Organização e Gestão Do Trabalho Social

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ORGANIZAÇÃO E GESTÃO

DO TRABALHO SOCIAL

Autoria: Giovani Mendonça Lunardi

1ª Edição
Indaial - 2020

UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2020


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

L961o

Lunardi, Giovani Mendonça

Organização e gestão do trabalho social. / Giovani Mendonça


Lunardi. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.

146 p.; il.

ISBN 978-65-5646-096-3
ISBN Digital 978-65-5646-097-0
1. Trabalho social. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 330.9033

Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
O MUNDO DO TRABALHO E A SOCIEDADE EM REDE................7

CAPÍTULO 2
O TRABALHO SOCIAL COMO FORMA DE TRANSFORMAR O
MUNDO...........................................................................................65

CAPÍTULO 3
PLANEJAMENTO, ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DO TRABALHO
SOCIAL...........................................................................................95
APRESENTAÇÃO
Caro acadêmico.

Bem-vindo à disciplina de Organização e gestão do trabalho social. Nesta


disciplina, estudaremos juntos as teorias e as práticas de gestão e de organização
do trabalho, as formas de planejamento, organização e gestão do trabalho social
e, por fim, os modelos de organização e gestão voltados ao trabalho social.

No Capítulo 1, mais especificamente, investigaremos o mundo do trabalho e


a sociedade em rede, mas para cumprir esta missão, inicialmente examinaremos
as teorias sociais relacionadas à sociedade e o conceito de trabalho. Em seguida,
analisaremos as mutações na gestão e organização do trabalho ao longo da
Revolução Industrial até chegarmos à Revolução 4.0. Por fim, compreenderemos
a formação do terceiro setor a partir dos movimentos sociais e suas implicações
na realização do trabalho social.

Em seguida, no Capítulo 2, abordaremos sobre as tecnologias inclusivas e


a inovação social. Nesse viés, investigaremos o impacto das tecnologias sociais
para o desenvolvimento sustentável e na inclusão social, e as diferenças entre a
inovação tecnológica e a inovação social. Além desses temas, compreenderemos
o que é a economia solidária e a economia social.

No Capítulo 3, estudaremos sobre políticas públicas sociais e projetos sociais.


Para isso, compreenderemos o que é o estado capitalista e as políticas sociais, o
ciclo de vida e gestão de projetos, e conheceremos os projetos sociais no Brasil.
Além desses itens, analisaremos a importância do planejamento, organização e
gestão do trabalho social, identificando os níveis do planejamento estratégico, as
habilidades do profissional gestor e a conceituação do trabalho social. Finalizando
os estudos, investigaremos como ocorre a gestão de indicadores em trabalho
social, e alguns modelos de indicadores e ferramentas que contribuem nessa
análise.

Esperamos que com este conteúdo você consiga perceber a importância da


Organização e gestão do trabalho social para nossa sociedade.

Bons estudos!
C APÍTULO 1
O Mundo Do Trabalho E A Sociedade
Em Rede

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Compreender os principais conceitos relacionados ao mundo do trabalho


apresentados pelas teorias sociais.
• Identificar as principais correntes teóricas sociais relacionadas ao mundo do
trabalho.
• Relacionar as transformações ocorridas na sociedade que impactam no
trabalho atual.
• Perceber as mudanças nos setores da economia relacionadas ao mundo do
trabalho.
Organização e gestão do trabalho social

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Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Neste capítulo, compreenderemos os principais conceitos relacionados
ao mundo do trabalho apresentados pelas teorias sociais e sua relação com o
pensamento econômico de nossa sociedade. Em seguida, analisaremos as
mutações na gestão e organização do Trabalho ao longo da Revolução Industrial
até chegarmos à Revolução 4.0.

Para isso, abordaremos alguns modelos elaborados para aumentar a


produtividade, como os modelos Taylorista/Fordista, o modelo Japonês e,
com o advento tecnológico, a automação e a flexibilização das organizações
empresariais. Com relação ao sistema econômico, compreenderemos sobre a
Sociedade em Rede.

Por fim, compreenderemos como ocorreu a formação do terceiro setor,


que congrega interesses sociais, sem fins lucrativos, filantrópicos e voluntários,
denominado genericamente pelo termo a partir dos movimentos sociais e suas
implicações na realização do trabalho social.

2 TEORIAS SOCIAIS: SOCIEDADE E


TRABALHO
O trabalho é uma categoria histórica e está em constante transformação
(MARX; ENGELS, 1987). É importante começar o nosso estudo com essa
afirmação para que você perceba que o trabalho está longe de ser uma atividade
humana imutável. No transcorrer da história da humanidade, diferentes sociedades
se organizaram de diferentes formas para dividir as tarefas, transformar a
natureza e produzir suas condições materiais de sobrevivência. Para analisar a
categoria trabalho e sua relação com a sociedade e chegarmos ao conceito de
trabalho social, que é o que nos interessa, estudaremos as teorias sociais que se
debruçam sobre estes temas.

2.1 TEORIAS SOCIAIS E O


PENSAMENTO ECONÔMICO
Convidamos você a trilhar os caminhos das teorias sociais que explicam
o pensamento econômico da nossa sociedade para entendermos as formas de
organização e gestão do trabalho social. Nessa trajetória, você identificará como

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Organização e gestão do trabalho social

os diferentes modelos econômicos influenciaram os rumos das sociedades e dos


países ao longo da história da sociedade ocidental, bem como conhecerá como
se processa a formulação e a implementação de políticas econômicas e os seus
principais conceitos.

A atividade econômica na sociedade sempre foi uma preocupação dos


diferentes povos do mundo. Em todas as épocas da história da humanidade, o
ser humano tem se preocupado em resolver, de maneira eficiente, os problemas
relativos à questão econômica (ROSSETI, 1994).

Veja no Quadro 1 a seguir, os diferentes períodos históricos da economia na


sociedade ocidental, que estudaremos nos próximos tópicos.

QUADRO 1 – PERÍODOS HISTÓRICOS DA SOCIEDADE OCIDENTAL


Período Idade Antiga Idade Média Idade Moderna Idade Contempo-
Histórico 4.000 a.C.- 476 d.C.-1453 1453 d.C.- rânea
476 d.C. d.C. 1789 d.C. 1789 d.C.-2020
d.C.
Sistema Escravidão Feudalismo Mercantilismo. Capitalismo global.
econômico Capitalismo Sociedade do conheci-
(Revolução Indus- mento.
trial) Sociedade em Rede.

Tipo de Mitologia/ Teologia Ciência Tecnologias.


conhecimento Filosofia Tecnologias da Informa-
ção e Comunicação.
Tipos de Aristocracia/ Nobres/Clero/ Burguesia/ Classe Rica/Média/
classe social/ Escravidão Servos Proletariado Pobres.
trabalho Trabalho flexível.
Capital cognitivo/inte-
lectual.
Terceiro Setor/movi-
mentos sociais: Traba-
lho Social/Voluntarismo,
Empreendedorismo,
Cooperativismo,
Associativismo.
FONTE: O autor

O estudo sistemático da Economia, no entanto, é recente, data do século


XVII, em meados do ano de 1615, que marcou o início do pensamento econômico,
quando o mercantilista francês Antoine de Montchrétien (1575-1621) publicou o
“Tratado de Economia Política”.
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Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

FIGURA 1 – TRATADO DE ECONOMIA POLÍTICA, 1615

FONTE: <http://farolpolitico.blogspot.com/2007/10/montchrestien-
antoine-1575-1621.html>. Acesso em: 23 jun. 2020.

Há autores, conforme Lisboa (2018), que atribuem o nascimento dessa


ciência a Aristóteles (século V a.C.), na Grécia Antiga.

FIGURA 2 – ESCULTURA DE ARISTÓTELES

FONTE: <https://www.infoescola.com/filosofia/aristoteles/>. Acesso em: 5 jul. 2020.

O filósofo Aristóteles é considerado por muitos estudiosos o primeiro analista


econômico. Na sua época, a economia era considerada como a ciência da
administração da comunidade doméstica.

A palavra “economia” deriva do grego oikonomia, em que oyko significa casa


e nomos, lei, o que significa lei da casa. Da mesma forma, a palavra Ecologia,
que significa “Ciência da Casa” (mundo, natureza, planeta Terra). A economia
referia-se, naquela época, ao campo comunal da atividade econômica, ou seja, às

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Organização e gestão do trabalho social

mais simples funções desse setor, à produção e à distribuição. Para Aristóteles, a


Economia era a ciência do abastecimento, a ciência que trata da arte da aquisição.

Com o aparecimento de organizações mais complexas, a partir do


Renascimento (transição da Idade Média para a Idade Moderna), as questões
econômicas passaram a adquirir maior importância. Naquele período, começou a
discussão acerca dos sistemas de propriedade, assim como acerca da servidão,
da arrecadação de impostos, da organização das corporações, ou seja, da forma
como se dava a exploração pré-capitalista das fazendas, além do comércio inter-
regional, a cunhagem e o emprego de moedas.

Pesquise o que foi o Renascimento.


Sugestão de site: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/
renascimento.htm.

A seguir, conforme a Figura 3, você estudará algumas correntes do


pensamento econômico ligadas a diferentes formas de acúmulo de riqueza em
diferentes contextos históricos. Assim, você entenderá a trajetória histórica da
ciência econômica até os seus desdobramentos nos dias atuais e chegaremos,
em seguida, ao conceito de trabalho.

FIGURA 3 – TEORIAS ECONÔMICAS

.)

FONTE: Adaptada de Oliveira (2020)


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Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

2.2 A CORRENTE MERCANTILISTA


Vamos começar com a corrente mercantilista, que impulsionou uma primeira
análise mais sistemática dos sistemas econômicos, pois surgiram elementos novos
para essas relações. O mercantilismo é uma atividade econômica orientada para
a acumulação de metais preciosos e especiarias aliado à necessidade de novos
mercados e novas fontes de matérias-primas, que estabeleceram as primeiras
relações coloniais da Europa com a África e com a América (ROSSETTI, 1994). A
figura a seguir é uma pintura de Claude Lorrain, de 1638, que representa um porto
de mar francês, no momento fundamental do mercantilismo.

FIGURA 4 – MERCANTILISMO – CLAUDE LORRAIN, 1638

FONTE: <https://www.meisterdrucke.pt/impressoes-artisticas-sofisticadas/Claude-
Lorrain/26106/Porto-com-a-Villa-Medici.html>. Acesso em: 23 jun. 2020.

Essas relações determinavam que cada colônia só poderia comercializar


com a metrópole, o que constituía um sistema de dependência e de exploração.
Foi naquele momento que os Estados Nacionais começaram a se organizar e se
tornaram os principais controladores da atividade econômica. Por volta do século
XVI, surgiram os pensadores mercantilistas, que desenvolvem seus estudos
centrando-se na administração de bens e rendas do Estado.

A partir da elaboração de novas concepções ideológicas e filosóficas,


os mercantilistas ampliaram o campo de ação da Economia, na tentativa de
desvinculá-la do pensamento medieval. Defendiam que o interesse do Estado
estava acima do interesse individual. Esse salto do pensamento econômico
ampliou-se no século XVIII, quando esse mesmo pensamento definitivamente
inaugurou sua fase científica.

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Organização e gestão do trabalho social

Na época do Iluminismo, os pensadores econômicos começaram a


formular os princípios fundamentais da Economia. As obras mais importantes a
inaugurar aquele momento histórico foram: Tableau économique, do fisiocrata
François Quesnay e “Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza
das nações”, de Adam Smith – principal representante da economia clássica,
juntamente a David Ricardo, Thomas Malthus, Jean-Baptiste Say e John Stuart
Mill.

A partir das obras desses dois pensadores, François Quesnay e Adam Smith,
deu-se a formação de duas importantes escolas econômicas, a Fisiocracia, na
França, e a Escola Clássica, na Inglaterra, as quais você estudará a seguir. A
primeira escola, Fisiocracia, dava importância para a propriedade da terra, e a
segunda, Escola Clássica, impulsionava o Liberalismo, que se tornou a principal
escola do sistema capitalista.

2.3 A ESCOLA FISIOCRATA


A Fisiocracia, ou Escola Fisiocrata, foi a primeira corrente do pensamento
econômico. Ela surgiu, como já referimos anteriormente, na França, em torno
de 1750, na época em que aquele país era fundamentalmente uma sociedade
agrícola. Os fisiocratas afirmavam que a riqueza de uma nação não estava na
acumulação de metais preciosos, como pregavam os mercantilistas, mas, sim,
na produção agrícola, ou seja, na terra, única atividade que, partindo de uma
dada quantidade de objetos, obtinha sempre, ao seu final, uma quantidade ainda
maior, gerando riqueza. Os fisiocratas também afirmavam que a sociedade era
governada por leis naturais.

FIGURA 5 – FRANÇOIS QUESNAY: UM DOS PRINCIPAIS


ECONOMISTAS FISIOCRATAS DO SÉCULO XVIII

FONTE: <https://www.suapesquisa.com/economia/francois_
quesnay.htm>. Acesso em: 23 jun. 2020.

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Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

Para eles, a sociedade só funcionaria bem quando o homem não interviesse


nas leis naturais. Dessa maneira, criticaram o Mercantilismo, principalmente no
que se referia à intervenção estatal. Os fisiocratas eram contra o capitalismo
industrial, já que, para eles, a riqueza estava na propriedade da terra, porém,
com a invenção da máquina, que foi introduzida na produção a partir da
Revolução Industrial, foi necessário surgir uma nova corrente de pensamento que
justificasse e defendesse o modelo industrial. Surgiram, então, a Escola Clássica
e o Liberalismo (os quais você estudará a seguir), sendo tomados como suporte
científico para essa nova reestruturação do capitalismo.

2.4 ADAM SMITH E A ESCOLA


CLÁSSICA LIBERAL
A Escola Fisiocrata fundamentou-se na investigação de leis naturais e na
defesa do modelo agrícola. A Escola Clássica de economia diferenciou-se daquele
Liberalismo porque priorizou o sistema capitalista industrial e o comércio como
elementos legítimos para a formação da riqueza. O principal expoente da corrente
clássica foi Adam Smith (1723-1790), um dos mais importantes pensadores de
toda a história do pensamento econômico. Com o livro “A riqueza das nações”
(1776), obra/tese do pensamento clássico, ele construiu uma filosofia social que
fundamentou o Liberalismo do século XVIII.

FIGURA 6 – ADAM SMITH

FONTE: <https://www.escritas.org/pt/estante/adam-smith>. Acesso em: 23 jun. 2020.

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Organização e gestão do trabalho social

Estabeleceu-se princípios para a análise do valor, da divisão do trabalho, dos


lucros, dos juros, das rendas da terra, e desenvolveu teorias sobre a distribuição,
o crescimento econômico, a interferência do Estado, a formação e a aplicação do
capital. Adam Smith não se preocupou em proporcionar ao seu país, a Inglaterra,
maior poder militar e nem em manter a nobreza, como pensavam os mercantilistas.
Sua preocupação foi com a elevação do nível de vida de toda a população.

Nesse sentido, defendia o individualismo e propunha o Liberalismo


econômico como modelo. Assim, essa escola opôs-se às ideias dos mercantilistas,
considerando que a riqueza e o poder das nações não deveriam limitar-se aos
estoques de metais preciosos. Esse pensamento ressaltou a liberdade individual
em todos os sentidos: liberdade de empresa, de comércio e o direito à propriedade
privada. Defendeu, também, a livre concorrência, ou seja, propunha que o Estado
não deveria intervir na economia, sendo que seu papel se restringiria a garantir
essa livre concorrência para a propriedade privada, criando as condições
materiais para isso ocorrer, por exemplo, através da construção de portos e
estradas.

A livre concorrência defendida por essa corrente do pensamento econômico


garante aos capitalistas a liberdade de produzir o que quiserem, assim como
lhes assegura o arbítrio sobre a forma de distribuir e consumir o produto final,
mesmo que o produto final possa ser inútil. Na verdade, os produtores criam as
necessidades e, dessa maneira, vão ampliando seus lucros. No entanto, nessa
teia de interesses individuais, como o mercado consegue garantir a ordem social?
Para responder a essa questão, Adam Smith construiu a metáfora da “mão
invisível”.

De acordo com essa metáfora, a economia se autorregularia. O capitalista,


mesmo buscando seus interesses particulares, em última instância, e sem querer,
acabaria assegurando o interesse social. A “mão invisível”, portanto, é a livre
concorrência acontecendo. Mesmo quando surgem crises, o mercado se corrige
através do movimento de oferta e procura.

Essa visão da “mão invisível” foi questionada, pois a liberdade tão defendida
por essa escola só era facultada aos proprietários das fábricas e das máquinas.
Por essa razão, no século XIX, surgiram reações às escolas liberais, marcadas
principalmente pela escola socialista, cujos pensadores centrais foram Karl Marx
e Friedrich Engels.

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Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

Para saber mais sobre Adam Smith, acesse o site:


https://www.institutoliberal.org.br/blog/economia/o-legado-
de-adam-smith/.

2.5 KARL MARX E A ESCOLA


SOCIALISTA
O momento histórico que se vivia no final do século XVIII apontava para uma
séria crise do Liberalismo, quando o conjunto das leis que aquela escola pregava
dava sinais de desmoronamento à medida que aumentavam os problemas sociais.
Naquele período, devido à expansão do capitalismo industrial, surgiram, além
das crises de superprodução – que jogaram por terra as teses da Escola Liberal,
reforçando a existência de um ajustamento automático a partir da lei da oferta e
da procura – sérios problemas sociais, que se transformaram no centro do debate
das reformas sociais que a escola socialista propunha. Surgiu, assim, a principal
reação política e ideológica à Escola Clássica. Partindo da análise do valor, Marx
construiu uma sofisticada tese, demonstrando que as sociedades estão sujeitas a
uma constante transformação histórica (Materialismo Histórico-Dialético) e que
a escola clássica errou quando admitiu uma ordem natural no sistema capitalista.

FIGURA 7 – KARL MARX (1818-1883)

FONTE: <https://www.marxist.com/karl-marx-man-thinker-
and-revolutionary.htm>. Acesso em: 5 jul. 2020.

Na obra “O Capital”, Marx dedicou todos os seus esforços à análise da


economia capitalista, propondo, explicitamente, a eliminação da propriedade
privada dos meios de produção.

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Organização e gestão do trabalho social

FIGURA 8 – O CAPITAL, LIVRO 1, CAPA DA 1ª EDIÇÃO, 1867

FONTE: <https://www.dw.com/de/museum-des-kapitalismus-
%C3%B6ffnet-in-berlin/a-42661586>. Acesso em: 23 jun. 2020.

A partir do pensamento de Marx, desenvolveu-se, no século XX, após a


Revolução Russa (1917), uma nova ordem: a planificação econômica a partir
do Estado, modelo oposto às instituições clássicas do Liberalismo. Essa nova
ordem estabeleceu-se através de uma centralização aguda, na qual o Estado
teve a função principal da direção do sistema estabelecido. A socialização dos
serviços através do Estado, porém, mostrou seu fracasso nas últimas décadas do
século XX, quando a URSS foi extinta, e as economias que faziam parte do bloco
hegemônico por ela influenciado entraram em crise (queda do muro de Berlim).
Paralelamente às ideias socialistas e contrapondo-se a elas, foi construída, por
Alfred Marshall, a Escola Neoclássica, para justificar o sistema capitalista como
um sistema justo, que estudaremos a seguir.

Pesquise sobre a Revolução Russa, em 1917, e a queda do


Muro de Berlim, em 1989.
Sugestão de site: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/
revolucao-russa.htm.
Sugestão de site: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/
queda-muro-berlim.htm.

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Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

Assista ao filme sobre a queda do muro de Berlim em 1989:


“Adeus, Lênin”.
Sugestão de site: http://www.adorocinema.com/filmes/
filme-52715/.

2.6 ALFRED MARSHALL E A ESCOLA


NEOCLÁSSICA
Alfred Marshall, a partir da reelaboração da tradição clássica, à luz da
Escola Marginalista, desenvolveu a síntese neoclássica, na obra “Princípios de
Economia” (1890). O pensador demonstrou de que forma o livre funcionamento
das economias de mercado garantiria a eficiência da distribuição de recursos,
com a ajuda do mercado. Assim, surgiu a Escola Neoclássica, que retomou as
ideias dos economistas clássicos.

Afastando-se do Marxismo e reformulando o Liberalismo, os neoclássicos


apresentaram o sistema capitalista como um sistema baseado na harmonia
social. Para eles, não havia exploração nesse sistema, mas, sim, um equilibrado
jogo de agentes econômicos concorrendo entre si, uns com o capital e outros com
o trabalho.

Na medida em que o fator produtivo era pago, de acordo com a participação


de cada um no processo de produção, não havia exploração. Com relação às
concepções que fundamentaram a criação dessa escola, seus adeptos defendiam
que a economia se sustenta por si mesma, sem necessidade de intervenção
estatal. Segundo os neoclássicos, a intervenção do Estado é nociva, pois pode
levar o mercado ao desequilíbrio quando faz com que um dos fatores produtivos
passe a valer mais do que realmente vale.

Dessa maneira, o mercado assume um papel de orientador e disciplinador


da vida econômica. Nem sempre, porém, o mercado deu conta de equilibrar ou
resolver todas as crises pelas quais passou o modo de produção capitalista. Na
década de 1930, mais precisamente a quebra da bolsa americana em 1929, o
sistema capitalista entrou em profunda crise, expondo a fragilidade do sistema e
impondo a necessidade da intervenção estatal. Essa crise questionou o ideário da
Escola Neoclássica de que o mercado seria capaz de se regular por si mesmo.

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Organização e gestão do trabalho social

Pesquise sobre a crise da bolsa americana em 1929.


Sugestão de site: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/
historia/o-que-foi-a-crise-1929.htm.

2.7 KEYNES E A REVOLUÇÃO


KEYNESIANA
Com a quebra de muitas empresas privadas, a partir da crise de 1929, voltou
a ser cogitada a intervenção do Estado como saída para garantir a continuidade
do sistema capitalista. Para tanto, o Estado precisou comprar muitas empresas
que tinham falido. Através de gastos públicos, precisou assegurar a criação de
novos empregos, desenvolver programas de assistência social e impulsionar
políticas públicas para distribuir renda, com o objetivo de elevar o poder de
compra da população, para estimular a produção. Esse processo ficou conhecido
como “Estado de Bem-Estar Social” e ocorreu apenas nos países ricos.

O “Estado de Bem-estar Social” (do inglês, Welfare State) é uma perspectiva


de Estado para o campo social e econômico, em que a distribuição de renda
para a população, bem como a prestação de serviços públicos básicos é vista
como uma forma de combate às desigualdades sociais. Portanto, neste ponto de
vista, o Estado é o agente que promove e organiza a vida social e econômica,
proporcionando aos indivíduos bens e serviços essenciais durante toda a sua
vida.

Com efeito, esse modelo de gestão pública é típico em sistemas social-


democratas das sociedades ocidentais modernas e, atualmente, seus melhores
exemplos podem ser encontrados nas políticas públicas da Noruega, Dinamarca
e Suécia. Essa concepção de Estado baseia-se nas ideias de um dos mais
importantes economistas modernos, John Maynard Keynes.

A partir da obra intitulada “A teoria geral do emprego, do lucro e da moeda”


(1936), esse pensador estabeleceu os fundamentos de uma das mais importantes
escolas do pensamento econômico contemporâneo, o Keynesianismo, que foi
posto em prática principalmente nos países ricos, logo após o fim da Segunda
Guerra Mundial. As ideias centrais do Keynesianismo são a consideração de
que o princípio de mercado é insuficiente para regular sozinho os problemas do
emprego, das crises econômicas e do crescimento econômico.

20
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

Diante da possibilidade de uma influência socialista, o keynesianismo surgiu


como a solução para o problema pelo qual o sistema capitalista vinha passando.
A intervenção do Estado manteria a economia equilibrada. Caberia ao Estado
compensar a queda dos investimentos privados em períodos de depressão,
através de investimentos suplementares que recuperariam a economia, o nível de
renda e o emprego. No modelo keynesiano, o intervencionismo é moderado.

O Estado não é proprietário dos meios de produção, apenas destina recursos


para aumentar os meios de produção e a taxa de lucros, portanto, a política
econômica do governo deve complementar, e não substituir por completo, a
iniciativa privada. O Keynesianismo opõe-se ao Liberalismo, pondo em questão
o princípio de economia de mercado, considerando-o insuficiente para regular
sozinho os problemas do desemprego, das crises econômicas e do crescimento.
Lembra-se da “mão invisível” de Adam Smith? A partir da adoção do modelo
keynesiano houve um aumento considerável das despesas do Estado, o que
gerou problemas orçamentários, assim como o excesso de moedas circulando
provocou, muitas vezes, inflação.

O Keynesianismo influenciou a economia capitalista até o final da década


de 1970, a culminância de um período que ficou conhecido como “trinta anos
gloriosos”. Segundo Castells (2006a, p. 55), “o modelo Keynesiano de crescimento
capitalista, que levou prosperidade econômica sem precedentes e estabilidade
social à maior parte das economias de mercado durante quase três décadas após
a Segunda Guerra Mundial, atingiu as próprias limitações no início da década de
1970”. A partir desse período, o modelo entrou em crise, e o Neoliberalismo surgiu
como a nova possibilidade de reestruturação do sistema capitalista.

2.8 A CORRENTE NEOLIBERAL


Na década de 1970, emergiram as teses neoliberais, inspiradas nas obras
de economistas clássicos do século XIX, como A. Smith, D. Ricardo e T. Malthus,
retomando alguns aspectos das correntes neoclássicas. Entre os principais
autores do Neoliberalismo, encontramos Ludwig von Mises, Friedrich A. Hayek
e Milton Friedman. Afinal, o que é o Neoliberalismo do qual tanto ouvimos falar
atualmente? A corrente neoliberal interpreta a crise atual do capitalismo como
resultado da excessiva intervenção do Estado na economia e argumenta que a
empresa privada deve retomar as “rédeas” na condução desse processo. Para
os neoliberais, o Estado apenas perturba a ordem natural das leis de mercado,
defendendo a concepção de que o mercado é capaz de regular-se por si mesmo
(BLACKBURN, 1999).

21
Organização e gestão do trabalho social

As soluções propostas pelos neoliberais como saída para a crise


fundamentam-se na privatização e na liberalização da economia. Eles também
propõem a redução do Estado em alguns setores, como programas de seguridade
social, leis trabalhistas, controle de preços, subsídios e serviços essenciais
(energia, água, telefonia, entre outros). O principal objetivo da corrente neoliberal
é expandir ao máximo os lucros da empresa privada.

O Neoliberalismo seria também a expressão econômica da sociedade em


tempos de globalização. É a doutrina do capitalismo do século XXI, que pretende
reordenar a economia mundial. Esse modelo teórico representa as novas formas
de organização social e a reestruturação do capital mundial. Por essa razão,
ultrapassa o Liberalismo clássico, que era baseado na sociedade nacional.

O Neoliberalismo baseia-se no mercado mundial, no fluxo de capital,


na tecnologia e na flexibilização do trabalho, ou seja, na globalização e
nas tecnologias da informação e comunicação. Para os neoliberais, o mercado
é suficiente para resolver a maioria dos problemas, e a intervenção estatal
nunca deve substituí-lo. O Estado deve simplesmente intervir para proteger o
funcionamento do mercado e não para controlá-lo e organizá-lo, como pregava o
Keynesianismo no modelo do Welfare State.

Segundo Castells (2006a), as reestruturações econômicas propostas pelo


neoliberalismo, com enfoque no Estado mínimo, na flexibilização do trabalho e na
globalização econômica e social somente foram possíveis graças às inovações
propiciadas pelas tecnologias das informações e comunicação, as quais veremos
a seguir.

Podemos perceber que, nas últimas décadas, os países têm variado


constantemente seus modelos econômicos, dando mais ênfase para as
questões sociais (Keynesianismo, no modelo do Welfare State), ou tendendo
para a liberdade do mercado (Neoliberalismo). Independentemente da posição
econômica de cada país ou sociedade, dois aspectos fundamentais impactarão
no desenvolvimento econômico e social atual:

• Uma revolução tecnológica concentrada nas tecnologias da informação


e comunicação que começou a remodelar a base material da sociedade
em ritmo acelerado (que estudaremos a seguir) (CASTELLS, 2006a).
• Com a incapacidade do Estado Keynesiano ou do Estado Neoliberal em
dar conta de todos os problemas e questões sociais relacionados aos
direitos coletivos (mulheres, negros, povos indígenas, LGBTQI+A etc.),
direitos sociais (saúde, educação, segurança, trabalho etc.) e direitos
difusos (meio ambiente, água, paz etc.) surgirão novas organizações
e movimentos sociais que não são nem públicos e nem privados,

22
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

denominados de terceiro setor, para atendimento destas necessidades


coletivas e, muitas vezes, públicas.

Agora, para verificar o seu aprendizado, faça a atividade a seguir.

1 Você estudou, nessa seção, algumas correntes do pensamento


econômico ligadas a diferentes formas de acúmulo de riqueza em
diferentes contextos históricos. Relacione as colunas a seguir,
indicando a teoria econômica com sua respectiva definição:

( ) Propunha que o Estado não deveria intervir na economia,


(1) Fisiocrata sendo que seu papel se restringiria a garantir essa livre concor-
rência para a propriedade privada.
( ) Sustenta que as sociedades estão sujeitas a uma constante
(2) Clássica Liberal
transformação histórica (Materialismo Histórico-Dialético).
( ) Propõe a redução do Estado em alguns setores, como pro-
gramas de seguridade social, leis trabalhistas, controle de pre-
(3) Clássica Socialista
ços, subsídios e serviços essenciais (energia, água, telefonia,
entre outros).
( ) As ideias centrais são a consideração de que o princípio de
(4) Neoclássica mercado é insuficiente para regular sozinho os problemas do
emprego, das crises econômicas e do crescimento econômico.
( ) Defendia que a economia se sustenta por si mesma, sem
necessidade de intervenção estatal. A intervenção do Estado é
(5) Keynesiana nociva, pois pode levar o mercado ao desequilíbrio quando faz
com que um dos fatores produtivos passe a valer mais do que
realmente vale.
(6) Neoliberal ( ) Dava importância para a propriedade da terra.

