Experiencia e Natureza
Experiencia e Natureza
Experiencia e Natureza
ABSTRACT: In the first chapter of the book "Experience and Nature", John Dewey
(1859-1952) explores the concepts of "experience" and "nature" showing that they
present a interrelated feature, considering the human life and, mainly, as the cognitive
aspect. For these reasons, he argues in favor of the necessary consideration of the
intrinsic relationship between experience and nature, defending the utilization of the
empirical method in scientific research, since for the author, there is no sense in the
dualism between theory and practice. Before this exposure, we strive to try to relate the
philosophical-educational principles in its applicability into a reality limited by the lack
of material and financial resources, as in the case of Brazilian public schools - where
many teachers end up restricting their classes only to theoretical explanations, sticking
up only to the field of secondary experience. From the deweyanas ideas that have been
exposed, we can extract some lessons for teaching practice, that can greatly help to
improve and increase the educational work of many teachers, especially those of public
institutions. Considering that human beings are continuously experiencing and for this
1
Artigo aperfeiçoado a partir do texto Experiência e Natureza: Algumas contribuições á Prática dos
Docentes Sul-americanos que foi publicado nos anais do I Congresso Latinoamericano de Filosofia da
Educação: Identidade e Diferença da Filosofia da Educação na América Latina, 2011.
2
Docente atuante nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental na Rede Municipal de Ensino de Londrina e
Discente do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Londrina (UEL). E-mail:
mcs.ela@gmail.com.
3
Professora Orientadora, atuante no Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina.
E-mail: leoni.henning@yahoo.com
35
Revista Redescrições – Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 4, Número 1, 2012
reason, we can observe that experience is life, one of the possible ways for the teacher,
in our view, would be to try to involve the school contents in the reality of ordinary
experiences of their students, showing that there is a relationship between both. By that
way, the teacher can teach these students to take advantage of this knowledge, to share
them with each other adding them to the knowledge acquired outside school and
applying, them in their respective everyday lives.
Key-words: Experience, Education, Dewey, Teaching Practice, Empirical Method.
Apresentação
36
Revista Redescrições – Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 3, Número 4, 2012
Ampliando os objetivos deste estudo, intentamos contribuir com a formação
docente tomando por base os princípios filosófico-educacionais expostos e discutidos,
sugerindo ainda tais conhecimentos como componentes importantes à atuação
profissional, mas tentando, contudo, provocar uma reflexão enriquecida pela própria
situação em que os professores realizam o seu trabalho. Situação frequentemente dotada
de importantes prejuízos pela falta dos recursos básicos que deveriam estar presentes no
processo de ensino-aprendizagem. Daí o nosso interesse em apreendermos as sugestões
de Dewey, relacionando-as a essa problemática concreta da situação imperante numa
considerável parcela da educação latino-americana, com especial ênfase, na realidade
brasileira.
37
Revista Redescrições – Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 4, Número 1, 2012
A partir desta citação, compreendemos que a experiência é um termo que, para o
autor, não possui apenas uma significação, mas sim está atrelado a diversas
significações. Um destaque que podemos mostrar diante disso é que a experiência não
pode existir sem a natureza, pois é o convívio harmônico das duas que fará com que a
experiência se constitua racionalmente como o “método” para alcançar a natureza,
compreendendo-a de maneira mais profunda. Isso porque a teoria e a investigação
científica só podem ser validadas se, além de tudo, estiverem conectadas à experiência e
à natureza, considerando que, as teorias filosóficas devam ser formuladas com base nas
experiências.
Na sequência, tentaremos elucidar melhor esta concepção.
38
Revista Redescrições – Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 3, Número 4, 2012
natureza – pedras, plantas, animais, doenças, saúde, temperatura, eletricidade, e assim
por diante”. Neste sentido, a experiência é indefinidamente elástica, tendo em vista que,
concomitantemente, ela se desenvolve de forma a penetrar profundamente a natureza. A
consequência ou a dedução – no caso, a teoria – provém desta extensão da experiência,
que nos ajuda a conhecer melhor a natureza.
