Custas de Parte - Custas Processuais
Custas de Parte - Custas Processuais
Custas de Parte - Custas Processuais
2018/2019
N.º 13330
REGIME PÓS-LABORAL
1. O QUE SÃO CUSTAS DE PARTE?
Para a determinação das custas de parte deve tomar-se em consideração não só as taxas
de justiça que ambas as partes tenham suportado ao longo do litígio, mas também as taxas de
justiça relativas a procedimentos ou incidentes que tenham sido desencadeados no âmbito
global do litígio.
A este propósito, até se levanta um problema curioso: imaginemos que A inicia um
determinado processo pela via da interposição prévia de um procedimento cautelar, o qual virá
a ser apenso à ação principal e que A decai neste, mas acaba por obter total ganho de causa na
ação principal. Será que nas custas de parte finais deverão incluir-se as taxas de justiça
suportadas pelas partes no decurso da providência cautelar, quando é certo que a parte
vencedora, apesar de o ser, ter decaído no procedimento cautelar?
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A resposta parece ser positiva: o litígio, com efeito, fica terminado com a decisão judicial
final de quem seja parte definitivamente vencida e de quem seja parte definitivamente
vencedora, sendo irrelevante que esta última tenha decaído no âmbito de um qualquer
procedimento ou incidente, decorrendo esta perspetiva da circunstância do art.º 26º/4 do RCP
de todo não distinguir entre procedimentos e incidentes com ou sem ganho de causa.
As custas de parte vêm regulamentadas nos arts. 25º e 26º do RCP, havendo também
que ter em atenção o articulado da Portaria Nº. 419-A/2009, de 17 de Abril. E, naturalmente, as
disposições do CPC que se lhe referem, às custas de parte.
O REGULAMENTO DAS CUSTAS PROCESSUAIS foi aprovado pelo Decreto-Lei n.º
34/2008, de 26-02, com a Declaração de Retificação n.º 22/2008, de 24-04, alterado por: Lei n.º
43/2008, de 27-08, Decreto-Lei n.º 181/2008 de 28-08, Lei n.º 64-A/2008 de 31-12, Lei n.º 3-
B/2010 de 28.04, Decreto-Lei n.º 52/2011, de 13-04, Lei n.º 7/2012 de 13-02, Lei n.º 66-B/2012
de 31-12, DL n.º 126/2013 de 30-08, Lei n.º 72/2014, de 02.09, DL n.º 86/2018, de 29-10 e, mais
recentemente, Lei n.º 27/2019, de 28-03.
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2.2. INTERPELAÇÃO PARA O PAGAMENTO DAS CUSTAS DE PARTE
Para haver o efetivo pagamento, a parte que tenha direito às custas de parte terá de
assegurar a interpelação da parte sobre que pertença a obrigação de as pagar. Para tanto,
deverá, a parte credora, produzir uma nota discriminativa e justificativa, onde sejam
consignadas todas as despesas a serem alvo de reembolso, remetendo ao tribunal da causa,
onde ficará a mesma inserida nos autos; e naturalmente também à parte vencida: para que esta
então cumpra o seu pagamento, cumprindo a obrigação que sobre si tenha passado a pertencer
desde o momento do proferimento da sentença condenatória em custas e custas de parte; e
ainda ao agente de execução – arts. 25º/1 e 26º/3 do RCP.
Esta interpelação é absolutamente necessária, uma vez que, se a mesma não for feita
no prazo legal, isso determina a caducidade do direito de haver um tal reembolso: terá havido
uma condenação no pagamento das custas, e também das custas de parte; esta decisão
condenatória determina o nascimento da obrigação de pagamento; mas, para que uma tal
obrigação se vença, tem a mesma de ser imposta pelo credor ao devedor através da interpelação
para pagamento, a qual se contém na nota discriminativa e justificativa.
O art.º 25º/1 do RCP confirma a interpelação para pagamento deve ser realizada dentro
do prazo de dez dias a contar do momento em que se verifique o trânsito em julgado da decisão
condenatória das custas, ou do momento em que se verifique a notificação de que foi paga a
totalidade do pagamento ou do produto da penhora de bens. O mesmo artigo acrescenta que a
esta nota discriminativa e justificativa pode ser retificada no prazo de dez dias, após a notificação
da conta de custas.
Observada a interpelação pela parte vencedora à parte vencida para que esta pague as
custas de parte, parece conveniente que se garanta a junção aos autos de cópia dessa mesma
notificação e do comprovativo de que a mesma se tenha verificado. E isto é assim na exata
medida em que, acaso haja o incumprimento da obrigação em consideração pela parte vencida
e acaso, por isso, se torne necessário avançar com um procedimento executivo, então tudo fica
simplificado. É importante que a notificação para pagamento das custas de parte abranja em si
a liquidação de tal obrigação. E apenas assim, de resto, será válida essa notificação.
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O art.º 31º/1 da Portaria Nº. 419-A/2009, de 17 de abril evidencia ainda: "as partes que
tenham direito a custas de parte devem enviar para o tribunal e para a parte vencida a respetiva
nota discriminativa e justificativa...".