Antes de estudar a revolução tecnológica e o terceiro setor, examinaremos, a


seguir, o conceito de trabalho para entender as suas transformações ao longo da
história até chegarmos ao conceito de trabalho social, que é o que nos interessa.

23
Organização e gestão do trabalho social

3 O CONCEITO DE TRABALHO
Segundo a etimologia, a palavra “trabalho” vem do latim vulgar tripaliari, que
quer dizer martirizar, sacrificar, torturar com o tripalium, um instrumento de tortura,
ou seja, para os romanos e também para os gregos, a atividade manual diária
era vista como desagradável, remetendo à ideia de castigo, pena destinada aos
escravos (BODART; SILVA, 2010).

FIGURA 9 – TRIPALIUM

FONTE: <http://artecult.com/afinal-e-trabalho-ou-tripalium/>. Acesso em: 23 jun. 2020.

O cidadão da Pólis grega e da Civitas romana participava das atividades


sociais, políticas, esportivas e culturais, cabendo aos escravos e às mulheres
cuidar da terra, dos animais e da casa. O trabalho era visto como uma atividade
desgastante, na qual o homem livre – o cidadão – não deveria se ocupar.

Os grandes filósofos da Antiguidade, tais como Platão e Aristóteles, possuíam


escravos e consideravam a atividade manual inferior à atividade intelectual.
A theoria era superior à práxis. O pensamento especulativo tinha preferência
sobre o pensamento prático. Estas considerações transferiam-se também para a
educação. A educação era voltada para a formação cultural do cidadão da pólis
sem se ocupar da educação técnica.

Também durante a Idade Média a atividade manual era considerada


uma atividade destinada aos “servos”. O trabalhador, no sistema feudal, é
predominantemente um trabalhador agrícola ou rural. A classe proprietária, a elite
dominante, é composta pelos nobres e cleros. O trabalhador é um “servo” preso à
terra, onde produz para sua sobrevivência, em que a maior parte fica com o seu
senhor, o proprietário. O trabalhador rural não tinha direitos e estava condenado a

24
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

permanecer na terra produzindo para o seu senhor. Devido ao poder da Igreja, a


educação, por sua vez, destinava-se exclusivamente ao clero, tendo por finalidade
a educação pela fé (reveja o Quadro 1).

Com o desenvolvimento do Mercantilismo, com a Revolução Industrial e o


surgimento da Burguesia, e, posteriormente, amparado nos ideais da Revolução
Francesa que, dentre outros, pressupunham a liberdade individual e inclusive o
direito à propriedade, consolida-se o sistema capitalista, o qual dissolve os laços
que prendiam os trabalhadores aos limites previamente definidos pela ordem
feudal. Com a Revolução industrial e o desenvolvimento científico, o homem deixa
de depender dos caprichos da natureza. Antes, a produção rural dependia das
estações do ano, das tempestades, suas estiagens, seu tempo cíclico. Com a
indústria, ao contrário, o homem introduz uma jornada linear de produção em
processo executado pelos trabalhadores e completado com o produto vendido
aos consumidores.

Neste período, que marca a transição da Idade Média para a Idade


Moderna, há uma migração da área rural para a área urbana, impondo um
crescimento das cidades. Na Modernidade, o trabalhador rural transforma-se em
trabalhador urbano com um novo processo de socialização do trabalho dado pelo
desenvolvimento industrial. O trabalhador não recebe mais na forma de produtos
de sobrevivência, mas na forma de salário. Ampliam-se as opções de trabalho e a
liberdade de ação do indivíduo.

Assim, na sociedade capitalista, uma característica fundamental é a


necessidade de uma atividade remunerada, ou seja, que gere capital (renda,
salário). Somente através do trabalho remunerado o trabalhador pode comprar
as mercadorias necessárias para a satisfação das necessidades básicas. No
sistema capitalista, o trabalho está diretamente relacionado à geração de capital
(renda, salário) necessário para a nossa sobrevivência.

No início do sistema capitalista, nos primórdios da Revolução Industrial, os


trabalhadores não possuíam direitos assegurados, predominando ainda uma
visão depreciativa do trabalho, marcada pela exploração do trabalhador,
mantendo uma certa forma de “escravidão” e “servilismo”. Continuava a
separação de classes – agora na terminologia moderna – entre a Burguesia (os
donos dos meios de produção) e o Proletariado (os operários).

As conquistas dos direitos trabalhistas, tais como limite de jornada


diária, descanso semanal remunerado, férias remuneradas, limite de idade,
aposentadoria, assistência médica e segurança no trabalho foram frutos de várias
lutas sociais, caracterizando a Idade Contemporânea. A conquista dos direitos
trabalhistas ocorreu a partir, principalmente, de um processo de entendimento do

25
Organização e gestão do trabalho social

que é realmente o trabalho para os seres humanos. Este entendimento ocorreu


em conjunto com o desenvolvimento do exercício da cidadania e da educação
do trabalhador e sua participação nas questões sociais, políticas e econômicas.

O trabalho, tanto no regime escravo, feudal ou capitalista, tem uma mesma


característica predominante: é uma atividade necessária para a sobrevivência
humana, ou seja, independente do sistema econômico ou social, o trabalho tem
acompanhado o homem desde os primórdios de sua existência, como atividade
necessariamente útil, associada à produção dos seus meios de vida, à satisfação
imediata de suas necessidades, como garantia de sua sobrevivência. O trabalho
surge com a própria vida humana. Esta ação humana não produz somente a
renda na forma de salários ou produtos de sobrevivência, como ferramentas,
comida, roupas etc., ela produz, também, conhecimento.

O que significa isto, que o trabalho produz conhecimento? Para ajudar a


entender essa questão, estudaremos, a seguir, o conceito de trabalho em dois
grandes pensadores: Karl Marx (1818-1883) e Hannah Arendt (1906-1975).

3.1 O CONCEITO DE TRABALHO EM


MARX
Karl Marx, filósofo, sociólogo e economista, viveu durante o século XIX
e pôde acompanhar todo o desenvolvimento do sistema capitalista ocidental,
surgido após o fim do Feudalismo, acompanhado do crescimento da Burguesia,
com o Mercantilismo e a Revolução Industrial. Com um olhar crítico sobre o seu
tempo, desenvolveu uma importante análise da sociedade capitalista ocidental e,
o que nos interessa aqui, do conceito de trabalho.

“[...] O trabalho é o primeiro pressuposto de toda a existência humana e,


portanto, de toda a história. Foi o trabalho, com a construção de ferramentas e
também com a linguagem, que garantiu as condições para a passagem do primata
ao homo sapiens” (MARX; ENGELS, 1987, p. 39). Podemos perceber que Marx
considera o trabalho não apenas como uma ação humana de sobrevivência e
satisfação de necessidades, mas, determinante do próprio homem.

[...] o trabalho é um processo de que participam o homem e


a natureza, processo em que o ser humano com sua própria
ação impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material
com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de
suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu
corpo, braços e pernas, cabeças e mãos, a fim de apropriar-
se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida
humana (MARX; ENGELS, 1987, p. 202). forma útil à vida h

26
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

Neste processo de existência junto à natureza, também estão os animais. O


que, então, diferencia o trabalho da atividade dos outros animais? Segundo Marx
e Engels (1987, p. 202):
A aranha realiza operações que lembram as de um tecelão, e
a abelha mostra-se superior a muitos arquitetos na construção
de sua colmeia, mas o que distingue o pior arquiteto da melhor
abelha é que ele figura na mente sua construção antes de
transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho
aparece um resultado que já existia antes idealmente na
imaginação do trabalhador.

Assim, diferentemente dos animais, o homem tem a capacidade de projetar


na mente o resultado final do seu trabalho, imprimindo-lhe determinada finalidade.
A aranha e a abelha, pelo seu fazer meramente instintivo, portanto, no limite da
sua constituição biológica, encontram-se determinadas desde sempre à satisfação
imediatista de suas necessidades de subsistência. Já o homem, ser social, dada
à dimensão criativa de sua ação, transcende originariamente ao imediatismo
das exigências existenciais, superando e criando as próprias necessidades no
processo de humanização do mundo.

Desta forma, o trabalho, enquanto processo criativo, possibilita ao homem


um conhecimento que resultará numa exigência de desenvolvimento das forças
produtivas, através das quais vai variando a mediação entre o homem e a
natureza.

Como o trabalho, a criação é inerente à condição humana e há um processo


de transformação da natureza, mas também do próprio homem. Marx estabelece
e amplia as reflexões sobre as relações entre o trabalho e o processo de
formação humana. Neste processo de transformar a natureza para satisfazer suas
necessidades, o homem produz necessariamente conhecimento, compreendendo
progressivamente a realidade na qual está inserido.

Ao agir sobre a sua realidade, produzindo conhecimento, o homem, ao


transformar a realidade, também transforma a si próprio. Ao longo da sua história,
o homo sapiens vem modificando a natureza, mas também a sua estrutura
biológica, social, econômica e política.

27
Organização e gestão do trabalho social

Para entender mais sobre o conceito de trabalho, veja o seguinte


filme: 2001 – Uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick.
No início do filme, Kubrick apresenta a cena de um bando
de macacos lutando por comida. Em um dado momento, um dos
macacos usa um pedaço de osso como instrumento de luta para
conseguir a comida. Após conseguir a comida e derrotar os outros
macacos com seu novo instrumento, o macaco joga para o alto o
pedaço de osso, que se transforma, na cena seguinte, em uma nave
espacial, ou seja, o homem pré-histórico, ao utilizar instrumentos
externos a ele, produz uma nova forma de conhecimento que altera o
seu meio, mas que transforma também a si próprio. Nesta sua ação
de sobrevivência produzindo conhecimento, do homem pré-histórico
chegamos ao homem da modernidade.

3.2 O CONCEITO DE TRABALHO EM


HANNAH ARENDT
Agora, estudaremos uma importante pensadora do século XX: Hanna Arendt
(1906-1975). Esta pensadora, na sua obra A Condição Humana, de 1958,
apresenta três formas de entender as atividades humanas, vinculadas à própria
identificação do que é o homem. Para Arendt (2000), o ser humano, na sua Vita
Activa, realiza três atividades fundamentais:

• A primeira é o Labor: é a atividade que realizamos para a satisfação


de nossas necessidades biológicas e de sobrevivência. Está diretamente
relacionada aos nossos instintos para a preservação da vida. Esta
atividade é a mesma que realizam os animais. Segundo Arendt, com
esta atividade, somos Animal Laborans.
• A segunda é o Trabalho (Faber): é a atividade que realizamos de
criação e produção artificial de produtos e instrumentos, além das nossas
necessidades biológicas. O trabalho produz um mundo “artificial” além
do ambiente natural. O trabalho cria, assim, o mundo do trabalho. Esta
atividade somente o ser humano possui. Ele produz, cria e transforma
instrumentos para o seu mundo, surgindo o mundo do trabalho. Somos,
com esta atividade, na terminologia de Arendt: Homo Faber.
• A terceira é a Ação: é a atividade que se exerce diretamente entre
os homens, sem mediação de instrumentos ou da matéria. É a nossa

28
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

atividade política, social, familiar etc. É a atividade identificada por


Aristóteles como Zoon Politikon. Na definição de Arendt, somos, então,
Homo Politicus.

Arendt considera que estas três atividades constituem o homem. Ela


argumenta que ao longo da tradição econômica e social da sociedade capitalista,
valorizou-se o Labor e a Ação em detrimento do Trabalho, do Homo Faber. O
Animal Laborans realiza o mesmo tipo de atividade dos animais, ou seja, realiza
atividades movidas pelas suas necessidades e instintos biológicos, unicamente
pela sua sobrevivência e garantia da vida. Assim, também é o escravo, aquele
que labora, que está escravizado pelas suas necessidades inerentes da condição
humana.

O cidadão, os proprietários, os donos dos meios de produção realizam a


Ação, que é a atividade política e social. Já o Homo Faber é aquele que realiza o
Trabalho, atividade de domínio e transformação da realidade. Fabrica objetos e se
relaciona com o mundo do trabalho. É a atividade de produção de conhecimento
e criatividade.

Hanna Arendt considera que a visão depreciativa do trabalho se manteve


desde a Antiguidade (escravidão), depois com o Feudalismo (servidão) e com
o Sistema Capitalista (exploração), justamente por se valorizar o Labor (animal
laborans) e a Ação (Homo Politicus) em detrimento do Trabalho (Homo Faber).

A palavra latina Faber se relaciona com facere (fazer alguma coisa), no


sentido de produção, que se aplicava ao fabricante e artista. Desta forma, a
nossa sociedade instrumentaliza as atividades humanas, não percebendo a real
dimensão das atividades de criação e produção de conhecimento do homem.

A partir do conceito de trabalho estudado até aqui, estudaremos, a seguir, as


revoluções tecnológicas que provocarão mutações nas formas de realização do
trabalho na sociedade.

1 Apresente o que você entendeu sobre o conceito de Trabalho


em Marx e Hannah Arendt.
R.:____________________________________________________
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Organização e gestão do trabalho social

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4 MUTAÇÕES NA GESTÃO E
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO:
DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À
REVOLUÇÃO 4.0
As transformações decorrentes das Revoluções Industrial e Francesa,
especialmente no que se refere à Revolução Industrial, tiveram desdobramentos
muito mais amplos do que aqueles materializados pelas inovações tecnológicas.
A industrialização marcou a emergência de novas formas de sociabilidade,
mudanças na organização do trabalho, da produção e da distribuição; mudanças
que transformaram radicalmente o quadro das relações sociais de produção, entre
as diferentes classes sociais, e que ainda repercutem em nossos dias.

Os desdobramentos socioeconômicos trazidos pela industrialização


e, consequentemente, pela mecanização de todo sistema de produção de
mercadorias em nível mundial, a partir do século XIX, provocaram alterações
não só nas relações de trabalho entre patrão e operário, mas, principalmente, no
modo como as pessoas passaram a se relacionar, mediadas pelas mercadorias
que elas produzem.

Esta competição dentro do sistema capitalista vai gerar o que Schumpeter


(1982) denomina de “destruição criativa”, causada pela “inovação”, um fator
intrínseco que cria constantemente: novos bens de consumo, novos métodos
e processos de produção e transportes, novos mercados e novas formas de

30
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

organização industrial. Este movimento constante gerará os ciclos econômicos


a partir das inovações tecnológicas, como podemos perceber no quadro a seguir
sobre a Revolução Industrial.

QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS TECNOLÓGICAS DAS REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS


Revolução Industrial Período Características Tecnológicas
Primeira Revolução Iniciou na segunda metade do Máquina a vapor; substituição da
Industrial século XVIII e avançou até meados produção artesanal pela produção
do século XIX. Ocorreu entre as fabril; tear mecânico.
décadas de 1760 e 1840.
Segunda Revolução Iniciou no século XIX e avançou na Energia elétrica; petróleo; sistema
Industrial primeira metade do século XX. de produção taylorista – fordista
Ocorreu entre as décadas de 1860 – divisão do trabalho manual e inte-
e 1900. lectual; automação e produção em
massa; linha de montagem móvel.
Terceira Revolução Iniciou na segunda metade do sé- Surgimento da informática e avanço
Industrial culo XX e avançou até o final deste das comunicações; surge a socie-
século. Ocorreu entre as décadas dade do conhecimento; sistema de
de 1960 e 1990. produção flexível; Modelo Toyotista;
Tecnologia da Informação (TI);
computação.
Quarta Revolução Iniciou na primeira década do sécu- Internet mais ubíqua e móvel, sen-
Industrial lo XXI, na década de 2000. sores menores e mais poderosos;
fusão das tecnologias e a interação
entre domínios físicos, digitais e
biológicos; sistemas e máquinas
inteligentes conectados possibili-
tando um modelo de produção de
personalização em massa; robótica
avançada.
FONTE: Adaptado de Aires, Moreira e Freire (2017)

O auge da industrialização ocorreu na Europa, principalmente na Inglaterra


do século XIX. Naquele período, surgem novas estratégias de gestão e
organização do trabalho – os Modelos Taylorista/Fordista e Toyotista –
marcadas pelo crescente ritmo de inovação tecnológica, que veremos a seguir.

31
Organização e gestão do trabalho social

4.1 O MODELO TAYLORISTA/


FORDISTA DE GESTÃO E
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
A Revolução Industrial fez surgir grandes fábricas no lugar das pequenas
oficinas. Assim, o modo artesanal de produção, que incluía a participação do
trabalhador em todas as etapas de produção e circulação da mercadoria, foi
substituído pela lógica da produção em larga escala, tendo como principal
característica o trabalho fragmentado pela divisão de tarefas.

Esta nova forma de organização e gestão do trabalho é denominada de


Modelo Taylorista/Fordista. O objetivo deste modelo é maximizar os resultados
da produção, como forma de organizar o trabalho, que busque eficiência,
predominantemente, no nível operacional e de supervisão.

O modelo taylorista faz referência ao engenheiro norte-americano Frederick


Taylor (1856-1915), que partia dos seguintes princípios: aplicar a análise científica
ao trabalho; analisar cada detalhe da operação e planejá-la, encontrando a melhor
maneira de realizá-la; selecionar o homem adequado à tarefa, treiná-lo e controlá-
lo na realização da referida tarefa.

Braverman (1977) estabelece considerações críticas a estes princípios,


dizendo que, com a aplicação deles na indústria, o administrador reúne todo o
conhecimento que antes pertencia ao trabalhador e o reduz a um conjunto de
regras, de leis e de fórmulas que explicam o “como fazer”.

O planejamento de todas as atividades fica sob o comando do administrador


que, simultaneamente, planeja-as e controla-as para que sejam realizadas no
tempo programado, utilizando-se os meios necessários. Ao planejá-las, procura
adequar os meios ao fim necessário; o seu objetivo é a busca da eficiência.

Para Wood Júnior (1992), a organização do trabalho na forma taylorista


indica o ajuste das pessoas e das funções ao método de trabalho ou ao projeto
organizacional. Suas consequências podem ser o comportamento acéfalo, a falta
de visão crítica, a apatia, a passividade, o baixo envolvimento e responsabilidade;
em síntese, uma organização que resiste à possibilidade de mudanças.

O autor ressalta que este modelo, quando foi aplicado à indústria


automobilística, não apresentou sinais de eficiência máxima. Em verdade, a
plenitude da noção meios-fins proposta no taylorismo somente será efetivada com
a inserção dos princípios fordistas na indústria automobilística.

32
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

O Fordismo é um modo de produção em massa elaborado por Henry Ford


(1863-1947), baseado nas ideias de Taylor, consistindo no aumento da produção,
que possibilita a baixa nos preços, que, por sua vez, aumenta as vendas e ajuda o
produto a se manter com preços baixos.

Moraes Neto (1989) sintetiza as ideias fordistas dizendo que elas foram a
socialização da proposta de Taylor, isto porque, no modelo fordista, a administração
da forma de execução das tarefas dá-se a partir dos princípios tayloristas, mas,
complementadas com a inserção da esteira no processo produtivo, ou seja, o
administrador fixa o trabalhador em um determinado posto de trabalho, colocando
a sua disposição ferramentas especializadas para executar aquela tarefa e, por
intermédio da esteira, o objeto a ser transformado em produto vai passando em
cada um destes postos de trabalho até que ele, o objeto, seja transformado no
produto acabado.

Nessa perspectiva residia a forte convicção de que, através da divisão de


tarefas, era possível acelerar a produção, ou seja, havia um ganho de tempo em
cada etapa da produção, o que, consequentemente, fazia com que o resultado
final também fosse mais acelerado. A divisão de tarefas passou, então, a ser o
modelo padrão de eficiência na produção industrial, não só pela ideia de que a
aceleração da produção acarretava maior lucro, mas, principalmente, porque
permitia ao empregador um maior controle sobre a mão de obra.

Você pôde perceber, até aqui, que o sistema de produção introduzido


pelas fábricas no processo de industrialização, ainda no século XIX, acabou
se convertendo num modelo mundial de produção que ainda hoje se mantém
operante.

Trata-se da separação entre trabalho técnico especializado e trabalho


manual (braçal), estabelecida pelo sistema de fábrica, que influenciou
importantes tomadas de decisão no campo político, principalmente no que se
refere ao investimento dos governos no sistema educacional. Você pode, agora,
estar se perguntando quais as vantagens, para o dono da fábrica, em separar as
etapas de planejamento e execução da produção?

Segundo a lógica da especialização do trabalho, presente no modo de


produção industrial, separando-se a concepção da execução do trabalho,
é possível reduzir os gastos, pois basta empregar um pequeno número de
trabalhadores, qualificados tecnicamente, que se responsabilizam pela concepção
do trabalho e pela distribuição de tarefas.

33
Organização e gestão do trabalho social

Por outro lado, é possível empregar um grande número de trabalhadores para


executar as tarefas. Esses trabalhadores, por sua vez, não tendo possibilidade
de qualificação, transformam-se em meros operadores de máquinas. Assim, em
vez de contratar muitos artesãos habilitados, basta contratar um especialista para
gerar o projeto, um bom gerente para supervisionar a produção e muitos operários
para executar as tarefas.

No século XIX, a divisão do trabalho foi o marco organizador das atividades


produtivas na sociedade. Com ela, foi possível disciplinar e moralizar os seres
humanos submetidos ao trabalho na fábrica. A submissão do trabalhador a essa
nova lógica de produção determinou o surgimento de uma nova era da produção,
simbolizada pelo modelo taylorista/fordista.

Segundo Kilian (2005), a partir do desenvolvimento do comércio monetário,


o qual leva a um aumento na produtividade do trabalho empurrado pela divisão
social da produção, surgiram novas tecnologias. Seus efeitos proporcionaram
uma maior produção com mão de obra reduzida, ocasionando o deslocamento
de massa em direção às cidades. Logo, o deslocamento acaba por provocar um
excesso de mão de obra que, com o desenvolvimento científico, desencadeou o
fenômeno da Revolução Industrial. A Revolução Industrial significou a substituição
da ferramenta pela máquina e contribuiu para consolidar o capitalismo como modo
de produção predominante.

Esse fenômeno deu origem à produção em massa de forma quase ilimitada,


devido à existência de uma demanda que aceitava os bens produzidos sem
ter uma consciência das filosofias de melhoria e qualidade de produtos que na
atualidade são de importância relevante para os clientes.

Sobre o modelo taylorista/fordista de organização e gestão do


trabalho, assista ao filme “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin.
Um clássico do cinema mudo, dirigido por Charles Chaplin, que
retrata com lirismo a alienação do trabalhador moderno. Um operário
de uma linha de montagem, que testou uma “máquina revolucionária”
para reduzir a hora do almoço, é levado à loucura pela “monotonia
frenética” do seu trabalho. Após um longo período em um sanatório,
ele fica curado de sua crise nervosa, mas desempregado. Ele
deixa o hospital para começar sua nova vida, mas encontra uma
crise generalizada e equivocadamente é preso como um agitador
comunista que liderava uma marcha de operários em protesto.
Simultaneamente, uma jovem rouba comida para salvar suas irmãs

34
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

famintas, que ainda são bem garotas. Elas não têm mãe e o pai delas
está desempregado, mas o pior ainda está por vir, pois ele é morto
em um conflito. A lei vai cuidar das órfãs, mas enquanto as menores
são levadas, a jovem consegue escapar.

Veja também o documentário “Indústria Americana” – Oscar de


melhor documentário de 2020.
Sugestão de site:
https://epocanegocios.globo.com/colunas/Enxuga-Ai/
noticia/2020/02/ganhador-do-oscar-industria-americana-estimula-
reflexao-para-alem-do-embate-sino-americano.html.

Sobre formação profissional, trabalho e educação:


AUED, B. W. Educação para o (des)emprego. Petrópolis: Vozes,
1999.
JIMENEZ, S. V.; FURTADO, E. B. Trabalho e educação: uma
intervenção crítica no campo docente. Fortaleza: Edições Demócrito
Rocha, 2001.
KOBER, C. M. Qualificação profissional: uma tarefa de Sísifo.
Campinas, SP: Autores Associados, 2004.
PRONI, M. W.; HENRIQUE, W. Trabalho, mercado e sociedade.
São Paulo: UNESP, 2003.

1 A Revolução Industrial fez surgir grandes fábricas no lugar das


pequenas oficinas. Assim, o modo artesanal de produção, que
incluía a participação do trabalhador em todas as etapas de
produção e circulação da mercadoria, foi substituído pela lógica
da produção em larga escala, tendo como principal característica
o trabalho fragmentado pela divisão de tarefas. Esta nova forma
de organização e gestão do trabalho é denominada de Modelo
Taylorista/Fordista. Sobre o exposto, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:

35
Organização e gestão do trabalho social

( ) O objetivo do Modelo Taylorista/Fordista é minimizar os


resultados da produção, como forma de organizar o trabalho,
predominantemente, no nível operacional e de supervisão.
( ) No Modelo Taylorista/Fordista o foco é analisar cada detalhe da
operação e planejá-la, encontrando a melhor maneira de realizá-
la; selecionar o homem adequado à tarefa, treiná-lo e controlá-lo
na realização da referida tarefa.
( ) O Fordismo é um modo de produção em massa elaborado
por Henry Ford (1863-1947), baseado nas ideias de Taylor,
consistindo no aumento da produção, que possibilita a baixa nos
preços, que, por sua vez, aumenta as vendas e ajuda o produto a
se manter com preços baixos.
( ) As ideias fordistas foram a “socialização da proposta de Taylor”,
isto porque, no modelo fordista, a administração da forma de
execução das tarefas dá-se a partir dos princípios tayloristas,
mas, complementadas com a inserção da esteira no processo
produtivo, ou seja, o administrador fixa o trabalhador em um
determinado posto de trabalho, colocando a sua disposição
ferramentas especializadas para executar aquela tarefa e, por
intermédio da esteira, o objeto a ser transformado em produto vai
passando em cada um destes postos de trabalho até que ele, o
objeto, seja transformado no produto acabado.
( ) No século XIX, a divisão do trabalho foi o marco organizador
das atividades produtivas na sociedade. Com ela, foi possível
disciplinar e moralizar os seres humanos submetidos ao trabalho
na fábrica. A submissão do trabalhador a essa nova lógica de
produção determinou o surgimento de uma nova era da produção,
simbolizada pelo modelo mercantilista.

4.2 O MODELO JAPONÊS/TOYOTISTA


DE GESTÃO E ORGANIZAÇÃO DO
TRABALHO
O modelo taylorista/fordista começa a entrar em colapso, principalmente,
a partir dos anos 1970. Com a crise do petróleo e o esgotamento do mercado,
o crescimento econômico cai, o desemprego aumenta, o fantasma da inflação
ronda os países ricos, a quantidade de impostos arrecadados diminui, colocando
em xeque também o Estado do Bem-Estar Social (Welfare State). Ao lado disso,

36
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

há forças de ataque ao taylorismo e à desumanização provocada por este modo


de organização do trabalho (divisão técnica do trabalho, longas horas de trabalho
repetitivo, rotinizado e rígido).

Também surgem críticas às sociedades de consumo de massa marcadas


pela mesmice, conformismo e previsibilidade à vida das pessoas. Nos anos 1980,
com a diminuição do poder do Estado, o avanço da globalização, a liberação e
mundialização dos mercados e o enfraquecimento dos sindicatos, esta atividade
foi voltando a ser predominantemente precarizada e cada vez mais desvinculada
do emprego.

As críticas dos neoliberais (neoliberalismo) ao modelo taylorista/fordista e ao


Estado do Bem-Estar Social (Estado Keynesiano) se aprofundam, visando atacar
o Estado social e os sindicatos (privilégios excessivos aos trabalhadores). Com os
governos de Margaret Thatcher na Inglaterra, Ronald Reagan nos Estados Unidos
e Helmut Kohl na Alemanha, consolida-se esta nova visão econômica do mundo
– o neoliberalismo.

Baseada na ideia de um controle do déficit público, ou seja, na diminuição da


intervenção do Estado no mercado (privatizações, austeridade econômica), ocorre
uma transferência de fundos públicos para a iniciativa privada. Criam-se em nível
internacional, organismos (FMI, Banco Mundial, OMC etc.) que visam regular e
garantir a livre circulação mundial do capital e de sua reprodução (capitalismo
especulativo), num processo sem fronteiras (globalização). Amplificado através
das novas tecnologias (comunicações e informática), este novo sistema
econômico possibilitará mudanças estruturais na organização do trabalho e nas
formas de produção.

As implementações tecnológicas possibilitarão tanto o fim dos estoques (just


in time) como a modificação rápida das linhas de produção para o atendimento
das demandas de mercado. Inaugura-se a era da produção e da acumulação
flexível, tendo em vista o aumento da produtividade, a diminuição dos custos e
uma maior lucratividade.

A palavra-chave passa a ser flexibilidade. Segundo Kober (2004, p. 18),


“a acumulação flexível [...] é marcada por um confronto direto com a rigidez do
fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados
de trabalho, dos produtos e padrões de consumo”. Caracteriza-se pelo surgimento
de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de
serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas
de inovação comercial, tecnológica e organizacional.

37
Organização e gestão do trabalho social

Este novo modelo de organização do trabalho será chamado de modelo


japonês (toyotismo). O modelo japonês se constituiu em torno de noções, tais
como rapidez, produtividade, qualidade e participação. Desenvolvem-se os
sistemas “Just in Time”, “Kanban” e os “Círculos de Controle de Qualidade” (CCQ).

