As Meninas Empregadas-Caracterização Socioeconomica
As Meninas Empregadas-Caracterização Socioeconomica
As Meninas Empregadas-Caracterização Socioeconomica
Sumário
1. Introdução
3. Conclusão
Bibliografia
Anexo: Índice das Tabulações Especiais
3
1- Introdução
Vaz, 1999, avalia que as meninas pobres são introduzidas no trabalho doméstico
familiar desde os primeiros anos de vida, cuidando dos irmãos mais novos e ajudando
nos afazeres domésticos. Esta imposição ocorre em torno dos sete anos, não no sentido
de opressão, mas de uma “prática cotidiana coletiva dos pobres”. Daí, a passagem para
1
A primeira versão desse trabalho foi realizada para o seminário promovido pela OIT em 8 de junho de 2000.
2
Sociologa, Chefe da Divisão de Indicadores Sociais do IBGE. O processamento dos dados foi feito por João
Raposo Belchior. A formatação dessa versão foi feita por Fernando Ururahy.
4
3
Ver Ribeiro e Saboia, 1993, Saboia e Bregman, 1994, entre outros.
5
Em 1998, foi detectadas a existência no Brasil de quase 400 mil meninas empregada
domésticas com idades entre 10 e 16 anos. Este contingente é basicamente formado por
meninas pobres, de cor/raça preta ou parda e com baixa escolaridade.
Este texto pretende desenvolver uma análise descritiva das estatísticas originárias da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE referente ao ano de
1998, apresentando um quadro atual e abrangente das condições das meninas
empregadas domésticas. Serão enfocadas algumas questões tais como local de
residência (no emprego ou não), escolaridade e condições econômicas de suas famílias.
Serão ainda diferenciadas as situações encontradas nas diversas regiões do país.
É importante ressaltar, que por ser uma pesquisa domiciliar, a PNAD pode ser
considerada o instrumento ideal para captar este tipo de fenômeno. Além disso, sua
abrangência nacional4 permite conhecer o fenômeno do emprego doméstico infantil em
todo o país. Nessa medida, todo o plano tabular foi processado para os seguintes níveis
de geográficos: Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação5.
A questão do emprego doméstico de meninas não pode ser tratada fora do contexto
dos direitos da criança. Com a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente/ECA
(lei 8069/90), em julho de 1990, surge uma base legal e moderna para estabelecer os
direitos da criança brasileira. A partir daí, se iniciou um processo de promulgação de
leis suplementares e várias mudanças foram implementadas até então.
4
A PNAD não pesquisa as áreas rurais da Região Norte.
5
Entretanto, nem sempre os valores encontrados têm significância estatística devido a questões inerentes à
metodologia utilizada na amostra.
6
para o trabalho na indústria. Em 1973, a Convenção 138 propõe em seu primeiro artigo
a abolição do trabalho infantil e define que a idade mínima para o trabalho infantil “não
será inferior à idade de conclusão da escolaridade compulsória ou, em qualquer
hipótese, não inferior a quinze anos”. Reconhecendo as dificuldades para a
implementação de tal idade mínima para o trabalho, a Convenção abre a possibilidade
de sua redução para quatorze anos nos países “cuja economia e condições de ensino não
estiverem suficientemente desenvolvidas”. A Recomendação 146 do mesmo ano sugere
que “os países-membros devem ter como objetivo a elevação progressiva para dezesseis
anos. (...) Onde a idade mínima para emprego ou trabalho estiver abaixo de quinze anos,
urgentes providências devem ser tomadas para elevá-la a esse nível”.
O ECA fixou no país o nível mais baixo admitido pela Convenção 138, afirmando
que “é proibido qualquer trabalho a menores de 14 anos de idade, salvo, a partir dos 12
anos, na condição de aprendiz, considerando aprendizagem a formação técnico-
profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação de educação em
vigor”.
anos inclusive. Desta forma, podem-se observar as estimativas para todo o universo das
trabalhadoras domésticas de acordo com cada idade.
