Atividades Complementares I - Libras e Sistema Braile PDF
Atividades Complementares I - Libras e Sistema Braile PDF
Atividades Complementares I - Libras e Sistema Braile PDF
Libras Libras
e Sistema Braille e Sistema Braille
Cristiane Seimetz Rodrigues
Maria Olinda Maia
Flávia Valente
48531
9 788538 763147
Libras e Sistema Braille
2017
©2011 – 2016 – IESDE Brasil S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem
autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
Esperamos que esse conhecimento seja útil e que você faça bom uso
dele. Bons estudos!
Flávia Valente
5 Sistema braille 93
5.1 Histórico do sistema braille 94
5.2 Escrita em braille 96
5.3 Aprendendo braille 99
A primeira questão a ser esclarecida diz respeito à condição a que toda definição teórica
se submete. Cada linha de estudo da Linguística, em interação com outras ciências, vai dar
uma definição de língua que privilegia um de seus múltiplos aspectos. Assim, a interface
entre a Linguística e a Biologia vai preferir definir a língua como parte da dotação genéti-
ca da espécie humana; a interface da Linguística com a Sociologia vai dar mais ênfase aos
aspectos socioculturais da língua; a interface da Linguística com a Psicologia vai definir a
língua como parte da cognição humana. Além disso, dentro de cada uma dessas interfaces,
desenvolvem-se várias teorias diferentes. E cada teoria vai preferir definir língua de uma
maneira especial, que esteja mais de acordo com suas hipóteses. Portanto, não existe uma
única definição de língua e linguagem que possa ser aplicada indiscriminadamente. A de-
finição desses conceitos precisa ser entendida, então, no âmbito de uma teoria particular.
De forma a se poder discutir sobre língua e linguagem, optou-se pela apresentação de
duas propostas: a de Ferdinand de Saussure (1857-1913) e a de Noam Chomsky. A escolha se
deu em virtude de esses teóricos serem considerados os grandes “divisores de água” nos es-
tudos linguísticos do século XX, bem como serem também os mais conhecidos e discutidos.
Tanto a teoria saussuriana quanto a teoria chomskyana não só definem língua de uma
maneira particular, mas também têm visões completamente diferentes sobre o que é a lin-
guagem. Para Saussure, linguagem é uma faculdade humana, uma capacidade que os ho-
mens têm para produzir, desenvolver, compreender a língua e outras manifestações simbó-
licas semelhantes a ela. Esse autor via a linguagem como um sistema muito mais amplo e
abrangente do que Chomsky, para quem a linguagem, ou a faculdade da linguagem, expressão
por ele empregada, é um módulo da mente especificamente associado à língua, e não a ou-
tras linguagens (como a pintura, a música, a dança etc.).
Outro ponto marcante nesse quesito é a falta de especificidade de Saussure a respeito
do que seria essa faculdade que ele chama de linguagem. Especificidade que não faltou a
Chomsky ao delimitar a faculdade da linguagem como um módulo cognitivo independen-
te, especificamente associado à língua. Na visão de Chomsky, a faculdade da linguagem
deve ser o objeto central do estudo de uma teoria linguística. Posicionamento oposto ao de
Saussure, para quem o objeto da Linguística é a língua.
Saussure entende que, de todas as manifestações da faculdade da linguagem, a língua
é a que mais bem se presta a uma definição autônoma. Por isso, ela ocupa um lugar de des-
taque entre as manifestações da linguagem, e, como tal, deve ser tomada como base para
o entendimento de todas essas outras manifestações. Daí, hoje em dia, a Semiótica, que é
a ciência que estuda todas as manifestações da faculdade da linguagem, partir sempre de
análises feitas sobre a língua. O autor argumentava, segundo Petter (2007, p. 14), que:
A linguagem envolve uma complexidade e diversidade de problemas que susci-
tam a análise de outras ciências, como a Psicologia, a Antropologia etc., além da
investigação linguística, não se prestando, portanto, para objeto de estudo dessa
sentenças da mesma. É um conjunto de regras que o falante construiu em sua mente pela
aplicação de sua capacidade inata para a aquisição da língua que ouviu desde a infância.
O desempenho é o comportamento linguístico resultante daquelas regras aliadas a outras
variantes: convenções sociais, crenças, atitudes emocionais do falante quanto ao que diz,
pressupostos sobre as atitudes do interlocutor, condições fisiológicas (de fonação) etc. A
competência é o que o falante, inconscientemente, sabe sobre sua língua; o desempenho é o
uso, ou melhor, é o resultado do uso que ele faz desse saber, conhecimento. Para Chomsky,
o desempenho pressupõe a competência, mas a competência não pressupõe o desempenho.
Para encerrar essa seção, é possível dizer, com base no exposto, que as línguas naturais,
em número muito diversificado, são manifestações de algo mais geral, a linguagem, e que
as línguas são um meio de interpretar, organizar e categorizar o mundo, atribuir sentido ao
que está ao nosso redor, sendo que cada língua pode focar ou realçar partes diferentes de
uma mesma realidade. Por exemplo, em países em que a ocorrência de neve é constante, os
falantes possuem, muitas vezes, palavras específicas para certos tipos de neve, o que não
é muito comum em países em que a neve não faz parte do cotidiano dos falantes, os quais
acabam empregando apenas uma palavra ou um menor número de palavras relacionadas
ao conceito de “neve”. Essa capacidade de interpretar e fazer um recorte do mundo é, aliás,
disponível apenas para os seres humanos, como será visto a seguir.
O prédio queimou.
O prédio da esquina queimou.
O prédio da esquina que eu vi construir queimou.
O prédio da esquina que eu vi construir quando era jovem queimou.
O prédio da esquina que eu vi construir quando era jovem queimou ontem.
Pelo fato de que uma estrutura depende da outra é que conseguimos entender os enun-
ciados acima. Como bons usuários do português, entendemos que “da esquina” está vin-
culado ao prédio da mesma forma que “eu vi construir” e “quando era jovem”, sendo que
isso não impede que o conteúdo fundamental – “o prédio queimou” – seja compreendido.
Outro ponto a ser visitado se trata das funções da linguagem, ou seja, para que empre-
gamos a língua, assunto tratado na próxima seção.
1 Caro aluno, a partir daqui utilizaremos nas transcrições fonéticas o Alfabeto Fonético Internacio-
nal criado pela Associação Fonética Internacional, que se trata de uma padronização da representação
dos sons da fala. Para maiores esclarecimentos a respeito dele ver o livro Introdução à Linguística II, de
José Luiz Fiorin, presente nas dicas de estudo desta aula.
de “chiado”, representado pelo fone [S] – e paranaenses [lejte] não é alvo da fonologia, posto
que não leva a mudança de significado, e sim objeto da fonética, que vai descrever como
esses dois sons são produzidos.
1.3.2 Morfologia
Acima dos níveis fonético e fonológico, há o morfológico, tradicionalmente identificado
como a área responsável pelo estudo da palavra. Nesse nível, a atenção recai para como os
fonemas se combinam para formar morfemas e como estes formam as palavras.
Para uma melhor compreensão, é preciso que se tenha em mente que o morfema é
a menor unidade significativa linguística, ou seja, uma função que une um significante a
um significado. Não esqueça de que o fonema distingue significados, mas ele mesmo não
carrega significado. Uma palavra do português como “sim”, por exemplo, é um morfema.
Ela não pode ser dividida em unidades menores, que tenham significante e significado. Já
uma palavra como “cozinheiro” é composta por três morfemas: [cozinh–], [–eir–], e [–o].
Cada um desses morfemas apresenta um significante (a forma, o próprio morfema) e um
significado (o conceito, ideia veiculada pelo morfema): [cozinh–] significa um local em que
se cozinha; [–eir–] significa, entre outras coisas, alguém que trabalha com um determinado
objeto ou em uma dada área; e [–o] é o morfema que significa o gênero masculino.
Muitas outras palavras do português são formadas de maneira semelhante: confeiteiro,
pedreiro, joalheiro etc. Isso leva ao fato de que estudar os morfemas, identificá-los, saber
como se unem e quais significados carregam permite entender como são formadas as pala-
vras de uma língua, permite prever que tipos de produções de novas palavras (neologismos)
são boas (respeitam as regras de formação de palavras) numa dada língua. Por exemplo,
para os falantes do português, formações como amável, respeitável, admirável (amar + vel,
e assim sucessivamente) são consideradas como boas, pertencentes a sua língua. O mesmo
não se dá com formações como corrível (correr + vel), falável (falar + vel), brincável (brincar +
vel). O papel da morfologia, nesse caso, é explicar por que usuários do português produzem
o primeiro grupo e o aceitam como boas formas da língua e por que o segundo grupo, embo-
ra suscetível de ser produzido, não o é, e quando o é, recebe um olhar de estranhamento dos
usuários do português, que não identificam as palavras do último grupo como pertencentes
à sua língua.
1.3.3 Sintaxe
No nível de análise sintático, o objetivo é descobrir as regras internas da língua que
regem a estruturação dos enunciados, isto é, como as palavras se organizam para formar
sentenças. Note que não se está falando das regras da gramática tradicional, pautadas muito
mais em noções de certo e errado, feio e bonito, do que em apontar o que é próprio da orga-
nização de uma dada língua. Nesse sentido, enquanto as gramáticas normativas estabelecem
Aquisição e desenvolvimento
da língua de sinais
(QUADROS; CRUZ, 2011, p. 17-18)
Dicas de estudo
Por ser uma crônica, o texto promove, numa linguagem acessível a leigos
no assunto, discussões em torno do fazer do linguista, tentando esclare-
cer qual a sua tarefa e no que ela se diferencia em relação ao trabalho do
gramático.
Este artigo é muito interessante para se ter uma noção introdutória a res-
peito dos aspectos próprios da fonética, tanto de línguas orais como da
língua de sinais. Além desse artigo inicial há os demais que constituem
uma fonte segura com a qual você pode incrementar seu conhecimento
sobre as demais áreas da Linguística.
Atividades
1. Discuta, definindo e dando exemplos, a propriedade de dupla articulação da lingua-
gem e por que ela gera economia para as línguas.
Referências
BARROS, Diana Pessoa de. A comunicação humana. In: FIORIN, José Luiz (Org.). Introdução à
Linguística I: objetos teóricos. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2007.
DOMINGOS, Maria Cristina da Silva. Libras. Alfenas, MG: Universidade José do Rosário Vellano -
Unifenas, 2010.
PETTER, Margarida. Linguagem, língua, linguística. In: FIORIN, José Luiz (Org.). Introdução à
Linguística I: objetos teóricos. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2007.
