Polares 13

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Matemática para arquitetura Ton Marar

Coordenadas polares - Cônicas (06.06.2013)


As coordenadas dos pontos P = (x, y) de uma circunferência de raio r e centro na origem O do
sistema de coordenadas cartesianas S = {O, x, y} verificam x = r cos(θ) e y = r sen(θ), sendo
−−→
θ o ângulo entre o vetor OP e o eixo Ox. Variando-se o raio r ∈ R+ podemos preencher todo o
plano. Assim, cada ponto do plano é um ponto de alguma circunferência de centro em O e uma
nova forma de descrever numericamente os pontos do plano se apresenta.

y P

x O
O
P

Sistema de coordenadas polares no plano


Fixados um ponto O e uma flecha com origem em O, a cada ponto P de um plano (que contém a
−−→
flecha) ficam associados dois números ρ e θ, assim obtidos: ρ = ∥OP ∥ e θ é o ângulo entre a flecha
−−→
fixada e o vetor OP , medido no sentido anti-horário. O ponto O é chamado polo e a flecha fixada
é chamada eixo polar. O conjunto {polo, eixo polar} é chamado sistema de coordenadas polares
no plano. Os números ρ e θ são chamados raio vetor e argumento, respectivamente. O par (ρ, θ)
é denominado coordenadas polares do ponto P.
Escrevemos P = (ρ, θ), embora o lado esquerdo da igualdade não seja univocamente determinado.
Veja as observações a seguir.
Observações:
1) Variando o argumento θ no intervalo [0, 2π) e o raio vetor ρ ∈ R+ , fica associado a cada ponto
do plano um único par ordenado (ρ, θ), exceto para o pólo que tem coordenadas polares (0, θ),
qualquer que seja θ.
2) Podemos adotar que tanto θ quanto ρ assumem qualquer valor real (positivo ou negativo) desde
que apropriadamente interpretados.
O argumento de um ponto P do plano deve ser reduzido ou aumentado por múltiplos de 2π, de
modo a obter um valor entre 0 e 2π. Exemplos: (ρ, 9π 4 ) = (ρ, 4 ); (ρ, − 3 ) = (ρ, 3 ); (ρ, −π) = (ρ, π).
π π 5π

Se o valor do raio vetor de um ponto P do plano for negativo, troca-se o sinal e acrescenta-se ou
reduz-se o argumento de π. Exemplos: (−1, π4 ) = (1, 5π 4 ); (−2, − 3 ) = (2, 3 ); (−3, 3 ) = (3, 3 ).
π 2π π 4π

3) Na escola, nas primeiras experiências com os sistemas de coordenadas cartesianas, considera-


se o plano reticulado por pares de retas perpendiculares, umas paralelas ao eixo dos x′ s (y =
· · · − 2, −1, 0, 1, 2, . . . ) e as outras paralelas ao eixo dos y ′ s (x = · · · − 2, −1, 0, 1, 2, . . . ), formando
uma malha de modo a facilitar a localização dos pontos no plano. Analogamente, no sistema de
coordenadas polares usa-se a malha de cı́rculos concêntricos (ρ = 1, 2, . . . ), com centro no pólo e
segmentos radiais partindo do pólo (θ = π6 , π4 , π3 , π2 , . . . ) 1
1π, π π
, , . . . π6 ; eo π
?
2 3 4 5

1
2

Relacionamento entre coordenadas cartesianas e polares no plano

Sobrepondo-se um sistema de coordenadas cartesianas S = {O, x, y} ao sistema de coordenadas


polares S ′ = {O, eixopolar}, de modo que o semi-eixo positivo dos x′ s coincida com o eixo polar,
obtém-se as seguintes transformações entre as coordenadas polares e cartesianas de um mesmo
ponto P :

y P
ρ
θ
O x
{ {
x = ρ cos(θ) ρ2 = x 2 + y 2
y = ρ sen(θ) tg (θ) = xy , x ̸= 0

Esses sistemas fornecem as transformações das coordenadas do sistema S ′ para S e do sistema S


para S ′ , respectivamente.
Os pontos de coordenadas (ρ, π2 ) e (ρ, 3π
2 ) tem coordenadas cartesianas com abscissa x = 0.
Funções em coordenadas polares

ρ = f(θ)

Expressões da forma ρ = f (θ) são denominadas funções em coordenadas polares. O traçado de seu
gráfico pode ser feito de maneira ”primitiva”, como no caso de coordenadas cartesianas y = f (x).
Em outras palavras, após localizar alguns pontos (ρ, θ) que verificam a igualdade ρ = f (θ) o
gráfico é obtido ”interpolando-se” os pontos localizados no sistema de coordenadas.
Expressões algébricas envolvendo as coordenadas ρ e θ, mesmo que não se possa explicitar uma
dessas coordenadas, serão denominadas equações de curvas em coordenadas polares.
Algumas vezes, transformando a expressão algébrica de coordenadas polares para cartesianas, ou
vice-versa, pode ser útil no traçado das curvas.
Exemplos
Nos exemplos 1 e 2 abaixo, a transformação para coordenadas cartesianas facilita o traçado.
1) ρ + 3 sen(θ) = 0.
Multiplicando-se por ρ obtemos ρ2 + 3ρsen(θ). A identificação da curva em coordenadas carte-
sianas, x2 + y 2 + 3y = 0, é mais fácil. De fato, somando e subtraindo 94 , podemos escrever
3

x2 + (y + 32 )2 − 94 = 0. Portanto, a curva é uma circunferência de centro no ponto de coordenadas


cartesianas (0, − 32 ) e raio 32 .

