Pragas Quiabo

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ISSN 1415-3033

Manejo de pragas na cultura do quiabeiro

138 Foto: Alexandre Pinho de Moura


Técnica
Circular

Brasília, DF
Outubro, 2014

Autores Introdução
Alexandre Pinho de Moura O quiabeiro (Abelmoschus esculentus L.) é uma hortaliça-fruto originária da
Eng. Agr., D.Sc. Etiópia, pertence à família Malvaceae e foi introduzida no Brasil pelos escravos
Embrapa Hortaliças
africanos. Desenvolve-se bem em regiões de clima quente, com temperaturas
Jorge Anderson variando entre 18ºC e 35ºC, o que também favorece a ocorrência e o
Guimarães
desenvolvimento de pragas.
Biólogo, D.Sc.
Embrapa Hortaliças
Dentre as pragas que atacam a cultura do quiabeiro destacam-se o pulgão-
do-algodoeiro Aphis gossypii Glover, o pulgão-da-raiz Smynthurodes betae
(Westwood) (Hemiptera: Aphididae), o tripes Frankliniella schultzei (Trybom)
(Thysanoptera: Thripidae), o ácaro-rajado Tetranychus urticae Koch, o ácaro-
vermelho Tetranychus ludeni Zacher, o ácaro-verde Mononychellus planki
(McGregor) (Acari: Tetranychidae), o ácaro-branco Polyphagotarsonemus
latus (Banks) (Acari: Tarsonemidae) e o ácaro-da-erinose Aceria (=Eriophyes)
esculenti Keifer (Acari: Eriophyidae), a lagarta-rosca Agrotis ipsilon (Hufnagel),
a lagarta Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) e a lagarta-
rosada Pectinophora gossypiella (Saunders) (Lepidoptera: Gelechiidae), a broca-
da-raiz Eutinobothrus brasiliensis (Hambleton) (Coleoptera: Curculionidae), a
cigarrinha-verde Empoasca kraemeri Ross & Moore (Hemiptera: Cicadellidae) e a
vaquinha Allocolaspis brunnea (Jacoby) (Coleoptera: Chrysomelidae).

Essas pragas são responsáveis por causarem danos diretos à cultura. Uma
descrição sobre a bioecologia das principais pragas do quiabeiro, bem como os
sintomas de ataque e as medidas de controle são apresentadas a seguir. Com
2 Manejo de pragas na cultura do quiabeiro

base nessas informações podem-se estimar as temperaturas iguais ou inferiores a 10ºC e iguais
épocas mais favoráveis para a ocorrência de cada ou superiores a 30ºC são prejudiciais, causando
praga na cultura. acentuada mortalidade, principalmente de suas
formas jovens (ninfas).
Visando facilitar a identificação das pragas e a
implementação de suas respectivas medidas de Tripes
controle, esses organismos foram reunidos em dois
grupos: 1) pragas que atacam folhas, hastes, flores As formas jovens (ninfas) de F. schultzei
e frutos; e, 2) pragas que atacam raízes e o coleto apresentam coloração amarelada e são ápteras
(região de transição entre a raiz e o caule) das (sem asas), enquanto os adultos são marrom-
plantas. escuros e apresentam asas longas e franjadas;
os adultos chegam a medir cerca de 3 mm de
comprimento. Esses insetos também podem formar
Pragas que atacam folhas, hastes, numerosas colônias nas plantas, raspando as
flores e frutos folhas e alimentando-se do conteúdo celular que
extravasa, podendo levar a planta à morte. Atacam,
Pulgão preferencialmente, as partes mais tenras das
plantas, tais como folhas jovens, brotações novas
A espécie A. gossypii (Figura 1), também conhecida
e flores. A proliferação dessa espécie é favorecida
como pulgão-do-algodoeiro, apresenta coloração
por períodos quentes e secos, mas também pode
variável do amarelo-claro ao verde-escuro e mede
ocorrer em condições de baixas temperaturas
cerca de 2 mm de comprimento. Adultos e ninfas
associadas à estiagem.
dessa espécie localizam-se, preferencialmente,
na face inferior das folhas do quiabeiro ou em Ácaros
brotos novos, onde formam colônias numerosas.
Alimentam-se sugando a seiva, o que prejudica Fêmeas de T. urticae colocam seus ovos, de
sensivelmente a planta. Temperaturas em formato esférico e coloração amarelada, entre os
torno de 24-27ºC são bastante favoráveis ao fios de teia por elas produzidos. Nesta espécie
desenvolvimento dessa espécie. Nessas condições, há acentuada diferença entre os sexos, sendo as
seu ciclo de vida tem duração média de 15 dias fêmeas ovaladas e os machos apresentando a
e a reprodução é favorecida. Por outro lado, extremidade posterior do abdome mais estreita. Os
adultos medem cerca de 0,3 mm de comprimento.
As fêmeas geralmente apresentam duas manchas
Foto: Jorge Anderson Guimarães

