Aula 1 (Psicanlise e Racismo) ErnaniChavesUFPA

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Curso Psicanálise e Racismo (professor Ernani Chaves)

Introdução: apresentação do professor da Universidade Federal do Pará, onde é docente


há 39 anos.

Pesquisa a filosofia europeia, hoje colocada em questão, especialmente a filosofia alemã


(Nietzche), a Escola de Frankfurt e também o pensamento francês, em especial o de
Michel Focault (Focault e a Psicanálise), além do pensamento de Freud com a chamada
tradição Freud/Lacaniana.

Todas as questões da filosofia hoje relacionadas ao feminismo, questões LGBT, questões


de raça/etnia africana e que são candentes hoje no campo das ciências humanas, para as
quais sempre foram convocadas, há muito tempo, a antropologia e a história e mais
recentemente o campo “Psi” (psicologia e psicanálise) e também a Filosofia, que dá a
impressão de ser, mais que outros ramos, a representante do eurocentrismo. Todos estão
sendo convocados para esse debate. No campo da filosofia feminista, há grupos muito
fortes, a exemplo de coletivo específico da Universidade Federal do Pará.

O desafio do estudo do racismo, da colônia e da colonização, para o professor, revela-se


não só porque é um tema importante para a psicanálise, visto que também é professor do
programa de Psicologia, na linha da psicanálise, desde sua fundação há 20 anos, mas
também para a Filosofia, em especial a filosofia africana para o Brasil, ma também por
sentir-se fisgado pelo tema.

A necropolítica, de Mbembe (2002/2003), texto inicialmente publicado como artigo, um


pequeno clássico da Filosofia Contemporânea do século XXI, impressiona por não se
tratar de jogar a água do banho com a criança dentro, ou seja, por não dispensar
simplesmente o pensamento europeu. Muito pelo contrário, é um diálogo importante. Uma
confrontação, porque também vai se distanciar dos autores que critica, mas não se pode
dispensar esse diálogo por questões/problemas de filósofos de tradição europeia
contemporânea.

Na primeira página do Necropolítica, em seu segundo parágrafo, é mencionado o nome


de Michel Focault. Há um papel desempenhado pela psicanálise, mais que a filosofia, nos
livros e textos de Mbembe. A interlocução com o pensamento de Mbembe é importante no
campo da Filosofia e das ciências humanas para se pensar na questão da colônia, do
colonialismo e do anticolonialismo nesse debate. Diversos brasileiros estão estudando
esta questão, mas, por enquanto, a preocupação (do professor) tem sido entender
Mbembe e o lugar dado por ele na história dos filósofos de seu (professor) interesse:
Focault, Nietzche, Walter Benjamin, além de sua ligação com a psicanálise.

Escolheu, para iniciar seus estudos a respeito, uma obra, A Crítica da Razão Negra, que
já pelo título ressoa as famosas “críticas” de Kant (Crítica da Razão Pura, Crítica da
Razão Prática e Crítica da Faculdade de Julgar). A palavra “crítica” do título do livro é
significativa por remeter à ideia de crítica presente desde a tradição filosófica de Kant,
pelo menos, que é a ideia de crítica como fundamento, como fundamentação.

Crítica da Razão Negra é a busca da fundamentação de que existe uma razão que é
negra. É título contundente porque ele e tantos outros além dele procuram desmontar a
figura mítica do negro, em especial ligado ao corpo, à sensualidade, ao erotismo, à dança
etc , domínios que parecem não se constituir como algo que diga respeito à razão
justamente porque a filosofia ocidental é marcada pela separação entre o
corpo/sensações/percepções sensíveis e o trabalho da razão. Desde o título do livro se
evoca uma problemática clássica de outra perspectiva, mas a crítica (da razão negra) se
faz pelo confronto com o pensamento europeu.

Nos três encontros serão retiradas menções filosóficas fundamentais relativas à


psicanálise e um esclarecimento a propósito da presença da psicanálise.

A relação entre psicanálise e a questão colonial não é nova, não é de ontem.

Na França, maior império colonial a partir do século XIX, há um primeiro grande momento
de discussão da questão da colônia e da colonização (há uma diferença importante entre
colonização, colônia e anti-colonialismo). Vai (o professor) seguir a terminologia usada por
Mbembe nessas classificações, como ele.