3/2 3 3/2 3

2) ρ cos(θ) = 3 é a reta, em coordenadas cartesianas, x = 3.


Nos três exemplos abaixo, passar para coordenadas cartesianas não facilita o traçado.
3) ρ = θ é a espiral de Arquimedes (fig.1(a)).
4) ρ = 1 − sen(θ) é a cardióide (fig.1(b)).
5) ρ = sen(2θ) é a rosácea de quatro pétalas (fig.1(c)).

(a) (b) (c)

Figure 1

Note que ρ = −sen(θ) é a circunferência dada em coordenadas cartesianas pela equação x2 + (y +


2 ) = 4 . Enquanto ρ = 1 − sen(θ) é a cardióide. Portanto, os gráficos em coordenadas polares
1 2 1

não seguem as regras de translação de gráficos do caso cartesiano.


Exercı́cios Traçar ρ = cos(2θ), ρ = sen(3θ), ρ = 1 + cos(2θ), ρ = 1 + cos(4θ).
Se k ∈ N é par, ρ = sen(kθ) é a rosácea de 2k pétalas. Se k é impar, ρ = sen(kθ) é a rosácea de k
pétalas. O mesmo vale para ρ = cos(kθ). De fato, as rosáceas ρ = sen(kθ) e ρ = cos(kθ) diferem
apenas por uma rotação.

O exemplo a seguir mostra que a transfomação de coordenadas cartesianas para polares pode
facilitar o traçado da curva

A lemniscata.2
É o lugar geométrico dos pontos P de um plano π cujo produto das distâncias a dois pontos
fixados, F1 ∈ π e F2 ∈ π, é constante e igual a (d(F1 , F2 )/2)2 .
⋆ Equação cartesiana
Para obtermos uma equação simples da lemniscata em coordenadas cartesianas, fixamos um sis-
tema de coordenadas cartesianas {O, x, y} adequado. Neste caso, tomando-se o eixo 0x contendo o
segmento F1 F2 e o eixo 0y passando pelo ponto médio de F1 F2 , obtemos, F1 = (−a, 0), F2 = (a, 0),
e assim d(F1 , F2 ) = 2a.
2Do dicionário Aurélio

lemniscata [Do lat. lemniscata, ‘ornada de fitas’; a sua forma, um 8, lembra um laço de fitas.] Substantivo
feminino. 1.Geom. Lugar geométrico dos pontos de um plano cujas distâncias a dois pontos fixos desse plano são
constantes.
Algumas edições deste dicionário contém este erro.
4

Seja P = (x, y) um ponto da lemniscata. Em coordenadas, a expressão que define os pontos da


lemniscata, d(P, F1 )d(P, 2 , fornece a seguinte equação cartesiana
√ √ F2 ) = (d(F1 , F2 )/2)
((x + a) + y ) ((x − a) + y ) = a .
2 2 2 2 2

Por meio de algumas operações simplificaremos essa equação.


Inicialmente, para eliminarmos os radicais, elevamos ao quadrado ambos os membros, obtendo
((x + a)2 + y 2 )((x − a)2 + y 2 ) = a4 .
Simplificando, chega-se à expressão
(x2 + y 2 )2 − 2a2 (x2 − y 2 ) = 0.
O traçado dos pontos (x, y) que verificam essa equação não é nada fácil de se obter.
⋆ Equação polar
Fixando o sistema de coordenadas polares com pólo na origem O e eixo polar coincidindo com o
semi-eixo positivo dos x′ s, temos x = ρ cos(θ) e y = ρ sen(θ).
Substituindo na equação cartesiana da lemniscata, obtemos:
(ρ2 )2 − 2a2 (ρ2 cos2 (θ) − ρ2 sin2 (θ)) = 0.
Simplificando, obtemos a equação polar da lemniscata
ρ2 − 2a2 cos(2θ) = 0.
Agora sim, é mais fácil traçar a curva. Localizando alguns dos pontos (ρ, θ) que verificam a
equação polar e ”interpolando” obtém-se o traçado.

ρ
F
. F
. F
. F2
.
1 2 1

As curvas definidas como o lugar geométrico dos pontos P de um plano π cujo produto das
distâncias a dois pontos fixados, F1 ∈ π e F2 ∈ π, é constante são chamadas ovais de Cassini. A
lemniscata é um caso particular dessas ovais.
Ovais de Cassini tem a aparência de certas fatias da superfı́cie de um tóro (donut).

Curvas obtidas como fatias de um cone são definidas de modo análogo à lemniscata.
Cônicas
1) Elipse3
É o lugar geométrico dos pontos P de um plano π cuja soma das distâncias a dois pontos fixados,
F1 ∈ π e F2 ∈ π, é uma constante. Essa constante, que indicaremos por 2a, tem que ser maior
que a distância d(F1 , F2 ) entre os pontos F1 e F2 . Em outras palavras, d(P, F1 ) + d(P, F2 ) = 2a.
3Do dicionário Aurélio (neste caso o dicionário está certo!)
elipse [Do gr. élleipsis, ‘omissão’, pelo lat. ellipse.] Substantivo feminino. 1.E. Ling. Omissão deliberada de
palavra(s) que se subentende(m), com o intuito de assegurar a economia da expressão. 3.Geom. Lugar geométrico
dos pontos de um plano cujas distâncias a dois pontos fixos desse plano tem soma constante; interseção de um cone
circular reto com um plano que faz com o eixo do cone um ângulo maior que o do vértice.
5