verde-escuras no dorso, sendo uma de cada lado.


Adultos e ninfas de T. urticae localizam-se na face
inferior das folhas, onde depositam seus ovos e se
alimentam. Causam injúrias que se caracterizam
pela presença de clorose generalizada das folhas
(enquanto as nervuras permanecem verdes), pela
presença de teia envolvendo uma ou várias folhas e
pela queda acentuada e prematura de folhas, com
consequente morte das plantas, quando os ataques
são severos. Temperaturas elevadas e condições
de baixa umidade relativa do ar favorecem
o crescimento populacional dessa espécie.
Temperaturas por volta de 30ºC são consideradas
ótimas ao desenvolvimento do ácaro-rajado,
enquanto que em baixas temperaturas T. urticae
apresenta pouca atividade.

Outra espécie importante é T. ludeni. Os adultos


Figura 1. Pulgões da espécie Aphis gossypii. apresentam coloração vermelha intensa. As fêmeas
Manejo de pragas na cultura do quiabeiro 3

medem cerca de 0,45 mm de comprimento e 0,23

Foto: Frederick Mendes Aguiar


mm de largura, enquanto os machos são menores
e medem 0,26 mm de comprimento e 0,15 mm
de largura. Fêmeas jovens dessa espécie são mais
claras e logo após a última ecdise apresentam
coloração vermelho-clara. Temperaturas inferiores
a 14ºC são prejudiciais a T. ludeni e impedem
seu desenvolvimento, enquanto que temperaturas
em torno de 30ºC propiciam maior capacidade de
reprodução e menor tempo de desenvolvimento. As
fêmeas adultas de T. ludeni também tecem teias e
provocam injúrias e sintomas semelhantes aos do
ácaro-rajado.

O ácaro M. planki apresenta coloração geral verde e Figura 3. Ovos do ácaro-branco,


pernas amareladas. Os ovos são colocados ao longo Polyphagotarsonemus latus.
das nervuras das folhas. Ataca, preferencialmente,
as folhas mais novas da planta. Ocorrem em ambas de comprimento e 0,08 mm de largura; possuem
as faces das folhas e, portanto, é mais facilmente o quarto par de pernas avantajado (tipo clavado),
lavado pelas chuvas. Elevadas populações desse o qual não exerce função de locomoção, mas
ácaro encontram-se associadas à época seca do permite carregar a “pupa” da fêmea (Figuras 4A e
ano. 4B), para que a cópula seja garantida no momento
de sua emergência, funcionando como mecanismo
O ácaro-branco, P. latus (Figura 2), ocorre em um de perpetuação da espécie. Seu desenvolvimento
amplo espectro de hospedeiros, incluindo culturas é favorecido, de modo geral, pela combinação de
de importância econômica como algodão, mamão, temperatura elevadas e umidade relativa do ar
feijão, tomate, pimentão e pimenta, além do elevadas, associadas à baixa luminosidade.
quiabo. Fêmeas dessa espécie medem cerca de
0,17 mm de comprimento e 0,11 mm de largura. De modo geral, as infestações iniciais do ácaro-
Colocam seus ovos, de coloração branca, formato branco ocorrem nas bordaduras e/ou em reboleiras,
achatado e com saliências superficiais (Figura 3), espalhados pelo cultivo. É encontrado mais
na face inferior das folhas. Não tecem teias. Os frequentemente na parte inferior das folhas e
machos são menores, medindo cerca de 0,14 mm ataca, preferencialmente, as folhas mais novas da
parte superior das plantas, sugando o conteúdo
celular.
Foto: Frederick Mendes Aguiar

Sua disseminação se dá pelo vento, por meio de


estruturas vegetais infestadas e transportadas de
uma área para outra, de forma natural pelo contato
entre a folhagem das plantas e, ainda, por meio da
relação forética, que ocorre entre o ácaro-branco
e a mosca-branca B. tabaci e algumas espécies de
pulgões, os quais ajudam no transporte do ácaro-
branco.

