Paisagem e Memoria Introducao Simon Schama
Paisagem e Memoria Introducao Simon Schama
Paisagem e Memoria Introducao Simon Schama
Coordenação Editorial
Daniele Soares Cárneiro
P r o j e t o Gráfico e E d i t o r a ç ã o Eletrônica
Simone Rodrigues Mansilla
Revisão
Vanessa Carneiro Rodrigues
Maria Cristina Perigo
Capa
Rachel Cristina Pavim
Série Pesquisa, n. 1 2 8
Ref.493
U n i v e r s i d a d e Federal d o P a r a n á
Sistema de Bibliotecas. Biblioteca Central
C o o r d e n a ç ã o d e Processos Técnicos
Ficha Catalográfica
Anexos
Inclui bibliografia e notas
ISBN 978-85-7335-209-2
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2008
Pensando como um rio1
Donald Worster 2
Para existir uma agricultura sustentável a longo prazo nos Estados Uni-
dos ou em qualquer outro lugar, os agricultores devem pensar e agir de
acordo com a correnteza da água sobre, embaixo, através e além de suas
1 Este ensaio foi publicado primeiramente em Berry e Colman (1984). A presente tradução foi feita a partir de Worster
(1993). A tradução e a publicaçao foram autorizadas pelo próprio autor. A tradução foi de Gilmar Arruda. A revisão da tradução
foi de Juliana Reichert Assunção Tonelli.
1 Donald Worster é professor de História na Universidade do Kansas (EUA).
fazendas. Preservar a fertilidade dos recursos do solo é essencial para sus-
tentar tais recursos, mas não é mais do que manter a qualidade da água.
De qualquer forma, os dois objetivos são indissociáveis e qualquer fracasso
atinge os dois conjuntamente, como quando a chuva provoca erosão da ter-
ra — os córregos e rios sofrem.
J Na verdade, os escritores taoistas tratam mais da correnteza do que irrigação, mas sua filosofia da água de nao-interferência
tem tido muitas aplicações modernas. Para uma útil discussão dessas idéias ver Neddham (I97Í).
dinamicamente equilibrado entre as forças de erosão e construção, de
produtividade e beleza ao contrário do desajeitado e perdulário sistema
econômico construído pelos homens. Cada área possuiria seu próprio e
peculiar formato e sua própria forma de movimento determinando um
elegante equilíbrio das forças. A linguagem desses cientistas pode ser
original, mas a inspiração é antiga e familiar. Na água podemos ver toda
a natureza refletida. E, no nosso uso da água natural, vemos muito de
nosso passado e futuro refletido.
4 Muito do .que segue está baseado nessas fontes: Hamdam (1961), Butzer (1976), Hammerton (1972), Waterbury (1979) e
Tignor (1963).
5 Wittfogel (1957). Este ê um esforço controverso para ligar a tecnologia da água a autoridade centralizada na história asiática.
Consulte também, entre um largo número de títulos sobre este tema, Harris (1997) e Mitchell (1973).
No começo do século XIX, o Egito foi invadido pelos exércitos francês
e britânico, cujos engenheiros procuravam, como agentes do Império, con-
verter aquele país para o estilo de agricultura do oeste. Os egípcios pode-
riam aumentar muito mais suas lavouras, eles argumentaram, e vender a
produção excedente com um bom lucro no mercado mundial, se represas e
reservatórios fossem construídos ao longo do rio. Começou então um longo
processo de transformação ambiental, que, mais recentemente, terminou na
construção da High Aswan Dam (Represa de Assua Alta), um imenso pedaço
de concreto que criou o Lago Nasser, um dos maiores corpos artificiais de
água no mundo. Agora, a lama, que por longo tempo havia fertilizado os
campos egípcios, acumulava-se atrás da represa. Rio abaixo, novos canais
de irrigação estimularam uma epidemia de caramujos, levando a esquis-
tossomose para dentro dos assentamentos de agricultores, enquanto isso,
um dos mais piscosos delta está desaparecendo. No lugar da velha hierar-
quia faraônica, há a moderna e poderosa burocracia, a qual sozinha tem o
competente treinamento para desenhar e manter o aparato hidráulico. Qual
será o tempo de vida deste novo regime de controle sobre a água? Asse-
guradamente nada tão diferente daquela antiga. O Egito colocou o cálculo
econômico no lugar da racionalidade ecológica, a produção máxima a curto
prazo no lugar da sustentabilidade do "rio circular". O resultado pode ser
um longo e duradouro declínio do vale do Nilo como um recurso agrícola.
