Aula - 03 FH
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Autor:
Jean Vilbert, Equipe Materiais
Carreiras Jurídicas
24 de Dezembro de 2021
CIÊNCIA POLÍTICA
Carreira Jurídica 2022 (Curso Regular) Formação Humanística - Prof. Jean Vilbert
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SUMÁRIO
1 Considerações Iniciais ................................................................................................. 4
2 Política ....................................................................................................................... 6
3 Pensamento Antigo: a resposta está nas virtudes ..................................................... 10
3.1 Confúcio .....................................................................................................................11
3.2 Platão .........................................................................................................................12
3.3 Aristóteles ..................................................................................................................15
3.4 Cícero .........................................................................................................................17
4 Era Medieval: na paz de Deus ................................................................................... 18
4.1 Santo Agostinho.........................................................................................................19
4.2 São Tomás de Aquino ................................................................................................20
4.3 Egídio Romano ...........................................................................................................22
4.4 Al-Farabi .....................................................................................................................24
4.5 Ibn Khaldun ................................................................................................................25
5 Absolutismo: quem é o estado? “O Estado sou EU”! ................................................ 29
5.1 Nicolau Maquiavel .....................................................................................................30
5.2 Thomas Hobbes .........................................................................................................36
5.3 John Locke .................................................................................................................39
5.4 Montesquieu .............................................................................................................44
6 Era das Revoluções: hora de mudar o mundo ........................................................... 51
6.1 Jean-Jacques Rousseau..............................................................................................55
6.2 Frédéric Bastiat ..........................................................................................................61
6.3 Edmund Burke ...........................................................................................................68
6.4 Jeremy Bentham ........................................................................................................72
6.5 Immanuel Kant ..........................................................................................................76
6.6 John Stuart Mill ..........................................................................................................79
7 Duelo de Ideologias: quem tem a razão? .................................................................. 86
7.1 Alexis Tocqueville ......................................................................................................87
7.2 Karl Marx....................................................................................................................91
7.3 Anarquistas ..............................................................................................................105
7.4 Georges Sorel...........................................................................................................115
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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Você já parou para pensar por que algumas nações (como os EUA, o Japão e a Inglaterra)
são ricas e outras (como o México, a África do Sul e o Brasil) são pobres? Claro que sim,
né?! Desde a escola falamos sobre o assunto, muitas vezes sendo levados a repetir, daí em
diante e durante toda a vida, uma série de achismos e soluções simplistas. Mas quer saber?
A resposta para o enigma está em uma palavra: POLÍTICA.
Daron Acemoglu (professor do MIT) e James Robinson (Professor de Harvard) se
debruçaram sobre o assunto, descendo às minúcias no livro “Por que as nações fracassam:
as origens do poder, da prosperidade e da pobreza”1. Segundo eles, classicamente, há três
teorias principais que buscam explicar o sucesso ou o fracasso das nações: geográfica,
cultural e cognitiva (sabedoria). Vejamos.
Pela teoria GEOGRÁFICA, não é por acaso que a maioria dos países pobres está na África,
América Central e Sul da Ásia, entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio, ao passo que as
nações ricas estão concentradas principalmente nas latitudes temperadas. Em suporte, o
grande pensador Montesquieu chegou a afirmar que o clima tropical tende a produzir
pessoas preguiçosas, que não trabalham duro e nem são inventivas; pior: acabam sendo
governadas por déspotas. Será mesmo? Então tamo pedido!
O problema é que a hipótese geográfica não consegue explicar as diferenças entre as
Coreias do Norte (pobre de marré deci) e do Sul (rica como os Lannisters), nem entre as
Alemanhas Oriental (comunista... não precisa dizer que era pobre, né?) e Ocidental (para
onde, surpreendentemente, as pessoas do paraíso comunista, antes da queda do Muro de
Berlim, tentavam desesperadamente fugir).
