Saúde Do Trabalhador
Saúde Do Trabalhador
Saúde Do Trabalhador
Porém, não é apenas espaço de tempo que o trabalho ocupa na vida das pessoas. Para
muitas pessoas, o trabalho é o fator central de sua vida, é o que dá significado a ela, não
possuindo meramente caráter de subsistência. Ele ocupa um espaço de investimento
afetivo, de dedicação, de investimento financeiro, de realização pessoal, entre outros,
em detrimento de muitos outros aspectos da vida que passam a ser considerados
secundários.
Havia a crença de que com os avanços tecnológicos, como o computador, internet, fax,
telefone celular, e a melhoria no sistema de transportes, as pessoas teriam cada vez mais
tempo para usufruírem horas de lazer. O que ocorreu, na verdade, foi uma aceleração do
ritmo de vida. Bill Gates (apud ZAKABI, 2004, p.13) chegou a dizer que “parece que o
mundo todo opera em intervalos de cinco minutos”.
As organizações também foram impactadas por todos esses avanços tecnológicos e pela
globalização. Passaram e ainda passam por profundas mudanças, sendo as pessoas as
que mais sofrem com tudo isso. A crescente informatização dos processos
administrativos e a proliferação de novas tecnologias para a automação dos processos
industriais e para transmissão de dados estão apontando para o desaparecimento dos
escritórios, para uma “deslocalização” do trabalho, crescendo assim o número de
pessoas que trabalham como empregados temporários ou em atividades terceirizadas.
(CURVELLO, 1996).
Têm-se, então, trabalhadores sob extrema pressão física e psicológica, fazendo esforços
acima do limite considerado saudável para seus corpos em ambientes que, muitas vezes,
não possuem condições para que se alcance o que foi demandado pelas chefias. Essa é a
lógica perversa de muitos ambientes de trabalho. Essa situação acaba restringindo a
possibilidade dos trabalhadores intervirem nos processos de trabalho e impedindo de
alterar situações que lhes tragam sofrimento. A lógica da produção cada vez mais
rápida, em curtos espaços de tempo e com reduzido número de pessoas, é um panorama
comum nas organizações atualmente.
Além das consequências que o desemprego ou sua ameaça traz para a sociedade, ele
também traz repercussões emocionais, que podem ser observadas na consequente baixa
de qualidade de vida das pessoas.
TRABALHO E SOFRIMENTO
O termo trabalho vem do latim tripalium – três paus, um instrumento de tortura usado
para subjugar animais e escravos com a finalidade de aumentar a produção.
(BARRETO, 2007). Trabalho, para muitas culturas, tem como significado a fadiga, o
esforço, o sofrimento, o cuidado, o encargo; em suma, valores negativos.
Para Brief e Nord (1990), o trabalho é uma atividade que tem um objetivo. Também é
entendido como o gasto de energia mediante um conjunto de atividades coordenadas,
que visam produzir algo de útil. (FRYER; PAYNE, 1984; SHEPHERDSON, 1984).
De acordo com Fryer e Payne (1984), o trabalho seria uma atividade útil, determinada
por um objetivo definido, além do prazer gerado por sua execução.
É por meio do trabalho que o ser humano transforma a natureza para produzir sua vida
material e satisfazer suas necessidades. E é através dele que o homem se diferencia dos
outros animais, pela sua capacidade de raciocinar e utilizar sua criatividade. É através
do trabalho que o homem, portanto, se realiza.
Sabe-se que o trabalho ocupa um lugar de destaque na vida das pessoas. É fonte de
subsistência e de reconhecimento. Morse e Weiss (1955) afirmam que a visão do
trabalho para o ser humano vai além da necessidade de sobrevivência ou remuneração
financeira. Esses pesquisadores realizaram uma pesquisa com trabalhadores e
perguntaram: “se você tivesse bastante dinheiro para viver o resto da sua vida
confortavelmente sem trabalhar, o que você faria com relação ao seu trabalho?”
Mais de 80% das pessoas pesquisadas responderam que trabalhariam mesmo assim.