⋆ Equação cartesiana da elipse


Para obtermos uma equação simples em coordenadas cartesianas para os pontos da elipse, fixamos
um sistema de coordenadas cartesianas em π, S = {O, x, y} no qual F1 = (−c, 0), F2 = (c, 0) e
P = (x, y). Em outras palavras, o eixo Ox contém os pontos F1 e F2 e o eixo Oy passa pelo ponto
médio do segmento F1 F2 o qual tem comprimento 2c. Seja 2a, com a > c, uma constante positiva.
Assim, uma equação cartesiana da elipse é obtida exprimindo d(P, F1 ) + d(P, F2 ) = 2a em coor-
denadas:
√ √
(x + c)2 + y 2 + (x − c)2 + y 2 = 2a.
Isto é,
√ √
(x + c)2 + y 2 = − (x − c)2 + y 2 + 2a.
Elevando-se ao quadrado ambos os lados, obtemos:

(x + c)2 + y 2 = 4a2 − 4a (x − c)2 + y 2 + (x − c)2 + y 2 .
Ou seja,

(x + c)2 + y 2 − 4a2 − (x − c)2 − y 2 = −4a (x − c)2 + y 2 .
Novamente, elevando-se ao quadrado ambos os lados, obtemos:
((x + c)2 + y 2 − 4a2 − (x − c)2 − y 2 )2 = 16a2 ((x − c)2 + y 2 ).
Uma simplificação fornece,
(4cx − 4a2 )2 = 16a2 ((x − c)2 + y 2 ).
Isto é,
(a2 − c2 )x2 + a2 y 2 = a2 (a2 − c2 ).
Como a > c, o número a2 − c2 é positivo e portanto pode ser considerado como o quadrado de
algum número, digamos b. Assim, pondo b2 = a2 − c2 , obtemos
x2 y 2
+ 2 = 1.
a2 b
6

O sistema de coordenadas foi escolhido de modo a fornecer uma equação bem simplificada da
curva. Esta equação é denominada equação reduzida da elipse.

centro
b

-a
.
F1
-c
F2
c
. a
eixo menor

-b

eixo maior

• Os pontos F1 e F2 são denominados focos da elipse.


• A origem O, ponto médio do segmento focal F1 F2 é chamado centro.
• Os pontos V1 = (a, 0), V2 = (−a, 0), V3 = (0, b) e V4 = (0, −b) são chamados vértices.
• O segmento V1 V2 , que contém os focos, é chamado eixo maior.
• O segmento V3 V4 é chamado eixo menor.
• Os segmentos OV1 e OV3 são chamados semi-eixo maior e semi-eixo menor, respectiva-
mente.

Exemplo 1: A elipse com focos nos pontos F1 e F2 cujas coordenadas no sistema S = {O, x, y} são
F1 = (−2, 0) e F2 = (2, 0) e medida do semi-eixo maior igual a 3 tem equação 5x2 + 9y 2 − 45 = 0.
De fato, temos c = 2, a = 3 e portanto b2 = a2 − c2 = 5. Assim, a equação da elipse é:
x2 y 2
+ = 1.
9 5
Ou seja, 5x2 + 9y 2 − 45 = 0.

Exemplo 2: A elipse com focos nos pontos F1 e F2 cujas coordenadas no sistema S = {O, x, y}
são F1 = (1, 1)S e F2 = (3, 1)S e medida do semi-eixo maior igual a 2 tem equação 3x2 + 4y 2 −
12x − 8y + 4 = 0.

y‘
y
y
y‘
.P
k
.
F1
O‘
.
F2
x‘
O‘ x‘

x O h x

De fato, neste exemplo a = 2, c = 1 e portanto b2 = a2 −c2 = 3. Assim, no sistema de coordenadas


S ′ = {O′ , x′ , y ′ }, sendo O′ = (2, 1)S o ponto médio do segmento focal e os eixos O′ x′ e O′ y ′ paralelos
aos eixos Ox e Oy respectivamente, a elipse tem equação reduzida
x′2 y ′2
+ = 1.
4 3
Sobrepondo os dois sistemas de coordenadas, como na figura 2, nota-se que as coordenadas (x, y)
de um ponto P no sistema {0, x, y} se relacionam com as coordenadas (x′ , y ′ ) do mesmo ponto P
no sistema {0′ , x′ , y ′ } da seguinte forma: x′ = x − 2 e y ′ = y − 1.
Substituindo na equação reduzida, obtemos:
(x − 2)2 (y − 1)2
+ = 1.
4 3
7

Ou seja, 3(x − 2)2 + 4(y − 1)2 = 12, que é o mesmo que 3x2 + 4y 2 − 12x − 8y + 4 = 0.

Observação: No exemplo acima, a equação da elipse no sistema de coordenadas S ′ é 3x′2 +


4y ′2 − 12 = 0 enquanto, a mesma elipse, no sistema S, tem equação 3x2 + 4y 2 − 12x − 8y + 4 = 0.
Note que os coeficientes dos termos do segundo grau das duas equações são idênticos enquanto os
coeficientes dos termos do primeiro grau e termos constantes são diferentes.
A transformação do sistema de coordenadas S para o sistema S ′ , e vice-versa, é chamada translação
do sistema de coordenadas. Se O′ = (h, k)S , vide figura 2, então as translações do sistema S =
{O, x, y} para o sistema S ′ = {O′ , x′ , y ′ } e vice-versa, são dadas pelas transformações:
{ ′ {
x =x−h x = x′ + h

y =y−k y = y′ + k
Quase sempre, por meio de translação adequada os coeficientes dos termos lineares de equações
do segundo grau em duas variáveis podem ser eliminados, reduzindo a forma da equação.