As empresas, para atenderem demandas de um mercado cada vez


mais segmentado, começam a focalizar a produção daquilo que detém maior
conhecimento e terceirizam toda a produção restante, formando cadeias
produtivas mais longas e inclusive sem fronteiras. Na organização das empresas,
acompanhando a flexibilização e a terceirização, rompe-se com o modelo
Pirâmide – hierárquico e vertical.

O novo modelo estrutura a empresa com um núcleo central fixo, altamente


qualificado, que define o seu planejamento estratégico. Os demais grupos
serão periféricos e flexíveis, compostos de um lado por funcionários facilmente
encontráveis no mercado e por empregados casuais, subcontratados,
terceirizados, temporários e prestadores de serviços.

Este novo modelo está mais próximo à noção de redes. Assim, as empresas
possuem maior flexibilidade, pois elas podem ser reorganizadas, decompostas
e redefinidas muito mais facilmente. Neste contexto, o trabalho em si pode e é
continuamente redefinido. Não existem mais as cadeias que amarram as pessoas
a determinadas funções e tarefas. A empresa pode, desta forma, se adaptar às
mudanças econômicas e principalmente às mudanças de demandas de consumo,
aumentando a produtividade do capital.

A plataforma neoliberal também deu sustentação política ao novo modo de


acumulação, fortalecendo o capital financeiro. O capital recuperou a possibilidade
de voltar a escolher, em total liberdade, quais os países e camadas sociais têm
interesse para ele (capitalismo especulativo). Esta movimentação internacional
do capital, em busca da melhor rentabilidade, viabilizada pela interligação dos
mercados em tempo real, afasta o capital da produção (capitalismo industrial), em
que a liquidez é menor, e a rentabilidade, de longo prazo (KOBER, 2004).

Resumindo, as principais características deste novo modelo econômico são:

• Flexibilização: sistema de acumulação e produção flexível. Este


sistema passa a exigir trabalhadores polivalentes/flexíveis.
• Terceirização: várias etapas do processo da empresa são realizadas
por outras empresas. O que não é “foco” da empresa é subcontratada
(terceirizada).
• Organização em redes: a organização da empresa se concentra em
um núcleo estratégico, utilizando de acordo com as suas necessidade

38
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

o restante dos recursos humanos necessários para a realização de


suas atividades.
• Globalização: o desenvolvimento tecnológico (comunicações e
informática) possibilita uma diminuição das distâncias entre os
países, do ponto de vista do espaço e do tempo, permitindo uma
maior integração e cooperação econômica.

Para o novo modo de produção e acumulação flexível, com a organização e


gestão das empresas em redes, é preciso um novo trabalhador. Não basta mais
o trabalhador que desempenha funções repetitivas, mecânicas e sem iniciativa.
Mesmo o trabalhador que exerce a atividade mais simples, hoje, além de “fazer”,
deve ser capaz de pensar, tem de dominar conhecimentos gerais relacionados
ou não ao seu trabalho, ser capaz de interpretar textos, gráficos e tabelas, ter
conhecimentos na área de informática, ter capacidade de interpretação de dados
e de decisão, ter iniciativa e crítica e ser capaz de trabalhar em equipe.

“Assim, além da educação formal e a qualificação profissional, é necessária


toda uma gama de habilidades relacionadas a novas tecnologias, bem como
atitudes e comportamentos” (KOBER, 2004, p. 26). É nessa nova lógica que surge
a noção de competência.

A noção de competência tem sido colocada como uma alternativa mais


adequada à noção de qualificação, mais sintonizada com as “novas necessidades”
do mercado de trabalho, introduzidas pelo progresso técnico e pelas novas formas
de gestão, ligadas não mais ao modo taylorista de produção, mas ao modelo
baseado na organização japonesa do trabalho, como vimos, batizada de toyotista.

Para ganhar competitividade num mercado em crise, as empresas teriam de


aumentar a qualidade e a diversidade de seus produtos e aumentar o número
de lançamentos e de variedades de um mesmo produto, visando nichos cada
vez mais particulares do mercado consumidor (customização) (KOBER, 2004). O
novo “modelo de competências” do ponto de vista das empresas com relação aos
trabalhadores, combinaria, variando conforme o caso, os seguintes elementos:

• Valorização da mobilidade e do acompanhamento individualizado da


carreira.
• Introdução de processos de avaliação contínua do desenvolvimento
do funcionário na empresa.
• Novos critérios de avaliação, que privilegiam as qualidades pessoais
e relacionais, como responsabilidade, autonomia, capacidade de
trabalhar em equipe etc.
• Instigação à formação contínua, o aprender sempre.

39
Organização e gestão do trabalho social

• Desvalorização dos antigos sistemas de classificação fundada nos


níveis de qualificação e originados nas negociações coletivas.
• Privilegiamento das negociações trabalhistas individuais, sem
sindicatos.

Com o surgimento da “sociedade global”, o remodelamento do sistema


capitalista e, por consequência, a necessidade de um outro tipo de trabalhador,
flexível e multifuncional, entende-se por globalização o processo de interligação
econômica e cultural, em nível planetário, que ganhou intensidade a partir de 1980
devido, sobretudo, ao crescimento vertiginoso dos principais centros nervosos
das sociedades modernas: os mercados financeiros e as redes de informação.

O fenômeno decorre basicamente da expansão dos sistemas de comunicação


por satélites, da revolução da telefonia e da presença da informática na maior parte
dos setores de produção e de serviços, inclusive por meio de redes planetárias
como a internet. Impulsionada por notáveis transformações tecnológicas e pelas
teses neoliberais, o fenômeno da globalização se consolidou com a queda dos
regimes comunistas na Europa e a abertura econômica na China. No plano
econômico, a globalização se traduz por maior abertura no comércio externo e por
uma rapidez sem precedentes no movimento de capitais, permitindo a investidores
colocar dinheiro num país e retirá-lo em segundos.

Há uma interdependência cada vez maior das economias de todos os países


por meio da liberdade absoluta de circulação dos capitais, da supressão das
barreiras alfandegárias e de regulamentações e pela intensificação do comércio e
do livre mercado, incentivados pelo Banco Mundial (BIRD), pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI), pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) e pela Organização Mundial do Comércio (OMC).

Sugestões de obras sobre a globalização:


BECK, U. O que é globalização? Equívocos do globalismo,
respostas à globalização. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.
CASTELLS, M. Trilogia A Era da Informação: economia,
sociedade e cultura: a sociedade em rede, o poder da identidade e
fim de milênio. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.
BAUMAN, Z. Globalização: as consequências humanas. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

40
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

1 Para o novo modo de produção e acumulação flexível, com a


organização e gestão das empresas em redes, é preciso um
novo trabalhador. Descreva os novos elementos do “modelo de
competências” do ponto de vista das empresas com relação aos
trabalhadores.
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4.3 A SOCIEDADE EM REDE: DA


SOCIEDADE DO EMPREGO PARA A
SOCIEDADE DO CONHECIMENTO
Offe (1989) e Habermas (1978) consideram que as modificações
tecnológicas, a automação, a flexibilização das organizações empresariais e
o sistema econômico acarretaram as alterações dos contratos de trabalho,
dos subempregos e do desemprego estrutural, influenciando a mudança do
entendimento do conceito de trabalho.

Para estes autores, a análise marxista não é mais suficiente para


compreender a sociedade atual, eles consideram o fim da sociedade do trabalho.
Para Habermas (1978 apud FURTADO, 2003), o trabalho humano foi substituído
pela ciência e a tecnologia enquanto a primeira força produtiva da sociedade
moderna, a sociedade, hoje, não é mais uma sociedade do trabalho. Isso quer
dizer que o trabalho não só deixou de ser o cimento social, o princípio fundante da
sociabilidade, como também a principal fonte de produção de riqueza social.

41
Organização e gestão do trabalho social

Desse ponto de vista, a sociedade atual não mais seria capitalista, não
viveríamos mais sob um sistema de produção de mercadorias, de valores de uso
e troca, mas, sim, conforme uma sociedade de serviços, pós-industrial e pós-
capitalista, que pela vigência de uma lógica institucional tripartite, vivenciada
pela ação pactuada entre capital, os trabalhadores e o Estado, essa sociedade
contemporânea, menos mercantil, mais contratualista, não mais seria regida pela
lógica do capital, mas pela busca da alteridade dos sujeitos sociais, pela vigência
de relações de civilidade fundadas na cidadania, pela expansão crescente
de “zonas de não mercadorias”, ou ainda pela disputa dos fundos públicos
(FURTADO, 2003, p. 42). Assim, o trabalhador com carteira assinada (sociedade
do emprego) vai dando lugar para o trabalhador que é o empreendedor,
administrador e empresário de sua força de trabalho.

A reestruturação do capitalismo e a revolução das Tecnologias de


Comunicação e Informação (TIC) produziram uma sociedade diferente da que
conhecíamos, que está sendo difundida em todo o mundo. Esta nova sociedade se
caracteriza pela economia baseada na produção, no tratamento e na transmissão
de informação e pela interconexão entre pessoas e organizações, potencializada
pelas novas tecnologias.

FIGURA 10 – INDÚSTRIA 4.0

FONTE: <https://netscandigital.com/blog/o-que-a-digitalizacao-de-documentos-
e-a-industria-4-0-tem-em-comum/>. Acesso em: 23 jun. 2020.

42
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

Manuel Castells (2006b), sociólogo espanhol, denominou esta nova


organização social de sociedade em rede. As invenções do telefone (1876) e do
rádio (1898) foram importantes antecessoras das tecnologias de comunicação
e informação. No entanto, foi durante a Segunda Guerra Mundial e no período
seguinte que se deram as principais descobertas tecnológicas em microeletrônica,
computadores e telecomunicações, que revolucionaram o modo de lidar com a
informação. A sociedade em rede é produto e produtora dessa revolução.

Nas últimas décadas, a Lei de Moore, segundo a qual a cada 18 meses os


microchips dobram seu desempenho pelo mesmo preço, tem se revelado exata.
A ampliação da potência dos computadores e os avanços da telecomunicação
e das tecnologias de integração dos computadores em rede permitiram o
desenvolvimento de redes de comunicação e informação. Esses avanços
tecnológicos e certas condições sociais levaram à criação, à apropriação e à
difusão do uso da internet.

Criada com fins militares, assim como a informática, no contexto da Guerra


Fria, a internet permitia a circulação de informações em longa distância, sem o
conhecimento ou a intromissão de inimigos, existentes ou potenciais. No entanto,
foi a partir dos esforços de jovens americanos que integraram um movimento social
e cultural em prol da interconexão entre as pessoas no final dos anos 1980 que a
internet se tornou uma infraestrutura de comunicação, sociabilidade, informação
e conhecimento que abrange o mundo todo, apresentando-se hoje como o mais
revolucionário meio tecnológico da era da informação (BRASIL ESCOLA, 2020).

Inicialmente, foram alguns setores acadêmicos que a incorporaram para a


circulação de informações, o desenvolvimento de pesquisas e a maior articulação
entre os pesquisadores. Atualmente, a descoberta de novos e diferentes usos
por parte dos vários usuários em todo o mundo está levando à formação das
mais variadas redes formais e informais de trabalho ou lazer, de afinidades e de
encurtamento de distâncias entre pessoas e organizações das mais diversas: o
meio acadêmico, a sociedade civil organizada, as empresas e o governo.

Com sua apropriação e difusão, aspectos relacionados aos riscos da internet


têm sido objeto de discussão. Entre esses riscos, são apontados a existência dos
hackers, os crimes virtuais, questões relativas a direitos autorais e, até mesmo,
o possível isolamento ou distanciamento entre as pessoas, que poderia ser
ocasionado pela substituição do mundo real pelo mundo virtual. A emergência do
ciberespaço e da cibercultura banalizou uma nova forma de contato social, em
que a presença física deixou de ser necessária.

Pierre Levy (2000, p. 92), filósofo, professor da Universidade de Paris VIII e


importante estudioso das implicações da internet, define o ciberespaço como “o

43
Organização e gestão do trabalho social

espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e


das memórias dos computadores”.

O termo especifica não apenas a infraestrutura material de comunicação


digital, mas também o conjunto das informações que ele abriga, bem como os
indivíduos e as organizações que navegam neste universo e o alimentam: redes
de empresas, associações, universidades, canais de televisão, bibliotecas,
anônimos, entre outros.

A cibercultura, por sua vez, é “um conjunto de técnicas (materiais e


intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que
se desenvolvem paralelamente ao crescimento do ciberespaço” (LEVY, 2000, p.
17). Os princípios da cibercultura são a interconexão, a criação de comunidades
virtuais e o desenvolvimento da inteligência coletiva. Não podemos estabelecer
desde já em que direção ruma à cibercultura, isto é, a que resultados se chegará
através dos seus princípios.

Podemos apenas identificar, como um dos seus objetivos, que as pessoas


possam desenvolver mais autonomia e abertura para a alteridade explorando as
potencialidades do ciberespaço. Assim, o “verdadeiro” uso do ciberespaço é dado
pelos sujeitos individuais e coletivos que o utilizam. É sobre esta nova sociedade
em rede que estudaremos a seguir.

Pesquise sobre a “Lei de Moore”.


Sugestão de site:
https://canaltech.com.br/mercado/O-que-e-a-Lei-de-Moore/.

1 Defina o que você entendeu sobre Ciberespaço e Cibercultura,


segundo Pierre Levy.
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Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

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5 O TRABALHO SOCIAL: TERCEIRO


SETOR E MOVIMENTOS SOCIAIS
O segmento político-econômico-institucional que congrega interesses sociais,
sem fins lucrativos, filantrópicos e voluntários, denominado genericamente pelo
termo Terceiro Setor, configura-se em um campo amplo e rico em possibilidades
para o desenvolvimento social.

Terceiro Setor é um termo originário da literatura anglo-saxônica,


cunhado durante a década de 1970, com o intuito de identificar e caracterizar
um diversificado grupo de organizações e atividades que atuam no âmbito da
sociedade civil. Até esse período, não havia a ideia de um setor que congregasse
essas organizações e atividades, mas sim conjuntos distintos de instituições
definidas como de utilidade pública.

Com a definição do termo e, por conseguinte, um esboço conceitual,


iniciaram-se diversos estudos no sentido de delinear sua composição, seu escopo
e estrutura, além de mapear as organizações e atividades que dele fazem parte.
Segundo Falconer (1999, p. 17), o termo é considerado portador de uma grande
promessa: “a renovação do espaço público, o resgate da solidariedade e da
cidadania, a humanização do capitalismo e, se possível, a superação da pobreza”.

Os Estados enxugaram a máquina governamental e provocaram


transformações na forma de gerir o social. No entanto, mudar as funções do
Estado implicou rever as funções dos atores que com ele interagem. A sociedade
civil precisou retomar o seu papel no desenvolvimento das políticas sociais e
incrementar seus esforços, discutindo-se a forma de participação e a contribuição
das empresas com fins lucrativos na solução das questões sociais.

Num espaço de tempo muito curto, o mundo se viu diante de problemas


globais, cujas soluções agora dependem da capacidade de “articulação de um

45
Organização e gestão do trabalho social

espectro mais amplo de agentes sociais” (TENÓRIO, 2008, p. 12). A origem


do terceiro setor também pode ser analisada com base nos conceitos de
associativismo. Segundo Coelho (2000), por intermédio das organizações
religiosas e étnicas, as associações voluntárias sempre estiveram presentes nas
comunidades em maior ou menor grau, e antecedem o surgimento do Welfare
State – o Estado do Bem-Estar Social.
Após a Segunda Guerra Mundial, a solução das questões sociais ficou sob
a responsabilidade do Estado, o Welfare State, por suas políticas de assistência
pública completas financiadas pela contribuição dos setores produtivos
(VASCONCELOS; CASTRO, 1999).

Segundo Vasconcelos e Castro (1999) e Coelho (2000), a centralização


das políticas públicas causou grande impacto nas associações voluntárias, pois
desestimulou o desenvolvimento de ações visando suprir as necessidades sociais
e fazendo com que os indivíduos não se sentissem mais responsáveis pela
comunidade nem pelos seus vizinhos, ao mesmo tempo que se sentiam seguros
por saberem que ao Estado cabia solucionar os problemas sociais existentes.

No início dos anos 1970, a crise do Welfare State trouxe de volta a


insegurança. Para Coelho (2000), foi uma crise de financiamento, porque tal
sistema foi desenvolvido para atender às necessidades de uma comunidade
relativamente homogênea do pós-guerra. Com o passar dos anos, a complexidade
e a heterogeneidade da sociedade fizeram com que as demandas sociais
aumentassem e que o sistema não mais se sustentasse financeiramente.

As iniciativas de associativismo provenientes da cultura europeia, a


modernização das ações de benemerência da Igreja Católica e a participação de
outras religiões, o surgimento das ONGs, a queda do Welfare State – o vácuo
deixado pelo poder público no seu papel de promover o bem-estar da população
– formaram, ainda que desordenadamente, as organizações que compõem o
terceiro setor.

Todo esse contexto histórico nos auxilia a conhecer um pouco da


complexidade do terceiro setor, mas os autores são unânimes ao afirmarem
que a característica desse movimento é emergir de movimentos populares,
sendo organizados por aqueles que no seu cotidiano presenciam o problema
predominante (CAMARGO et al., 2001).

As ações desse setor normalmente são desenvolvidas com parcerias e


doações de agentes públicos ou privados. Todavia, para que tais parcerias se
efetivem é necessário conhecer as diferentes lógicas de atuação entre os atores
envolvidos. Da mesma forma, os movimentos de mudanças estruturais tiveram
influência no crescimento do terceiro setor, como a Terceira Revolução Industrial, a

46
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

revolução das comunicações e o crescimento econômico ocorrido nas décadas de


1960 e 1970, aumentando significativamente a classe média urbana (SALAMON,
1998; COSTA JÚNIOR, 1998).

No Brasil, além disso, não se pode deixar de considerar a péssima


distribuição de renda, ao mesmo tempo em que o país se encontra entre as dez
maiores economias do mundo pelo tamanho do PIB, apresentando uma das
piores distribuições de renda do planeta (COSTA JÚNIOR, 1998).

Drucker (1997), Hudson (1999) e Fernandes (1994) afirmam unanimemente


que o conceito de terceiro setor está muito ligado a uma dupla negação: não
lucrativo e na América Latina a não governamental. Isso, contudo, não significa
que essas organizações não necessitem de receita para se manter, sendo essa,
precisamente, que garante sua autossustentabilidade.

Palavras, como gratidão, solidariedade, lealdade, caridade, amor, compaixão,


responsabilidade, verdade, beleza etc., são moedas correntes que alimentam o
patrimônio do setor (DRUCKER, 1997; HUDSON, 1999; TENÓRIO, 2008).

Nesse contexto, o Terceiro Setor ganha popularidade e encontra maior


aceitação na designação de iniciativas voltadas à produção de bens públicos,
como a conscientização para os direitos da cidadania, a prevenção de doenças
transmissíveis e apoio a organizações esportivas e de defesa do meio ambiente
(FERNANDES, 1994).

Assim, o termo passa a ser geralmente aceito como um “guarda-chuva”


para cobrir o universo organizacional, que emerge em muitas sociedades, entre
o Estado e o mercado econômico (ALVES, 2002). Segundo Castro e Damásio
(2012), o terceiro setor é a esfera da sociedade composta por organizações sem
fins lucrativos nascidas da iniciativa voluntária, objetivando o benefício público,
atuando de forma integrada com os setores público e privado.

Ao estudar a origem do terceiro setor, notam-se diversos caminhos que


culminaram no fortalecimento e na sistematização das ações da sociedade civil
em prol do bem comum. O terceiro setor surgiu da conjunção de diversos fatores
e é também por isso que organizações com objetivos e estruturas tão diferentes
estão colocadas sob um mesmo conceito.

A denominação de terceiro setor vem de diversos pensadores, que


desenvolvem suas análises a partir de um modelo de três setores de atividade na
sociedade:

47
Organização e gestão do trabalho social

• Primeiro setor: mercado/setor privado.


• Segundo setor: governamental/setor público.
• Terceiro setor: atividades sociais/coletivas sem fins lucrativos.

Desta forma, as relações podem ser indicadas assim:

• AGENTES – FINS = SETOR.


• Privados para privados = mercado.
• Públicos para públicos = Estado.
• Privados para públicos = terceiro setor.

Salamon (1998) atribui o surgimento e o crescimento do terceiro setor


a várias pressões, demandas e necessidades advindas das pessoas, como
cidadãs, das instituições e até dos próprios governos; ele reflete um conjunto
nítido de mudanças sociais e tecnológicas, aliado à contínua crise de confiança
na capacidade do Estado. Em nível mundial, o crescimento do terceiro setor pode
ser atribuído a quatro crises:

• Falência do Estado de Bem-Estar Social (Welfare State).


• Crises econômicas dos países baseadas no desenvolvimento
neoliberal.
• A preocupação com o ambiental global (o Greenpeace pode ser
exemplo de uma das primeiras grandes organizações do terceiro
setor) e com direitos sociais, coletivos e difusos (movimentos sociais).
• Crise do socialismo, com a queda do muro de Berlim (1989).

Embora o desenvolvimento acentuado de entidades do terceiro setor seja


um fato relativamente recente, suas origens encontram-se em períodos bem
mais antigos da história. Hudson (1999) ressalta que em períodos anteriores ao
nascimento de Cristo já se faziam presentes muitos dos valores hoje atribuídos
ao terceiro setor, tais como a caridade e a filantropia. Para Salamon (1998), a
atividade voluntária organizada já estava presente na China da Antiguidade,
sendo fortalecida e institucionalizada sob o Budismo desde o século VIII.

No Japão, a atividade filantrópica remonta ao período Budista, sendo que a


primeira fundação japonesa moderna, a Sociedade da Gratidão, foi estabelecida
em 1829. As origens do movimento associativo na Europa, segundo Andion (1998,
p. 10), são identificadas por duas tradições principais:

A tradição romana, que se concretiza a partir da criação das


confrarias religiosas, dos partidos políticos e das corporações
da Idade Média; e a tradição germânica, que se relaciona
sobretudo com a prática das “guildas” – grupamentos de
cidadãos que possuíam múltiplas funções, como proteção

48
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

mutual, estabelecimento de direitos de mercadores, fixação de


preços e normas de honestidade comercial, entre outras.

Tais organizações, constituídas ao mesmo tempo por funções sociais,


econômicas e políticas, constituem as raízes das associações contemporâneas.
No contexto norte-americano, foi o empenho em defender um conceito essencial
da democracia – a liberdade – que deu origem às entidades dedicadas às
atividades filantrópicas e associativas. De fato, no pensamento corrente da
sociedade americana da época, em uma democracia marcada pela igualdade
entre os membros, o indivíduo isolado tornava-se mais fraco e dependente, de
modo que quase nada podia fazer por si mesmo, o que poderia levar o governo a
uma forma de tirania.

Assim, os membros dessa sociedade acabaram por criar um processo


de aprender a unir-se, aumentando seu poder de influência dentro da esfera
democrática. Para Fischer e Falconer (1998, p. 13):

Essa tradição [...] reflete uma concepção do relacionamento


entre Estado e sociedade civil, em que o primeiro não centraliza
em si todas as responsabilidades e os papéis necessários ao
desenvolvimento social, porque diferentes atores, sob diversos
modos de formatação de grupos de interesses, assumem
algumas funções que, na ótica destes autores, fortalecem as
características democráticas do modelo do governo.

No Brasil, o terceiro setor não é uma realidade nova. Apesar de ter uma
estrutura não claramente delineada e bastante complexa, essa complexidade
poderá ser entendida, pelo menos em parte, ao estudar sua origem.

Vasconcelos e Castro (1999) afirmam que a emergência desse movimento


social no Brasil tem suas origens remotas na Igreja Católica. A tradição religiosa
está ligada com os principais propósitos do setor: a ajuda ao próximo, o repartir, a
preocupação social.

A filantropia, por intermédio das Santas Casas de Misericórdia, as ordens


e as irmandades, que constituíram as primeiras redes de serviços assistenciais
paralelas às organizações do Estado, estão também na origem da atuação do
terceiro setor.

As ações das entidades ligadas à Igreja, praticamente desde a chegada dos


portugueses no Brasil, estavam demasiadamente carregadas com o conceito
de benemerência, e durante mais de três séculos a filantropia foi desenvolvida
neste país sob a lógica da prática assistencialista, com predomínio da caridade
cristã (VASCONCELOS; CASTRO, 1999). Ricos filantropos sustentavam os
educandários, os hospitais, as Santas Casas de Misericórdia, os asilos e demais
organizações que foram fundadas a partir do século XVIII.
49
Organização e gestão do trabalho social

A complexidade e a heterogeneidade da sociedade brasileira foram


ampliadas com os choques do petróleo na década de 1970, que causaram uma
das 30 principais crises econômicas no país, relegando parte significativa da
população a um patamar inferior na pirâmide social, com supressão da renda e
dos altos índices inflacionários.

Naquele período, enquanto os mais pobres eram punidos pela corrosão do


valor da moeda, os mais ricos eram beneficiados pela correção monetária dos
valores aplicados em bancos, agravando-se a desigualdade.

A crise econômica foi mais um dos fatores que contribuíram para colocar o
Brasil entre os países de maior índice de desigualdade de renda. Pelos dados de
1999 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 34% da população situava-se
na faixa de pobreza (IPEA, 2007).

O aspecto conjuntural veio deteriorando-se, ampliando a demanda pelo


aprimoramento das questões sociais degradadas, a tal ponto que o Estado não
pôde mais suportar o acúmulo de papéis.

Segundo Camargo et al. (2001, p. 21), o acúmulo das funções do “Estado


protetor e do Estado regulador” gerou pesados ônus no orçamento público,
criando uma situação insustentável, forçando a participação de toda a sociedade
na busca de soluções, manifestações sociais às quais não ficou alheio o terceiro
setor.

A origem do terceiro setor se prende também ao aparecimento das ONGs


(Organizações não Governamentais), que se manifestaram mais enfaticamente
nas décadas de 1960 e 1970, provenientes das “comunidades de base”, em
oposição ao Estado autoritário (VASCONCELOS; CASTRO, 1999, p. 8).

As ONGs tiveram características bem distintas das entidades constituídas


pela classe trabalhadora ou pelas instituições ligadas à Igreja; na verdade,
surgiram como alternativa às entidades assistencialistas. De posição bastante
radical no início, colocavam-se como o voluntariado “combativo”, no qual se
opunham a uma situação estabelecida. Propunham soluções para transformar a
sociedade (VASCONCELOS; CASTRO, 1999).

Não aceitavam aliar-se ao setor público nem ao privado. O fortalecimento


da sociedade civil, através das ações das ONGs no Brasil, deu-se no bojo da
resistência à ditadura militar. O questionamento do papel do Estado foi enfatizado
no Brasil a partir de 1980, com a redemocratização da América Latina e com o
surgimento do neoliberalismo como concepção político-econômico-cultural no
Ocidente.

50
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

As ONGs são entidades que não possuem fins lucrativos e realizam diversos
tipos de ações solidárias para públicos específicos, como crianças, idosos,
animais, meio ambiente etc. Importa destacar que com a promulgação da Lei
Federal nº 13.019, de 31 de julho de 2014, denominada de Marco Regulatório das
Organizações da Sociedade Civil (MROSC), as entidades da sociedade passam
por uma série de mudanças em termos de conveniamento e outras avenças. Além
disso, o termo deixa de ser ONG e passa a ser OSC (Organização da Sociedade
Civil).

O termo é de origem norte-americana, Third Sector, muito utilizado nos


Estados Unidos, e o Brasil vale-se da mesma classificação. Tais entidades da
sociedade civil originaram-se na década de 1930, sendo a maioria ligada ao
Estado com finalidade pública sem fins lucrativos.

Com a aprovação da Constituição da República de 1988, ocorreu um


avanço da política social do Brasil, resultado do processo de mobilização social.
Consequentemente, nas últimas décadas, observou-se um aumento do terceiro
setor, em especial das organizações não governamentais (ONGs), decorrente
da consolidação democrática por meio da pluralidade partidária, da formação de
sindicatos e do fortalecimento de movimentos sociais urbanos e rurais. Não há no
direito brasileiro, nem no Novo Código Civil ou em outra lei qualquer, designação
de ONG. Não há uma espécie de sociedade chamada ONG no Brasil, mas um
reconhecimento supralegal, de cunho cultural, político e sociológico, que está em
vigor mundo afora. Pode-se dizer que há um entendimento social de que ONGs
são entidades às quais as pessoas se vinculam por identificação pessoal com a
causa que elas promovem.

As ONGs surgiram com o objetivo de fazer uma parte que, em tese, é de


responsabilidade do Estado, ou então complementá-lo quando ele não consegue
atingir esse nível, buscando fazer o possível, muitas vezes, para pessoas excluídas
da sociedade e pessoas que não têm voz. Assim, essas entidades, por natureza,
não têm finalidade lucrativa, mas uma finalidade maior, geralmente filantrópica,
humanitária, de defesa de interesses que costumam ser de toda a população e
que, historicamente, deveriam ser objeto de atividade do poder público.

Destinam-se a atividades de caráter eminentemente público, sendo a parcela


da sociedade civil, como um todo, que se organiza na defesa de seus interesses
coletivos. Dessa forma, distinguem-se até de seus sócios e genericamente
passam a fazer parte do patrimônio de toda a sociedade e, às vezes, do mundo
inteiro.

A sigla ONG expressa, genericamente, organizações não governamentais


do terceiro setor, tais como associações, cooperativas, fundações, institutos

51
Organização e gestão do trabalho social

etc. Por “não governamentais”, considera-se o fato de que essas organizações


normalmente exercem alguma função pública. Embora não pertençam ao Estado,
ofertam serviços sociais, geralmente de caráter assistencial, que atendem a um
conjunto da sociedade maior do que apenas os fundadores e/ou administradores
da organização. Assim, a esfera de sua atuação é a esfera pública, embora não
estatal.

