Pragas Quiabo
Pragas Quiabo
Pragas Quiabo
Brasília, DF
Outubro, 2014
Autores Introdução
Alexandre Pinho de Moura O quiabeiro (Abelmoschus esculentus L.) é uma hortaliça-fruto originária da
Eng. Agr., D.Sc. Etiópia, pertence à família Malvaceae e foi introduzida no Brasil pelos escravos
Embrapa Hortaliças
africanos. Desenvolve-se bem em regiões de clima quente, com temperaturas
Jorge Anderson variando entre 18ºC e 35ºC, o que também favorece a ocorrência e o
Guimarães
desenvolvimento de pragas.
Biólogo, D.Sc.
Embrapa Hortaliças
Dentre as pragas que atacam a cultura do quiabeiro destacam-se o pulgão-
do-algodoeiro Aphis gossypii Glover, o pulgão-da-raiz Smynthurodes betae
(Westwood) (Hemiptera: Aphididae), o tripes Frankliniella schultzei (Trybom)
(Thysanoptera: Thripidae), o ácaro-rajado Tetranychus urticae Koch, o ácaro-
vermelho Tetranychus ludeni Zacher, o ácaro-verde Mononychellus planki
(McGregor) (Acari: Tetranychidae), o ácaro-branco Polyphagotarsonemus
latus (Banks) (Acari: Tarsonemidae) e o ácaro-da-erinose Aceria (=Eriophyes)
esculenti Keifer (Acari: Eriophyidae), a lagarta-rosca Agrotis ipsilon (Hufnagel),
a lagarta Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) e a lagarta-
rosada Pectinophora gossypiella (Saunders) (Lepidoptera: Gelechiidae), a broca-
da-raiz Eutinobothrus brasiliensis (Hambleton) (Coleoptera: Curculionidae), a
cigarrinha-verde Empoasca kraemeri Ross & Moore (Hemiptera: Cicadellidae) e a
vaquinha Allocolaspis brunnea (Jacoby) (Coleoptera: Chrysomelidae).
Essas pragas são responsáveis por causarem danos diretos à cultura. Uma
descrição sobre a bioecologia das principais pragas do quiabeiro, bem como os
sintomas de ataque e as medidas de controle são apresentadas a seguir. Com
2 Manejo de pragas na cultura do quiabeiro
base nessas informações podem-se estimar as temperaturas iguais ou inferiores a 10ºC e iguais
épocas mais favoráveis para a ocorrência de cada ou superiores a 30ºC são prejudiciais, causando
praga na cultura. acentuada mortalidade, principalmente de suas
formas jovens (ninfas).
Visando facilitar a identificação das pragas e a
implementação de suas respectivas medidas de Tripes
controle, esses organismos foram reunidos em dois
grupos: 1) pragas que atacam folhas, hastes, flores As formas jovens (ninfas) de F. schultzei
e frutos; e, 2) pragas que atacam raízes e o coleto apresentam coloração amarelada e são ápteras
(região de transição entre a raiz e o caule) das (sem asas), enquanto os adultos são marrom-
plantas. escuros e apresentam asas longas e franjadas;
os adultos chegam a medir cerca de 3 mm de
comprimento. Esses insetos também podem formar
Pragas que atacam folhas, hastes, numerosas colônias nas plantas, raspando as
flores e frutos folhas e alimentando-se do conteúdo celular que
extravasa, podendo levar a planta à morte. Atacam,
Pulgão preferencialmente, as partes mais tenras das
plantas, tais como folhas jovens, brotações novas
A espécie A. gossypii (Figura 1), também conhecida
e flores. A proliferação dessa espécie é favorecida
como pulgão-do-algodoeiro, apresenta coloração
por períodos quentes e secos, mas também pode
variável do amarelo-claro ao verde-escuro e mede
ocorrer em condições de baixas temperaturas
cerca de 2 mm de comprimento. Adultos e ninfas
associadas à estiagem.
dessa espécie localizam-se, preferencialmente,
na face inferior das folhas do quiabeiro ou em Ácaros
brotos novos, onde formam colônias numerosas.
Alimentam-se sugando a seiva, o que prejudica Fêmeas de T. urticae colocam seus ovos, de
sensivelmente a planta. Temperaturas em formato esférico e coloração amarelada, entre os
torno de 24-27ºC são bastante favoráveis ao fios de teia por elas produzidos. Nesta espécie
desenvolvimento dessa espécie. Nessas condições, há acentuada diferença entre os sexos, sendo as
seu ciclo de vida tem duração média de 15 dias fêmeas ovaladas e os machos apresentando a
e a reprodução é favorecida. Por outro lado, extremidade posterior do abdome mais estreita. Os
adultos medem cerca de 0,3 mm de comprimento.
