Apontamentos Direito Administrativo Freitas Do Amaral
Apontamentos Direito Administrativo Freitas Do Amaral
Apontamentos Direito Administrativo Freitas Do Amaral
Direito Administrativo
Freitas do Amaral
INTRODUÇÃO
I. Administração Pública
1. Conceito de Administração
Quando se fala em administração pública, tem-se presente todo um conjunto
de necessidades colectivas cuja satisfação é assumida como tarefa fundamental pela
colectividade, através de serviços por esta organizados e mantidos.
Exemplos: a necessidade de protecção de pessoas e bens contra incêndios ou
inundações é satisfeita mediante os serviços de bombeiros, etc.
Onde quer que exista e se manifeste com intensidade suficiente uma
necessidade colectiva, aí surgirá um serviço público destinado a satisfazê-la, em nome
e no interesse da colectividade.
No entanto, convém notar que nem todos os serviços que funcionam para a
satisfação das necessidades colectivas têm a mesma origem ou a mesma natureza:
uns são criados e geridos pelo Estado (polícias ou impostos, por exemplo), outros são
entregues a organismos autónomos que se auto-sustentam financeiramente (correios,
portos, vias férreas), outros ainda são entidades tradicionais de origem religiosa, hoje
assumidas pelo Estado (Universidades).
Desses serviços, alguns são mantidos e administrados pelas comunidades
locais autárquicas (limpeza, abastecimento público, …), outros são assegurados em
concorrência por instituições públicas e particulares (estabelecimentos escolares ou de
saúde, …), outros ainda são desempenhados em exclusivo por sociedades
especialmente habilitadas para esse efeito (concessionários, …).
Apesar das diferentes naturezas destes serviços, todos existem e funcionam
para a mesma finalidade: a satisfação das necessidades colectivas (que podemos
reconduzir a três espécies fundamentais: segurança, cultura e bem-estar).
5. Evolução Histórica
Comecemos pela Administração Pública no Estado moderno (Idade Média e
contemporânea do sé. XVI ao séc. XX). Esta tem as seguintes características:
aparecimento do conceito de Estado, centralização do poder político e afirmação da
soberania do Estado como poder supremo na ordem interna. Podemos dividi-la em
cinco fases:
a. Estado corporativo: monarquia limitada pelas ordens.
Características: forma de transição entre o Estado medieval e o Estado
moderno, organização do elemento humano do Estado em ordens ou estados,
1. Caracterização
a. Duguit e Jèze: noção de serviço público;
b. Rivero: contrapõe a outorga de prerrogativas especiais e sujeição a
restrições especiais pela parte da Administração;
c. Prosper Weil: o Direito Administrativo é quase um milagre, na medida em
que existe apenas porque o poder aceita submeter-se à lei em benefício
dos cidadãos, o Direito Administrativo nasce quando o poder aceita
submeter-se ao Direito. O Direito Administrativo não é apenas um
instrumento de liberalismo frente ao poder, é ao mesmo tempo o garante de
uma acção administrativa eficaz.
2. Traços
a. Juventude
Nasceu com a Revolução Francesa. Aparece em Portugal a partir das reformas
de Mouzinho da Silveira.
b. Influência jurisprudencial
Em França, o Direito Administrativo nasceu por via jurisprudencial: surgiram
primeiro os tribunais administrativos, para subtrair à Administração a possibilidade
de intromissão no poder judicial, e foram depois os tribunais administrativos, ao
tomar contacto com os casos surgidos da acção administrativa, que começaram a
ensaiar soluções novas, regras específicas, princípios e conceitos diferentes
daqueles que se aplicavam nos tribunais judiciais à luz do Direito Civil.
Apesar de em Portugal o Direito Administrativo ter nascido por via legislativa e
não jurisdicional, a jurisprudência tem um papel muito influente. Primeiro porque
nenhuma regra legislativa vale apenas por si própria, elas só têm o sentido que os
tribunais lhes atribuem, pela interpretação. Segundo porque apesar de tudo há
casos omissos e quem vai preencher as lacunas são os tribunais administrativos,
aplicando a esses casos normas que os não abrangiam, ou criando para eles
normas até aí inexistentes.
c. Autonomia
O Direito Administrativo é um ramo de direito autónomo, constituído por
normas e princípios próprios, e não apenas por excepções ao direito privado,
havendo lacunas a preencher, essas lacunas não podem ser integradas através de
soluções que se vão buscar ao direito privado. Deve-se, primeiro, procurar
analogia dentro do próprio sistema do Direito Administrativo, segundo, procurar
princípios gerais do Direito Administrativo ou, terceiro, recorrer à analogia e aos
princípios gerais do direito público.
d. Codificação parcial
Não há nenhum país que tenha codificado todo o Direito Administrativo. Nos
nossos dias nota-se uma tendência codificadora.
3. Fronteiras
a. Direito Administrativo e direito privado
Distintos quanto ao objecto (um ocupa-se das relações entre particulares e
outro das relações de direito público que se travam entre a Administração Pública
e outros sujeitos de direito), quanto à origem e idade, quanto às soluções materiais
(soluções de igualdade entre as partes e soluções de autoridade), quanto aos
princípios e quanto às soluções concretas.
b. Direito Administrativo e Direito Constitucional
O Direito Constitucional está na base e é o fundamento de todo o direito
público de um país, o Direito Administrativo é, em múltiplos aspectos,
complemento, e execução do Direito Constitucional.
c. Direito Administrativo e Direito Judiciário
Os dois têm grandes semelhanças, entre elas o facto de regulam serviços
públicos que visam satisfazer as necessidades colectivas, no caso do Direito
Judiciário strictu sensu e, no caso do Direito Judiciário Processual o facto de tanto
o Direito Processual Administrativo como este conterem normas reguladoras do
exercício da função jurisdicional (apesar do diferente objecto).
d. Direito Administrativo e Direito Penal
O Direito Penal visa proteger a sociedade contra o crime e o Direito
Administrativo visa satisfazer a necessidade colectiva da segurança. Existe aqui
uma certa sobreposição, mas ela dá-se em planos diferentes – um é repressivo e o
outro é preventivo.
e. Direito Administrativo e Direito Internacional
Existe o Direito Internacional Administrativo. O Direito Administrativo não pode
ignorar o crescente número de normas comunitárias que modificam e condicionam
o Direito Administrativo interno.
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j. Supremacia
O Estado-Administração exerce poderes de supremacia não apenas em
relação aos sujeitos de direito privado, mas também sobre outras entidades
públicas. O grau/intensidade desses poderes varia conforme a maior ou menor
autonomia que a ordem jurídica pretende conceder às várias pessoas colectivas
públicas.
4. Atribuições
As atribuições do Estado são numerosas e têm vindo a crescer, à medida que
os tempos vão passando. Enquanto que as atribuições do Estado se encontram
definidas por forma dispersa, as atribuições das restantes pessoas colectivas
públicas encontram-se definidas de forma integrada. Em qualquer dos casos, a
definição das respectivas atribuições tem de resultar sempre expressamente da lei
(a lei é o fundamento, o critério e o limite de toda a acção administrativa).
5. Órgãos
a. Órgãos centrais: Presidente da República, Assembleia da República,
Governo e Tribunais
b. Outros órgãos (colocados sob a direcção do Governo): directores-gerais,
directores de serviços, chefes de divisão, Chefe do Estado-Maior-General
das Forças Armadas, Procurador-Geral da República, inspectores-gerais,
entre outros.
c. Órgãos independentes: Provedor de Justiça, Conselho Económico e Social,
Comissão Nacional de Eleições, entre outros.
II. O Governo
1. Principais funções
a. Garantir a execução das leis – art. 199º c) e f) CRP
b. Assegurar o funcionamento da Administração Pública – art. 199º a), b) e d)
e e) CRP
c. Promover a satisfação das necessidades colectivas – art. 199º g) CRP
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Entre as três últimas categorias não existe uma relação hierárquica, há relação de
supremacia ou subordinação política de uns face aos outros, mas não há hierarquia
em sentido jurídico. A que se deve, então, este fenómeno de diferenciação interna? Há
três motivos: complexidade e acréscimo de funções do Estado moderno, propensão
centralizadora do nosso sistema e dos governantes e a necessidade de libertar do
despacho corrente os Ministros para que estes se possam dedicar, sobretudo, às suas
funções políticas e de alta administração.
4. Funcionamento
1º Momento: constituição, nomeação e tomada de posse do Governo, que
elabora o seu programa
2º Momento: o Conselho de Ministros define as linhas gerais da política
governamental (art. 200º/1 a) CRP)
3º Momento: o Primeiro-Ministro dirige a política geral do Governo e o
funcionamento deste (art. 201º/1 a) e b) CRP)
4º Momento: os Ministros executam a política definida para os seus ministérios
(art. 201º/2 a) CRP), a CRP não diz mas, os ministros para além de
executarem a política definida para o seu ministro têm a responsabilidade de a
propor
Cabe ao Primeiro-Ministro coordenar e orientar a acção dos Ministros (art. 201º/1
a) CRP). Mas, o que é orientar? Orientar não é o mesmo que dirigir, dirigir é dar
ordens (comandos as quais os seus destinatários devem obediência), ao passo que
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Quanto à localização:
Serviços centrais
Serviços periféricos
Há alguns órgãos centrais com funções consultivas (por oposição a órgão com
funções deliberativas, o órgão consultivo é um órgão que emite pareceres, opiniões ou
conselhos, este segundo é um órgão que toma decisões), o que não há é nenhum
órgão do tipo do Conselho de Estado francês (que, para além de funções consultivas
genéricas desempenha igualmente uma função contenciosa).
1. Procuradoria-Geral da República
A CRP33 consagrava um órgão consultivo da Assembleia Nacional (e, depois, do
Governo também) denominado de Câmara Corporativa, que se podia pronunciar sobre
todos os aspectos (políticos, jurídicos, sociais, etc.). Para além deste, havia outro
órgão de natureza consultiva, a Procuradoria-Geral da República, isto é, o órgão de
direcção superior do Ministério Público, cujo Conselho Consultivo desempenhava
funções consultivas a nível jurídico, e não político.
Com o 25 de Abril de 1974 o primeiro órgão foi abolido mas o segundo manteve-
se, continuando a funcionar junto do Ministério da Justiça e com as funções anteriores.
É, neste momento, o único órgão consultivo central de competência alargada a todos
os ramos da administração pública.
Quanto à existência de um órgão consultivo central de competência genérica no
nosso país, as opiniões dividem-se.
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1. Tribunal de Contas
Existe junto do Ministério das Finanças, embora não na dependência do Ministro
das Finanças. Não está integrado na estrutura do poder judicial, é um tribunal
autónomo, que existe de per si, e não faz parte de nenhuma hierarquia de tribunais.
O Tribunal de Contas “é o órgão supremo de fiscalização da legalidade das
despesas públicas” (art. 214º CRP).
São quatro as suas principais funções:
a. Dar parecer sobre a Conta Geral do Estado (incluindo a da Segurança
Social e a das Regiões Autónomas)
Função consultiva de natureza técnica e política. O Estado, do ponto de vista
financeiro, é limitado por dois documentos fundamentais que se elaboram todos os
anos: o Orçamento de Estado, antes do ano a que se refere, e a Conta Geral do
Estado, depois de findo o ano a que respeita.
O Tribunal de Contas analisa a Conta Geral do Estado do ponto de vista da
legalidade administrativa e da regularidade financeira, terminando por emitir um
parecer acerca dela, de modo a habilitar a A.R. a pronunciar-se sobre o seu mérito
geral.
b. Fiscalizar a legalidade das despesas públicas
Função de fiscalização. Pronuncia-se sobre a legalidade administrativa e
financeira da generalidade das despesas públicas (dupla perspectiva).
Actualmente, na maioria dos casos, esta fiscalização é apenas feita a posteriori.
c. Julgar as contas dos organismos públicos e efectivar a responsabilidade de
dirigentes e funcionários por infracções financeiras
Função jurisdicional, exercida a posteriori. O Tribunal vai analisar as contas
apresentadas: se considera que estão em ordem, declara que as pessoas por elas
responsáveis ficam “quites” com a Fazenda Nacional e emite a “quitação”, se não
estão em ordem, e nomeadamente se houve fraude, julga os responsáveis,
podendo mesmo condená-los.
