Teste12 - Pessoa Ortonimo e Alberto - Caeirocc
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Grupo I
Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.
PARTE A
Lê o poema.
Aquilo que a gente lembra Que uns olhos tiveram um dia
Sem o querer lembrar, Para a nossa emoção —
E inerte se desmembra Tudo isso nos dá o agrado,
Como um fumo no ar, Flores que flores são
5 É a música que a alma tem, 20 Nos jardins do passado
É o perfume que vem,
Vago, inútil, trazido Não sei o que fiz da vida,
Por uma brisa de agrado, Nem o quero saber
Do fundo do que é esquecido, Se a tenho por perdida,
10 Dos jardins do passado Sei eu o que é perder?
25 Mas tudo é música se há
Aquilo que a gente sonha Alma onde a alma está,
Sem saber de sonhar, E há um vago, suave, sono,
Aquela boca risonha Um sonho morno de agrado,
Que nunca nos quis beijar, Quando regresso, dono,
15 Aquela vaga ironia 30 Aos jardins do passado.
Fernando Pessoa, Novas Poesias Inéditas,
4.ª ed., Lisboa, Ática, 1973, p. 142.
1. Explicita o modo como a memória se manifesta na primeira estrofe e indica os aspetos que a
estimulam.
2. Explica o sentido da metáfora «jardins do passado» e relaciona-a com a temática pessoana em
evidência no poema.
3. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.
Na folha de respostas, regista apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma delas, o número que
corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.
No início da última estrofe do poema, o sujeito poético afirma a) , contudo, o conector
adversativo presente no b) marca a oposição entre o presente e o passado. É neste passado,
v c) , que se sente vagamente feliz.
a) b) c)
1. a sua comoção perante a vida 1. verso 21 1. ao qual regressa em sonhos («sem
2. o seu desalento existencial 2. verso 25 saber de sonhar»)
3. a saudade do passado 3. verso 29 2. recordado na sua plenitude («Um sonho
morno de agrado»)
3. idealizado intencional e oniricamente
(«Quando regresso, dono»)
o
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PARTE B
Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as coisas:
10 Só me obriga a ser consciente.
4. Na primeira estrofe, o sujeito poético reproduz as ideias do seu interlocutor («tu», v. 1) sobre a
diferença entre o Homem e as demais entidades da Natureza, como a «pedra» ou a «planta» (v. 2).
Explicita em que consiste essa diferença, segundo o interlocutor do eu poético.
5. No início da segunda estrofe, o sujeito poético inicia a resposta ao seu interlocutor: «Sim: há
diferença. / Mas não é a diferença que encontras» (vv. 7 e 8).
Apresenta dois aspetos da distinção entre o eu lírico e as outras entidades da Natureza.
o
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6. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.
Na folha de respostas, regista apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma delas, o número que
corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.
Na quarta estrofe, o sujeito poético defende que a faculdade de pensar a) .
Na repetição da forma verbal «Sei», no início da quinta estrofe, está presente b) , com a
qual o sujeito poético sublinha que c) .
a) b) c)
1. não é mais importante do que 1. tem um conhecimento superior ao
outras características dos seres 1. um hipérbato do seu interlocutor
2. faz o Homem superior às outras 2. uma enumeração 2. tem uma consciência que lhe
entidades da Natureza 3. uma anáfora permite conhecer o mundo
3. é a via privilegiada para conhecer através dos sentidos
o mundo 3. o seu conhecimento do mundo é
puramente racional
o
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Grupo II
Lê o texto.
FALEMOS DE CARTAS
Numa das mais fascinantes cartas da literatura portuguesa, aquela que Fernando
Pessoa escreve a Adolfo Casais Monteiro explicando a génese dos seus heterónimos, há
duas informações marginais que certamente não passam despercebidas a quem valoriza a
prática epistolar. Pessoa começa por desculpar-se por não ter à mão um papel melhor do
5 que aquele de cópia em que escreve ao seu correspondente. E mais à frente, num
parêntesis autoirónico sobre a forma como o seu discurso se deixava continuamente tentar
por derivas, confessa também: “Em eu começando a falar — e escrever à máquina é para
mim falar —, custa-me a encontrar o travão.” Ficamos assim a saber que não se tratava de
uma carta manuscrita. São, é claro, informações de margem que se prendem com o lado
10
material das cartas, mas que não deixam, contudo, de ter a sua importância. Na verdade,
uma carta não se resume à mensagem escrita, e isso é também a sua riqueza. Tudo nela é
mensagem.
