se aproximavam das relaes de clientelismo baseada em
formas pessoais de nominao e o uso da violncia como instrumento de
competio poltica339.
335 DANTAS, Jos Ibar Costa. O tenentismo em Sergipe. Rio de Janeiro: Vozes, 1974, p. 116.
336 MAYNARD, op. cit., p. 111 e 112.
337 DRUMMOND, Jos Augusto. O Movimento Tenentista: a interveno poltica dos oficiais
Studies in Society and History. Vol. IX. The Hague: Mounton & Co., 1967, p. 169. Apud SOUZA,
op. cit., p. 134.
117
O envolvimento civil gerou opinies divergentes dentre os revoltosos de
origem militar. Como veremos mais adiante, o envolvimento de operrios no foi
bem visto por alguns tenentes, entretanto, o envolvimento civil advindo dos
movimentos armados do Rio Grande do Sul no foi questionado, embora tenha-
se discutido como organiz-lo e integr-lo s foras militares. Talvez isso tenha
se dado porque, ao contrrio de So Paulo, onde os interessados eram em boa
parte advindos das camadas mais pobres da sociedade, sem armamentos nem
lideranas significativas, os caudilhos j possuam experincia e organizao
advindos de outros confrontos armados e possuam armamentos.
Passamos alguns dias em Uruguaiana acolhendo e organizando os
elementos civis que vinham aderir revoluo. No havia armas nem
fardamento para todos, mas isto no desapontava os voluntrios
gachos, h muito habituados quele gnero de luta. (...)
No tardou a chegar em Uruguaiana o Honrio de Lemos, caudilho que
sustentara no ano anterior o movimento de rebelio contra o governo
estadual do Dr. Borges de Medeiros.340
340 BARROS, Joo Alberto Lins de. Memrias de um Revolucionrio. Rio de Janeiro: Civilizao
Brasileira, 1954, p. 36 e 37.
341 DRUMMOND, op. cit., p. 129 e 130.
118
Fidencio sob minhas ordens mas no tenho a necessria confiana
para entregar-me com 800 homens sua direco. Emfim o que
impressindivel a unidade do commando para os elementos que
desde j podem combater. Estou agindo de accordo com o Cel
Fidencio mas sinto que no primeiro momento difficil poder haver
desaccordo o que ser o fracasso de grande parte do que podemos
aqui fazer.(...)"342
342 Grifos do autor. PRESTES, Luiz Carlos. Carta para Isidoro Dias Lopes. Barraco, 10 de
fevereiro de 1925. AESP - Cartas da Revoluo de 1924.
343 CAMARGO, Aspsia; GES, Walter de. Meio sculo de combate: dilogo com Cordeiro de
119
Revolta Federalista em 1893347. Essa influncia de Isidoro continuou a auxiliar a
Coluna, pois sua articulao, advinda da Argentina, ajudava a criar focos de
agitao na regio fronteiria no sul do Brasil, referidas por Cordeiro como
colunas-relmpagos.348
Um ponto importante e a ser apresentado a associao entre os termos
maragatos e caudilhos. Os maragatos eram opositores dos castilhistas no
conflito de 1923 no Rio Grande do Sul, entretanto os dois grupos eram
compostos por caudilhos. Sobre a denominao dos grupos:
347 MCCANN, Frank D. Soldados da Ptria: Histria do Exrcito Brasileiro 1889-1937. Trad. Laura
Teixeira Motta. - So Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 344 e 345.
348 Ibidem, p. 109.
349 FLORES, Moacyr. Histria do Rio Grande do Sul. 5 Ed. Porto Alegre: Nova Dimenso, 1996,
p. 158. Apud PEREIRA, Ledir de Paula. O positivismo e o liberalismo como base doutrinria das
faces polticas gachas na Revoluo Federalista de 1893-1895 e entre maragatos e
chimangos de 1923. Dissertao (Mestrado em Cincia Poltica). Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, 2006, p. 85.
350 BARROS, Joo Alberto Lins de. Carta para Luiz Carlos Prestes. Barraco, Paran, 20 de
351 CASTRO, Maria Clara Spada de. Tenentismo em 1924: a participao civil na Revoluo
Esquecida. Guarulhos: Monografia de concluso de curso, 2013.
352 LIMA, op. cit., p. 31.
353 Successos Subversivos de So Paulo. Denuncia apresentada ao Exmo. Sr. Dr. Juiz Federal
p. 83.