O Tribunal pode, ainda, ordenar e realizar inquéritos e auditorias, no exercício
de uma fiscalização sucessiva da legalidade financeira.
d. Assegurar, no âmbito nacional, a fiscalização da aplicação dos recursos
financeiros oriundos das Comunidades Europeias
Visa apreciar se os recursos financeiros oriundos das Comunidades Europeias
foram aplicados ao fim a que se destinavam.
2. A Inspecção-Geral de Finanças
Natureza inspectiva. Pertence-lhe inspeccionar, em nome do Governo e sob a
direcção do Ministério das Finanças, a actividade financeira dos diferentes serviços e
organismos do Estado.
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A ADMINISTRAÇAO PERIFÉRICA
Cumpre, primeiro, destacar que a administração periférica, mesmo quando
local, ao pode ser confundida com a administração local autárquica. Esta é constituída
por autarquias locais, ao passo que aquela é composta por órgãos e serviços do
Estado, ou de outras pessoas colectivas públicas não territoriais.
Definição: conjunto de órgãos e serviços de pessoas colectivas públicas que
dispõem de competência limitada a uma área territorial restrita, e funcionam sob a
direcção dos correspondentes órgãos centrais.
Espécies que para este curso nos interessam: Órgãos e serviços locais do
Estado e órgãos e serviços externos do Estado.
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1. Divisão do território
É a ela que leva à demarcação de áreas, zonas ou circunscrições (circunscrições
administrativas) que servem para definir a competência dos órgãos e serviços locais
do Estado, que fica, assim, delimitada em razão de território.
Existe a divisão militar e a divisão comum. Dentro da comum temos duas
modalidades, a divisão administrativa do território para efeitos de administração local
do Estado e outra para efeitos de administração local autárquica. Só nos interessa
aqui a primeira, pois é nessas circunscrições administrativas que actuam os órgãos
locais do Estado.
Exemplo: repartições de finanças
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I. Institutos Públicos
Definição: pessoa colectiva pública, de tipo institucional, criada para assegurar o
desempenho de determinadas funções administrativas de carácter não empresarial
pertencentes ao Estado ou a outra pessoa colectiva pública.
Diploma regulador: Lei-quadro dos Institutos Públicos
Espécies de Institutos públicos: serviços personalizados, fundações públicas e
estabelecimentos públicos.
1. Serviços Personalizados
“Serviços públicos de carácter administrativo a que a lei atribui personalidade
jurídica e autonomia administrativa, ou administrativa e financeira” (art. 3º/1 e 2 LQIP).
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2. Fundações Públicas
“Fundação que reveste natureza de pessoa colectiva” (art. 3º/1 e 2 LQIP).
Trata-se, aqui, de patrimónios que são afectados à prossecução de fins públicos
especiais. Exemplo: Fundo de Abastecimento (hoje já revogado)
3. Estabelecimentos Públicos
São os institutos públicos de carácter cultural ou social, organizados como serviços
abertos ao público, e destinados a efectuar prestações individuais à generalidade dos
cidadãos que delas careçam.
As diferenças destes estabelecimentos públicos face às anteriores espécies são:
pertencem ao organograma dos serviços centrais de um Ministério, assenta
basicamente num património e é um estabelecimento aberto ao público e destinado a
fazer prestações de carácter cultural ou social aos cidadãos.
Exemplos: Universidades Públicas ou Hospitais do Estado
Esta é uma matéria cuja importância tem vindo a crescer, sobretudo a seguir à 2ª
Guerra Mundial, em que o Estado ganhou um maior poder interventivo.
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A ADMINISTRAÇÃO AUTÓNOMA
A Administração Autónoma é aquela que prossegue interesses públicos próprios
das pessoas que a constituem e por isso se dirige a si mesma, definindo com
independência a orientação das suas actividades, sem sujeição a hierarquia ou a
superintendência do Governo.
Ela, ao contrário da administração indirecta (que prossegue as atribuições do
Estado), prossegue interesses públicos próprios. Dirige-se a si mesma, apresentando-
se como um fenómeno de auto-administração: são os seus próprios órgãos que
definem com independência a orientação das suas actividades, sem estarem sujeitos
a ordens ou instruções, nem a directivas ou orientações do Governo.
Enquanto que a administração directa do Estado, central ou local, depende sempre
hierarquicamente do Governo, e a administração estadual indirecta está sujeita, em
princípio, à superintendência do Governo, a administração autónoma não deve
obediência a ordens ou instruções do Governo, nem tão-pouco a quaisquer directivas
ou orientações dele emanadas.
O único poder que constitucionalmente o Governo pode exercer sobre a
administração autónoma é o poder de tutela (artigo 199º d), 229º/4 e 242º CRP), que é
um mero poder de fiscalização ou controlo, que não permite dirigir nem orientar as
entidades a ele submetidas.
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I. Associações Públicas
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4. Figuras afins
São figuras afins:
a. Associação Nacional de Municípios e a Associação Nacional de Freguesias
b. Associações políticas
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Não há, em rigor, autarquia local quando ela não é administrada por órgãos
representativos das populações que a compõem.
É isto que se passa nos regimes democráticos, estes órgãos são eleitos em
eleições livres pelas respectivas populações, são as eleições locais ou autárquicas
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E o que é o poder local? Para que exista é necessária ainda mais alguma coisa,
além da auto-administração. Pode haver autarquias locais e não haver poder local,
desde logo se não existir descentralização política. No entanto pode existir
descentralização política e jurídica e não existir poder local.
Só há poder local quando as autarquias locais são verdadeiramente autónomas e
têm um amplo grau de autonomia administrativa e financeira. Existe, sem dúvida em
Inglaterra e na Alemanha (o professor Freitas do Amaral não considera que exista em
Portugal).
4. A Freguesia
Definição: autarquias locais que, dentro do território municipal, visam a
prossecução de interesses próprios da população residente em cada circunscrição
paroquial. A paróquia é uma expressão sinónima de freguesia e tem, portanto, um,
sentido administrativo e não apenas religioso.
Quais são as atribuições da freguesia? A matéria está regulada no artigo 14º da
Lei 159/99 (lei que estabelece o quadro de transferências de atribuições e
competências do Estado para as autarquias, a LQTACA). As suas principais
atribuições são: recenseamento eleitoral (no plano político), administração dos seus
bens, promoção de obras públicas (no plano económico), prestar assistência social e
desenvolver matéria de cultura popular (no plano social).
A freguesia tem dois órgãos:
a. Assembleia de Freguesia
Reúne ordinariamente quatro vezes por ano. A sua competência está regulada
no art. 17º da LAL e pode ser agrupada em quatro funções: eleitoral, de
fiscalização, de orientação social e decisória
b. Junta de Freguesia
É o corpo administrativo da freguesia e é composta por um Presidente (a
pessoa que tiver encabeçado a lista mais votada para a Assembleia de Freguesia)
e por um certo número de vogais. É de funcionamento regular e reúne
ordinariamente uma vez por mês.
O art. 34º da LAL regula as funções da Junta de Freguesia, que se podem
agrupar em 5 tipos: executiva, de estudo e proposta, de gestão, de fomento e de
colaboração.
É de referir, igualmente, que a Junta de Freguesia pode exercer competências
delegadas pela Câmara Municipal (art.37º e 66º LAL e 13º/2 LQTACA) devendo o
acto de delegação ser objecto de ratificação pela Assembleia Municipal.
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5. O Município
Definição: autarquia local que visa a prossecução de interesses próprios da
população residente na circunscrição concelhia, mediante órgãos representativos por
ela eleitos.
O município é o único tipo de autarquia que tem existência universal, é nele que se
estrutura e pratica a democracia local, chama a si a responsabilidade por um número
muito significativo de serviços prestados à comunidade.
No que à transferência de atribuições da Administração Central para as autarquias
locais vigora a Lei nº 159/99 (LQTACA). Esta tem simultaneamente uma intenção
unificadora (reúne num só elenco atribuições já transferidas e a transferir para as
autarquias) e uma intenção reguladora (traça um quadro lógico dos princípios a que
deve obedecer cada operação de transferência de atribuições). Ela proclama como
objectivo geral a concretização dos princípios da descentralização administrativa e da
autonomia do poder local.
O sistema português não faz, a nível do município, muito sentido. Não e nem um
sistema de tipo convencional, nem de tipo parlamentar, nem de tipo presidencialista.
O município toma decisões através de órgãos (abaixo) mas essas decisões têm
que ser cuidadosamente estudadas e preparadas e, uma vez tomadas, têm que ser
executadas. A preparação e execução das decisões competem aos serviços
municipais. Estes têm duas categorias: os serviços municipais (em sentido restrito,
exemplos: secretaria/tesouraria da câmara) e os serviços municipalizados (exemplos:
captação, condução e distribuição de água, transportes colectivos). Estes últimos são,
do ponto de vista material, verdadeiras empresas públicas municipais que, não tendo
personalidade jurídica, estão integrados na pessoa colectiva município.
Órgãos do município:
a. Assembleia Municipal
É o órgão deliberativo. Pode destituir a Câmara Municipal, pois esta é
responsável perante a Assembleia Municipal e tem o poder de aprovar ou rejeitar a
proposta de orçamento anual apresentada pela Câmara Municipal.
Não e toda ela eleita directamente: é, em parte, constituída por membros
eleitos (que não pode ser inferior ao dos membros por inerência) e, em parte,
constituída por membros por inerência (presidentes das juntas de freguesia).
Tem anualmente cinco sessões ordinárias (Fevereiro, Abril, Junho, Setembro e
Novembro).
Das suas funções destacam-se cinco: orientação geral do município,
fiscalização da Câmara Municipal, regulamentação (emite posturas municipais),
tributária e de decisão superior (exemplo: aprovação do plano de urbanização).
b. Câmara Municipal
Órgão colegial, directamente eleito pela população, de tipo executivo a quem
está atribuída a gestão permanente dos assuntos municipais, é o corpo
administrativo do município. É composta pelo Presidente da Câmara e pelos
vereadores e funciona em sessão permanente.
Tem cinco tipos de funções: preparatória e executiva (prepara as deliberações
da AM e executa-as); consultiva, de gestão, de fomento (apoia, exclusiva ou
conjuntamente, o desenvolvimento de actividades de interesse municipal de
natureza social, cultura, desportiva, etc.) e de decisão (toma todas as decisões de
autoridade que a lei lhe confia, através da prática de actos administrativos,
contratos administrativos ou de emissão de posturas municipais).
c. Presidente da Câmara Municipal
Órgão executivo. A CRP quase que deixa em silêncio esta figura, ele será
ou não órgão consoante os poderes que a lei lhe atribua. Actualmente o basto
elenco de competências anunciadas no art. 65º da LAL confirmam que este é um
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Nos termos do art. 6º e 225º CRP, Portugal é um Estado unitário regional. Mas é
parcial e homogéneo, porquanto compreende apenas duas regiões autónomas, não se
encontrando prevista nem permitida na CRP a criação de regiões autónomas do
mesmo tipo no Continente.
Cada uma das novas R.A. é dotada de um estatuto político-administrativo
específico e de órgãos de governo próprio que possuem amplos poderes
administrativos e político-legislativos, destinados a prosseguir o desenvolvimento
económico, social e cultura das regiões.
Órgãos:
a. Assembleia Legislativa
É eleita por sufrágio universal, directo e secreto, dos cidadãos residentes no
arquipélago e de acordo com o princípio da representação proporcional.
Não desempenha somente uma função legislativa, possui uma importante
competência de natureza administrativa, que resulta da conjugação da primeira
parte da alínea d) do nº1 do art. 227º da CRP com o nº1 do art. 232º.
b. Governo Regional
É o órgão executivo de condução da política regional e o órgão superior da
administração pública regional.
É politicamente responsável perante a assembleia legislativa, efectivando-se
essa responsabilidade pelos mecanismos da sujeição do programa do governo a
debate e votação na assembleia, da moção de censura e do voto de confiança.
Tem igualmente de responder às questões que lhe forem colocadas pelos
deputados regionais, sujeitar-se a interpelações e a inquéritos parlamentares, a
comparecer nas comissões, etc.