Para entender melhor as experiências humanas, Dewey (1980) as classifica
analiticamente entre primárias e secundárias. A “experiência primária” constitui-se pelo
contato direto com os objetos naturais – “[...] o sol, terra, plantas e animais da vida
comum, diária” (DEWEY, 1980, p. 7) - enquanto que a “experiência secundária” é fruto
deste contato, que, por meio da reflexão, constitui-se como um produto derivado e
refinado. Assim, é possível significar as coisas e ligá-las num sistema global, de forma a
estabelecer relações entre as coisas, as quais, pela aparência, pareciam “particularmente
isoladas” (DEWEY, 1980, p. 8). Não obstante, é fundamental destacarmos que, segundo
as explicações do filósofo, esses produtos derivados devem se voltar à natureza a fim de
terem sua validade testada, pois caso contrário, a permanência deles no campo da
investigação reflexiva e dirigida pode engendrar dissimilaridades no entendimento de
seus resultados em relação à realidade natural, tornando-os desconexos do mundo e
totalmente ineficazes para a lida compreensiva dos humanos em suas respectivas
realidades.
Atentando para os princípios filosófico-educacionais deweyanos que foram
expostos até o presente momento, principalmente sobre o caráter da experiência
secundária, percebemos que as elucidações aqui referidas já podem embasar um
princípio da teoria pragmática deweyana que prega que a experiência deve ser
enriquecida no cotidiano do aluno. Para Dewey (1959, p. 83, grifos do autor), a
educação “[...] é uma reconstrução ou reorganização da experiência, que esclarece e
aumenta o sentido desta e também a nossa aptidão para dirigirmos o curso das
experiências subseqüentes”. É a partir das possibilidades atuais que estão disponíveis ao
aluno, que ele poderá enriquecer suas experiências de forma a aperfeiçoá-las e
multiplicá-las, contribuindo então, de maneira consequente, para o aperfeiçoamento de
si e da sociedade.
39
Revista Redescrições – Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 4, Número 1, 2012
perfeita que as suas próprias sociedades atuais. Há já tempos que o homem
vem sentindo a extensão em que a educação conscientemente praticada pode
eliminar manifestos males sociais fazendo os jovens seguir caminhos que não
produzam aqueles males – como também não lhe tem faltado a intuição de
que a educação pode tornar-se um instrumento para realizar as mais belas
esperanças humanas. Entretanto, estamos sem dúvida longe de compreender
a eficácia potencial da educação como agente edificador de uma sociedade
melhor, de compreender que ela não só representa o desenvolvimento das
crianças e dos adolescentes, mas também da futura sociedade que será
constituída por eles (DEWEY, 1959, p. 85-86, acréscimos nossos).
Para Dewey (1959, p. 2), além do aspecto físico, a vida se manifesta ao mesmo
tempo no âmbito social, tendo em vista que ela “[...] subentende costumes, instituições,
crenças, vitórias e derrotas, divertimentos e ocupações”. Embora a auto-renovação da
vida seja indefinida - pois todos os seres nascem e morrem - é pela dependência das
necessidades pessoais que os seres vivos estão continuamente se readaptando ao
ambiente e, consequentemente, propiciando o surgimento de espécies mais adaptadas
aos seus obstáculos, frente aos quais as precedentes espécies lutavam.
40
Revista Redescrições – Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 3, Número 4, 2012
A partir desta lógica, explica-nos Dewey (1959), a vida está essencialmente
relacionada com a experiência e com a educação. E é por meio da comunicação que as
pessoas constantemente adquirem e compartilham as experiências dos mais diferentes
tipos e formas. Portanto, o ambiente e o meio proporcionam as condições necessárias
para que uma atividade se realize ou se iniba.
O autor (DEWEY, 2010) nos alerta, entretanto, para a existência de experiências
deseducativas, a saber, aquelas que engendram consequências não frutíferas ao
indivíduo, apresentando-se com perfil qualitativo e/ou construtivo, mas que impedem e
distorcem o amadurecimento das experiências vindouras. Em suas palavras:
Nesse sentido, para Dewey (2010, p. 38), “Toda experiência é uma força em
movimento. Seu valor só pode ser julgado com base em para que e em para onde ela se
move”, sendo também por essência, social, pois “[...] envolve contato e comunicação”
(DEWEY, 2010, p. 39). A qualidade da experiência é determinada pelo aspecto da
continuidade (influência sobre as experiências futuras) e, também, pelo aspecto da
imediaticidade que ela deve manifestar implicando em revelar se no determinado
momento em que ela está ocorrendo é agradável ou desagradável (DEWEY, 2010).