Exemplo 3: A elipse com focos F1 e F2 cujas coordenadas no sistema S = {O, x, y} são F1 =


(−4, −3)S e F2 = (4, 3)S e medida do semi-eixo maior igual a 6 tem equação 20x2 − 24xy + 27y 2 −
396 = 0.

y‘ x‘
y .
P

3 .
F2 x‘

-4 y‘
O 4 x O x
F1. -3

De fato, consideremos o sistema de coordenadas cartesianas S ′ = {O, x′ , y ′ } de tal modo que


o eixo de coordenadas Ox′ contenha os focos F1 e F2 . Assim, F1 = (−5, 0)S ′ e F2 = (5, 0)S ′ .
Neste sistema a equação da elipse possui a forma reduzida (note que c = 5, a = 6 e portanto
b2 = a2 − c2 = 11):
x′2 y ′2
+ = 1.
36 11
Sobrepondo os dois sistemas de coordenadas, como na figura 3, nota-se que as coordenadas (x, y)
de um ponto P no sistema {0, x, y} se relacionam com as coordenadas (x′ , y ′ ) do mesmo ponto
P no sistema {0, x′ , y ′ } da seguinte forma: x = 45 x′ − 53 y ′ e y = 53 x′ + 45 y ′ . Ou de outra forma:
x′ = 54 x + 35 y e y ′ = − 35 x + 54 y.
Substituindo na equação reduzida, vem que:

4 3 3 4
11( x + y)2 + 36(− x + y)2 = 396.
5 5 5 5
Simplificando obtemos a equação da elipse:
20x2 − 24xy + 27y 2 − 396 = 0.

Observação: No exemplo acima, a equação da elipse no sistema de coordenadas S ′ é 11x′2 +


36y ′2 −396 = 0 enquanto, a mesma elipse, no sistema S, tem equação 20x2 −24xy +27y 2 −396 = 0.
Note que os coeficientes dos termos do segundo grau das duas equações são diferentes enquanto os
coeficientes dos termos do primeiro grau (zero neste exemplo) e termos constantes são idênticos.
A transformação do sistema de coordenadas S para o sistema S ′ , e vice-versa, é chamada rotação
do sistema de coordenadas. Se θ é o ângulo de rotação então as transformações do sistema
S = {O, x, y} para o sistema S ′ = {O, x′ , y ′ } e vice-versa, são dadas pelas relações:
8
{ {
x′ = x cos(θ) + y sen(θ) x = x′ cos(θ) − y ′ sen(θ)
y ′ = −x sen(θ) + y cos(θ) y = x′ sen(θ) + y ′ cos(θ)
Por meio de rotação adequada o coeficiente do termo misto xy da equação do segundo grau em
duas variáveis pode ser eliminado, reduzindo a forma da equação.

⋆ Equação polar da elipse


Para obtermos uma equação polar simplificada da elipse, fixamos o sistema de coordenadas polares
S ′ = {F2 , −Ox}, ou seja, pólo em F2 e eixo polar coincidindo como eixo dos x′ s no sentido oposto
4
.

d
.F .
c

{
θ 2 θ

d+c = cos(θ)

Com essa escolha, a relação entre as coordenadas cartesianas e polares é dada por: x = c −
ρ cos(θ) e y = −ρ sen(θ), 0 ≤ θ < 2π.
Substituindo na equação (a2 − c2 )x2 + a2 y 2 = a2 (a2 − c2 ), obtemos:
(a2 − c2 )(c2 − 2cρ cos(θ) + ρ2 cos2 (θ)) + a2 ρ2 sen2 (θ) = a4 − a2 c2 .
Expandindo,
a2 c2 − 2a2 cρ cos(θ) + a2 ρ2 cos2 (θ) − c4 + 2c3 ρ cos(θ) − c2 ρ2 cos2 (θ) + a2 ρ2 sen2 (θ) = a4 − a2 c2 .
Simplificando,
−2a2 cρ cos(θ) + a2 ρ2 (cos2 (θ) + sen2 (θ)) + 2c3 ρ cos(θ) − c2 ρ2 cos2 (θ) = (a2 − c2 )2 .
Ou seja,
cρ cos(θ)(−2a2 + 2c2 − cρ cos(θ)) + a2 ρ2 = (a2 − c2 )2 .
Portanto,
a2 ρ2 = (a2 − c2 )2 + 2(a2 − c2 )cρ cos(θ) + (cρ cos(θ))2 .
Isto é,
a2 ρ2 = ((a2 − c2 ) + cρ cos(θ))2 .
Extraindo a raiz quadrada de ambos os membros 5, devemos ter,
aρ = ((a2 − c2 ) + cρ cos(θ)).
Assim,
a2 − c2 b2
ρ= = , 0 ≤ θ < 2π.
a − c cos(θ) a − c cos(θ)
Pondo e = c/a, a equação polar da elipse torna-se:
a − ec
ρ= , 0 ≤ θ < 2π.
1 − e cos(θ)
Note que quando θ = 0, ρ = a + c e quando θ = π, ρ = a − c
O número e = c/a é chamado excentricidade da elipse. Note que 0 < e < 1.
Fixado o número a, quanto menor for a excentricidade (desvio ou afastamento do centro), menor
será o valor de c e portanto os focos da elipse estarão mais próximos do centro da elipse.
4Esta escolha, pouco natural, é importante para uma certa unificação deste exemplo com os dois exemplos
seguintes
5Temos que, para qualquer valor to argumento θ, (a2 − c2 ) + cρ cos(θ) > 0. De fato, sempre a > c > 0 e quando
cos(θ) < 0, isto é, π/2 < θ ≤ 3π/2, o valor de ρ cos(θ) fica entre 0 e ρcos(π) = (a − c)(−1). Portanto, o valor
mı́nimo da expressão (a2 − c2 ) + cρ cos(θ) é a2 − c2 + c((a − c)(−1)) = a2 − ac > 0.
9

. . . .
excentricidade
pequena grande

2) Hipérbole6
É o lugar geométrico dos pontos P de um plano π cuja diferença das distâncias a dois pontos
fixados, F1 ∈ π e F2 ∈ π, é uma constante. Essa constante, indicamos por 2a, é menor que a
distância d(F1 , F2 ) entre os pontos F1 e F2 . Em outras palavras, |d(P, F1 ) − d(P, F2 )| = 2a.