Compete-lhes aplicar toda a legislação emanada das assembleias regionais
das suas regiões, aplicar nos respectivos territórios uma boa parte da legislação
emanada dos órgãos de soberania mas há legislação que apenas compete ao
Governo da República aplicar. A CRP estabelece directivas gerais para uma
repartição de competências executivas entre o Governo da República e os
governos regionais, mas não traça de uma forma explícita a linha de fronteira entre
as competências de um e de outro.
Existe uma reserva executiva do Governo da República, no âmbito do qual o
legislador nacional não pode remeter para os governos e administrações regionais
o encargo de aplicar nos Açores e Madeira certos diplomas legais emanados dos
órgãos de soberania (é o que sucede nos domínios em que estejam em causa
poderes inerentes ao Estado soberano).
É, à semelhança do Governo da República, um órgão complexo,
compreendendo pelo menos um presidente e vários secretários regionais. A sua
organização interna, a nível de departamentos, segue um modelo muito próximo
do tradicional adoptado na administração directa do Estado.
c. Representante da República
Cabe-lhe nomear o presidente do governo regional, de acordo com os
resultados eleitorais e ouvidos os partidos políticos representados na assembleia
legislativa, bem como nomear, em número variável, sob proposta do respectivo
presidente, os restantes membros do governo regional.
Com a revisão constitucional de 1997 iniciou-se um processo de redefinição do
perfil institucional da figura do Ministro da República (sucessor do Representante
da República), destinado a eliminar as suas competências administrativas e a
aproximá-lo da esfera de competências do Presidente da República.
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INSTITUIÇÕES PARTICULARES DE
INTERESSE PÚBLICO
O Direito Administrativo não regula apenas entidades públicas, também regula
algumas categorias de entidades privadas, precisamente aquelas que pela actividade
a que se dedicam não podem deixar de ser consideradas na óptica do interesse geral,
são as instituições particulares de interesse público.
Tratam-se de pessoas colectivas privadas que, por prosseguiram fins de interesse
público, têm o dever de cooperar com a Administração Pública e ficam sujeitas, em
parte, a um regime especial de Direito Administrativo.
Porque é que isto acontece?
Umas vezes, é a Administração Pública que, não podendo arcar com todas as
tarefas que é necessário desenvolver em prol da colectividade, faz apelo aos capitais
particulares e encarrega empresas privadas de desempenharem uma função
administrativa, é o que se passa, por exemplo, com as concessões de serviços
públicos ou obras públicas. É o exercício privado de funções públicas.
Outras vezes, a lei considera que um certo número de colectividades privadas são
de tal forma relevantes no plano do interesse colectivo que, sem ir ao ponto de as
nacionalizar, decide submetê-las a uma fiscalização permanente ou mesmo a uma
intervenção por parte da Administração Pública, é o que acontece, por exemplo, com
as sociedades de interesse colectivo, junto das quais e designado um delegado do
Governo. É o controlo público de actividades privadas.
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Pode suceder, ainda, que a lei admita que em determinadas áreas de actividade
sejam criadas entidades privadas, por iniciativa particular, para se dedicarem
unicamente à prossecução de tarefas de interesse geral, numa base voluntária e
altruísta, tarefas essas que serão realizadas em simultâneo com a realização de
actividades idênticas pela Administração Pública, é o que sucede, por exemplo, com
as instituições de assistência ou beneficência. É a coexistência colaborante entre
actividades públicas e privadas.
Uma das suas características, neste caso do direito aplicável, é a de o regime
jurídico a que tais instituições estão sujeitas é um misto de direito privado e de Direito
Administrativo. Como se trata de entidades privadas são por natureza reguladas em
princípio pelo direito privado mas há uma submissão em vários aspectos significativos
a um regime específico traçado pelo Direito Administrativo, não as transformando,
contudo, em elementos integrados na Administração Pública.
Estas instituições dividem-se, basicamente, em duas espécies – sociedades de
interesse colectivo e pessoas colectivas de utilidade pública. Estas últimas, por sua
vez, subdividem em três espécies – pessoas colectivas de mera utilidade pública,
instituições particulares de solidariedade social e pessoas colectivas de utilidade
pública administrativa.
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Para o professor DFA é a tese clássica que está certa. Baseando-se no art. 82º/2
CRP justifica esta escolha pelo facto de as sociedades de interesse colectivo serem
pessoas colectivas privadas e, por conseguinte, segundo a CRP, pertencerem ao
sector privado, não podendo fazer parte da Administração Pública. Estas entidades
colaboram com a Administração, mas não fazem parte dela: são elementos exteriores
à Administração Pública.
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ELEMENTOS DA ORGANIZAÇÃO
ADMINISTRATIVA
Entendemos por “organização administrativa” o modo de estruturação concreta
que, em cada época, a lei dá à Administração Pública de um dado país.
Quanto aos elementos desta, são, basicamente, dois: as pessoas colectivas
públicas e os serviços públicos
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1. Órgãos
Todas as pessoas colectivas são dirigidas por órgãos. A estes cabe tomar
decisões em nome da pessoa colectiva ou manifestar a vontade imputável à pessoa
colectiva.
A respeito da natureza dos órgãos das pessoas colectivas debatem-se duas
grandes concepções. A primeira, defendida por Marcello Caetano, considera que os
órgãos são instituições e não indivíduos. Os indivíduos é que agem no mundo real em
nome das pessoas colectivas, mas agem como titulares dos órgãos destas, pois os
órgãos são instituições, são centros institucionalizados de poderes funcionais, são
feixes de competências. O órgão é o centro de poderes funcionais, o titular é o
indivíduo que exerce esses poderes funcionais em nome da pessoa colectiva,
portanto, o órgão é uma instituição e o titular do órgão é um indivíduo.
A segunda, defendida por Afonso Queiró e Marques Guedes, considera que os
órgãos são indivíduos, e não instituições. O órgão não é o centro de poderes e
deveres. O conjunto de poderes funcionais chama-se competência, não se chama
órgão, é a competência do órgão. Os indivíduos é que são os órgãos, os conjuntos de
poderes funcionais não são órgãos, são competências.
Na opinião do Professor DFA, ambas as correntes de opinião têm razão, mas só
em parte. Se nos colocarmos na perspectiva da organização administrativa é evidente
que os órgãos têm de ser concebidos como instituições – é óbvio que aquilo que
interessa ao nosso estudo não são os indivíduos que exercem essas funções, são as
funções em si mesmas, o indivíduo é irrelevante.
Mas se mudarmos de posição e nos colocarmos na perspectiva da actividade
administrativa (a Administração a actuar, a tomar decisões, a praticar actos
administrativos, etc.) então veremos que o que interessa é o órgão como indivíduo:
quem decide, quem delibera são os indivíduos, não são os centros institucionalizados
de poderes funcionais. Aqui o órgão da administração é o indivíduo e não a instituição.
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2. Atribuições e Competência
As pessoas colectivas existem para prosseguir determinados fins. Os fins das
pessoas colectivas públicas chamam-se atribuições (fins ou interesses que a lei
incumbe as pessoas colectivas públicas de prosseguir). Para o fazerem, precisam de
poderes, são os chamados poderes funcionais. Ao conjunto de poderes funcionais
chamamos competência.
A competência é, assim, o conjunto de poderes funcionais que a lei confere para a
prossecução das atribuições das pessoas colectivas públicas.
Em princípio, e na maior parte dos casos, nas pessoas colectivas públicas, as
atribuições referem-se à pessoa colectiva em si mesma, enquanto a competência se
reporta aos órgãos. A lei especificará, portanto, as atribuições de cada pessoa
colectiva e, noutro plano, a competência de cada órgão. Assim, qualquer órgão da
Administração, ao agir, tem pela frente duas limitações: por um lado está limitado pela
sua própria competência e, por outro lado, está também limitado pelas atribuições da
pessoa colectiva em cujo nome actua. Atribuições e competências limitam-se, assim,
reciprocamente umas às outras.
Esta distinção, ente atribuições e competências tem uma grande importância, não
só para se compreender a diferença que existe entre os fins que se prosseguem e os
meios jurídicos que se usam para prosseguir esses fins, mas também porque a lei
estabelece uma sanção diferente para o caso de os órgãos da Administração
praticarem actos estranhos às atribuições das pessoas colectivas públicas (nulidade)
ou actos fora da competência confiada a cada órgão (anulabilidade).
Cumpre frisar que no Estado, o que separa juridicamente os órgãos uns dos outros
não é apenas a competência de cada um, são também, e sobretudo, as atribuições.
Enquanto no município, por exemplo, os órgãos têm competências diferentes mas
prosseguem todos as mesmas atribuições (as do município), no Estado as atribuições
estão repartidas por ministérios. Isto significa, em termos práticos, que se o Ministro A
praticar um acto sobre matéria estranha ao seu ministério, porque incluída no
ministério B, a ilegalidade do seu acto não será apenas a incompetência por falta de
competência, mas a incompetência por falta de atribuições – o acto será nulo (art.
133º/2 b) CPA).
3. Da competência em especial
O primeiro princípio que cumpre sublinhar é o de que a competência só pode ser
conferida, delimitada ou retirada pela lei: é sempre a lei (ou o regulamento) que fixa a
competência dos órgãos da Administração Pública – princípio da legalidade da
competência (art. 29º/1 CPA). Deste princípio se retiram algumas ideias: a
competência não se presume, é imodificável, irrenunciável e inalienável.
A distribuição de competências pelos vários órgãos de uma pessoa colectiva
pública pode ser feita em função de quatro critérios: em razão da matéria (quando a lei
diz, por exemplo, que à Assembleia Municipal incumbe fazer regulamentos e ao
Presidente da Câmara celebrar contratos), em razão da hierarquia (aqui a lei efectua
uma repartição vertical de poderes), em razão do território (repartição do poder entre
órgãos centrais ou locais) ou em razão do tempo (em princípio só há competência
administrativa em relação ao presente).
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1. Regime Jurídico
Os princípios fundamentais do regime jurídico dos serviços públicos são os
seguintes:
a. O serviço público releva sempre de uma pessoa colectiva pública
b. O serviço público está vinculado à prossecução do interesse público
c. A criação e extinção de serviços públicos, bem como a sua fusão e
reestruturação, são aprovadas por decreto-regulamentar
d. A organização interna dos serviços públicos é matéria regulamentar
e. O regime de organização e funcionamento de qualquer serviço público é
modificável
f. A continuidade dos serviços públicos deve ser mantida
g. Os serviços públicos devem tratar e servir todos os particulares em pé de
igualdade
h. A utilização dos serviços públicos pelos particulares é em princípio onerosa
i. Os serviços públicos podem gozar de exclusivo ou actuar em concorrência
j. Os serviços públicos podem actuar de acordo quer com o direito público
quer com o direito privado
k. A lei admite vários modos de gestão dos serviços públicos
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2. Organização
Os serviços públicos podem ser organizados segundo três critérios: organização
horizontal (organização em razão da matéria ou fim), territorial (organização em razão
do território) e vertical (organização em razão da hierarquia).
A primeira atende, por um lado, à distribuição dos serviços pelas pessoas
colectivas públicas e, dentro estas, à especialização dos serviços segundo o tipo de
actividades a desempenhar.
A segunda remete-nos para distinção entre serviços centrais e serviços periféricos,
consoante os mesmos tenham um âmbito de actuação nacional ou meramente
localizado em áreas menores.
A terceira modalidade traduz-se na estruturação dos serviços em razão da sua
distribuição por diversos graus ou escalões do topo à base, que se relacionam entre si
em termos de supremacia e subordinação.
3. Hierarquia
Esta terceira modalidade dá origem à hierarquia, colocando-se, aqui, a questão de
que o devemos entender por hierarquia. O Professor DFA dá-nos a seguinte definição:
é o modelo de organização administrativa vertical, constituído por dois ou mais órgãos
e agentes com atribuições comuns, ligados por um vínculo jurídico que confere ao
superior o poder de direcção e impõe ao subalterno o dever de obediência.
Entre nós, e nos países do mesmo tipo de civilização e cultura, a maioria dos
serviços obedece ao modelo vertical hierárquico herdado do Império Romano e da
Igreja Católica.
O modelo hierárquico caracteriza-se pelos seguintes traços específicos: existência
de um vínculo entre dois ou mais órgãos e agentes administrativos, comunidade de
atribuições entre os elementos da hierarquia e vínculo jurídico constituído pelo poder
de direcção e pelo dever de obediência.