E nem é verdade que os trópicos sempre foram mais pobres: o Oriente Médio liderou a
revolução neolítica – as primeiras cidades de que se têm notícia se desenvolveram no que
hoje é o Iraque e o ferro foi fundido pela primeira vez na Turquia.
Por fim, fatores geográficos são inúteis não só para justificar a diferença entre as várias
partes do globo atualmente como para explicar por que nações como Japão e China
estagnaram por longos períodos e, de repente, passaram a crescer com vigor.
Passemos então à teoria CULTURAL. O sociólogo Max Weber foi um dos primeiros a afirmar
que os princípios e a ética revelados pela reforma protestante facilitaram o surgimento de
sociedades industrializadas no Europa Ocidental, o que logo se transformou em
prosperidade econômica.
1
Lido no original: Why nations fail: the origins of power, prosperity and poverty. New York: Crown Publishers, 2012. Há
edição em português disponível pela Editora Elsevier.
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É certo que a cultura impacta no modo de vida das pessoas e, por consequência, nos
resultados obtidos por uma nação ao longo do tempo. Mas seria isso suficiente para
explicar por que a inequidade entre os países persiste? Parece que não... Ademais, como
explicar que nações como a Argentina e o Chile tenham níveis de prosperidade bem
superiores a Peru e Bolívia (de mesma colonização espanhola)? Por último, a hipótese
cultural não consegue encontrar uma solução para o rápido crescimento dos Tigres
Asiáticos – a cultura, como é sabido, é de transformação lenta e gradual.
Resta a teoria COGNITIVA: as inequidades são explicadas na medida em que algumas
nações são governadas (agraciadas) por pessoas que sabem como levá-las à prosperidade –
é tudo uma questão de saber fazer a coisa certa (nos países pobres os políticos são
ignorantes). Será mesmo? Você acredita nisso?
Assim como fizemos com a teoria cultural, em partes, podemos até aceitar essa hipótese da
ignorância: um ou outro político até cai mesmo em discursos malucos aqui ou acolá (o
canto da sereia), como quando a maioria dos governos democráticos ocidentais (alguns até
com boas intenções) adotou o keynesianismo (teoria que defende o aumento dos gastos
públicos e a intervenção governamental em larga escala) e deu no que deu – os efeitos
estão aí hoje: Estados quebrados e comoção social.
Mas, no todo, é preciso considerar que há sempre uma oposição lógica e organizada contra
o crescimento econômico. “What??? Por que alguém seria contra o desenvolvimento da
própria nação?” Entendo sua indignação. Você deve estar se perguntando se não seria
esperado que cada cidadão, cada político e mesmo cada ditador fosse querer que a nação
se tornasse o mais rica quanto possível? Só posso responder: de jeito NENHUM!
O desenvolvimento geral da nação gera aquilo que o economista Joseph Schumpeter
chamou de criação destrutiva – a substituição do velho pelo novo; novos setores atraem
recursos e substituem os antigos; novos nichos empresariais tomam os negócios dos que
eram estabelecidos; novas tecnologias tornam as existentes obsoletas... no processo há
ganhadores e perdedores... e não só na arena econômica como também na política.
Tomemos como laboratório a Revolução Industrial no século XVIII. Até então, a maior fonte
de riqueza era a propriedade de terras, acompanhada pelos privilégios garantidos aos
nobres pelos monarcas. De repente, surgem as indústrias, as fábricas, o comércio, as
cidades... levando os recursos para longe do meio rural, reduzindo os alugueis das glebas,
aumentando o salário dos lavradores. As elites viram ainda seus privilégios erodirem com o
surgimento de uma nova classe de homens de negócio. Para piorar, seu poder foi desafiado
pela urbanização e pela emergência de uma classe média trabalhadora, dotada de uma
surpreendente consciência social. Ao final, a derrota dos aristocratas feudalistas foi
esmagadora, tanto na área econômica quanto na política.