F1 F2

⋆ Equação cartesiana da hipérbole


Para obtermos uma equação simples em coordenadas cartesianas para os pontos da elipse,
fixamos um sistema de coordenadas cartesianas em π, S = {O, x, y} no qual F1 = (−c, 0), F2 =
(c, 0) e P = (x, y). Em outras palavras, o eixo Ox contém os pontos F1 e F2 e o eixo Oy passa
pelo ponto médio do segmento F1 F2 .
Para obtermos uma equação em coordenadas cartesianas dos pontos da hipérbole, fixamos um sis-
tema de coordenadas cartesianas em π, S = {O, x, y} no qual F1 = (−c, 0), F2 = (c, 0) e P = (x, y).
Seja 2a uma constante positiva, com a < c. Assim, a equação √ cartesiana da√hipérbole é obtida da
expressão |d(P, F1 ) − d(P, F2 )| = 2a. Vamos assumir que (x + c)2 + y 2 − (x − c)2 + y 2 > 0. A
análise do caso contrário é análoga.
Assim, P = (x, y) é um ponto da hipérbole se, somente se,
√ √
(x + c)2 + y 2 − (x − c)2 + y 2 = 2a.
Ou√seja, √
(x + c)2 + y 2 = (x − c)2 + y 2 + 2a.
Elevando-se ambos os membros √ ao quadrado,
(x + c) + y = 4a + 4a (x − c)2 + y 2 + (x − c)2 + y 2 .
2 2 2

Isto é, √
(x + c)2 + y 2 − 4a2 − (x − c)2 − y 2 = 4a (x − c)2 + y 2 .
Novamente elevando-se ao quadrado,
((x + c)2 + y 2 − 4a2 − (x − c)2 − y 2 )2 = 16a2 ((x − c)2 + y 2 ).
Simplificando,
(4cx − 4a2 )2 = 16a2 ((x − c)2 + y 2 ).
Ou seja,
6Do dicionário Aurélio
hipérbole [Do gr. hyperbolé, pelo lat. hyperbole.] Substantivo feminino. 1.E. Ling. Figura que engrandece ou
diminui exageradamente a verdade das coisas; exageração, auxese. 2.Geom. Lugar geométrico dos pontos de um
plano cujas distâncias a dois pontos fixos desse plano tem diferença constante; interseção de um cone circular reto
com um plano que faz com o eixo do cone um ângulo menor que o do vértice. Com uma escolha adequada das
coordenadas cartesianas x e y, sua equação pode ser simplificada a (x2 /a2 ) − (y 2 /b2 ) = 1, onde a e b são constantes.
10

(c2 − a2 )x2 − a2 y 2 = a2 (c2 − a2 ).


Como a < c, o número c2 − a2 é positivo e portanto pode ser considerado como o quadrado de
algum número, digamos b. Assim, pondo b2 = c2 − a2 , obtemos

x2 y 2
− 2 = 1.
a2 b
Note que o sistema de coordenadas foi escolhido de modo a fornecer uma equação bem simplificada
da curva. Esta equação é denominada equação reduzida da hipérbole.

.
F1 -a
-c
a .
F2
c
x

assíntotas

• As retas y = ab x e y = − ab x são chamadas assı́ntotas da hipérbole.


• Os pontos V1 = (−a, 0) e V2 = (a, 0) são chamados vértices da hipérbole.
• Os pontos F1 e F2 são denominados focos da hipérbole.
• A origem O, ponto médio do segmento focal F1 F2 é chamado centro.
• O segmento V1 V2 é chamado eixo transverso.
• O segmento V3 V4 , onde V3 = (0, −b) e V4 = (0, b) é chamado eixo conjugado.
Exemplo: Vamos obter a equação da hipérbole cujas retas assı́ntotas são y = x − 1 e y = −x + 5
e eixo transverso igual a 2.

y‘
y

2 . x‘
.3 . x

assíntotas

Temos que a = 1. As retas assı́ntotas cruzam no ponto O′ de coordenadas (3, 2). No sistema de
coordenadas S ′ = {O′ , x′ , y ′ } as equações das assı́ntotas são y ′ = ±x′ . Assim, b/a = 1 e portanto
b = 1. Logo, no sistema S ′ a hipérbole tem equação x′ 2 − y ′2 = 1. Note que o sistema S ′ é o
transladado do sistema S = {O, x, y} para o ponto O′ = (h, k) = (3, 2). Assim, x′ = x − 3 e
y ′ = y − 2. Portanto, a equação da hipérbole é x2 − y 2 − 6x − 4y + 12 = 0.