121
Travei conhecimento, no Q.G., com dr. Almeida Tocci e tendo sabido
que ele gozava de alguma influncia entre os operrios, incitei-o a
promover um levante das classes trabalhadoras.
Dizia-se que trs mil obreiros se tinham mandado oferecer ao general
Isidoro, e que este no aceitara os seus servios, com receio de ser
desvirtuado aquele movimento pela irrupo de um levante
bolchevista. (...)
O fantasma bolchevista no me atemorizava.
Alem disso, no encarava a Revoluo somente pelo lado poltico,
mas, tambem, pelos lados social e econmico. 355
1944, p. 58.
359 CORREA, op. cit., p. 69
122
propor o que antes havia sido combinado, ou seja, a criao de
batalhes ntidamente populares."360
360 DIAS, Everardo. Histria das Lutas Sociais no Brasil. So Paulo: Edaglit, 1962, p. 138.
361 TAVORA, Juarez. A Guisa de Depoimentos sobre a Revoluo Brasileira de 1924. Vol. 1.
So Paulo: O Combate, 1927, p. 91 e 92.
362 DIAS, op. cit., p. 133.
363 Ibidem, p. 134.
364 DULLES, John W. Foster. Anarquistas e Comunistas no Brasil (1900-1935). Rio de Janeiro:
1976, p. 227.
368 O caracter da Revoluo. A Plebe, So Paulo, 28 de jul. 1924, p. 1.
369 DULLES, op. cit., p. 194.
124
Os civis que apoiaram e participaram do movimento se identificaram, de
fato, com a poltica de oposio dos militares ao governo de Arthur Bernardes.
O que aglutinou essas pessoas foi a insatisfao para com ele e no uma
possvel proposta de tomada de poder pelos tenentes, que inclusive, no havia.
Perante os bombardeios do governo federal sobre So Paulo, em 1924, a
populao passou a se manifestar ainda mais a favor da revolta por diversos
motivos, entre afinidades ideolgicas e inconformismo frente atitude
governista. "De fato, quem menos sofreu com o estpido bombardeio (...) foi
justamente o exrcito revolucionrio. Enquanto as granadas feriam levemente a
um soldado qualquer, matavam centenas de civis, na maioria mulheres e
crianas".370
Iniciaram-se, assim, publicaes de manifestos e organizaes de
comcios, como por exemplo, o realizado no Largo do Arouche, que convidava
as classes conservadoras, os estudantes, os operrios e o povo em geral a se
mobilizarem371.
Com isso podemos notar que a adeso civil no se restringiu classe
social ou corrente poltica, havendo anarquistas, comunistas e conservadores.
De acordo com informaes presentes no processo:
125
como foi o caso dos 165 presos libertados da Cadeia Pblica pelo carcereiro
Francisco Gonalves do Nascimento, que foi nomeado como diretor do local
pelos rebeldes.373
O envolvimento civil, intensificado em reao ao bombardeamento dos
bairros operrios paulistanos em julho de 1924, chegou a ser bastante
sistematizado. Imigrantes pobres, residentes destes bairros, muitas vezes viam
no alistamento s foras rebeldes como nica alternativa de sobrevivncia, uma
vez que obtinham mantimentos enquanto combatiam, j que o trabalho nas
fbricas estava interrompido. Estes contriburam com seus conhecimentos e
habilidades adquiridos na Primeira Guerra Mundial, organizando batalhes por
nacionalidades (Alemo, Hngaro e Italiano) de maneira independente dos
militares brasileiros, e "alm de combater, eram encarregados do conserto de
canhes, metralhadoras, automveis [...] Tambm foram incumbidos da
fabricao de carros blindados, de granadas, etc., o que evidencia haver entre
eles um alto grau de especializao".374
Para Laura Cristina M. Aquino, a participao civil, que contou com
setecentos estrangeiros, deve ser examinada menos na quantidade dos que se
alistaram, e mais na qualidade dessa participao e na repercusso que ela teve
no momento375, tendo em vista que as lideranas tenentistas no tiveram grande
preocupao em estimular a participao popular.