Este trabalho é composto por esta introdução, seguindo-se uma análise descritiva
dos resultados. Na terceira seção, são resumidas as principais conclusões. Um anexo
estatístico é apresentado ao final do trabalho, representando um pequeno banco de
dados, tendo em vista a abrangência e detalhamento dos dados tabulados.
6
Aos 17 anos, a taxa de atividade atinge 42,9%.
9
Brasil - 1998
Situação do domicílio
Total
Idade Urbana
30
25
20
15
10
0
10 11 12 13 14 15 16 17 18 a 24 25 a 29 30 a 49 50 a 59 60 mais
7
Para o conjunto da população feminina, 16,9% são empregadas domésticas.
11
%
Brasil 100,0
Norte 12,0
Nordeste 33,2
Sudeste 32,1
Sul 14,6
Centro-Oeste 10,6
Fonte:PNAD
8
É preciso não esquecer que os dados da região Norte não são estritamente comparáveis com os das
demais regiões, pois a PNAD cobre apenas as áreas urbanas da região Norte.
9
Este dado reflete a grande importância do trabalho infantil agrícola na região Nordeste.
12
%
Brasil 22,6
Norte 37,7
Nordeste 17,1
Sudeste 27,4
Sul 19,2
C.Oeste 36,0
Fonte: PNAD
2.5 Cor/Raça
Brasil 49,4 38,3 48,2 5,1 6,2 5,1 44,8 55,1 46,0
Norte 26,8 18,6 21,3 1,5 0.4 2,8 70,8 79,8 73,5
Nordeste 27,3 19,5 24,5 5,2 6,7 6,1 67,2 73,4 69,0
Sudeste 60,3 47,0 61,0 6,4 9,2 6,2 32,4 43,8 82,4
Sul 80,9 77,1 87,3 3,1 3,4 2,6 15,4 19,5 9,7
C.Oeste 42,9 34,7 38,3 2,8 4,2 6,5 53,0 59,3 50,1
Fonte: PNAD
13
39,2
32,8 32,7
31,0
29,3
22,0
20,4
17,6 18,9 18,4
15,3
10,8
Ainda mais importante é o fato das meninas trabalhadoras (no serviço doméstico ou
em outras atividades) tenderem a apresentar menos anos de estudo que as demais. Aos
14 anos, por exemplo, quando deveriam estar completando o ensino fundamental,
apenas 9,8% das empregadas domésticas possuem sete anos e 1,7%, oito anos de
estudo, ilustrando seu grande atraso escolar. Para as demais trabalhadoras nesta idade os
percentuais sobem para 20,3% e 2,1%, respectivamente. Finalmente, para as meninas
que não trabalham, atingem a 26,8% e 3,8%.
Outra forma de analisar estes resultados seria considerar que 64,5% das meninas
empregadas domésticas com 14 anos de idade possuem mais de 1 ano de atraso escolar,
enquanto para as demais trabalhadoras nesta idade este percentual cai para 58,8% e para
as que não trabalham, baixa para 47,2%. Embora o atraso escolar seja um fenômeno
generalizado, fica bastante nítido que o trabalho doméstico reduz o nível de
escolaridade das meninas, especialmente para as mais velhas.