⋆ Equação polar da hipérbole


Para obtermos uma equação polar simplificada da hipérbole, consideramos o sistema de coorde-
nadas polares S ′ = {F2 , −Ox}, ou seja, polo em F2 e eixo polar coincidindo como eixo dos x′ s no
sentido oposto, exatamente como fizemos no exemplo anterior.
11

De fato vamos obter a equação polar de apenas um dos ramos da hipérbole. Neste caso, o
argumento θ deve variar no setor definido pelas assı́ntotas. Em outras palavras, ϕ−π < θ < π − ϕ,
sendo ϕ tal que tg(ϕ) = ab ; ou seja, ϕ é a inclinação da reta assı́ntota 7.

x c
F2 θ
θ

ramos da
hipérbole assíntotas

Escolhido o sistema polar S ′ obtemos as seguintes relações com o sistema S = {0, x, y}:
x = c − ρ cos(θ) e y = −ρ sen(θ).
Substituindo na equação (c2 − a2 )x2 − a2 y 2 = a2 (c2 − a2 ), obtemos:
(c2 − a2 )(c2 − 2cρ cos(θ) + ρ2 cos2 (θ)) − a2 ρ2 sen2 (θ) = a2 c2 − a4 .
Expandindo,
c4 − 2c3 ρ cos(θ) + c2 ρ2 cos2 (θ) − a2 c2 + 2a2 cρ cos(θ) − a2 ρ2 cos2 (θ)) − a2 ρ2 sen2 (θ) = a2 c2 − a4 .
Ou seja,
(c2 − a2 )2 − 2(c2 − a2 )cρ cos(θ) + c2 ρ2 cos2 (θ) − a2 ρ2 = 0.
Portanto,
a2 ρ2 = ((c2 − a2 ) − cρ cos(θ))2 .
Extraindo a raiz quadrada de ambos os lados, e sabendo que (c2 − a2 ) − cρ cos(θ) > 0, obtemos:
aρ = (c2 − a2 ) − cρ cos(θ)).
Ou seja,

c2 − a2 b2
ρ= = , ϕ − π < θ < π − ϕ.8
a + c cos(θ) a + c cos(θ)
Pondo e = c/a, obtemos:
ec − a
ρ= , ϕ − π < θ < π − ϕ.
1 + e cos(θ)
O número e = c/a é chamado excentricidade da hipérbole. Note que e > 1. Fixado 0 número a,
quanto maior for a excentricidade (desvio ou afastamento do centro), maior será o valor de c e
portanto os focos da hipérbole estarão mais afastados do centro da hipérbole.
3) Parábola9
É o lugar geométrico dos pontos P de um plano π equidistantes a um ponto fixado F ∈ π e uma
reta fixada r ⊂ π, F ∈/ r. Em outras palavras, d(P, F ) = d(P, r).
7admitindo valores negativos para ρ e variando θ no intervalo (π − ϕ, π + ϕ) obtemos o traçado do outro ramo
da hipérbole
8No exemplo anterior obtivemos para a elipse a equação polar : ρ = b2
a−c cos(θ)
, 0 ≤ θ < 2π. Mudando a variação
2
do argumento de 0 ≤ θ < 2π para −π ≤ θ < π, a equação polar da elipse torna-se: ρ = a+c bcos(θ) , −π ≤ θ < π.
9Do dicionário Aurélio
parábola [Do lat. parabola ¡ gr. parabolé.] Substantivo feminino. 1.Narração alegórica na qual o conjunto
de elementos evoca, por comparação, outras realidades de ordem superior. 2.Geom. Lugar geométrico plano dos
pontos equidistantes de um ponto fixo e de uma reta fixa de um plano.
12

excentricidade
pequena

grande

⋆ Equação cartesiana da parábola


Para obtermos uma equação em coordenadas cartesianas, bem simples, dos pontos da parábola,
fixamos um sistema de coordenadas cartesianas em π, S = {O, x, y} no qual F = (c, 0), r : x = −c
e P = (x, y).
Assim, a equação cartesiana da parábola é obtida da expressão d(P, F ) = d(P, r):

(x − c)2 + y 2 = x + c. Isto é, (x − c)2 + y 2 = (x + c)2 .
Simplificando, obtemos y 2 − 4cx = 0 que é uma equação reduzida, em coordenadas cartesianas,
da parábola.

-c c F
.

• A reta r é chamada diretriz da parábola.


• O ponto F é chamado foco.
• O ponto V = (0, 0) é chamado vértice.
• A distância do foco ao vértice é chamada parâmetro da parábola.
• O eixo (dos x′ s) que contém o foco e é perpendicular à reta diretriz é chamado eixo da
parábola ou eixo de simetria.

Exemplo: Considere a parábola gráfico da função y = ax2 + bx + c. Vamos obter as coordenadas


do vértice V e foco F. Como a ̸= 0, podemos escrever y = a(x2 + ab x+ ac ). Completando o quadrado,
) − 4a b2 b2 ′ b2
2 + a ). Ou seja, y + ( 4a − c) = a(x + 2a ) . Pondo y = y + ( 4a − c)
b 2 c b 2
obtemos y = a((x + 2a
e x′ = x + 2a a equação fica y ′ = ax′2 , portanto na forma reduzida. Assim, V = (− 2a , − b −4ac
b b 2
4a )
é o vértice da parábola. Logo, no sistema de coordenadas S = {V, x , y }, onde os eixos V x′ e
′ ′ ′
13

V y ′ são paralelos aos eixos Ox e Oy respectivamente, o foco F tem coordenadas F = (0, 4a


1
)S ′ e
b 1−b2 +4ac
portanto, no sistema {O, x, y}, F = (− 2a , 4a ).