Quando questionadas sobre o que, além da remuneração, as fariam continuar a
trabalhar, as pessoas expuseram as seguintes razões: para se relacionar com outras
pessoas, para ter o sentimento de vinculação, para ter algo a fazer, para evitar o tédio e
para se ter um objetivo na vida.
Essa pesquisa foi repetida por vários outros pesquisadores em diferentes lugares do
mundo e em todas elas o resultado foi muito próximo da pesquisa acima citada.
Constata-se, então, que o trabalho conserva um lugar importante na sociedade.
A Revista Psicologia, Ciência e Profissão (2007) traz dados de uma pesquisa realizada
pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). A pesquisa aponta que, em todo o
mundo, 160 milhões de pessoas sofrem de males associados ao trabalho e cerca de 2,2
milhões de trabalhadores morrem por ano em decorrência de doenças laborais e
acidentes provocados por más condições de trabalho.
Você deve estar se perguntando: afinal, o que vem causando o adoecimento dos
trabalhadores? O Ministério da Saúde (2001, p. 161) traz algumas considerações para
ajudar a compreender esse processo:
A contribuição do trabalho para as alterações da saúde mental das pessoas dá-se a partir
de ampla gama de aspectos: desde fatores pontuais, como a exposição a determinado
agente tóxico, até a complexa articulação de fatores relativos à organização do trabalho,
como a divisão e parcelamento das tarefas, as políticas de gerenciamento das pessoas e
a estrutura hierárquica organizacional.
● Jornadas de trabalho longas, com poucas pausas destinadas ao descanso e/ou refeições
de curta duração, em lugares desconfortáveis.
● Turnos de trabalho noturnos, turnos alternados ou turnos iniciando muito cedo pela
manhã.
● Ritmos intensos ou monótonos.
● Submissão do trabalhador ao ritmo das máquinas, sob as quais não tem controle.
● Pressão de supervisores ou chefias por mais velocidade e necessidade de cumprir
metas, que ocasionam desgaste físico e mental.
● Condições de trabalho insalubres.
● Falta de segurança e autonomia.
● Tensão prolongada (atenção permanente, supervisão do trabalho sob pressão,
consciência da periculosidade do trabalho).
● Impossibilidade de desenvolver ou fazer uso da capacidade psíquica (perda de
controle sobre o trabalho).
● Desqualificação – divisão entre a concepção e execução do trabalho.
● Isolamento social no ambiente de trabalho.
● Periculosidade e/ou insalubridade do ambiente de trabalho.
Situações variadas no ambiente de trabalho podem gerar sofrimento mental e
adoecimento. Um fracasso, acidente de trabalho, mudança de posição (ascensão ou
queda) na hierarquia, frequentemente, determinam quadros psicopatológicos diversos,
desde os chamados transtornos de ajustamento ou estresse até depressões graves e
incapacitantes, variando segundo características do contexto da situação e do modo do
indivíduo responder a elas. É sempre importante ressaltar que esses transtornos mentais
e do comportamento relacionados ao trabalho resultam não apenas de fatores isolados
(apenas do ambiente de trabalho), mas da interação do corpo e aparato psíquico dos
trabalhadores com o contexto de trabalho. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).
ESTRESSE
Quem nunca ouviu falar sobre estresse? Quase impossível dizer que não. Essa palavra
está no vocabulário do cotidiano de milhares de pessoas. Frequentemente ouve-se
alguém dizer, e até mesmo dizemos: “estou estressado”! Mas você realmente sabe o
significado do termo estresse?
Pois bem, vejamos algumas definições de estresse:
Podemos perceber, com essas definições, que o estresse na verdade é uma tentativa de
adaptação do organismo humano a algo que ameace seu equilíbrio (homeostase). Por
essa razão, também é conhecido como síndrome geral de adaptação.
Agora que você já sabe o que significa estresse, deve estar se perguntando: de onde
surgiu o termo estresse?
Em 1936, o endocrinologista Hans Selye introduziu o termo estresse para designar uma
síndrome produzida por vários agentes nocivos (estressores). Sua ênfase era a resposta
não específica do organismo a situações que o enfraquecessem e o fizessem adoecer.
(LIPP, 1996).
O termo estresse tem origem na física e se refere ao desgaste provocado pela fricção
entre materiais. A fricção de um corpo com outro gera perda de energia.