Quanto a este último traço, é importante realçar que a vontade do superior tem, em
regra, mais força jurídica do que a do subalterno, mas não dispõe desta, nem a
substitui: o subalterno é que decide, livremente, se obedece ou não às ordens do
superior, ainda que a desobediência lhe possa acarretar sanções e dissabores de
vária ordem. A prova de que o subalterno não é um autómato cego e mecanicamente
obediente está na competência que a lei lhe confere para “examinar a legalidade de
todos os comandos hierárquicos” e para, em certos casos – actos criminosos, por
exemplo – rejeitar a obediência, recusando o cumprimento de determinadas ordens
superiores.
A principal distinção de modalidades de hierarquia é a que distingue entre
hierarquia interna e hierarquia externa.
A primeira é um modelo vertical de organização interna dos serviços públicos que
assenta na diferenciação entre superiores e subalternos. Deparamo-nos com vínculos
de superioridade e subordinação entre agentes administrativos. Não é relacional, é
orgânica. O exercício do comando não é atribuído unicamente ao chefe supremo do
serviço, mas repartido pelos principais subalternos, que ficam, assim, investidos na
posição de subalternos superiores: é uma hierarquia de chefias. O comando/chefia
exercem-se por meio de actos puramente internos, tais como ordens escritas ou
verbais ou instruções.
A segunda não surge no âmbito do serviço público, mas no quadro da pessoa
colectiva pública. É uma hierarquia externa, uma hierarquia de órgãos – os vínculos de
superioridade e subordinação estabelecem-se entre órgãos da Administração. Os
subalternos, aqui, não se limitam a desempenhar actividades, praticam actos
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SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO
ADMINISTRATIVA
Quanto aos sistemas de organização, analisaremos três grandes opções que se
apresentam ao legislador e aos políticos: a opção entre concentração e
desconcentração; a opção entre centralização e descentralização; e a opção entre
integração e devolução de poderes.
I. Concentração e Desconcentração
Cumpre, antes de mais, referir que tanto o sistema da concentração como o
sistema da desconcentração dizem respeito à organização administrativa de uma
determinada pessoa colectiva pública. Mas o problema da maior ou menor
concentração ou desconcentração existente não tem nada a ver com as relações entre
o Estado e as demais pessoas colectivas (como sucede com a
centralização/descentralização): é uma questão que se põe apenas dentro do Estado,
ou apenas dentro de qualquer outra entidade pública.
Importa ter presente que a concentração ou desconcentração têm como pano de
fundo a organização vertical dos serviços públicos. A concentração de competência ou
a administração concentrada é o sistema em que o superior hierárquico mais elevado
é o único órgão competente para tomar decisões, ficando os subalternos limitados às
tarefas de preparação e execução das decisões daquele. Por seu turno, a
desconcentração ou a administração desconcentrada é o sistema em que o poder
decisório se reparte entre o superior e um ou vários órgãos subalternos, os quais,
todavia, permanecem sujeitos à direcção e supervisão daquele.
Em rigor, não existem sistemas integralmente concentrados nem sistemas
absolutamente desconcentrados. O que normalmente sucede é que os sistemas se
nos apresentam mais ou menos concentrados ou mais ou menos desconcentrados.
A CRP consagra no art. 267º/2 o princípio da desconcentração administrativa, esta
é a tendência moderna.
Quais as vantagens da desconcentração? Aumenta a eficiência dos serviços
públicos que se pode traduzir na maior rapidez de resposta às solicitações dirigidas à
Administração; ou pode revelar-se na melhor qualidade do serviço, já que a
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1. A delegação de poderes
Por vezes sucede que a lei, atribuindo a um órgão a competência normal para a
prática de determinados actos, permite no entanto que esse órgão delegue noutro uma
parte dessa competência.
A delegação de poderes (ou de competência) é o acto pelo qual um órgão da
Administração normalmente competente para decidir em determinada matéria. Esta
tem três requisitos.
Primeiro é necessária uma lei que preveja expressamente a faculdade de um
órgão delegar poderes noutro, é a chamada lei de habilitação. Porque a competência é
irrenunciável e inalienável, só pode haver delegação de poderes com base na lei – art.
111º/2 CRP e art. 29º CPA.
Em segundo lugar é necessária a existência de dois órgãos, o de um órgão e de
um agente, da mesma pessoa colectiva pública ou de dois órgãos de pessoas
colectivas públicas distintas, dos quais um seja o órgão normalmente competente (o
delegante) e o outro, o órgão eventualmente competente (o delegado).
Por último, é necessária a prática do acto de delegação propriamente dito, isto é, o
acto pelo qual o delegante concretiza a delegação dos seus poderes no delegado,
permitindo-lhe a prática de certos actos na matéria sobre a qual é normalmente
competente.
Existem diversas figuras afins da delegação de poderes:
a. A transferência legal de competências
É uma forma de desconcentração originária, que se produz ope legis. É
definitiva, enquanto que a delegação é precária.
b. Concessão
Difere da delegação de poderes na medida em que tem por destinatário, em
regra, uma entidade privada, ao passo que a delegação de poderes é dada a um
órgão ou agente da Administração, além disso, destina-se a entregar a empresas o
exercício de uma actividade económica lucrativa, que será gerida por conta e risco
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existe a subdelegação de poderes, que pode ser uma delegação de 2º, 3º, 4º, etc.
grau.
No que ao regime jurídico da delegação respeita há muito para dizer., vejamos as
linhas gerais:
a. Requisitos do acto de delegação
– Quanto ao conteúdo
Art. 37º/1 CPA. É através desta especificação dos poderes delegados
que se fica a saber se a delegação é ampla ou restrita, e genérica ou
específica. A indicação do conteúdo da competência delegada deve ser
feita positivamente
– Quanto à publicação
Art. 37º/2 CPA. Sujeitos a publicação no Diário da República ou,
tratando-se de administração local, no boletim da autarquia
– Falta de algum dos requisitos exigidos por lei
Os requisitos quanto ao conteúdo são requisitos de validade, pelo que a
falta de qualquer um destes torna o acto inválido; os requisitos quando à
publicação são requisitos de eficácia, pelo que a falta desta torna o acto
ineficaz.
b. Poderes do delegante
Uma vez conferida delegação de poderes pelo delegante ao delegado, este
adquire a possibilidade de exercer esses poderes para a prossecução do interesse
público, mas em que situação fica, a partir do acto de delegação, o delegante?
Sustentam alguns autores (M. Caetano e A. Gonçalves Pereira) que a partir do
acto de delegação o delegante não perde nem os seus poderes nem a
possibilidade de os exercer: delegante e delegado ficarão investidos de
competência simultânea sobre as matérias que foram objecto da delegação, o
primeiro que o fizer impedirá o exercício da mesma competência por parte do outro
(preclusão da competência).
O Professor DFA não concorda com esta posição. O que o delegante tem é a
faculdade de avocação de casos concretos compreendidos no âmbito da
delegação conferida (art. 39º/2 CPA): se avocar, e apenas quando o fizer, o
delegado deixa de poder resolver esses casos, que passam de novo para a
competência do delegante. Mas em cada momento há apenas um órgão
competente. Além do poder de avocação, o delegante tem ainda o poder de dar
ordens, directivas ou instruções ao delegado, sobre o modo como deverão ser
exercidos os poderes delegados (art. 39º/1 CPA). O delegante pode, também,
revogar qualquer acto praticado pelo delegado ao abrigo da delegação (art. 39º/2
CPA).
c. Requisitos dos actos praticados por delegação
Sob pena de ilegalidade, os actos administrativos praticados pelo delegado ao
abrigo da delegação devem obediência estrita aos requisitos de validade fixados
na lei. Para além disso, a sua legalidade depende da existência, validade e
eficácia do acto de delegação. Os actos praticados pelo delegado devem,
naturalmente, obedecer aos requisitos genéricos exigidos por lei para os actos
administrativos, bem como aos requisitos específicos do tipo legal de acto a
praticar em cada caso. Mas há, por serem actos praticados por delegação, mais
um requisito especial: devem conter a menção expressa de que são praticados por
delegação, identificando-se o órgão delegante (art. 38º CPA).
d. Natureza dos actos do delegado
– Os actos do delegado serão definitivos?
Para o Professor DFA os actos do delegado são definitivos e executórios
nos mesmos termos em que o seriam se tivessem sido praticado pelo
delegante.
– Caberá recurso hierárquico dos actos do delegado para o delegante?
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1. A Tutela Administrativa
Consiste no conjunto de poderes de intervenção de uma pessoa colectiva pública
na gestão de outra pessoa colectiva, a fim de assegurar a legalidade ou o mérito da
actuação.
A tutela administrativa pressupõe, assim, a existência de duas pessoas colectivas
distintas (a tutelar e a tutelada); dessas duas uma é necessariamente uma pessoa
colectiva pública; os poderes de tutela administrativa são poderes de intervenção na
gestão de uma pessoa colectiva; e o fim da tutela administrativa é assegurar, em
nome da entidade tutelar, que a entidade tutelada cumpra as leis em vigor e garantir
que sejam adoptadas soluções convenientes e oportunas para a prossecução do
interesse público.
A tutela não se deve confundir com hierarquia (esta é um modelo de organização
situado no interior de cada pessoa colectiva pública), com controlo jurisdicional (a
tutela administrativa é exercida por órgãos da Administração e não por tribunais) nem
com controlos internos da Administração (falta o requisito da existência de duas
pessoas colectivas).
Há que distinguir as principais espécies de tutela administrativa, quanto ao fim e
quanto ao conteúdo. Quanto ao fim a tutela administrativa desdobra-se em tutela de
legalidade (visa controlar a legalidade das decisões da entidade tutelada) e tutela de
mérito (visa controlar o mérito das decisões administrativas da entidade tutelada –
independentemente de ser legal ou não, se é uma decisão conveniente, oportuna,
correcta, do ponto de vista administrativo, técnico, financeiro, etc.).
Quanto ao conteúdo, há cinco modalidades de tutela administrativa: integrativa,
inspectiva, sancionatória, revogatória e substitutiva.
A primeira é aquela que consiste no poder de autorizar ou aprovar os actos da
entidade tutelar. Distingue-se a tutela integrativa a priori, que é aquela que consiste
em autorizar a prática de actos, da tutela integrativa a posteriori, que é a que consiste
no poder de aprovar actos de entidade tutelada. Tanto uma como outra pode ser
expressa ou tácita, total ou parcial, condicional ou a termo – o que nunca podem é
modificar o acto.
A segunda consiste no poder de fiscalização dos órgãos, serviços, documentos e
contas da entidade tutelada, ou seja, no poder de fiscalização da organização e
funcionamento da entidade tutelada. Por vezes existem, na Administração Pública,
serviços especialmente encarregados desta função, os serviços inspectivos.
A terceira consiste no poder de aplicar sanções por irregularidades que tenham
sido detectadas na entidade tutelada.
A quarta é o poder de revogar os actos administrativos praticados pela entidade
tutelada. Só excepcionalmente existe.
A quinta, e última, é o poder da entidade tutelar de suprir as omissões da entidade
tutelada, praticando, em vez dela e por conta dela, os actos que forem legalmente
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Fim do I Volume
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O PODER ADMINISTRATIVO
I. O Poder Administrativo
1. Separação de Poderes
A expressão separação de poderes tanto designa uma doutrina política como um
princípio constitucional.
Corresponde à doutrina política, que teve por objecto a estruturação do poder
político do Estado e que foi desenvolvida por Locke e Montesquieu, uma dupla
distinção: distinção intelectual das funções do Estado e distinção política dos órgãos
que devem desempenhar tais funções.
A separação dos poderes, como princípio constitucional, é uma característica da
forma de governo democrático-representativa e pluralista ocidental, tendo obtido a sua
primeira consagração na Constituição dos EUA de 1787.
Este princípio não foi, no entanto, consagrado em todas as Constituições dos
séculos XVIII e XIX da mesma maneira ou com a mesma rigidez. Ele encontrou uma
tradução no Direito Constitucional e outra no Direito Administrativo.
No plano Constitucional visou retirar ao Rei e aos seus Ministros a função de
legislar, deixando-lhes apenas a função política e administrativa, evitando o arbítrio e o
despotismo da autoridade.