Uma das mais substanciosas conquistas que o controle dos rios conse-
guiu foi a industrialização da agricultura americana. Onde quer que seja
que a irrigação apareceu de forma intensa e em larga escala, a agricultu-
ra rapidamente tornou-se uma operação fabril, transformando-se em uma
produção em massa para um mercado de consumo de massa. Desde pelo
menos os anos de 1930, as fazendas irrigadas das costas sudoeste e oeste
têm levado a nação a adotar o modo industrial, e forçado os agricultores
em todos os lugares a ou manterem o passo ou a desistirem. A agricultu-
ra irrigada é cara, requer larga quantidade de investimento de capital; e
onde não há subsídios, somente um pequeno número de fazendeiros pode
ter recursos para isso. Uma vez que a agricultura começou a trilhar a es-
trada da industrialização, não é çiais fácil parar: sistemas hidráulicos são
acompanhados por pesticidas, fertilizantes químicos, um exército de traba-
lhadores em condições ilegais de trabalho e um alto grau de mecanização
(WORSTER, 1982). Os rios do oeste então acabaram tornando-se linhas de
montagem, caminhando incessantemente em direção à conquista da pro-
dução ilimitada. Depois que as necessidades humanas básicas estiverem
satisfeitas, parece não haver mais um propósito que justifique seriamente
a continuidade de tal produção; a água passa a ter meramente um valor
de comércio internacional, abstraído de seu ambiente natural e feito para
servir o imperativo do crescimento industrial como "um fim justificando
os meios". Quando nós não precisamos mais "beber" laranjas, milho ou ar-
roz irrigados, os profissionais de marketing nos dizem que podemos vender
nossos rios (vender, isto é, os produtos da irrigação) para o Japão ou para a
Alemanha. O resultado disso é a alienação final do povo de suas terras e do
rumo de suas vidas — trocados por um punhado de quinquilharias eletrô-
nicas oriundas dos cantos mais remotos do planeta.
Embora a palavra alienação seja algo abstrato, seus resultados são com-
pletamente reais. A palavra sede é algo mais concreto e mensurável, que
pode ser vista em nossa expressão facial. As fazendas-fábricas irrigadas do
oeste podem ser capazes de tornar seca a região. Plantações irrigadas usam
atualmente cerca da metade da água captada do país". Mas nos estados do
oeste com poucas chuvas aquela proporção é muito maior: 80 a 90 por cen-
to. De acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos, a Califórnia
captou nos anos 1970 algo em torno de trinta e três bilhões de galões de
água por dia para irrigação, ou um quarto do total nacional dos recursos hí-
dricos superficiais e subterrâneos. Idaho foi o segundo estado de maior uso
da água para a agricultura, com uma captação diária de 15 bilhões de ga-
lões; Texas vem em seguida com 10 bilhões de galões. Outros treze estados
6 U. S Resources Council (1978). Em 1975 estimava-se que a agricultura norte-americana captava 159 milhões de galões de
um total de 339 milhões de galões por dia.
- todos menos a Flórida —, localizados a oeste do Mississipi, usaram pelo
menos um bilhão de galões por dia para a irrigação7. Em alguns lugares a
maior parte da água não é captada diretamente dos rios, mas de depósitos
subterrâneos acumulados durante um longo período de tempo. A cada ano
fazendeiros bombeiam do Aqüífero Ogalla das Grandes Planícies mais que
toda a água do rio Colorado. Aquele recurso, sobras do período do Pleis-
toceno, que uma vez fora um dos maiores sistemas de depósito natural de
água desse tipo, agora tem uma expectativa de vida útil estimada em cerca
de quarenta anos®. A agricultura irrigada têm-se mantido na moda e tem-se
tornado uma extravagância difícil de ser mantida por muito tempo, o que
a nação americana não pode suportar e, a qual, muitos de seus estados, por
sua vez, também não conseguirão manter por muito tempo.