A discussão entre decolonial e descolonial, o que é a questão com a Europa, com o


pensamento ocidentral e cristão, do ponto de partida da África (embora lembrando que
Mbembe era cidadão do mundo … professor cita exemplos da vida de Mbembe). É o
mesmo ponto de partida de Aimé Cesaire, que é o ponto de partida dos que estavam nas
Antilhas Francesas, como ele, na Martinica. Também Fanon (Pele Negra, Máscaras
Brancas), o que ele fala sobre a Martinica não se aplica necessariamente à África. É outra
perspectiva, assim como é a nossa outra perspectiva, seja a da América Latina, seja a do
Brasil, no conjunto da América Latina.

Não é uma questão simples e não se trata apenas de reivindicação por fala e por direitos.

(após comentário de aluno) A perspectiva dos EUA também é importante (os estudos
decoloniais nasceram ali). Também a da Índia, com os estudos subalternos de Gayatry
Spivak e companheiros dela, ganham dimensão porque são pessoas que trabalham nos
EUA, onde têm também a figura emblemática de Angela Davis.

A escolha pelo Mbembe não é aleatória, mas por mobilizar filósofos de seu (professor)
interesse e também por mobilizar a psicanálise.

Não foi ele quem iniciou essa tradição, mas a França, como grande império colonial do
século XIX, reuniu as primeiras pessoas que efetivaram uma crítica à colonização, pois o
processo de colonização europeu começa no século XV, com as grandes navegações, o
caminho para as Índias, a descoberta da América e a do Brasil, mas, no século XIX, com
um estágio de capitalismo consolidado, houve o apogeu do colonialismo, com a França
desempenhando um papel priomordial.

O primeiro marco dessa discussão ocorreu com os surrealistas, vanguarda estética do


começo do século XIX (? - creio que a referência deve ter sido ao começo do século XX),
com a valorização da arte africana em grandes artistas como Pablo Picasso. (professor
exibe tela com a representação de máscaras africanas, de Picasso). Era uma crítica à
colonização (processo de conquista, processo de colonização) e ao colonialismo
(apologia da colonização: que a colonização foi maravilhosa, que houve progresso,
transformou os bárbaros inferiores em cristãos, combateu o politeísmo … ).

Posteriormente, houve autores, como no estudo da questão da Argélia, como Jacques


Derrida, Jean-Luc (Nancy), falecido ontem, mas os surrealistas foram o primeiro grande
movimento na França de anticolonialismo, conforme uma herança marxista – pensando
em André Breton, por exemplo, mas também em uma relação complicada com o partido
marxista, pois achavam que não se podia esquecer que a África tinha uma cultura. Não se
detinham, assim, apenas na crítica marxista da exploração, da expansão do capital e da
acumulação primitiva, do modo como se deu no século XIX, daquilo que, na linguagem
marxista, se chamava de imperialismo. Os surrealistas criam uma tensão em relação à
crítica marxista por privilegiar o campo da cultura.

Ao mesmo tempo, a ideia de máscara (retornando à obra de Picasso) remete a festas, a


rituais e a algo de idealizado, contribuindo para uma espécie de dimensão mítica da África
e uma certa imagem do continente e dos primitivos (a partir também da ideia de transe e
do êxtase).

(colocando uma segunda imagem, também de Picasso, uma sequência de 3 máscaras)


No título do livro de Fanon (Pele Negra, Máscaras Brancas, de 1951) há uma alusão a
essa obra de Picasso (sugestão de pesquisa no “Google” sobre arte africana).

Esse foi o primeiro momento da crítica (ao colonialismo).

O ponto máximo desse primeiro momento é o livro de um jovem professor de Filosofia,


que havia dado mais de 20 anos de aula, em primeiro na Martinica, mesmo lugar de
Fanon e de Aimé Cesaire. Na sua volta de Madagascar, em Paris, escreve uma série de
artigos (…) e com a decisão de ser analista, passa a ser analisante de Lacan. Vai ser
extremamente importante na Psicanálise francesa. Otávio Manoni, cuja mulher foi Maude
Manoni (…) Otavio Manoni publica em 1951 o livro Psicologia da Colonização. Quase ao
mesmo tempo, o poeta/ensaísta Aimé Cesaire começa a escrever e publica o livro
Discurso sobre a Colonização. Em 1852, Franz Fanon publica Pele Negra, Máscaras
Brancas.