No campo Administrativo visou a separação entre a Administração e a Justiça, isto
é, retirar à Administração Pública a função judicial e retirar aos Tribunais a função
administrativa. Isto resultou da desconfiança do poder revolucionário (reportando à
Revolução Francesa) face aos tribunais judiciais, que representavam ainda a
continuação do “Antigo Regime”, pois estavam nas mãos da nobreza.
Sendo certo que a CRP acolhe o princípio da separação de poderes (art.2º e
111º), apresentam-se os seguintes corolários actuais deste princípio (na parte que tem
a ver com o campo Administrativo):
a. A separação dos órgãos administrativos e judiciais
Têm que existir órgãos administrativos dedicados ao exercício da função
administrativa e órgãos judiciais dedicados ao exercício da função jurisdicional. A
separação de funções tem de traduzir-se numa separação de órgãos.
b. A incompatibilidade das magistraturas
Nenhuma pessoa pode simultaneamente desempenhar funções em órgãos
administrativos e judiciais.
c. A independência recíproca da Administração e da Justiça
Desdobra-se, em dois aspectos:
– A independência da Justiça perante a Administração
A autoridade administrativa não pode dar ordens à autoridade judiciária,
nem pode invadir a sua esfera de jurisdição decidindo questões da
competência dos tribunais.
– A independência da Administração perante a Justiça
Há uma proibição funcional de o juiz afectar a essência de administração
executiva – não podendo ofender a autonomia do poder administrativo nem a
autoridade característica do acto administrativo. Os tribunais comuns não são
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2. O Poder Administrativo
A Administração Pública é um poder público, mas que poder? Não será totalmente
correcto denominá-la de poder executivo, pois ela não se resume ao Estado – existem
outras administrações públicas para além da estadual: as autarquias locais, as regiões
autónomas, as associações públicas. Assim, é preferível utilizar a expressão poder
administrativo, que compreende, de um lado o poder executivo do Estado, e do outro
as entidade públicas administrativas não estaduais.
Quais são as manifestações do poder administrativo? Elas são, basicamente,
quatro:
a. Poder regulamentar
Num sistema de tipo francês, como é o nosso, a administração tem o poder de
fazer regulamentos (art. 199º c); 227º/1 d) CRP) – é a faculdade regulamentaria.
Estes regulamentos que a Administração tem o direito de elaborar são
considerados como uma fonte de direito apesar de colocado abaixo da lei, do
ponto de vista da hierarquia das fontes de direito.
b. Poder de decisão unilateral
Enquanto no regulamento a Administração pública nos aparece a fazer normas
gerais e abstractas, embora inferiores à lei, aqui aparece-nos a decidir casos
individuais e concretos. Ela tem o poder de definir unilateralmente o direito
aplicável a um caso concreto e pode exercê-lo por exclusiva autoridade sua, sem
necessidade de obter o acordo do interessado – tem a possibilidade de traçar,
para além da sua conduta, conduta alheia. Esta definição unilateral é obrigatória
para os particulares, por isso a Administração é um poder.
A lei pode exigir, e regra geral exige, que os interessados sejam ouvidos antes
da tomada de decisão (art. 100º e segs. CPA); pode, também, facultar, e na
realidade faculta (art. 158º e segs. CPA), aos particulares a possibilidade de
apresentarem reclamações ou recursos hierárquicos contra as decisões da
Administração, apesar de estas só virem depois de já estar tomada a decisão; por
último, a lei permite que os interessados impugnem as decisões unilaterais da
Administração perante os tribunais administrativos, a fim de obterem a sua
anulação ou declaração de nulidade no caso de as mesmas serem ilegais e
lesarem posições jurídicas subjectivas, este recurso contencioso só é, igualmente,
permitido após a decisão já ter sido unilateralmente tomada pela Administração.
Esta é uma das mais importantes manifestações do poder administrativo, é o
poder de decisão unilateral, a que alguns autores chamam auto-tutela declarativa.
c. Privilégio da execução prévia
É a faculdade de impor coactivamente aos particulares as decisões unilaterais
constitutivas de deveres ou encargos que tiver tomado e que não sejam por
aqueles voluntariamente cumpridas (149º/1 CPA). É o poder administrativo na sua
máxima força – plenitudo potestatis. Ela não só define unilateralmente o direito,
como também, salvo nalgumas matérias, tem o poder de promover por si própria a
execução forçada desse direito, se o particular não se conformar voluntariamente
com a definição feita. São dois privilégios da administração.
d. Regime especial dos contratos administrativos
Actualmente é cada vez mais frequente a lei considerar que, em certas
matérias, não é possível ou conveniente que a Administração actue por via
unilateral e autoritária. Há certos comportamentos que só se conseguem através
do acordo dos interessados.
No entanto, entendeu-se que não covinha que a Administração se servisse da
figura do contrato civil ou comercial, criando-se a figura do contrato administrativo
(art. 178º/1 CPA).
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Este é assim um regime diferente do regime do direito privado para mais e para
menos. Para mais porque a Administração, para poder garantir a satisfação do
interesse público, fica a dispor de prerrogativas ou privilégios de que as partes nos
contratos civis não dispõem (poder de modificação unilateral, de rescindir o
contrato, entre outras). Para menos porque a Administração Pública fica sujeita a
restrições e a deveres especiais, que não existem nos contratos civis (dever de
fazer preceder a celebração do contrato de um procedimento administrativo
tendente à escolha do co-contratante).
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2. Princípio da legalidade
O interesse público é o “norte” da Administração, o seu guia, o seu fim. Mas a
Administração não pode prosseguir o interesse público de qualquer maneira e, muito
menos, de maneira arbitrária, tem de fazê-lo com observância de um certo número de
princípios e de regras. A Administração pública tem de prosseguir o interesse público
em obediência à lei (art. 266º/2 CRP).
Assim, podemos dizer que o princípio da legalidade se resume da seguinte forma:
os órgãos e agentes da Administração pública só podem agir com fundamento na lei e
dentro dos limites por ela impostos. Não é o princípio da liberdade, é o princípio da
competência, segundo o primeiro pode-se fazer tudo aquilo a que a lei não proíba;
pelo segundo pode fazer-se apenas aquilo a que a lei permite – segundo Orlando de
Carvalho, a actividade administrativa “jamais é produto de uma faculdade permissiva,
de um licere, de um Dürfen; mas sempre de uma faculdade concedente, de um posse,
de um Können.”
Pode-se resumir brevemente a evolução histórica deste conceito. Numa primeira
fase (época da monarquia absoluta), estávamos presente o Estado de polícia: o Poder
é absoluto, não está limitado pela lei, nem pelos direitos subjectivos dos particulares, e
traduz, portanto, uma situação de arbítrio.
Com a Revolução Francesa entramos na segunda fase, a fase do Estado de
Direito liberal (séc. XIX). Nesta fase estabelece-se o princípio de subordinação à lei: a
Administração fica submetida à lei, que é um limite à acção administrativa (formulação
negativa).
Com o evoluir dos tempos, aparecem, na Europa, três regimes diferentes: os
regimes autoritários de direita, os regimes comunistas e as democracias modernas de
tipo pluralista e ocidental.
Nos regimes autoritários de direita substitui-se a noção de Estado de Direito pela
noção de Estado de legalidade – a Administração deve obedecer à lei, mas a lei deixa
de ser a expressão da vontade geral votada no Parlamento representativo da Nação,
para passar a ser toda e qualquer norma geral e abstracta decretada pelo Poder,
inclusive o Poder Executivo. É a subordinação da Administração pública ao Governo.
Quanto aos regimes comunistas, estes entendiam que o objectivo da construção
do socialismo é que devia comandar a interpretação e aplicação das leis; as leis
deviam ser interpretadas e aplicadas de acordo com as directivas e instruções
formuladas pelo partido – noção de legalidade socialista.
No que aos regimes democráticos de tipo ocidental diz respeito, nestes vigora o
Estado social de Direito. O princípio da legalidade é próximo daquele concebido a
seguir à Revolução Francesa nos regimes liberais, mas sofre algumas transformações.
A primeira é a que a ideia de subordinação à lei é completada pela ideia de
subordinação ao Direito, no sentido de que não existe apenas um dever de obediência
à lei ordinária, mas a todo um bloco de legalidade (bloc legal de que nos falava
Maurice Hauriou) constituído pela Constituição, pelo Direito Internacional recebido,
pelos princípios gerais de Direito, pelos regulamentos e actos constitutivos de direitos
que a Administração pública tenha praticado. É o princípio da juridicidade. A legalidade
aparece-nos aqui não apenas como um limite da administração, mas como uma
legitimação.
De tudo isto resulta que, na actualidade do nosso direito, são duas as funções do
princípio da legalidade: assegurar o primado do poder legislativo sobre o poder
administrativo e o de garantir os direitos e interesses legalmente protegidos dos
particulares.
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anormais aos particulares; artigos 100º e seguintes do CPA; artigo 124º do CPA;
artigos 272º/3, 21º e 22º da CRP; entre outras.
Importa agora perceber qual a diferença, em Direito Administrativo, entre direito
subjectivo e interesse legalmente protegido.
(1) Na esteira da concepção tradicional, tem-se sustentado que nas duas figuras
existe um interesse privado reconhecido e protegido por lei. Porém no direito
subjectivo essa protecção é directa e imediata, de tal modo que o particular tem a
faculdade de exigir à Administração um ou mais comportamentos que satisfaçam
plenamente o seu interesse privado. Existe um direito à satisfação de um interesse
próprio. No interesse legítimo, porque a protecção legal, sendo, embora, imediata é,
no entanto, indirecta, o interesse é um interesse público, e o particular não pode exigir
à Administração que o satisfaça, mas apenas que não o prejudique ilegalmente. Existe
um direito à legalidade das decisões que versem sobre um interesse próprio.
Exemplo do primeiro: a lei diz que ao fim de cinco anos de serviço o funcionário
tem direito a uma diuturnidade, o que significa que o funcionário pode legalmente
exigir o pagamento dessa diuturnidade, e que o Estado tem obrigação jurídica de fazer
o respectivo pagamento.
Exemplo do segundo: a lei estabelece que, para preencher um lugar de professor
catedrático é necessário um concurso público, ao qual podem concorrer todos aqueles
que reúnam determinadas condições legais. Suponhamos que uma das pessoas não
se encontra nessas condições, mas que ganha o concurso. Qualquer dos outros dois
candidatos fica prejudicado ilegalmente, eles podem recorrer da decisão, da qual têm
o direito de obter a anulação, mas isso não significa que algum deles tenha direito ao
cargo.
(2) Existem algumas adaptações a esta tese. Vieira de Andrade alega que as
recentes transformações operadas no âmbito da actividade administrativa (que se
alargou e densificou), e no entendimento do princípio da legalidade (transformado em
princípio da juridicidade), mostram-nos existirem posições jurídicas subjectivas que se
devem qualificar como direitos (e não como interesses legítimos ou indirectamente
protegidos), apesar de não terem uma tutela plena em face da Administração (direitos
condicionados – direito de propriedade face à expropriação) ou de não serem
imediatamente accionáveis por o seu conteúdo depender de densificação ou de
concretização administrativa (direitos comprimidos – liberdade de circulação
automóvel dependente da obtenção da carta de condução)
Tal como sucede na figura dos interesses legítimos, divisam-se hoje cada vez mais
também exemplos de direitos subjectivos cujos titulares não beneficiam de uma tutela
plena em face da Administração, e direitos subjectivos cujo conteúdo não está a priori
determinado.
(3) Por outro lado, deve ter-se presente que, ao lado dos direitos subjectivos e dos
interesses legítimos, existem outros tipos de situações jurídico-públicas (de vantagem)
dos particulares em face da Administração, a que globalmente se poderá chamar de
interesses simples.
Finalmente, quanto a esta questão, podemo-nos perguntar qual o alcance prático
desta distinção. Na verdade, não há grande diferença de regime jurídico entre as duas
figuras. Em relação aos direitos subjectivos “clássicos” verifica-se ainda que os
respectivos titulares beneficiam de uma tutela plena em face da Administração
enquanto que os particulares apenas podem esperar daquela, em relação aos
interesses legítimos, que ao prosseguir determinado interesse público não os
prejudique ilegalmente.