Por isso, não é surpresa que os detentores do poder, em vez de buscarem instituições
econômicas inclusivas (que permitiriam e encorajariam um grande número de pessoas a
aplicar seus talentos e habilidades, na área que escolhessem, para gerar desenvolvimento
econômico), prefiram instituições econômicas extrativas (desenhadas para extrair a
riqueza, ainda que menor, de toda a sociedade e canalizar a uma pequena elite).
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O Reino do Congo é um bom exemplo disso. Visitantes Portugueses e Holandeses que por
lá passaram nos séculos XV e XVI se abismaram com a “miserável pobreza” que imperava.
Ainda assim, havia uma elite congolense muito rica, a ponto de, em seus castelos, cercar-se
de luxos, servos e escravos – com o passar dos tempos, passaram a comprar terras na
Bélgica. Em tal situação de extremo conforto, essa elite não iria animar-se a uma abertura
econômica, com os riscos inerentes, para tirar os OUTROS da miséria.
Deu para compreender? Muito longe de falta de conhecimento, é justamente o
conhecimento apurado, a capacidade de antever que os privilégios econômicos poderão
ser perdidos e que haverá perdedores políticos no processo, a responsável por frear o
crescimento econômico generalizado.
Isso nos leva a concluir que são as instituições (inclusivas ou extrativas) que influenciam o
comportamento e os incentivos na vida real, levando as nações ao sucesso ou ao
fracasso.
E, como visto, a imposição de instituições inclusivas (que levam ao sucesso) não é fácil, pois
sempre encontrará oposição nos que gozam de benefícios (manejam instituições extrativas
em benefício próprio). Há um esperado conflito entre as instituições e o que acontecerá
depende de qual pessoa ou grupo vencerá o jogo político, o que, por sua vez, depende da
distribuição política do poder na sociedade. Em suma, as instituições políticas são
determinantes para o resultado do jogo.
Países como os EUA e a Inglaterra são ricos porque seus cidadãos conseguiram vencer o
jogo político (bater, mesmo que parcialmente, as elites) e criar uma sociedade em que o
poder político é distribuído de forma (mais ou menos) ampla e na qual a grande maioria
das pessoas pode tirar vantagem das oportunidades econômicas.
Em miúdos, a política é a chave da prosperidade ou do fracasso das nações.
Está vendo o quão importante é falar sobre política?
Dito isso (demonstrada para além de qualquer dúvida a relevância do tema), agora
podemos falar especificamente sobre política.
2 POLÍTICA
A palavra política tem sua origem no termo grego polis (cidade-estado grega) ou politikos
(coisas da polis).
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Ano: 2009 Banca: ESAF Órgão: MPOG Prova: ESAF - 2009 - MPOG - Especialista
em Políticas Públicas e Gestão Governamental) O termo Política diz respeito ao
funcionamento do Estado e ao exercício do poder. Quanto à sua origem, está correto
afirmar que:
a) foi criado por Maquiavel.
b) tem sua origem na Revolução Francesa.
c) deriva da palavra grega polis.
d) surgiu com a formação dos partidos políticos.
e) resultou das disputas dinásticas na antiguidade.
Comentários
O termo política é derivado do grego antigo e se refere a todos os procedimentos
relativos à polis, ou à cidade-estado. Assim, pode se referir tanto ao Estado, quanto à
sociedade, à comunidade e definições que se refiram à vida humana.
Logo, a assertiva C está correta.
(Ano: 2014 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: MPE-BA Prova: INSTITUTO AOCP - 2014
- MPE-BA - Assistente Técnico – Administrativo - ADAPTADA) Quanto ao Estado, à
Política e à Cidadania. Julgue o item seguinte:
A política relaciona-se com a cidade, com o cidadão e os modos de organização do
espaço público e do convívio social.
Comentários
Apenas reforçando o que vimos acima!
Por conta disso, o item está CORRETO.
