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Brasília, DF
Novembro, 2010 Introdução
O morangueiro pertence à família Rosaceae, gênero Fragaria, que possui cerca
de 20 espécies, sendo Fragaria x ananassa Duchesne a mais comumente
Autores cultivada em regiões de clima ameno. O morango é uma planta herbácea,
perene, com caule semi-subterrâneo e crescimento rente ao solo. É cultivado
Jorge Anderson Guimarães
Biol. D. Sc. Entomologia.
principalmente por pequenos produtores, oriundos da agricultura familiar. No
janderson@cnph. Brasil, o cultivo do morango concentra-se principalmente nos Estados do Rio
embrapa.br
Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais e mais recentemente, no Distrito
Miguel Michereff Filho Federal, com produção estimada em torno de 25 a 45 mil Kg.
Eng. Agr. D. Sc.
Entomologia. Historicamente, o morango tem sido vinculado ao excesso de resíduos de
miguel@cnph.embrapa.br
agrotóxicos encontrado nos frutos, devido à falta de critérios no uso destas
Matheus Geraldo Pires de substâncias para o controle de doenças e pragas. Muitas vezes, isto ocorre pela
Mello Ribeiro
Eng. Agr., Mestrando em falta de informação e o desconhecimento a respeito das pragas associadas ao
Agronomia. morangueiro e de seus métodos de manejo.
matheusgpmr@gmail.com
Ana Maria Resende Junqueira Essas pragas causam prejuízos relacionados à destruição das partes aéreas
Eng. Agr., PhD. e raízes das plantas, além do ataque ao fruto e a transmissão de viroses.
anamaria@unb.br
Destacam-se como pragas primárias ou pragas-chave, os ácaros fitófagos,
Ronaldo Setti de Liz cujos danos causam perdas econômicas expressivas à cultura e frequentemente
Eng. Agr. M. Sc. em
Gestão de Solos e Água. requerem medidas de controle. Outras são consideradas como secundárias, pois
setti@cnph.embrapa.br ocorrem em baixo nível populacional ou são de ocorrência esporádica, mantidas
sob controle pelos inimigos naturais presentes na cultura e, dessa forma, não
necessitam de controle químico.
Assim, esta Circular Técnica tem como objetivo descrever as pragas associadas
ao morangueiro, seus hábitos de vida e táticas de controle, a fim de auxiliar o
produtor na identificação das espécies e seu manejo adequado.
2 Descrição e manejo das principais pragas do morangueiro
1. Pragas-Chave
Características: são de difícil visualização, pois geralmente associados a formigas lava-pés, que
evitam a exposição ao sol e abrigam-se na parte ajudam na proteção e transporte desses insetos.
central da planta, nas folhas não expandidas, entre
os pecíolos, na base das pétalas, na face interna Sintomas e danos: os pulgões C. fragaefolli
das sépalas e na pilosidade dos frutos imaturos. são responsáveis pela transmissão do vírus do
mosqueamento do morangueiro. Já a espécie C.
Adultos – medem 0,3 mm de comprimento, com as forbesi ataca várias regiões da planta e, junto com
fêmeas de coloração castanho-clara ou branca; os as formigas atraídas por sua seiva, ocasionam sérios
machos são amarelados e menores que as fêmeas. prejuízos à cultura. O ataque ocorre principalmente
O dimorfismo sexual é bem característico. O ciclo na região do colo. No local danificado, as formigas
do ovo ao adulto dura entre 10 a 30 dias. formam montículos de terra, o que acarreta maior
prejuízo para a cultura e ainda confere maior
Sintomas e danos: em pequenas infestações causa proteção para os pulgões.
enrugamento na face superior das folhas; enquanto
que em altas infestações causa encarquilhamento Nível de controle: o controle deve ser realizado
da região da coroa. Os frutos, quando atacados, quando pelo menos 5% das plantas estiverem
tornam-se bronzeados na base, podendo secar, cair infestadas com colônias de pulgão.
e ter seu tamanho reduzido.
Ácaro da necrose do cítrus Brevipalpus phoenicis.