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6. Princípio da igualdade
Constitui um dos elementos estruturantes do constitucionalismo moderno. Ele
surgiu expressamente consagrado no Virgínia Bill of Rights, de 1776 e na Constituição
de Massachussets, de 1780. Da mesma forma surge, em França, a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. Na nossa actual CRP temo-lo no art.
13º/1.
O princípio da igualdade começou por ser entendido e interpretado, no século
passado, numa perspectiva exclusivamente formal: a igualdade cumpria-se numa igual
aplicação da lei a todos os cidadãos. Ele traduzia-se numa pura exigência da
generalidade da lei, confundindo-se com o princípio de prevalência da lei.
Hoje, porém, igualdade e generalidade não são sinónimos, não constituindo o
princípio da igualdade uma simples “refracção do princípio da legalidade”, envolve,
ainda, uma ideia de igualdade na própria lei, ou através da lei.
Não surpreende, pois, também, a sua inclusão no art. 266º/da da CRP ou no art.
5º/1 do CPA.
A igualdade impõe que se trate de modo igual o que é juridicamente igual e de
modo diferente o que é juridicamente diferente, na medida da diferença. Assim, o
princípio da igualdade projecta-se em duas direcções:
– Proibição da discriminação
Perante uma medida devemos, primeiro, observar, através da interpretação, o
fim visado por tal medida administrativa; depois, isolam-se as categorias que, para
realizar o fim, são objecto de tratamento idêntico ou diferenciado; finalmente,
questiona-se, para a realização do fim tido em vista, se é ou não razoável, à luz
dos valores dominantes do ordenamento, proceder àquela identidade ou distinção
de tratamento.
– Obrigação de diferenciação
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7. Princípio da proporcionalidade
Constitui uma manifestação constitutiva do princípio do Estado de Direito – num
Estado de Direito democrático, as medidas dos poderes públicos não devem exceder
o estritamente necessário para a realização do interesse público.
A proporcionalidade é o princípio segundo o qual a limitação de bens ou interesses
privados por actos dos poderes públicos deve ser adequada e necessária aos fins
concretos que tais actos prosseguem, bem como tolerável quando confrontada com
aqueles fins.
Esta definição evidencia três dimensões essenciais deste princípio
– Adequação
Significa que a medida tomada deve ser causalmente ajustada ao fim que se
propõe a atingir. Procura-se, deste modo, verificar a existência de uma relação
entre duas variáveis: o meio, instrumento, medida ou solução de um lado, o
objectivo ou finalidade, do outro.
– Necessidade
Significa que, para além de idónea para o fim a que se propõe alcançar, a
medida administrativa deve ser a que lese em menor medida os direitos e
interesses dos particulares.
– Equilíbrio
Exige que os benefícios que se esperam alcançar com uma medida
administrativa adequada e necessária suplantem os custos que ela por certo
acarretará.
8. Princípio da boa fé
Originário da dogmática e do direito privados, o princípio da boa-fé exprime, hoje,
um vector geral de todo o ordenamento jurídico. Vemo-lo consagrado no art. 6º-A do
CPA. Ou seja, hoje, também a Administração Pública está obrigada a obedecer à
bona fide nas relações com os particulares. Mais: ela deve mesmo dar, também aí, o
exemplo aos particulares. Sem isso nunca se poderá afirmar que o Estado é pessoa
de bem.
Este princípio, embora dotado de elevado grau de abstracção, encontra a sua
concretização através de dois princípios básicos: o princípio da tutela da confiança
legítima e o princípio da materialidade subjacente.
A ideia de protecção da confiança está já bastante tempo subjacente a uma série
de institutos do Direito Administrativo. Por exemplo, os limites do art. 140º do CPA à
revogação dos actos administrativos constitutivos de direitos ou interesses legalmente
protegidos e no dever da Administração repor o equilíbrio financeiro em termos de
contrato administrativo (art. 180º a) CPA).
A administração não pode mudar injustificadamente de critério, não pode dar o dito
por não dito, não pode negar o que já havia prometido, etc. A tutela da confiança, no
entanto, tem quatro pressupostos (segundo o Professor Menezes Cordeiro): a
existência de uma situação de confiança; uma justificação para essa confiança; o
investimento de confiança; e a imputação da situação de confiança, implicando a
existência de um autor a quem se deva a entrega confiante do tutelado.
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1. Espécies
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não concorda. Para ele são externos pois não projectam a sua eficácia apenas na
esfera jurídica de uma pessoa colectiva pública mas produzem também efeitos em
relação a pessoas que são sujeitos de direito distintos da pessoa colectiva em
causa. Os alunos, os presos, os doentes, etc. não são elementos da
Administração, mas particulares que usam os seus serviços. Daí que estes
regulamentos possam, por eles, ser impugnados contenciosamente, se forem
ilegais ou inconstitucionais.
O segundo problema é o de saber se são internos ou externos os
regulamentos que a Administração elabora para disciplinar a actuação dos seus
próprios funcionários. O Professor DFA entende que se impõe distinguir se se
tratam de regulamentos aplicáveis aos funcionários na sua qualidade de
funcionários, com o fim de disciplinar apenas a organização ou o funcionamento do
serviço (serão, então, internos); ou se, pelo contrário, se tratam de regulamentos
aplicáveis aos funcionários na sua qualidade de cidadãos, sujeitos a uma relação
jurídica de emprego com a Administração, com o fim de disciplinar essa relação e
os direitos ou os deveres recíprocos que a integram (são, então, externos).
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como norma jurídica, é uma regra geral e abstracta, ao passo que o acto
administrativo, como acto jurídico, é uma decisão individual e concreta.
Na maioria dos casos a distinção entre estes termos é fácil, no entanto há três
casos excepcionais que levam a dificuldades:
a. Comando relativo a um órgão singular
Por exemplo, ao Presidente da República. É norma, não é acto, se dispuser em
função das características da categoria abstracta e não da pessoa concreta titular
do cargo.
b. Comando relativo a um grupo restrito de pessoas, todas determinadas ou
determináveis
Por exemplo, a disposição que promove ao posto imediato todos os actuais
funcionários da Direcção Geral X. É norma, e não acto, desde que disponha por
meio de categorias abstractas tais como promoção, actuais, funcionários, etc. Será
ato se contiver a lista nominativa dos indivíduos abrangidos, identificados.
c. Comando geral dirigido a uma pluralidade indeterminada de pessoas, mas
para ter aplicação imediata numa única situação concreta
Por exemplo, a ordem dada por certa Câmara Municipal aos habitantes de
certa povoação para que hoje, por ter nevado, limpem a sua rua. Grande parte da
doutrina considera haver aqui acto administrativo, mas o Professor DFA pensa que
há norma pois existe a generalidade, o que não há é vigência sucessiva.
5. Competência e forma
Quem são os titulares do poder regulamentar, e a que forma ou formas devem
submeter-se os regulamentos administrativos?
a. Regulamentos do Governo
Art. 199º c) e g) CRP. A regra em relação ao exercício da competência do
Governo é de que ela há-de ser actuada pelo Ministro da pasta respectiva, só
intervindo o Conselho de Ministros quando a lei expressamente o preveja (decorre
do art. 201º/2 a) da CRP).
Qual a forma dos regulamentos do Governo? Há várias possíveis.
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Administração não pode fazer é, no que toca a regulamentos, derrogá-los sem mais
em casos isolados, mantendo-os em vigor para todos os restantes casos – princípio da
inderrogabilidade singular dos regulamentos. Por força deste princípio o regulamento
que derroga outro para um caso concreto e individual não é um regulamento: é um
acto administrativo ilegal por violação de regulamento.
Por força do princípio da legalidade, a Administração não pode, pois, contraditar,
em casos singulares, isto sem justificação material válida, o regulamento que ela
própria haja elaborado.
7. Termo
Os regulamentos podem cessar a sua vigência por: caducidade, revogação ou
decisão contenciosa.
Na caducidade o regulamento cessa automaticamente a sua vigência, por
ocorrerem determinados factos que ope legis produzem esse efeito jurídico, são eles:
o caso de regulamentos temporários; se forem transferidas as atribuições da pessoa
colectiva para outra autoridade administrativa, ou se cessar a competência
regulamentar do órgão que fez o regulamento (duas excepções: a competência passa
para um outro órgão da mesma pessoa colectiva ou uma pessoa colectiva é extinta
mas outra sucede-lhe por determinação legal); quando for revogada a lei que se
destinava a executar, sem que esta tenha sido substituída (se o tiver sido o
regulamento subsistirá, até um novo ser elaborado, na parte em que se mostrar
conforme à nova disciplina legislativa).
Quanto à revogação, nesta o regulamento deixa de vigorar quando um acto
voluntário dos poderes públicos impõe a cessação dos efeitos, total ou parcial do
regulamento. Ela pode ser expressa ou tácita, operada por outro regulamento, de grau
hierárquico e forma idênticos, por autoridade hierarquicamente superior ou por
regulamento de forma legal mais solene; ou então pode-se dar uma revogação
expressa ou tácita por lei. O nº2 do art. 119º do CPA pretende combater a prática das
revogações implícitas no domínio da actividade regulamentar da Administração
Pública, é uma prática em homenagem à segurança jurídica, já que a revogação tácita
coloca sempre inúmeras dúvidas quanto à sua extensão.
No que ao termo por decisão contenciosa diz respeito não há muito a dizer,
sempre que um tribunal para tanto competente declare a respectiva ilegalidade,
nulidade ou anule os regulamentos, no todo ou em parte, estes deixam de vigorar
(total ou parcialmente).
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Dentro dos actos primários na sua vertente permissiva podemos dividir, ainda,
entre os actos que conferem ou aplicam vantagens e os actos que eliminam ou
reduzem encargos.
Dentro dos primeiros temos:
a. Autorização
Acto pelo qual um órgão da Administração permite a alguém o exercício de um
direito ou de uma competência preexistente. Alguém é titular de um direito
subjectivo, mas a lei estabelece que esse direito só pode ser exercido mediante
autorização, dada caso a caso pela autoridade administrativa competente – o
titular do direito é o particular, mas o respectivo exercício está condicionado pela
necessidade de obter uma autorização da Administração Pública.
b. Licença
Acto pelo qual um órgão da Administração atribui a alguém o direito de exercer
uma actividade privada que é por lei relativamente proibida. Na licença o particular
não é titular de nenhum direito face à Administração: a actividade que ele se
propõe a desenvolver é até, em princípio, proibida pela lei, mas, em certos casos e
a título excepcional, a Administração pode permitir o exercício de tal actividade
(exemplo: porte de arma de fogo; exploração de um canal privado de televisão)
c. Concessão
Acto pelo qual um órgão da Administração transfere para um entidade privada
o exercício de uma actividade pública, que o concessionário desempenhará por
sua conta e risco, mas no interesse geral. Na licença é concedido ao particular o
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Categoria ainda não referida é a dos actos instrumentais. Estes não envolvem uma
decisão de autoridade, antes são auxiliares relativamente a actos administrativos
decisórios. Que actos se incluem nesta categoria? São eles:
a. Declarações de conhecimento
São os actos auxiliares pelos quais um órgão da Administração exprime
oficialmente o conhecimento que tem de certos factos ou situações. É o caso das
participações, certificados, certidões, atestados, informações, etc. Estes actos
limitam-se a verificar a existência ou a reconhecer a validade de situações que já
existiam e têm, por isso, efeito retroactivo – o reconhecimento vale a partir do
momento em que os direitos ou situações reconhecidas nasceram.
b. Actos opinativos
São actos pelos quais um órgão da Administração emite o seu ponto de vista
acerca de uma questão técnica ou jurídica. Há três modalidades:
– Informações burocráticas
São as opiniões prestadas pelos serviços ao superior hierárquico
competente para decidir.
– Recomendações
São actos pelos quais se emite uma opinião, consubstanciando um apelo a
que o órgão competente decida de certa maneira, mas que não o obrigam a tal.