Considerando que estamos contínua e sucessivamente experienciando e que a vida é
educativa, pois sempre estaremos aprendendo, o filósofo declara que “[...] o problema
central de uma educação baseada na experiência é selecionar o tipo de experiências
presentes que continuem a viver frutífera e criativamente nas experiências
subseqüentes” (DEWEY, 2010, p. 29).
Os planos educacionais são fundamentais para que as atividades escolares não
fiquem soltas, desconectas umas das outras, proporcionando experiências deseducativas.
Assim, considerando a relevância de o educador construir um plano educacional para
41
Revista Redescrições – Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 4, Número 1, 2012
saber o que fazer e como fazer em meio ao processo de ensino aprendizagem, ele deve
ter claro o conceito de experiência, para que possa tomar “[...] decisões acerca das
matérias curriculares, dos métodos de ensino e de disciplina, bem como dos recursos
didáticos e da organização social da escola [...]” (DEWEY, 2010, p. 29). A educação
planejada em conformidade com as experiências dos alunos e, consequentemente, “[...]
com os princípios do crescimento, o que é natural” (DEWEY, 2010, p. 31), segue um
princípio aparentemente mais simples. Contudo, “Descobrir o que é realmente simples e
agir de acordo com essa descoberta é uma tarefa extremamente difícil” (DEWEY, 2010,
p. 31), pois faz parte de um processo lento e árduo de formação.
Tomando em conta essas considerações principais, na sequência tentaremos
problematizar a reação do método empírico desta perspectiva no campo de ação
educacional, tentando não negligenciar, em nossa análise, as diversas condições
desfavoráveis em relação à teoria, uma vez que há fatores singulares que tecem a
realidade educacional brasileira. Desse modo, buscamos trazer uma singela, porém
significativa contribuição reflexiva para a prática do educador leitor.
42
Revista Redescrições – Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 3, Número 4, 2012
[...] definem ou delineiam uma vereda pela qual o retorno às coisas
experienciadas é de tal sorte que o significado, o conteúdo significativo
daquilo que é experienciado ganha uma força enriquecida e expandida por
causa do caminho ou método pelo qual foi alcançado (DEWEY, 1980, p. 8).
Considerando essa citação para a nossa realidade, uma das soluções embasada
nesses princípios advogaria o papel do professor enquanto condutor do aluno, de modo
que este aprenda a aproveitar os inúmeros conhecimentos informativos, os quais ele tem
acesso na escola e também fora dela. Assim, primeiramente, o professor deveria
considerar as experiências pessoais de cada um, fazendo com que houvesse o
estabelecimento interdisciplinar nas relações entre os conteúdos, informações e
conhecimentos. Desta forma, encontramos uma via pela qual pode ser possível ensinar
os alunos a tirar proveito de tais conhecimentos para aplicá-los cotidianamente em suas
respectivas experiências.
Seguindo este caminho, o professor deveria se esforçar para conseguir apontar
situações onde fosse possível ao aluno verificar e testar os conhecimentos
desenvolvidos em sala de aula, a fim de ampliar e enriquecer as suas experiências
ordinárias em meio à realidade de cada um. Isso porque, segundo Dewey (1980),
conforme acontece nos estudos científicos, a utilização da experiência, além de testar os
valores de quaisquer teorias, por consequência, proporciona sentido às situações
cotidianas, de maneira a torná-las mais significativas, frutíferas, lúcidas e reais. Sobre a
relevância da experiência na investigação científica, o autor nos elucida que:
Levando em conta essas ponderações, Dewey (1980) ainda nos explica que em
nossas pesquisas, a obtenção de resultados honestos, perante a amplitude e inteireza da
experiência, depende da utilização do método empírico. Este método, sistematicamente
defendido por ele, é o único que toma a experiência como ponto de partida para o
pensamento filosófico, não separando o objeto experienciado de suas operações e
condições. Desta maneira, o método empírico não é dualista, tendo em vista que assim
43
Revista Redescrições – Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 4, Número 1, 2012
observamos uma consideração dos objetos de conhecimento como estando todos inter-
relacionados entre si.