y‘
y

F .
V x‘
x

⋆ Equação polar da parábola


Para obtermos uma equação polar simplificada da parábola, fixamos o sistema de coordenadas
polares S ′ = {F, −Ox}, ou seja, polo em F e eixo polar coincidindo como eixo dos x′ s no sentido
oposto.
Escolhido este sistema polar temos, x = c − ρ cos(θ) e y = −ρ sen(θ), −π < θ < π.
Substituindo na equação cartesiana y 2 − 4cx = 0 obtemos:
ρ2 sen2 (θ) − 4c(c − ρ cos(θ)) = 0.
Isto é,
ρ2 − ρ2 cos2 (θ) − 4c2 + 4cρ cos(θ)) = 0.
Ou seja,
ρ2 = (ρ cos(θ) − 2c)2 .
Extraindo a raiz quadrada de ambos os lados, e notando que ρ cos(θ) − 2c < 0, obtemos:
ρ = −ρ cos(θ) + 2c, com −π < θ < π.
Portanto,
2c
ρ= , −π < θ < π,
1 + cos(θ)
é uma equação polar da parábola.

Propriedades unificadoras das cônicas


Sob certos pontos de vista, apresentamos três deles abaixo, as cônicas elipse, parábola e hipérbole
podem ser entendidas como casos particulares de um mesmo exemplo.
1) Pontos no infinito
As curvas elipse, hipérbole e parábola, tem equações polares tão semelhantes que sugere uma certa
unificação. Para ver isso é necessário adicionarmos aos pontos do plano euclidiano π os chamados
pontos no infinito.
b
1 1 c a

1 a c
reta projetiva b
plano projetivo
14

Um ponto no infinito é a direção de uma reta. Uma reta juntamente com o seu ponto no infinito
é chamada reta projetiva. Retas paralelas tem o mesmo ponto no infinito. O plano euclidiano R2
juntamente com todos os seus pontos no infinito constitui o chamado plano projetivo P2 .
No plano projetivo as três curvas, elipse, parábola e hipérbole, são curvas fechadas. A hipérbole
tem dois pontos no infinito, a parábola um e a elipse nenhum ponto no infinito 10.

a
b

b
a

Figure 2. Elipse, hipérbole e parábola: curvas fechadas em P2 .

2) Propriedades ópticas
Supondo que as curvas elipse, parábola e hipérbole são refletoras, então um raio de luz que emana
de um dos focos reflete por um caminho bem definido (Figura 5). No caso da elipse ele reflete
e se dirigi ao outro foco. No caso da parábola ele reflete paralelamente ao eixo de simetria da
parábola. Finalmente, no caso da hipérbole a reflexão se dá na direção da reta determinada pelo
ponto onde o raio de luz toca um ramo da hipérbole e pelo foco do outro ramo.

F .
.
F1
.
F2
.
F1 .
F2

Vamos demonstrar essa propriedade no caso da parábola x2 − 4cy = 0.


1 2 1
A reta tangente à parábola y = 4c x no ponto P = (x0 , y0 ) tem inclinação 2c x0 e portanto equação
y − y0 = 2c x0 (x − x0 ); isto é, x0 x − 2cy − 2 x0 = 0. Portanto, essa reta tangente cruza o eixo
1 1 2

dos y ′ s no ponto A = (0, − 4c


1 2
x0 ). Sendo F = (0, c) e sabendo-se que os pontos P da parábola são
equidistantes à diretriz (neste caso, y = −c) e ao foco, temos d(P, F ) = y0 + c = 4c 1 2
x0 + c. Logo,
d(P, F ) = d(A, F ). Em outras palavras, o triângulo AP F é isósceles. Logo, os ângulos da base,
nos vértices A e P são iguais.

F .
P

Portanto são iguais os ângulos de incidência e reflexão do raio F P que reflete, em relação à reta
tangente, paralelamente ao eixo de simetria da parábola (neste caso, eixo dos y ′ s.)
10No estudo da equação geral do segundo grau em duas variáveis Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0 verifica-se
uma analogia interessante entre esta equação e a equação geral do segundo grau em uma variável ax2 + bx + c = 0.
De fato, o sinal do número ∆ = B 2 − 4AC discrimina as três cônicas; isto é, o fato do conjunto dos pontos (x, y)
tais que Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0 ter dois pontos no infinito, um ponto no infinito ou nenhum ponto
no infinito corresponde aos valores de ∆ positivo, nulo ou negativo, respectivamente
15

3) Seções cônicas

parábola hipérboles
elipses

As curvas elipse, parábola e hipérbole são obtidas como interseção de um cone circular reto com
um plano. De fato, na figura 6 nota-se que as curvas têm muita semelhança com a parábola, elipse
e hipérbole. Cada caso depende do ângulo que o plano faz com o eixo do cone e também da posição
do plano. Por exemplo, se o plano for paralelo a (e não contém) uma das retas geratrizes do cone
obtém-se uma curva semelhante à parábola. De fato a curva é uma parábola. Uma pequena
mudança neste plano, de modo que ele deixa de ser paralelo à qualquer uma das geratrizes, e a
curva interseção se torna uma hipérbole (se o plano cortar as duas folhas do cone) ou uma elipse
(se o plano só corta uma folha do cone).
Demonstraremos essa afirmação para o caso da elipse. Esferas de Dandelin é o nome da construção
em homenagem a Germinal Dandelin (1794-1847).
Antes porém, vamos mostrar que a interseção de um cilindro circular reto por um plano π oblı́quo
ao eixo do cilindro é uma elipse (figura 7(a)).