Pode-se dizer que a mesma situação acontece com o ser humano. A energia vai sendo
“roubada” pelo esforço excessivo que algumas situações do cotidiano exigem.
Vamos deixar claro o seguinte: o estresse sempre existiu! Ele é uma reação do
organismo, quando esse entra na reação luta x fuga. Diante de uma situação considerada
adversa, como um perigo, por
exemplo, o organismo prepara-se para a ação, que pode ser escapar ou lutar.
Essa reação é denominada luta x fuga. Durante a reação luta x fuga, o organismo
humano sofre uma série de alterações neuroquímicas. O sistema nervoso simpático é
estimulado e provoca uma série de reações físicas, como: a mudança do padrão da
respiração, aumento dos batimentos cardíacos, tensão muscular, entre outros.
Esse reflexo, que é automático no nosso organismo quando se depara com o perigo, foi
necessário para a sobrevivência da espécie. E sem ele, teria sido impossível. Portanto,
uma quantidade de estresse é necessária à vida! Contribui para melhorar o desempenho
e aumentar a produtividade. Por essa razão, os pesquisadores dividiram o estresse em:
euestresse e diestresse.
O estresse está dividido em três fases: fase alerta, fase de resistência e fase de exaustão.
Fase de Alerta: inicia quando a pessoa se confronta com um estressor (perigo ou
mudança na rotina). Nessa fase, o organismo se prepara para um confronto, para a
preservação da própria vida. Isso é feito com descargas extras de hormônios na corrente
sanguínea.
Segundo Lipp (1996), o organismo produz adrenalina que dá ânimo, vigor e energia,
fazendo a pessoa produzir mais e ser mais criativa. Ela pode passar por períodos em que
dormir e descansar passa a não ter tanta importância. É a fase da produtividade, como se
a pessoa estivesse “de alerta”.
Fase de quase exaustão: persiste a situação de estresse. A pessoa ultrapassa seus limites
e continua a sensação de cansaço. Nessa fase podem surgir doenças que a pessoa tenha
predisposição a desenvolvê-las, como hipertensão arterial, gastrite, herpes simples e
diabetes.
Fase de exaustão: nessa fase, a pessoa esgota sua capacidade de adaptação. O organismo
encontra-se extenuado pelo excesso de atividades e pelo alto consumo de energia. A
energia mental fica reduzida e a produtividade e a capacidade de trabalho ficam muito
prejudicadas. Esgotam-se as estratégias para lidar com o evento estressor e é possível
surgir uma série de doenças crônicas. A qualidade de vida sofre danos.
O estresse pode ser causado por muitas situações diárias, reais ou imaginárias. Sabemos
que existem algumas situações que exigem grandes esforços adaptativos por parte das
pessoas, tais como: a morte de uma pessoa querida, dificuldades financeiras, doenças
graves, entre outros. Outras situações que podem ser consideradas mais amenas,
entretanto acontecem com maior frequência,
também exigem adaptação e, muitas vezes, acarretam desgaste.
Qualquer tipo de mudança na vida de uma pessoa pode causar estresse, assim como
perdas, violência, agressões, medos, traumas físicos e psíquicos, ambientes
inadequados, isolamento social e solidão, conflitos interpessoais, entre outros.
Podemos dividir as causas do estresse em fatores internos e fatores externos. Os fatores
externos são considerados aspectos do contexto ambiental no qual a pessoa está
inserida, tais como: novo emprego, divórcio, casamento, relacionamentos, condições de
trabalho, trânsito, engarrafamentos, poluição, violência urbana, violência doméstica.
Segundo Lipp e Malagris (1995, p. 280), os estímulos internos são: “tudo aquilo que faz
parte do mundo interno, das cognições do indivíduo, seu modo de ver o mundo, seu
nível de assertividade, suas crenças, seus valores, suas características pessoais, seu
padrão de comportamento, suas vulnerabilidades, sua ansiedade e seu esquema de
reação à vida”.