Uma vez, numa feira de arte em Madrid, numa banca que exibia aquele tipo de materiais
transitórios que se convencionou chamar “efémera” (e eram ali, na sua maioria, velhos
15
catálogos, cartazes, folhas de sala, prospetos e cartas), o vendedor fez-me ver o que ele
classificava como a obra mais pequena de Lourdes Castro. Dentro de uma carta a um seu
amigo holandês, a artista havia colocado um outro envelope, de formato mínimo, onde
escreveu a palavra Paris. E no interior colocou a folha miniatural de uma árvore. Fiquei a
pensar como uma carta se desdobra. Como se organiza em planos múltiplos de leitura.
20
Como é mais extensa do que se pode supor. E como um envelope constitui uma jangada
que não se desloca em sentido único e nunca transporta uma coisa só.
As edições do Saguão acabam de editar um dos livros mais bonitos e cuidados desta
rentrée: tem por título “Poemas Envelope” e é da poeta norte-americana Emily Dickinson
(1830-1886). O título “Poemas Envelope” refere-se não tanto ao facto de estes poemas
25
terem sido escritos em envelopes já usados, quanto a dependerem na sua natureza do
suporte precário em que foram escritos. Como se diz na nota de tradução que acompanha o
volume, Dickinson abria cuidadosamente os envelopes que recebia e cortava-os “em formas
diferentes, num gesto económico de aproveitamento do papel, mas que visava também criar
30 uma forma à qual a escrita teria de responder”. De facto, como se vê nas imagens que o
volume reproduz, “a direção, o corte do verso, a separação entre palavras, a contenção, as
variantes, são guiadas pela forma do papel”. Num fragmento de envelope que se parece
com a copa de um cálice, Emily Dickinson gravou estes versos: “Há quem/ seja fútil/ de
propósito/ e/ profundo/ por/ mero acaso.” Num outro, semelhante a minúsculo triângulo,
35 escreveu: “Uma nota de/ um pássaro/ vale mais do que/ um milhão de palavras// Uma
bainha/ requer-possui-contém/ uma única/ espada.”
Nós dizemos, talvez demasiado apressadamente, ter entrado na era da comunicação.
Não raro acontece, porém, com a instantaneidade do digital (e-mail, SMS, WhatsApp, o que
seja), aquele fenómeno que se dá quando avizinhamos demasiado o nosso rosto de um
40
objeto: deixamos de o ver ou vemos apenas uma massa indecifrável e confusa. A carta tem
um distanciamento (espacial, temporal, reflexivo, emocional...) que os suportes digitais
eliminaram. E permite uma forma de intimidade e memória que esses meios não alcançam
(ou ainda não alcançam). Ainda temos muito que aprender com as cartas. Hoje
comunicamos mais, mas corremos o risco de não comunicar melhor.
José Tolentino Mendonça, Expresso, 17/10/2020
(disponível em: www.leitor.expresso.pt, consultado em outubro de 2020).
o
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1. De acordo com o primeiro parágrafo do texto,
(A) Fernando Pessoa intentava veicular mais informações sobre os heterónimos.
(B) as notas colocadas na margem das cartas são fulcrais para a leitura.
(C) as informações veiculadas nas cartas vão para além das palavras escritas.
(D) as derivas pessoanas são parêntesis essenciais à compreensão textual.
3. A nota de tradução que acompanha o livro “Poemas Envelope”, de Emily Dickinson, sublinha que
(A) a forma do corte do envelope dependia do poema a escrever.
(B) a poeta visava, exclusivamente, a economia de papel.
(C) a forma dada ao papel é posterior à delineação e criação do poema.
