6 - Oxidação de Aminoácidos e Ciclo Da Ureia Resumo
6 - Oxidação de Aminoácidos e Ciclo Da Ureia Resumo
6 - Oxidação de Aminoácidos e Ciclo Da Ureia Resumo
A fração de energia metabólica obtida a partir de aminoácidos, sejam eles provenientes de proteínas
da dieta ou de proteínas teciduais, varia muito de acordo com o tipo de organismo e com as condições
metabólicas. Carnívoros obtêm (imediatamente após uma refeição) até 90% de suas necessidades
energéticas da oxidação de aminoácidos, enquanto herbívoros obtêm apenas uma pequena fração de
suas necessidades energéticas a partir dessa via.
Em todas essas condições metabólicas, os aminoácidos perdem seu grupo amino para formar a-
cetoácidos, os “esqueletos de carbono” dos aminoácidos. Os a-cetoácidos sofrem oxidação a CO2 e
H2O ou, geralmente mais importante, fornecem unidades de três e quatro carbonos que podem ser
convertidas, pela gliconeogênese, em glicose, o combustível para o cérebro, para o músculo
esquelético e para outros tecidos.
Não ocorre desaminação (perda de grupos amino) efetiva nessas reações, pois o α-cetoglutarato
torna-se aminado enquanto o aminoácido é desaminado. O efeito das reações de transaminação é
coletar grupos amino de diferentes aminoácidos, e formar glutamato e α-cetoácido. O glutamato
então funciona como doador de grupos amino para vias biossintéticas ou para vias de excreção, que
levam à eliminação de produtos de excreção nitrogenados.
Como foi visto, os grupos amino de muitos aminoácidos são levados para o fígado, na forma de
moléculas de L-glutamato. Esses grupos amino devem ser removidos do glutamato e preparados para
excreção. Nos hepatócitos, o glutamato é transportado do citosol para a mitocôndria, onde sofre
desaminação oxidativa, catalisada pela glutamato-desidrogenase.
O α-cetoglutarato formado a partir da desaminação do glutamato pode ser utilizado no ciclo do ácido
cítrico e para a síntese de glicose. A glutamato-desidrogenase opera em uma importante intersecção
do metabolismo do carbono e do nitrogênio.
Obs:
A amônia é bastante tóxica para os tecidos animais e seus níveis no sangue são regulados. Na maioria
dos animais, a maior parte da amônia livre é convertida em um composto não tóxico antes de ser
exportada dos tecidos extra-hepáticos para o sangue, e transportada até o fígado ou até os rins. Para
essa função de transporte, o glutamato, essencial para o metabolismo intracelular do grupo amino, é
substituído pela glutamina. A amônia livre produzida nos tecidos combina-se com o glutamato,
produzindo glutamina, pela ação da glutamina-sintetase.
A glutamina é uma forma de transporte não tóxico para a amônia e também serve como fonte de
grupos amino em várias reações biossintéticas. No fígado e nos rins, o nitrogênio amídico é liberado
como íon amônio na mitocôndria, onde a enzima glutaminase converte glutamina em glutamato e
NH4+.
Ciclo glicose-alanina:
A alanina também desempenha um papel especial no transporte dos grupos amino para o fígado em
uma forma não tóxica, por meio de uma via denominada ciclo da glicose-alanina. No músculo e em
alguns outros tecidos que degradam aminoácidos como combustível, os grupos amino são coletados
na forma de glutamato, por transaminação. O glutamato pode ser convertido em glutamina para
transporte ao fígado, como descrito anteriormente, ou pode transferir seu grupo amino para o
piruvato, produto da glicólise muscular facilmente disponível, pela ação da alanina-aminotransferase
(ALT) = transaminase glutamicopirúvica (TGP). A alanina assim produzida passa para o sangue e segue
para o fígado. No citosol dos hepatócitos, a alanina-aminotransferase transfere o grupo amino da
alanina para o a-cetoglutarato, formando piruvato e glutamato. O glutamato então entra na
mitocôndria, onde a reação da glutamato-desidrogenase libera NH4+, ou sofre transaminação com o
oxaloacetato para formar aspartato, outro doador de nitrogênio para a síntese de ureia.