Para ele, as coisas estão todas interconectadas entre si por meio de diversos tipos
de relações. Por essas razões, o conhecimento científico pode muito melhorar,
enriquecer, elucidar e multiplicar as experiências ordinárias de cada um, de maneira a
colaborar para com o progresso da sociedade.
Destarte, nos reportando para a sala de aula de uma escola limitada em termos de
recursos financeiros para o trabalho requerido nos processos de ensino-aprendizagem,
insistimos que um dos caminhos que o professor pode efetuar seria o de tentar envolver
o conteúdo escolar na realidade das experiências ordinárias de seus alunos. Nesse caso,
umas das alternativas metodológicas que podem ser utilizadas pelo professor, como
exemplo, seria a criação de oportunidades para cada aluno se expressar, mostrar seus
respectivos pontos de vista sobre o assunto, debater o conteúdo, tentar encontrar
exemplos para as coisas que for aprendendo, dentre outros. É muito importante que o
aluno aprenda a refletir sobre os fatores que envolvem e se envolvem nas suas ações.
Dewey (1980) nos explica que, embora o ser humano naturalmente tenda a focar
suas atitudes tomando as coisas experienciadas como independentes, o simples fato de o
indivíduo vivenciar naturalmente a experiência independentemente de emoções e
objetivos preestabelecidos, torna as qualidades das coisas experienciadas concernentes
ao todo – cósmicas. O ser humano só tende a separar a experiência e as coisas
experienciadas do seu cotidiano e do ambiente em que vive, quando se envolve com
sentimentos vaidosos, egoístas e gananciosos. É importante destacar aqui que não é
errado fazer análises, pois na análise, além de adquirirmos uma habilidade de controle,
como já dissemos acima, nela a separação é temporária. Para o filósofo:
É obvio que um mundo total, não analisado, não se presta a ser controlado;
que, pelo contrário, ele é equivalente a sujeição do homem a tudo o que
aconteça, como se ao destino. [...]. A abstração de determinadas qualidades
das coisas consideradas como devidas às ações e estados humanos constitui o
pou sto da habilidade de controle (DEWEY, 1980, p. 12).
45
Revista Redescrições – Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 4, Número 1, 2012
Dewey (1980, p. 13) nos esclarece que “[...] o desenvolvimento do
‘subjetivismo’, representa um grande progresso”, visto que este foi muito relevante para
o desenvolvimento da humanidade, uma vez que ele tornou possível o reconhecimento
dos sujeitos como centro de suas experiências. Todavia, em seus escritos, o autor faz
uma séria critica ao subjetivismo desenfreado. Tomando esta crítica para o contexto da
sala de aula, observamos que é essencial ao professor tomar cuidado para mão misturar
tendências egoístas em meio às finalidades de ensino-aprendizagem. Isto porque se o
foco não estiver repousado sobre o objetivo de desenvolver e enriquecer as experiências
pessoais de cada aluno, os resultados de seus ensinos e suas aulas podem distanciar os
alunos das boas consequências e até mesmo podem gerar ensinamentos equivocados.
Assim, a melhoria da vida do educando, e, talvez até da sociedade, que deveria ser uma
possível consequência deste processo de ensino-aprendizagem, torna-se inviável.
Sem nenhuma dúvida, o subjetivismo nas análises reflexivas influi fortemente
nos resultados. Como exemplo, Dewey (1980) aclara que temos a tendência de nos
aprisionarmos e de nos absorvermos nas experiências primárias, de maneira a
aceitarmos suas propriedades experienciadas exatamente como se apresentam a nós, em
nossa vista. O autor nos explica que “Crenças habituais em moral, religião e política
refletem similarmente as condições sociais sob as quais se apresentam” (DEWEY,
1980, p. 13), e por isso, o nosso contexto de vida, nossas crenças e expectativas afetam
fortemente as nossas visões sobre as coisas, e por consequência, nossas crenças e
concepções. Adquirir consciência sobre esse fato é um avanço para o ser humano.