– Pareceres
São actos opinativos elaborados por peritos especializados em certos
ramos do saber, ou por órgãos colegiais de natureza consultiva. Estes
agrupam-se em duas classificações: por um lado são obrigatórios ou
facultativos, conforme a lei imponha ou não a necessidade de eles serem
emitidos; por outro, são vinculativos ou não vinculativos, conforme a lei
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4. Procedimento Administrativo
A actividade administrativa não se esgota na tomada de decisões, antes de cada
decisão há sempre numerosos actos preparatórios, estudos, averiguações, exames,
vistorias, etc. e, depois de tomada a decisão, há controles, registos, vistos,
publicações, etc.
A tudo isto se chama de procedimento administrativo – sequência juridicamente
ordenada de actos e formalidades tendentes à preparação da prática de um acto da
Administração ou à sua execução.
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Dentro dos procedimentos administrativos decisórios (os que têm por objecto
preparar a prática de um acto da Administração) podemos distinguir entre
procedimentos decisórios de 1º grau e de 2º grau (como reclamações ou recursos
hierárquicos), conforme visem preparar a prática de um acto primário ou de um acto
secundário.
Dentro do procedimento decisório de primeiro grau temos as seguintes fases:
a. Fase inicial
É a fase em que se dá início ao procedimento (artigos 74º a 85º CPA). Inicio
que pode ser desencadeado pela Administração ou por particular (art. 54º CPA).
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Desta fase pode ainda fazer parte a tomada de medidas provisórias (art. 84º/1
CPA). Sempre que a Administração tenha justo receio de que a situação se
degrade antes de se chegar à decisão final, pode no decurso do procedimento,
tomar medidas provisórias, tais como a suspensão preventiva do arguido, por
exemplo.
b. Fase da instrução
Destina-se a averiguar os factos que interessam à decisão final e,
nomeadamente à recolhe das provas que se mostrarem necessárias (artigos 86º a
99º CPA). Trata-se de uma fase dominada pelo princípio do inquisitório (art. 56º
CPA). Pode ser conduzida pelo órgão competente para tomar a decisão final ou
por um instrutor especialmente nomeado para o efeito (art. 86º CPA). Durante a
fase da instrução pode ser ouvido o particular cujo requerimento tenha dado
origem ao procedimento ou contra quem este tenha sido instaurado, é uma
diligência instrutória (não confundir com a audiência prévia).
c. Fase da audiência dos interessados
Artigos 100º a 105º do CPA. Trata-se de uma pequena revolução na nossa
ordem jurídica, pois não havia, na generalidade dos casos, qualquer participação
dos particulares na formação das decisões que lhes dissessem respeito. É a fase
do procedimento administrativo em que é assegurado aos interessados num
procedimento o direito de participarem na formação das decisões que lhes digam
respeito. Há casos em que a lei diz que não há lugar a esta, e outros em que esta
permite ao instrutor dispensá-la (art. 103º CPA).
No caso de esta ser obrigatória por lei e não ocorra constitui-se uma
ilegalidade, traduzindo-se num vício de forma que leva ou à anulabilidade (se o
direito à audiência prévia não for concebido como um direito fundamental) ou à
nulidade (se o tiver sido) – artigos 133º/2 d) e 135º CPA.
d. Fase da preparação da decisão
Esta é a fase em que a Administração pondera adequadamente o quadro
traçado na fase inicial, a prova recolhida na fase de instrução e os argumentos
aduzidos pelos particulares na fase de audiência dos interessados. A
Administração vai preparar-se para decidir: primeiro os funcionários apresentarão
as suas informações burocráticas, depois os órgãos consultivos elaborarão os
pareceres, o procedimento é então levado ao órgão singular competente para
despacho, ou é inscrito na agenda da próxima reunião do órgão colegial
competente para a deliberação.
e. Fase da decisão
Artigos. 106º e seguintes CPA. Se a competência decisória compete a um
órgão singular, as regras específicas a observar são muito poucas, se pertencer a
um órgão colegial serão já numerosas as disposições aplicáveis (artigos 14º e
seguintes CPA).
Além da extinção através de decisão expressa há diversas modalidades de
extinção, como as dos artigos 108º a 113º do CPA.
f. Fase complementar
É aquela em que são praticados certos actos e formalidades posteriores à
decisão do procedimento: registos, arquivamento de documentos, sujeição a
controles internos ou a aprovação tutelar, visto do Tribunal de Contas, publicação
do Diário da República, notificação aos destinatários quando necessária, etc.
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Administração mas, se esta nada disse, o particular não poderá recorrer de nenhuma
decisão.
Há várias maneiras de resolver o problema. A primeira consiste em a lei atribuir ao
silêncio da Administração o significado de acto tácito positivos: perante o silêncio da
Administração, a lei considera que o pedido foi deferido. Aqui o silêncio vale como
manifestação tácita da vontade da Administração num sentido positivo para o
particular. (artigo 108º CPA)
A segunda maneira de resolver o problema consiste em a lei atribuir ao silêncio da
Administração o significado de acto tácito negativo: entende-se que tal pedido foi
indeferido. (artigo 109º CPA)
Qual a vantagem para o particular desta figura do acto tácito negativo? É que
desta forma ele poderá recorrer contenciosamente contra o indeferimento tácito da sua
pretensão. Esta garantia para os particulares foi considerada, nos inícios do século
XX, muito importante. No entanto, hoje, ganhou-se consciência de que este direito não
é muito forte.
Assim, alguns países evoluíram para a aceitação de uma acção contra as
omissões indevidas da Administração, em que esta pode ser condenada pelo tribunal
administrativo a praticar os actos devidos.
Levanta-se, aqui, a questão de saber qual a natureza jurídica do acto tácito. Há
três correntes de opinião: a primeira (Marcello Caetano) diz que o acto tácito é um acto
administrativo; a segunda (André Gonçalves Pereira) diz que o acto tácito é um
simples pressuposto do recurso contencioso; a terceira (DFA) diz que o acto tácito é
uma ficção legal de acto administrativo (não é um verdadeiro acto administrativo, pois
não há uma conduta voluntária, mas tudo se passa como se o acto tácito fosse um
verdadeiro acto administrativo).
Para finalizar a parte do procedimento, podemos, ainda, falar da actuação da
Administração Pública sem respeito das formas legais do procedimento, nos casos de
estado de necessidade (art. 3º/2 CPA) e urgência.
No primeiro caso ocorrem situações nas quais a lei permite à Administração uma
actuação imediata e urgente com vista à salvaguarda de bens essenciais, mesmo que
para isso os agentes administrativos tenham de ignorar o respeito de regras
estabelecidas para circunstâncias normais; é o caso de um incêndio, por exemplo. O
estado de necessidade tem três pressupostos: a urgência, a natureza imperiosa do
interesse público a defender e a excepcionalidade da situação.
Quanto ao segundo caso, a urgência, este caracteriza-se em três ideias: é uma
realidade ordinária, ainda que eventual, da acção da Administração; os procedimentos
administrativos de urgência traduzem formas simplificadas de agir (art. 19º e 103º/1, a)
CPA); e a actuação administrativa urgente está, em qualquer caso, prevista na lei.
5. Validade e Eficácia
A validade é a aptidão intrínseca do acto para produzir os efeitos jurídicos
correspondentes ao tipo legal a que pertence, em consequência da sua conformidade
com a ordem jurídica.
A eficácia é a efectiva produção de efeitos jurídicos, a projecção na realidade da
vida dos efeitos jurídicos que integram o conteúdo de um acto administrativo.
A lei formula, em relação aos actos administrativos em geral, um certo número de
requisitos. Se não se verificarem em cada acto administrativo todos os requisitos de
validade exigidos por lei, o acto será inválido; se não se verificarem todos os requisitos
de eficácia exigidos por lei, o acto será ineficaz.
Um acto administrativo pode ser válido e eficaz, válido mas ineficaz, inválido mas
eficaz ou inválido e ineficaz.
Trataremos, primeiro dos requisitos de validade (artigos 120º a 126º CPA). Estes
são todas as exigências que a lei faz relativamente a cada um dos elementos deste:
a. Sujeito
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Quanto aos requisitos de eficácia (artigos 127º a 132º CPA) do acto administrativo,
a regra geral é a de que o acto administrativo produz efeitos desde a sua prática (art.
127º/1 CPA): é o princípio da imediatividade dos efeitos jurídicos.
Quando se considera, então, o acto praticado (art. 127º/2 CPA)? Logo que se
encontrem reunidos os seus elementos essenciais, ou seja, aqueles elementos cuja
falta determina a nulidade do acto administrativo (art. 133º CPA).
No entanto, à regra geral da imediatividade dos efeitos jurídicos, abre a lei duas
excepções: o acto administrativo pode produzir efeitos retroactivos (produz efeitos a
partir de um momento anterior ao da sua prática – art. 128º CPA) ou efeitos com
eficácia diferida (produz efeitos apenas em momento posterior ao da sua prática - art.
129º CPA). Estas duas categorias podem, igualmente coexistir em actos que, quando
(ou se) se tornarem eficazes, vinculam (também para o futuro).
6. Interpretação e Integração
A interpretação do acto administrativo é a operação jurídica que se traduz na
determinação do sentido e do alcance juridicamente relevante de um acto
administrativo. Os seus elementos são: o texto da decisão (incluindo os fundamentos),
os elementos cosntantes do procedimento, o comportamento posterior da
Administração ou do particular, o tipo legal de actos, as leis aplicáveis, o interesse
público a prosseguir, as praxes administrativas e os princípios gerais do Direito
Administrativo. Na interpretação devem ter-se em conta duas presunções: a de que o
órgão não quis afastar-se do tipo legal do acto que praticou e a do art. 124º/1 d) do
CPA. A interpretação cabe aos tribunais administrativos e à própria Administração
(actos interpretativos ou aclarações).
Os princípios da interpretação aplicam-se, com as devidas alterações, aos da
integração de lacunas do acto administrativo. Há que, sobretudo, recorrer à lei para
preencher as lacunas dos actos vinculados e, nos actos discricionários, à vontade
hipotética do autor do acto.
7. Invalidade
A invalidade é o valor jurídico negativo que afecta o acto administrativo em virtude
da sua inaptidão intrínseca para produzir efeitos jurídicos. A ilegalidade foi, durante
muito tempo, considerada como a única fonte de invalidade. Hoje, porém, o Professor
DFA entende que há outras formas de invalidade, para além da ilegalidade.
Começando pela ilegalidade, quando se diz que um acto administrativo é contrário
à lei, utiliza-se a palavra lei num sentido muito amplo, no sentido do bloco de
legalidade. A ilegalidade do acto administrativo pode assumir várias formas, que se
denominam de vícios do acto administrativo:
a. Usurpação de poderes
É o vício que consiste na prática por um órgão administrativo de um acto
incluído nas atribuições do poder legislativo, moderador ou judicial. Trata-se de
uma violação do princípio da separação de poderes (art. 2º e 111º CRP). Tem três
modalidades: a usurpação do poder legislativo (criação de um imposto pela
Administração); a usurpação do poder moderador (despacho do Primeiro-Ministro
a demitir um funcionário da Presidência da República); e usurpação do poder
judicial (deliberação de uma câmara municipal que declare a nulidade de um
contrato civil). Gera nulidade em todos os casos.
b. Incompetência
É o vício que consiste na prática, por um órgão administrativo, de um acto
incluído nas atribuições (incompetência absoluta) ou na competência de outro
órgão administrativo (incompetência relativa). Podemos distinguir quatro
modalidades de incompetência: em razão da matéria, em razão da hierarquia, em
razão do lugar ou em razão do tempo. A incompetência absoluta gera nulidade; a
relativa anulabilidade.
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c. Vício de forma
É o vício que consiste na preterição de formalidades essenciais ou na carência
de forma legal. Comporta três modalidades: a preterição de formalidades
anteriores à praticas do acto; relativas à prática deste; ou carência de forma legal.
Nota: a eventual preterição de formalidades posteriores à prática do acto não
produz ilegalidade mas apenas ineficácia. A carência absoluta de forma legal; as
deliberações tomada tumultuosamente, sem quórum, sem ser pela maioria exigida
por lei ou que nomeiem ilegalmente funcionários sem concurso são nulas; todos os
outros vícios de forma geram anulabilidade.
d. Violação de lei
É o vício que consiste na discrepância entre o conteúdo ou o objecto do acto e
as normas jurídicas que lhes são aplicáveis. Configura uma ilegalidade de
natureza material, é a própria substância do acto, é a decisão, que contraria a lei.