QUADROS, Ronice Müller; CRUZ, Carina Rebello. Língua de sinais: Instrumentos de avaliação. Porto
Alegre: Artmed, 2011.
5. O objeto de análise dessas áreas parece ser o mesmo, mas não é. A fonética lida com
o som apenas enquanto entidade física, articulatória. Ela procura saber como são
produzidos os sons da língua humana, independentemente de eles serem distintivos
na língua. A fonologia, por outro lado, só se ocupa dos “sons” que são distintivos
dentro da língua.
Neste capítulo, a tarefa a cumprir é entender por que a Libras é uma língua. Para
tanto, apresenta-se um histórico da origem das línguas de sinais e da Libras. Em
seguida, as propriedades linguísticas próprias das línguas naturais são evidenciadas
na Libras, movimento que permite desfazer certos mitos em relação a essa língua.
década de 1960 e 1970, é o nome dado àquelas abordagens que enfatizam a fala (da língua
utilizada no país) e a amplificação da audição e que rejeitam de maneira explícita e rígida
qualquer uso da língua de sinais. Técnicas específicas são utilizadas para desenvolver o
método do oralismo, sendo elas: treinamento auditivo, desenvolvimento da fala e leitura
labial; contudo, o fracasso dos alunos surdos era visível. Em seguida, veio a comunicação
total, cuja proposta oralista é transformada e se consolida, não como método, mas como
uma filosofia educacional. Por não explicitar claramente procedimentos de ensino, a comu-
nicação total, na década de 1970, é incorporada, em diferentes lugares, em versões muito
variadas, caracterizando-se, basicamente, pela aceitação de vários recursos comunicativos,
com a finalidade de ensinar a língua majoritária – a língua oficial do país, no caso, a língua
portuguesa – e promover a comunicação utilizando gesto, mímica e fala. Seguiu-se, então,
a filosofia bilíngue, na década de 1980, que possibilitaria a relação do surdo adulto com a
criança surda1, permitindo, assim, uma construção de identidade e que respeitaria a Libras
– respeitar a língua do surdo não quer dizer que se deva menosprezar a língua dominante
do país, mas apenas ter o domínio da Libras como primeira língua e, consequentemente, ter
o português escrito/falado como segunda língua.
Desse relato, já é possível compreender que a história da evolução das línguas de sinais,
inclusive a Libras, foi marcada pela intervenção autoritária, muito por desconhecimento, da-
queles que formulavam as políticas de ensino para surdos. Mesmo que a intenção subjacente
de tais políticas fosse ajudar o surdo, o que se fez ao proibir o ensino e o uso das línguas de
sinais foi um retrocesso no processo de crescimento dessas línguas. Imagine o quanto não
se perdeu em vocabulário, estrutura, sofisticação de conceitos “apenas” porque os surdos
foram impedidos de usar livremente sua língua natural. Os reflexos dessas políticas ainda
podem ser vistos no desconhecimento que muitos têm sobre a Libras, e não se está pensando
neste momento somente no ouvinte, mas também nos surdos, já que muitos deles não têm
acesso, ainda hoje, a essa língua. As línguas, orais ou de sinais, evoluem por meio do uso,
são as necessidades do dia a dia, das tarefas que precisam ser executadas, das mensagens
que precisam ser dadas que fazem com que qualquer língua amplie seu vocabulário, cunhe
conceitos novos, padronize uma variedade de língua que será considerada a culta, entre
outras coisas.
A Libras teve sua origem na Língua de Sinais Francesa por influência de Hernest Huet,
surdo francês, que chegou ao Brasil em 1856, a convite de D. Pedro II, para fundar a primei-
ra escola para meninos surdos, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), que foi
inaugurado no dia 26 de setembro de 1857, o qual recebeu o nome de Imperial Instituto de
Surdos-Mudos, com o propósito de desenvolver a educação dos surdos brasileiros. Hernest,
1 O modelo para criança surda deve ser um adulto surdo ou uma pessoa ouvinte que domina a
Libras, para que sua identidade e sua língua sejam formadas nos seus primeiros anos de vida. Infeliz-
mente, as crianças surdas não têm nem a língua portuguesa oral/escrita e nem a Libras e, consequen-
temente, recebem sua primeira língua atrasada. Pela nossa experiência em escola de surdos, o modelo
ideal é o bilinguismo – Libras e português escrito.
língua própria dos surdos brasileiros. Segundo a legislação vigente, desde abril de 2002, a
Libras constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comu-
nidades de pessoas surdas do Brasil, nas quais há uma forma de comunicação e expressão,
de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria. A oficialização da Libras foi
de extrema importância, e ainda é, para a luta por políticas públicas de educação bilíngue
para surdos, com a presença de professores sinalizadores e/ou intérpretes em sala de aula.
O reconhecimento legal, no entanto, não significa que a Libras deva parar de ser estudada
em suas características linguísticas.
APRENDER.
SÁBADO.
Além de a Libras permitir ao seu usuário falar sobre o assunto de seu desejo, ela fornece
inúmeras possibilidades de transferência para uma mesma informação, já que a partir de um
número finito de elementos combináveis e recombináveis por meio de regras também finitas,
é possível elaborar um número de sentenças infinitas. Isso é possível, inclusive, mesmo quan-
do o usuário nunca se deparou com uma estrutura em particular. A essa propriedade se dá o
nome de produtividade/criatividade. Desse modo, estruturas como J-O-Ã-O GOSTAR M-A-
R-I-A PORQUE ELA EDUCADA podem ser produzidas através do aprendizado adquirido
de outras estruturas: EU GOSTAR ELA; EDUCADA ELA; J-O-Ã-O GOSTAR M-A-R-I-A etc.
A fim de produzir os enunciados da língua, a Libras conta com a propriedade denomi-
nada de dupla articulação. A dupla articulação se refere ao fato de as línguas se articularem
em dois planos: no primeiro as formas não possuem significado; no segundo, por meio da
combinação das formas sem significado se obtêm unidades com significado. Retomando a
questão da formação de sinais, se você pensar isoladamente na CM dos sinais de APRENDER
e SÁBADO, mão na forma de “S”, CM encontrada no quadro a seguir, verá que, por si só,
ela não apresenta significado, é apenas um elemento menor que comporá, por meio de sua
combinação com outros parâmetros, unidades maiores dotadas de significado.
A B C D E F
G H I J K L
M N O P Q R
S T U V W X
Y Z 1 2 3 4
5 6 7 8 9 0
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
Para os objetivos deste livro, você vai aprender a lidar com o Sistema de Notação por
Palavras, criado e desenvolvido pela pesquisadora da Língua Brasileira de Sinais Tânia
Amaro Felipe, no ano de 1998. Pela clareza da transcrição, o sistema foi muito aceito, não
só por pesquisadores brasileiros que atuavam nesse período, mas também por outros que
desenvolviam trabalhos com línguas de sinais. Assim, ao longo deste livro, sempre que útil
às discussões, a transcrição por notação será empregada. A seguir, há um quadro com exem-
plos de notações e a convenção subjacente a cada um.
Essas são as principais notações que lhe serão úteis ao longo do curso.
Ainda que avanços significativos tenham sido feitos no estudo da Libras e das línguas
de sinais em geral, há uma carência da disseminação desses saberes, acarretando na exis-
tência e manutenção de algumas inverdades sobre as línguas de sinais que são aceitas como
procedentes por muitas pessoas. São os velhos e, ao mesmo tempo, novos mitos sobre as
línguas visuais. Então, o objetivo nesta seção é avaliar alguns desses mitos, com base no ex-
posto por Quadros e Karnopp (2004, p. 31-37), de modo a esclarecer que se tratam de falsas
afirmações e mostrar por que não condizem com a realidade das línguas de sinais.
O primeiro mito apregoa que as línguas de sinais seriam incapazes de expressar concei-
tos abstratos, pois seria apenas uma mistura de gestos e mímica. Essa concepção equivocada
nasce da confusão de se entender os sinais como gestos. Afinal, os gestos não permitem a
abstração das palavras, que podem nomear ou falar sobre algo mesmo quando esse algo não
está presente, ou mesmo que ele não exista enquanto entidade física. Mas a verdade é que
os sinais são palavras, eles permitem falar sobre pessoas ou objetos ausentes, sobre ideias, e
não apenas sobre coisas concretas. Os sinais das línguas visuais apresentam a mesma possi-
bilidade de simbolismo e abstração que as palavras das línguas orais.
Esse primeiro mito, das línguas visuais serem apenas gesto e mímica, leva ao segundo.
Posto que gestos não são arbitrários, são icônicos – isto é, sua forma tem relação direta com
aquilo a que se referem –, muitos acreditam na existência de uma única língua de sinais, fa-
lada por todos os surdos. Porém, estudos linguísticos comprovaram que as línguas de sinais
são diferentes entre si, cada comunidade surda de um dado país apresenta vocabulário e
regras gramaticais próprias. Algumas línguas de sinais são aparentadas, têm uma origem
comum, como a Libras e a ASL, que nasceram a partir da língua de sinais francesa. Mas isso
também se verifica em línguas como o português e o italiano, originadas do latim. Assim,
ASL e Libras, como também português e italiano, compartilham características em comum,
mas em hipótese alguma seus usuários podem trocar informações como se elas fossem a
mesma língua.
Outro mito que menospreza a complexidade linguística das línguas de sinais é o que
as considera subordinadas às línguas orais, sem uma gramática organizada, precisando usar
seus sinais na estrutura gramatical das línguas orais. Na verdade, como visto antes, as línguas
de sinais são línguas de fato, com uma complexa organização estrutural em todos os níveis de
análise. Além disso, considerar a língua de sinais subordinada a línguas orais é um equívoco,
já que a Língua Brasileira de Sinais, por exemplo, teve sua origem na língua francesa de sinais,
e a língua portuguesa de sinais, por outro lado, desenvolveu-se a partir da língua britânica de
sinais. Não se pode, convém observar, confundir empréstimos linguísticos com subordinação.
Fosse assim, nossa língua portuguesa estaria subordinada ao inglês pelos termos que lhe toma
emprestado e agrega, na forma inglesa mesmo, ao vocabulário nacional brasileiro.
