Ae p12 Teste Fev2017
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Palavras 12
Negrejam os quintais; enxuga a alvenaria; Homens de carga! Assim as bestas vão curvadas!
Em arco, sem as nuvens flutuantes, Que vida tão custosa! Que diabo!
O céu renova a tinta corredia; E os cavadores pousam as enxadas,
E os charcos brilham tanto, que eu diria E cospem nas calosas mãos gretadas,
Ter ante mim lagoas de brilhantes! Para que não lhes escorregue o cabo.
E engelhem, muito embora, os fracos, os tolhidos, Povo! No pano cru rasgado das camisas
Eu tudo encontro alegremente exato. Uma bandeira penso que transluz!
Lavo, refresco, limpo os meus sentidos. Com ela sofres, bebes, agonizas;
E tangem-me, excitados, sacudidos, Listrões de vinho lançam-lhe divisas,
O tato, a vista, o ouvido, o gosto, o olfato! E os suspensórios traçam-lhe uma cruz! (…)
Cesário Verde, Cânticos do Realismo e Outros Poemas, ed.
Teresa Sobral da Cunha, Lisboa: Relógio D’Água, 2006, pp. 123-
124.
4. Mostra de que forma o sujeito poético, com a sua “visão de artista”, transfigura a
realidade.
Leitura | Gramática
Ecos de Camões em Cesário Verde
No cerne do poema épico de Camões está o mar, espaço percorrido pelas naus de Vasco da
Gama, mas também cenário mítico em que decorrem os vários planos da narração que
complexificam a temática do texto, fazendo da viagem à Índia a jornada simbólica em que
Camões retrata a saga dos Lusíadas. (…)
5 O mar das navegações é para o autor d’Os Lusíadas o símbolo ambíguo de Portugal (…).
O tempo passado vê-se elevado à categoria simbólica do Bem absoluto, com a glória, a harmonia
e o ideal coletivo por corolários; e o mar é o espaço da viagem aventurosa em busca de novos
mundos, é a possibilidade de partir, levando a outros lugares a energia positiva dos navegadores e
do povo que eles representam.
10 Uma tal perspetiva que coloca a par a visão épica e positivada do passado com um presente
decetivo e de impasse, tem múltiplos ecos na história literária nacional. Detenhamo-nos por agora
em dois exemplos disso, colhidos em textos de fins de oitocentos, período em que retorna essa
memória do passado histórico, como via da busca de um esteio que sustente o presente de
inquietação e de mudança: tomemos “O Sentimento dum Ocidental” de Cesário Verde (…).
15 O poema de Cesário foi publicado no número Portugal a Camões do Jornal de Viagens de 10
de junho de 1880, uma das edições comemorativas de um centenário que erigira Os Lusíadas e o
épico em porta-bandeiras do nacionalismo; tal perspetiva não atraía o poeta de “O Sentimento
dum Ocidental”, que se situa à margem do tom laudatório e exaltado de outros seus
contemporâneos. Com efeito, Cesário trabalhará a sua homenagem no arame frágil do paradoxo,
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tratando os temas da épica (o mar, a viagem, o herói) por um prisma decetivo.
O mar está presente como elemento espacial, situando desde o título o sujeito do poema como
um ocidental, oriundo das mesmas mas tão mudadas praias que viram partir os descobridores; na
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25 primeira secção, o sujeito desloca-se ao longo dos cais que figuram a possibilidade de partir, sim,
mas para outros – não para o “eu” errante, só, presa de um spleen [tédio] que lhe faz sentir como
fechado um espaço fisicamente aberto. Esse tema estende-se ao modo como é vista a gare de
onde partem os outros, “Felizes!”, para o mundo mítico da Europa cosmopolita (“Madrid, Paris,
30 Berlim, S. Petesburgo, o mundo!, I, 3”); notemos também como aos cais do presente, herdeiros
daqueles de que partiram as naus das Descobertas, se atracam agora botes (I, 5), caricaturas dessa
grandiosidade perdida, ou como a partir deles se avista ao largo “o couraçado inglês” (I, 7) que
representa o poderio estrangeiro e assinala a decadência e a impotência da pátria.