O ácaro causador da erinose-do-quiabeiro, A.


esculenti, é invisível a olho nu, apresenta coloração
branco-amarelada e formato vermiforme. Mede de
140 µm a 175 µm de comprimento e de 50 µm a 55
µm de largura. Caracteriza-se por apresentar apenas
Figura 2. Ácaros da espécie Polyphagotarsonemus dois pares de pernas, sendo que as do primeiro par
latus. são mais longas que as do segundo.
4 Fotos: Frederick Mendes Aguiar
Manejo de pragas na cultura do quiabeiro

Figura 4. Macho do ácaro-branco, Polyphagotarsonemus latus, transportando “pupa” da fêmea.

A dispersão desse ácaro ocorre principalmente pelo apresentam o terço distal da asa ligeiramente mais
vento. Localiza-se sobre os órgãos verdes e mais escuro, contendo, ainda, uma pequena mancha
tenros do quiabeiro, onde se alimenta da seiva; escura, em formato de rim, na região central da asa
o processo de alimentação permite a introdução (Figura 5). As asas posteriores de ambos os sexos
de toxinas no tecido vegetal, responsável pela têm coloração mais clara em relação às anteriores
proliferação celular, com consequente formação e apresentam a margem da extremidade apical de
de galhas (eríneas), que servem de abrigo e coloração marrom.
proteção ao ácaro. Os frutos atacados tornam-se
imprestáveis para a comercialização e o consumo; Os ovos são depositados, isoladamente ou
quando as galhas ocorrem na brotação terminal, agrupados, preferencialmente na face superior das
ocorre a paralização do crescimento da planta, folhas das plantas hospedeiras, mas também sobre
com consequente emissão de brotações laterais, os ramos, flores, frutos e brotações, normalmente
tornando a planta improdutiva. Quando o ataque durante o período noturno. Os ovos apresentam
do ácaro às plantas ocorre no período de inverno, coloração branco-amarelada com aspecto brilhante
os danos são considerados maiores, provavelmente logo após a sua oviposição, assumindo coloração
devido a uma menor taxa de crescimento da planta marrom-escura próximo da eclosão.
ocorrida durante o período mais frio do ano. Essa
A fase larval de H. armigera apresenta de cinco a
espécie tem sido frequentemente encontrada em
seis ínstares; a partir do terceiro ínstar, as larvas
cultivos de quiabeiro no Planalto Central brasileiro.
apresentam coloração variando do amarelo-palha ao
Lagartas
Foto: Alexandre Pinho de Moura

A espécie H. armigera foi recentemente introduzida


no Brasil, sendo que os primeiros focos dessa praga
foram registrados no ano de 2011, na região oeste
da Bahia. Inicialmente, foram observadas altas
infestações da praga em lavouras de algodoeiro,
soja, feijão e milho; no entanto, sua ocorrência
também tem sido registrada para as culturas do
tomateiro, pimentão, batata, ervilha e quiabo. Os
frutos e tuberculos atacados tornam-se imprestáveis
para o consumo.

Fêmeas adultas de H. armigera apresentam o


primeiro par de asas de coloração amarelada; os
machos exibem coloração geral cinza-esverdeada e Figura 5. Macho adulto de Helicoverpa armigera.
Manejo de pragas na cultura do quiabeiro 5