Pertence a família Tenuipalpidae e possui coloração
2. Pragas Secundárias marrom-avermelhada, corpo plano e achatado
dorso-ventralmente. Ataca os frutos, folhas e ramos
O morangueiro está sujeito ainda à ação de
causando clorose zonada.
pragas secundárias, de ocorrência esporádica, que
eventualmente podem ocasionar perdas à produção. Ácaro vermelho Tetranychus ludeni. Pertence
Entre elas, destacam-se: a família Tetranychidae e apresenta corpo com
coloração vermelha intensa. São conhecidos pela
Pulgões
abundância de teia produzida. As folhas atacadas
apresentam manchas branco-prateadas, que
Capitophorus fragaefolii Cock, 1901 (Hemiptera:
evoluem para clorose. Em grandes infestações,
Aphididae) Cerosipha forbesi Weed, 1889
progridem para necrose e caem, podendo levar a
Características: são insetos de um a três mm morte da planta.
de comprimento, com corpo periforme e mole,
Ácaro vermelho Olygonychus ilicis. Pertence a
antenas bem desenvolvidas e aparelho bucal
família Tetranychidae e são visíveis a olho nu. A
tipo sugador. No final do abdômen possuem dois
fêmea é bem avermelhada e maior que o macho.
apêndices tubulares laterais, chamados sifúnculos
Causam a formação de zonas cloróticas nas folhas,
e um central, denominada codícula, por onde é
que secam e caem.
expelida uma substância açucarada. São sugadores
que se alimentam da seiva elaborada e por meio Ácaros vermelhos Tetranychus telarius e T.
desse processo podem disseminar viroses entre as cinnabarinus. Pertencem a família Tetranychidae,
plantas. cujas fêmeas adultas são de coloração vermelha
intensa, enquanto que os machos são de coloração
C. fragaefolli – a forma alada possui coloração
esverdeada. As folhas atacadas por estes
amarelo-esverdeada, enquanto a áptera apresenta
artrópodes tornam-se cloróticas e posteriormente
coloração verde-amarelada e possuem pêlos
caem, diminuindo a produção.
claviformes abundantes no abdome.
Ácaro branco ou dos ponteiros Polyphagotarsonemus
C. forbesi – as formas aladas possuem comprimento latus. Pertence a família Tarsonemidae. São quase
de aproximadamente um a três mm, com o abdome invisíveis a olho nu, polífagos e cosmopolitas
mais claro que o tórax e a cabeça, enquanto que a Causam deformação de órgãos vegetativos.
forma áptera possui cor verde-escura a negra. Estão
4 Descrição e manejo das principais pragas do morangueiro
Lagarta rosca Agrotis ipsilon. Pertence a família Formiga lava pés Solenopsis saevissima. São da
Noctuidae, cuja mariposa possui coloração família Formicidae e possuem coloração marrom–
marrom, com manchas triangulares negras nas avermelhada ou quase preta. Não causam injúrias diretas
asas superiores. As lagartas possuem corpo com à planta; mas sim devido à construção de montículos
coloração cinza-claro, com habito de permanecerem de terra sobre toda a planta ou partes dela, inibindo a
enroladas (Figura 2). As lagartas cortam as plantas fotossíntese e retardando seu desenvolvimento.
jovens na região do colo, acarretando sua morte e
Formiga cortadeira Atta spp. Pertence a família
falhas na linha de cultivo.
Formicidae, com coloração avermelhada e três
Broca do fruto Lobiopa insularis. É um coleóptero pares de espinhos no dorso (Figura 5). Provocam
da família Nitidulidae que possui corpo ovalado e desfolhamento parcial ou total das plantas, podendo
achatado, com coloração marrom-clara e manchas levá-las a morte.
escuras e amarelas na região do dorso (Figura 3).
Cupins subterrâneos. São insetos da Ordem
Tanto os adultos como as larvas alimentam-se de
Isoptera, de coloração amarelada que vivem em
frutos maduros.
colônias, alimentando-se das raízes das plantas,
atrasando seu desenvolvimento.
Tripes Frankliniella occidentalis. Pertence a
família Thripidae, cujos adultos apresentam corpo Coró das hortaliças Aegopsis bolboceridus. É um
alongado, asas franjadas e com coloração amarela besouro da família Melolonthidae, cujo adulto
a marrom-escura (Figura 4). As plantas atacadas apresenta coloração bastante variável, com pernas
por esta espécie apresentam folhas retorcidas, espinhosas e antenas lameladas. As larvas são branco-
secas e amarelas. Pode ocorrer abortamento floral. leitosas e recurvadas e possuem três pares de pernas
Os frutos em desenvolvimento, quando atacados, (Figura 6). As larvas são subterrâneas e consomem as
apresentam estrias e tem seu valor reduzido. raízes das plantas, que se apresentam prostradas e
amareladas, posteriormente murcham e morrem.