Aps a ecloso do movimento na cidade de So Paulo, alguns dos
operrios participantes buscaram inserir suas ideias polticas na pauta da
revolta, iniciando uma movimentao poltica de carter revolucionrio que no
passou despercebida pelas classes dominantes. Jos Carlos Macedo Soares,
presidente da Associao Comercial de So Paulo, advertiu em carta ao general
Scrates, comandante das foras legalistas: "Os operrios agitam-se j e as
aspiraes bolchevistas manifestam-se abertamente. Ser mais tarde pelos sem
126
trabalho tentada com certeza a subverso da ordem social"376.
Para alm do papel que os estrangeiros representaram na revolta
propriamente dita, desempenharam tambm uma outra funo, essa de carter
ideolgico, que foi servir como mais um argumento para que o Estado brasileiro
aumentasse a represso contra as mobilizaes opositoras e aos "indesejveis".
Sob a alegao de que os tenentes haviam armado estrangeiros para lutar contra
brasileiros, o Estado criou instrumentos de represso associados ao que Paulo
Srgio Pinheiro chamou de "mito da ptria ameaada"377.
Havia dentre os alemes que se alistaram em 1924, artilheiros, pilotos,
peritos em metralhadoras e especialistas em outras ocupaes ligadas
guerra378. Havia ainda aqueles que na Alemanha possuam outros ofcios, antes
de serem operrios nas fbricas paulistas, como o caso de Bruno Binger,
376 DUARTE, Paulo. Agora Ns! Crnica da Revoluo Paulista So Paulo. So Paulo: Imprensa
Oficial do Estado de So Paulo, 2007, p. 180.
377 PINHEIRO, Paulo Srgio. Poltica e Trabalho no Brasil: dos anos vinte a 1930. 2 Ed. Rio de
127
suecos, austracos, suos e dinamarqueses. Antes da retirada de So Paulo,
chegou a contar com cerca de trezentos homens em suas fileiras. Uma parte
dessa tropa, cerca de cento e oitenta homens, seguiu junto com os rebeldes na
noite de 27 de julho381. Assim como Bruno Binger, Arnould Kuhn, um dos
comandantes do Batalho Alemo e mais ativos estrangeiros durante a rebelio,
participou tambm da marcha da Coluna Miguel Costa - Prestes.
O Batalho Hngaro, por sua vez, reunia tropas de diversas
nacionalidades eslavas como romenos, tcheco-eslovacos e poloneses, e sua
principal funo era fazer o policiamento da cidade de So Paulo durante sua
ocupao pelos rebeldes. Chegou a contar com cerca de cento e oitenta
homens, sendo muitos deles refugiados polticos no Brasil, mas, mesmo assim,
participaram de combates e acompanharam a retirada dos rebeldes382em
direo Foz do Iguau. O organizador deste batalho foi Maximiliano Agid 383,
farmacutico e dono de um laboratrio de cosmtico:
128
Lambertini Sorrentino (...) No dia 25 ou 26, esteve fardado no
Consulado Italiano, onde foi explicar ao Consul os fins da organizao
do Batalho Italiano, tendo sido ahi mal recebido por aquella
autoridade, que o poz do Consulado para fra. Pouco depois foi a
Redao do Il Piccolo, apresentando-se fardado de tenente e armado.
Commandava nessa occasio uma fora de uns 50 homens a cavallo,
que ficaram na rua, enquanto Lamberti Sorrentino e Aldo Mario Geri,
entraram na redao do Il Piccolo e ahi o primeiro, depois de se queixar
ao sr. Arthur Grippa da maneira porque fora recebido pelo Consul,
pediu quelle jornalista que pelas columnas de seu diario concitasse a
colonia italiana a pegar em armas. Depois da retirada das foras
revolucionarias, Sorrentino foi visto no interior commandando o
batalho italiano, juntamente com Aldo Mario Geri e Italo Landucci. 388
129
apresentou um nmero de integrantes bem pequeno, tendo em vista o grande
contingente de italianos residentes em So Paulo. Segundo Laura de Aquino,
isso se deu porque os italianos estavam mais envolvidos com o movimento
sindical, infiltrados nas organizaes trabalhistas que sofreram represlias antes
da ecloso da revolta, enquanto os hngaros e alemes que no se
manifestavam politicamente no levantaram suspeitas394.
Com a sada dos revoltosos da cidade, os Batalhes Estrangeiros os
acompanharam. Em suas fileiras houve deseres e novas incorporaes ao
passarem pelo interior do estado de So Paulo at serem unidos a Coluna Rio-
Grandense e originarem a Coluna Miguel Costa - Prestes, como por exemplo o
"soldado Porphirio, um rapaz portugus que se incorporara Revoluo em S.