As fêmeas geralmente apresentam duas manchas
Foto: Jorge Anderson Guimarães
A dispersão desse ácaro ocorre principalmente pelo apresentam o terço distal da asa ligeiramente mais
vento. Localiza-se sobre os órgãos verdes e mais escuro, contendo, ainda, uma pequena mancha
tenros do quiabeiro, onde se alimenta da seiva; escura, em formato de rim, na região central da asa
o processo de alimentação permite a introdução (Figura 5). As asas posteriores de ambos os sexos
de toxinas no tecido vegetal, responsável pela têm coloração mais clara em relação às anteriores
proliferação celular, com consequente formação e apresentam a margem da extremidade apical de
de galhas (eríneas), que servem de abrigo e coloração marrom.
proteção ao ácaro. Os frutos atacados tornam-se
imprestáveis para a comercialização e o consumo; Os ovos são depositados, isoladamente ou
quando as galhas ocorrem na brotação terminal, agrupados, preferencialmente na face superior das
ocorre a paralização do crescimento da planta, folhas das plantas hospedeiras, mas também sobre
com consequente emissão de brotações laterais, os ramos, flores, frutos e brotações, normalmente
tornando a planta improdutiva. Quando o ataque durante o período noturno. Os ovos apresentam
do ácaro às plantas ocorre no período de inverno, coloração branco-amarelada com aspecto brilhante
os danos são considerados maiores, provavelmente logo após a sua oviposição, assumindo coloração
devido a uma menor taxa de crescimento da planta marrom-escura próximo da eclosão.
ocorrida durante o período mais frio do ano. Essa
A fase larval de H. armigera apresenta de cinco a
espécie tem sido frequentemente encontrada em
seis ínstares; a partir do terceiro ínstar, as larvas
cultivos de quiabeiro no Planalto Central brasileiro.
apresentam coloração variando do amarelo-palha ao
Lagartas
Foto: Alexandre Pinho de Moura
limbo foliar; passam o dia escondidos no solo, mm de envergadura e apresentam asas anteriores
junto ao caule da planta da qual se alimentam. Os de coloração marrom com algumas manchas
adultos, provavelmente, apresentam fototropismo pretas e, as posteriores, semi-transparentes.
negativo e geotropismo positivo. As larvas dessa As fêmeas dessa espécie apresentam elevada
vaquinha vivem no solo, alimentando-se das raízes. capacidade reprodutiva, podendo cada fêmea
Para a região de Campinas, Estado de São Paulo, a ovipositar, em média, 1.000 ovos ao longo de toda
ocorrência dessa praga foi relatada para os meses sua vida. Os ovos apresentam coloração branca,
novembro, dezembro, janeiro e fevereiro. de onde eclodem lagartas de coloração pardo-
acinzentada escura, que podem atingir até 45 mm
de comprimento. As lagartas possuem hábitos
Pragas que atacam raízes e o caule
noturnos e permanecem enroladas em abrigos no
das plantas solo durante o dia. Atacam plantas novas, cortando-
Pulgão as rente ao solo. São capazes de destruir várias
plantas em um único dia, tendo como consequência
A espécie S. betae apresenta adultos de coloração a redução do número de plantas, sendo necessário
preta, enquanto suas ninfas têm coloração branco- o replantio de até 50% da área. Após a fase larval,
pérola; medem cerca de 2 mm de comprimento. que dura cerca de 30 dias, a lagarta se transforma
Tanto as formas ápteras (sem asas) como as em pupa no solo e permanece nesse estágio por
aladas (com asas) fixam-se às raízes das plantas, cerca de 15 dias, quando então emerge o adulto.
onde se alimentam sugando a seiva, podendo Solos que apresentem elevado teor de matéria
causar amarelecimento e murcha e prejudicar o orgânica favorecem sua ocorrência.
crescimento das plantas atacadas. Quando o ataque
ocorre no início do desenvolvimento da cultura, Broca-da-raiz
pode acarretar a morte das plantas. É uma espécie
Os principais hospedeiros da broca-da-raiz, E.
de ocorrência esporádica nas áreas de produção.
brasiliensis, pertencem aos gêneros Abelmoschus
Condições climáticas favoráveis, tais como altas
(ao qual pertence o quiabeiro) e Gossypium (ao
temperaturas seguidas por períodos de estiagem,
são favoráveis ao desenvolvimento dessa espécie. qual pertence o algodoeiro), ambos da família
Malvaceae. Os adultos da broca-da-raiz apresentam
Lagarta coloração geral pardo-escura, são pouco brilhantes
e medem cerca de 5 mm de comprimento. A fêmea
A lagarta-rosca, A. ipsilon (Figura 7), é um inseto deposita, em média, um ovo por dia, na base do
polífago que ataca, além do quiabo, várias outras caule da planta; os ovos apresentam coloração
hortaliças como alface, batata, berinjela, brócolis, creme-esbranquiçada. As larvas são ápodas (sem
cebola, chicória, couve, couve-flor, pimenta, pernas) apresentam coloração que varia do branco
pimentão, repolho e tomate. Os adultos dessa ao creme; quando completamente desenvolvidas
espécie são mariposas que medem cerca de 35 podem medir cerca de 7 mm de comprimento. Após
a eclosão a larva inicia sua alimentação, construindo
galerias nas raízes e no coleto da planta. Em face
Foto: Jorge Anderson Guimarães
latus), de calda sulfocálcica (P. latus e T. urticae), atraem (“Pull”) a praga. Esse sistema é composto
de óleo mineral, de óleo vegetal emulsionável ou de por duas culturas, sendo uma considerada a cultura
inseticida à base de extrato de sementes de nim (P. principal (o quiabeiro, por exemplo), a qual se
latus, T. ludeni, T. urticae e M. planki), estes três deseja proteger contra a praga, e a outra a cultura
últimos na concentração de 0,5%. armadilha (guandu, por exemplo), para onde a praga
deverá ser atraída e, posteriormente, controlada.