verde, marrom-avermelhada ou preta, influenciada Cigarrinha-verde


pelo tipo de alimento consumido. Também são
detalhes característicos das lagartas dessa espécie Os adultos de E. kraemeri (Figura 6) medem
a presença de finas linhas brancas laterais e cerca de 3 mm de comprimento, têm coloração
de pelos. A partir do quarto ínstar, as lagartas verde e apresentam espinhos nas tíbias das
apresentam tubérculos abdominais bastante visíveis pernas posteriores. Cada fêmea põe, em média,
na região dorsal do primeiro segmento abdominal, 60 ovos ao longo de sua vida. As ninfas são
de coloração escura, os quais se encontram menores que os adultos e também apresentam
dispostos formando um semicírculo, em formato coloração mais clara, além de possuírem o hábito
de sela. Quando tocadas, as lagartas apresentam de se locomover lateralmente. Ninfas e adultos
um comportamento bastante peculiar, encurvando- localizam-se na parte inferior das folhas, onde se
se de modo que sua cápsula cefálica aproxime-se alimentam sugando a seiva da planta. As fêmeas
adultas realizam sua postura dentro do tecido da
do primeiro par de falsas pernas, permanecendo
planta, preferencialmente ao longo das nervuras
nesta posição por algum tempo. Completamente
das folhas, mas também no pecíolo e no caule.
desenvolvida, a lagarta apresenta de 30 a 40 mm
Os sintomas decorrentes do ataque dessa praga
de comprimento.
são muito semelhantes à ocorrência de viroses.
A pupa de H. armigera tem coloração marrom Os danos na planta são causados devido à injeção
brilhante e cerca de 17 mm de comprimento. A fase toxinas na planta durante a alimentação do inseto.
de pupa ocorre no solo, podendo ou não ocorrer Elevadas populações dessa praga estão relacionadas
diapusa nessa espécie, dependendo das condições à ocorrência de períodos de baixas intensidade
climáticas. e frequência de chuvas, associadas a altas
temperaturas.
Essa praga apresenta elevadas capacidades
de sobrevivência e de adaptação a condições Vaquinha
ambientais adversas, tais como excesso calor, frio
A vaquinha A. brunnea é uma praga considerada
ou seca, sendo possível a ocorrência de várias
de grande importância para o quiabeiro e que
gerações ao longo do ano, pois seu ciclo de ovo
merece grande atenção, pois ataca tanto a parte
a adulto pode ser completando de quatro a cinco
aérea como as raízes da cultura. É um besouro
semanas.
de tamanho reduzido (5 mm de comprimento),
de hábito noturno e que apresenta coloração
A espécie P. gossypiella, também conhecida como
marrom-avermelhada. Os adultos dessa espécie
lagarta-rosada, apresenta grande importância
alimentam-se do pecíolo e de partes novas das
econômica para a cultura do quiabo. As fêmeas
plantas, causando dobramento e secamento do
apresentam hábitos noturnos e depositam seus
ovos, de coloração branco-esverdeada ou amarelo-
Foto: Jorge Anderson Guimarães

pálida, nas brácteas, nos botões florais ou


diretamente nas flores já abertas, isoladamente
ou em pequenos grupos. Logo após a eclosão, a
larva tem coloração geral branca, sendo a cabeça
de coloração escura; penetra nos frutos e destrói
toda a parte interna, incluindo as sementes.
Completamente desenvolvidas, as lagartas
apresentam coloração róseo-amarelada, chegando
a atingir cerca de 12 mm de comprimento;
transformam-se em pupas na planta ou no solo. Os
adultos são pequenas mariposas que medem de 15
mm a 19 mm de envergadura e apresentam as asas
posteriores de aspecto bronzeado. Sua ocorrência
é favorecida por períodos chuvosos e temperaturas Figura 6. Ninfas da cigarrinha-verde, Empoasca
elevadas. kraemeri.
6 Manejo de pragas na cultura do quiabeiro