É importante mencionar, também, que nem todas as ONGs têm uma função
pública direcionada à promoção do bem-estar social (educacionais, de tratamento
médico, de caridade aos pobres, científicas, culturais etc.). Há ONGs cuja função
é, única e exclusivamente, atender aos interesses do seu grupo fundador e/ou
administrador, como alguns sindicatos, as cooperativas, as associações de seguro
mútuo etc. Caracterizam-se normalmente por serem organizações com finalidade
não econômica e não visam ao lucro. Constituídas em grande medida com
trabalho voluntário, geralmente dependem de doações privadas e/ou estatais.

Nada impede, contudo, que tenham fins econômicos ou atividades de


cunho econômico. Cumpre saber distingui-las das sociedades comerciais, cuja
característica é ter atividade econômica, produzir lucro e dividi-lo entre os sócios.
Por isso, em sua maior parte, sua natureza é civil.

Juntando-se as peças desse quebra-cabeça, tem-se que ONGs são, em


geral:

• associações civis;
• sem fins lucrativos;
• de direito privado;
• de interesse público.

Resumindo, as ONGs são um fenômeno mundial, visto que a sociedade civil


se organiza espontaneamente para a execução de certo tipo de atividade, cujo
cunho, o caráter, é de interesse público.

A forma societária mais utilizada é a da associação civil (em contrapartida às


organizações públicas e às organizações comerciais). São regidas por estatutos,
têm finalidade não econômica e não lucrativa. Fundações também podem vir a
ser genericamente reconhecidas como ONGs.

Assim como no caso das ONGs, existe certa confusão no que diz respeito ao
termo OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). De modo
geral, a OSCIP é entendida como uma instituição em si mesma, porém, OSCIP
é uma qualificação decorrente da Lei nº 9.790/99, regulamentada pelo Decreto
nº 3.100, de 30 junho de 1999 (Lei do Terceiro Setor). A legislação específica

52
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

para OSCIPs, também conhecida como Lei do Terceiro Setor, foi criada visando
organizar e dar transparência a um setor que cresceu muito e desordenadamente
nos últimos anos.

É fruto de debates entre os vários representantes do setor e do poder público,


e busca gerar respostas para a maioria dos desafios, gargalos e oportunidades
pelos quais passa o setor. Para fins de OSCIP, é considerada sem fins lucrativos,
conforme o § 1º do Art. 1º da Lei nº 9.790/99:

O Decreto nº 3.100, que disciplina questões e obrigações,


define documentos e atos necessários para quem estiver
pleiteando a certificação da OSCIP; estabelece métodos e
detalhes a serem observados pelo administrador público que
vai conceder o título; orienta sobre a interpretação de conceitos
determinados na Lei nº 9.790/99; e estipula os direitos das
partes (SEBRAE, 2014, p. 10).

É um título fornecido pelo Ministério da Justiça do Brasil, cuja


finalidade é facilitar o aparecimento de parcerias e convênios
com todos os níveis de governo e órgãos públicos (federal,
estadual e municipal) e permite que doações realizadas por
empresas possam ser descontadas no imposto de renda”
(FUHRMANN, 2018, p. 64).

Em outras palavras, OSCIP é uma qualificação jurídica dada a pessoas


jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, instituídas por iniciativa de
particulares, para desempenhar serviços sociais não exclusivos do Estado com
incentivo e fiscalização do Poder Público, mediante vínculo jurídico instituído por
meio de termo de parceria.

Assim, trata-se de uma sigla e não um tipo específico de organização. Por


ser uma qualificação e não uma forma de organização em si mesma, vários tipos
de instituições podem solicitar a qualificação como OSCIP.

Segundo Jordan (2002, p. 14), os pontos fortes dessas organizações são


a possibilidade de mudança social e de “as pessoas trabalharem em prol de
uma causa social; o espírito de solidariedade, de crescimento em conjunto e de
participação; o ambiente de trabalho agradável e o menor grau de burocracia; a
transparência; a solidariedade e a gestão participativa”.

O mesmo autor cita como pontos frágeis a possível dependência com relação
aos setores público e privado, para a obtenção de recursos, a falta de organização
interna e a dificuldade na prestação de contas.

Para se ter uma ideia da relevância econômica do terceiro setor, em uma


pesquisa realizada em sete países envolvendo este tipo de organização (Estados

53
Organização e gestão do trabalho social

Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Hungria e Japão), descobriu-se


que um em cada vinte empregados e um em cada dez prestadores de serviços
estão lotados no setor sem fins lucrativos naqueles países (SALAMON, 1997).

De acordo com Rifkin (1996), a diminuição de empregos na economia de


mercado formal e a redução dos gastos do governo no setor público exigirão que
se dê mais atenção ao terceiro setor: à economia de não mercado. É ao terceiro
setor – à economia social – que as pessoas irão voltar-se neste novo século,
para ajudar a administrar necessidades pessoais e sociais, relegadas pelo Estado
e pelo mercado.

O terceiro setor oferece a possibilidade de reformular o contrato social do


século XXI; socialmente, é o mais responsável dos três setores, pois atende às
necessidades e aspirações de milhões de pessoas que, de alguma forma, foram
excluídas ou não foram adequadamente atendidas pela esfera comercial ou
pública.

As organizações do terceiro setor desempenham muitas funções e assumirão


a tarefa de fornecer cada vez mais serviços básicos, sendo incubadoras de
novas ideias e foros para a manifestação de agravos sociais, constituindo-
se um espaço em que as pessoas aprendem a praticar a arte da participação
democrática, desenvolvem a dimensão espiritual, brincam, relaxam e vivenciam
mais plenamente os prazeres da vida e da natureza.

Entretanto, preparar-se para uma era pós-mercado requererá uma atenção


muito maior na construção do terceiro setor e na renovação da vida comunitária.
Ao contrário do setor público e privado, o terceiro setor está absorvendo um
contingente crescente de trabalhadores (JORDAN, 2002; COSTA JÚNIOR, 1998).

Para Rifkin (1996), o terceiro setor é a maior inovação social do século


XXI e tende a crescer a fim de resolver os problemas sociais gerados pelo mercado
e que o Estado não consegue solucionar, especialmente aqueles relacionados ao
emprego, uma vez que, no terceiro setor, o trabalho humano é imprescindível e
indispensável, não podendo ser substituído.

MONTANO, C.; DURIGUETTO, M. L. Estado, classe e


movimento social. São Pulo: Cortez, 2014.

ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as


metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo:
Cortez, 2003.
54
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

Sobre as Organizações não Governamentais (ONGs):


BOVO, C. R. M. Anistia Internacional: roteiros da cidadania em
construção. São Paulo: Annablume, 2002.

COELHO, S. de C. T. Terceiro setor: um estudo comparado entre


Brasil e Estados Unidos. São Paulo: Senac, 2000.

LÉO - INDICAÇÃO DE SITE:


GHON, M. da G. Movimentos sociais na contemporaneidade.
Revista Brasileira de Educação, v. 16, n. 47, maio/ago. 2011.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v16n47/v16n47a05.
pdf.

GHON, M. da G. Teoria dos movimentos sociais, paradigmas


clássicos e contemporâneos. São Paulo: Edições Loyola, 1997.
Disponível em: http://flacso.org.br/files/2016/10/120184012-
Maria-da-Gloria-Gohn-TEORIA-DOS-MOVIMENTOS-SOCIAIS-
PARADIGMAS-CLASSICOS-E-CONTEMPORANEOS-1.pdf.

Leia uma matéria publicada na Revista Isto É sobre a quarta


revolução e suas implicações com relação ao trabalho:
ARAN, E.; CILO, H. O emprego tem futuro? 2019. Disponível
em: https://www.istoedinheiro.com.br/o-emprego-tem-futuro/.

Consulte o site da Associação Brasileira de Organizações não


Governamentais: www.abong.org.br.
Para maiores informações sobre oficinas, consultorias
e palestras relacionadas com os temas de associativismo e
cooperativismo, procure o Sebrae mais próximo de você, ou acesse:
www.sebrae.com.br.

1 Explique as diferenças entre ONGs e OSCIPs.


R.:____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

55
Organização e gestão do trabalho social

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
No Capítulo 1, estudamos que o trabalho é uma categoria histórica e
está em constante transformação. No transcorrer da história da humanidade,
diferentes sociedades se organizaram de diferentes formas para dividir as tarefas,
transformar a natureza e produzir suas condições materiais de sobrevivência.

As teorias sociais explicam o pensamento econômico da nossa sociedade


para entendermos as formas de organização e gestão do trabalho social.
Identificamos como os diferentes modelos econômicos influenciaram os rumos
das sociedades e dos países, bem como conhecemos como se processou
a formulação e a implementação de políticas econômicas e os seus principais
conceitos.

Para Marx, com o trabalho, a criação é inerente à condição humana e


há um processo de transformação da natureza, mas, também, do próprio homem.
Marx estabelece e amplia as reflexões sobre as relações entre o trabalho e o
processo de formação humana. Neste processo de transformar a natureza para
satisfazer suas necessidades, o homem produz necessariamente conhecimento,
compreendendo progressivamente a realidade na qual está inserido. Ao agir
sobre a sua realidade, produzindo conhecimento, o homem, ao transformar
a realidade, também transforma a si próprio. Ao longo da sua história, o homo
sapiens vem modificando a natureza, mas, também, a sua estrutura biológica,
social, econômica e política.

Vimos também que para Hannah Arendt, três atividades constituem


o homem: Labor, Ação e Trabalho. Ela argumenta que ao longo da tradição
econômica e social da sociedade capitalista se valorizou o Labor e a Ação em
detrimento do Trabalho, do Homo Faber. O Animal Laborans realiza o mesmo
tipo de atividade dos animais, ou seja, realiza atividades movidas pelas suas
necessidades e instintos biológicos, unicamente pela sua sobrevivência e garantia
da vida. Assim, também é o escravo, aquele que labora, que está escravizado
pelas suas necessidades inerentes da condição humana. O cidadão, os
proprietários, os donos dos meios de produção realizam a Ação, que é a atividade
política e social.

Já o Homo Faber é aquele que realiza o Trabalho, atividade de domínio


e transformação da realidade. Fabrica objetos e se relaciona com o mundo do
trabalho. É a atividade de produção de conhecimento e criatividade. Hanna Arendt
considera que a visão depreciativa do trabalho se manteve desde a Antiguidade
(escravidão), depois com o Feudalismo (servidão) e com o Sistema Capitalista
(exploração), justamente por se valorizar o Labor (animal laborans) e a Ação
(Homo Politicus) em detrimento do Trabalho (Homo Faber).
56
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

Os desdobramentos socioeconômicos trazidos pela industrialização


e, consequentemente, pela mecanização de todo sistema de produção de
mercadorias em nível mundial, a partir do século XIX, provocaram alterações
não só nas relações de trabalho entre patrão e operário, mas, principalmente, no
modo como as pessoas passaram a se relacionar, mediadas pelas mercadorias
que elas produzem. Esta competição dentro do sistema capitalista gerará o que
Schumpeter denomina de “destruição criativa”, causada pela “inovação”, um fator
intrínseco que cria constantemente: novos bens de consumo, novos métodos
e processos de produção e transportes, novos mercados e novas formas de
organização industrial.

A Revolução Industrial fez surgir grandes fábricas no lugar das pequenas


oficinas. Assim, o modo artesanal de produção, que incluía a participação do
trabalhador em todas as etapas de produção e circulação da mercadoria, foi
substituído pela lógica da produção em larga escala, tendo como principal
característica o trabalho fragmentado pela divisão de tarefas. Esta nova forma de
organização e gestão do trabalho é denominada de Modelo Taylorista/Fordista.

Para o novo modo de produção e acumulação flexível – modelo japonês/


Toyotista – com a organização e gestão das empresas em redes, é preciso um
novo trabalhador. Os novos elementos do “modelo de competências” do ponto
de vista das empresas com relação aos trabalhadores são: valorização da
mobilidade e do acompanhamento individualizado da carreira, introdução de
processos de avaliação contínua do desenvolvimento do funcionário na empresa,
novos critérios de avaliação, que privilegiam as qualidades pessoais e relacionais,
como responsabilidade, autonomia, capacidade de trabalhar em equipe etc.,
instigação à formação contínua, o aprender sempre, desvalorização dos antigos
sistemas de classificação fundada nos níveis de qualificação e originados nas
negociações coletivas, privilegiamento das negociações trabalhistas individuais,
sem sindicatos.

Pierre Levy (2000, p. 92), filósofo, professor da Universidade de Paris VIII e


importante estudioso das implicações da internet, define o ciberespaço como “o
espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e
das memórias dos computadores”. O termo especifica não apenas a infraestrutura
material de comunicação digital, mas, também, o conjunto das informações
que ele abriga, bem como os indivíduos e as organizações que navegam neste
universo e o alimentam: redes de empresas, associações, universidades, canais
de televisão, bibliotecas, anônimos, entre outros.

A cibercultura, por sua vez, é “um conjunto de técnicas (materiais e


intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que
se desenvolvem paralelamente ao crescimento do ciberespaço” (LEVY, 2000, p.

57
Organização e gestão do trabalho social

17). Os princípios da cibercultura são a interconexão, a criação de comunidades


virtuais e o desenvolvimento da inteligência coletiva. Não podemos estabelecer
desde já em que direção ruma à cibercultura, isto é, a que resultados se chegará
através dos seus princípios.

As ONGs são organizações não governamentais do terceiro setor, tais como


associações, cooperativas, fundações, institutos etc. Importa destacar que com a
promulgação da Lei Federal nº 13.019, de 31 de julho de 2014, denominada de
Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC), as entidades
da sociedade passam por uma série de mudanças em termos de conveniamento
e outras avenças. Além disso, o termo deixa de ser ONG e passa a ser OSC
(Organização da Sociedade Civil). É um fenômeno mundial, visto que a sociedade
civil se organiza espontaneamente para a execução de certo tipo de atividade,
cujo cunho, o caráter, é de interesse público.

Vimos que a forma societária mais utilizada é a da associação civil (em


contrapartida às organizações públicas e às organizações comerciais). São
regidas por estatutos, têm finalidade não econômica e não lucrativa. Fundações
também podem vir a ser genericamente reconhecidas como ONGs.

A OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) é entendida


como uma instituição em si mesma, porém, OSCIP é uma qualificação decorrente
da Lei nº 9.790/99, regulamentada pelo Decreto nº 3.100, de 30 junho de 1999
(Lei do Terceiro Setor). A legislação específica para OSCIPs, também conhecida
como Lei do Terceiro Setor, foi criada visando organizar e dar transparência a um
setor que cresceu muito e desordenadamente nos últimos anos.

É fruto de debates entre os vários representantes do setor e do poder público,


e busca gerar respostas para a maioria dos desafios, gargalos e oportunidades
pelos quais passa o setor. O Decreto nº 3.100, que disciplina questões e
obrigações, define documentos e atos necessários para quem estiver pleiteando a
certificação da OSCIP; estabelece métodos e detalhes a serem observados pelo
administrador público que vai conceder o título; orienta sobre a interpretação de
conceitos determinados na Lei nº 9.790/99; e estipula os direitos das partes.

Os pontos fortes dessas organizações são a possibilidade de mudança


social e de as pessoas trabalharem em prol de uma causa social; o espírito de
solidariedade, de crescimento em conjunto e de participação; o ambiente de
trabalho agradável e o menor grau de burocracia; a transparência; a solidariedade
e a gestão participativa.

Para se ter uma ideia da relevância econômica do terceiro setor, em uma


pesquisa realizada em sete países envolvendo este tipo de organização (Estados

58
Capítulo 1 O Mundo Do Trabalho E A Sociedade Em Rede

Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Hungria e Japão), descobriu-se


“que um em cada vinte empregados e um em cada dez prestadores de serviços
estão lotados no setor sem fins lucrativos naqueles países” (SALAMON, 1997).

De acordo com Rifkin (1996), a diminuição de empregos na economia de


mercado formal e a redução dos gastos do governo no setor público exigirão que
se dê mais atenção ao terceiro setor: à economia de não mercado.

É ao terceiro setor – à economia social – que as pessoas irão voltar-se


neste novo século, para ajudar a administrar necessidades pessoais e sociais,
relegadas pelo Estado e pelo mercado. Ao contrário do setor público e privado,
o terceiro setor está absorvendo um contingente crescente de trabalhadores
(JORDAN, 2002).

Para Rifkin (1996), o terceiro setor é a maior inovação social do século XXI
e tende a crescer a fim de resolver os problemas sociais gerados pelo mercado e
que o Estado não consegue solucionar, especialmente aqueles relacionados ao
emprego, uma vez que, no terceiro setor, o trabalho humano é imprescindível e
indispensável, não podendo ser substituído.

A seguir, na próxima unidade, estudaremos as novas possibilidades de


desenvolvimento do trabalho social, potencializadas pelas inovações tecnológicas.

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das parcerias entre a administração pública e as organizações da sociedade
civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de finalidades
de interesse público e recíproco, mediante a execução de atividades ou de
projetos previamente estabelecidos em planos de trabalho inseridos em termos
de colaboração, em termos de fomento ou em acordos de cooperação; define
diretrizes para a política de fomento, de colaboração e de cooperação com
organizações da sociedade civil; e altera as Leis nºs 8.429, de 2 de junho de
1992, e 9.790, de 23 de março de 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.
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ROSSETI, J. P. Introdução à Economia. São Paulo: Atlas, 1994.

SALAMON, L.; ANHEIER, H. K. Measuring the Nonprofit Sector Cross-Nationally:


a Comparative Methodology. Voluntas, v. 4, n. 4, p. 530-554, 1993.

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Público. Brasília: Sebrae, 2014. Disponível em: http://www.bibliotecas.
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TENÓRIO, F. G. Gestão de ONGs: principais funções gerenciais. 10. ed. 2.


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TIGRE, P. B. Gestão da inovação: a economia da tecnologia no Brasil. 5. ed. Rio
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investimentos nos anos 90. Brasília: IPEA, 1999. (Texto para Discussão, 624).

WOOD JÚNIOR, T. Fordismo, Toyotismo e Volvismo: os caminhos da indústria


em busca do tempo perdido. Rev. Adm. Empresas, v. 32, n. 4, p. 6-18, 1992.

64
C APÍTULO 2
O Trabalho Social Como Forma De
Transformar O Mundo

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Analisar as novas possibilidades do trabalho social como transformação do


mundo.
• Identificar novas possibilidades de negócios sociais.
• Utilizar novas tecnologias para o trabalho social.
• Empreender para a criação de novos negócios com escalabilidade e impacto
social.
Organização e gestão do trabalho social

66
Capítulo 2 O Trabalho Social Como Forma De Transformar O Mundo

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A tecnologia revolucionou nossa forma de consumir, de nos relacionar e
informar. No entanto, também é útil para resolver problemas sociais e ambientais.
Quando enumeramos as virtudes da tecnologia, costumamos ressaltar sua
capacidade para nos conectar, entreter e facilitar nossa vida. Pensamos nos
smartphones, nas redes sociais ou nos eletrodomésticos inteligentes, esquecendo
ou dando menos importância ao enorme potencial que oferecem para converter
o mundo em um lugar mais justo, igualitário, sustentável e próspero para
todos. Então, neste capítulo, estudaremos o futuro do trabalho social a partir
das inovações sociais que possibilitam novas formas de empreendedorismo e
negócios sociais.

2 TECNOLOGIAS INCLUSIVAS E
INOVAÇÃO SOCIAL
De uma visão crítica, surgem propostas alternativas de estudos e pesquisas
voltados para a inovação tecnológica não somente como motor do crescimento
econômico, mas também para o desenvolvimento social. Tal visão insere-
se no marco analítico-conceitual do que, nas palavras de Cerezo (2000, p. 1),
denomina-se de “estudos sobre ciência, tecnologia e sociedade (CTS)”, que
constituem hoje um vigoroso campo de trabalho em que se trata de entender o
fenômeno científico-tecnológico no contexto social, tanto com relação com seus
condicionantes sociais como no que se refere as suas consequências sociais e
ambientais.

2.1 TECNOLOGIAS SOCIAIS:


TECNOLOGIAS PARA O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
E A INCLUSÃO SOCIAL
Podemos destacar o início da utilização de tecnologias para a inclusão
social a proposta por M. Gandhi (1869-1948). A Índia do final do século XIX é
reconhecida como o berço do que veio a se chamar no Ocidente de Tecnologia
Apropriada (TA) ou, como hoje é conhecida, Tecnologia Social (TS). Conforme
Costa (2013, p. 21), “o conceito de tecnologia social insere-se no debate sobre

67
Organização e gestão do trabalho social

alternativas tecnológicas. Parte da concepção de que a tecnologia não é neutra


e analisa seu uso no contexto político, pois, em diversos episódios históricos, foi
objeto de resistência e de dominação, principalmente em países de colonização
europeia”.

O pensamento dos reformadores daquela sociedade estava voltado para


a reabilitação e o desenvolvimento das tecnologias tradicionais, praticadas em
suas aldeias, como estratégia de luta contra o domínio britânico. De acordo
com Dagnino, Brandão e Novaes (2004), entre 1924 e 1927, Gandhi dedicou-
se a utilizar uma máquina de fiar reconhecida como o primeiro equipamento
tecnologicamente apropriado, a Charkha, como forma de lutar contra a injustiça
social e o sistema de castas que a perpetuava, visando à popularização da fiação
manual na Índia.

FIGURA 1 – GANDHI POR MARGARET BOURKE-WHITE, 1946

FONTE: <http://100photos.time.com/photos/margaret-bourke-
white-gandhi-spinning-wheel>. Acesso em: 24 jun. 2020.

As ideias de Gandhi foram aplicadas em vários países e influenciaram


vários pesquisadores de países avançados preocupados com as relações entre a
tecnologia e a sociedade, que já haviam percebido o fato de que as Tecnologias
Convencionais (TCs), dedicadas apenas para a geração de lucro, que a empresa
privada desenvolve e utiliza, não são adequadas à realidade dos países
periféricos.

Conforme Dagnino (1976), o movimento da TA ao incorporar aspectos


culturais, sociais e políticos à discussão e propor uma mudança no estilo de
desenvolvimento avançou numa direção que nos interessa discutir. Durante as
décadas de 1970 e 1980, houve grande proliferação de grupos de pesquisadores
partidários da ideia da TA nos países avançados e significativa produção de
artefatos tecnológicos baseados nessa perspectiva.

68
Capítulo 2 O Trabalho Social Como Forma De Transformar O Mundo

Embora o objetivo central da maioria desses grupos fosse minimizar


a pobreza nos países do Terceiro Mundo, a preocupação com as questões
ambientais e com as fontes alternativas de energia, de forma genérica e, também,
referida aos países avançados, era relativamente frequente.

As expressões que foram sendo formuladas tinham como característica


comum o fato de serem geradas por diferenciação à TC, em função da percepção
de que esta não tem conseguido resolver, podendo mesmo agravar, os problemas
sociais e ambientais. Cada uma delas refletia os ambientes em que emergia a
preocupação com a inadequação da TC.

Algumas indicavam a necessidade de minorar essa inadequação para


solucionar problemas conjunturais e localizados, até que as regiões ou populações
envolvidas pudessem ser incorporadas a uma rota de desenvolvimento tida
como desejável. Embutidas nessas concepções de tecnologias sociais foram
estabelecidas características como:

• a participação comunitária no processo decisório de escolha


tecnológica;
• o baixo custo dos produtos ou serviços finais e do investimento
necessário para produzi-los;
• a pequena ou média escala;
• a simplicidade.

Tais efeitos positivos seriam a sua utilização para a geração de renda, saúde,
emprego, produção de alimentos, nutrição, habitação, relações sociais e para o
meio ambiente (com a utilização de recursos renováveis). Passou-se, enfim, a
identificar a TA por “um conjunto de técnicas de produção que utiliza de maneira
ótima os recursos disponíveis de certa sociedade, maximizando, assim, seu bem-
estar” (DAGNINO, 1976, p. 86).

Em função de suas características de maior intensidade de mão de obra,


uso intensivo de insumos naturais, simplicidade de implantação e manutenção,
respeito à cultura e à capacitação locais etc., a TA seria capaz de evitar os
prejuízos sociais e ambientais derivados da adoção das TCs e, adicionalmente,
diminuir a dependência com relação aos fornecedores usuais de tecnologia para
os países periféricos.

Com este conceito de Tecnologias Apropriadas, desenvolvem-se pesquisas


com um modelo teórico alternativo denominado de Tecnologias Sociais, um
“conjunto de técnicas, metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ou
aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela, que representam
soluções para inclusão social e melhoria das condições de vida” (ITS BRASIL,
2004, p. 26).
69
Organização e gestão do trabalho social

FIGURA 2 – TECNOLOGIAS SOCIAIS

FONTE: <http://tecnologias-sociais.blogspot.com/2007/>. Acesso em: 24 jun. 2020.

Esta modalidade de Tecnologia (produtos ou processos) pode ser


caracterizada por pelo menos três formas de melhoria, de maneira isolada ou
combinada, seguida de algumas formas de ação coletiva:

1) ajuda a promover a satisfação das necessidades humanas de


populações em condições de exclusão social;
2) facilita o acesso aos direitos sociais nas áreas de educação, saúde,
assistência técnica para produção, assistência social, comunicação,
energia, entre outras;
3) contribui para potencializar as capacidades humanas pelo
fortalecimento e empoderamento de grupos sociais, crescimento do
capital social.

Existem muitos tipos diferentes de tecnologias sociais no Brasil e no mundo,


tanto para negócios como para realidades rurais e urbanas. Podemos dividi-las
em alguns grupos:

• Produtos, dispositivos ou equipamentos.


• Processos, procedimentos, técnicas ou metodologias.
• Serviços.
• Inovações sociais organizacionais.
• Inovações sociais de gestão.

70
Capítulo 2 O Trabalho Social Como Forma De Transformar O Mundo

No Brasil já temos, na Amazônia, o Parque Científico e Tecnológico para


Inclusão Social, que representa uma resposta direta aos dilemas socioambientais
mediante o desafio de inclusão social e sustentabilidade da região. Com a
Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores
(ANPROTEC), a criação de Parques Tecnológicos (PqTs) passou a constituir-
se numa estratégia de promoção do desenvolvimento tecnológico, econômico e
social. Os PqTs fornecem o ambiente para oportunizar a realização de negócios
e sediar empreendimentos baseados em conhecimento, ao arregimentar e
abrigar centros, núcleo e laboratórios para pesquisa, focados no desenvolvimento
tecnológico, práticas de inovação e incubação, capacitação, prospecção,
implantação de infraestrutura, bem como feiras, exposições e desenvolvimento
mercadológico (IHU ON-LINE, 2014).

Assista ao vídeo “Você sabe o que é tecnologia social?”, de


2017. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?time_continue=7&v
=TTl9mpKupew&feature=emb_title.
Acesse o site Transforma. Disponível em: https://transforma.fbb.
org.br/.
Acesse o caderno “Tecnologias sociais: como os negócios
podem transformar comunidades”, de 2017. Disponível em:
http://sustentabilidade.sebrae.com.br/Sustentabilidade/Para%20
sua%20empresa/Publica%C3%A7%C3%B5es/Tecnologias-Sociais-
final.pdf.

Atualmente, a utilização das Tecnologias Sociais está conectada aos


Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das
Nações Unidas (ONU). Em setembro de 2015, percebendo que os indicadores
econômicos, sociais e ambientais dos últimos anos eram pessimistas quanto ao
futuro das próximas gerações, a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs
que os seus 193 países-membros assinassem a Agenda 2030, um plano global
composto por 17 objetivos e 169 metas para que esses países alcancem o
desenvolvimento sustentável em todos os âmbitos até 2030. O desenvolvimento
sustentável é aquele que consegue atender às necessidades da geração atual
sem comprometer a existência das gerações futuras.

71
Organização e gestão do trabalho social

Cada objetivo e suas respectivas metas abordam aspectos diferentes que


convergem pelo fato de serem essenciais para a viabilidade de uma sociedade
sustentável. Todos os países-membros da ONU assinaram a Agenda 2030 e
agora têm que arcar com o compromisso de alcançar as metas dos 17 objetivos.

FIGURA 3 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

FONTE: <https://plan.org.br/conheca-os-17-objetivos-de-
desenvolvimento-sustentavel/>. Acesso em: 24 jun. 2020.

Conheça os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável:

1) Erradicação da pobreza: acabar com a pobreza em todas as


suas formas, em todos os lugares.
2) Fome zero e agricultura sustentável: acabar com a fome,
alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover
a agricultura sustentável.
3) Saúde e bem-estar: assegurar uma vida saudável e promover o
bem-estar para todos, em todas as idades.
4) Educação de qualidade: assegurar a educação inclusiva
e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de
aprendizagem ao longo da vida para todos.
5) Igualdade de gênero: alcançar a igualdade de gênero e
empoderar todas as mulheres e meninas.
6) Água limpa e saneamento: garantir disponibilidade e manejo

72
Capítulo 2 O Trabalho Social Como Forma De Transformar O Mundo

sustentável da água e saneamento para todos.


7) Energia limpa e acessível: garantir acesso à energia barata,
confiável, sustentável e renovável para todos.
8) Trabalho decente e crescimento econômico: promover o
crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável,
emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos.
9) Inovação e infraestrutura: construir infraestrutura resiliente,
promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a
inovação.
10) Redução das desigualdades: reduzir as desigualdades dentro
dos países e entre eles.
11) Cidades e comunidades sustentáveis: tornar as cidades e
os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e
sustentáveis.
12) Consumo e produção responsáveis: assegurar padrões de
produção e de consumo sustentáveis.
13) Ação contra a mudança global do clima: tomar medidas
urgentes para combater a mudança climática e seus impactos.
14) Vida na água: conservação e uso sustentável dos oceanos,
dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento
sustentável.
15) Vida terrestre: proteger, recuperar e promover o uso sustentável
dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as
florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação
da Terra e deter a perda da biodiversidade.
16) Paz, justiça e instituições eficazes: promover sociedades
pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável,
proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições
eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
17) Parcerias e meios de implementação: fortalecer os meios
de implementação e revitalizar a parceria global para o
desenvolvimento sustentável.