Paulo, fez toda a campanha at a Bolvia (...) [e] servia como cozinheiro do fogo
do Q.G."395.
Em seus escritos, como o fragmento de carta apresentado abaixo,
enviada para Prestes, Alcntara Tocci confirma que os tenentes contrariavam as
determinaes oficiais de no aceitarem adeses civis:
(...) tenho como sempre desde de S. Paulo, muita confiana na ajuda
para a Revoluo de elementos estrangeiros, que alis nos prestaram,
com pequenas excees, os melhores servios.
Ainda ahi mesmo, como contrariamos em parte as determinaes
officiaes ns acceitamos o engajamento dos optimos elementos
paraguayos que nos ajudaram immensamente. Por isto que consulto-
o se lhes convm ahi uns 150 soldados dos melhores, entre allemes,
austracos e uns poucos italianos. Entre elles h uns que fabricam
granadas, outros que so optimos soldados de fusis e metralhadoras
(...)396
Centro Studi e Ricerche Vallo di Diano Pietro Laveglia. Segundo as informaes ali contidas,
Sorrentino nasceu em Sala Consilina, na provncia de Salerno, na Itlia, em 1899. Estudou na
escola tcnica de Npoles e participou como segundo tenente da Primeira Guerra. Em 1923 veio
para o Brasil. Disponvel em
http://www.centrostudivallodidiano.it/document/uomini_illustri_di_sala_consilina?catid=cf0a3d9b
4ba64d3f98d5028eaece3740 Acesso em 10/07/2016.
130
Italiani, do Il Piccolo em So Paulo, foi correspondente de La Nacion e no
movimento em So Paulo, em 1924, foi comissionado a capito. O documento
em questo, segundo o peridico, era dirigido ao jornal Patria degli Italiani, de
Buenos Aires, e informava que na cidade de Britania, Gois, desertaram para o
Paraguai setenta homens restantes do batalho alemo e acrescenta:
O batalho allemo era commandado pelo capito Kuhn, corajosissimo
idealista que, na Allemanha, foi o autor do attentado a Rathenau. Os
motivos da desero devem ser procurados no facto de no ter podido
o capito em virtude de difficuldades logsticas, satisfazer
compromissos assumidos, por contrato, com a sua milcia. O capito
Kuhn commandava todas as tropas que combateram na batalha de
Tres Lagoas 398.
131
O conferente da "So Paulo Railway", Amadeu Berling foi tambm visto
na Estao da Luz, no primeiro dia da mashorca, armado de fuzil,
auxiliando os rebeldes.
Nas officinas da "So Paulo Railway" onde foram fabricados o
automvel blindado, que os rebeldes abandonaram no Quartel da Luz,
e o carro, tambm blindado, que serviu, no sector do Norte, ao Coronel
Joo Francisco, para atacar a vanguarda da fora legal, superintendia
os servios o individuo Manoel Garcia Senra, extremado adepto e
grande auxiliar dos mashorqueiros.403
132
deles. Levou a condio do povo ao Poder Pblico, intermediando o
aumento do salrio com o fim da greve (...).407
407 COSTA, Yuri Abyaza. Miguel Costa: um heri brasileiro. So Paulo: Imprensa Oficial do
Estado de So Paulo, 2010, p. 35-36.
408 Os movimentos pelas cidades do interior de So Paulo carecem de estudos mais
133
ali ocorria. Vrios desses envolvidos foram incorporados Coluna Miguel Costa
- Prestes:
O sargento Armando Bacellar (...) era tipgrafo em Piracicaba, em julho
de 1924. Marchou com um grupo de moos dessa cidade para S.
Paulo, incorporando-se ao Exrcito Revolucionrio, com o qual retirou,
tendo feito toda a campanha do Paran e a Grande Marcha, entrando
enfim na Bolvia (...) Trabalhava na composio d"O Libertador",
juntamente com o tenente Adalberto Granja e os soldados Miguel,
Sebastio e Oscar, estes ltimos voluntrios civis. Eram eles os
tipgrafos que compunham o nosso jornal e depois do trabalho nas
oficinas, seguiam para as linhas de fogo, onde se batiam como
heris.410
134
o povo para participar.413
Com relao ao envolvimento civil, consta que em Belm houve intensa
participao dos trabalhadores da Par Eletric. Diferentemente dos outros
levantes do perodo, que eram liderados por tenentes e capites, este fora
iniciado pelos cabos Sapucaia e Gis e sargento Nobre, postos inferiores ao de
tenentes na hierarquia militar. 414
Luiz Carlos Prestes, em entrevista sua filha, Anita Prestes, afirmou que
"os comandantes da Coluna depositavam grandes esperanas no Nordeste (...)