Então descobrimos que cremos em muitas coisas não porque as coisas são
assim, mas [...] que as qualidades que atribuímos aos objetos devem ser
imputadas às nossas próprias maneiras de ter experiência deles, e que estas,
por sua vez, se devem à força das interconexões sociais e do costume
(DEWEY, 1980, p. 13).
Dewey (1980) ainda nos explica que quando dizemos ter experiência sobre
alguma coisa, na realidade estamos apenas experienciando alguns poucos elementos
desta coisa. Isso porque, neste processo, acabamos que reduzindo a experiência às
características do ato de experienciar, através da utilização dos sentidos humanos.
Quando não estamos mais diante dessa coisa que foi experienciada, podemos retornar a
ela, utilizando-se das características sensoriais delas de maneira a revivê-las
imaginativamente pelas ideias, ou seja, pela memória.
46
Revista Redescrições – Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 3, Número 4, 2012
A experimentação pode ocorrer de infinitas maneiras, logo, o “objeto” da
experiência “[...] é infinitamente diferente e mais amplo do que aquilo que é afirmado
ser experienciado” (DEWEY, 1980, p. 15). Deste modo, aquilo que foi experienciado é
uma determinada parte da experiência real, e por estas razões, o relato da experiência só
pode dar conta daquilo que foi experienciado. Nesta lógica, aquilo que é experienciado
serve para testemunhar as “[...] características dos acontecimentos naturais” (DEWEY,
1980, p. 16), e por isso, a experiência pode e deve ser utilizada para esse fim.
Não podemos nos esquecer de que a consciência social é um aspecto
fundamentalmente relevante na teoria deweyana. Vejamos:
47
Revista Redescrições – Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 4, Número 1, 2012
Dewey (1980) ainda nos explica que do mesmo modo em que devemos entender
o valor das coisas notáveis, diferentes, perceptíveis, patentes e óbvias, também devemos
nos atentar para a abundância das coisas monótonas, obscuras, crepusculares e escuras,
uma vez que elas também fazem parte do processo individual de experienciar. “A
existência da ignorância tanto quanto da sabedoria, do erro e até da insanidade, tanto
quanto da verdade, será tomada em consideração” (DEWEY, 1980, p. 17).
Observando esses apontamentos, vemos que coisas e expressões que são
consideradas sem importância ou negativas podem ser muito significativas para ajudar
na melhoria do processo de ensino-aprendizagem a partir do momento em que há uma
busca pelo entendimento delas – por exemplo, o “erro” do aluno em uma avaliação pode
indicar hipóteses da lógica de seu pensamento, assim como também, aspectos que
necessitam ser melhorados e enfatizados nas práticas futuras do trabalho docente.
O autor explica que:
49
Revista Redescrições – Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 4, Número 1, 2012
por meio de sua utilização, ele expõe detalhadamente o caminho percorrido pelo
pesquisador ao encontrar os resultados que consiga descobrir. De tal modo, outras
pessoas podem percorrer o mesmo caminho, autenticando e ainda ampliando tais
conclusões com total segurança.
A clarificação dos valores no âmbito da experiência primária, “tal como se
apresenta”, para as intenções de análise e de controle são mínimos, visto que ela se
apresenta cheia de fatores que necessitam de análise e controle. Essa deficiência é
comprovada exemplarmente pela existência da reflexão. Outro exemplo também é
observado na física e na astronomia antiga, as quais possuíam pouco valor científico,
devido “[...] a falta de aparelhagem e de técnicas de análise experimental [...]”
(DEWEY, 1980, p. 24), por apresentarem as coisas da experiência primária de maneira
como ocorriam naturalmente. Então, podemos entender que, para Dewey (1980), é
necessário desenvolvermos a experiência, experienciarmos mais para testarmos nossas
conclusões, avaliando se as coisas são como estão se apresentando a nós em
determinada circunstância.
Diante do exposto, podemos dizer que, talvez seja pelo desconhecimento de
dados precisos sobre a experiência primária ou mesmo por simplesmente não
considerarem esses dados, muitos teóricos não utilizam os estudos empíricos, acabando
por engendrarem uma concepção preconceituosa contra estes estudos, adverte-nos o
autor. Esse fato acaba por gerar um paradoxo, pois se considerarmos o “pré-conceito”
no sentido do termo, concluiremos que há a necessidade de estudos em relação a tal
assunto, uma vez que o conceito acaba sendo formado antes de uma análise cuidadosa.