FONTE: <https://plan.org.br/conheca-os-17-objetivos-de-
desenvolvimento-sustentavel/>. Acesso em: 19 abr. 2020.

Exemplos de tecnologias sociais para cada um destes Objetivos


de Desenvolvimento Sustentável podem ser encontrados em: https://
transforma.fbb.org.br/.

73
Organização e gestão do trabalho social

1 Apresente a distinção entre tecnologias convencionais (TC) e


tecnologias apropriadas (TA)/Tecnologias Sociais (TS):
R.:____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2.2 INOVAÇÃO TECNOLÓGICA


VERSUS INOVAÇÃO SOCIAL
A variedade das noções que hoje se estabelecem sobre a Inovação Social
se vincula ao fato dessas noções mostrarem como esse tipo de inovação
procura beneficiar os seres humanos antes de tudo, diferentemente das noções
econômicas tradicionais sobre inovação, voltadas fundamentalmente aos
benefícios financeiros. Se as concepções schumpeterianas e neoschumpeterianas
tradicionais se baseiam na ideia de resultado econômico e de lucro, as inovações
sociais se voltam para as questões sociais. É importante ressaltar que essa
dicotomia não representa incompatibilidade entre inovação tecnológica e inovação
social.

Segundo Dagnino e Gomes (2000), a inovação social pode ser entendida


como o conjunto de atividades que pode englobar desde a pesquisa e o
desenvolvimento tecnológico até a introdução de novos métodos de gestão da
força de trabalho, e que tem como objetivo a disponibilização por uma unidade
produtiva de um novo bem ou serviço para a sociedade.

O conceito de inovação social é usado em Dagnino e Gomes (2000) para


fazer referência ao conhecimento – intangível ou incorporado a pessoas ou

74
Capítulo 2 O Trabalho Social Como Forma De Transformar O Mundo

equipamentos, tácito ou codificado –, que tem por objetivo o aumento da


efetividade dos processos, serviços e produtos relacionados à satisfação das
necessidades sociais.

Também podemos definir inovação social como uma solução inovadora para
um problema social que seja mais efetiva, eficiente e sustentável na comparação
com as outras opções de soluções já existentes, na ótica da sociedade
(coletividade) e não dos indivíduos.

Para se conseguir uma mudança positiva e sustentável para a sociedade,


precisamos pensar de outro modo. Para inovar, as empresas precisam equilibrar
desafios complexos, mudanças climáticas, engarrafamentos, desigualdade no
sistema de saúde, demandas por recursos, escassez de água, desenvolvimento
urbano e crescimento industrial. Tudo isso ao mesmo tempo em que proporciona
conforto, felicidade, conveniência, poder de escolha, melhor qualidade de vida,
meio ambiente mais limpo, mais tempo livre, menos estresse e mais segurança
para as pessoas. Qual será a reação das empresas diante dos crescentes
desafios da humanidade e da sociedade? Quem tomará a liderança, inovando
com novos modelos de negócios, produtos e serviços que proporcionarão valor
futuro para as empresas, beneficiando todos os cidadãos do mundo?

Podemos identificar a convergência como elemento-chave essencial para se


obter a Inovação Social. Isto significa a convergência de tecnologias, indústrias,
produtos e modelos de negócios, inclusive na área financeira. A Frost & Sullivan
definiu a Inovação Social como “o lançamento de tecnologia e novos modelos de
negócios que trazem verdadeiras mudanças positivas para as vidas das pessoas
e da sociedade, criando valor compartilhado” (HITACHI, 2014, p. 3).

Na pesquisa, para dimensionar a oportunidade global de Inovação Social,


a Frost & Sullivan quantificou a Inovação Social como sendo a responsável por
cerca de 5% dos $ 40 trilhões que estas indústrias contribuirão para o PIB em
2020. Entretanto, novos desafios exigem novas medidas e, no futuro, exigirão
novas formas de quantificar a Inovação Social, além de medir tamanhos de
mercado, se o impacto total da Inovação Social for monitorado.

O verdadeiro valor da Inovação Social terá de ser medido por meio


de seu impacto na sociedade e na vida de cada indivíduo. No momento em
que atingir o indivíduo, a Inovação Social terá um tremendo impacto em termos
de trazer conforto, felicidade, conveniência, escolha, melhor qualidade de vida,
um ambiente mais limpo, mais tempo, menos estresse e mais segurança para o
usuário final. Isto é o que realmente vai sopesar a balança a favor da Inovação
Social – quando a inovação verdadeiramente responder aos problemas profundos
sentidos pelo cidadão.

75
Organização e gestão do trabalho social

Ao entender esses benefícios e impactos, a Inovação Social começa a


pagar de volta às empresas, governos e sociedades que nela investiram. Se as
pessoas realmente virem as melhorias em suas vidas, ambientes e na sociedade,
elas entenderão o valor desse investimento. É neste ponto que o crescimento
rentável ocorrerá para as empresas que podem inovar para maximizar o bem-
estar da sociedade, fornecendo o equilíbrio certo entre informação, infraestrutura,
tecnologia e novos modelos de negócios.

A Inovação Social visa alcançar uma sociedade sustentável, em que as


necessidades ambientais e econômicas são abordadas de uma forma equilibrada.
As empresas bem-sucedidas utilizarão métodos únicos e inovadores de entrega
que não terão sido necessariamente usados em indústrias específicas, mas
que tenham demonstrado êxito de outra forma. Como as questões sociais são
o principal componente da inovação, isso exigirá a criação de novas relações no
processo de tomada de decisão e entrega.

Os desafios da sociedade atual exigem formas inovadoras de aplicação


das novas tecnologias, juntamente a novas formas de organização e processos
de rede para construir o capital humano e social. As características-chave
na entrega de Inovação Social incluem a coordenação e a mediação entre os
diferentes grupos de partes interessadas envolvidos no processo. É preciso
considerar também o maior envolvimento da sociedade (usuários, pacientes,
cidadãos etc.) no processo de codesenvolvimento. Dentre estas formas de
aplicação das novas tecnologias, podemos destacar:

• Tecnologias sociais: “conjunto de técnicas, metodologias


transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a
população e apropriadas por ela, que representam soluções para
inclusão social e melhoria das condições de vida” (COSTA, 2013,
p. 26). Tecnologias sociais pressupõem a participação efetiva da
comunidade no seu processo de construção e/ou apropriação.
Aplicações de tecnologias sociais em: empreendedorismo social,
empreendedorismo solidário, inovação social, incubadoras sociais,
economia solidária.
• Tecnologias assistivas/interativas: compreendem a pesquisa e
o desenvolvimento de instrumentos que aumentem ou restaurem
as funcionalidades humanas, ampliando a autonomia de pessoas
com deficiência ou com mobilidade reduzida em suas atividades
domésticas, ocupacionais e de lazer. Exemplo: tecnologias hápticas:
tecnologias sensíveis ao tato, ao toque.
• Tecnologias sustentáveis/tecnologias verdes: compreendem a
racionalização do uso dos recursos naturais em atividades voltadas

76
Capítulo 2 O Trabalho Social Como Forma De Transformar O Mundo

à inclusão social, considerando a reciclagem de materiais e resíduos


sólidos urbanos, a água, a biodiversidade e a geração de energias
alternativas etc.
• Tecnologias educacionais: processos, ferramentas e materiais que
estejam aliados a uma proposta pedagógica que possam auxiliar
gestores, professores e alunos na relação ensino-aprendizagem para
a melhoria da educação.
• Tecnologias em saúde: medicamentos, materiais, equipamentos
e procedimentos, sistemas organizacionais, educacionais, de
informações e de suporte, e programas e protocolos assistenciais,
por meio dos quais a atenção e os cuidados com a saúde são
prestados à população. Na era eletrônica e de rápidas mudanças
nas Tecnologias de Informação e Comunicação, as informações
em saúde precisam ser seguras e integradas de modo a atender às
necessidades dos pacientes em tempo real e de forma cada vez mais
segura.
• Tecnologias, direitos humanos e multiculturalismo: tecnologias
que contribuem para a integração de todos os povos, valorizando
suas crenças, valores, costumes, tradições e religiões, preservando
o seu patrimônio cultural. Ex.: redes sociais e culturais, arranjos
cooperativos entre povos, disseminação digital das culturas etc.

São necessários que vários elementos estratégicos estejam reunidos para


que a Inovação Social aconteça com sucesso. A rentabilidade sustentável para a
empresa e a sociedade é componente-chave no sucesso da Inovação Social, com
vários outros fatores estratégicos contribuindo para o seu sucesso.

Para os próprios inovadores sociais – ou os provedores de soluções – o


elemento-chave é o crescimento rentável e sustentável. Os provedores de
soluções também estão expandindo suas iniciativas de Inovação Social através
de parcerias com empresas que não necessariamente pertencem as suas
próprias indústrias, visando fornecer soluções e inovações em torno de processos,
análises e operações.

Então, onde está a necessidade – e, portanto, a oportunidade – mais


atraente? A resposta simples é: onde quer que os desafios da sociedade sejam
convergentes e possam ser melhor abordados através da inovação social. Isso
significa situações em que:

• Haja uma clara necessidade de eficiência (como na transmissão e


distribuição de eletricidade e no crescimento de redes inteligentes, ou
na fabricação, em que o surgimento da Indústria 4.0 impulsionará a
eficiência e a sustentabilidade).

77
Organização e gestão do trabalho social

• Exista suporte para o desenvolvimento sustentável (como energia,


água, aproveitamento de resíduos e uso de recursos naturais,
incluindo inovações em energia renovável, reciclagem, tratamento
de águas residuais, processamento de alimentos respeitando o meio
ambiente e embalagens amigáveis para o ecossistema).
• Haja mudanças de paradigma emergentes (como na área da saúde
com a mudança global do investimento na cura para a prevenção e
diagnóstico).
• Haja uma necessidade de trazer valor para muitos através dos novos
modelos de negócios (tais como soluções de mobilidade, como o
compartilhamento de carros, que priorizam o acesso sobre a posse,
ou modelos que estão aparecendo cada vez mais em setores, como
o de transportes públicos e de gestão de energia).
• Haja uma visão do governo ou da cidade olhando para o futuro
(como em cidades inteligentes ou sustentáveis, onde os líderes estão
tentando implantar tecnologia para reduzir o impacto ambiental,
melhorar a infraestrutura urbana e aumentar a sustentabilidade,
ao mesmo tempo em que competem uns com os outros por
investimentos e negócios).
• Haja uma oportunidade para a convergência de tecnologias (como a
inteligência digital, internet de tudo e análise de dados em edifícios,
casas, redes, redes de água, hospitais, cidades, fábricas e sistemas
de transporte).

Todas essas situações permitirão a abertura de oportunidades de trabalho


social nas seguintes áreas (HITACHI, 2014):

Energia: renováveis; energia nuclear; nova era do gás; gestão de demanda;


smart grids, resposta à demanda; casas inteligentes; tecnologias de fluxo e
regenerativas; integração renovável; redução de CO²; renováveis; captação de
energia; baterias; combustíveis alternativos; infraestrutura para veículos elétricos;
armazenamento; integração; eficiência energética; energia distribuída.

Água: captação de água; reutilização de água; reciclagem de esgoto


residencial; água pluvial; redes de água inteligentes; medidores inteligentes;
detecção de vazamentos; qualidade da água; saneamento; disponibilidade de
água; socorro à seca; tratamento móvel de água; gestão de enchentes; eficiência
energética; plantas de dessalinização; nexo entre água e energia.

Recursos naturais: abastecimento de alimentos; abastecimento sustentável;


fornecimento local; abastecimento de combustível; consultoria; previsão e
modelagem; pureza alimentar; segurança alimentar; combustíveis alternativos;
sustentabilidade da cadeia de suprimentos; transformação de resíduos em
energia; eficiência na conservação de energia.
78
Capítulo 2 O Trabalho Social Como Forma De Transformar O Mundo

Transporte: intramunicipal e intermunicipal; transporte público; mobilidade


urbana; ferrovia de alta velocidade; mobilidade inteligente; TMS; bem-estar em
carros; design ergonômico; bem-estar de passageiros; diagnóstico do motorista;
mobilidade integrada; planejamento de trajeto; compartilhamento de carros e
caronas; direção autônoma; estacionamento dinâmico; programas e serviços de
carregamento de veículos elétricos; alianças; fatura única.

Logística: centros de consolidação; entrega urbana no destino final;


entregas em baixa estação; gestão de cadeia de suprimentos: monitoramento
e rastreamento LBS; monitoramento e gestão de ativos; segurança de ativos;
monitoramento em tempo real; sustentabilidade da cadeia de suprimentos; horário
flexível de entregas; robôs inteligentes; drones de entrega; frotas compartilhadas;
veículos híbridos; frota polarizante; eficiência energética; combustíveis
alternativos.

Sistema de saúde: sistema de saúde com uma matriz e diversas filiais;


automonitoramento; troca de dados sobre tratamentos; arquivos integrados;
e-saúde & m-saúde; análise de dados e comercial; dispositivos vestíveis
renováveis; dispositivos implantáveis; automonitoramento: a mente, o corpo e a
alma; produtos de engenharia genética; aplicativos de fitness; monitoramento vital;
monitoramento móvel; análise preditiva; transporte que promove o bem-estar;
mobilidade hospitalar; UPS; backup para marcapassos; baterias para dispositivos
médicos; hospitais fora da rede.

Produção industrial & construção: fornecimento local; produção


sustentável; internet das indústrias; Indústria 4.0; fábrica inteligente; computação
em nuvem; monitoramento de ativos; digitalização de processos; bem-estar
dos trabalhadores; redução de emissões; robótica avançada; mobilidade da
fábrica; monitoramento remoto por local; integração; eficiência energética; FEMS
(sistemas de gestão de energia de fábricas).

Desenvolvimento urbano: complexos de transporte (por exemplo,


aeroportos); megaprojetos; financiamento de projetos; PPP; cidades inteligentes
e Cidade 3.0; cidades seguras; cidades médicas; monitoramento por local;
portais de pacientes; saúde em casa e telessaúde de varejo; infraestrutura de
carregamento de veículos elétricos; casas de zero energia.

79
Organização e gestão do trabalho social

Visite os sites da Hitachi:


Hotsite de Inovação Social: https://www.hitachi.com.br/social-
innovation/index.php.
Blog de Inovação Social: www.hitachi.eu/social_innovation.

1 Disserte sobre o conceito de Inovação Social.


R.:____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________.

3 ECONOMIA SOLIDÁRIA:
EMPREENDEDORISMO E NEGÓCIOS
SOCIAIS
Toda a discussão que tivemos até o presente momento sobre Tecnologias
Sociais e Inovação social se complementa com as temáticas sobre Economia
Solidária, Empreendedorismo Social e Negócios Sociais.

As raízes da economia solidária estão lá atrás, com Robert Owen (1771-


1858), considerado o pai do socialismo e um dos fundadores do cooperativismo,
que foi administrador de uma grande tecelagem. Ele reduziu as jornadas de

80
Capítulo 2 O Trabalho Social Como Forma De Transformar O Mundo

trabalho (no século XVIII) e tirou as crianças das fábricas. Foi realmente um
humanista e mestre de Marx e Engels. Ele criou toda uma organização para
defender o socialismo e foi o primeiro grande líder da CUT da Grã-Bretanha, a
primeira grande central sindical do mundo.

Os trabalhadores partidários de Owen inventaram a autogestão. O princípio


fundamental era a democracia, ninguém mandava em ninguém. Isso vale
para as cooperativas até hoje. No mundo, 1 bilhão de pessoas participam de
cooperativas, segundo dados da Aliança Cooperativa Internacional, e cooperativa
não é só cooperativa de trabalho. As cooperativas que têm mais sócios chamam-
se cooperativas de crédito e são bancos cooperativos (GUIMARÃES; QUENTAL,
2014).

A economia solidária é um movimento que ocorre no mundo todo e diz


respeito à produção, ao consumo e à distribuição de riqueza com foco na
valorização do ser humano. A sua base são os empreendimentos coletivos
(associação, cooperativa, grupo informal e sociedade mercantil). Atualmente, o
Brasil conta com mais de 30 mil empreendimentos solidários, em vários setores
da economia, com destaque para a agricultura familiar. Eles geram renda para
mais de 2 milhões de pessoas e movimentam anualmente cerca de R$ 12 bilhões.
Toda esta movimentação financeira da economia solidária criará um modelo
denominado de negócios sociais (GUIMARÃES; QUENTAL, 2014).

Os negócios sociais são, em sua essência, um conceito de negócios que


atribui ao bem social a mesma prioridade que à realização de lucros. Ao fazer isso,
os negócios sociais buscam criar uma ‘economia mais justa’, porém, a vida de
um negócio social não é simples. Equilibrar a necessidade de operar um negócio
bem-sucedido em mercados competitivos ao mesmo tempo em que atende um
imperativo social ou ambiental requer um verdadeiro faro para negócios. Por
exemplo, investidores de impacto social podem estar dispostos a aceitar menos
dividendos financeiros contra a garantia de que seus investimentos trarão
benefícios para outros, mas seus padrões para a missão social podem também
ser excessivamente altos, considerando-se as realidades das desigualdades
complexas e, frequentemente, estruturais sendo enfrentadas.

Dentro do contexto destas desigualdades estruturais reais, talvez não seja


nenhuma surpresa perceber que os negócios sociais refletem muitos dos mesmos
problemas que encontramos em outras áreas da economia.

No Brasil, o entendimento do conceito de ‘negócio social’ ainda está em


sua infância, apesar da prática de negócio social sob outros nomes já estar bem
estabelecida. O negócio social ainda é um conceito relativamente recente no
Brasil. Em 2009, o país tinha uma das taxas mais baixas de empreendedorismo
social do mundo, porém, desde 2012, quando se realizou o Fórum Mundial
81
Organização e gestão do trabalho social

de Negócios Sociais, no Rio de Janeiro, o movimento em apoio aos negócios


sociais no Brasil vem crescendo substancialmente. Este modelo constrói sobre
as tradições bem mais antigas das cooperativas e das empresas de economia
solidária, e um terceiro setor que está, cada vez mais, aumentando seu fluxo de
geração de receitas (BRITSCH COUNCIL, 2017).

Assim, podemos definir negócio social como um negócio com objetivos


principalmente sociais, cujo superávit é reinvestido principalmente na finalidade
do negócio ou na própria comunidade, ao invés de ser motivado pela necessidade
de maximizar lucros para acionistas e proprietários (BRITSCH COUNCIL, 2017).
Além disso, é um conceito com fronteiras nebulosas: existem áreas indefinidas,
por exemplo, entre negócios sociais e organizações filantrópicas ou ONGs (Lei
nº 13.204/2015) em uma ponta do espectro, e entre negócios sociais e empresas
com consciência social, na outra. Para os fins deste estudo, assumimos uma
abordagem inclusiva para o conceito de negócio social.

Além de endereçar empresas que se denominam negócios sociais, também


usamos uma perspectiva mais ampla. Incluímos categorias de atividades
que nem sempre se encaixam com a definição de negócio social, mas estão
dentro do espírito da definição. Isto inclui: negócios de impacto; atividades de
investimento social; ONGs/organizações sem fins lucrativos com abordagem
comercial, gerando mais de 25% de suas receitas através de vendas no
mercado; ‘projetos’ comerciais ancorados em ONGs; indivíduos engajados em
microempreendedorismo social; empresas privadas com foco social; empresas/
cooperativas de economia solidária; comércio justo (Fairtrade); negócios da base
da pirâmide (Base of the Pyramid – BoP).

A pesquisa em negócios sociais no Brasil ainda é limitada.


A primeira tentativa em mapear o setor de negócios sociais está
atualmente sendo realizada por PIPE Social (https://pipe.social/),
com o apoio de mais de 20 parceiros, incluindo aceleradoras,
incubadoras, investidores, empresas, institutos e fundações. O Mapa
de Impacto 2017 da PIPE Social está principalmente concentrado
em organizações que se autodenominam como negócios sociais
ou negócios de impacto, com, até o momento, mais de 800 já
tendo preenchido a pesquisa. Esta forma de negócio social é mais
desenvolvida e está concentrada na região Sudeste do Brasil, nos
estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais (PIPE, 2017).
FONTE: PIPE SOCIAL. Mapa de Impacto 2017. Disponível em
https://pipe.social/ Acesso em 20 mar. 2020.

82
Capítulo 2 O Trabalho Social Como Forma De Transformar O Mundo

Como exemplo mundial de negócio social temos o economista Muhammad


Yunus, que é conhecido no mundo todo como “o banqueiro dos pobres”. Por meio
do Grameen Bank, que ele fundou em 1983, em Bangladesh, Yunus espalhou
em escala internacional o conceito do microcrédito: empréstimos feitos, sem
garantias ou papéis, para as pessoas pobres que nunca antes tiveram acesso ao
sistema bancário. Tal fomento ao empreendedorismo, sobretudo entre mulheres,
e seus resultados efetivos, lhe renderam, entre outros prêmios, o Nobel da Paz
em 2006. Também transformaram Yunus em um dos oradores mais requisitados
do planeta, inclusive em eventos lotados de empresários e banqueiros que ele
critica sem censura (ALVES, 2015). Ele criou a Yunus Negócios Sociais, braço
brasileiro da Yunus Social Business Global Initiatives, espécie de incubadora
de negócios sociais – como são chamadas as empresas criadas para resolver
problemas sociais e não exatamente gerar lucro para acionistas. Yunus propõe
um novo capitalismo:

Há 85 pessoas no mundo que têm mais da metade de toda


a riqueza do planeta. Já a metade mais pobre da população
mundial detém menos de 1% desses recursos. Que mundo
é esse? Minha luta tem sido contra essa estrutura. As
pessoas não podem fazer nada além de tocar o barco como
foi concebido. Luto por uma nova máquina, por alternativas,
por um movimento contrário. A estrutura que existe não vai
resolver nosso problema. A disparidade de renda só piora,
a riqueza se concentra em pouquíssimas mãos. Conheço
empresa que ficou cem vezes maior em sete anos, e o número
de funcionários só diminui, inclusive por causa de tecnologia,
eficiência. O que vai acontecer com todas essas pessoas sem
trabalho? Se a Europa, a parte mais próspera do mundo, vive
isso, o que acontece em economias menores? Temos que
redesenhar o sistema capitalista (ALVES, 2015).

Como exemplo de resolução de problemas através de negócios sociais,


Yunus cita:
Em determinada época, percebi que crianças de muitas famílias
não conseguiam enxergar à noite. Vi isso em diferentes lugares:
crianças que não veem nada depois que o sol se põe. Médicos
me disseram: ‘Isso é uma doença chamada cegueira noturna,
causada por falta de vitamina A. Se tomarem comprimidos
ou tiverem alimentação rica em vegetais, voltam a enxergar’.
Voltei a algumas famílias e expliquei a importância de comer
vegetais. ‘Ah, não é simples encontrar vegetais’, diziam. Tive a
ideia de vender pequenos pacotes de sementes a 1 centavo.
Gradualmente, foram comprando e plantando. O Grameen
Group passou a ter um negócio de sementes. Em sete anos,
nos tornamos os maiores vendedores de sementes do país, e
a cegueira noturna foi erradicada. É essa a ideia do negócio
social. Isso é negócio, sim (ALVES, 2015).

83
Organização e gestão do trabalho social

1 A partir do que você estudou nessa seção, apresente o conceito de


negócios sociais.
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4 A ECONOMIA SOCIAL: O QUARTO


SETOR E O FUTURO DO TRABALHO
No Capítulo 1 deste livro vimos que o Primeiro Setor da economia é o governo,
em suas diversas esferas. O Segundo Setor são as empresas privadas, voltadas
para o lucro. O Terceiro Setor são as Organizações não Governamentais (ONGs),
muito atuantes nas últimas décadas. Agora, após os estudos que realizamos neste
Capítulo 2, sobre Inovação Social, Economia Solidária e Empreendedorismo e
negócios sociais, como modelo econômico alternativo diversos pensadores já
consideram a existência de um quarto setor na economia:

[...] O quarto setor é muito parecido com o que prega a terceira


via, só que numa ótica empresarial. Ao contrário do terceiro
setor, ele tem fins lucrativos. É uma categoria de empresas
que são movidas por lucro, mas cujo business está relacionado
ao desenvolvimento social/ambiental. Sua maior vantagem em
relação às ONGs é que, justamente, por ser uma empresa,
pode crescer e atrair investimento (ANTUNES, 2013, s.p.).

O Quarto Setor da economia é formado por organizações com e sem fins


lucrativos, que têm propósitos maiores e que buscam gerar impacto positivo
na sociedade. São companhias que não estão centradas apenas no lucro, mas
também em um propósito e uma missão, criando impactos positivos nas pessoas
e no planeta.

Uma nova pesquisa da Frost & Sullivan, em parceria com a Hitachi Europe
Ltda., indica que o mercado deste quarto setor da economia baseado na
84
Capítulo 2 O Trabalho Social Como Forma De Transformar O Mundo

Inovação Social valerá dois trilhões de dólares até 2020. Esse extenso
relatório examina a importância da Inovação Social e mostra como é necessário
encontrar o equilíbrio exato entre as necessidades econômicas e sociais. Em
cinco anos, 56% da população mundial residirá em áreas urbanas e, na próxima
década, haverá mais de 35 “megacidades”. É justamente ao aprender a lidar
com tendências como essas que o conceito de Inovação Social ganha impulso
(HITACHI, 2014).

O que são negócios de impacto social? São empreendimentos com a


missão explícita de gerar impacto socioambiental ao mesmo tempo em que
geram resultado financeiro positivo e de forma sustentável. Há quatro princípios
que diferenciam negócios de impacto de OSCIP ou de negócios tradicionais
(independentemente da constituição jurídica da organização). Negócios de
impacto:

1) têm um propósito de gerar impacto socioambiental positivo explícito


na sua missão;
2) conhecem, mensuram e avaliam o seu impacto periodicamente;
3) têm uma lógica econômica que permite gerar receita própria;
4) têm uma governança que leva em consideração os interesses de
investidores, clientes e comunidade. Os negócios de impacto podem
assumir diferentes formatos legais, como associações, fundações,
cooperativas ou empresas.

A seguir, apresentaremos exemplos de negócios e empresas sociais que


atuam no quarto setor da economia.

4.1 EMPRESAS E NEGÓCIOS SOCIAIS


DO QUARTO SETOR
Consideram-se negócios de impacto social do quarto setor empresas que
possuem como características principais:

• Foco na baixa renda: são desenhados de acordo com as


necessidades e características da população de baixa renda.
• Intencionalidade: possuem missão explícita de causar impacto social
e são geridos por empreendedores éticos e responsáveis.
• Potencial de escala: podem ampliar seu alcance por meio da
expansão do próprio negócio; de sua replicação em outras regiões
por outros atores; ou pela disseminação de elementos inerentes
ao negócio por outros empreendedores, organizações e políticas

85
Organização e gestão do trabalho social

públicas.
• Rentabilidade: possuem um modelo robusto que garante a
rentabilidade e não depende de doações ou subsídios.
• Impacto social relacionado à atividade principal: o produto ou serviço
oferecido diretamente gera impacto social, ou seja, não se trata de
um projeto ou iniciativa separada do negócio, e sim de sua atividade
principal.
• Distribuição ou não de dividendos: um negócio pode ou não distribuir
dividendos a acionistas, não sendo, porém, esse, um critério para
definir negócios de impacto social (PITTHAN, 2012).

A seguir, apresentaremos exemplos de negócios e empresas sociais do


quarto setor:

• CDI Lan: articula redes de lan houses comunitárias e agrega serviços


de educação, inclusão financeira, entretenimento saudável, cultura
e empreendedorismo. Vem transformando 6.500 lan houses em
centros de convivência, conveniência e serviços nas comunidades.
• Rede Asta: primeira rede de venda direta do Brasil de produtos
originários de comunidades de baixa renda. Promove redes
e trabalha para transformar a vida de produtoras e artesãs,
conselheiras, consumidores e empresas. Fazem brindes corporativos
para empresas reaproveitando resíduos sólidos da própria empresa.
• Sautil: modelo de negócio que por meio de um site divulga dados
e informações sobre remédios e tratamentos gratuitos em todas
as cidades do país. Acesso à informação qualificada a respeito de
saúde. Desde que foi lançado, no início de 2011, o site já recebia, em
média, 140.000 visitas por mês.
• Solidarium: articulação entre pequenos produtores artesanais e
grandes redes varejistas e comercialização on-line para venda direta
ao consumidor. Gera renda para cerca de 1.450 cooperativas, que
empregam mais de 6.500 artesãos em todo o Brasil.
• Banco Pérola: fornece microfinanciamento para jovens
empreendedores das classes C, D e E. Em 2011 passou a apoiar 130
negócios, com uma taxa de inadimplência de apenas 2% e tornou-se
correspondente de microcrédito da Caixa Econômica Federal.
• Banco Palmas: banco comunitário, oferece microcrédito, capacitação
para pequenos empreendedores e canais de comercialização de seus
produtos. Até 2011 concedeu 4.714 empréstimos de microcrédito
produtivo. Mais de 18 mil famílias foram beneficiadas diretamente
pelo empréstimo ou por meio de capacitações (SEBRAE, 2016).