Desfolhadores Nesse caso, o guandu que será utilizado como
cultura armadilha deverá ser plantada nas áreas
O controle dessas espécies deve ser realizado de
adjacentes ao quiabeiro. Assim, quando se pulveriza
forma preventiva, por meio de aração profunda na
óleo de nim, por exemplo, sobre o quiabeiro e
área (controle mecânico), de três a seis semanas
açúcar ou feromônio de agregação de H. armigera
antes do plantio, contribuindo assim para diminuir
sobre as plantas de guandu, as fêmeas dessa
sua infestação. Além disso, deve-se manter a área
espécie evitarão ovipositar sobre o quiabeiro (efeito
livre de plantas daninhas e de restos de cultura,
“push”) e ovipositarão nas plantas de guandu (efeito
após a aração e plantio, evitando-se o uso de
“pull”). Da mesma forma, as lagartas que estiverem
cobertura morta ou restos de capina na área de
presentes no quiabeiro terão dificuldade de se
cultivo.
alimentar na cultura devido à ação inseticida do óleo
Também não há agrotóxicos registrados no MAPA de nim que impede sua alimentação (efeito “push”),
para o controle de H. armigera, da lagarta-rosca (A. mas se alimentarão normalmente no guandu (efeito
ipsilon) ou da vaquinha (A. brunnea) na cultura do “pull”). Para que essa estratégia tenha efeito no
quiabeiro. combate à H. armigera, as lagartas também devem
ser controladas na cultura armadilha, antes que
Broqueadores de frutos e de órgãos subterrâneos atinjam o estágio de pupa, por meio da destruição
da cultura armadilha, por exemplo.
O monitoramento das espécies H. armigera e P.
gossypiella pode ser realizado por meio do uso de Assim como comentado anteriormente para as
armadilhas contendo feromônio sexual sintético pragas desfolhadoras do quiabeiro, o controle
específico. Recomenda-se utilizar uma armadilha das duas espécies broqueadoras (A. brunnea e E.
por hectare/talhão, em regiões onde a ocorrência brasiliensis) de órgãos subterrâneos que ocorrem
da praga na cultura do quiabeiro é frequente. As na cultura do quiabeiro, deve ser realizado de forma
armadilhas devem ser instaladas na área de cultivo preventiva, por meio de aração profunda na área.
a 1 m de altura do solo. A intensidade de captura A eliminação de plantas daninhas e de restos de
de adultos dessas duas espécies nas armadilhas cultura também auxilia na redução da população
fornecerá uma previsão do potencial de ocorrência dessas espécies de insetos-praga na área de cultivo.
de ovos e de lagartas e, consequentemente, de
danos na cultura.
Referências
Como medidas de controle, deve-se realizar o
isolamento das áreas de plantio por data, evitando- ARGOLO, P. S. Gestión integrada de la araña roja
se o escalonamento de plantio em áreas próximas, Tetranychus urticae Kock (Acari: Tetranychidae):
bem como planejar um período de entressafra sem a optimización de su control biológico en clementinos.
presença de plantas hospedeiras no campo. Coletar 2012. 140p. Tesis (Doctorado en Recursos y
e destruir os frutos atacados por pragas e caídos Tecnologías Agrpicolas) – Universidad Politécnica
sob as plantas, bem como coletar e destruir os de Valencia, Valencia, España.
restos de cultura também são recomendados.
ÁVILA, C. J.; VIVAN, L. M.; TOMQUELSKI, G. V.
No caso específico da H. armigera, uma Ocorrência, aspectos biológicos, danos e estratégias
estratégia de controle denominada de “Push de manejo de Helicoverpa armigera (Hübner)
and Pull” tem sido utilizada para o controle da (Lepidoptera: Noctuidae) nos sistemas de produção
praga. Essa estratégia de manejo baseia-se na agrícola. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste,
manipulação comportamental da praga por meio da 2013. 12p. (Embrapa Agropecuária Oeste. Circular
implementação de técnicas que repelem (“Push”) ou Técnica, 23).
Manejo de pragas na cultura do quiabeiro 9
Anotações
Manejo de pragas na cultura do quiabeiro 11
12 Manejo de pragas na cultura do quiabeiro