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Porém, qual o prazo para o cumprimento desta obrigação de pagamento das custas de
parte?
A solução para esta questão não consta expressamente do RCP, pois em parte alguma
deste diploma se prescreve em que prazo é que o responsável pelo pagamento das custas de
parte deve de as pagar, ou seja, qual é o momento a partir do qual se verifica uma situação
moratória no decurso de um eventual não pagamento oportuno das mesmas.
Contudo, a propósito das custas judiciais propriamente ditas, estabelece-se no art.º
31º/1 do RCP que "a conta é sempre notificada..., e à parte responsável pelo pagamento, para
que, no prazo de 10 dias,..., efetuem o pagamento". Por seu turno, de alguma forma
regulamentando esta disposição, estabelece o art.º 28º/1 da Portaria Nº. 419-A/09 de 17 de
abril que "o prazo de pagamento voluntário da conta é de 10 dias".
É adequado que às custas de parte se aplique o mencionado critério, ou seja, dando-se
como assente que, assegurada que seja a interpelação para o pagamento das custas de parte,
este pagamento deve ser feito no prazo de dez dias e, não o sendo, gerar-se-á uma normal
situação moratória.
Aliás, no mesmo sentido sempre também se poderá invocar o disposto no art.º 149º/1
do CPC, disposição esta segundo a qual "é de dez dias o prazo para as partes requererem
qualquer ato ou diligência, arguirem nulidade, deduzirem incidentes ou exercerem qualquer
outro poder processual", isto quando se verifique que não há uma qualquer disposição de
natureza especial que disponha distintamente em termos de consagração de um prazo próprio.
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sua notificação, sendo ónus do reclamante assegurar a necessária fundamentação da sua
reivindicação.
O juiz, destinatário da reclamação, deverá, por seu turno, resolver a mesma em o prazo
também de dez dias, sendo a sua decisão naturalmente enviada às partes e para que estas a
obedeçam nos termos em que devem ser cumpridas quaisquer decisões judiciais.
É condição de apreciação da reclamação o depósito, à ordem do tribunal, da totalidade
do valor da nota das custas de parte, isto é, este depósito deve acontecer previamente à
reclamação e ser comprovado concomitantemente com a apresentação do respetivo
instrumento.
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Tendo tal acontecido através de Portaria, estamos perante uma inconstitucionalidade
orgânica, por violação do princípio da competência reservada da Assembleia da República,
concluem os magistrados.
O não pagamento voluntário dentro do prazo das custas, multas ou outras quantias
contadas possibilita ao Tribunal, pelo menos até à decisão definitiva de eventual reclamação,
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reter bens, direitos ou dinheiro que esteja na sua posse ou à sua ordem que provenha de caução
depositada pelo responsável pelas custas; de arresto, consignação em depósito ou mecanismo
similar, relativos a bens ou quantias de que seja titular o responsável pelas custas; da
consignação, venda ou remição relativa a bens penhorados que fossem propriedade do
responsável pelas custas e deva ser cedido ao responsável pelas custas.
O não pagamento voluntário no respetivo prazo das custas, multas ou outras quantias
contadas possibilita também ao Tribunal, após a decisão definitiva de eventual reclamação,
pagar-se diretamente de quantias depositadas à ordem do Tribunal, pela seguinte ordem de
prioridade:
a) Taxa de justiça;
b) Outros créditos do Instituto de Gestão Financeira e das Infraestruturas da Justiça, I.P.;
c) Créditos do Estado;
d) Reembolsos a outras entidades por força de colaboração ou intervenção no processo,
incluindo os honorários e despesas suportadas pelo agente de execução, que não seja oficial de
justiça.
O não pagamento voluntário das custas, multas não penais e outras quantias contadas
e a impossibilidade de cobrança direta por quantias depositadas à ordem do Tribunal faz com
que, existindo bens penhoráveis previsivelmente suficientes do devedor, a Administração
Tributária promova em execução fiscal a cobrança coerciva. Se, nas mesmas circunstâncias
expostas, os devedores estiverem sediados no estrangeiro, cabe ao Ministério Público a
promoção da execução através de obtenção de título executivo europeu.
O art. 35º/5 RCP indica que a execução por custas de parte segue as regras do artigo
626.º do CPC.
Contudo, não seria necessária esta remição. Desde logo temos uma decisão judicial
condenatória também no pagamento das custas de parte. E tal decisão judicial é naturalmente
integrativa de um normal título executivo, como decorre do disposto no artº. 703º/1, a) do CPC.
Pelo que o que se impõe fazer é atuar, em termos executivos, esse mesmo título executivo que
tem a exata natureza de "sentença condenatória".
Para o efeito necessário é também que, como visto, tenha tido lugar a tempestiva
interpelação para o pagamento dessas mesmas custas de parte e que isso se tenha verificado
com integral cumprimento das necessárias formalidades.
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Assim, munida que seja do aludido título executivo e com a liquidação feita, a parte que
seja credora das custas de parte pode instaurar um vulgar procedimento executivo contra a
parte delas devedora e isto para assim haver a natural tutela do seu direito de crédito.