Outros exemplos de negócios e empreendedorismo social:

86
Capítulo 2 O Trabalho Social Como Forma De Transformar O Mundo

• Instituto Movere: oferece um programa de prevenção e tratamento


da obesidade infantil, que integra diferentes áreas da saúde para
promover mudanças no comportamento de crianças, adolescentes e
suas famílias.
• Backpacker: é uma solução rápida, barata e divertida para brasileiros
que precisam adquirir conhecimento de idiomas para alcançar
melhores oportunidades de emprego.
• Geekie: é uma plataforma adaptativa de aprendizagem no Brasil que
personaliza o ensino de acordo com as características individuais
de cada aluno. É uma solução web e em formato de game baseada
em aprendizado adaptativo com foco no Exame Nacional do Ensino
Médio (ENEM).
• Sementes de Paz: facilita o acesso a alimentos orgânicos a preços
justos, promovendo investimentos para o desenvolvimento local
sustentável e melhorando a qualidade de vida de todos os atores
envolvidos nesta rede.
• Que Fala!: é uma tecnologia de comunicação alternativa e ampliada
que tem como objetivo dar voz às pessoas com deficiência de
comunicação e contribuir para o desenvolvimento cognitivo de
crianças.
• TreinaLink: é uma plataforma multimídia para treinamento
profissional especializado e conexão de mão de obra qualificada à
oportunidade de emprego (PITTHAN, 2012).

Para saber de mais oportunidades de empreendedorismo e


negócios sociais, consulte:
https://mosaico.gife.org.br/base-de-projetos.

Até o presente momento, no estudo realizado, podemos verificar que o futuro


do trabalho social no Brasil é muito promissor. Isto se deve ao fato de que já existe
uma forte tradição em cooperativas em nosso país. De acordo com a International
Cooperative Alliance, atualmente o Brasil tem cerca de 7.000 cooperativas com
mais de 9 milhões de membros ativos organizados em 13 setores da economia do
país, responsáveis por gerar aproximadamente 5,39% do Produto Interno Bruto
(PIB) e 375.000 empregos diretos (PRADO, 2019).

As cooperativas brasileiras estão entre as maiores empresas brasileiras


em áreas de agricultura, saúde, consumo e transportes. Esta força e escala lhes

87
Organização e gestão do trabalho social

conferem um alto nível de capacidade de geração de empregos, desenvolvimento


econômico e inclusão social. Nesse viés, destacamos um movimento cooperativo
denominado de Economia Solidária.

No Brasil, a economia solidária está representada pela União de Cooperativas


e Empresas Solidárias (UNISOL), com empresas autogeridas em todos os 27
estados nacionais, e atualmente operando em setores-chave tão diversos quanto
metalurgia, alimentos, construção civil, vestuário e têxteis, cooperativas sociais,
reciclagem, artesanato, agricultura familiar, apicultura e fruticultura. Estas 750
empresas afiliadas empregam mais de 70.000 pessoas e geram uma receita bruta
anual de R$ 2.5 bilhões (PRADO, 2019).

O setor sem fins lucrativos no Brasil vem crescendo muito nos últimos anos.
Em 2002, havia cerca de 276 mil ONGs. Em 2012, elas já superavam 400 mil,
excluindo as religiosas, porém, 74% das organizações sem fins lucrativos não têm
funcionários remunerados e apenas 6% têm 10 funcionários.

Apesar da pequena escala de boa parte do setor, cerca de 50% da receita do


setor sem fins lucrativos é autogerada através da venda de produtos e serviços
e receita imobiliária. Isto o coloca no mesmo nível que países, como os EUA,
Austrália e Japão. Assim, é possível argumentar que uma boa parte do setor sem
fins lucrativos do Brasil estaria dentro da definição mais ampla de negócio social.

Acesse o site da Sinapse, a biblioteca virtual do investimento


social. Disponível em:
https://sinapse.gife.org.br/collection/colecao-especial-artigos-
gife.

1 Quais são as características principiais de um negócio social do


quarto setor?
R.:____________________________________________________
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Capítulo 2 O Trabalho Social Como Forma De Transformar O Mundo

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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Nesse capítulo, exploramos como a Inovação Social está presente em todos
os grandes segmentos ou indústrias, como a da Saúde, Energia, Transporte e TIC,
através de novos modelos de negócio, produtos de qualidade superior e serviços
inovadores alinhados com as principais megatendências que vêm alavancando
o futuro. Exploramos como a Inovação Social está idealmente posicionada para
atender às principais necessidades em rápida transformação dos cidadãos
enquanto indivíduos e das sociedades como um todo, onde quer que possam se
encontrar: em todos os continentes, em países distintos, em diversas cidades, em
suas casas e em comunidades conectadas.

Sem dúvida, o futuro será determinado por aqueles que inovam. Inovadores
de sucesso nos próximos anos implantarão um espectro de novos modelos
de negócio, integrando produtos de qualidade superior e serviços criativos em
soluções totais como um serviço. Esta nova geração de inovadores também
encontrará um equilíbrio entre o lucro para as partes interessadas e uma vida
melhor para os cidadãos enquanto indivíduos, com foco no progresso, tanto para
os negócios como para a nossa sociedade global. Em suma, o futuro pertence
àqueles que inovarem através da Inovação Social.

Destaca-se a importância da inovação social, que segundo estudiosos


sobre ciência, tecnologia e sociedade (CTS), constitui hoje um vigoroso campo
de trabalho que trata de entender o fenômeno científico-tecnológico no contexto
social, tanto em relação com seus condicionantes sociais como no que se refere
as suas consequências sociais e ambientais.

De forma contrária à teoria schumpeteriana, que destaca apenas a inovação


como fator fundamental para o processo de geração de lucro no sistema capitalista,
apresentam-se propostas alternativas com a inovação social não somente como
motor do crescimento econômico, mas também para o desenvolvimento inclusivo.

89
Organização e gestão do trabalho social

Após o exposto, verifica-se o descompasso entre o exponencial avanço das


tecnologias em todas as áreas do conhecimento e o lento acesso deste avanço
tecnológico para todas as camadas sociais, ou seja, existe um grande desafio
no sentido não apenas de uma inclusão digital, mas de uma verdadeira inclusão
tecnológica para toda a sociedade. Nas últimas décadas, percebe-se um esforço
em se considerar como inovação tecnológica também o desenvolvimento de
conhecimentos para a inclusão social.

Ao mesmo tempo, surge um quarto setor da economia. De certa forma,


os exemplos de negócios e empresas apresentados orientam-se na busca de
alternativas tecnológicas que gerem inovação social e desenvolvimento inclusivo
para a transformação das realidades econômicas regionais. A estratégia de
mercado desta proposta está na busca de uma nova perspectiva para um
capitalismo sustentável com desenvolvimento social com oportunidades para o
trabalho social.

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31 de julho de 2014, “que estabelece o regime jurídico das parcerias voluntárias,
envolvendo ou não transferências de recursos financeiros, entre a administração
pública e as organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação,
para a consecução de finalidades de interesse público; define diretrizes para
a política de fomento e de colaboração com organizações da sociedade civil;
institui o termo de colaboração e o termo de fomento; e altera as Leis nº 8.429,
de 2 de junho de 1992, e 9.790, de 23 de março de 1999”; altera as Leis
nº 8.429, de 2 de junho de 1992, 9.790, de 23 de março de 1999, 9.249, de 26
de dezembro de 1995, 9.532, de 10 de dezembro de 1997, 12.101, de 27 de
novembro de 2009, e 8.666, de 21 de junho de 1993; e revoga a Lei nº 91, de 28
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93
Organização e gestão do trabalho social

94
C APÍTULO 3
Planejamento, Organização E
Gestão Do Trabalho Social

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Investigar os diversos modelos de planejamento, organização e gestão do


trabalho social.
• Planejar as etapas de desenvolvimento do trabalho social.
• Organizar a estrutura necessária para a execução das atividades do trabalho
social.
• Avaliar os indicadores para a gestão do trabalho social.
Organização e gestão do trabalho social

96
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Neste capítulo, estudaremos sobre Planejamento, Organização e Gestão do
Trabalho Social. Tal temática é muito importante em nosso cenário atual, em que
a desigualdade social é um crescente constante, sendo necessária uma gestão
eficiente de programas e projetos que visem contribuir com questões sociais,
objetivando o bem-estar social.

Para isso, discorreremos sobre políticas públicas sociais e como surgiram a


partir do estado capitalista, visando à garantia de direitos sociais em nosso atual
sistema. Tal temática não é recente, possui uma longa trajetória, que objetiva
concretizar os direitos e deveres do ser humano, apresentando como principal
marco a Constituição Federal Brasileira, de 1988, mas que mesmo assim encontra
diversos desafios em nosso cenário atual.

Nesse viés, com base nas políticas públicas sociais, estudaremos sobre
os projetos sociais, sua definição, características e sua relação com as políticas
públicas sociais. São consideradas ações a partir de visões distintas que visam
garantir distintas perspectivas do direito social, sendo necessário o trabalho social
para interação mais direta com a sociedade.

Para que tais modelos atendam de fato o objetivo principal de garantia dos
direitos sociais, perceberemos a necessidade de uma gestão efetiva, visando
monitorar e controlar tais ações para que cumpram seus objetivos e metas e
contribuam na tomada de decisão. Para isso, é essencial a aplicação de modelos
de gestão, que estudaremos no decorrer deste capítulo.

Bons estudos!

2 POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS E


PROJETOS SOCIAIS
Neste capítulo, estudaremos alguns conceitos e a relação de Políticas
Públicas Sociais e Projeto Social. Para isso, é fundamental a compreensão dos
seguintes termos: “Estado” e “Política Social”.

Neste estudo, adotaremos a definição de “Estado” e sua diferenciação com


a palavra “Governo”, em que o Estado é considerado, segundo Höfling (2001, p.
31):

97
Organização e gestão do trabalho social

[...] conjunto de instituições permanentes – como órgãos


legislativos, tribunais, exército e outras que não formam um
bloco monolítico necessariamente – que possibilitam a ação do
governo; e Governo, como o conjunto de programas e projetos
que parte da sociedade (políticos, técnicos, organismos da
sociedade civil e outros) propõe para a sociedade como um
todo, configurando-se a orientação política de um determinado
governo que assume e desempenha as funções de Estado por
um determinado período.

São elementos fundamentais no estado:

• Governo: é a organização necessária para o exercício do poder,


leva a população ao cumprimento das normas que estabelece como
condição para a convivência social.
• Povo: representa o elemento humano, comum a todas as sociedades.
• Território: extensão de terra que está sob direção de um governo.
• Soberania: poder absoluto e indivisível de organizar-se e de conduzir-
se segundo a vontade livre de seu povo, e de fazer cumprir as suas
decisões, inclusive pela força, se necessário.
• Cidadania: expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a
possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu
povo.

FIGURA 1 – VARIÁVEIS QUE COMPÕEM O ESTADO

FONTE: O autor

98
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

Agora que já compreendemos a conceitualização de Estado para esse


capítulo, veremos o significado de “Política” a partir da leitura a seguir.

A política pública engloba tudo o que diz respeito à vida coletiva


das pessoas em sociedade e em suas organizações. Na frase
clássica de Aristóteles, “o homem é um animal político”, um ser
político por natureza. Nas relações sociais, as pessoas influenciam
e deixam-se influenciar umas às outras. Entretanto, a natureza
“política” do homem, na verdade, caracteriza apenas uma dimensão
do ser humano e não sua totalidade, como sugere absoluta e
perigosamente o termo “natureza”, ou o verbo “ser” constante na
sentença aristotélica. Independentemente de seu valor prático e
operacional, todo reducionismo conceitual contém em si um vírus de
destruição.
Em segundo lugar, a política trata do conjunto de processos,
métodos e expedientes usados por indivíduos ou grupos de
interesse para influenciar, conquistar e manter poder. A conjuntura
prevalece sobre a estrutura. Em vez de Aristóteles, é Maquiavel a
figura emblemática nesta acepção. “Entrar na política” e “submundo
da política” são expressões que traduzem esse sentido. Quando
predomina esse significado, por sua vez, os interesses conjunturais,
particulares, podem comprometer se não corromper, as instituições
comuns.
A política, em terceiro lugar, é também a arte de governar e
realizar o bem público. Nesse sentido, ela é o ramo da ética que trata
do organismo social como uma totalidade e não apenas das pessoas
como entidades individuais. Por isso, o “desenvolvimento” como um
alvo a ser perseguido deve ser qualificado para representar de fato
um “bem público”; um processo de desenvolvimento que cristaliza
desigualdades sociais, ou destrói a natureza, por exemplo, não será
visto como um “bem público”. Desenvolver-se o que, para quem, com
que benefício e a que custo? Que dimensões do ser humano são
satisfeitas por ele?
Em sua acepção mais operacional, a política é entendida como
ações, práticas, diretrizes políticas, fundadas em leis e empreendidas
como funções de Estado por um governo, para resolver questões
gerais e específicas da sociedade. Nesse sentido, o Estado passa a
exercer uma presença mais prática e direta na sociedade, sobretudo,
por meio do uso do planejamento, que pressupõe políticas
previamente definidas tanto de alcance geral ou “horizontal” (por
exemplo, política de saúde).
99
Organização e gestão do trabalho social

A política é concebida, finalmente, como a teoria política


ou conhecimento dos fenômenos ligados à regulamentação e
ao controle da vida humana em sociedade, como também à
organização, ao ordenamento e à administração das jurisdições
político-administrativas (nações, estados, municípios ou distritos
especializados). Nesse sentido, ela estuda e sistematiza o “fato
político básico” assim caracterizado e engloba, portanto, todas as
acepções anteriores. Estas são as principais definições encontradas
para esta noção tão arredia a delimitações conceituais quanto ao
mesmo tempo essencial para a vida comum.
FONTE: HEIDEMANN, F. G. Do sonho do progresso às políticas
de desenvolvimento. In: HEIDEMANN, F. G.; SALM, J. F. (Org.).
Políticas públicas e desenvolvimento: bases epistemológicas
e modelos de análise. Brasília: EdUnB, 2009. p. 28-29. Disponível
em: http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/10/docs/do_sonho_do_
progresso_as_politicas_de_desenvolvimento.pdf. Acesso em: 24 jun.
2020.

A partir da evolução da conceituação e significado da palavra “política”,


percebemos que na quarta acepção já se direciona a expressão “Políticas
Públicas”.

Para Gobert e Muller (1987 apud HÖFLING, 2001), as políticas públicas


são entendidas como o Estado em Ação, a implantação e desenvolvimento de
programas de ações, por meio de projetos de governo, com o objetivo de contribuir
ou aprimorar setores da sociedade, como a educação, saúde, previdência,
habitação, saneamento, entre outros.

QUADRO 1 – DEFINIÇÕES POLÍTICAS PÚBLICAS


Autor Definição
David Easton (1953, p. 129) A alocação oficial de valores para toda a sociedade.
H. Lasswell e A. Kaplan (1970, p. 71) Um programa projetado com metas, valores e práticas.
É essencial ao conceito de política que contenha uma
C. Friedrich (1963, p. 70)
meta, objetivo ou propósito.
FONTE: Heidemann (2009, p. 29)

100
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

Compreende-se então que as políticas públicas são de responsabilidade do


Estado, sendo que qualquer tomada de decisão envolve diretamente os órgãos
públicos. Segundo Höfling (2001, p. 31), as políticas sociais são:

[...] ações que determinam o padrão de proteção social


implementado pelo Estado, voltadas, em princípio,
para a redistribuição dos benefícios sociais visando à
diminuição das desigualdades estruturais produzidas
pelo desenvolvimento socioeconômico. As políticas
sociais têm suas raízes nos movimentos populares do
século XIX, voltadas aos conflitos surgidos entre capital
e trabalho, no desenvolvimento das primeiras revoluções
industriais.

Essas ações realizadas pelas políticas públicas sociais com o intuito de


contribuir com determinados problemas, são os projetos sociais. De acordo
com Campos, Abegão e Delamaro (2002), o projeto social visa à solução de um
problema ou sanar alguma necessidade da sociedade.

Maximiniano (1997, p. 20) define projeto social como “empreendimentos


finitos que têm objetivos claramente definidos em função de um problema,
oportunidade ou interesse de uma pessoa, grupo ou organização”. Em outras
palavras, compreendemos então que o projeto social é o planejamento de ações
para solucionar ou minimizar uma determinada carência social.

Enfatizamos também que “um projeto social busca, por meio de um conjunto
integrado de atividades, transformar uma parcela da realidade, reduzindo ou
eliminando um déficit, ou solucionando um problema, para satisfazer necessidades
de grupos que não possuem meios para solucioná-las por intermédio do mercado”
(NOGUEIRA, 1998 apud COUTINHO; MACEDO-SOARES; SILVA, 2006, p. 767-
768).

FIGURA 2 – RELAÇÃO POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS E PROJETOS SOCIAIS

FONTE: Adaptada de Campos, Abegão e Delamaro (2002)


101
Organização e gestão do trabalho social

QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS DE PROGRAMA, POLÍTICA E PROJETO SOCIAL


Termo Características
É um conjunto de projetos. Os programas, em geral, envolvem horizontes de
Programa social tempo mais longos que os projetos. Pode-se, portanto, analisar um programa
por meio do estudo dos projetos que o compõem.
Política social É um conjunto de programas.
São a tradução operacional das políticas sociais. Um projeto envolve ações
Projetos sociais concretas a serem desenvolvidas em um horizonte de tempo e espaço deter-
minados, restritas pelos recursos disponíveis para tal.
FONTE: Coutinho, Macedo-Soares e Silva (2006, p. 767-768)

Agora que já definimos e compreendemos as diferenças de projetos sociais e


políticas públicas sociais, veremos como surgiram as políticas sociais no contexto
do estado capitalista.

2.1 O ESTADO CAPITALISTA E AS


POLÍTICAS SOCIAIS
Atualmente, vivemos em uma democracia, sendo pertinente a elaboração de
políticas sociais com o intuito de garantir a equidade entre os cidadãos. De acordo
com Carinhato (2008, p. 42):

As políticas sociais integram um sistema de ação complexo


resultante de inúmeras causalidades e distintos atores e
campos de ação social e pública: proteção contra riscos,
combate à miséria, desenvolvimento de capacidades que
possibilitem a superação das desigualdades e o exercício
pleno da cidadania.

Nesse viés, destacamos que elas têm como objetivos assegurar que cada
cidadão tenha condições de exercer seus direitos sociais e cívicos, uma vez que
“a pobreza não é um dado natural com o qual se deparam os governos neoliberais;
ela é produzida pela própria política econômica neoliberal, que reduz o emprego e
os salários e reconcentra a renda” (BOITO JÚNIOR, 1999, p. 77).

Para isso, o estado atua como agente regulador das relações sociais, sendo
que as políticas sociais tiveram início no Brasil a partir do século XX. Para Höfling
(2001, p. 33), “o estado inspeciona relações atreladas à qualificação de mão de
obra para o mercado de trabalho, como também, através de políticas públicas
sociais e programas sociais, procuraria manter sob controle parcelas da população
não inseridas no processo produtivo”.

102
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

Segundo Carinhato (2008, p. 42), elas eram alinhadas por três eixos:
• O reforço dos serviços básicos de caráter universal.
• A ênfase nos programas de trabalho, emprego e renda.
• O destaque a programas prioritários, voltados para o combate
à pobreza, porém concebidos com a mescla entre políticas
universais e políticas focalizadas.

Nesse viés, elas são entendidas como produto da interação entre diversos
atores da sociedade que possuem interesses diferentes. De acordo com Piana
(2009, p. 23), “a política econômica e a política social estão relacionadas
intrinsecamente com a evolução do capitalismo, fundamentando-se no
desenvolvimento contraditório da história”.

De acordo com Vieira (1997, p. 68 apud PIANA, 2009, p. 38):

A política social brasileira compõe-se e recompõe-se,


conservando em sua execução o caráter fragmentário, setorial
e emergencial, sempre sustentada pela imperiosa necessidade
de dar legitimidade aos governos que buscam bases sociais
para manter-se e aceitam seletivamente as reivindicações e
até as pressões da sociedade.

No texto a seguir, conheceremos um pouco mais sobre o


sistema brasileiro de proteção para a prestação de serviços sociais.

Políticas Sociais no Brasil: a histórica (e atual) relação entre


o “público” e o “privado” no sistema brasileiro de proteção
social

No Brasil, a partir da década de 1930, instaura-se um padrão


de proteção social via políticas sociais públicas, que tem como
características respostas fragmentadas aos setores mais combativos
e dinâmicos da economia brasileira, em que o Estado antecipa-se
frente às demandas sociais, de modo a controlar os movimentos
classistas e sociais que problematizam suas necessidades sociais
em cena pública; a evitar a constituição de sujeitos políticos, fora da
arena de controle do Estado, cuja consequência é a transmutação de
direitos em concessões.
Essa forma de enfrentamento da questão social formaliza o
estatuto de “cidadania” para determinados segmentos sociais, e
atribui a categoria de subcidadão a todos aqueles que são pobres ou
não têm sua atividade laboral reconhecida pela legislação trabalhista.

103
Organização e gestão do trabalho social

Assim, emerge e se consolida no país um sistema de proteção social,


que segundo Cohn (2000, p. 3), apesar de se desenvolver em duas
vertentes paralelas – a dos direitos sociais e a da filantropia – não as
diferencia quanto ao seu traço paternalista e conservador, associando
a “igualdade perante a lei” à política do favor, do compadrio e do
favoritismo, à medida que a intermediação política entre dominantes
e dominados, exercida pela burocracia estatal, não chega a romper a
sobrevivência das relações clientelistas.
Essas respostas fragmentadas que vão se dando de “grupo a
grupo”, de “corporação a corporação”, numa lógica de “hierarquia
de privilégios”, são mecanismos que obstaculizam a consciência
de classe, posto que são fragmentadores da unidade das lutas das
classes subalternas, e visam, conforme Oliveira (2000), à “anulação
da política” como arena de negociação, de regras universais e
pactuadas, são verdadeiras “operações de silenciamento” da classe
trabalhadora, seja tutelando-a, cooptando suas lideranças, seja
reprimindo-a, controlando suas manifestações pela força ou mediante
políticas sociais. Todavia, essas medidas não anulam os conflitos;
e as lutas sempre ressurgem, as quais se deve todo o esforço de
democratização do país e à constituição das políticas sociais como
mecanismo de respostas às necessidades concretas dessas classes,
mesmo que imediatas.
Antes de 1930, o governo já dava sinais de alteração no trato
da questão social, influenciado pelas pressões dos movimentos
classistas e pelas experiências de outros países que já adotavam
políticas de seguro social, promulgando a Lei de Acidentes, em
1919, criando a CAP (Caixa de Aposentadoria e Pensões), em 1923,
conhecida como Lei Eloy Chaves (ponto de partida da previdência
social), as leis de férias, o código de menores, entre outras.
Todavia, a regulamentação das CAPs – e até seu financiamento
–, por parte do Estado, não alterou seu perfil liberal, o caráter
episódico de sua intervenção sobre as refrações da questão social,
porque ele participava da regulação da relação capital/trabalho,
mas não assumia a tarefa de desencadear um sistema nacional de
proteção social.
As Caixas de Aposentadorias e Pensões, normatizadas pela
Lei Eloy Chaves, de 1923, são parte das respostas da sociedade
civil à questão social, no âmbito da filantropia empresarial. Essas
instituições são de natureza civil, privada, funcionando não como
mecanismos de fortalecimento da solidariedade intraclasse
trabalhadora, como no caso das mutualidades, pois essas atuam
mediante sistema de capitalização ou de seguro privado, isto é, os
benefícios estão diretamente relacionados à capacidade contributiva
individual de cada um.
104
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

Somente a partir de 1930, com a “revolução” burguesa, fruto


do pacto entre as classes dominantes tradicionais e as emergentes,
que capturam o Estado e adotam a industrialização por substituição
de importações como modelo de desenvolvimento, a contradição
capital/trabalho não é mais secundarizada, mas, o cerne da ordem,
instaurando-se um novo trato à questão social, através do direito
sindical, direito trabalhista e direito previdenciário, uma regulação
da relação capital/trabalho fundamental à expansão da acumulação,
que abre canais de negociação, mediados pelo Estado.

FONTE: TEIXEIRA, S. M. Políticas Sociais no Brasil: a histórica


(e atual) relação entre o “público” e o “privado” no sistema brasileiro
de proteção social. Sociedade em Debate, Pelotas, v. 13, n. 2, p.
45-64, jul. 2007. Bimestral. Disponível em: http://www.revistas.ucpel.
tche.br/index.php/rsd/article/viewFile/400/354. Acesso em: 2 mar.
2020.

Para compreender melhor esse contexto, primeiramente é necessário


relembrar um fato primordial em nossa história, a Constituição de 1988. Ela é
um marco na democratização, uma vez que reconhece a participação social, os
direitos sociais em processos complementares à ação estatal.

FIGURA 3 – CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 1988

FONTE: <https://querobolsa.com.br/revista/constituicao-federal-de-1988-
onde-encontrar-o-documento-gratis>. Acesso em: 24 jun. 2020.

De acordo com Piana (2009, p. 39), a Constituição:

[...] consolidou conquistas, ampliou os direitos nos campos da


Educação, da Saúde, da Assistência, da Previdência Social, do

105
Organização e gestão do trabalho social

Trabalho, do Lazer, da Maternidade, da Infância, da Segurança,


definindo especificamente direitos dos trabalhadores urbanos
e rurais, da associação profissional e sindical, de greve, da
participação de trabalhadores e empregadores em colegiados
dos órgãos públicos, da atuação de representante dos
trabalhadores no entendimento direto com empregadores
(Artigos 6 a 11, do Capítulo II, do Título II – Dos Direitos e
Garantias Fundamentais).

Assim, pela primeira vez na história brasileira, a política social teve grande
acolhimento em uma Constituição.

1 Neste tópico estamos estudando sobre políticas públicas sociais.


Compreendemos que o Estado desempenha funções políticas,
sociais e econômicas e que em sua totalidade é composto por
algumas variáveis essenciais. Quais são essas variáveis?
Descreva-as.
R.:____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

2.2 PROJETOS
Antes de discutir sobre projetos sociais no Brasil, estudaremos
Um projeto é um sobre projetos, sua definição e características. Na literatura, existem
esforço temporário várias definições de projetos, segundo o PMBOK (2004), um projeto
empreendido para
é um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço
criar um produto,
serviço ou resultado ou resultado exclusivo. Já Menezes (2001, p. 8) ressalta que é “um
exclusivo. empreendimento único que deve apresentar um início e um fim
claramente definidos e que, conduzidos por pessoas, possa atingir seus
objetivos respeitando os parâmetros de prazo, custo e especificações
(qualidade e escopo)”. Suas principais características são:

106
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

FIGURA 4 – CARACTERÍSTICAS DE PROJETOS

FONTE: Adaptada de Vargas (2009)

Nesse viés, destacamos que ele possui propriedades específicas, sendo


utilizado pelas organizações para contribuir ao alcance dos objetivos traçados
por elas. Cada projeto é único, não repetitivo, e possui uma sequência de ações
bem definidas, que englobam ações para as fases de início, meio e fim (VARGAS,
2016).

2.3 CICLO DE VIDA E GESTÃO DE


PROJETOS
Os princípios para a elaboração de um projeto público são os mesmos
usados na elaboração de um projeto empresarial comum, por isso é imprescindível
conhecermos os princípios da gestão de projetos.

De acordo com Coutinho, Macedo-Soares e Silva (2006, p. 769), o


gerenciamento, a gestão de um projeto, consiste no acompanhamento direto de
seu ciclo, que pode gerar “um conjunto de produtos (gerados via processos de

107
Organização e gestão do trabalho social

conversão), resultados (previstos nos objetivos e metas) e impactos (mudanças


na realidade efetivamente alcançadas)”. Assim, a gestão de tal processo visa
garantir que seus resultados estejam de acordo com o escopo do projeto.

Segundo Cepal (1998 apud COUTINHO; MACEDO-SOARES; SILVA, 2006,


p. 769):

[...] os processos de conversão são implementados em uma


estrutura social e material específica; a interação dos membros
da estrutura social gera cultura e clima organizacional também
específicos; junto aos processos, os atores da estrutura
cumprem uma série de papéis funcionais que permitem
articular as ações para maximizar o atingimento dos objetivos;
o programa está inserido em um contexto com o qual interage
em maior ou menor grau; a interação de todos os elementos
descritos gera um modelo específico de organização e gestão
em cada programa social.

Nogueira (1998 apud COUTINHO; MACEDO-SOARES; SILVA, 2006) propõe


uma tipologia de projetos baseada em duas dimensões:

• a capacidade de programação das tarefas: dada pelas exigências de


variação em sua execução, diferindo com relação ao grau em que
são suscetíveis à rotinização ou formalização;
• a interação com os destinatários da ação: determina a relação entre
operador e destinatário, assim como o nível de mudança que se
pretende provocar nas condições ou capacidades dos destinatários.

Pode-se imaginar que quanto maior for o âmbito de comportamentos que


se deseja impactar, das atitudes a serem modificadas e dos valores a serem
estabelecidos, maior será a necessidade de interação entre a população – objetivo
e os operadores do projeto, com maior discricionariedade no plano da gestão,
gerando uma maior necessidade da criação de mecanismos para participação da
população (NOGUEIRA, 1998).

Para modelos de organização e gestão de projetos sociais, Cepal (1998


apud COUTINHO; MACEDO-SOARES; SILVA, 2006) propõe uma tipologia que
considera duas dimensões:

• o grau de padronização dos produtos (bens ou serviços resultantes


do projeto);
• a homogeneidade/heterogeneidade da população/objetivo: nível de
semelhança nas “variáveis pertinentes” que afetam os objetivos de
impacto do programa.