Esses três livros (Psicologia da Colonização, de O. Manoni; Discurso sobre a


Colonização, de Aimé Cesaire e Pele Negra, Máscaras Brancas, de Franz Fanon)
formam um tríptico, que influenciou no imediato pós-guerra francês e instauram um
debate importante sobre colonização, raça e racismo e esses dois autores (Fanon e
Cesaire) debatem com Manoni. Nesse debate, a psicanálise está em primeiro plano.

De uma perspectiva da crítica, com um afastamento muito grande por parte de Cesaire,
que dispara críticas contra Manoni e contra a psicanálise (assim como o fazia o partido
comunista, que era crítico à psicanálise, parecendo, Cesaire, ser muito seguidor e
comprometido com o partido comunista).

Fanon, por outro lado, tem relação com a psicanálise de aproximação e distanciamento.

Manon ficou tão magoado com as críticas que abandonou o tema e só nos anos 60/70 ele
retorna seu 1º livro, com edição inglesa, e passa a ser melhor compreendido na Inglaterra
que na França (e nas colônias francesas, em especial, a Martinica, de onde vem Cesaire
e Fanon).

Hoje Fanon é extremamente lido na Psicologia e na Psicanálise (no próximo curso sobre
Fanon (o professor) falará sobre ser (Fanon) devedor da psicanálise). Tanto em Fanon,
quanto em Manoni, está presente a figura do “doutor” (como chamado por Fanon) Lacan,
especialmente quanto à temática do “espelho” (o que o negro vê quando se olha no
espelho?). Isso está presente em Fanon e em Mbembe.
Esse é o pano de fundo a ser apresentado. O de mostrar que a crítica da colonização e
do colonialismo, que se relaciona com a psicanálise, está presente desde os primeiros
debates na França. Esse é o objetivo do curso.

Na aula de hoje, vemos um primeiro momento desta obra de Mbembe (o curso está
estruturado em 3 módulos, para cada um uma obra. No primeiro, Crítica da Razão Negra.
No segundo, Políticas de Inimizade. No terceiro, Brutalismo, esperando que a edição
brasileira tenha ocorrido).

Falar de Mbembe é falar de Fanon, mas também de Focault, também de Freud, de Lacan,
de Agambe, de Hannah Arendt, de Nietzche é citado várias vezes por ele, quando
discorre sobre o processo de colonização como o nascimento de uma tragédia conforme
Nietzche).

É muito fácil dizer que o pensamento africano é uma ruptura total com a filosofia ocidental
e com a Europa. Há filósofos europeus que colaboraram com a crítica da colonização e
do colonialismo.

(após pausa de 5 minutos): Há a presença da psicanálise na crítica ao colonialismo.


Apesar de raramente, aqui ou ali, Freud ter falado a respeito da raça (….) houve
apagamento na filosofia europeia de autores/pensadores africanos. Por exemplo, Focault
nunca mencionou sobre Fanon, quando fez o livro A história da loucura, na crítica
psiquiátrica. Hoje há muitos estudos que mostram as semelhanças (e muitas diferenças)
entre Focault e Fanon. Focault critica a noção de Édipo, assim como Fanon (que chega a
afirmar “97% das famílias da Martinica não tem Édipo), mas, por outro lado, Fanon dá o
devido lugar a Freud, como na questão da identificação.

(após pergunta de Yone Costa, que relatado ter estudado Direito e História e com
formação em psicanálise, em especial na área da saúde, onde enxerga um vazio em
relação à temática do racismo, e questiona em que medida estudar autores diferentes do
processo de colonização no Brasil e do racismo estrutural aqui existente pode ser útil para
estudar o racismo que não está no divã. Confessou esperar resposta diferente de alguém
não vindo da área da saúde) Professor reconhece a existência de singularidades do
racismo no Brasil, como em qualquer lugar do mundo. O sistema de plantation não foi só
na África, nos EUA da época da escravização. Existem correlações fortes e grandes,
assim como há singularidades. Do contrário, corre-se o risco do solipsismo.