Foto: Francisca N. P; Haji
Bicho tromba Naupactus divens. São besouros da Caracóis Helix aspersa. É um molusco da família
família Curculionidae que apresentam coloração Helicidae, de cor acinzentada e concha marrom-
cinza-escura, fosca e com rostro prolongado na clara, com manchas escuras. São mais ativos durante
parte inferior: A larva é branca com a cabeça escura. a noite, onde consomem plântulas, brotos, folhas,
O adulto consome as folhas, deixando-as com aspecto talos e as raízes. Os vegetais atacados também
rendilhado nas bordas enquanto que as larvas atacam apresentam rastros de muco e presença de fezes.
a região do colo, perfurando e formando galerias.
– Controle Biológico
spp., têm sido utilizados para o controle deste ácaro- Para o uso de agrotóxicos no manejo de pragas,
praga em regiões de clima úmido. recomenda-se:
Tabela 1. Produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para o controle de pragas
na cultura do morangueiro.
BOTTON. M.; FORTES, J. F.; AMARO, GUIMARAES, J. A.; MICHEREFF FILHO, M.;
M.; WEIHMANN, C. R.; GEBLER, L.; PAGOT, RIBEIRO, M. G. P. M.; LIZ, R. S.; GUEDES, I. M.
E.; VALDEBENITO SANHUEZA, R. M.; REISSER R. Ocorrência e manejo da broca-do-morangueiro
JUNIOR, C.; MELO, G. W. de; AMARANTE, C. V. no Distrito Federal. Embrapa Hortaliças, 2009. 5 p.
T. do; SANTOS, H. P. dos; BERNARDI, J.; SIMON, (Embrapa Hortaliças. Comunicado Técnico, 74).
N.; HOFFMANN, A.; FREIRE, J. de M.; ANTUNES,
HELLE, W.; SABELIS, M. W. (ed.). Spider mites:
L. E. C.; UENO, B.; RÜCKER, P. A.; MENEGUZZO,
their biology, natural enemies and control.
A.; PAGNON, H. A.; MONEGAT, V.; GRASSIANI,
Amsterdam: Elsevier, 1985. v. 1A, 405 p.
M. A.; CALEGARIO, F. F.; DIDONÉ, T.; VARGAS,
L.; RECH, V. J.; BLAUTH, L.; PASA, J.; BENDER,
KRANTZ, W.; WALTER, D. E. Manual of Acarology.
R. J.; PALOMBINI, M. C.; BORTOLOZZO, A.
3. ed. Lubbock: Texas Tech University Press, 2009.
R.; CONTE, A.; PAIVA, M.; COUTINHO, E.
816 p.
F.; NICKEL, O.; CALGARO. A.; PROTAS, J.
F. da. Sistema de produção de morango para LIZ, R. S.; GUEDES, I. M. R.; MICHEREFF FILHO,
mesa na região da serra gaúcha e encosta M.; RIBEIRO, M. G. P. M.; GUIMARAES, J. A.
superior do Nordeste. Bento Gonçalves: Embrapa Manejo do idiamim no cultivo do morangueiro.
Uva e Vinho, 2005. il., color. (Embrapa Uva e Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2009. 8 p.
Vinho. Sistemas de Produção, 6).Disponível em: (Embrapa Hortaliças. Comunicado Técnico, 69).
<http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/
FontesHTML/ Morango/MesaSerraGaucha/index. MORAES, G. J. de. Controle biológico de ácaros
htm> Acesso em: 30 de outubro de 2009. fitófagos com ácaros predadores. In: PARRA, J. R.
P.; BOTELHO, P. S. M.; CORREA-FERREIRA, B. S.;
BRASIL. MAPA. AGROFIT: Sistema de Agrotóxicos BENTO, J. M. S. (Ed.). Controle biológico no Brasil:
Fitossanitários. Disponível em <http://extranet. parasitóides e predadores. São Paulo: Manole,
agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_ 2002. p. 225-237.
cons> Acesso em: 09 de novembro de 2010.
MORAES, G. J.; FLECHTMANN, C. H. W. Manual de
CHIAVEGATO, L. G.; MISCHAN, M. M. Efeito do acarologia: acarologia básica e ácaros de plantas
ácaro Tetranychus (T.) urticae (Koch, 1836), 1963 cultivadas no Brasil. Ribeirão Preto: Holos, 2008. 308 p.
8 Descrição e manejo das principais pragas do morangueiro
Circular Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Comitê de Presidente: Warley M. Nascimento
Técnica, 90 Embrapa Hortaliças Publicações Editor Técnico: Mirtes F. Lima
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Expediente Normalização Bibliográfica: Antonia Veras de Souza
1a edição Editoração eletrônica: André L. Garcia
1a impressão (2011): 2000 exemplares