15
9 - Proporção de meninas de 10 a 16 anos por idade e condição de atividade segundo os anos de estudo
Brasil - 1998
Empregadas domésticas %
Anos de estudo
menos de mais de
1 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos 6 anos 7 anos 8 anos 8 Total*
10 anos 14,0 13,8 27,2 45,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 100
11 anos 14,7 14,3 20,2 21,9 28,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 100
12 anos 12,4 8,6 5,9 23,9 32,9 12,9 3,2 0,0 0,0 0,0 100
13 anos 6,5 9,4 14,4 16,1 24,6 18,3 8,3 2,4 0,0 0,0 100
14 anos 2,6 2,7 4,6 11,6 20,0 23,0 23,8 9,8 1,7 0,0 100
15 anos 4,1 2,3 3,6 12,4 18,6 18,7 15,8 9,6 10,3 3,0 100
16 anos 3,1 1,9 3,6 8,8 19,2 16,9 15,1 11,9 11,7 5,9 100
Outras trabalhadoras
Anos de estudo
menos de mais de
1 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos 6 anos 7 anos 8 anos 8 Total*
10 anos 28,1 26,7 22,4 17,7 5,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 100
11 anos 14,5 18,3 18,8 20,1 25,2 3,1 0,0 0,0 0,0 0,0 100
12 anos 11,7 14,0 16,7 11,2 24,2 18,6 3,0 0,6 0,0 0,0 100
13 anos 7,0 11,3 14,9 12,6 17,6 18,4 14,7 3,4 0,2 0,0 100
14 anos 4,6 6,6 10,4 11,1 14,1 12,0 16,8 20,3 2,1 1,5 100
15 anos 3,5 2,6 8,0 10,7 11,7 11,1 11,8 16,3 19,2 4,6 100
16 anos 2,5 2,1 4,3 6,3 9,5 9,5 10,4 13,3 16,7 25,1 100
Anos de estudo
menos de mais de
1 1 ano 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos 6 anos 7 anos 8 anos 8 Total*
10 anos 9,5 14,6 25,9 42,3 7,2 0,6 0,0 0,0 0,0 0,0 100
11 anos 6,6 8,7 13,2 25,6 39,4 5,7 0,7 0,0 0,0 0,0 100
12 anos 4,6 6,6 10,4 15,9 25,7 31,7 4,6 0,4 0,0 0,0 100
13 anos 2,8 4,8 7,5 11,6 16,7 22,5 29,5 4,4 0,2 0,0 100
14 anos 2,5 3,0 4,7 7,9 12,9 16,2 21,7 26,8 3,8 0,5 100
15 anos 3,9 2,0 3,8 6,3 10,9 11,0 14,1 19,4 23,0 5,2 100
16 anos 3,1 2,2 3,4 5,0 9,6 8,3 11,7 14,3 17,1 24,7 100
* inclui sem declaração
Fonte:PNAD
Outro aspecto notável sobre a freqüência escolar é o fato das meninas empregadas
domésticas residentes no domicílio dos empregadores possuírem taxas de escolaridade
muito menores que as não residentes. Tal fato se repete em todas as regiões do país.
Enquanto 61,3% das residentes não freqüentam a escola, entre as não residentes a
proporção baixa para 28,5%. Possivelmente, as longas jornadas de trabalho (sem horário
16
82,7
74,0
61,3
57,7
54,2
46,7
34,3
28,5 30,1
26,8 26,4
15,8
trabalho assinada. Mesmo na região Sul, tal percentual não passa de 7,6%. Portanto, a
regra geral do emprego doméstico de meninas é o trabalho sem carteira assinada.
Empregadas Outras
domésticas trabalhadoras
Fonte: PNAD
%
Brasil 4,4
Norte 12,6
Nordeste 6,3
Sudeste 1,9
Sul 3,2
C.Oeste 0,0
Fonte:PNAD
15 - Meninas de 10 a 16 anos por renda fam iliar per capita - Brasil - 1998 %
Outras trabalhadoras
48,8
45,2
Meninas não economicamente
27,1
19,0
16,6 16,3
14,3 15,3
13,3
10,5
8,2
16 - M e n in as d e 10 a 16 an o s p o r an o s d e e s tu d o d o ch e fe Br as il - 1998
39,3
35,5
30,3 31,2 30,3
29,0
23,9
22,5
20,2
14,5
12,8
10,4
s em ins t. 1 a3 4 a7 8 e mais
41,3
32,1 31,6
29,8
26,7
24,8 25,4
23,5
21,2
16,5 15,5
10,4
s em ins t. 1 a3 4 a7 8 e mais
3. Conclusão
famílias das meninas que não trabalham, sendo, entretanto, superior ao encontrado nas
famílias da demais jovens trabalhadoras.
Bibliografia
UNICEF, “The state of the world’s children 1997”, Oxford and New York: Oxford
University Press for UNICEF
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