[pois] tendo conhecimento do que era a misria na regio, os revolucionrios
alimentaram a iluso de que iriam ter apoio popular"415. Como j dito no captulo
anterior, foi no Nordeste que a Coluna encontrou maior resistncia, com exceo
dos estados do Maranho e Piau, que lhes forneceram generosos contingentes
de voluntrios. Nos estados de Pernambuco e Cear, houve uma intensa
articulao com o comando da Coluna que planejava incorporar civis e militares
a ela, porm essas articulaes foram denunciadas e acabaram desmobilizadas
pelo Estado.
Em Pernambuco, o principal elemento de ligao do movimento local com
o iniciado no sul e sudeste era o tenente Cleto Campelo, do 21 Batalho de
Caadores localizado em Recife. Quando da interveno no governo estadual
paraibano por Epitcio Pessoa em julho de 1922, o tenente Campelo foi preso e
transferido para Mato Grosso, em decorrncia de uma entrevista que cedeu ao
jornal Correio da Manh acerca do ocorrido. Em 1925, desertou do Exrcito e se
envolveu em uma tentativa de levante em apoio Coluna em Mato Grosso. Com
a tentativa fracassada, seguiu para Pernambuco com a mesma inteno. Ali a
conspirao se dava ao lado de Waldemar de Paula Lima, ex-tenente e simptico
ao comunismo, e de Josias Carneiro Leo, jornalista comunista preso em
135
dezembro de 1924 por articular junto aos tenentes no Rio de Janeiro, fugindo da
Casa de Deteno em abril de 1925, de onde seguiu para Recife.416
Segundo Moreira Lima, os planos, conforme informavam as
correspondncias de Cleto Campelo, era tomar Recife e enviar os tenentes
Lourival Sera Motta e Aristides de Souza Dantas, juntamente com o ex-aluno
da Escola Militar Plnio de Araujo Coriolano, para se apossarem da capital da
Paraba417. Em 5 de janeiro de 1926, Prestes e Miguel Costa enviaram uma carta
autorizando o incio do movimento em Pernambuco:
Autorisados pelos Srs. Marechal Izidoro Dias Lopes e Dr. Assis Brasil,
chefes militar e civil da Revoluo Brasileira, dirigimos-nos aos chefes
revolucionarios de Pernambuco, para lhes dizer que chegou o
momento de pegarem em armas, desfraldando nesse Estado a
bandeira vermelha da Revoluo Nacional. (...) Iniciado o movimento,
devem immediatamente ser procurados os elementos revolucionarios
dos Estados vizinhos, ordenando-lhes, em nome dos chefes da
Revoluo Nacional, a levantarem os respectivos elementos. 418
Em resposta ao civil Josias Leo, que tem seu nome seguido de uma
patente militar atribuda pelo comando da Coluna, garantido o solicitado pelo
Partido:
Ao Snr. Josias Leo,
1 Tenente do Estado Maior desta 1 Diviso.
Severino Gamba Cardim, Cleto da Costa Campello, Celso Ucha Cavalcante, Aristteles Souza
Dantas, Sylvio Guimares Cravo, Christiano Cordeiro, Alfredo de Moraes Coutinho, J. Carlos
Mariz e Osmundo Borba, organizadores do movimento revolucionrio no Estado de Pernambuco.
Natal, Piau, 5 de janeiro de 1926. CPDOC - Fundo Juarez Tvora, JT dpf 1924.05.10, p. 614-
617.
419 LEO, Josias Carneiro. Carta sem remetente especificado. Natal, 5 de janeiro de 1926,
420COSTA, Miguel. Carta para Josias Leo. Natal, Piau, 5 de janeiro de 1926. CPDOC - Fundo
Juarez Tvora, JT dpf 1924.05.10, p. 619-621.
421 PRESTES, Anita Leocdia. Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro. So Paulo:
Boitempo, 2016, p. 104. MORAES, Denis de; VIANA, Francisco. Prestes: lutas e autocrticas. Rio
de Janeiro: Vozes, 1982, p. 38.