Por outro lado, pode-se usar esses autores estrangeiros sobre psicanálise e racismo
porque no Brasil o estudo desse tema é muito novo. (comentários acerca de Neusa
Santos …) É um debate que está em seu começo no Brasil e que extrapola do campo da
Psicanálise e entra na Filosofia. Vamos lucrar bastante com esses autores sem
desconsiderar a singularidade do Brasil. Mas há sistemas de dominação que são muito
semelhantes (o professor chegou a dar exemplo da singularidade do racismo brasileiro,
em uma viagem deles à Franca, encontrando com negros na rua e demonstrando repulsa
ou medo).

(referente ao texto do Mbembe colocado no grupo) Quando se lê um texto deve-se


reconhecer como metodologia de leitura expressões, conceitos e alusões. Não é
necessário que tenha os nomes de Lacan, Freud, o significante/significado, mas se
encontram expressões que remetem ao vocabulário psicanalítico que só fazem pleno
sentido no interior da psicanálise.
Exemplo: na introdução, com o título “O devir negro no mundo” que remete à filosofia de
Deleuze (a ideia de devir), presente em Mbembe. Na introdução, assim como no texto
Necropolítica, Mbembe vai retomar a crítica da modernidade, demonstrando que o nó da
modernidade, no sentido europeu, é uma relação de sinonímia entre negro e raça (por
que não existe sinonímia entre branco e raça?).

A crítica de Mbembe à modernidade retoma outras críticas à modernidade, inclusive


aspectos da crítica psicanalítica freudiana, ou seja, a crítica da modernidade como projeto
de conhecimento e projeto político ao mesmo tempo, separando o que pertence ao campo
da razão e o que não pertence ao campo da razão. Crítica presente também em
Nietzsche e em Focault, mas Mbembe participa a crítica desses autores, na medida em
que critica a partilha entre razão e não razão/des-razão, mas evidentemente não fica
nisso.

O que é singular/específico na posição de Mbembe? É dizer que não podemos


compreender o projeto de modernidade sem pensar entre negro/preto e raças. Em
primeiro lugar, o pertencimento comum de Mbembe à modernidade, presente também em
outros autores, mas com essa especificidade de pensar o projeto de modernidade que
une negro e raça, chamado por ele de “complexo nuclear de modernidade”, na página 12
(intrrodução) da edição brasileira da Edição Menos Um.

Ele termina o segundo parágrafo da introdução, dizendo: “ambos (o projeto político e


moderno do conhecimento) representam figuras gêmeas do delírio que a modernidade
produziu”, ou seja, duas referências vindas do campo da psicanálise, a ideia de “complexo
nuclear”, específico da psicanálise, e a ideia de delírio, que não é especificidade da
psicanálise, mas que pode ser pensada a partir da referência a outros autores (Fanon e
Lacan), ideia delirante da modernidade de junção do negro e da raça.

(em resposta à Tatiana) Existe uma modernidade africana (conforme referência de


entrevista de Mbembe a Flup, “O mundo de joelhos”, disponível no YouTube), centrada na
ideia do Ubuntu, mas o professor relata dificuldade lógica em pensar os fatos e processos
da modernidade sem falar de um conceito europeu é como parecer estar girando em
círculos, é como se não se saísse de um círculo em que tivesse de reorganizar o
pensamento e a linguagem. Não sabe se as coisas devem caminhar por aí. Essa ideia de
perseguir um lugar absolutamente limpo da “impureza” europeia, que é isso que nós
precisamos encontrar (ele questiona a respeito).

(ainda em resposta à Tatiana, que faz referência a ser mestranda e ter sido instada por
sua orientadora a buscar uma epistemologia indígena) O professor diz que grandes
autores brasileiros sobre a epistemologia indígena baseiam-se em Deleuze.

O “devir negro”, em que devir é o oposto do ser. É o formar-se negro permanente, na


história. A metáfora do negro aí é forte porque diz respeito à nossa percepção do mundo:
o negro está associado ao nada, ao vazio, à escuridão, ao que não se vê (e ao feminismo,
conforme Yone).