108
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

Os projetos são compostos por fases, que caracterizam seu início, meio e
fim. Em cada fase realiza-se um conjunto de atividades, garantindo o alcance
de metas estabelecidas em seu planejamento. De acordo com PMI (2013), um
projeto possui as seguintes etapas:

FIGURA 5 – FASES DE UM PROJETO

FONTE: Adaptada de PMI (2013)

Nesse viés, de acordo com PMBOK (2004, p. 8):

O gerenciamento de projetos é a aplicação de conhecimento,


habilidades, ferramentas e técnicas às atividades do projeto
a fim de atender aos seus requisitos. O gerenciamento de
projetos é realizado através da aplicação e da integração
dos seguintes processos de gerenciamento de projetos:
iniciação, planejamento, execução, monitoramento e controle,
e encerramento. O gerente de projetos é a pessoa responsável
pela realização dos objetivos do projeto.

A fase de iniciação é caracterizada pela geração da ideia e elaboração do


projeto, identificação das necessidades e oportunidades para sua realização
e definição de um problema. Além disso, nesta etapa, os processos e os
procedimentos para a realização do trabalho são definidos, além dos critérios
para a medição do desempenho.

No planejamento, são realizadas as atividades relacionadas à identificação


de objetivos, ao planejamento e ao cronograma do plano de projeto, entre outros.
Na execução é posto em prática o que foi planejado, é a implementação do
projeto, em que é fundamental o monitoramento e o controle do trabalho, sendo
que posteriormente a ela é a conclusão do projeto (MENEZES, 2009).

109
Organização e gestão do trabalho social

FIGURA 6 – CLICO DE VIDA DO PROJETO

FONTE: Pinazza (2017, s.p.)

Assim, podemos perceber que o gerenciamento de projetos inclui o


acompanhamento de diversas ações, como iniciar, organizar e preparar, executar
e encerrar o projeto, tais fases sendo primordiais medidas para tomadas de
decisão, priorização e escolha.

Com isso, estudaremos como ocorre o gerenciamento, a avaliação e a


priorização de projetos sociais no Brasil (NEVES, 2015).

2.4 PROJETOS SOCIAIS NO BRASIL


De acordo com Neves (2015, p. 20), um projeto social é considerado “um
conjunto de atividades inter-relacionadas e coordenadas, com vistas ao alcance
de objetivos específicos, com tempo e orçamento delimitados”. Eles têm como
objetivo solucionar ou amenizar diversos problemas econômicos e/ou sociais.
Em termos gerais, os projetos sociais atuam em conjunto com outros setores da
sociedade, para assim contribuir e modificar uma determinada situação (NEVES,
2015).

No Brasil, de acordo com Lencioni, Alves e Rocha (2019), são mais de


820 mil organizações da sociedade civil que, em sua maioria, visam melhorar a
qualidade de vida dos brasileiros. A seguir, serão listadas algumas causas sociais
de tais projetos.

110
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

FIGURA 7 – PRINCIPAIS CAUSAS DE PROJETOS SOCIAIS

FONTE: Adaptada de Lencioni, Alves e Rocha (2019)

111
Organização e gestão do trabalho social

Projetos sociais no Brasil são ferramentas que visam mudar


a realidade de muitas comunidades do país. As iniciativas que
interferem na sociedade carente partem de uma ideia originada da
necessidade de melhoria de vida dos brasileiros. Os Projetos sociais
no Brasil podem ser realmente factíveis, dado o grande lapso de
recursos e diferenças sociais vividas pelo povo brasileiro. Pobreza,
analfabetismo, fome, miséria, desemprego, violência, infelizmente,
são realidades constantes por aqui.
Daí a existência de Projetos sociais no Brasil abrangendo os
mais diversos públicos e esferas sociais. Para as crianças, leva a
educação e a possibilidade de um futuro melhor; para os adultos,
agrega trabalho para geração de renda; para os idosos, leva bons
recursos para tratamentos médicos. Efetivar e realizar Projetos
sociais no Brasil requer mais do que boas ideias. Parcerias
importantes e integração entre cidadãos, instituições e empresas são
alguns dos quesitos necessários para a concretização dos Projetos
sociais no Brasil.
Bons Projetos sociais no Brasil são necessários para reverter
a situação de desigualdade que é real na sociedade atual. Diminuir
o contraste social e focar na sustentabilidade, além de ser objetivo,
são algumas características para os Projetos sociais no Brasil
obterem sucesso. Para se ter um bom projeto, faz parte da lista de
itens recomendados quesitos como: concisão, clareza, criatividade
e originalidade. Para os Projetos sociais no Brasil é de extrema
relevância unir os setores públicos, privados e de terceiro setor,
além de ter objetivos claros com relação ao valor de orçamento e
investimento.
A empresa “Projetos e Cultura” também atua na realização
de projetos que tenham cunho social e comunitário. Os Projetos
sociais no Brasil são um grande mote para a arrecadação de
dinheiro frente a grandes parceiros, como os bancos, e muito além
disso, são instrumentos claros para a criação de um país melhor.

FONTE: <http://www.projetosecultura.com.br/projetos-
sociais-brasil.html>. Acesso em: 12 mar. 2020.

112
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

Para elaborar um projeto social é necessário:

a) Montar uma equipe: convocar pessoas (líderes comunitários,


a imprensa local, ou mesmo, participantes de associações de
moradores) que apresentem interesse e/ou apoiem a causa de seu
projeto social.
b) Identificar e diagnosticar: elencar ações para a resolução dos
problemas e necessidades que serão evidenciados em seu projeto
social. Essa etapa é importante, uma vez que descreve “como” o
projeto social atuará para resolver os problemas identificados.
c) Descrever: colocar no papel todos os dados coletados para a
elaboração de seu projeto. Identificar o objetivo do projeto, a
justificativa, o problema, a equipe, o público-alvo, o plano de trabalho,
o cronograma, os recursos, entre outros itens.
d) Execução: pôr em prática tudo que você escreveu em seu projeto.
e) Acompanhamento: acompanhar a execução do projeto, o que já foi
implementado e o que falta implementar, visando controle de tais
ações e realização de reuniões entre a equipe para discussão de
novas ideias e tomada de decisões.
f) Registro das ações: é essencial que as ações feitas durante o projeto
sejam registradas por meio de fotos, vídeos e pautas das reuniões.
Tudo isso é posteriormente utilizado para reconhecer o trabalho de
cada um e o sucesso da equipe (RESUMO ESCOLAR, 2019).

FIGURA 8 – ITENS PARA A ELABORAÇÃO DE UM PROJETO SOCIAL

FONTE: Adaptada de Resumo Escolar (2019)

113
Organização e gestão do trabalho social

Gestão de Projetos Sociais

As novas características do ambiente, associadas à busca da


maximização das tarefas, diante da redução do tempo e da constante
necessidade da obtenção de resultados, tornam bastante atrativa a
adoção da gestão de projetos (KERZNER, 2009; KERZNER, 2012;
NAPOLITANO; RABECHINI JÚNIOR, 2012). Projeto é definido como
uma organização transitória, que compreende uma sequência de
atividades dirigidas à geração de um produto ou serviço singular em
um tempo dado (PMBOK, 2013).
Para Thiry-Cherques (2004), o planejamento de um projeto,
independente da esfera em que se encontra – pública ou privada
–, deve atentar-se para o fato de que está falando de implicações
e situações futuras, e não realizadas e, em alguns casos,
desconhecidas. A essência da atividade de planejamento é a escolha
da situação futura mais adequada ao ambiente que se insere uma
organização; e o estudo e a adoção das estratégias alternativas
conduzem à efetividade dos resultados (XAVIER, 2009; KERZNER,
2012). Diante dessa limitação, percebe-se que uma premissa
básica e orientadora de qualquer projeto é o planejamento (PATAH;
CARVALHO, 2012; HUANG; ASCE; LIM, 2013).
A partir daí as organizações desenvolvem a maturidade em
gerenciamento de projetos. Isto significa que a empresa passa a ter
uma base adequada de ferramentas, técnicas, processos e cultura,
de forma que ao término do projeto a alta administração seja capaz
de discutir a metodologia utilizada, fazer recomendações e aprender
com os erros (JULIO; PISCOPO, 2013).
A configuração de um projeto social não se distancia da
característica de um projeto comum, pois ambos possuem ciclo
de vida – nascimento, crescimento, maturidade e morte – e são
orientados para gerar negócios e ganhar mercados (MAXIMIANO,
2002; CLEMENTE; FERNANDES, 2002). A gestão de um projeto
social consiste em orientar, obter e buscar coerência em ações
integradas para a busca de resultados efetivos que possam, de algum
modo, suprir necessidades e modificar, em parte, uma realidade
social (CEPAL, 2000; NOGUEIRA 1998; MOURA; BARBOSA, 2006).
Nogueira (1998) complementa que um projeto social deve ter
como consequência um conjunto de produtos (gerados via processos
de conversão), resultados (previstos nos objetivos e metas) e
impactos (mudanças na realidade efetivamente alcançadas).

114
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

Cohen e Franco (1993) apontam que para a construção de um


projeto social é fundamental a configuração de uma rede de relações
e parcerias, pois a partir daí é que se pode identificar quais são os
diferentes atores, seus potenciais e seus interesses – stakeholder.
A interlocução com estes autores pode aumentar ou diminuir o
sucesso dos projetos sociais. Com sinergia e confiança é possível
gerar a efetividade e a orientação, com foco no contexto e na
resolução dos problemas sociais. Neste contexto, também é possível
identificar quaisquer divergências que podem pôr em risco a gestão
de um projeto social e sua sustentabilidade até mesmo antes da sua
implantação (CLEMENTE; FERNANDES, 2002; KERZNER, 2009).

FONTE: JEUNON, E. E.; SANTOS, L. M. Indicadores de


desempenho na gestão de projetos sociais sustentáveis: proposição
de modelo para os centros vocacionais tecnológicos. Revista Gestão
& Tecnologia, v. 14, n. 2, p. 227-228, 2014.

1 Nessa seção, estudamos sobre os projetos, que segundo PMBOK


(2004), “é um esforço temporário empreendido para criar um
produto, serviço ou resultado exclusivo”. A partir de tal contexto
relatamos sobre a aplicação desses esforços temporários visando
contribuir em aspectos sociais. Nesse viés, defina o que é um
projeto social.
R.:____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

3 PLANEJAMENTO, ORGANIZAÇÃO E
GESTÃO DO TRABALHO SOCIAL
A partir da relação entre o estado capitalista e as políticas sociais, como
estudamos na seção anterior, a administração vem estruturando-se cada vez
mais com novas estratégias de gestão para o controle e o acompanhamento
do trabalho coletivo, mas você sabe o que significa o termo “gestão”? Gestão
115
Organização e gestão do trabalho social

significa administrar, gerenciar uma instituição, uma empresa, uma entidade social
de pessoal a ser gerida ou administrada. Ela surgiu após a Revolução Industrial,
uma vez que os profissionais decidiram buscar soluções para problemas que não
existiam antes, usando vários métodos de ciências para administrar os negócios
da época, o que deu início à ciência da administração.

Na gestão administrativa, utiliza-se a técnica de administrar de outras áreas


de conhecimento, como do direito, da contabilidade, da economia, da psicologia,
da sociologia, da informática, entre outras, sendo que as principais funções do
gestor são fixar metas e alcançá-las por meio do planejamento; analisar e conhecer
os problemas que podem ser enfrentados; solucionar os problemas; organizar
recursos financeiros, tecnológicos; ser um comunicador, um líder ao dirigir e motivar
as pessoas; tomar decisões precisas e avaliar; e controlar o conjunto todo.

“O processo administrativo opera tanto sobre as pessoas quanto sobre os


recursos da organização, tendo como intuito alcançar os objetivos propostos,
estando presente em toda a atividade do estado, no caso da administração
pública” (CHIAVENATO, 2000, p. 220).

Assim, o processo administrativo é uma sequência de atividades que formam


um todo integrado, ou seja, um conjunto de operações contínuas necessárias
para uma ação integrada. De acordo com Bertollo (2016, p. 355):

É necessário que o assistente social planejador, executor e


avaliador de planos, programas e projetos, se aproprie dessas
metodologias e as incorpore no seu exercício profissional
nos diferentes leques de atuação. Reconhecer a realidade
considerando seus aspectos determinantes (econômicos,
sociais e políticos etc.) e reconhecer os usuários de suas ações
como sujeitos de direito e sujeitos políticos é o movimento
primeiro para superar a burocratização e a tecnificação
do planejamento, ações estas que são funcionais para a
manutenção da ordem desigual e contraditória da sociabilidade
capitalista.

A partir desse contexto de gestão, ampliaremos nosso conhecimento


identificando os princípios de ética social usada pela gestão pública descritos a seguir.

Princípios de ética social usada pela gestão pública


A FIAS/ IFWS (2014) – Federação Internacional dos Assistentes
Sociais – tem como objetivo promover a reflexão e o debate sobre a
ética nas associações-membros da entidade, os assistentes sociais
e os serviços sociais.

116
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

A APSS (2010) enfatiza os seguintes princípios éticos:


• Formular um conjunto de princípios básicos de serviço social,
os quais devem ser adaptados às diversas realidades socioculturais.
• Identificar problemas éticos na prática do serviço social.
• Elaborar um guia metodológico para lidar com questões éticas/
problemas éticos.

Assim, os envolvidos com a sociedade têm como objetivo o


desenvolvimento dos seres humanos a partir dos seguintes princípios
básicos (FIAS, 1994):

a) Cada ser humano tem um valor único em si, o que justifica o


respeito moral por essa pessoa.
b) Cada indivíduo tem o direito a sua autodeterminação até o
limite em que isso não desrespeite os iguais direitos dos outros e tem
a obrigação de contribuir para o bem-estar da sociedade.
c) Cada sociedade, seja qual for a sua estrutura, deverá
proporcionar o máximo de condições favoráveis de vida aos seus
membros.
d) Os assistentes sociais e demais envolvidos com a sociedade
têm um compromisso com os princípios de justiça social.
e) Os envolvidos com a sociedade devem colocar os seus
objetivos, conhecimentos e experiência a serviço dos indivíduos,
dos grupos, das comunidades e da sociedade, apoiando-os no seu
desenvolvimento e na resolução dos seus conflitos individuais ou
coletivos e nas consequências que daí advêm.
f) Espera-se que os que trabalham diretamente com a sociedade
providenciem o melhor apoio possível a toda e qualquer pessoa
que procure a sua ajuda e conselho, sem discriminação com base
na deficiência, cor raça, classe social, religião, língua, convicções
políticas ou opções sexuais.
g) Os assistentes sociais e demais profissionais em contato
direto com a sociedade salvaguardam os princípios de privacidade,
confidencialidade e uso responsável da informação no seu trabalho
profissional. Deverão ainda respeitar a confidencialidade mesmo
quando a legislação do seu país é contrária a esta exigência.

FONTE: <https://siteantigo.portaleducacao.com.br/
conteudo/artigos/administracao/principios-de-etica-social-usada-
pela-gestao-publica/35899>. Acesso em: 20 abr. 2020.

117
Organização e gestão do trabalho social

3.1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E


SEUS NÍVEIS
Quando objetivamos realizar uma determinada ação futura, de forma eficiente
e eficaz, primeiramente pensamos, ou rabiscamos em um papel, em como iremos
realizá-la, quais etapas serão necessárias, materiais, entre outros. Isso nada
mais é do que um planejamento. Nas empresas isso também acontece, sendo
primordial para o seu bom desempenho e alcance das metas e objetivos.

De acordo com Silva (2019), a prática de ações de forma sistemática


tem maiores chances de reduzir as incertezas do processo decisório e,
consequentemente, aumenta a probabilidade de alcance dos objetivos e metas da
empresa. Tavares (2008, p. 68) enfatiza que o planejamento estratégico pode ser
definido também como um “conjunto previamente ordenado de ações com o fim
de alcançar posições futuras desejadas”.

Na literatura, podemos identificar três tipos de planejamento, veja na figura a


seguir.

FIGURA 9 – NÍVEIS DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

FONTE: Adaptada de Tavares (2008)

Planejamento Estratégico: objetivos em longo prazo que afetam toda a


organização. Segundo Kotler (1992, p. 63), “planejamento estratégico é definido
como o processo gerencial de desenvolver e manter uma adequação razoável entre
os objetivos e recursos da empresa e as mudanças e oportunidades de mercado”.
Possibilita às empresas:

• Identificar e utilizar de forma efetiva seus pontos fortes internos.


• Conhecer e eliminar ou adequar seus pontos fracos internos.
• Identificar e usufruir as oportunidades externas.

118
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

• Evitar as ameaças externas.


• A elaboração de um plano de trabalho, mensurando premissas básicas,
expectativas e os principais itens de um projeto, sendo eles: o quê,
como, quando, por quanto, por quem, para quem, por que e onde devem
ser realizados os planos de ação e como e onde alocar os recursos da
organização (OLIVEIRA, 2010).

Ele é implementado nas seguintes etapas:

• Propósito: etapa em que são definidos o negócio, a missão, a visão, os


princípios, os valores e os objetivos estratégicos.
• Diagnóstico: nesta fase é realizada a análise ambiental externa e
interna, com definição dos pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e
ameaças.
• Estratégias: nesta fase são levantadas questões indispensáveis para a
realização da visão de futuro e formuladas as estratégias.
• Plano de ação: consiste no detalhamento das ações relacionadas ao PE
– o que, como, quem e quando.
• Implementação: etapa em que se coloca em prática o que foi planejado.
• Avaliação: consiste em verificar se os objetivos e metas do PE foram
alcançados (SILVA, 2019).

Planejamento Tático: caracteriza-se por ter objetos de curto prazo que visam
otimizar áreas específicas da organização, interferindo apenas em partes, não em
toda, como ocorre no Planejamento Estratégico. Ocorre em nível gerencial, ou de
departamentos, trabalhando em pequenas ramificações dos objetivos e metas
preestabelecidos no planejamento estratégico com o intuito de tornar eficiente o uso
de recursos disponíveis nas empresas. Suas principais características são:

• Processo permanente e contínuo.


• Aproxima o estratégico do operacional.
• Aproxima os aspectos incertos da realidade.
• É executado pelos níveis intermediários da organização.
• Pode ser considerado uma forma de alocação de recursos.
• Tem alcance mais limitado do que o planejamento estratégico, ou seja, é
de médio prazo.
• Produz planos mais bem direcionados às atividades organizacionais.

Chiavenato (1994) enfatiza que o planejamento tático alinha as ações elaboradas


no planejamento estratégico, para sua implementação a nível operacional.

Já o Planejamento Operacional é realizado em nível operacional, sendo


caracterizado por ser de curto prazo, abordando cada tarefa ou operação de forma
isolada. As ações abordam:
119
Organização e gestão do trabalho social

• Detalhamento das etapas do projeto.


• Métodos, processos e sistemas aplicados.
• Pessoas: responsabilidade, função, atividades/tarefas.
• Equipamentos necessários.
• Prazos e cronograma.

Para melhor compreensão, analise o quadro a seguir, que resume os três níveis
de planejamentos essenciais para gestão das organizações.

QUADRO 3 – NÍVEIS DE PLANEJAMENTO


Nível Planejamento Conteúdo Prazo Características
Macro-orientado: aborda
Institucional Estratégico Genérico e Sintético Longo a empresa como uma
totalidade
Aborda cada unidade de
Menos genéricos e
Intermediário Tático Médio trabalho ou cada unidade
mais detalhados
de custo separadamente
Micro-orientado: aborda
Operacional Operacional Detalhado e Analítico Curto cada tarefa ou operação
isoladamente
FONTE: Adaptado de Valentim (2019)

Para melhor gestão, eficácia e eficiência na orientação, monitoramento e


controle das ações realizadas nas organizações é essencial que o gestor possua
um conjunto de habilidades, conforme estudaremos a seguir.

Além de tal classificação comumente utilizada nas organizações, de acordo


com Bertollo (2016), há outras duas modalidades: o planejamento participativo
e o planejamento estratégico situacional. Em termos gerais, o planejamento
participativo possui ligação com o projeto ético-político, e defende a intenção de
ruptura de reconceituação. Já o planejamento estratégico situacional é utilizado
nas rotinas de práticas de gestão nos mais variados âmbitos do assistente social.

Leia mais sobre tais modalidades:

Planejamento Estratégico Situacional: tornou-se rotineiro nos


dias atuais a utilização da denominação planejamento estratégico
para designar tanto intervenções no âmbito privado, seja no contexto
de empresas/corporações multinacionais ou empresas de pequeno

120
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

porte e abrangência, bem como intervenções no âmbito público nas


diferentes esferas que o compõem: federal, estadual e municipal.
Compreendendo que ocorrem processos dinâmicos de
mudanças e transformações na realidade, cabe às organizações/
instituições enfrentá-las. Nesse sentido, esta metodologia pressupõe
um pensamento estratégico e a implementação de ações concretas.
Dito isto, cabe-nos explicitar o que é definido e compreendido
por Planejamento Estratégico Situacional (PES), metodologia
desenvolvida por Carlos Matus, economista chileno que ocupou
o cargo de Ministro da Economia no Governo de Salvador Allende
de 1965 a 1970, e que é considerado um dos maiores estudiosos
do “planejamento de governo” do continente Latino Americano,
ganhando relevância também em nível mundial, e cuja obra tem
expressiva influência na administração pública no Brasil. A proposta
de planejamento desenvolvida por Matus vem na contramão do
chamado “planejamento tradicional”, que por vezes tende a se
apresentar de maneira burocrática, morosa e falha.
Nesse sentido, a referida metodologia é composta por quatro
momentos que objetivam superar os quatro problemas principais do
planejamento, são eles: o momento explicativo: em que se busca
explicar a realidade de intervenção situacionalmente, respondendo
a questões como: o que foi, o que é, e o que tende a ser; o segundo
momento é denominado normativo: em que são detalhadas as
propostas em função dos cenários previstos e dos possíveis
resultados do plano, o que deve ser é o questionamento que orienta
esta etapa; já o terceiro momento é o estratégico, que responde
ao questionamento: o que pode ser. Nesta etapa, a viabilidade do
plano é examinada e definem-se os momentos de ação perante os
movimentos dos sujeitos envolvidos; por fim, o quarto momento é
o tático-operacional, cuja pergunta respondida é o que fazer. Este
momento é o de definição das estratégias, das responsabilidades de
cada envolvido na implementação do plano (OSÓRIO, 2002).
Planejamento Participativo: tal modalidade propõe, a fim de,
inclusive, fortalecê-la diante dos entraves com que se depara. Para
tanto, é relevante qualificar o que se entende por participação,
adjetivo que configura esta metodologia de intervenção.
Assim, convém explicitar que para a metodologia do
planejamento participativo, a participação “[...] inclui a distribuição
do poder e a possibilidade de decidir na construção não apenas do
‘como’ ou do ‘com que’ fazer, mas também do ‘o que’ e do ‘para que’
fazer” (GANDIN, 2001, p. 81).
O planejamento participativo “[...] foi desenvolvido para
instituições, grupos e movimentos que não têm como primeira

121
Organização e gestão do trabalho social

tarefa ou missão aumentar o lucro, competir e sobreviver, mas


contribuir para a construção da realidade social” (GANDIN, 2001,
p. 82). Considerando tal caracterização, o mesmo autor continua
afirmando que o planejamento participativo parte da premissa de que
a sociedade está “[...] organizada de forma injusta, injustiça esta que
se caracteriza pela falta de participação”.
Com isso o autor quer dizer que o planejamento participativo
“[...] quer contribuir para a transformação da sociedade na linha
da justiça social, no sentido de que todos participem das decisões,
mas, sobretudo, dos bens materiais e não materiais encontrados na
natureza ou produzidos pelas pessoas humanas” (GANDIN, 2001, p.
91, grifos do autor).
Assim, é possível perceber uma vinculação entre o que propõe
o planejamento participativo e o projeto ético-político profissional do
Serviço Social. Ao afirmar que todos devem participar e usufruir dos
bens naturais e/ou produzidos pelo homem, reitera-se a possibilidade
e a necessidade de superação da ordem socialmente imposta pelo
capital. É nessa luta que o Serviço Social se coloca, e nesse sentido a
utilização do planejamento participativo pelo seu coletivo profissional
é uma das possibilidades para ir além da mera “administração” e
apaziguamento das ‘demandas e necessidades’ dos sujeitos, e para
a construção de outra realidade social.

FONTE: BERTOLLO, K. Planejamento em serviço social:


tensões e desafios no exercício profissional. Temporalis, Brasília, v.
31, n. 1, p. 333-356, jun. 2016. Disponível em: http://periodicos.ufes.
br/temporalis/article/view/11943. Acesso em: 19 abr. 2020.

3.2 HABILIDADES DO PROFISSIONAL


GESTOR
A função principal do gestor é administrar ou gerenciar projetos, fazendo o
essencial para concluí-los, dentro das normas estabelecidas pela empresa, por
si, ou pela situação. Ele acompanha a realização das atividades planejadas,
com o intuito de garantir que as metas e os objetivos traçados sejam atendidos,
obedecendo aos limites propostos, como prazos, cursos e qualidade. Além disso,
é responsável pela elaboração de novos projetos e sua rentabilidade.

122
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

Para um projeto ter resultados positivos, são essenciais em uma boa


administração as seguintes habilidades:

a) Habilidades técnicas: conhecimento na área de atuação.


b) Habilidades administrativas: o gestor precisa ter conhecimento das
práticas de gestão em geral e deve ter habilidades interpessoais
ou comportamentais, como liderança, comunicação, negociação e
solução de problemas. Consequentemente, é importante que alguns
integrantes da equipe tenham ao menos um pouco de conhecimento
nessas áreas.
c) Habilidades de gerenciamento: muitos pensam que essa habilidade
precisa ser exclusivamente do gestor. Sim, o gestor precisa ser um
bom gerente, ter conhecimentos e práticas em gerência de projetos,
saber realmente gerenciar um projeto e uma equipe, mas é importante
que possa contar com o auxílio de algum de seus integrantes, para
gerenciar cada grupo de atividades.
d) Habilidade de comunicação: saber comunicar-se é imprescindível,
seja da parte do gestor, seja de toda a equipe, mas saber falar não
significa ser um bom profissional, além de se comunicarem, os
integrantes precisam saber ouvir e persuadir.
e) Habilidades organizacionais: o gerente de projetos precisa ser
campeão em planejamento e estabelecimento de objetivos e análises.
Sua equipe deverá ser especialista em respeitar o planejamento e
cumprir todas as atividades estabelecidas, capazes de identificar e
buscar a solução das falhas que surgirem no decorrer do processo.
f) Habilidades de relacionamento: humildade, empatia, ética, motivação
são mais do que habilidades exigidas da equipe de gestão de
projetos, são características fundamentais para o bom desempenho
do projeto. O gerente deverá estar a todo tempo cooperando e
interagindo com a equipe, para que se respeitem e consigam manter
a harmonia do grupo, trabalhando sempre unidos em busca dos
objetivos.
g) Habilidades de liderança: muito exigida do gerente de projetos, a
liderança torna o processo agradável, sem que o rumo se perca e
tempo e dinheiro sejam desperdiçados. Se possível, um ou mais
integrantes da equipe podem destacar-se, caso tenham essa
habilidade, para auxiliar o gestor nesse processo.
h) Habilidades internas: também são características que todos
os envolvidos no projeto devem apresentar, principalmente os
responsáveis pelo acompanhamento do processo, sendo elas:
flexibilidade, criatividade, paciência e persistência.

123
Organização e gestão do trabalho social

FIGURA 10 – CONJUNTO DE HABILIDADES ESSENCIAIS AOS GESTORES

FONTE: O autor

Além disso, o gestor também deve monitorar o processo constantemente,


direta ou indiretamente, analisar as distorções, solucionar os conflitos e, se
necessário, replanejá-lo. Ele deve saber aonde quer chegar, e assim evidenciar
seus resultados, para quando concluir o projeto, poder verificar aonde chegou e
se realmente conseguiu alcançar seus objetivos. Esse feedback fará com que ele
adquira mais experiência na elaboração de projetos futuros.

3.3 TRABALHO SOCIAL


Agora que já estudamos as principais características para gestão e
organização das instituições, compreenderemos o que é o trabalho social.

O Trabalho Social está inserido em diversas ações, programas que têm


como objetivo contribuir em diversos aspectos da sociedade, abordando desde
questões materiais, saúde, educação, cultural, entre outras.

O Trabalho Social compreende um conjunto de estratégias, processos e


ações, realizado a partir de estudos diagnósticos integrados e participativos do

124
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

território, compreendendo as dimensões: social, econômica, produtiva, ambiental


e político-institucional do território e da população beneficiária, além das
características da intervenção, visando promover o exercício da participação e a
inserção social dessas famílias, em articulação com as demais políticas públicas,
contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida e para a sustentabilidade
dos bens, equipamentos e serviços implantados (BRASIL, 2014b).

Podemos destacar como exemplos de Programas Sociais realizados por


determinadas ações de Políticas Públicas, os Programas Sociais Habitacionais
de Interesse Social, como o PAC Urbanização de Assentamentos Precários e o
Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), fundamentais para a orientação das
famílias de baixa renda, em que atuam profissionais da área social.

Vamos conhecer um pouco mais sobre trabalho social? Para


isso, leia o texto a seguir.

Trabalho Social

O trabalho social foi assumido como parte integrante do projeto


habitacional desde o desenvolvimento do Programa Habitar Brasil/
BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), iniciado em 1999.
Em 2003, com a criação do Ministério das Cidades (MC), o trabalho
social passou a ser componente básico da Política Nacional de
Habitação, estendendo esta exigência aos demais programas em
que o MC concedesse recursos a fundo perdido e àqueles obtidos
através de empréstimos a estados e municípios. Ratificou-se, então,
essa determinação e generalizou-se a inclusão do Trabalho Social
Integrado nos programas habitacionais de interesse social. É com
fundamento na nova política habitacional que se inscreve o nosso
debate sobre o Trabalho Social Integrado, constitutivo dessa política.
As diretrizes do Trabalho Social (BRASIL, 2014a) ratificam:

• projetos integrados por ações físicas e sociais, que incluem o


controle da questão ambiental e a regularização fundiária;
• conteúdo mínimo exigido para o trabalho social voltado para os
eixos de mobilização, organização e fortalecimento social;
• acompanhamento e gestão social da intervenção;
• educação ambiental e patrimonial;
• desenvolvimento socioeconômico;

125
Organização e gestão do trabalho social

• trabalho social exigido na fase antes das obras, durante as


obras e na fase do pós-obras.