137
liberdade de organizao e imprensa para o operariado que o Partido Comunista
solicitava. Nela estava endossada a pauta que j vinha sendo anunciada pelos
tenentes, que continha a busca pelo voto secreto, restaurao da Constituio e
ensino gratuito. De indito estava includo "modernizao da legislao social"
que visava realizao da "revoluo social sem maior derramamento de
sangue", proteo ao operariado "contra os abusos do capital", "acabar de vez"
com o abismo da diferena de renda, e posse de terra para os pequenos
agricultores, isto , uma reforma agrria.
Em outro trecho da carta, que seguiam mais instrues aos
revolucionrios em Pernambuco, Prestes e Miguel Costa orientavam que
fizessem um manifesto ao povo explicando os motivos e ideais defendidos pelo
movimento. Ao list-los, incluam "assegurar completa liberdade de pensamento,
permittindo a mais ampla propaganda de ideas sociaes e communistas, bem
como a organizao de sociedades e partidos operrios sem a indebita e
vexatria interveno policial" 422.
Talvez a incluso destas novas pautas e ideais, politicamente mais
libertrias, se tenha dado por conta do distanciamento de elementos mais
conservadores do comando da Coluna. Isidoro Dias Lopes exilado na Argentina
no conseguia se comunicar constantemente com os que marchavam, e em
dezembro de 1925 Juarez Tvora fora preso em Teresina. Outra possibilidade
que esse posicionamento poltico tenha sido estimulado a partir do afastamento
destes membros mais conservadores juntamente das experincias e vivncias
pelas quais passaram os que marchavam pelo serto brasileiro.
Em outra carta de Josias Leo, tambm datada de 5 de janeiro de 1926,
o jornalista continuava a enviar notcias sobre os planos em Pernambuco para a
Coluna, que no momento passava pelo Piau:
(...) Sob a direo do Dr. Christiano Cordeiro encontram-se
organizados perto de 2.000 operarios que tomaro parte no movimento
422COSTA, Miguel; PRESTES, Luiz Carlos. Carta para Leopoldo Nery da Fonseca, Simpson,
Severino Gamba Cardim, Cleto da Costa Campello, Celso Ucha Cavalcante, Aristteles Souza
Dantas, Sylvio Guimares Cravo, Christiano Cordeiro, Alfredo de Moraes Coutinho, J. Carlos
Mariz e Osmundo Borba, organizadores do movimento revolucionrio no Estado de Pernambuco.
Natal, Piau, 5 de janeiro de 1926. CPDOC - Fundo Juarez Tvora, JT dpf 1924.05.10, p. 614-
617.
138
depois de iniciado. (...) Pode-se contar com segurana com 50
homens, sendo 21 desertados da Marinha de Guerra, 20 operarios
habituados a luta e 10 reservistas, officiaes, etc (...). De Palmares (5
horas de trem de Recife) a Unio, em Lagoas pode-se conseguir, logo
depois de iniciado o movimento, mais ou menos uns 200 homens com
Winchester e munio. (...) Na Cavallaria da Policia contamos tambem
com sargentos e soldados de confiana. (...)
Alagas - contamos com preciosos elementos no interior do Estado.
(...) Parahyba - No contamos com cousa alguma nesse Estado.
Rio G. do Norte - A queda do governo nesse Estado cousa que no
tem a minima importancia. Pode se resolver com uma offensiva apenas
telegraphica. Entretanto, para simular, seria bom levantar uma
columna ligeira de 50 ou 60 homens. No h difficuldade alguma em
conseguir essa gente. 423
423 LEO, Josias Carneiro. Carta sem remetente especificado. Natal, 5 de janeiro de 1926.
CPDOC - Fundo Juarez Tvora, JT dpf 1924.05.10, p. 610-613.
424 CAVALCANTI, Paulo. O caso eu conto, como o caso foi: da Coluna Prestes a queda de Arraes
coronel Wicar Parente de Paula Pessa, 1 tenente Jos Pinheiro Barreira, Dr. Adhemar
Fernandes Tvora, Coronel Jos Carlos Leal e Mario Leal. Natal, Piau, 5 de janeiro de 1926.
CPDOC - Fundo Juarez Tvora, JT dpf 1924.05.10, p. 606-608.