limbo foliar; passam o dia escondidos no solo, mm de envergadura e apresentam asas anteriores
junto ao caule da planta da qual se alimentam. Os de coloração marrom com algumas manchas
adultos, provavelmente, apresentam fototropismo pretas e, as posteriores, semi-transparentes.
negativo e geotropismo positivo. As larvas dessa As fêmeas dessa espécie apresentam elevada
vaquinha vivem no solo, alimentando-se das raízes. capacidade reprodutiva, podendo cada fêmea
Para a região de Campinas, Estado de São Paulo, a ovipositar, em média, 1.000 ovos ao longo de toda
ocorrência dessa praga foi relatada para os meses sua vida. Os ovos apresentam coloração branca,
novembro, dezembro, janeiro e fevereiro. de onde eclodem lagartas de coloração pardo-
acinzentada escura, que podem atingir até 45 mm
de comprimento. As lagartas possuem hábitos
Pragas que atacam raízes e o caule
noturnos e permanecem enroladas em abrigos no
das plantas solo durante o dia. Atacam plantas novas, cortando-
Pulgão as rente ao solo. São capazes de destruir várias
plantas em um único dia, tendo como consequência
A espécie S. betae apresenta adultos de coloração a redução do número de plantas, sendo necessário
preta, enquanto suas ninfas têm coloração branco- o replantio de até 50% da área. Após a fase larval,
pérola; medem cerca de 2 mm de comprimento. que dura cerca de 30 dias, a lagarta se transforma
Tanto as formas ápteras (sem asas) como as em pupa no solo e permanece nesse estágio por
aladas (com asas) fixam-se às raízes das plantas, cerca de 15 dias, quando então emerge o adulto.
onde se alimentam sugando a seiva, podendo Solos que apresentem elevado teor de matéria
causar amarelecimento e murcha e prejudicar o orgânica favorecem sua ocorrência.
crescimento das plantas atacadas. Quando o ataque
ocorre no início do desenvolvimento da cultura, Broca-da-raiz
pode acarretar a morte das plantas. É uma espécie
Os principais hospedeiros da broca-da-raiz, E.
de ocorrência esporádica nas áreas de produção.
brasiliensis, pertencem aos gêneros Abelmoschus
Condições climáticas favoráveis, tais como altas
(ao qual pertence o quiabeiro) e Gossypium (ao
temperaturas seguidas por períodos de estiagem,
são favoráveis ao desenvolvimento dessa espécie. qual pertence o algodoeiro), ambos da família
Malvaceae. Os adultos da broca-da-raiz apresentam
Lagarta coloração geral pardo-escura, são pouco brilhantes
e medem cerca de 5 mm de comprimento. A fêmea
A lagarta-rosca, A. ipsilon (Figura 7), é um inseto deposita, em média, um ovo por dia, na base do
polífago que ataca, além do quiabo, várias outras caule da planta; os ovos apresentam coloração
hortaliças como alface, batata, berinjela, brócolis, creme-esbranquiçada. As larvas são ápodas (sem
cebola, chicória, couve, couve-flor, pimenta, pernas) apresentam coloração que varia do branco
pimentão, repolho e tomate. Os adultos dessa ao creme; quando completamente desenvolvidas
espécie são mariposas que medem cerca de 35 podem medir cerca de 7 mm de comprimento. Após
a eclosão a larva inicia sua alimentação, construindo
galerias nas raízes e no coleto da planta. Em face
Foto: Jorge Anderson Guimarães

disso, verifica-se murchamento e seca das folhas, o


que pode ocorrer tanto em plantas jovens, quanto
em plantas bem desenvolvidas. Muitas plantas
morrem antes de atingir a altura de 20 cm a 25
cm. Solos úmidos, áreas de baixada próximas a rios
e ou cursos d’água, áreas de plantio direto ricas
em matéria orgânica, áreas onde não se efetua a
destruição de restos culturais ou rotação de cultura
são bastante favoráveis à ocorrência da praga. Em
anos com precipitações elevadas durante o outono
e inverno, o ataque dessa broca tende a ser maior a
Figura 7. Lagarta-rosca, Agrotis ipsilon. partir do início da primavera do ano subsequente.
Manejo de pragas na cultura do quiabeiro 7