Os fatores internos são aqueles que dizem respeito à pessoa, como suas crenças e
valores, tipo de personalidade, modo de encarar a vida. Alguns autores (LAZARUS;
FOLKMAN, 1984; STRAUB, 2005) afirmam que é a interpretação inadequada dada
aos eventos que se torna um dos principais fatores contribuintes para o desenvolvimento
do estresse excessivo.
Para ilustrar a situação, apresentam-se os dados de uma pesquisa que avaliou 100
pessoas que procuravam tratamento para estresse. Nessa, verificouse que 65% dessas
pessoas tinham a crença de que precisavam ser absolutamente competentes, inteligentes
e merecedores de todo respeito; 51% consideravam que deviam ter absoluto controle
sobre as coisas. (SARDÁ JR et al. , 2004).
SÍNDROME DE BURNOUT
A síndrome é definida por Maslach e Jackson (1981) como uma reação à tensão
emocional crônica gerada a partir do contato direto e excessivo com outros seres
humanos. A Síndrome de Burnout envolve três componentes, segundo Codo e Vasquez-
Meneses (2006):
● Exaustão emocional – situação em que os trabalhadores sentem que não podem dar
mais de si mesmos a nível afetivo. Percebem esgotada a energia e os recursos
emocionais próprios, devido ao contato diário com os problemas.
● Despersonalização – desenvolvimento de sentimentos e atitudes negativas e de
cinismo às pessoas destinatárias do trabalho (usuário/clientes) – endurecimento afetivo,
“coisificação” da relação.
Psicossomáticos e Comportamentais
Fadiga crônica.
Fortes dores de cabeça.
Problemas de sono.
Perda de peso.
Hipertensão.
Dores musculares.
Irregularidades menstruais (nas mulheres).
Absenteísmo.
Abuso de drogas.
Conduta violenta.
Autodano (suicídio).
Emocionais e Defensivos
Distanciamento afetivo.
Irritabilidade.
Receios.
Incapacidade de concentração.
Baixa autoestima.
Desejo de abandonar o trabalho.
Negação das emoções.
Atenção seletiva.
Ironia.
Racionalização.
Deslocamento de afetos.
É importante ressaltar que nem todos esses sintomas estão necessariamente presentes
em todos os casos, pois essa configuração dependerá de fatores individuais, fatores
ambientais e o estágio em que o indivíduo se encontra no processo de desenvolvimento
da Síndrome de Burnout.
Moreno e Oliver (1993 apud MALLAR; CAPITÃO, 2004, p. 20) afirmam que:
[...] os mais afetados por esta síndrome são, sobretudo, os profissionais mais iludidos, os
mais esperançosos, aqueles cujas expectativas são mais altas, e, às quais a realidade vem
restringir, vem frustrar. Assim, como consequência, o profissional acaba por substituir
uma atitude de dedicação e compromisso, de crença em si mesmo, por uma atitude
apática e desinteressada.
Vários autores (WISNIEWSKI et al., 1997; REINHOLD, 2007) concordam que alguns
fatores seriam responsáveis pelo desenvolvimento da Síndrome de Burnout, tais como:
fatores internos ou pessoais, fatores externos e fatores psicológicos e comportamentais.
Fatores externos:
Jornada de trabalho excessiva.
Excesso de burocracia.
Indisciplina.
Falta de tempo livre na escola para interagir com colegas.
Falta de reconhecimento pelo bom trabalho.
Elevadas expectativas dos superiores.
Tédio decorrente de tarefas repetitivas.
Falta de autonomia.
Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) é uma terminologia que tem sido largamente
difundida nos últimos anos, inclusive no Brasil. Como incorpora uma imprecisão
conceitual, vem dando margem a uma série de práticas nela contidas que ora
aproximam-se da qualidade de processo e de produto, ora com esta se confundem. O
conceito, através dos programas de qualidade total, vem impregnando propostas de
práticas empresariais (Rodrigues, 1991).
Observa-se, assim, que a QVT dialoga com noções como motivação, satisfação, saúde-
segurança no trabalho, envolvendo discussões mais recentes sobre novas formas de
organização do trabalho e novas tecnologias (Sato, 1999).