O ciclo da glicose-alanina, em conjunto com o ciclo de Cori, realiza essa operação.
Ciclo da ureia:
A maioria das espécies aquáticas, como os peixes ósseos, é amoniotélica e excreta o nitrogênio
amínico como amônia. A amônia tóxica é simplesmente diluída na água do ambiente. Os animais
terrestres necessitam de vias para a excreção do nitrogênio que minimizem a toxicidade e a perda de
água. A maior parte dos animais terrestres é ureotélica e excreta o nitrogênio amínico na forma de
ureia; aves e répteis são uricotélicos, excretando o nitrogênio amínico como ácido úrico.
Nos organismos ureotélicos, a amônia depositada na mitocôndria dos hepatócitos é convertida em
ureia no ciclo da ureia.
No fígado, a amônia de todas essas fontes pode ser utilizada na síntese da ureia. Parte do glutamato
produzido na reação da glutaminase pode ser adicionalmente processada no fígado pela glutamato-
desidrogenase, liberando mais amônia e produzindo esqueletos de carbono para utilização como
combustível. Contudo, a maior parte do glutamato entra em reações de transaminação necessárias
para a biossíntese de aminoácidos e para outros processos. Se não forem reutilizados para a síntese
de novos aminoácidos ou de outros produtos nitrogenados, os grupos amino são canalizados em um
único produto final de excreção.
O ciclo da ureia inicia dentro da mitocôndria hepática, mas três de suas etapas seguintes ocorrem no
citosol; o ciclo assim abrange dois compartimentos celulares. O primeiro grupo amino que entra no
ciclo da ureia é derivado da amônia na matriz mitocondrial (a maior parte desse NH4+ é fornecida pelas
vias descritas anteriormente). O fígado também recebe parte da amônia pela veia porta, sendo essa
amônia produzida no intestino pela oxidação bacteriana de aminoácidos. Qualquer que seja sua fonte,
o NH4+ presente na mitocôndria hepática é utilizado imediatamente, juntamente com o CO2 produzido
pela respiração mitocondrial, para formar carbamoil-fosfato na matriz.
O carbamoil-fosfato, que funciona como doador ativado de grupos carbamoila, entra no ciclo da ureia
e doa seu grupo carbamoila para a ornitina, formando citrulina, através da ação da ornitina-
transcarbamoilase.
A citrulina produzida no primeiro passo do ciclo da ureia passa da mitocôndria para o citosol. Os
próximos dois passos trazem o segundo grupo amino. A fonte é o aspartato produzido na mitocôndria
por transaminação e transportado para o citosol. A reação de condensação entre o grupo amino do
aspartato e o grupo ureido (carbonila) da citrulina forma arginino-succinato. Essa reação citosólica,
catalisada pela arginino-succinato-sintetase, requer ATP. O arginino-succinato é então clivado pela
arginino-succinase, formando arginina e fumarato; este último é convertido em malato e a seguir
entra na mitocôndria para unir-se aos intermediários do ciclo de Krebs.
Na última etapa do ciclo, a enzima citosólica arginase cliva a arginina, produzindo ureia e ornitina. A
ornitina é transportada para a mitocôndria para iniciar outra volta do ciclo da ureia.
Importante lembrar para a vida!!!:
Esses testes (STGP e STGO) de avaliação das atividades das transaminases no soro também são
importantes em medicina ocupacional, para se determinar se pessoas expostas a tetracloreto de
carbono, clorofórmio ou outros solventes industriais sofreram lesão hepática. A degeneração hepática
causada por esses solventes é acompanhada pelo surgimento de várias atividades enzimáticas no
sangue, originárias dos hepatócitos lesionados. As aminotransferases são muito úteis no
monitoramento de pessoas expostas a essas substâncias químicas, pois essas atividades enzimáticas
são altas no fígado e, assim sendo, provavelmente estarão entre as proteínas liberadas dos
hepatócitos lesionados; além disso, elas podem ser detectadas no sangue em quantidades muito
pequenas.