Por fim, para finalizar a análise de alguns mitos apontados por Quadros e Karnopp
(2004, p. 31-37), muitas pessoas pensam, por se tratarem de línguas visuais, articuladas es-
pacialmente, que a localização da língua de sinais no cérebro deve ser do lado direito, res-
ponsável pelo processamento de informação espacial, e não do lado esquerdo, próprio da
linguagem. Essa ideia, contudo, é derrubada por pesquisas envolvendo surdos com lesões
em um dos hemisférios. Os resultados apontam que danos no lado direito prejudicam o
processamento de informações puramente espaciais. Nesse caso, se for solicitado ao surdo,
em uma sala qualquer, que se encaminhe para o lado esquerdo da porta de saída da sala,
ele compreenderá o que deve fazer, mas não poderá executar a tarefa por não conseguir
identificar qual seria o lado esquerdo da porta. Já lesões no lado esquerdo do cérebro afetam
a produção e compreensão da língua, deixando intactas as informações puramente espa-
ciais. Nesse caso, se fosse solicitado ao surdo a mesma tarefa, ele não a poderia executar por
não compreender no que ela consiste. Não se pode esquecer, todavia, que tanto em línguas
visuais como orais essa questão de localização da língua é bem complexa, pois lesões em
áreas muito semelhantes nem sempre acarretam nos mesmos danos. Não bastando isso, a
literatura cognitiva aponta casos de pessoas que, afetadas por lesões no hemisfério esquer-
do na infância, especializaram o lado direito do cérebro para desenvolver também a função
linguística, fato creditado à plasticidade cerebral, responsável por desenvolver mecanismos
compensatórios quando há condição para tal.
Agora que você sabe um pouco mais sobre os recursos empregados no estudo da
Libras, acompanhe o relato de um pesquisador sobre sua experiência na aquisição da Língua
Brasileira de Sinais como segunda língua. Boa leitura!
Dicas de estudo
Esse texto permite ao leitor ter uma boa ideia da complexidade de usos que
a Libras pode desempenhar, bem como introduz o leitor no desconhecido
mundo da poesia surda, posto que sobre ela muito se fala genericamente,
mas estudos, como estes, são raros. As autoras analisam comparativamente
duas poesias. Uma de um poeta surdo britânico, na língua de sinais própria
desse país, a outra de um poeta surdo brasileiro. Por meio de tal compara-
ção, as autoras evidenciam a riqueza linguística e cultural do surdo, apon-
tando o importante papel da língua de sinais na constituição da identidade
do sujeito surdo.
Atividades
1. Explique por que a Libras é uma língua de fato.
Referências
LEITE, Tarcísio de Arantes; MCCLEARY, Leland. Aspectos relevantes na aprendizagem de Libras
como segunda língua por um adulto ouvinte. In: QUADROS, Ronice Müller de; STUMPF, Marianne
Rossi (orgs.). Estudos surdos IV. Petrópolis: Arara Azul, 2009. p. 249-253.
Resolução
1. A Libras é tão complexa e sofisticada quanto qualquer outra língua natural, apresen-
tando as mesmas propriedades linguísticas. A Libras tem todas as propriedades das
línguas naturais, como flexibilidade, versatilidade, arbitrariedade, descontinuidade
e produtividade/criatividade. Ela é empregada em qualquer situação comunicativa
e cumpre muito bem as funções para as quais é requisitada (compor poesias, criar
piadas, dar instruções, filosofar etc.
2. A resposta deve versar sobre o fato de que não é possível fazer relação direta entre
os sinais e seus significados, daí a característica da arbitrariedade.
3. A Libras tem sua própria estrutura, expressa os significados e conceitos que o usuá-
rio quiser, não sendo, portanto, dependente de línguas orais. Por exemplo, Brasil e
Portugal possuem línguas de sinais diferentes: se a língua de sinais fosse dependente
realmente das línguas orais, elas deveriam ser iguais.
Para esta aula, está reservada a exposição e reflexão sobre fenômenos linguís-
ticos específicos das línguas de sinais. Nesse sentido, se os tópicos aqui abordados
encontram “equivalentes” nas línguas orais, são de natureza, e muitas vezes, fun-
cionamento diverso. Alguns fatos, como você verá, nem sequer apresentam um
“equivalente” distante. Neste momento, interessa observar as particularidades das
línguas de sinais e, consequentemente, da Libras nos seus diferentes níveis de aná-
lise, pois, conforme você poderá constatar, alguns fenômenos linguísticos das lín-
guas de sinais se manifestam de forma interdependente e em mais de um nível de
análise, com papéis diferenciados em cada nível. Por motivos de análise linguística
e exposição didática, os conteúdos tratados são apresentados de maneira indepen-
dente, mas você perceberá como eles se entrelaçam.
Por serem línguas espaço-visuais, os usuários das línguas de sinais empregam o espaço
linguisticamente. Por meio dele, relações fonológicas, morfológicas, sintáticas e semânticas
podem ser estabelecidas. Contudo, esse espaço de que se fala não é todo e qualquer espaço,
mas sim o espaço empregado para a articulação dos sinais, o qual compreende uma área
definida à frente do corpo, que se estende do topo da cabeça do sinalizador até o seu quadril,
como representado na ilustração a seguir:
TRABALHAR. PRIMO.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
Já no âmbito sintático, o espaço apresenta mais de uma função possível. Ele pode, por
exemplo, ser utilizado para estabelecer relações anafóricas ou de concordância entre os ele-
mentos da sentença. Além disso, outra característica peculiar é que em determinados usos
do espaço a informação gramatical é produzida simultaneamente com o sinal:
Esses mecanismos envolvem a incorporação, considerado um mecanismo produ-
tivo na ASL e usada, por exemplo, para expressar localização, número, pessoa; e
o uso de sinais não manuais, como movimentos do corpo e expressões faciais. O
uso de tais mecanismos é verificado também na Libras [...]. (QUADROS; PIZZIO;
REZENDE, 2010, p. 2)
Bellugi et al. (19881, apud QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2010) apontam também como
fenômenos sintáticos que se valem do espaço na ASL (Língua de Sinais Americana) as nomi-
nalizações, o sistema pronominal e a concordância verbal. Ainda segundo pesquisa de Bellugi
e Klima (19822, apud QUADROS, PIZZIO; REZENDE, 2010) o uso do espaço é verificado na
constituição de elementos dêiticos na ASL, os quais formam a base para outros elementos lin-
guísticos, como o sistema de pronomes, a concordância verbal e relações gramaticais dentro
da sentença. A constituição desses elementos dêiticos se dá pela apontação para lugares espe-
cíficos no espaço, os quais remetem a referentes diferentes. O mesmo se vê na Libras:
1 BELLUGI, U. et al. The acquisition of syntax and space in young deaf signers. In: Language
Development in Exceptional Circumstances. Churchill Livingston, 1988.
2 BELLUGI, U.; KLIMA, E. S. The acquisition of three morphological systems in American Sign
Language. Papers and Reports on Child Language Development 21, 1a -35. Palo Alto, CA: Stanford
University Press, 1982.
Receptor Receptor
Receptor
3 Embora as gramáticas tradicionais indiquem o você como pronome de tratamento – e não como
pronome pessoal –, que corresponde à forma de terceira pessoa (o verbo concorda no singular – você
vai), no português do Brasil ele é usado como pronome pessoal de segunda pessoa em muitas varie-
dades linguísticas regionais, como na variedade de Curitiba, São Paulo, Mato Grosso do Sul etc. Em
Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, o que se observa é a convivência entre as duas formas (tu/
você), sendo que alguns falantes desses estados ainda fazem diferenciação entre o uso de você como
pronome pessoal e como pronome de tratamento.
4 Op cit. 1-35. Palo Alto, CA: Stanford University Press.
Interlocutor
João Maria
Receptor
Observe que “João” e “Maria” não estão presentes durante a conversa entre interlocu-
tor e receptor. Então, para se referir a eles, o sinalizador escolhe um ponto no espaço à sua
direita para fazer menção a “João” e um ponto à sua esquerda para fazer menção a “Maria”.
Nesse caso, a escolha do local para apontação é arbitrária, isto é, não há uma causa que mo-
tive o uso do espaço à direita para referir “João” e à esquerda para referir “Maria”. Todavia,
daí não se deve concluir que os pontos associados aos referentes não presentes são distribuí-
dos aleatoriamente no espaço:
Conforme Loew (1984:15), um sinalizante não distribui os pontos aleatoriamente
no espaço, pois existem restrições na seleção do local. Raramente os pontos são
estabelecidos de forma arbitrária, pois o sinalizante sempre procurará associar o
local real do referente ao local no espaço. Os pontos serão arbitrários com refe-
rentes abstratos. Podem também ser para referentes descritos individualmente
não interagindo com outros. Os pontos arbitrários também são usados se o si-
nalizante desconhecer a relação espacial real relevante para falar sobre alguém
ou alguma coisa. Os pontos arbitrários são estabelecidos em um local neutro do
espaço da sinalização e, em geral, são distribuídos no espaço de forma a serem
amplamente diferenciados. Os pontos podem estar acima ou abaixo do espaço
neutro relacionados com a localização “real” dos referentes. Veja que este “real”
depende sempre da perspectiva de quem está produzindo e vendo os sinais.
(QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2010, p. 5)
De acordo com Quadros, Pizzio e Rezende (2010), Baker e Cokely (1980, p. 206-209), por
meio de figuras, demonstraram muito bem as relações espaciais para referentes presentes
e não presentes, apontando o uso do olhar como determinante para identificar a referência
pronominal empregada pelo sinalizador. A seguir você encontra uma sequência de figuras
retiradas de Quadros, Pizzio e Rezende (2010) que pretende esclarecer o uso do espaço para
estabelecer as formas pronominais da Libras. Analise-as com calma, repare na disposição do
interlocutor e do receptor, bem como na representação dos demais envolvidos no contexto
discursivo. Considere que o emprego do olhar – representado pela linha pontilhada – sem-
pre indica a pessoa com quem o interlocutor trava o diálogo, já a linha não pontilhada indica
para quem o interlocutor está apontando:
C B
Sinalização
Figura 7 – Pronome de terceira pessoa (ele/ela). Figura 8 – Pronome de segunda pessoa (tu/você).
A A
C B C B
Sinalização
Sinalização
C B
Sinalização
Ref. 2 Ref. 1
Sinalizante
Sinalizante
Ainda com relação ao uso do espaço para referentes, Quadros, Pizzio e Rezende (2010)
apresentam a proposta de Liddell (2000), que apresenta três tipos de usos do espaço nas
línguas de sinais:
I. espaço real – o referente que se procura representar participa do ambiente físico
real no qual ocorre a situação de comunicação;
II. espaço token – o referente que se pretende representar diz respeito à terceira pes-
soa, são referentes não presentes na situação de comunicação, representados sob a
forma de um ponto fixo no espaço físico;
III. espaço sub-rogado – o referente tem relação com uma cena de evento que já tenha
acontecido ou está por acontecer, sendo representado visualmente por uma espécie
de encenação.