Mesmo que haja água suficiente por muito tempo, em muitos casos po-
derá não haver energia suficiente para torná-la disponível. A irrigação mo-
derna envolve uma drástica reorganização do ciclo hidrológico, cuja tarefa
pode ser bem sucedida somente com uma quantidade razoável de energia
disponível e a um custo baixo. Nos Estados Unidos, o uso de abundante
energia artificial faz com que os rios se movam de forma artificial, tornan-
do-os menos eficientes nos termos de sua própria dinâmica.
1 Curry e Reeves (1972). De 140 milhões de acre-feet (medida equivalente a 1.233,5 m3- nota do tradutor) de água captada
nacionalmente pela irrigação naquele ano, 82 milhões foram considerados "consumidos", isto é, não mais disponível para as
correntezas ou outros usos.
' THE BROWNING OF AMERICA (1981). Para um declínio comparável ver Todd (1971).
Deve-se, então deixar correr a água onde for mais fácil encontrá-la. Esta é a
perspectiva de se lidar com água que estamos agora enfrentando no nosso
modo humano.
9 O Projeto de Agua do estado da Califórnia financiado pelo Estado, o qual pega neve derretida do norte para a operação do
agronegócio em Kem County e para a área de Los Angeles, tem um enorme déficit de energia. Somente o bombeamento requer
13 bilhões de kw/h por ano, enquanto o projeto gera apenas 5 bilhões. Esses números foram retirados de Jeffrey Lee (1973).
10 Mary Bender e Wes Jackson (1981). Ver também Margaret Lounsbury, Sandra Hebenstreit e R. Stephen Berry (1978).
sério e de longo alcance seja a contaminação da terra agriculturável por sal,
a qual parece ser uma inevitável conseqüência do deserto irrigado11. Este é o
problema da degradação do solo e da água devido ao sobreuso. Em regiões
de escassa chuva, a terra contém uma larga quantidade de sais indissolú-
veis; jogar água por sobre esses campos traz esses sais para a superfície e os
leva para dentro dos cursos dos rios. Os constantes desvios da correnteza
levam inexoravelmente a contaminação rio abaixo, assim como a evapora-
ção da água de irrigação, proveniente dos reservatórios ou da transpiração
das raízes das plantas, deixa um esbranquiçado resíduo de sal para trás.
Esta salinização tirou dos negócios os agricultores que usavam a irrigação
na Mesopotâmia milhares de anos atrás. Atualmente, mais de um terço das
terras irrigadas no mundo tem problemas com a poluição por sal, que dimi-
nui a produtividade do solo e, em casos extremos, o arruina para sempre.
Há salinização muito séria em fazendas na Califórnia, Havaí, ao longo do
rio Grande, e através da bacia do rio Colorado. O vale Coachella, perto de
Palm Springs, usa boa parte seus canais de água não para lavouras mas
para jogar fora o sal deixado para trás pela irrigação anterior. Perto dali,
a The Imperial Irrigation District12 já gastou milhões para se manter a frente
da silenciosa salinização e agora espera que os contribuintes assumam a
conta para evitar a crise desta destruição auto-induzida. O problema não é
quem paga pelo remédio, pois a única cura é mais consumo de água, mais
drenagem para se livrar do excesso de água rapidamente, mais energia e
capital para desalinizar instalações — a cura torna-se, em alguns pontos, até
mesmo pior que a doença. Vale a pena manter o risco da contaminação ir-
reversível do solo para sustentar altas taxas de exportações agrícolas? Para
ter alfaces em janeiro?
. 11 O problema da salinização é discutido nos seguintes trabalhos: Myron Holburt e Vernon Valantine (1972). Gaylord
Skogerboe (1973). George Cox e Michael Atkins (1979, p. 300-308)
u Companhia que opera e distribui água e eletricidade na região do Imperial Valley desde 1911 (nota do tradutor).