Paula Morão, “Ecos de Camões em Cesário Verde e em Nobre”, in Românica, Revista de Literatura, n.º 1/2,
Lisboa: Ed. Cosmos, 1992, p. 27.
1. O mar é, n’Os Lusíadas,
A. simultaneamente, um espaço real e perigoso.
B. um espaço com duplo significado: real e simbólico.
C. o espaço que permite a concretização de um sonho pessoal.
D. um espaço desejado, mas nunca navegado.
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Na nossa Era surge o conceito de navegação associado à Internet. Esta, tal como a
navegação marítima dos marinheiros portugueses na época das descobertas, traz
benefícios e encerra perigos.
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A
1. Esta reflexão é motivada por um acontecimento respeitante ao plano da Viagem.
Efetivamente, após a realização do consílio dos deuses no Olimpo, onde se formam
duas correntes – uma de apoio à empresa do Gama, liderada por Vénus, e outra de
oposição, chefiada por Baco, e onde Júpiter toma a decisão de auxiliar os portugueses
chegarem à Índia –, Baco prepara-lhes várias ciladas em Moçambique e Mombaça. A
armada portuguesa chega então a Mombaça, após várias vicissitudes urdidas por Baco, e
o rei, que tinha sido convencido por ele a aniquilar a frota lusitana, prepara uma traição.
De facto, o “recado” (a mensagem) que os enviados trazem é, na aparência e
dissimuladamente, de amizade, mas na realidade é de grande perigo (metáfora “debaxo
o veneno vem coberto” – v. 2) e de inimizade (v. 3). No entanto, a traição acaba por não
se consumar, dado que foi descoberta (“Segundo foi o engano descoberto.” – v. 4).
Introduz-se, assim, o tema da reflexão: a insegurança da vida humana, que decorre dos
grandes perigos.
3. O ser humano é fraco diante de forças poderosas e, por isso, nunca encontrará
segurança. A interrogação retórica traduz, assim, a indignação do Poeta pela ameaça à
fragilidade humana que dificilmente conseguirá encontrar um lugar onde possa estar
seguro, dada a enorme desproporção entre si e o universo. No entanto, o “Céu sereno”,
podendo representar os deuses, indigna-se contra a atuação do “bicho da terra tão
pequeno”, e põe em risco a sua “curta vida”, o que pressupõe que o Homem tem valor e
os seus feitos incomodam os deuses. Tendo em conta o conteúdo da Proposição
relativamente ao herói d’ Os Lusíadas, parece ser intenção do poeta, com esta reflexão,
exaltar a valentia dos Portugueses, que, mesmo sendo pequenos, venceram os maiores
desafios. Os dois versos finais constituirão uma espécie de ponto de partida para a
mitificação dos Portugueses enquanto heróis. De facto, não obstante a sua fragilidade
enquanto seres humanos, ousam navegar por mares desconhecidos e desafiar a natureza
e os diversos perigos, ultrapassando os limites da sua condição humana.
B
4. O sujeito lírico recorre a impressões dos diversos sentidos, mas descreve a cidade
predominantemente através das sensações visuais. No entanto, não se limita a descrever
a cidade e os seus habitantes, durante o seu deambular. De facto, o sujeito poético
transfigura a realidade, com a sua “visão de artista”, no momento em que transforma as
“árvores despidas” em elementos de um barco (“Mastros, enxárcias, vergas!”) e quando
os “charcos “são transformados em “lagoas de brilhantes”. A transfiguração do banal
revela que o “eu” vê mais longe.
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Grupo II
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8.
B D A D D Complemento do nome Composição por palavras “eu” errante
Grupo III
Tópicos sugeridos:
Vantagens da Internet:
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