Note que o sujeito e o objeto do verbo ENTREGAR são marcados a partir do ponto de
onde parte o sinal e do ponto onde ele culmina. Se o sinal parte do corpo do próprio sinali-
zador, o sujeito é EU, se o sinal parte de um ponto no espaço associado à terceira pessoa, o
sujeito é ELE(A). Da mesma forma, se a realização do sinal termina no corpo do sinalizador,
o objeto do verbo é EU (equivalente em português a para mim ou me, a depender do con-
texto) onde parte o sinal e do ponto onde ele culmina. As autoras observam também que:
Com alguns outros verbos que apresentam concordância é a orientação da palma
da mão que indica o sujeito e/ou objeto da sentença. Isso normalmente ocorre
com verbos que usam as duas mãos. Em tais casos há uma mão dominante e a
orientação dessa mão determinará as relações gramaticais. Na Libras o mesmo
fenômeno é observado com verbos como AJUDAR e ENSINAR. A orientação
desses verbos estará voltada para o interlocutor (2.ª pessoa) ou para quaisquer
outras pessoas do discurso seguindo os possíveis espaços reais, tokens ou sub-
-rogados. (QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2010, p. 14)
Finalmente, ainda no campo da concordância verbal, o espaço é utilizado para marcar
uma ação realizada por duas pessoas ou dois objetos ao mesmo tempo, são os chamados ver-
bos recíprocos, em que ambas as mãos são empregadas, como ilustram as imagens abaixo:
A seguir, você entenderá como os gestos são usados nas línguas de sinais como recurso
linguístico. Como você poderá constatar, entrecruzam-se aí também a questão do espaço e
da apontação, a qual é um gesto também.
Os gestos não são uma particularidade das línguas de sinais, haja vista que nas línguas
orais os gestos também são empregados durante a produção da fala.
Muitos sinais são influenciados pela forma visual concreta dos objetos a que se referem,
tal como o sinal de CASA. É nesse sentido que se fala de iconicidade, posto que a forma lin-
guística (significante) do sinal é motivada pela identidade visual do objeto ao qual o signo
(significante + significado) faz referência. Quadros, Pizzio e Rezende (2009) trazem o relato
sobre o estudo de Klima e Bellugi (1979), no qual a possível iconicidade de alguns sinais, em
diferentes línguas de sinais, é analisada detalhadamente. A conclusão a que a pesquisa chegou
foi que mesmo em sinais que se parecem visualmente com o objeto a que fazem menção a
natureza do significante é considerada arbitrária, tal como a dos demais sinais que não apre-
sentam tal similaridade. Para explicar a conclusão da pesquisa de Klima e Bellugi (1979), as
autoras Quadros, Pizzio e Rezende (2009), com base em Quadros (1997), afirmam que:
[...] apesar de apresentarem certa transparência para um determinado grupo de
usuários, para outro não indica o objeto em si. Diferentes línguas de sinais apresen-
tam variadas formas de representar os objetos lexicalizando-as, isto é, submetendo
a representação visual às condições de formação de palavras que são específicas de
sua língua. Assim, um sinal que tipicamente é melhor representado gestualmente
com duas mãos, poderá ser representado com uma única mão porque nesta língua
essa determinada classe tipicamente utiliza uma única mão. Ou seja, a ideia que
está sendo discutida aqui é a de que a gestualidade das línguas de sinais é submeti-
da às regras dessas línguas quando passa a fazer parte da língua. Os demais gestos
são apenas gestos, assim como encontrados nas línguas faladas.
A questão do emprego do espaço e da gestualidade e a forma como são exploradas pelo
sinalizador são importantes critérios, como se verá na próxima seção, para determinar se
uma dada sinalização se aproxima ou se distancia do que se poderia chamar de uma forma
culta/padrão da Libras.
Atualmente, não se pode dizer que exista uma norma culta da Libras registrada em algu-
ma gramática prescritiva, como há a norma culta do português, determinada por gramáticas
prescritivas e pela literatura nacional. No entanto, qualquer sinalizador fluente da Libras que
conviva num meio social letrado, que tenha um grau de instrução superior ao ensino básico
e/ou que represente ou conheça representantes e pesquisadores das comunidades surdas não
deixa de avaliar a sinalização de outras pessoas em termos de nível de formalidade – formas
de sinalização mais próximas do que se poderia chamar um padrão culto da Libras – e infor-
malidade – formas de sinalização mais distantes desse padrão culto virtual.
Claro que com os avanços do surdo e dos usuários da Libras nos mais diversos campos
do saber e de atuação política, artística etc. uma norma culta da Libras se encontra em pro-
cesso de formação, a qual espera-se, num futuro não muito distante, seja registrada. Mas, se
não há ainda um instrumento a consultar que seja o exemplo de norma culta a ser seguido
ou não – isso depende das circunstâncias em que se dá a comunicação –, como os usuários
da Libras, descritos anteriormente, julgam a formalidade ou informalidade de um discurso?
Em Silva, Rodrigues e Lima (2008), parte-se do pressuposto da composicionalidade
entre os fatores linguísticos, supralinguísticos e extralinguísticos para determinação da
variação discursiva nos níveis de formalidade e informalidade dos usuários da Libras. Os
fatores linguísticos se verificam na aderência das prescrições normativas dos constituintes
fonológicos, morfológicos, semânticos, sintáticos bem como no uso de vocabulários menos
prosaicos. Os fatores supralinguísticos se manifestam pela altura vocal, entonação, eloquên-
cia, oratória, e, como a Libras apresenta uma produção gestual, é necessário averiguar sua
equiparação ao parâmetro movimento (tamanho e velocidade) e à proporção do campo de
enunciação, ou seja, o espaço neutro utilizado (local de sinalização, em frente ao corpo).
Desse modo, existe uma tendência em associar discursos informais a sinalizações que se
valem de um maior campo espacial para produzir os sinais, estabelecer os referentes e mar-
car a concordância. Tanto é assim que a recomendação que intérpretes e tradutores surdos
recebem ao proceder na tradução do português para a Libras em contextos formais é que
apenas o espaço compreendido na área em frente ao corpo, do topo da cabeça ao nível do
quadril, seja explorado, de forma que quanto menores forem os movimentos do corpo, tanto
melhor. Exemplificando: para colocar um referente à sua direita, o intérprete não precisa
dar um passo para a direita, deslocando-se de sua localização inicial, mas apenas fazer uma
leve torção do tronco para direita e “colocando” aí os referentes. A gestualidade excessiva,
o recurso à pantomima e encenação também são vistos como índice de discursos informais.
Por fim, os fatores extralinguísticos se constituem das reações corporais do sinalizador,
adequação da sua vestimenta à situação de interação e, se possível, de modo a contrastar
com o ambiente onde a comunicação verbal tomará lugar, e o nível de intimidade entre os
envolvidos no ato de comunicação. Essas são características que também se verificam no
estabelecimento de situações de comunicação formal e informal nas línguas orais. Desse
modo, tanto em línguas orais quanto em línguas de sinais, determinar quão próximo ou
distante se deve ficar da norma culta da língua passa por fatores como: com quem se fala,
onde se fala, o que se fala e quais os objetivos a serem alcançados na conversa, se é uma
situação de comunicação que se pretende perene ou não, entre outros.
Gestualidade
(LEITE, 2008, p. 33-41)
Pode-se dizer que esse esforço não foi em vão e que, hoje, o estatuto linguís-
tico das LSs já se mostra amplamente aceito, pelo menos dentro da comu-
nidade linguística. Como visto nas seções acima, que trazem uma amostra
pequena porém ilustrativa do que tem sido feito na área, os pesquisadores
das LSs foram capazes de demostrar de que maneira os diferentes níveis de
análise que integram o estudo das LOs podem se manifestar em línguas de
modalidade distinta. Tal demonstração, contudo, não esteve livre de exces-
sos. No esforço de conferir estatuto científico às LSs, algumas caracterís-
ticas patentes do uso dos sinais, tais como a gradiência, a iconicidade e a
motivação foram varridas para debaixo do tapete, em favor de análises que
valorizavam a discrição e a arbitrariedade típicas das gramáticas normati-
vas e descritivas tradicionais das LOs.
ÁRVORE. PENSAR.
FATIAR.
[...]
Segundo Liddell, cada verbo desse tipo carrega, como parte de sua especi-
ficação lexical, uma determinada altura em relação ao corpo do falante de
onde ele deve partir, e uma determinada altura no corpo do interlocutor
para onde deve apontar. Em situações enunciativas concretas, portanto,
cada sinal deverá ser apontado de maneira gradiente no espaço com a
altura dos interlocutores presentes – ou mesmo dos interlocutores que,
embora ausentes, estejam representados no espaço imediato.
[...]
Dicas de estudo
Capítulo da “A linguagem verbal e a linguagem cinésica na comunicação
humana”. da dissertação: A Complementaridade entre Língua e Gestos nas
Narrativas de Sujeitos Surdos, de R. C. Correa. Disponível em: <www.tede.
ufsc.br/teses/PLLG0299-D.pdf>. Acesso em: 31 jan. 2017.
Referências
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de Sinais Brasileira (LSB): um estudo de caso longitudinal. Dissertação (Mestrado) – Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2009. 160 p.
BAKER, C.; COKELY, D. American Sign Language: a teacher’s resource text on grammar and culture.
Silver Spring, MD: TJ Publishers, 1980.
KLIMA, E. ; BELLUGI, U. The Signs of Language. Cambridge: Harvard University Press, 1979.
LEITE, Tarcísio de Arantes. Gestualidade. In: LEITE, Tarcísio de Arantes. A segmentação da Língua de
Sinais Brasileira (Libras): um estudo linguístico descritivo a partir da conversação espontânea entre
surdos. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
LIDDELL, S. K. Indicating verbs and pronouns: pointing away from agreement. In: EMMOREY,
K; LANE, H. An Anthology to Honor Ursula Bellugi and Edward Klima. Mahwah, NJ: Lawrence
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LILLO-MARTIN, D.; KLIMA, E. S. Pointing out differences: ASL pronouns in syntactic theory. In:
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IL: The University of Chicago Press, 1990, p. 191-210.
PIZZIO, Aline Lemos; REZENDE, Patrícia Luiza Ferreira; QUADROS, Ronice Müller de. Língua Brasileira
de Sinais II. Material didático do curso de Letras Libras a Distância. Florianópolis: UFSC, 2009.
PIZZIO, A. L. et al. Língua Brasileira de Sinais III. Material didático do curso de Letras Libras a
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QUADROS, R. M. de. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artmed, 1997.
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_______. Língua Brasileira de Sinais IV. Material didático do curso de Letras Libras a Distância.
Florianópolis: UFSC, 2010.
SILVA, Lídia da; RODRIGUES, Cristiane Seimetz; LIMA, Keila Valério de. Níveis de (in)formalidade
na Língua Brasileira de Sinais. Florianópolis, 2008. Anais do II Sinpel. Disponível em: <http://sinpel.
pbwiki.com>. Acesso em: 17 ago. 2010.