15 J. F. Poland e G. H. Davis noticiaram que ao menos 30 por cento das terras da Califórnia onde houve bombeamento de
água subterrânea têm cedido e, em alguns lugares, o desnível chega perto de 30 pés (POLAND; DAVIS, 1969).
sa de levar água doce para o oceano, a rica vida biológica dos estuários ao
longo da costa é destruída. Rejeitos industriais despejados a montante, na
correnteza diminuída, não podem ser carregados para longe e ser adequa-
damente diluídos; o oxigênio das águas dos rios conseqüentemente é redu-
zido. Em correntezas represadas, pode ocorrer a mudança da temperatura
da água, matando os peixes nativos se a diminuição de oxigênio ainda não
tiver matado-os. Só recentemente começamos a investigar o impacto que
a irrigação em larga escala provoca no clima regional: águas de irrigação
evaporadas, por exemplo, podem aumentar significativamente as chuvas
de vento14. Em face de potencial tão destrutivo, de possibilidades sempre
imprevisíveis, está se tornando claro que fazer o "deserto florir como rosas"
é um trabalho muito mais complicado do que nós, uma vez, em nossa arro-
gante e inocente juventude, acreditamos15..
M Goldman (1971. p. 109-124) e Hangan e Roberts (1972). O último é o relatório mais compreensível e um modelo diluído
de conclusão.
15 O perigo representado pela deterioração das represas é muito mais sério que o público tenha consciência. Um estudo in-
dica que as represas são 10-000 vezes mais provavelmente causa de grandes desastres do que as usinas nucleares (SHAN, 1978).
16 Ver, por exemplo, os comentários feitos por Joseph Sibley, Congressista da Pensilvânia, em Congressional Record, 21, Janua-
ry 1902, p. 836; e de Gilbert Tucker, editor do Country Gentleman, em Congressional Record, 13 June 1902, p. 6723-24.
não era suficiente, o governo federal pagou, nos mesmos anos, em tomo
de 179 milhões de dólares anuais em incentivos para redução de produção
aos fazendeiros dos projetos de aproveitamento. O que era acrescentado
pelas lavouras por uma mão era tomada pela outra. Em ambos os casos, os
fazendeiros do leste pagaram de seus próprios bolsos, enviando seus im-
postos para mais regiões áridas, em seguida sofrendo a queda dos preços
das commodities provocada pela superprodução e, então, puxando a carteira
dos incentivos para redução da produção".
Por um longo tempo este país tem aperfeiçoado uma abrangente es-
tratégia de planejamento dos rios. Nós temos chamado esta estratégia de
"conservação", embora ela tenha mais refeito do que conservado o que a
natureza nos deu. A estratégia tem sido sempre baseada no pensamento tec-
nológico em vez do pensamento ecológico; planejadores têm definido suas
tarefas tomando os rios como sistemas separados, juntando-os novamente,
então, em termos de arranjos mais "úteis" e correspondendo no atacado as
expectativas dos fazendeiros20. Uma estratégia mais razoável poderia estar
concentrada na fazenda isolada, perguntado quais são suas necessidades e
como elas podem ser conseguidas com a menor interferência possível no
19 Risser (1981). Outras áreas com séria erosão são Iowa, que perdeu metade de sua esplêndida camada superior de solo em
um século e a nação Palouse, ao leste de Washington, perdeu 17 milhões de toneladas de um milhão de acres de lavoura - algo
como 200 tonelas por acre.
20 Alguns engenheiros estão começando a questionar a antiga autoconfiança. Elmo Huffman do Departamento de Recur-
sos Hídricos da Califórnia escreveu: "Nós devemos aprender que a interferência não é sinônimo de gerenciamento... Em muitos
casos, o gerenciamento mais pmdente é simplesmente preservar as coisas como elas são agora, e no máximo, tentar curar as
feridas tão descuidamente provocadas pelo homem no passado" (HUFFMAN, 1966). Ver também White (1977), o qual sugere
algumas mudanças de atitudes.
ciclo da água. Partir do específico e local é melhor do que do geral e glo-
bal. Desenvolver finalidades bem pensadas para a política pública da água.