FONTE: BRASIL. Trabalho social em programas de habitação


de interesse social. 2. ed. Brasília: Cidades/SNH; [Florianópolis]:
NUTE/UFSC, 2014. Disponível em: http://autogestao.unmp.org.br/
wp-content/uploads/2014/08/Trabalho-Social-MCidades.pdf. Acesso
em: 7 abr. 2020.

A atividade de trabalho social, desenvolvida por profissionais de tal área, é


essencial em nossa atual sociedade caracterizada principalmente pela grande
diferença social existente. De acordo com o Comitê Executivo da IFSW (2014),
ele promove uma mudança positiva na sociedade, visando amenizar alguns
problemas de tal desigualdade, que refletem principalmente na cultura, educação,
saúde, entre outros, com o intuito de promover o bem-estar. Tem como foco o
respeito e a garantia dos direitos humanos e da justiça social.

Os principais objetivos das atividades de trabalho social são:

• Facilitar a inclusão de grupos sociais excluídos, marginalizados,


vulneráveis ou em risco.
• Promover o bem-estar e solucionar problemas, intervindo com
indivíduos, famílias, grupos e comunidades.
• Desencadear dinâmicas que levem à participação das populações na
defesa e dinamização de melhores condições sociais.
• Trabalhar com as pessoas na formulação, implementação e defesa
de políticas coerentes com os princípios éticos da profissão.
• Defender com e para as pessoas, mudanças nos condicionalismos
estruturais relacionados à exclusão e à marginalidade social.
• Desencadear procedimentos de proteção de pessoas, que pela sua
condição ou situação de risco, não estão capazes de o fazer por si
próprias.

A partir da importância do trabalho social, é essencial uma gestão de forma


efetiva, para que assim possa contribuir amenizando as lacunas causadas
principalmente por desigualdades sociais.

126
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

1 Estudamos nesse tópico sobre organização, planejamento e


gestão do trabalho social. Nesse viés, compreendemos sobre
a importância do planejamento estratégico para a gestão da
organização, sendo dividido em alguns níveis. Identifique e
descreva tais níveis.
R.:____________________________________________________
____________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
___________________________________________________.

4 GESTÃO POR INDICADORES EM


TRABALHO SOCIAL
Com certeza você já deve ter lido alguma reportagem ou pesquisa em que
as informações eram evidenciadas com base em indicadores. Entretanto, você
saberia explicar o que eles são e qual a sua importância?

4.1 MODELOS DE INDICADORES


Os indicadores são ferramentas básicas utilizadas para o gerenciamento
do sistema organizacional, sendo uma medida que, por meio da interpretação
dos dados, resume informações importantes de um determinado fenômeno.
São capazes de medir e mensurar o desempenho de programas ou projetos de
organizações públicas e/ou privadas, possibilitando o acompanhamento quanto
ao alcance de metas e objetivos em um determinado período de tempo (JEUNON;
SANTOS, 2014).

De acordo com Arregui (2013, p. 68), “no Brasil a expansão do uso de


indicadores sociais e de sistemas de informação integrados às estruturas
governamentais vem produzindo avanços e desafios no âmbito da gestão das

127
Organização e gestão do trabalho social

políticas públicas”. O autor enfatiza que a utilização de indicadores possibilita


compreender melhor questões que necessitam de ações para amenizar seus
efeitos. Assim, “a construção de fluxos de informação, a harmonização conceitual
e a ênfase na temporalidade dos indicadores permitem o necessário exercício de
comparação, vital para a avaliação da gestão das políticas públicas” (ARREGUI,
2013, p. 68).

Com o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação é possível um


maior conhecimento da condição de vida da população, todavia, são necessários
também gestores capacitados para análise (ARREGUI, 2013). A partir da
eficiência das tecnologias em tal processo, surge uma “multidação de indicadores
alternativos, sob novas concepções de desenvolvimento humano, desenvolvimento
sustentável, bem‑estar social e/ou qualidade de vida” (ARREGUI, 2012, p. 554).

Os indicadores possibilitam a explicitação de evidências e o acompanhamento


de fenômenos sociais de forma quantitativa e/ou qualitativa. Os indicadores
possibilitam a comparação entre dados iniciais e finais de um determinado item a
ser analisado, sendo um potencial variável para o sucesso de uma ação específica
(JEUNON; SANTOS, 2014).

No recorte de uma reportagem descrita a seguir, temos um exemplo de


indicador utilizado para mensurar o déficit habitacional no Brasil. Para isso foram
comparados os valores dos anos de 2007 a 2015. Tal indicador foi utilizado para
poder quantificar a deficiência do Brasil com relação a moradias, para assim
propor ações e programas sociais envolvendo o trabalho social com vistas a
diminuir tais valores.

O déficit habitacional no Brasil em quatro gráficos

O desabamento de um edifício no centro da cidade de São


Paulo, no dia 1º de maio, levantou diversos debates, que vão
desde atuação dos movimentos sem-teto, da responsabilidade
das autoridades e do papel dos proprietários dos imóveis. Um dos
tópicos também levantados foi: quantas pessoas não têm moradia na
cidade? No Estado? No país?
Aos Fatos foi atrás dos dados disponíveis. Na ausência de
estatísticas estruturadas sobre o tema, fomos em vez disso tentar
saber quais lugares possuem maior déficit habitacional. A Fundação
João Pinheiro, do governo de Minas Gerais, há anos desenvolve
estudos sobre déficit habitacional no Brasil e é considerada referência
nacional sobre o tema.
128
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

Por déficit habitacional é possível entender as deficiências no


estoque de moradias – e não necessariamente a realidade de pessoas
em situação de rua, ou seja, é possível saber a porcentagem de
moradias precárias em relação ao total de moradias disponíveis.
Segundo a fundação, a conta engloba moradias “sem condições de
serem habitadas em razão da precariedade das construções ou do
desgaste da estrutura física e que por isso devem ser repostas”.
O último estudo da fundação foi publicado em 2018 usando
dados de 2015, sem levar em conta a recessão econômica que se
estendeu também para 2016.

FIGURA 11 – DÉFICIT HABITACIONAL NO BRASIL

FONTE: Spagnuolo (2018, s.p.)

De 2007 a 2015, a média do déficit habitacional relativo (ou seja,


a proporção em relação aos domicílios) no Brasil é de 9,6%, ou seja,
esse é o percentual de déficit em relação ao estoque total de
moradias no país. O indicador chegou a quase 12,5% em 2010,
maior patamar da série.

FONTE: <https://aosfatos.org/noticias/o-deficit-habitacional-no-
brasil-em-4-graficos/>. Acesso em: 16 abr. 2020.

129
Organização e gestão do trabalho social

Assim, a partir da identificação e aplicação de pesquisas por meio de


indicadores previamente elaborados, é possível aos gestores verificar se o projeto
está de fato atingindo suas metas e objetivos planejados.

O que não é O que não é medido não pode ser gerenciado (DRUCKER, 1999).
medido não pode Os indicadores geralmente são aplicados para medir determinados
ser gerenciado aspectos no contexto social, político, cultural, educacional ou
(DRUCKER, 1999). econômico, que contribuem na gestão dos projetos. No contexto de
indicadores sociais, percebemos que buscam conferir determinados
aspectos de atividades complexas. Ele é uma medida usada para quantificar
algum conceito de interesse teórico ou programático.

Para Jannuzzi (2002), o indicador é um recurso metodológico,


Para Jannuzzi
(2002), o indicador empiricamente referido, que informa algo sobre um aspecto da realidade
é um recurso social ou sobre mudanças que estão sendo processadas. Assim, você
metodológico, pode constatar que eles possibilitam a análise da real situação de
empiricamente algum aspecto no qual deseja-se modificar, e a partir disso, estabelecer
referido, que informa metas e objetivos, aumentando a chance na tomada de decisões. A
algo sobre um
principal finalidade de um indicador é traduzir, de forma mensurável,
aspecto da realidade
social ou sobre determinado aspecto de uma realidade dada (situação social) ou
mudanças que estão construída (ação de governo), de maneira a tornar operacional a sua
sendo processadas. observação e avaliação.

Como criar indicadores? Quais aspectos devemos levar em consideração?


Para a construção de um bom indicador, você deve ter algumas prioridades como:

• Periodicidade.
• Representatividade.
• Simplicidade.
• Comparabilidade.
• Viabilidade.
• Economicidade.
• Confiabilidade.
• Desagregabilidade.
• Mensurabilidade.
• Estabilidade.
• Sensibilidade.

Além de tais prioridades, devemos, antes de elaborar um indicador, definir:

• Qual sua natureza (econômica, social, ambiental etc.).


• Qual a área de pesquisa que ele será aplicado (educação, saúde,
cultura, moradia, mercado etc.).

130
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

• Sua objetividade (objetivo ou subjetivo).


• Seu tipo (simples, compostos, proporção, porcentagem, razão ou
índice e taxa).
• Sua implementação, sendo para gestão de fluxo (gestão do
desempenho), ou para avaliação de desempenho.

A gestão do desempenho é contínua, não tendo data específica para início e


fim, com monitoramento constante dos resultados. Já a avaliação do desempenho
possui um início, meio e fim definidos, sendo realizada para compreender
determinada variável e o que falta (gap) para sua condição ideal.

Os indicadores são classificados em:

Indicadores simples: representam um valor numérico (uma


unidade de medida) atribuível a uma variável. Os indicadores simples
não expressam a relação entre duas ou mais variáveis. Exemplo:
número de inquéritos policiais – denúncias.
Indicadores compostos: expressam a relação entre duas ou
mais variáveis. De acordo com as relações entre as variáveis que
os constituem e a forma como são calculadas, são denominados de
maneiras específicas. Assim, têm-se quatro grupos em indicadores
compostos:
• Proporção ou coeficiente: é o quociente entre o número de
casos pertencentes a uma categoria e o total de casos considerados.
Número total de inquéritos policiais denunciados sobre o número
total de inquéritos policiais recebidos.
• Porcentagem: obtida a partir do cálculo das proporções,
simplesmente multiplicando o quociente obtido por 100. As
porcentagens e as proporções têm por objetivo principal criar
comparações relativas destacando a participação de determinada
parte no todo. Exemplo: inquéritos policiais denunciados versus
arquivados.
• Razão ou índice: as proporções representam um tipo particular
de razão. Entretanto, o termo razão é usado normalmente quando
A e B representam categorias separadas e distintas. Este quociente
é também chamado de índice, indicando tratar‐se de razão entre
duas grandezas tais que uma não inclui a outra. Razão entre número
de membros, número de habitantes e Índice de Desenvolvimento
Humano.

131
Organização e gestão do trabalho social

• Taxa: são coeficientes multiplicados por uma potência de 10 e


seus múltiplos para melhorar a compreensão do indicador.

FONTE: SÃO PAULO. Manual de Indicadores de Desempenho.


São Paulo: Ministério Público do Estado de São Paulo, 2017.
Disponível em: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Centro_de_
Gestao_Estrategica/ManualIndicadores.pdf. Acesso em: 7 abr. 2020.

Assim, a avaliação e a gestão do trabalho social são cada vez mais


orientadas por indicadores. A gestão do trabalho social possibilita a avaliação ou
a melhor forma de proceder quanto à análise dos resultados. A identificação e
a mensuração de indicadores contribuem na tomada de decisões sobre riscos
potenciais, no estabelecimento de objetivos, na examinação de recursos de
assistência social, entre outros.

Na literatura, há várias classificações para indicadores, sendo as mais


frequentes nas seguintes áreas:

• Saúde: leito por um número específico de habitantes.


• Educação: taxa de analfabetismo, escolaridade média por idade.
• Segurança: mortes por homicídios, roubos à mão armada por um
número de habitantes.
• Habitacional: posse de bens duráveis, densidade de moradores por
domicílio.
• Demográfico: expectativa de vida ao nascer, densidade demográfica.
• Mercado de trabalho: taxa de desemprego, rendimento médio real do
trabalho.

4.2 INDICADORES SOCIAIS


Como já estudamos na seção anterior, um indicador indica algo, demonstra
uma observação ou avaliação da variável estudada. Demonstram, por meios
observáveis, que uma ação ou processo ocorreu, e geralmente são definidos por
especialistas na área. Estão vinculados à realidade da disponibilidade de dados,
às políticas e decisões, “guiando-as”. Assim, o desenvolvimento de indicadores
sociais está relacionado à consolidação das atividades de planejamento do setor
público.

132
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

O que é um indicador social? Para Jannuzzi (2005 apud FIGUEIREDO FILHO


et al., 2013, p. 63), “os indicadores sociais são medidas usadas para permitir a
operacionalização de um conceito abstrato ou de uma demanda de interesse
programático”. Eles evidenciam as dimensões sociais na qual a instituição tem
interesse em analisar.

De acordo com Jannuzzi (2005 apud FIGUEIREDO FILHO et al., 2013, p.


63):

Os indicadores sociais têm um papel fundamental no desenho,


na implementação e na avaliação de políticas públicas. Os
indicadores informam ao gestor a respeito da quantidade de
alunos por escola/sala de aula, do número de detentos por
presídio/cela, do numerário de homicídios por estado/cidade/
bairro, do montante de pessoas desempregadas etc., ou seja,
sempre que existir um interesse programático em uma área
específica da atividade governamental, haverá a necessidade
de utilizar indicadores sociais, já que eles podem ser utilizados
para abordar diferentes temas. [...] os indicadores guardam,
pois, relação direta com o objetivo programático original, na
forma operacionalizada pelas ações e viabilizada pelos dados
administrativos e pelas estatísticas públicas disponíveis.

Assim, “a boa prática de pesquisa social recomenda que os procedimentos


de construção dos indicadores sejam claros e transparentes, que as decisões
metodológicas sejam justificadas, que as escolhas subjetivas – invariavelmente
frequentes – sejam explicitadas de forma objetiva” (JANNUZZI, 2005, p. 141 apud
FIGUEIREDO FILHO et al., 2013, p. 64). Isso é a essência do método cientifico
que objetiva sua replicabilidade, possibilitando a realização de novas pesquisas a
partir dela.

Figueiredo Filho et al. (2013) ainda evidenciam algumas propriedades


desejáveis aos indicadores sociais, sendo elas:

• Relevância no cenário da gestão pública.


• Validade de representação do conceito.
• Confiabilidade da medida.
• Cobertura populacional.
• Sensibilidade às ações previstas.
• Especificidade ao programa.
• Transparência metodológica à construção.
• Comunicabilidade ao público.
• Periodicidade de sua atualização.
• Desagregabilidade territorial.

133
Organização e gestão do trabalho social

Os indicadores sociais podem ser classificados. Na literatura há várias


caracterizações. A mais utilizada no contexto social são as três classes descritas
a seguir:

1) indicadores normativos de bem-estar;


2) indicadores de satisfação;
3) indicadores sociais descritivos.

Independente de tipo ou classificação, os indicadores que melhor capturam os


contextos e necessidades específicos da população local devem ser priorizados,
usando apenas aqueles considerados relevantes localmente e modificados
adequadamente.

4.3 MODELOS PARA GESTÃO DE


INDICADORES
No decorrer deste capítulo já aprendemos sobre alguns modelos para
organização e gestão que podem ser aplicados também para acompanhamento
de indicadores, como o planejamento estratégico.

Nas organizações, os indicadores podem ser aplicados no nível estratégico


para avaliar a missão, a visão e os objetivos atrelados ao Planejamento
Estratégico. Em nível gerencial para verificar se os resultados dos processos
organizacionais concorrem para a realização da estratégia e se estão contribuindo
para a melhoria contínua da organização. No nível operacional, avaliam se os
processos ou rotinas concorrem para a melhoria contínua (SÃO PAULO, 2017).

Além do planejamento estratégico, analisaremos o modelo de melhoria


contínua PDCA e o Balanced Scorecard (BSC), que podem ser utilizados para
gestão de indicadores no contexto do trabalho social.

4.4 CICLO DE MELHORIA CONTÍNUA


PDCA
O conceito do modelo de melhoria contínua PDCA foi desenvolvido pelo
estatístico americano Walter A. Shewhart como um ciclo para controle estatístico
de processos. Posteriormente, foi aplicado no cenário de gestão da qualidade,
sendo popularizado na década de 1950 por W. Edwards Deming (especialista em
qualidade) (ANDRADE, 2003).

134
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

“O PDCA é um método de gerenciamento de processos ou de sistemas.


É o caminho para se atingir as metas atribuídas aos produtos dos sistemas
empresariais” (CAMPOS, 1996, p. 262).

Essa ferramenta possibilita o controle e a melhoria de processos por meio da


execução de alguns quadrantes:

• PLAN – PLANEJAR.
• DO – EXECUTAR.
• CHECK – VERIFICAR.
• ACT – ATUAR.

É considerado um ciclo de melhoria contínua, uma vez que, em sua


conclusão, inicia-se uma nova fase, envolvendo novas possibilidades para sua
melhoria constante (ANDRADE, 2003).

FIGURA 12 – CICLO PDCA

FONTE: Adaptada de Andrade (2003)

De acordo com Ahuja (1994, p. 10), “planejar é estipular objetivos e, então,


determinar programas e procedimentos para o alcance desses objetivos. É tomar
decisões para o futuro, olhar mais adiante”. Nessa etapa são definidas algumas
variáveis como: objetivos, metas, pessoas envolvidas, recursos, dados a serem
coletados, entre outros.

O quadrante execução é caracterizado pela prática, implementação dos


itens traçados no planejamento, de forma gradual e organizada. Em verificar
são monitorados os resultados das ações previamente planejadas (PLAN), e
executadas (DO) para identificar quais ações tiveram melhores resultados.

135
Organização e gestão do trabalho social

Na última etapa, atuar (ACT), são tomadas algumas ações corretivas com


base nos resultados analisados na etapa anterior, com o intuito de maior eficácia
na realização das atividades/ações da organização. Após tal ação (correção),
inicia-se o ciclo novamente.

“O processo administrativo opera tanto sobre as pessoas quanto sobre os


recursos da organização, tendo como intuito alcançar os objetivos propostos,
estando presente em toda atividade do estado, no caso da administração pública”
(CHIAVENATO, 2000, p. 220).

A melhor estrutura de uma organização é a mais simples possível. O que


torna uma estrutura de organização “boa” são os problemas que ela não cria.
Quanto mais simples for a estrutura, menos coisas sairão erradas (DUCKER,
1999).

No contexto de gestão de indicadores, temos um exemplo de


aplicação do modelo PDCA descrito a seguir:

Planejamento do Indicador
Parte do sucesso do estabelecimento de indicadores de
desempenho deve-se ao seu estabelecimento de modo participativo.
Na fase de Planejamento (PLAN), a equipe deverá:
Identificar o que será medido e com que frequência; o
alinhamento estratégico do indicador; justificar por que será medido
(qual valor o indicador definido agrega ao processo); estabelecer
as fórmulas e metas; validar o indicador com as partes envolvidas
(agentes, chefias e diretorias).
Ponto de Controle: definir em que local do processo serão
obtidas as informações que permitirão aferir o indicador; definir os
responsáveis por realizar o levantamento das informações; definir
a metodologia de apuração e comunicação (sistemas, planilhas,
gráficos etc.).
Estabelecimento: descrever o indicador no respectivo plano
(estratégico, tático ou operacional).
No quadrante de Execução da Medição (DO), duas ações
devem ser realizadas nesta etapa: 1. capacitar os responsáveis pelo
levantamento das informações; 2. apurar as informações conforme
planejado.
Na etapa de Análise e Publicidade (CHECK), devem ser
cumpridos os seguintes passos: publicar os resultados apurados

136
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

em seus respectivos painéis de indicadores; analisar os resultados


obtidos para fins de ações corretivas, preventivas ou ações de
melhoria.
No último quadrante, Ações Corretivas (ACTION), conforme os
resultados apresentados, ações podem ser tomadas com a finalidade
de aferir se os objetivos propostos estão sendo alcançados conforme
planejado. Elas podem ser:
• Ações Corretivas: caso o resultado da mensuração aponte que
a meta proposta foi descumprida.
• Ações Preventivas: caso o resultado da mensuração aponte
que a meta proposta possui uma tendência a ser descumprida
(valores sucessivamente nos limites da meta).
• Ações de Melhoria: caso o resultado da mensuração aponte que
a meta proposta foi cumprida, existindo, entretanto, a possibilidade
de aprimorar ainda mais os resultados.

Cabe citar que o próprio indicador pode ser objeto de ação


corretiva, preventiva ou de melhoria.

FIGURA 13 – CICLO PDCA APLICADO EM INDICADORES DE DESEMPENHO

FONTE: São Paulo (2017, p. 15)

FONTE: SÃO PAULO. Manual de Indicadores de


Desempenho. São Paulo: Ministério Público do Estado de São
Paulo, 2017. Disponível em: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/
portal/Centro_de_Gestao_Estrategica/ManualIndicadores.pdf.
Acesso em: 7 abr. 2020.

137
Organização e gestão do trabalho social

4.4.1 Balanced Scorecard (BSC)


O Balanced Scorecard (BSC) ou Indicadores Balanceados de Desempenho
foi desenvolvido por Kaplan e Norton em 1992 para medição e gestão do
desempenho. Essa metodologia visa analisar o desempenho a partir de quatro
perspectivas: financeira, clientes, processos internos e aprendizado e crescimento.

Esse conjunto de medidas fornece aos gestores uma visão rápida, mas
abrangente do projeto. O Balanced Scorecard informa os resultados das ações
já tomadas e complementa as medidas operacionais, os processos internos e as
atividades de inovação e melhoria da organização.

É um recurso que pode ser utilizado por diversos tipos de organizações,


desde o setor público ao privado, ONGs, entre outras. Surgiu a partir de limitações
na avaliação de desempenho identificada pelas organizações. Assim, Hauser e
Katz (1998) identificaram em seus estudos que cada variável necessita de seu
próprio conjunto de medidas, de acordo com as características de cada empresa.

A abordagem BSC consiste nas seguintes perspectivas de desempenho:

• Sociedade (perspectiva do cliente): as medidas relacionadas a


essa perspectiva exigem medidas específicas quanto ao mercado e
segmento de clientes. Deve desenvolver medidas de desempenho
para fidelizar e satisfazer clientes. As preocupações do cliente estão
relacionadas ao tempo, à qualidade, ao serviço e ao custo. Portanto,
a perspectiva do cliente inclui diferentes objetivos principais e
medidas relacionadas à estratégia da organização. Exemplos incluem
objetivos e medidas relacionadas ao aumento da participação de
mercado, retenção de clientes e satisfação. Em termos gerais, o
intuito é “acompanhar de maneira clara como a empresa entrega
valor para seus clientes, utilizando indicadores de satisfação e
resultados e levando em consideração o prazo, a qualidade, o custo
e o desempenho dos serviços prestados” (SÃO PAULO, 2017, p. 12).
• Processo interno de negócios/perspectiva operacional: as medidas
contidas nesta perspectiva estão relacionadas aos processos
internos críticos para os quais a organização deve se destacar para
implementar a estratégia. Os processos identificados devem resultar
em requisitos necessários para alcançar a perspectiva do cliente
da organização. Kaplan e Norton (1992, apud PRIETO et al., 2006)
identificam vários processos internos genéricos, como processos de
vendas operacionais e pós-serviços, e enfatizam a necessidade de
desenvolver um desempenho apropriado às medidas relacionadas a

138
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

esses processos, como medidas relacionadas ao tempo, qualidade


e custo. Essa variável é responsável pelo mapeamento dos
processos essenciais para a realização dos objetivos da empresa,
implementando sobre eles a gestão de melhoria contínua, tendo em
mente que, principalmente, tais processos que agregam valores aos
produtos e serviços, criam valores para o cidadão e para a sociedade
(SÃO PAULO, 2017).
• Perspectiva de aprendizado e crescimento/inovação: Kaplan e Norton
(1992, apud PRIETO et al., 2006) enfatizam que as organizações
podem melhorar e inovar para alcançar os objetivos do scorecard
através da capacidade de lançar novos produtos, melhorar a
eficiência operacional e criar mais valor para os clientes. O objetivo da
perspectiva de aprendizado e crescimento é oferecer a infraestrutura
necessária para a realização dos objetivos planejados nas outras
perspectivas. “Trata da habilidade de inovar e melhorar a capacidade
da empresa, agregando valor, tanto interno quanto externo. É nessa
perspectiva que se trata da capacidade dos funcionários, sistemas
de informação, alinhamento de informações, motivação etc.” (SÃO
PAULO, 2017, p. 12).
• Perspectivas financeiras: a medição dentro desta perspectiva é
baseada em métricas financeiras, como retorno do investimento
e renda residual. Prieto et al. (2006, p. 83) enfatizam que nesta
perspectiva são definidas algumas variáveis como o “desempenho
financeiro esperado da estratégia e servem de meta principal para
a definição dos objetivos e medidas das outras perspectivas do
scorecard”. Está mais relacionada à obtenção de retorno sobre capital
investido. “No serviço público, os indicadores financeiros podem
operar no sentido de demonstrar as disponibilidades orçamentárias
e financeiras frente às necessidades de custeio e de investimentos
institucionais, auxiliando a priorizar projetos e iniciativas sob a ótica
de finanças, bem como a busca por recursos” (SÃO PAULO, 2017, p.
12).

139
Organização e gestão do trabalho social

FIGURA 14 – PERSPECTIVAS: BALANCED SCORECARD

FONTE: São Paulo (2017, p. 12)

Assim, além de tais parâmetros, o balanced scorecard traduz um conjunto de


conhecimentos, habilidades e sistemas que os empregados precisarão para inovar
e construir as capacidades estratégicas certas e eficientes (processos internos),
que entregarão valor específico ao mercado (clientes), os quais, eventualmente,
proporcionarão o aumento do valor ao acionista (financeiro). Tais conhecimentos
necessários serão descritos a seguir.

FIGURA 15 – GERENCIANDO A ESTRATÉGIA – QUATRO PROCESSOS

FONTE: Prieto et al. (2006, p. 83)

140
Capítulo 3 Planejamento, Organização E Gestão Do Trabalho Social

O processo de tradução da visão ajuda a construir um consenso em torno


da visão e da estratégia da organização. Os autores advertem que devem ser
evitadas declarações vagas, como “o melhor da classe”, pois o processo deve
conduzir a definição das medidas de desempenho. O resultado deste processo é
a tradução da estratégia em termos operacionais, ou seja, o desenho dos mapas
estratégicos, BSCs.

O processo de comunicação e ligação consiste em comunicar a estratégia


no sentido vertical e horizontal da estrutura, ligando os objetivos departamentais
aos individuais. Deve-se evitar que os objetivos individuais priorizem as metas
de curto prazo, alinhando-os à estratégia da organização. Este processo
também consiste em identificar os processos-chave e desenvolver medidas de
desempenho para estes processos.

O processo de planejamento do negócio consiste em alocar os recursos e


definir as prioridades de acordo com as metas estratégicas.

O processo de feedback e aprendizado visa dar à organização a capacidade


de aprendizado estratégico, ou seja, fazer da gestão estratégica um processo
contínuo. Com o BSC, uma organização pode monitorar seus resultados de curto
prazo nas quatro perspectivas, permitindo a modificação das estratégias em curso
e refletindo o aprendizado organizacional.

Esses quatro processos refletem uma sequência iterativa de ações. Para


chegar a um sistema gerencialmente estabilizado, talvez seja preciso cerca de
trinta meses, sendo que a organização pode percorrer esses quatro processos
duas ou três vezes (KAPLAN; NORTON, 1996).

1 No contexto de indicadores, estudamos sua importância para o


trabalho social. Para isso, evidenciamos algumas propriedades
desejáveis aos indicadores sociais. Quais são?
R.:____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

141
Organização e gestão do trabalho social

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Nesse capítulo, percebemos a relação do estado, governo e povo, sendo
sua responsabilidade a garantia de direitos sociais. A partir do que estudamos,
compreendemos a relação das políticas públicas sociais, que surgiram com o
desencadeamento de nosso atual estado capitalista, suas ações (programas e
projetos) decorrentes, para garantir tais ações na tentativa de minimizar as atuais
barreiras sociais que ainda são gritantes em nosso país.

Constatamos que para atender aos objetivos e metas planejados nos


níveis de políticas, programas, projetos e ações do trabalho social, é eminente
a necessidade de uma gestão eficiente e eficaz. Para isso, investigamos alguns
modelos e sua estrutura necessária para planejamento e gestão do trabalho
social, como o Planejamento Estratégico (níveis estratégico, tático e operacional),
o método de melhoria contínua PDCA (Pan – Do – Check – Action) e o Balanced
Scorecard (Indicadores Balanceados do Desempenho) e suas perspectivas
(sociedade, processos internos, financeiro, aprendizado e crescimento), em que
exemplificamos sua aplicação na gestão do trabalho social.

Além de tais modelos, compreendemos a importância da utilização de


indicadores que auxiliem na mensuração nas mais diversas situações de
nossa sociedade, tendo como base distintas perspectivas dos direitos sociais.
Identificamos sua classificação, tipologia, como são mensurados e exemplificamos
sua utilização. Abordamos sobre a contribuição dos indicadores para melhor
compreensão dos dados, informações, comparações e auxiliando nas tomadas de
decisões dos gestores.

Por fim, nesse capítulo, além de compreender o contexto de políticas públicas


sociais e suas ações e modelos, estudamos sobre as principais ferramentas de
gestão que podem ser aplicadas em tal cenário. A utilização desses métodos
contribui para um gerenciamento efetivo em todos os seus níveis, minimizando
desperdícios com o dinheiro público, além da garantia dos direitos sociais.

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