Resolução
1. Trata-se dos elementos dêiticos, que são construídos pela apontação para lugares
específicos no espaço, os quais remetem a referentes diferentes. Assim, apontar para
si mesmo resulta no uso do pronome EU, apontar para o receptor da mensagem re-
sulta no uso do pronome de segunda pessoa, apontar para quem ou o que é objeto da
conversa entre sinalizador e receptor implica no uso do pronome de terceira pessoa.
Da mesma forma, em verbos direcionais (com concordância) a direção de realização
do sinal indica o sujeito e o objeto do verbo. Como exemplo, pode-se citar a concor-
dância de ENTREGAR em que o sujeito é a terceira pessoa (El@) – o sinal parte do
ponto estabelecido como referente a terceira pessoa – e o objeto indireto a segunda
pessoa (tu/você) – o sinal culmina no ponto do espaço em que o receptor se encontra.
3. Resposta mínima deve contemplar que existe uma tendência em associar discursos
informais a sinalizações que se valem de um maior campo espacial para produzir os
sinais, estabelecer os referentes e marcar a concordância, bem como o emprego de
gestualidade excessiva, pantomima e encenação.
4.1 Fonologia
Desde o seu surgimento, a linguística se ocupa do estudo de línguas orais. As teorias, aná-
lises e descrições por ela fornecidas são resultado da observação de línguas orais. Apenas mui-
to recentemente, a partir de 1960, com o trabalho de William Stokoe sobre a língua de sinais
americana (ASL), os estudos linguísticos voltaram seu olhar às línguas visuais. A princípio,
tentou-se usar nomenclaturas diferentes no estudo das línguas de sinais, que não remetessem
ao conhecimento já produzido para as línguas orais. Mas essa tentativa foi frustrada, pois des-
necessária. Logo os linguistas se deram conta que, por se tratarem de línguas naturais como as
orais, as línguas de sinais podiam ser analisadas por meio dos instrumentos de estudo criados
pela Linguística até então, como se pode depreender do excerto abaixo:
Apesar da diferença existente entre línguas de sinais e línguas orais, no que
concerne à modalidade de percepção e produção, o termo “fonologia” tem sido
usado para referir-se também ao estudo dos elementos básicos das línguas de
sinais. [...] O argumento para a utilização desses termos (fonema e fonologia) é
o de que as línguas de sinais são línguas naturais que compartilham princípios
linguísticos subjacentes com as línguas orais, apesar das diferenças de superfície
entre fala e sinal. (KLIMA1; BELLUGI, 1979; WILBUR2, 1987; HULST3, 1993 apud
QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 48)
É possível dizer que som e imagem são os recursos representacionais de que se va-
lem línguas orais e visuais para comunicar, codificar mensagens. Da mesma forma como
as línguas orais podem ser decompostas em vários níveis, desde os com significado até o
nível em que não há significado, as línguas de sinais também podem. Assim, por exemplo,
a língua portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais formulam mensagens complexas por
meio do arranjo de palavras em frases. As palavras são formadas por meio dos morfemas,
os quais se originam da combinação de fonemas. Estes são considerados as menores unida-
des da língua, mas desprovidas de sentido. São esses elementos que, isolados, não possuem
significado, os responsáveis pela sofisticação de qualquer língua natural, uma vez que eles,
mesmo finitos, possibilitam a criação infinita de outras estruturas. Essas unidades menores,
sem significado isoladamente, os fonemas, são encontradas na Libras, à medida que essa
língua forma um número infinito de sinais a partir de cinco elementos, portanto, finitos: os
parâmetros para a formação de sinais.
O primeiro parâmetro é a configuração de mão (CM), o qual diz respeito à forma dada
às mãos para a formação do sinal. Segundo Felipe (2001), a Libras apresenta 64 CMs, as quais
podem dar origem a sinais da Libras, podendo empregar uma mão, duas mãos com a configu-
ração de mão diferente, ou também duas mãos, mas ambas com configurações de mão iguais.
A seguir, você encontra a relação de configurações de mão levantadas pela autora:
1 KLIMA, E.; BELLUGI, U. The Signs of Language. Cambridge: Harvard University, 1979.
2 WILBUR, R. American Sign Language: linguistic and applied dimensions. San Diego, California:
College Hill Press, 1987.
3 HULST, H. V. D. Units in the analysis of signs. In: Phonology 10. Cambridge: Cambridge
University, 1993.
1 2 3 4 5 6 7 8a 36 37a 37b 38 39 40 41 42
8b 9 10 11 12 13 14 15 43 44 45 46a 46b 47 48 49
56 57 58 59a 59b 60 61 62
22b 23 24 25 26 27 28 29a
O segundo parâmetro tem a ver com o espaço onde o sinal será realizado, podendo ser
no próprio corpo do sinalizador ou no espaço neutro (espaço “vazio” em frente ao corpo do
sinalizador, precisamente entre a cabeça e o quadril) e pode ser chamado de ponto de arti-
culação (PA) ou locação (L). O movimento (M) realizado no sinal é o terceiro parâmetro, há
inúmeros tipos de movimento, alguns serão tratados na próxima seção, quando da análise
de configurações de mão. O quarto parâmetro concerne à orientação (O) da palma da mão
na realização do sinal. Ela pode estar voltada para cima, para baixo ou para o corpo de quem
sinaliza, para fora, para a esquerda e para a direita. O último parâmetro trata-se da expres-
são facial e corporal (EFC) que acompanha o sinal. Todos esses parâmetros, sozinhos, não
significam nada, são apenas distintivos entre si. Porém, ao se combinarem, formam sinais.
Sob essa perspectiva, o sinal de saudade é realizado com uma mão, que assume a CM núme-
ro 1 do quadro apresentado por Felipe (2001). O PA é o peito do sinalizante, o M é circular, a
O é da palma para dentro e a EFC é a de uma pessoa sentindo saudade. Veja o sinal:
Então, por meio da combinação dos cincos parâmetros é que os sinais se formam, pois
eles são os traços distintivos das línguas de sinais: “A noção de traços distintivos nas lín-
guas de sinais dá-se no sentido de que cada sinal passa a ser visto como feixe de elementos
básicos simultâneos, que formam uma CM, um M e um L e que, por sua vez, entram na
formação de itens lexicais” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 62). Desse modo, ao deixar
conceitos preconcebidos para trás, é que se pode pensar e constatar que o estudo fonológico
da Libras é tão viável quanto o de uma língua oral.
4.2 Morfologia
Com base nesses critérios, chega-se à definição de que palavra é a unidade mínima que
pode ocorrer livremente. Definido o conceito de palavra, tem-se em mãos a unidade máxima
da morfologia, já que esta se interessa por saber como se estruturam as palavras, em identi-
ficar quais os menores elementos dotados de significado que compõem uma dada palavra.
Isso implica que as menores unidades de estudo da morfologia são os elementos dotados
de significado que entram na formação de uma palavra, os quais são denominados de mor-
femas. Sandalo (2001, p. 184) observa, após tal definição, que “apesar de muitas pessoas
afirmarem que a palavra é a unidade mínima que carrega significado, o morfema é que o é”.
A tarefa agora é entender o que a autora quer dizer sobre “unidade mínima que carrega
significado”, para que você possa, de fato, operar com o conceito de morfema. Para tanto,
observe os exemplos abaixo:
7.
b. Maria pegou emprestada a carteira de João pois acabou perdendo a carteira dela.
8.
9.
No caso de (7a), é possível saber que foi João quem perdeu a carteira por conta da con-
cordância, no masculino, apresentada pelo pronome dele, em que o -e marca o gênero mascu-
lino, ligando a carteira perdida ao João. Em (7b), pela presença do -a no pronome possessivo,
marcando gênero feminino, é possível saber que a carteira perdida foi a de Maria. No exemplo
na formação de novas palavras na Libras. Além desses recursos explicitados pelas autoras, há
ainda a composição, que consiste em unir duas palavras independentes para formar uma nova
palavra. Em português, palavras como guarda-chuva, maltratado, benquisto ilustram o processo
de composição, os substantivos compostos como são chamados pela gramática tradicional.
Em língua de sinais, a palavra escola é formada por dois sinais independentes casa e estudar.
Esse processo é bastante comum na Libras e em outras línguas de sinais. Nas seções a seguir,
os processos de derivação, incorporação e composição serão analisados no que concerne às
línguas de sinais, uma vez que os estudos realizados sobre os referidos temas foram feitos na
língua americana de sinais (ASL), mas são descrições válidas também para a Libras.
SENTAR. CADEIRA.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
OUVIR. OUVINTE.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
TELEFONAR. TELEFONE.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
Nos casos ilustrados anteriormente, os sinais da direita são os primitivos, os que dão
origem aos da esquerda, chamados de derivados. Você perceberá que os sinais da esquerda
resultam da modificação do parâmetro movimento, pois todos os outros parâmetros (confi-
guração de mão, ponto de articulação e orientação da mão) são mantidos. Então, a repetição
ou reduplicação de um parâmetro (o movimento) do sinal base (primitivo) leva à criação de
novos sinais, os produtos (derivados) do processo de derivação.
Em resumo, a Libras, por meio da derivação morfológica, “cria novas unidades a partir
de formas já existentes, apresentando a tendência de repetir ou mudar o movimento na
estrutura segmental da forma-base, enquanto mantém as outras unidades – locação, confi-
guração e orientação de mão – inalteradas” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 101).
UM-MÊS. DOIS-MESES.
TRÊS-MESES. QUATRO-MESES.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
QUERER. NÃO-QUERER.
apenas o primeiro sinal apresenta contato, esse contato tende a permanecer. Se o primeiro
sinal do composto não tem contato, mas o segundo tem, esse contato tende a ser mantido.
No caso de ambos os sinais que formam o composto apresentarem o contato, este pode per-
manecer nos dois sinais ou em apenas um deles. Um exemplo dessa regra na Libras é o com-
posto correspondente a igreja (CASA^CRUZ), em que ambos os sinais apresentam contato,
que é mantido na realização do composto, como pode se verificar na ilustração:
IGREJA.
BOA-NOITE.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
ACREDITAR. NÃO-ENTENDER.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
No caso do sinal BOA-NOITE, é fácil entender por que ele é composto, já que se po-
dem distinguir muito bem o sinal BOM e o sinal NOITE. Já em relação aos compostos
ACREDITAR (em português se trata de uma palavra simples) e NÃO-ENTENDER (em por-
tuguês equivale a uma frase) “enxergar” os sinais que os compõem não é tão simples. Assim,
repare na ilustração que o sinal ACREDITAR é composto pelos sinais SABER + ESTUDAR e
o sinal NÃO-ENTENDER é formado pela união de SABER e NADA.
