(2019) DIAS, J. Gragoatá
(2019) DIAS, J. Gragoatá
(2019) DIAS, J. Gragoatá
Resumo
Este trabalho tem como objetivo compreender como,
pelas diferentes posições sujeito tomadas pelo autor
da Grammatica da Língua Nacional, Antonio Alvares
Pereira Coruja, inscrevem-se os sentidos sobre a
língua nacional e o seu ensino, em meio a disputas
e tensões, no processo de produção do conhecimento
e das políticas de línguas. Filiado à Análise de
Discurso (PÊCHEUX, 1975, 1982; ORLANDI,
1998, 2002; MARIANI, 2003, 2004), o trabalho
traz contribuições para as pesquisas em história das
ideias linguísticas no Brasil, voltadas para a temática
da constituição da gramatização brasileira no século
XIX, base da relação Língua-Estado-Nação brasileira.
Palavras-chave: discurso; língua; posição sujeito;
gramática; Coruja.
a
Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem (PPGCL), da Universidade do Vale
do Sapucaí (Univás). Ao lado de Élcio Fragoso lidera o Grupo de Pesquisa Conhecimento, História e Língua
(GPeCHeLi/CNPq). E-mail: jucieledias@gmail.com.
Considerações iniciais
A história do processo de produção do conhecimento
sobre a língua do/no Brasil e das formas de institucionalização
desse conhecimento para o ensino dessa língua no século XIX
é a questão que circunscreve os estudos sobre a constituição
da língua nacional do Brasil e sua gramatização pela obra do
professor público, político, gramático, filólogo Antonio Alvares
Pereira Coruja (1806-1891). Filiados à Análise de Discurso
(PÊCHEUX, 1975, 1982; ORLANDI, 2002, 2012; MARIANI,
2003, 2004), consideramos (a história d)o conhecimento
linguístico como discurso e, sobretudo, um discurso em
análise, em que teoria, método, procedimentos analíticos e
objeto são inseparáveis, devendo ter entre si uma relação de
consistência nas pesquisas em História das Ideias Linguísticas
no Brasil (HIL).
A história, nessa perspectiva, conforme Orlandi (2008),
não é cronológica ou cristalizada em um momento do passado,
mas organiza-se por práticas, relações de poder (política) e
de sentidos que se inscrevem no discurso. Segundo Mariani
(2003, p. 2), a história é como “um lugar contraditório em que se
materializam os equívocos, pontos que afetam a univocidade
linguística do sujeito, levando o sujeito ao encontro com o real
histórico”. Os sentidos e o sujeito são divididos, constitutivos
da história do conhecimento, marcada por lacunas, tensões,
injunções e apagamentos em que a teoria nos dá suporte
para compreender o processo de produção de sentidos na
sociedade, na história. Desse modo, conforme Fonseca (2012,
p. 49), “quando dizemos ‘história’ temos presentes pressões
de diferentes regiões e temporalidades do fazer histórico,
que atuam para engessá-la e para destravá-la, para dizê-la e
para fazê-la de um mesmo modo e de outro modo”. É, assim,
responsabilidade nossa, ética e política, interpretar esses
diferentes modos do fazer histórico e seus efeitos (de mesmo
e de diferente) nas relações sociais, inscritos por um batimento
entre a memória e a atualidade.
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Lições da História do
Brasil e Compendio
Grammatica da Língua
Nacional, publicadas
p e l a Ty p o g r a p h i a No brasão, o escudo pode ser lido como a representação
Espera nça, em 1873.
Algumas publicações de
da realeza, do detentor de um conhecimento da língua e da
outros anos/tipografias história da Corte, constituindo um “símbolo” do professor
t ra z e m o b ra s ão do
império, e outras não. do Brasil. Segundo Laytando (1981, p. 141), Coruja foi
Considerações finais
Quando tomamos o conhecimento como discurso na
história da produção do sujeito em questão, referido pelo nome
de autor Antonio Alvares Pereira Coruja, temos uma dispersão
de posições sujeito constitutivas da história do Brasil e suas
políticas públicas voltadas ao ensino de língua. Uma história
dividida, em que, pela língua, se materializam os equívocos
sobre uma língua e seu ensino, determinados por efeitos de
evidência. De um lado, temos a produção de sentidos de que a
língua do Brasil tem uma unidade nacional, é a língua Império,
da Corte, do Príncipe de Portugal. De outro lado, os sentidos de
língua nacional são determinados pelos de pátria em relação às
províncias em diferentes conflitos com o Império, trazendo à
baila certa diversidade linguística brasileira. Uma diversidade
que vai de encontro ao diferente de Portugal, a sentidos
dominantes de um processo de “colonização linguística”
(MARIANI, 2004) que restam de uma língua do outro lado do
Atlântico, mas que se fazem presentes na nossa memória social.
Na pesquisa em história das ideias linguísticas, buscamos
compreender como esses discursos sobre a língua nacional e o
seu ensino, as disputas e as tensões no processo de produção
do conhecimento – na divisão de sentidos – são instituídos
em políticas linguísticas, produzindo um efeito de unidade.
Diferente das políticas linguísticas as quais vêm a legislar e
podem ser tomadas como discursos em análise, produzidos
em diferentes posições sujeito na sociedade, o que coloca em
cena a contradição constitutiva desses discursos. Não há língua
sem esse funcionamento do político nas práticas cotidianas, na
história. É preciso termos a responsabilidade ética e política
de compreender que o sentido sempre pode ser outro e que
há acontecimentos que demandam interpretação, pois é pelo
conhecimento de como se fez o ensino sobre a língua no Brasil
que podemos compreender como se faz e como se pode e se
deve fazer esse ensino na atualidade.
REFERÊNCIAS
OUTRAS REFERÊNCIAS
Abstract
19 th Century’s Teaching of National
Lang uage and the Constitution of
Brazilian Grammar: Antonio Alvares
Pereira Coruja’s production
The objective of this study is to understand
how the different subject positions taken
by the author of Grammatica da Língua
Nacional, Antonio Alvares Pereira Coruja
produce different meanings on the national
language and his teaching, in the midst of
the disputes and tensions in the process of
production of knowledge and of language
policies. Affiliated with Discourse Analysis
(PÊCHEUX, 1975, 1982; ORLANDI, 1998,
2002; MARIANI, 2003, 2004), the study
brings contributions to research in the history
of ideas of language in Brazil, focused on
the theme of the grammatization process of
Brazil in the 19th century on the relation
sustained Language-State-Brazilian nation.
Keywords: discourse ; language ; subject
position ; grammar; Coruja.