F1

P
F2

(a) (b)

Figure 3
Introduzimos na parte superior do cilindro uma esfera de raio igual ao raio do cilindro até tocar o
plano π no ponto F1 . Fazemos o mesmo na parte inferior e obtemos o ponto F2 onde a esfera intro-
duzida tangencia o plano. Essas duas esferas têm em comum com o cilindro duas circunferências
contidas em planos paralelos. Seja P um ponto qualquer da curva interseção do cilindro com o
plano π. Considere o segmento AB da geratriz do cilindro passando por P. Como os segmentos P A
e P F1 são tangentes à esfera superior então eles têm o mesmo comprimento, em outas palavras,
d(P, F1 ) = d(P, A). Analogamente, os segmentos P B e P F2 têm o mesmo comprimento, isto é,
d(P, F2 ) = d(P, B). Como d(P, A)+d(P, B) = d(A, B) é constante, segue-se que d(P, F1 )+d(P, F2 )
é constante. Portanto os pontos P da interseção do cilindro com o plano π constituem de fato
uma elipse de focos F1 e F2 .
Passemos agora à construção de Dandelin no caso da elipse como seção de um cone circular reto.
Considere a interseção do cone por um plano π de modo a obter uma curva que se assemelha à
elipse (figura 7(b)). O plano corta apenas uma das folhas do cone. Vamos demonstrar que existem
16

dois pontos D ∈ π e E ∈ π tais que qualquer ponto B da curva interseção verifica d(B, D)+d(B, E)
é uma constante, isto é, a soma das distâncias de B aos pontos D ∈ π e E ∈ π é uma constante.
Teremos portanto que os pontos B constituem uma elipse cujos focos são os pontos D e E.
De fato, o plano divide a folha do cone em duas partes, uma limitada e a outra não. Em cada
uma dessas partes introduzimos uma esfera que tangencia o plano e toca o cone ao longo de uma
circunferência. Essas duas circunferências estão contidas em planos paralelos. A esfera de raio
menor tangencia o plano num ponto digamos E e a de raio maior no ponto D. A geratriz do cone
que parte do vértice V e passa pelo ponto B cruza a circunferência da esfera menor no ponto A e
a maior no ponto C.
Como os segmentos BA e BE são ambos tangentes à esfera menor então eles têm o mesmo
comprimento. O mesmo acontece com os segmentos BC e BD.
Portanto, qualquer que seja o ponto B na curva obtida da interseção do cone com o plano π, a
soma das distâncias de B aos pontos de tangência das esferas com o plano, D e E, é constante
e igual ao comprimento do segmento AC, que é constante, qualquer que seja o ponto B, pois as
circunferências estão em planos paralelos. Logo, o lugar gemétrico dos pontos da curva interseção
é de fato uma elipse, com focos D e E.
17

Outros sistemas de coordenadas no espaço


Coordenadas esféricas

φ P

ρ
θ y
x

ρ2 = x 2 + y 2 + z 2 x = ρcos(θ)sen(ϕ)
y
tg(θ) = y = ρsen(θ)sen(ϕ)
x
z
cos(ϕ) = z = ρcos(ϕ)
ρ

Coordenadas cilı́ndricas

P
y

ρ2 = x 2 + y 2 x = ρcos(θ)
y
tg(θ) = y = ρsen(θ)
x
18

Exercı́cios
1) Obtenha uma equação reduzida da elipse
(a) cujo centro é o ponto (0, 0), os focos estão no eixo Ox, o eixo menor mede 6 e a distância focal
é igual a 8.
(b) cujos focos são os pontos de coordenadas (0, 6) e√(0, −6) e o eixo
√ maior mede 34.
(c) cujos focos são os pontos de coordenadas (0, 2 3) e (0, −2 3) e a amplitude focal (latus
rectum)11 é 2. [22-7]
(d) cuja excentricidade é 3/5, os vértices são os pontos de coordenadas (5, 0) e (−5, 0) e cujos
focos estão no eixo Oy. [22-37]

2) Determine as coordenadas dos focos, vértices e as medidas dos eixos maior e menor das elipses:
(a) 16x2 + 25y 2 = 100 (b) 50 − y 2 − 2x2 = 0 (c) 3x2 + 4y 2 = 12. [22-8]

3) Calcule a área do quadrado cujos lados são paralelos aos eixos coordenados e está inscrito na
elipse 9x2 + 16y 2 = 100. [22-12]

4) Escreva a equação reduzida da hipérbole


(a) cujos vértices são (2, 0) e (−2, 0) e focos (3, 0) e (−3, 0).
(b) cujos focos são (5, 0) e (−5, 0) e as retas assı́ntotas são 2y = x e 2y = −x.
(c) passa pelo ponto (5, 9) e tem retas assı́ntotas y = x e y = −x. [22-21]
(d) cuja excentricidade é 2 e as assı́ntotas são y = 2x e y = −2x. [22-43]

5) Calcule o produto das distâncias de um ponto (x0 , y0 ) da hipérbole x2 /a2 − y 2 /b2 = 1 às retas
assı́ntotas (em função de a e b). [22-23]

6) Determine as coordenadas do foco, do vértice, e uma equação da reta diretriz das parábolas
y 2 + 8x = 0 e 5x2 = 8y. [22-30]

7) Usando a definição, obtenha uma equação da parábola


(a) com foco no ponto (3, 1) e reta diretriz y + 3 = 0
(b) com foco no ponto (−4, −2) e reta diretriz 2x + y = 3. [22-34]

8) Usando translação e rotação, obtenha uma equação da elipse cujos focos são (1, 0) e (3, 2) e
vértice (4, 3).

11latus rectum ou amplitude focal da elipse é o comprimento da corda que passa por um dos focos e é perpendicular
ao segmento focal

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