(D) os poemas dependiam e se adaptavam à forma dada ao envelope.
4. De acordo com o último parágrafo, a proliferação dos suportes digitais, apesar de permitir ao ser humano
comunicar mais,
(A) conduziu à reflexão sobre a mensagem escrita.
(B) desvirtuou a riqueza informativa da epistolografia.
(C) proporcionou o distanciamento próprio das cartas.
(D) adulterou o carácter efémero das epístolas.
7. Indica o valor modal expresso em: «Nós dizemos, talvez demasiado apressadamente, ter entrado na era da
comunicação» (linha 37).
o
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Grupo III
Num texto bem estruturado, com um mínimo de cento e cinquenta (150) e um máximo de
duzentas e cinquenta palavras (250), faz a apreciação crítica do cartoon abaixo apresentado, da
autoria de Dave Coverly. Tem em conta que a figura da esquerda representa a famosa estátua O
Pensador (The Thinker, em inglês»), de Auguste Rodin, escultor francês.
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre
elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente do número de
algarismos que o constituam (ex.: /2020/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre cento e cinquenta e duzentas e cinquenta palavras –, há que atender ao
seguinte:
– um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
– um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
FIM
COTAÇÕES
Grupo Item
Cotação (em pontos)
I 1. 2. 3. 4. 5. 6.
16 16 15 16 16 15 94
II 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
8 8 8 8 8 8 8 56
III Item único
50
TOTAL 200
o
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Critérios de classificação do Teste de Português – 12.o Ano
(Fernando Pessoa ortónimo e heterónimos)
Grupo I
1. Devem ser abordados os tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:
– a memória manifesta-se inadvertidamente («Aquilo que a gente lembra / Sem o querer lembrar», vv. 1 e 2)
e de modo efémero («E inerte se desmembra / Como um fumo no ar», vv. 3 e 4);
– é ativada por estímulos breves e momentâneos, como reminiscências de um som interior («É a música que
a alma tem», v. 5) ou um «vago» odor («É o perfume que vem / […] / Do fundo do que é esquecido,», vv. 6 e
9).
2. Devem ser abordados os tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:
– os «jardins do passado» remetem para a beleza e para a harmonia que caracterizam o passado, sendo
metáfora da infância;
– enquadramento na temática da nostalgia da infância, na medida em que o sujeito poético, através da
memória, sente, ainda que fugazmente, a felicidade do passado («uma brisa de agrado», v. 8; «Tudo isso
nos dá o agrado», v. 18; «Um sonho morno de agrado», v. 28), o que permite esquecer, por breves
momentos, o desalento, a indiferença e a indefinição do presente («Não sei o que fiz da vida, / Nem o quero
saber / Se a tenho por perdida», vv. 21 a 23).
3. a) 2; b) 2; c) 3.
– a primeira diferença entre o Homem e as demais entidades da Natureza reside no facto de o primeiro ser
superior, já que é dotado da faculdade da razão, enquanto as segundas não o são, pois só os seres humanos
podem refletir sobre a realidade – «Então as plantas têm ideias sobre o mundo?», v. 6;
– a segunda diferença está no facto de os seres humanos terem sentimentos e sensibilidade e os seres e
objetos da Natureza não terem – «Então as pedras escrevem versos?», v. 5.
5. Devem ser abordados os tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:
– o sujeito poético reconhece que uma diferença entre a Natureza e o Homem assenta no facto de ser dotado
da faculdade do intelecto, e, por isso, ter consciência – «o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre
as coisas», v. 9;
– a distinção principal entre Homem e restante Natureza reside na ideia de todos as entidades deste mundo
terem uma essência própria e características específicas, que as tornam diferente de outras entidades – «E
as plantas são plantas só, e não pensadores.» (v. 27).
6. a) 1; b) 3; c) 2.
Grupo II
1. (C) 8
2. (C) 8
3. (D) 8
o
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4. (B) 8
5. (A) 8
Concluindo: o cartoon de Dave Coverly instiga-nos a pensar no modo de vida que hoje levamos e naquilo que
valorizamos.
o
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