Na Libras também há, segundo as autoras, a flexão que indica o singular, o dual, o trial
e o múltiplo, trata-se, portanto, da flexão de número. Entre as várias formas de os subs-
tantivos e verbos apresentarem a flexão de número, uma é a diferenciação entre singular e
plural, feita por meio da repetição do sinal. No caso de verbos com concordância, a flexão de
número refere-se à distinção feita para um, dois, três ou mais referentes. Repare nos casos a
seguir a repetição do sinal:
ÁRVORE.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
ÁRVORES.
CARRINHO.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
CARRO. CARRÃO.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
Além das flexões já apontadas na Libras, há em Quadros e Karnopp (2004) a flexão para
o aspecto verbal, que, grosso modo, informa como decorreu a situação referida na sentença,
se durou ou não, se se repetiu etc. Essa informação é dada também pela alteração no parâ-
metro movimento do sinal raiz. Observe a diferença de sinalização entre:
4.3 Sintaxe
CASA. IX (Casa).
IX (Casa).
X (Casa) NOVA.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
4 Provavelmente, por óbvia as autoras querem significar que a referência é do conhecimento dos en-
volvidos na situação de comunicação, isto é, faz parte do conhecimento compartilhado dos indivíduos
em interação.
(eu) IR (casa).
Agora que você já conhece um pouco mais do uso do espaço e outros recursos para
estabelecer relações sintáticas na Libras, pode se dedicar, com menos dificuldade, à com-
preensão da ordem sintática nessa língua, tema da próxima seção.
As línguas de sinais
(PIZZIO, 2006, p. 4-7)
línguas faladas, que já possuem uma longa tradição. Além disso, a maioria
delas ainda não está totalmente descrita em seus níveis fonológico, morfo-
lógico e sintático e carecem de maior investigação. Com relação à LSB, as
pesquisas linguísticas ainda são escassas, e há necessidade de mais traba-
lhos na área para que se melhore a descrição da mesma. Entre os trabalhos
realizados destacam-se Ferreira-Brito (1995) e Quadros e Karnopp (2004).
Conforme Bellugi et al. (1989), este uso do espaço para indicar referentes,
verbos com concordância e relações gramaticais é, claramente, propriedade
única de um sistema visual-gestual, ou seja, específico das línguas de sinais.
Atividades
1. A fonologia é um ramo da Linguística criado para o estudo dos sons da fala. Discuta,
então, como é possível o estudo do nível fonológico na Libras.
TELEFONAR. TELEFONE.
TER. NÃO-TER.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
Resolução
1. A Libras, na sua condição de língua natural, apresenta elementos básicos, usados na
composição dos sinais, que são distinguíveis entre si e, embora não possuam signi-
ficado isoladamente, podem levar à mudança de significado quando alterados num
mesmo contexto, tal como são os sons para as línguas orais.
2. Em primeiro lugar, espera-se que o estudante seja capaz de reconhecer nos pares for-
necidos os exemplos dos processos a serem definidos. Assim, o par TER/ NÃO-TER
é um exemplo de incorporação, processo morfológico que consiste em incorporar à
palavra ou sinal elementos em seu interior, mas não da mesma forma como ocorre
na derivação, em que se vê um acréscimo de material à base de uma palavra para
criar outra, sendo possível delimitar na palavra ou sinal derivado a base da palavra
ou sinal primitivo. Esse acréscimo, com possibilidade de identificação da base, é o
que se vê no par TELEFONAR/TELEFONE, exemplo de derivação na Libras, em que
por meio da repetição do parâmetro movimento do sinal de TELEFONAR surge o
derivado TELEFONE, uma nova palavra com categoria gramatical alterada, o que
caracteriza o processo de derivação.
Neste capítulo, você vai conhecer um pouco sobre a história do braille. Vai enten-
der o que é o braille, como ele surgiu e vai conhecer a história de Louis Braille que, com
apenas 16 anos, criou esse código que revolucionou os estudos e a vida de deficientes
visuais no mundo todo. Também vai ter a oportunidade de entender como o braille
funciona e quais são os instrumentos utilizados pelos cegos para escrever. Essas infor-
mações são importantes para que você possa se integrar ao universo do estudante cego
e apoiá-lo no seu desenvolvimento global, ao mesmo tempo em que percebe que o
aluno cego é uma pessoa capaz e independente, que precisa apenas de apoio e respeito
para participar ativamente das aulas com os outros estudantes e atuar como cidadão
na sociedade.
Braille é um sistema de escrita e leitura alfabética. Por ser uma proposta voltada para
atender às necessidades de estudantes cegos e surdocegos, exige um tratamento didático
diferenciado. Graças ao braille, o estudante cego passa a ter autonomia em suas atividades
escolares, podendo expressar-se por escrito e não apenas oralmente.
Segundo Rosa (2005, p. 13), entre os séculos XVI e XVII, foram criadas várias tentativas
de métodos de acesso à linguagem escrita para cegos. Dentre elas destacam-se a gravação
de letras e caracteres em madeira ou metal, sistemas de nós em cordas, caracteres recortados
em papel e alfinetes de diversos tamanhos fixados em almofadas.
Segundo Lemos et al (1999), o braille foi inventado por volta do século XIX, por um
jovem francês chamado Louis Braille (1809-1852). Ele perdeu a visão com 3 anos de idade,
quando estava brincando em uma oficina de seu pai e acabou furando o olho com uma das
ferramentas. Mesmo sendo tratado com os melhores médicos da época, Louis adquiriu uma
infecção que logo se espalhou para o outro olho, deixando-o completamente cego.
Louis Braille foi um estudante brilhante da Instituição Real para Jovens Cegos, a pri-
meira escola para cegos de Paris. Essa escola empregava o sistema Valentin Haüy, criado por
seu fundador. Por esse sistema, os estudantes aprendiam a ler por meio de letras grandes
em relevo, mas não podiam escrever. Além disso, a quantidade de livros adaptados à leitura
tátil era muito pequena e os estudantes aprendiam, principalmente, por meio da repetição
de conteúdos transmitidos oralmente pelos professores.
Na escola, Louis Braille preocupava-se com as restrições do seu aprendizado e as difi-
culdades de seus colegas cegos para aprender. Ele assistiu a uma apresentação de Charles
Barbier, um capitão do exército (1707-1841), que inventou um método de transmissão de
mensagens sigilosas para soldados, o qual consistia numa combinação de 12 pontos em
relevo com valor fonético, mas que, por ser considerado muito complexo, foi rejeitado pe-
los militares. Barbier teve a ideia, então, de apresentar seu método na Instituição Real para
Jovens Cegos, onde foi muito bem recebido.
O método de Barbier despertou profundo interesse no adolescente Louis Braille, que
passou a estudá-lo com afinco. No entanto, ao adquirir mais habilidade no método, ele co-
meçou a perceber seus problemas e a propor modificações.
O sistema de Barbier apresentava as seguintes dificuldades: não permitia co-
nhecimento de ortografia, pois os sinais representavam somente sons; não havia
símbolos para pontuação, acentos, números, símbolos matemáticos e notação
musical; e, principalmente, a complexidade de combinações tornava a leitura
difícil e lenta. (LEMOS, 1999)
Contudo, Barbier não aceitou bem as críticas feitas por um adolescente ao seu método
e recusou-se a fazer as mudanças. Louis Braille começou, então, a trabalhar, em 1825, com
apenas 16 anos, na criação de um novo sistema, que acabou se tornando muito diferente do
método que o inspirou.
Segundo Lemos et al. (1999), Louis Braille conseguiu convencer o diretor de sua escola e
seus professores sobre a eficácia de seu método. Dentre os métodos e sistemas utilizados, o
braille foi o mais efetivo, devido à sua eficiência e aplicabilidade, tornando-se o melhor meio
de leitura e escrita para a educação das pessoas cegas. No entanto, o braille não foi aceito de
imediato. As letras em relevo de Haüy continuaram a ser usadas paralelamente ao ensino
de braille, pois muitos professores, mais conservadores, eram contrários ao novo método e o
contestavam, pois acreditavam que ele isolava os cegos. Contudo, a partir de 1843, o método
foi aceito e publicado, tendo ótima aceitação pelos cegos.
A partir de 1878, em um congresso internacional realizado em Paris, estabeleceu-se que
o sistema braille deveria ser padronizado. Vários outros congressos mundiais foram reali-
zados para se discutir, adaptar e unificar os símbolos do braille, tanto para a musicografia
quanto para a matemática.
No entanto, nem sempre houve consenso em relação à simbologia adotada nos países que
usavam o braille. Diferenças regionais foram surgindo em todo o mundo e, embora houvesse
a tentativa de unificação do sistema, essa unificação nunca foi perfeita e continuaram prevale-
cendo divergências que prejudicaram o desenvolvimento técnico e científico das pessoas cegas.
Ainda segundo Lemos et al. (1999), na década de 1970 foram feitas novas tentativas de uni-
ficação do sistema. A Organização Nacional de Cegos da Espanha propôs, nessa época, um có-
digo unificado chamado notación universal. Em 1973, Espanha, Argentina e Brasil reuniram-se na
Figura 3 – Exemplo de cela braille. Nesse caso, temos (14), que equivale à letra c.
1 4
2 5
3 6
3 2 1 espaço 4 5 6
Para ler o texto em braille, o sujeito utiliza a ponta do dedo indicador de uma das mãos.
O dedo faz uma leve pressão sobre os pontos permitindo a percepção e discriminação dos
símbolos. Em média pode-se ler até 104 palavras por minuto.
Por se tratar de um sistema em que a leitura é feita com o toque, exige-se muito mais de
sensibilidade do que de prática.
Em se tratando do alfabeto, cada um dos sinais em braille é determinado com base
em uma cela formada por duas colunas e três linhas. Em cada posição dessa matriz
há unicamente duas opções: um ponto em alto-relevo ou plano. Podemos fazer 63 com-
binações ou mais por pontos a partir de um conjunto matricial, ou seja, os seis pontos. Esse
conjunto é chamado de sinal matricial.
Para facilitar a identificação, os pontos são numerados de cima para baixo e da esquerda
para direita para facilitar a leitura.
K L M N O P Q R S T
U V X Y Z Ç É Á È Ú
Â Ê (espaço) Ô @ À Ï Ü Õ W
Com relação aos sinais do sistema braille, esses são designados de duas formas diferen-
tes: quando ocupam somente uma cela são chamados de iniciais simples e quando ocupam
duas ou mais celas são chamados compostos.