Procurar, então, encontrar essas finalidades com a forma mais simples e
elegante possível do uso da água, maneiras econômicas e apropriadas para
as necessidades locais e capazes de durar indefinidamente.
21 Uma recomendação semelhante é feita também pelo grupo de estudos liderado pelo impecável economista agrícola con-
servacionista Earl Heady. Ver National Water Commission (1973). O precipitado grupo queria, porém, nenhum novo projeto
aprovado.
contrário, os fazendeiros do leste irão agravar a situação elevando os preços
e prejudicando em muito o ecossistema.
Mas desde que os fazendeiros têm sido há longo tempo induzidos pe-
los incentivos governamentais a se mudarem para o oeste e estabelecerem
seus planos de irrigação, eles não devem sofrer por causa dessa reversão de
política. O que se está necessitando é de um novo programa baseado nas
necessidades locais, equivalente àquele que foi criado na metade do século
XIX, que encorajará muitos fazendeiros do oeste a se realocarem em áreas
mais úmidas e a aprenderem melhores práticas, adequadas a esses luga-
res. Na maior parte da história nacional americana assumimos que ir para
frente era ir para o oeste. Agora, uma agricultura sustentável requer um
redirecionamento do progresso. Vá para o leste, homens e mulheres jovens,
e cresça com o país.
11 No original: "By now it should be evident that no market will ever pay farmers for accommodating themselves to their
watershed. To be sure, the market-place will reward long-range calculation more handsomely than many farmers are aware .
Em esclarecimento solicitado pelo tradutor, o autor escreveu: "It is possible, though not the norm, to emphasize long-range
productivity over short-run gain in a capitalist economy. Perhaps the most successful and long-lasting enterprises are those that
are run on that logic, disregarding the immediate pressures and panics of the marketplace but not sacrificing the ideal of making
money eventually. The economic rationality of capitalism is not necessarily or always short term." Este trecho foi acrescentado
ao texto (nota do tradutor).
13 O Terceiro Mundo, em face de uma pressão populacional muito maior, pode ser forçado a adotar uma violência ambien-
tal para sobreviver. Simplesmente para manter no mesmo estado suas necessidades de alimento, eles precisarão no ano 2000
perto de 22 milhões de novos hectares irrigados, conforme o prognóstico da Food and Agriculture Organization (1977, p. 4).
Quase quarenta anos atrás, Aldo Leopold escreveu que nós nunca vi-
veríamos bem com a natureza até que aprendêssemos a considerá-la mo-
ralmente. Temos que desenvolver — sustentava Leopold — um senso de
pertencimento a uma larga comunidade natural, a um grupo de pessoas
que têm muitos interesses e desejos acima dos nossos próprios. Nós temos
que cultivar uma sensibilidade moral para aquela bela e integra comunida-
de. Ele falou da necessidade de pensar a "terra ética", incluindo a respon-
sabilidade moral de todas as partes da ecologia como um todo24. Mas dado
à centralidade da água em nossas vidas e à magnitude dos problemas que
confrontamos ao cultivar nossas bacias hidrográficas é também fazer com
que o falar sobre a "ética da água" faça sentido. A água, afinal de tudo, co-
bre a maior parte da superfície do planeta. Até mais que do que a terra, a
água é a essência e o contexto da vida, a esfera de nosso ser e de outras cria-
turas. Tem um valor que ultrapassa o seu uso econômico em nossas fazen-
das. Preservar o valor da água através de uma nova agricultura americana
é uma extensão da ética tanto quanto da sabedoria.
24 O ensaio The land ethic de Leopold apareceu em seu Sand County Almanac. New York: Oxford University Press, 1949. Seu
filho Luna Leopold um dos maiores especialistas em hidrologia nos Estados Unidos e autor de muitos trabalhos tecnicamente
sofisticados como Water in environmental planning. Mas em nenhum lugar seu filho parece impressionado com a preocupacão
ética de seu pai ou ter procurado estender aquela preocupação para o uso humano dos rios. Mais uma vez, a obtenção de cre-
denciais científicas aparentemente tem sido alcançada ao custo da visão moral.
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