Surgida na esteira da cada vez maior mobilização dos trabalhadores europeus pela
ampliação de seus direitos no trabalho, que ocorre no final dos anos 60 e início dos 70, a
proposta do PIACT incorpora tais demandas (Parmegianni, 1986). Reflexo disso, na
década de 1980, consolida-se uma tendência que baseia a QVT na maior participação do
trabalhador na empresa, na perspectiva de tornar o trabalho mais humanizado. Agora os
trabalhadores são vistos como sujeitos, estando sua realização calcada no
desenvolvimento e aprofundamento de suas potencialidades.
Assim, busca-se superar a etapa da prevenção dos acidentes e doenças tidos como
diretamente relacionados ao trabalho, para avançar na discussão dos agravos
relacionados ao trabalho. Conforme proposição do National Institute of Occupational
Safety and Health (NIOSH), passam a incorporar grupos de doenças e acidentes que
também ocorrem na população geral, mas que em determinadas categorias de
trabalhadores adquirem um perfil patológico diferenciado
O conceito de saúde do trabalho teve início no século XIX, após a primeira revolução
industrial na Inglaterra. Com o início de uma produção acelerada e que exigia horas de
trabalho exaustivo de uma mão de obra com condições de vida precária, os
trabalhadores passaram a ter problemas de saúde, que além de prejudicar a sociedade
como um todo, também prejudicava a produção dos empresários. Foi então que os
donos de fábrica e o governo notaram a necessidade de envolver a comunidade médica
no processo. Assim, teve início a Saúde do Trabalho.
Ao longo dos anos, esses conceitos foram sendo atualizados e aprimorados para que se
adequassem aos novos postos de trabalho e funções que foram surgindo nos últimos 60
anos. Lembremos que a participação da indústria na economia brasileira e mundial foi
dando lugar à prestação de serviços. Atualmente, a Saúde do Trabalho e a Saúde
Ocupacional são inseparáveis e complementares. Muitos especialistas da área falam do
termo “Qualidade de Vida do Trabalhador”, que envolve o conceito de preservação da
saúde dentro e fora de seu trabalho.
Os benefícios são óbvios. Garantir que a integridade física e mental do funcionário será
mantida, faz com o funcionário fique motivado a trabalhar, sendo capaz de exercer sua
função com todo seu potencial, aumentando, assim, sua produtividade. Para se ter uma
ideia do ganho, segundo a OMS, a cada dólar que a empresa investe em cuidados a
saúde do trabalhador, ele terá um retorno de 4 dólares em termos de melhora de
produtividade. Fica claro que o cuidado com a saúde do trabalhador é algo benéfico não
só para ele, mas também para o empregador.
A compreensão da relação entre trabalho e Saúde Mental tem sido, há várias décadas,
objeto de estudo de pesquisadores das áreas de psicologia, psiquiatria, antropologia,
sociologia, administração, entre outros. Essas pesquisas tiveram início nos anos 50 com
o estudo de Lê Guillant (1954) e Sivadon (1952, 1957) sobre as afecções mentais que
poderiam ser ocasionadas pelo trabalho. Na década de 1980, Christophe Dejours,
psiquiatra francês, introduziu uma nova teoria sobre a relação entre trabalho e o
sofrimento psíquico. Pesquisas que buscavam encontrar doenças mentais caracterizadas
em operários semiqualificados evidenciaram não doenças mentais clássicas, mas
fragilizações que favoreciam o surgimento de doenças do corpo. Além disso,
constataram-se comportamentos estranhos, paradoxais (estratégias defensivas) e
consumo de bebidas alcoólicas (Dejours, 1992). Esse novo modelo teórico passou a ser
chamado de "Psicodinâmica do Trabalho", uma vez que pretendia estudar as dinâmicas
da relação do sujeito com a organização do trabalho que podem gerar fragilizações
mentais. Tal modelo recusa as análises baseadas na previsão de causas de doenças a
partir de determinadas ocupações.
Para além das condições de trabalho, as pesquisas mostraram que pressões eram
decorrentes da organização do trabalho (divisão das tarefas, repetição, cadência,
hierarquia, comando, controle). Para Dejours (1992), as condições de trabalho têm
como alvo o corpo, enquanto que a organização do trabalho atinge o funcionamento
psíquico.