. , ? ! :
Para escrever números, utilizamos as dez primeiras letras do alfabeto precedidas pelos
pontos (3456), chamado sinal de número. Como segue o exemplo:
(3456) 2, (3456) 30, (3456) 250, (3456) 2.000
1 2 3 4 5
6 7 8 9 0
Já os sinais das operações simples são, respectivamente, adição (235); subtração (36);
multiplicação (236); divisão (256) e sinal de igual (2356).
Para representar as operações usa-se o sinal de número antes de cada parcela, incluindo
o resultado, sem deixar espaço.
Exemplo: sinal de número 25 + sinal de número 5 = sinal de número 30.
Qualquer pessoa pode ler braille e seu aprendizado requer apenas interesse, boa von-
tade e tempo para se dedicar. Aprender braille é como aprender um código, por isso é bem
mais simples do que aprender outra língua, pois você vai continuar escrevendo em portu-
guês. Além de poder ajudar mais efetivamente um estudante cego ou outro deficiente visual
de seu convívio, você vai desenvolver outras habilidades e começar a enxergar o mundo do
deficiente visual com outros olhos.
Depois de perguntar ao menino por que ele apertava tanto os olhos, o dou-
tor José Lourenço tirou os óculos e os dependurou no nariz de Miguilim.
O morador do Mutum não podia acreditar. “Tudo era uma claridade,
[...]
[...]
Atividades
1. Assinale a alternativa que representa o número de pontos na cela braille:
a. 6 pontos.
b. 9 pontos.
c. 5 pontos.
d. 12 pontos.
O sistema braille utilizando ___ pontos em relevo, dispostos em ___ colunas, possi-
bilita a formação de ____ símbolos diferentes que são empregados em textos literá-
rios nos diversos idiomas, nas simbologias matemática e científica, na música e na
informática.
a. 6 – 3 – 65;
b. 12 – 6 – 62;
c. 12 – 2 – 66;
d. 6 – 2 – 63;
e. 6 – 3 - 68.
a. É uma língua que apresenta suas próprias regras gramaticais, sendo muito dife-
rente da língua portuguesa.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Referenciais para a construção
de sistemas educacionais inclusivos. A fundamentação filosófica a história a formalização Educação
Inclusiva. Direito a Diversidade. Curso de formação de gestores e educacionais, 2004.
______. Ministério da Educação. Educação Especial. Grafia para a língua portuguesa. 2. ed. Brasília, 2006.
______. Ministério da Educação. Educação Especial. Código unificado para a língua portuguesa, 2006.
Resolução
1. A
2. D
3. C
A criança cega muitas vezes chega à escola sem ter recebido estímulo necessário
para o desenvolvimento de suas capacidades básicas. sendo assim, é fundamental que
se discuta a importância da estimulação essencial em crianças cegas de 0 a 5 anos para
que elas possam estar preparadas para o processo de ensino-aprendizagem e para
enfrentar todos os desafios presentes na vida em sociedade. Para a criança cega, é
indispensável o estímulo adequado durante seus primeiros anos de vida, para o desen-
volvimento de suas funções intelectuais, motoras e afetivas. A estimulação essencial
ou precoce auxilia, inclusive, no aprimoramento de mecanismos necessários para a
leitura tátil e o aprendizado do braille.
A criança cega muitas vezes é privada de apreciar experiências que seriam indispensá-
veis ao seu pleno desenvolvimento psicomotor. Isso ocorre pela falta de estímulos visuais
capazes de motivá-la a deslocar-se e a descobrir seu mundo, e, por conta desse problema,
ela se torna menos desenvolvida motor e cognitivamente. Enquanto alguns pesquisadores
consideram a ausência de visão como um atraso irreversível no desenvolvimento global
da criança, outros acreditam que, com estimulação adequada, é possível ajudar a criança a
superar suas limitações e integrar-se à sociedade.
Nesta aula defende-se que a estimulação essencial interfere de forma positiva no
processo de ensino-aprendizagem. Com uma estimulação adequada é possível que essas
crianças possam ter um diferencial em relação às crianças que não foram estimuladas, o
que lhes possibilitaria um melhor preparo para a vida acadêmica e mais subsídios físicos
e intelectuais para o aprendizado do braille.
Mas o que seria a estimulação essencial ou precoce? Segundo Rodrigues (2017), é um
procedimento biopsicossocial que tem por finalidade proporcionar à criança deficiente vi-
sual, nos primeiros anos de vida, determinados estímulos de forma a possibilitar que o de-
senvolvimento das suas potencialidades psicomotoras, cognitivas e sensoriais ocorra tão
normal quanto possível.
Essa estimulação deve ser precoce, ou seja, deve ocorrer o quanto antes, de modo a
antecipar-se às dificuldades que, porventura, vão surgir na vida dessa criança. Portanto, ela
não pode ser intuitiva, mas deve seguir um planejamento criado pela criança que acompa-
nha a criança.
A estimulação essencial busca o desenvolvimento dos sentidos remanescentes (audição,
tato, paladar e olfato), o quais também são importantes para o aprendizado do braille. As
atividades propostas na estimulação essencial contribuem para estabelecer conexões cere-
brais que promovem a construção de mecanismos para a superação dos problemas causados
pela ausência de visão. Importante destacar que, ao se propor a estimulação essencial para
uma criança cega, é imprescindível o envolvimento da família, bem como dos profissionais
(fisioterapeuta, psicólogo, pedagogo, fonoaudiólogo, médico e professores) que atuam no
seu desenvolvimento.
Estimular a criança cega é fazê-la explorar o ambiente, adquirir agilidade e habilidades
de forma mais natural possível e fazê-la entender o que ocorre ao seu redor, por meio dos
outros sentidos.
Para Vygotsky, apud Rego (1995), a criança, ao nascer, responde a reflexos e, para interpre-
tá-los, ela necessita dos sentidos. Esses processos são chamados elementares. Por conseguinte,
na ausência de algum sentido, no caso a visão, é indispensável a estimulação essencial, para
que a criança desenvolva as funções psicológicas superiores de maneira satisfatória.
Fonte: ChameleonsEye/Shutterstock.
Até os dois anos e meio, as ações da criança são mais de ordem biológica, tendo em
vista a satisfação de suas necessidades imediatas. Após esse período, a criança começa a
desenvolver os processos psicológicos superiores (VYGOTSKY, 1987), que são de essência
sócio-histórica e de interiorização de significados sociais provenientes da atividade cultural,
entre elas, a escola. No desenvolvimento do ser humano, a aprendizagem ocupa papel fun-
damental, especialmente com relação às funções psicologicamente superiores sobre as quais
se desenvolvem as principais práticas escolares.
Nesse viés, teorias como a de Vygotsky (2007) destacam que os fatores ambientais,
sociais e culturais são fatores fundamentais para os processos de desenvolvimento e
aprendizagem. Pensando que o homem é um ser social, ele se desenvolve na cultura e
na sociedade, capaz de aprender com o outro por meio da linguagem, essa organiza e dá
sentido à experiências compartilhadas.
Conforme afirma Vygotsky (1984),
[...] os fatores ambientais e dentro desses os sociais e culturais, condensados na
função da linguagem, são fundamentais nos processos de desenvolvimento e
aprendizagem. O homem é um ser capaz de aprender com o outro por meio da
linguagem que organiza e dá sentido à experiência humana compartilhada.
O desenvolvimento e a aprendizagem ocorrem no espaço privilegiado constituído pe-
las relações sociais, no espaço em que os seres humanos interagem entre si e com os objetos
do mundo. Assim o desenvolvimento do sujeito se dá com base em suas interações sociais.
Segundo Vygotsky (1989), o desenvolvimento da criança, primeiramente, é mediado
pelo outro. Num segundo momento ela faz a internalização do comportamento, da cul-
tura e dos modos de funcionamento psicológico do seu grupo cultural. A atividade que
antes precisou da intervenção de outras pessoas passa a ser feita de forma independente,
assim a criança vai ganhando autonomia e se apropriando da aprendizagem. Diante disso,
Fonte: Wavebreakmedia/Shutterstock.
Em relação ao processo de alfabetização em braille, esse deve ser iniciado nos primeiros
anos de vida da criança, durante a estimulação precoce, por meio de um trabalho de apri-
moramento da percepção tátil e da sensibilidade, ou seja, pelo treinamento dos sentidos.
Estimular os sentidos, por meio de identificação de figuras e texturas, apertando massas de
modelar e formando bolinhas, dobrando papéis, pintando desenhos em relevo etc., faz com que
a criança cega tenha domínio sobre esses objetos, proporcionando preparo progressivo para a
efetivação da alfabetização em braille. A partir daí, a criança cega estará preparada para iniciar o
processo de alfabetização, pois já desenvolveu algumas potencialidades para esse aprendizado.
Ao mesmo tempo deve ocorrer, gradativamente, a assimilação das letras (MOSQUEIRA, 2010).
Por fim, recebendo a estimulação necessária desde o seu nascimento, a criança cega, com cer-
teza, terá um amplo diferencial na realização de todas as atividades, em todas as áreas da sua vida
diária e durante seu processo de aprendizagem escolar. Como a estimulação é a base para o futuro,
ela é fundamental para uma inclusão positiva dessa criança no ensino comum e na sociedade.
[...]
ficando difícil projetar imagens mentais além das coisas que estão ao seu
alcance. Além disso, a falta da visão impõe uma maior dificuldade na per-
cepção do próprio corpo, que se mistura com as roupas, cobertas e móveis.
O bebê cego não conta com a visão para fazer a distinção fundamental entre
seu eu anatômico e todos os objetos do ambiente ao seu redor.
Atividades
1. Sem o trabalho de estimulação essencial, a criança que nasce cega:
b. Vai agir de acordo com o seu meio, adaptando-se às situações da melhor forma
possível.
a. A família não deve participar das atividades, pois não tem formação profissional
para lidar com uma criança cega e pode acabar
Referências
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Resolução
1. D
2. C
3. O professor de um aluno com deficiência visual deve sempre ter em mente o que o
aluno pode aprender a realizar sozinho e não acomodar-se apenas no que ele já sabe.
Dessa forma, trabalha-se com objetivos pré-definidos (metas de aprendizagem) fo-
cando sempre na progressão da autonomia do aluno.
Neste capítulo, discute-se o que é deficiência visual e a diferença entre visão sub-
normal e cegueira, com vistas a provocar uma reflexão no leitor a respeito do tipo de
restrição visual que um aluno pode apresentar em sala de aula e que vai exigir práticas
específicas para cada caso. Além disso, dependendo do tipo de deficiência visual, o
trabalho com leitura e escrita também se diferencia.