Vaquinha mais novo, de forma a desfavorecer o deslocamento


das pragas dos talhões velhos para os novos.
Para consultar descrição, bioecologia e injúrias
causadas pela vaquinha A. brunnea vide “Pragas Em pequenas áreas de cultivo, pode-se utilizar palha
que atacam folhas, hastes, flores e frutos” de arroz, capim seco ou plástico como cobertura de
(Vaquinha). solo; além de proteger as plantas, esses materiais
têm efeito na repelência das formas aladas (com
asas) migrantes dos insetos sugadores. A palha
Táticas de controle
de arroz deve ser colocada em faixas de 30 cm de
A maneira mais eficiente e econômica de se largura ao longo das linhas de plantio ou mesmo
prevenir os danos ocasionados por pragas consiste cobrindo toda a extensão das entrelinhas de cultivo.
na aplicação do conhecimento agronômico
disponível, por meio da manipulação do ambiente de A eliminação de plantas hospedeiras (silvestres
cultivo, de modo a torná-lo desfavorável às pragas. e daninhas) das pragas, rotação de culturas com
plantas não hospedeiras (evitando-se o cultivo
De modo a facilitar a aplicação das ações visando de malváceas), implantação de barreiras vivas
ao combate das diversas espécies de pragas que (sorgo, capim-elefante, milheto ou cana-de-açúcar)
atacam a cultura do quiabeiro, essas pragas podem perpendiculares à direção predominante do vento
ser agrupada em quatro categorias: 1) sugadores e ao redor do cultivo e a destruição de restos de
(pulgões, tripes, cigarrinha-verde); 2) ácaros; cultura também devem ser utilizadas no combate a
3) desfolhadores (H. armigera, lagarta-rosca e essas pragas.
vaquinha); e, 4) broqueadores de frutos (H. armigera
e lagarta-rosada) e de órgãos subterrâneos (broca- Não há agrotóxicos registrados no Ministério da
da-raiz e vaquinha). Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA),
para o controle desses insetos sugadores na cultura
Insetos sugadores do quiabeiro. É importante ressaltar, porém, que
quando o combate a esses insetos é realizado
Para os insetos sugadores, a amostragem pode ser utilizando-se das diversas táticas de controle aqui
realizada de forma direta, por meio da contagem descritas, verifica-se que a utilização de medidas
do número de adultos presentes em uma folha do adicionais de controle mostra-se desnecessária.
terço mediano da planta. Deve-se avaliar cinco
plantas por ponto amostral, perfazendo um total de Ácaros
20 pontos amostrais por talhão, totalizando 100
plantas amostradas. O controle de ácaros-praga na cultura do quiabeiro
deve ser realizado por meio do uso de diversos
O uso de sementes sadias ou de variedades métodos, uma vez que o uso de agrotóxicos para
ou híbridos que apresentem ciclo curto é uma tal finalidade apresenta grande limitação, em razão
importante tática de controle e que deve ser de haver apenas um agrotóxico (enxofre inorgânico)
aplicada como medida preventiva no combate registrado no MAPA para essa cultura, mais
a essas pragas. Deve-se, também, observar a especificamente para o controle de M. planki.
adequação da época de plantio para cada região,
visando o escape da cultura aos picos populacionais Dentre as diversas táticas de controle, recomenda-
das pragas. É importante lembrar, por exemplo, que se utilizar o controle cultural (uso de sementes
os pulgões são insetos que ocorrem no início do sadias; uso de variedades ou híbridos de ciclo
cultivo, mostrando-se mais prejudiciais durante esse curto; isolamento de talhões; eliminação de plantas
período. daninhas e de hospedeiros silvestres; destruição
de restos de cultura, além da rotação de culturas),
O isolamento das áreas de plantio por data também físico (implantação de barreiras vivas) e controle
deve ser realizado, evitando-se o escalonamento de alternativo. De forma complementar às táticas de
plantio em áreas próximas. O plantio dos talhões controle descritas anteriormente, pode-se efetuar o
deve ser realizado no sentido contrário à direção manejo desses ácaros por meio do uso de produtos
predominante do vento, daquele mais velho para o alternativos, via pulverização de calda Viçosa (P.
8 Manejo de pragas na cultura do quiabeiro