140
fracasso desloc-lo de encontro Coluna, em meio ao serto nordestino. 433
141
morto, sua cabea foi decepada".436 Segundo Moreira Lima, os planos ao
entorno de Cleto Campelo foram denunciados pelo deputado Raymundo Nonato
Batista Santos, que se incorporou Coluna em Gois e desertou no Cear437.
No incio de fevereiro de 1926, quando a Coluna chegou Paraba, o
destacamento de Joo Alberto buscou ligaes com Dantas e Sera Motta, que
no dia 5 foram atacados e presos pela polcia paraibana. No dia 12, o grosso da
Coluna chegou a Pernambuco, mas por no conseguirem contato com o grupo
de Cleto Campelo, que j estava desbaratado, seguiram. Obtiveram notcia do
grupo pernambucano somente quando alcanaram o estado da Bahia, por meio
de jornais438. Segundo Octvio Brando, o insucesso se deu por que "os
comunistas de Pernambuco no aplicaram as diretivas" da Comisso Central
Executiva do Partido439.
Conforme o definido pelo II Congresso do PCB, os "tenentes" eram vistos
como "essencialmente pequeno-burgueses", vinculados burguesia industrial e
apoiados pelo imperialismo norte-americano. Entretanto, o mesmo Congresso
orientava uma aproximao do Partido com a pequena-burguesia, visando um
alargamento do espectro social a ser atingido.440 Neste sentido, Octvio Brando
escreveu:
So Paulo e a guerra de classes no Brasil - 1924. 2 Ed. So Paulo: Anita Garibaldi, 2006, p.
133.
142
Industrialismo: Ensaio marxista-leninista sobre a revolta de So Paulo e a guerra
de classes no Brasil, que veio a ser publicado em maro de 1926, mas que j
circulava em cpias datilografadas e serviu de subsdio para as teses de
Astrogildo Pereira, apresentadas no II Congresso do PCB em maio de 1925442.
Em sua anlise acerca do movimento de 1924 em So Paulo, ele
considera que significou a segunda batalha que a pequena-burguesia nacional
travou contra os fazendeiros de caf, senhores da nao, sendo ela integrante
de "uma grande batalha internacional: a guerra internacional das classes." 443
Conforme Brando, o PCB se envolveu com os movimentos tenentistas
somente em 1923, no planejamento do levante de 1924, oferecendo o seguinte
a Isidoro Dias Lopes - que, como j sabemos, recusou:
O 5 de julho e O Libertador
442 MORAES, Joo Quartim. Um livro fundador. In: BRANDO, op. cit., p. 11 e 12.
443 BRANDO, op. cit., p. 25 e 31.
444 BRANDO, Octvio. Combates e batalhas: memrias. So Paulo: Alfa-mega, 1978, p. 280.
445 Ibidem, p. 281.
446 PCB. Teses & resolues adotadas pelo III Congresso do Partido Comunista do Brasil, p. 7.
144
pegaram em armas para livrar o Brasil da ruina, da escravido e da
deshonra.451
Azevedo Lima tambm foi importante porta voz das causas tenentistas.
Segundo Dainis Karepovs, Lima dava vazo aos apelos e denncias dos
revoltosos e seus discursos em 1928 se referiam dentre outras questes a
"irregularidades e desmandos ocorridos no Colgio Militar e na Escola Militar" 457,
o que nos insinua uma aproximao com as classes militares.
A partir de uma carta de Isidoro podemos notar outros parlamentares que
possuam uma maior proximidade com o movimento:
(...) quasi sem co, apezar de varonil e potente, era a vz de Azevedo
Lima que nos amparava, denunciando a tyramnia (...). Mas o que dura
vence, e surgem Bergamini, Caetano Silva, Plinio Casado, Luzardo e
Wenceslu Escobar, que se alinham para o bom combate na Camara
dos Deputados. E em seguida apparecem Lauro Sodr, Antonio Muniz,
Soares dos Santos e muitos outros, no Senado. E Barbosa Lima -- o
mestre austero da palavra, que um raio que fulmina, faz ouvir sua voz
que retomba pelo paiz inteiro458
463H. Carta para Isidoro. Montevideo, 9 de janeiro de 1925. AESP - Cartas da Revoluo de
1924, p. 3.