Este vício produz-se, normalmente, no exercício de poderes vinculados. Mas pode
também ocorrer no exercício de poderes discricionários, quando sejam infringidos
os princípios gerais que limitam ou condicionam a discricionariedade ou os
princípios constitucionais como o de justiça, da imparcialidade, da boa fé, etc.
A violação de lei comporta várias modalidades: a falta de base legal; a
incerteza, ilegalidade ou impossibilidade tanto do conteúdo como do objecto do
acto; a inexistência ou ilegalidade dos pressupostos relativos ao conteúdo ou ao
objecto do acto administrativo; a ilegalidade dos elementos acessórios incluídos
pela Administração no conteúdo do acto; ou qualquer outra ilegalidade do acto
administrativo insusceptível de ser reconduzida a outro vício. Os casos de violação
de lei referidos no art. 133º do CPA geram nulidade, todos os restantes,
anulabilidade.
e. Desvio de poder
É o vício que consiste no exercício de um poder discricionário por um motivo
principalmente determinante que não condiga com o fim que a lei visou ao conferir
tal poder. O desvio de poder pressupõe, assim, uma discrepância entre o fim legal
e o fim real. Existem duas principais modalidades: o desvio de poder por motivo de
interesse público e o desvio de poder por motivo de interesse privado. Em
qualquer um dos casos o acto é ilegal e inválido. Todos os casos geram
anulabilidade.
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8. Extinção e Modificação
Os efeitos jurídicos do acto administrativo podem extinguir-se por variados modos.
Em certos casos cessam imediatamente com a prática do acto (actos de execução
instantânea); noutros os efeitos perduram no tempo, só se extinguindo quando
decorrido um certo período (actos de execução continuada); outros, por sua vez,
podem ter sido apostos a um termo final ou a uma condição resolutiva e, então, uma
vez atingido, o termo ou a condição, os efeitos cessam; pode ainda acontecer que o
acto se extinga por ter sido praticado um outro cujo conteúdo é oposto. Não é, todavia,
destas situações de que nos vamos ocupar, mas sim da revogação.
A revogação é o acto administrativo que se destina a extinguir os efeitos de um
acto administrativo anterior. Com a prática da revogação, ou acto revogatório (que
pertence à categoria dos actos secundários), extinguem-se os efeitos jurídicos do acto
revogado.
As espécies de revogação podem apurar-se à luz de diversos critérios, dos quais
se destacam quatro:
a. Iniciativa
Quanto a esta, a revogação pode ser espontânea (é a revogação oficiosa,
praticada pelo órgão competente, independentemente de qualquer solicitação) ou
provocada (é motivada por um requerimento de um interessado dirigido ao órgão
com competência revogatória) – art. 138º CPA.
b. Autor
Pode ser feita pelo próprio autor do acto revogado ou por órgão administrativo
diferente: no primeiro caso estamos perante a retractação, no segundo o acto
revogatório é praticado pelo superior hierárquico do autor (em relação a actos do
subalterno), ou pelo delegante/subdelegante ou, ainda, nos casos previstos por lei,
pelos órgãos tutelares (art. 142º CPA).
c. Fundamento
A revogação pode basear-se na ilegalidade ou na inconveniência do acto que é
seu objecto. Quando assenta no primeiro fundamento fala-se de anulação
administrativa, com ela visa-se reintegrar a ordem jurídica violada; se tem por
fundamento a inconveniência, a prática do acto revogatório encontra a sua razão
de ser num juízo de mérito, numa nova valoração administrativa à luz do interesse
público.
d. Efeitos
A revogação embora consista sempre na extinção dos efeitos do acto
revogado, pode revestir uma de duas modalidade: a mera cessação para o futuro –
revogação ab-rogatória – ou a destruição total dos efeitos do acto revogado –
revogação anulatória.
A eficácia da primeira é ex nunc (“desde agora”); e da segunda, que tem
eficácia ex tunc (“desde então”). Dada a particular dureza da revogação anulatória,
que não dispõe apenas para o futuro, mas interfere com o passado, e num sentido
diferente daquele com que aos particulares era lícito contar, abalando assim a
confiança do público na Administração, não é discricionária a escolha entre a
prática de uma revogação ab-rogatória ou de uma revogação anulatória.
A revogação ab-rogatória ajusta-se aos casos em que o órgão administrativo
competente mude de critério e resolva extinguir um acto anterior por o considerar
inconveniente (art. 145º CPA); a revogação anulatória é, por regra, reservada pela
lei para os casos em que o acto a revogar seja inválido.
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9. Execução
Esta é uma matéria que está disciplinada nos artigos 149º e seguintes do CPA.
Em primeiro lugar, vimos que a Administração Pública goza, no nosso
ordenamento jurídico da possibilidade de definir imperativamente o direito aplicável no
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Quanto aos fins de execução (art. 154º CPA), pode esta ter um de três fins:
a. O pagamento de quantia certa
Art. 155º/1 CPA - a lei portuguesa não autoriza a execução forçada por via
administrativa de um acto que, por exemplo, fixa um imposto, uma taxa ou uma
coima. Em tais casos, o único caminho a seguir é o da via judicial, através do
processo de execuções fiscais.
b. A entrega de coisa certa
Se o particular não fizer a entrega da coisa devida à Administração (por
exemplo, um automóvel) poderá esta proceder às diligências que sejam
necessárias para tomar posse administrativa dela (art. 156º CPA), ou seja, poder a
Administração investir-se no seu corpus com animus possidendi em virtude de
simples declaração do seu direito a essa possa, podendo usar a força pública, se
necessário, para o efeito de se assenhorear dela e de a manter.
c. A prestação de um facto
Se o particular não realizar a prestação de facto positivo a que se encontra
obrigado dentro do prazo que lhe for fixado por notificação administrativa. Há que
distinguir duas sub-hipóteses:
– Se se tratar de facto positivo fungível (um facto que tanto pode ser
realizado pelo particular como por um terceiro, sem prejuízo para a
Administração), pode a Administração optar entre a execução directa
pelos seus próprios meios e a execução por terceiro por si contratado
para o efeito, ficando em qualquer dos casos as despesas a cargo do
particular faltoso (art. 157º/1 e 2 CPA) – execução subrogatória
(exemplo: demolição de uma construção).
– Se se tratar de facto positivo infungível (um facto que tem
necessariamente de ser praticado pelo particular em causa), poderá a
Administração utilizar a coacção física sobre o obrigado. Note-se,
porém, que esta coacção sobre o obrigado só pode ter lugar nos casos
expressamente previstos na lei, e sempre com observância dos direitos
fundamentais consagrados na Constituição e do respeito devido à
pessoa humana (art. 157º/3 CPA).
Por sua vez, se o particular não realizar a prestação de facto negativo a que se
encontra obrigado, é também necessário destrinçar consoante se esteja perante
facto fungível ou infungível:
– Se se tratar de facto fungível, os termos da execução são os da
execução para prestação de facto positivo. Imagine-se o caso de um
particular a quem a Administração proibira o não prosseguimento de
determinada obra ter persistido na sua realização.
– Se se tratar de facto infungível, a execução é, em bom rigor,
tecnicamente impossível. Imagine-se o caso de um particular
administrativamente obrigado a não revelar determinado segredo
proceder a essa revelação. Pode, no entanto, converter-se numa
execução para pagamento de quantia certa (art. 155º/1 CPA) se a
Administração determinar o pagamento de uma indemnização e o
destinatário o não fizer voluntariamente
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1. Espécies
Existem, no artigo 178º/2 do CPA, oito espécies de contratos administrativos:
a. Empreitada de obras públicas
b. Concessão de obras públicas
c. Concessão de serviços públicos
d. Concessão de exploração do domínio público
e. Concessão de uso privativo do domínio público
f. Concessão de exploração de jogos de fortuna ou azar
g. Fornecimento contínuo
h. Prestação de serviços para fins de imediata utilidade pública
2. Regime Jurídico
O regime jurídico dos contratos administrativos é constituído quer por normas que
conferem prerrogativas especiais de autoridade à Administração, quer por normas que
impõem à Administração especiais deveres ou sujeições. Este regime é traçado
principalmente pelo Direito Administrativo – pelo CPA e pelos princípios gerais do
Direito Administrativo – mas também por algumas normas de Direito Financeiro e
Direito Comunitário.
Os princípios gerais aplicáveis aos procedimentos conducentes à celebração de
contratos administrativos são os seguintes:
a. Princípio da legalidade
Este princípio exige, desde logo, que o fundamento normativo de qualquer
procedimento adjudicatório deve basear-se num acto legislativo. A entidade
adjudicante (adjudicação é o acto administrativo pelo qual o órgão competente
escolhe a proposta preferida, seleccionando o particular com quem a
Administração decide contratar), para iniciar, carece, pois, de uma norma
habilitante proveniente do poder legislativo. Tal norma deverá formular um quadro
ou descrição fundamental suficiente para demarcar o âmbito da actuação
autoritária do órgão administrativo sobre as esferas jurídicas dos particulares e
para repartir o âmbito de actuação entre os diversos órgãos das pessoas
colectivas que integram a Administração.
No que toca especificamente aos procedimentos concursais, não é
seguramente admissível a abertura de um concurso sem a publicação prévia das
normas que o disciplinam. A lei pode conferir ao promotor do concurso maior ou
menos autonomia na condução dos trâmites do procedimento do concurso e na
própria escolha do co-contratante, mas há uma condição que, em qualquer caso,
tem de se observar: essa autonomia há-de ter a lei por sua base e medida. Ou
seja, mesmo nos domínios não cobertos pelo princípio da reserva de lei, a
Administração num concurso não deixa de estar adstrita à obrigação de fixar e
divulgar as regras do “jogo”.
b. Princípio da proporcionalidade
Este princípio impõe que os procedimentos que precedem a celebração de
contratos administrativos devem garantir um equilíbrio nas relações entre cidadãos
e ainda entre eles e a própria Administração, proibindo contrastes intoleráveis
entre vantagens reconhecidas a um ou alguns sujeitos de direito e sacrifícios que
impendem sobre os demais.
Por outro lado, deste princípio decorre que, dentro dos limites da lei, deve ser
escolhido o procedimento mais adequado ao interesse público a prosseguir,
ponderando-se os custos e os benefícios decorrentes da respectiva utilização e,
por outro lado, que no procedimento apenas se devem efectuar as diligências e
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3. Regime Procedimental
Art. 181º CPA. A formação do contrato administrativo faz-se mediante um
procedimento preparatório, tendente à escolha do co-contratante e à definição do
conteúdo do contrato; esse procedimento é um procedimento de 1º grau e rege-se
pelas regras fixadas na Parte III do CPA para os procedimentos de formação do acto
administrativo. Daqui resulta que a correcta e esclarecida formação da vontade de
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4. Execução
Os principais poderes de autoridade de que a Administração beneficia na
execução do contrato administrativo são cinco (art. 180º CPA):
a. Poder de modificação unilateral
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5. Extinção
Para além das causas normais de extinção do contrato administrativo (caducidade
ou termo), e de outras causas menos frequentes (verificação de condição resolutiva,
impossibilidade absoluta superveniente, anulação judicial, morte do contraente
particular ou a sua declaração de falência), há causas específicas que importa
considerar:
a. Extinção por acordo das partes (revogação)
b. Extinção por decisão unilateral (rescisão)
A rescisão administrativa consiste na extinção do contrato por decisão
unilateral da Administração. Há duas modalidades:
– Rescisão-sanção
É a mais severa e grave sanção em que o co-contratante pode incorrer.
Verifica-se quando o contraente particular não cumpre, de forma culposa,
as obrigações por modo a determinar grave prejuízo para o serviço público.
É uma sanção excepcional, que deve ser aplicada como ultima ratio.
– Resgate
Consiste no acto administrativo pelo qual a Administração, antes de findo o
prazo do contrato, decide retomar o desempenho das atribuições
administrativas de que estava encarregado o contraente particular, não como
sanção, mas por conveniência do interesse público, e mediante justa
indemnização (art. 180º c) CPA).
c. Extinção por facto jurídico alheio às partes (caso de força maior)
O caso de força maior é um facto imprevisível e estranho à vontade dos
contraentes que impossibilita absolutamente o cumprimento das obrigações
contratuais.
Fim do II Volume
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