Devir dá a ideia de movimento, ao contrário do ser na Filosofia clássica. É um devir que


inclui processos históricos. Isso é o que Mbembe quer mostrar: os processos históricos
que são subjacentes e construíram o imaginário sobre o negro na nossa cultura.

Fanon não economiza no seu vocabulário quando discorre sobre o imaginário construído
para o negro, na sexualidade: “o negro é seu pênis”.
É um sentido (Devir) que, na filosofia contemporânea francesa, refere-se a Deleuze, que
logo é citado por Mbembe.

Existe aí a ideia de que o complexo nuclear de “nossa” modernidade (nossa aí em todo e


qualquer lugar).

Nessa primeira inferência não aparece Freud e Lacan e psicanálise, mas aparece a
expressão “complexo nuclear”. O “devir negro” hoje, segundo Mbembe, estende-se
também aos não negros (inclusive ao branco pobre e aqueles que sofrem discriminação).

A segunda referência é a relação entre o neoliberalismo e a colonização e como Mbembe


termina seu argumento, retomando questões psicanalíticas por meio de Cristian Laval e
Pierre Dardault (A nova razão do mundo) e, no final do livro, a propósito das implicações
psíquicas do neoliberalismo, quando Dardault e Laval retomam Lacan para tentar
caracterizar e circunscrever que tipo de gozo é o gozo na sociedade neoliberal.

Mbembe retoma essa crítica, mas acrescenta algo (e isso é o que mobiliza o professor,
não apenas pelo que ele retira dos outros, mas também o que ele também acrescenta de
sua maneira de pensar).

Mbembe faz considerações a partir da mudança da noção de trabalho na sociedade


neoliberal, para dizer que aparece uma forma inédita de vida psíquica apoiada na
memória artificial e digital: outra concepção de memória.

Ao mesmo tempo, há um modelo de compreensão de mundo proveniente das


neurociências e da neuro-economia, o qual vai consolidar a ficção de um novo sujeito
humano. “empreendedor de si mesmo”. Retoma a definição de sujeito neoliberal, para
Focault, como empreendedor de si, em um outro contexto, não conhecido por Focault.

Quando Focault deu o curso “O nascimento da biopolítica”, em 1978, não havia, no


neoliberalismo, a revolução eletrônica de hoje.

Ao mesmo tempo que retoma a ideia de “empreendedor de si mesmo”, de Focault, mas é


aquele voltado pelas neurociências e pela neuro-economia. É orientado pela nova ideia
de memória (artificial e digital). No final de sua argumentação, retoma Dardault e Laval, a
questão do gozo e vai distinguir o sujeito do começo da industrialização do século XIX, o
sujeito trágico e alienado, do sujeito neoliberal.

Há união entre a tradição de idéia de “trágico” (Diferente da tragédia, que é gênero


literário, o trágico é invenção do final do século XVIII e diz respeito a uma dimensão
fundamental da existência.

Esse sujeito trágico e alienado (que vem muito de Marx), temos agora um sujeito
aprisionado em seu desejo. Diz Mbembe, refazendo o raciocínio de Dardault e Laval: o
seu gozo do sujeito neoliberal depende quase inteiramente da capacidade de reconstituir
publicamente sua vida íntima e de oferecê-la ao mercado como uma mercadoria possível
de troca”. É a cara do Facebook, Tik Tok, Instagram …

Tudo isso possível, em última instância, porque vem ter uma espécie de fusão potencial
entre o capitalismo e o animismo, essa antiga concepção do mundo, que vão ser
fundamentais para a compreensão da raça e do racismo.
É nesse cruzamento que temos o aparecimento da questão de raça e de racismo.

Já na introdução do livro há todas essas referências/vocabulários, pois tendo estudado na


França, nos anos 70, conhecia Freud, Focault, Deleuze e Lacan, seguramente.

(após pergunta de Carmen se animismo refere-se a religiões espiritualistas de


mediunidade) professor: animismo aqui, que vem do texto de Freud (Totem e Tabu),
refere-se à ideia de a natureza ter vida e é claro que tem a ver também com práticas
religiosas de sociedades ditas primitivas.

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