Conceituar deficiência visual é importante para entender e conhecer os sujeitos que são
objeto deste estudo. O termo deficiência vem do latim deficientia e, segundo o Dicionário
Michaelis (2017), significa “ausência de qualidade ou de quantidade; carência, falta, lacuna”.
Deficiência visual é, portanto, a perda ou a redução da capacidade visual em ambos os olhos.
A deficiência visual não abrange somente os cegos, mas quaisquer pessoas com proble-
mas visuais graves, que as impeçam de realizar atividades rotineiras que exijam a visão. O
Decreto n. 5.296 de 2 de dezembro de 2004 estabelece que a deficiência visual tem vários níveis:
Deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual1 é igual ou menor que
0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa
acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os
casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for
igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições
anteriores. (BRASIL, 2004)
As prováveis causas da deficiência visual são hereditárias (congênitas) ou adquiridas,
nesse caso por doenças como diabetes, descolamento de retina, glaucoma, catarata, degene-
ração senil e traumas oculares. Dentre os deficientes visuais distinguem-se os portadores de
cegueira e os de visão subnormal.
Segundo Taleb et al. (2012, p. 10), em 1972, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reuniu
em Genebra um grupo de estudos de prevenção à cegueira que criou a classificação de deficiência
visual utilizada em todo o mundo até hoje. Essa classificação está representada na tabela 1 a seguir.
1 Acuidade visual refere-se à “maior capacidade de discriminar dois pontos a uma determinada dis-
tância” (TALEB et al., 2012).
De acordo com a tabela, as categorias 1 e 2 referem-se às pessoas que têm visão subnor-
mal, enquanto cegueira relaciona-se às categorias 3, 4, 5 e 9. Já o Código Internacional de
Doenças (CID) estende a visão subnormal para a categoria 3. Na prática, pessoa com visão
subnormal é aquela que apresenta deficiência visual, mesmo depois de tratamento ou corre-
ção refrativa, apresentando acuidade visual de 20/60, mas que consegue usar sua visão para
a execução de alguma tarefa (TALEB et al., 2012, p. 12).
O CID questiona que pessoas com visão subnormal (categoria 3) são classificadas como
cegas pela tabela da OMS. Isso é um problema, pois elas deixam de se beneficiar com o tra-
tamento adequado para pessoas com visão subnormal. Há uma grande diferença entre pes-
soas que têm cegueira irreversível (sem percepção de luz) e aquelas que têm visão residual
que lhes permite realizar tarefas rotineiras (TALEB et al., 2012, p. 13).
Especificamente sobre a cegueira, Sá, Campos e Silva (2007) atestam que:
a cegueira é uma alteração grave ou total de uma ou mais das funções ele-
mentares da visão que afeta de modo irremediável a capacidade de perceber
cor, tamanho, distância, forma, posição ou movimento em um campo mais ou
menos abrangente. Pode ocorrer desde o nascimento (cegueira congênita), ou
posteriormente (cegueira adventícia, usualmente conhecida como adquirida)
em decorrência de causas orgânicas ou acidentais. Em alguns casos, a cegueira
pode associar-se à perda da audição (surdocegueira) ou a outras deficiências.
(SÁ, CAMPOS e SILVA, 2007)
A OMS fez em 2011 uma estimativa global e concluiu que o número de pessoas com de-
ficiência visual é de aproximadamente 285 milhões, do quais 39 milhões são cegos (TALEB
et al, 2012, p. 18). Dos cegos, 82% têm 50 anos ou mais, pois a principal causa de cegueira, a
catarata, acomete principalmente a população idosa.
A cegueira também é um problema econômico-social, já que quase 90% dos casos de
cegueira ocorrem em países subdesenvolvidos. Um exemplo é a catarata, que acomete 5%
da população idosa de países economicamente desenvolvidos, mas que chega a 50% dos
idosos nas regiões mais pobres do mundo (TALEB et al, 2012).
Ainda segundo Taleb et al (2012), a deficiência visual é considerada um problema grave
de saúde global pela OMS. Em 2012, essa organização destacou que 80% das deficiências
visuais advêm de causas que poderiam ser evitadas. Infelizmente, milhões de pessoas conti-
nuam a perder a visão, devido à falta de políticas públicas de prevenção à cegueira.
Pensando no ato de ler, a primeira ideia que vem à cabeça da maioria das pessoas é a deco-
dificação de palavras. Afinal, é assim que a leitura é ensinada na escola, por meio do aprendiza-
do das letras que se unem para compor sílabas que, por sua vez, se integram e formam
palavras.
Contudo, a leitura está longe de ser apenas um processo linguístico. Em seus estudos,
Martins (2012, p. 31) enfatiza que existem duas formas de leitura:
1. decodificação mecânica de signos linguísticos, por meio do aprendizado
estabelecido a partir do condicionamento estimulo-resposta (perspectiva
behaviorista-skinneriana).
2. como processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve compo-
nentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, tanto
culturais, econômicos e políticos (perspectiva cognitivo sociológica).
Figura 1 – Ler não é um ato mecânico. Nesse sentido, o ato de ler vai além do
texto propriamente dito. Afinal, não basta
apenas repetir o que está escrito, é preciso
que tenha significado o que foi decodifica-
do. Dessa forma, o leitor participa de forma
ativa do texto, dando-lhe significados que
dialogam com a mensagem original, mas
que vão além do que está escrito. Isso por-
que o leitor traz a sua própria experiência
de vida, as leituras que fez, os conhecimen-
tos que tem, as ideologias que defende, e
interpreta o texto com base nessas e em
outras informações. Por esse motivo, é pos-
sível afirmar que um texto sempre vai ser
Fonte: Twinsterphoto/Shutterstock.
lido de uma forma diferente, dependendo
de quem o lê.
Fonte: Wavebreakmedia/Shutterstock.
[...]
Atividades
1. Sobre a deficiência visual, é correto afirmar:
a. Todo deficiente visual deve aprender o braille para poder comunicar-se por es-
crito e ler livros.
d. Alunos com baixa visão e alunos com cegueira devem receber o mesmo trata-
mento na escola, pois ambos os problemas prejudicam o aprendizado.
e. Pessoas com visão subnormal precisam receber o mesmo tratamento que as pes-
soas cegas, de acordo com o Código Internacional de Doenças (CID).
2. É por meio do ato de ler que o leitor adquire informação apropriando-se dela. Segun-
do Rodrigues e Cippra, (2001, p. 52) “ao se definir que algo é informativo, que esta
informação atende as suas necessidades e que a mesma tem sentido considerável, o
individuo apropria-se dela, processa e constrói um novo conhecimento”. Então ao
que se refere o ato de apropriar?
e. Apropriar-se de letras e saber o seu valor sonoro, assim realizamos o ato de ler.
b. O sujeito cego lê o mundo de forma diferente, por meio de outros sentidos como
o tato e a audição. Já a leitura de textos é feita em braille e livros em áudio.
c. O sujeito com deficiência visual lê apenas em braille, quando cego; e com carac-
teres ampliados, quando tem visão subnormal.
d. A criança cega não pode ler o mundo, pois é privada de visão, a qual é essencial
para leitura.
e. O ato de ler estimula no sujeito o senso crítico. Contudo, o sujeito cego depende
de outras pessoas para que esse processo de leitura seja realizado.
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Resolução
1. C
2. D
3. B
Dessa forma, ao trabalhar com a educação inclusiva é necessário deixar de lado o con-
servadorismo e entender que uma escola pode oferecer condições de aprendizagens e con-
vivências com as diferenças.
A Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) é o marco mundial para a filosofia da
educação inclusiva, pois segundo Mendes (2006 p. 395), “a partir de então, ganha terrenos as
teorias e práticas inclusivas em muitos países, inclusive no Brasil”. Com a declaração foram
preconizadas diretrizes da Educação para todos e assim estabeleceu-se força às discussões
acerca da escola inclusiva.
A Lei n. 9.394/96 – de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que define como dever
do Estado o “atendimento educacional especializado aos educandos com necessidades es-
peciais preferencialmente na rede regular de ensino” (Artigo n. 4, III), orienta as políticas
educacionais e proporciona a base legal para o desenvolvimento da educação inclusiva.
Para Karagiannis, Stainback e Stainback (1999, p. 21) “a prática da inclusão de todos –
independente de seu talento, deficiência, origem socioeconômica ou origem cultural – em
escolas e salas de aula provedoras, onde todas as necessidades dos alunos são satisfeitas”.
Assim, a filosofia da inclusão é a união de pessoas para criar escolas com base na aceitação.
Ainda, segundo Mendes (2006 p. 395) inclusão é
Uma proposta da aplicação prática ao campo da educação de um movimento
mundial, denominado, inclusão social, que implicaria a construção de um pro-
cesso bilateral na qual as pessoas excluídas e a sociedade buscam, em parceria,
efetivar a equiparação de oportunidade para todos, construindo uma sociedade
democrática na qual, todos conquistariam uma cidadania, na qual a diversidade
seria respeitada e haveria aceitação e reconhecimento político das diferenças.
Nesse viés podemos pensar em inclusão como movimento social, marcada por lutas,
mesmo que realizadas por grupos minoritários, mas com objetivo de conquistar a possibili-
dade de direitos para uma vida justa em sociedade.
A inclusão escolar promove que o estudante com deficiência vivencie experiências em
contextos reais, proporcionando-lhe, assim, viver em comunidade. Já para os professores,
a inclusão também é benéfica, visto que seu esforço para atender diversas necessidades, o
Fonte: Vebreakmedia/Shutterstock.
É relevante também refletirmos que o cérebro não nasce pronto, mas vai aprendendo
e sendo modificado, pois tem plasticidade, ou seja, tem a capacidade de desenvolver novas
conexões sinápticas entre os neurônios a partir da experiência e do comportamento vivido.
Segundo Carlo (2001) é por meio da plasticidade neural que o sujeito cego desenvol-
ve estrutura psíquica, reorganiza sua personalidade, adapta suas capacidades e promove
Inclusão escolar
de alunos cegos e com baixa visão
(SÁ; CAMPOS; SILVA, 2017)
d. Movimento que, historicamente, foi marcado por lutas sociais realizadas por
grupos minoritários, assim como por seus representantes.
a. Um dos caminhos para a inclusão bem-sucedida é o abandono, por parte dos pro-
fessores, de práticas que valorizam a simples acumulação de conteúdo e nas quais os
estudantes ficam isolados.
b. O sucesso da inclusão escolar depende somente de esforços e de dedicação dos pro-
fessores.
c. A inclusão escolar beneficia os estudantes com necessidades educacionais especiais e
prejudica os demais estudantes.
d. O movimento de inclusão escolar é totalmente desnecessário.
e. A inclusão é somente a integração da escola com uma rede de níveis de serviços.
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