149
CONSIDERAES FINAIS
464 BASTOS, Abguar. Prestes e a revoluo social. So Paulo: Hucitec, 1986, p. 138.
465 SCOTT, J. Social Network Analysis. London: Sage, 1991. Apud SAVAGE, Mike. Espao,
rede e formao de classe. Revista Mundos do Trabalho, vol. 3, n. 5, Jan-Jun de 2011, p. 18.
466 SAVAGE, op. cit., p. 19.
150
levantes de 1922 e que vo propagar e planejar as revoltas de 1924 em diversos
estados467, como vimos em Sergipe, So Paulo e Amazonas, e os levantes em
apoio passagem da Coluna nas mais variadas localidades.
Estes espaos militares, Escola e quartis, bem como as prises, podem
ser considerados como bases formadoras de uma identidade coletiva468, em
contnua formao durante a marcha da Coluna
As solidariedades eram desenvolvidas a partir da perseguio do governo
para com os revoltosos e dos ataques de Arthur Bernardes dirigidos aos militares
em geral. No entanto, estes ataques eram sentidos de maneira diferente ao longo
da hierarquia. O marechal Hermes da Fonseca, por exemplo, ficou 17 horas
preso469, enquanto tenentes eram perseguidos, detidos em pssimas condies
em navios e nas Ilhas Grande e Trindade470, transferidos e expulsos da Escola
Militar. Esta hierarquia, conforme interpretao de Wright471, , inclusive, um
distintivo da explorao de uma classe sobre a outra.
Por outro lado, essas redes densas tambm eram constitudas entre
militares e civis, sejam estes civis familiares, amigos e conhecidos de militares
ou no, uma vez que:
467 Caso semelhante citado por Savage sobre a formao do sindicalismo dos ferrovirios,
auxiliada pela prtica das empresas em transferir seus trabalhadores entre estaes e depsito,
facilitando assim o trabalho de ativistas no desenvolvimento de atividades sindicais. Op. cit., p.
26.
468 Ibidem, p. 8.
469 SILVA, Hlio. 1922: Sangue na areia de Copacabana. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira,
1964, p. 111.
470 Ver CHEVALIER, Carlos Saldanha da Gama. Memrias de um revoltoso ou legalista? Niteri:
Vitoria, 1927. TVORA, Juarez. Uma vida e muitas lutas: memrias. Vol. 1 - Da plancie borda
do altiplano. Rio de Janeiro: Editora do Exrcito, 1973, p. 197-220.
471 SAVAGE, Mike. Classe e Histria do Trabalho. In BATALHA, Claudio H. M.; SILVA, Fernando
Apud SAVAGE, Mike. Espao, rede e formao de classe. Revista Mundos do Trabalho, vol. 3,
n. 5, Jan-Jun de 2011, p. 9.
151
Isso explica a significativa adeso de civis ao movimento e a permanncia
destes at o exlio na Bolvia. Acreditamos que os tenentes, enquanto membros
de uma instituio militar, possuam caractersticas distintivas dos civis, mas
ambos estavam inseridos na formao de uma classe poltica, especfica
daquele momento histrico, com o desenvolvimento de vnculos organizacionais
e mobilizao poltica473.
Deste modo, endossamos a ideia de que as instituies militares no
podem ser pensadas apartadas da sociedade e nos arriscamos em afirmar que
a diviso entre militares e civis no faa mais sentido para as anlises
histricas, por predetermin-las, ignorando experincias e origens sociais.
Entretanto,
trabalho. Trad. Patricia de Queiroz Carvalho Zimbres. Campinas, SP: Unicamp, 2013, p. 40 e 41.
153
Dessa maneira, podemos considerar a existncia do soldo como um
determinante da condio de assalariados dos militares de baixa patente que
dependem dele para o sustento de suas famlias, sendo o Estado seu
empregador.
*
Por falta de termo melhor, o tenentismo foi por ns utilizado para se
referir aos movimentos de origem militar na dcada de 1920, com o
apontamento de que estes foram compostos por militares possuidores de
outras patentes, para alm da de tenente, e por civis. Como vimos neste
trabalho, existiu uma continuidade entre estes movimentos neste perodo,
tendo inclusive, as mesmas pessoas envolvidas nas conspiraes de 1922 a
1927, com pouca ou nenhuma variao dos objetivos almejados.
154
A Coluna no tempo e espao479
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Cordeiro, Alfredo de Moraes Coutinho, J. Carlos Mariz e Osmundo Borba,
organizadores do movimento revolucionrio no Estado de Pernambuco. Natal,
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