latus), de calda sulfocálcica (P. latus e T. urticae), atraem (“Pull”) a praga. Esse sistema é composto
de óleo mineral, de óleo vegetal emulsionável ou de por duas culturas, sendo uma considerada a cultura
inseticida à base de extrato de sementes de nim (P. principal (o quiabeiro, por exemplo), a qual se
latus, T. ludeni, T. urticae e M. planki), estes três deseja proteger contra a praga, e a outra a cultura
últimos na concentração de 0,5%. armadilha (guandu, por exemplo), para onde a praga
deverá ser atraída e, posteriormente, controlada.
Desfolhadores Nesse caso, o guandu que será utilizado como
cultura armadilha deverá ser plantada nas áreas
O controle dessas espécies deve ser realizado de
adjacentes ao quiabeiro. Assim, quando se pulveriza
forma preventiva, por meio de aração profunda na
óleo de nim, por exemplo, sobre o quiabeiro e
área (controle mecânico), de três a seis semanas
açúcar ou feromônio de agregação de H. armigera
antes do plantio, contribuindo assim para diminuir
sobre as plantas de guandu, as fêmeas dessa
sua infestação. Além disso, deve-se manter a área
espécie evitarão ovipositar sobre o quiabeiro (efeito
livre de plantas daninhas e de restos de cultura,
“push”) e ovipositarão nas plantas de guandu (efeito
após a aração e plantio, evitando-se o uso de
“pull”). Da mesma forma, as lagartas que estiverem
cobertura morta ou restos de capina na área de
presentes no quiabeiro terão dificuldade de se
cultivo.
alimentar na cultura devido à ação inseticida do óleo
Também não há agrotóxicos registrados no MAPA de nim que impede sua alimentação (efeito “push”),
para o controle de H. armigera, da lagarta-rosca (A. mas se alimentarão normalmente no guandu (efeito
ipsilon) ou da vaquinha (A. brunnea) na cultura do “pull”). Para que essa estratégia tenha efeito no
quiabeiro. combate à H. armigera, as lagartas também devem
ser controladas na cultura armadilha, antes que
Broqueadores de frutos e de órgãos subterrâneos atinjam o estágio de pupa, por meio da destruição
da cultura armadilha, por exemplo.
O monitoramento das espécies H. armigera e P.
gossypiella pode ser realizado por meio do uso de Assim como comentado anteriormente para as
armadilhas contendo feromônio sexual sintético pragas desfolhadoras do quiabeiro, o controle
específico. Recomenda-se utilizar uma armadilha das duas espécies broqueadoras (A. brunnea e E.
por hectare/talhão, em regiões onde a ocorrência brasiliensis) de órgãos subterrâneos que ocorrem
da praga na cultura do quiabeiro é frequente. As na cultura do quiabeiro, deve ser realizado de forma
armadilhas devem ser instaladas na área de cultivo preventiva, por meio de aração profunda na área.
a 1 m de altura do solo. A intensidade de captura A eliminação de plantas daninhas e de restos de
de adultos dessas duas espécies nas armadilhas cultura também auxilia na redução da população
fornecerá uma previsão do potencial de ocorrência dessas espécies de insetos-praga na área de cultivo.
de ovos e de lagartas e, consequentemente, de
danos na cultura.
Referências
Como medidas de controle, deve-se realizar o
isolamento das áreas de plantio por data, evitando- ARGOLO, P. S. Gestión integrada de la araña roja
se o escalonamento de plantio em áreas próximas, Tetranychus urticae Kock (Acari: Tetranychidae):
bem como planejar um período de entressafra sem a optimización de su control biológico en clementinos.
presença de plantas hospedeiras no campo. Coletar 2012. 140p. Tesis (Doctorado en Recursos y
e destruir os frutos atacados por pragas e caídos Tecnologías Agrpicolas) – Universidad Politécnica
sob as plantas, bem como coletar e destruir os de Valencia, Valencia, España.
restos de cultura também são recomendados.
ÁVILA, C. J.; VIVAN, L. M.; TOMQUELSKI, G. V.
No caso específico da H. armigera, uma Ocorrência, aspectos biológicos, danos e estratégias
estratégia de controle denominada de “Push de manejo de Helicoverpa armigera (Hübner)
and Pull” tem sido utilizada para o controle da (Lepidoptera: Noctuidae) nos sistemas de produção
praga. Essa estratégia de manejo baseia-se na agrícola. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste,
manipulação comportamental da praga por meio da 2013. 12p. (Embrapa Agropecuária Oeste. Circular
implementação de técnicas que repelem (“Push”) ou Técnica, 23).
Manejo de pragas na cultura do quiabeiro 9

COMISSÃO TÉCNICA SUL-BRASILEIRA DE FEIJÃO. MOREIRA, M. D.; PICANÇO, M. C.; MARTINS,


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10 Manejo de pragas na cultura do quiabeiro

Anotações
Manejo de pragas na cultura do quiabeiro 11
12 Manejo de pragas na cultura do quiabeiro

Comitê de Presidente: Warley Marcos Nascimento


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Técnica, 138
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1ª impressão (2014): 1.000 exemplares Zandonadi

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