Esta postura ocorre também entre muitos docentes, sustentando-se, no caso da escola
pública, tanto na falta de investimento em condições mínimas de ensino, quanto na má
formação profissional, em muitos dos casos. Entretanto, sendo a educação escolar uma
esfera social, muito afetada pela realidade concreta – na qual se desenvolvem constantes
interações, ações, reações, comunicações, não podemos desconsiderar a necessidade de
tais preocupações.
A primeira exigência do método empírico reclama que os métodos e as
produções refinadas devam se ligar à experiência primária, a fim de que se reconheça a
origem das necessidades e dos problemas. A segunda exigência reivindica “[...] que os
métodos secundários e as conclusões secundárias sejam trazidos às coisas da
experiência ordinária, em toda a sua rudeza e crueza, a fim de que sejam verificados”
50
Revista Redescrições – Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 3, Número 4, 2012
(DEWEY, 1980, p. 26). Por meio deste procedimento, as metodologias de reflexão
analítica engendram elementos, os quais proporcionam designações, observações e
experimentos futuros. Para nosso filósofo:
Considerações Finais
51
Revista Redescrições – Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 4, Número 1, 2012
qualitativamente o processo de ensino-aprendizagem, em meio aos seus desafios,
consiste na tentativa de envolver o conteúdo escolar na realidade das experiências
ordinárias de seus alunos. Por esta via, é possível mostrar que existe relação entre
ambos, conteúdos escolares e vida cotidiana. Desta maneira, o professor pode ensinar
esses alunos a tirar proveito desses conhecimentos, compartilhá-los entre si, somando-
os aos conhecimentos adquiridos fora da escola, para aplicá-los em suas respectivas
vidas cotidianas. O aluno deve aprender a pensar suas ações. Apenas como exemplo
podemos aludir a uma situação em, a partir de sua criatividade, o professor poderia
utilizar como instrumentos metodológicos, a criação de oportunidades para os alunos se
expressarem, mostrarem seus respectivos pontos de vista sobre o assunto, debaterem o
conteúdo, exemplificarem as coisas que forem aprendendo, como jogos e brincadeiras,
dentre outras tantas maneiras. E ainda, em conformidade com uma das defesas de
Dewey (1980), que a nosso ver é muito relevante, o professor deve tomar cuidado para
não misturar tendências egoístas ou de um individualismo exacerbado em meio às
finalidades de ensino-aprendizagem. Isso porque se o foco não estiver repousado sobre
o objetivo de progresso social, no sentido de crescimento e enriquecimento das
experiências pessoais de cada e de todos os alunos, os resultados de seus ensinamentos e
suas aulas podem distanciá-los das boas consequências e até mesmo serem equivocados.
É importante enfatizar aqui que isso não significa ao professor aceitar
tacitamente as condições limitadas e precárias que lhes são impostas, mas sim por meio
de seu trabalho e com a análise reflexiva das condições, mobilizar a mudança, tendo em
vista o desenvolvimento qualitativo da sociedade. A partir do momento em que as
experiências dos alunos vão se enriquecendo, entendemos que mudanças significativas
podem se desenvolver no cotidiano em que eles convivem, visto que o ser humano é um
ser social, e as suas atividades, em grande parte, envolvem socialmente outras pessoas.
É a partir dessa compreensão que, entendemos, podemos impulsionar momentos para
uma possível transformação social.
Referências:
DEWEY, John. Democracia e Educação. Trad. Anísio Teixeira. 3. ed. São Paulo:
Companhia Editora Nacional. 1959.
______. Experiência e Educação. Trad. Renata Gaspar. Petrópolis, Rio de Janeiro:
Vozes, 2010. (Coleção Textos Fundantes de Educação).
52
Revista Redescrições – Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 3, Número 4, 2012
______. Experiência e Natureza. Trad. Otávio Rodrigues Paes Leme. In:
CIVITA, Vitor (ed.). Dewey. São Paulo: Abril Cultural, 1980. Cap. 1, p. 3-28. (Os
Pensadores).
53
Revista Redescrições – Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 4, Número 1, 2012