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quando. Não demorará a aparecerem discursos, teses, defesas para indicar qual a divisão
justa dos melhores cocos... logo teremos direito, economia e POLÍTICA, que nada mais é do
que a atividade na qual os homens deliberam as regras que regerão sua convivência e os
objetivos que buscarão coletivamente.
Segundo Max Weber, a análise política deve ser realizada pela sua
característica principal (meio ou instrumento), isto é, pelo uso da
força (coação) para imposição da vontade. A política não é o
instrumento para a busca de uma finalidade específica (virtudes),
mas o meio coativo para o alcance de uma finalidade variável.
A finalidade seria variável de acordo com as condições vivenciadas.
Exemplo: em tempos de paz interna, a finalidade poderia ser o bem-
estar de maioria; em tempos de guerra, a finalidade é a vitória; em
tempos de opressão por um poder despótico, a finalidade é a
conquista de direitos; em tempos de dependência de uma potência
estrangeira, a finalidade é a independência. Essa escola remove o juízo teleológico da
política (neutralidade axiológica e relatividade dos valores).
Noberto Bobbio, porém, entende que é possível observar um “fim mínimo” da política: a
ordem pública nas relações internas e a integridade nacional na ordem externa entre os
Estados (soberania).
A política também pode ser definida como a arte de transformar tendências sociais em
normas jurídicas (Herman Heller). Sendo assim, é pela política que decidimos as estruturas
sociais e econômicas que organizarão toda a vida em sociedade (matéria mais sensível e
2
Johannes Althusius.
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Como fica fácil perceber: (1) política (em sentido amplo) não
se confunde com política partidária (o partido político é uma
agremiação civil, reunião de pessoas com interesses afins,
que busca participar do processo político), sendo
plenamente possível discutir política sem sequer passar
perto de partidarismos; (2) a política e o direito estão
intimamente ligados. Os debates políticos findam na
positivação de normas jurídicas que estabelecem regras de
convivência obrigatória a todos. Ignorar a política é fechar os olhos à fonte do direito e
deixar de participar justamente da construção do modelo que determinará a sociedade.
Não é à toa que Charles de Gaulle afirmava: “a política é uma questão muito séria para ser
deixada para os políticos”.
(Ano: 2017 Banca: CESPE Órgão: DPU Prova: CESPE - 2017 - DPU - Defensor
Público Federal) Em relação ao conceito de ciência política e à legitimidade do
poder político, julgue o item a seguir.
De forma geral, define-se ciência política como toda interpretação de fenômenos
políticos fundada na observação dos fatos e na argumentação racional, em oposição
às afirmações derivadas do senso comum.
Comentários
Moleza, não é? Aqui noix faiz política de maneira racional!
O item está CORRETO.
Está dipost@ a aprender mais sobre política? Sim? Eu já imaginava! Vamos então fazer uma
agradável viagem, de conversível (com vento no rosto), passando pelas ideias de alguns dos
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É muito difícil falar em origem do pensamento político. Por um lado, quando é que o
homem não discutiu política? Falamos sobre ela desde SEMPRE. Por outro viés, parece
pouco provável que os egípcios (uma das primeiras civilizações) fossem ficar discutindo
racionalmente a organização social (o Faraó era um deus vivo e ponto final).
Bem, não vamos já (de saída) entrar de polêmica. Melhor seguir pela linha ordinária e ligar
o início das discussões políticas ao surgimento da Filosofia, há cerca de 2500 anos, na
Grécia Antiga. Passaremos, então, pelos pré-socráticos, por Sócrates, Platão, Aristóteles e
terminaremos no Helenismo, que se estendeu até pelo menos o século II depois da era
cristã.
Teríamos, só aqui, material suficiente para escrever muitos livros. Mas fique CALM@! Não
farei isso. Fui bem seletivo ao escolher os pensadores que ainda têm impacto prático em
nossas vidas (inclusive ao cair em provas rsrsrs) e cujas ideias estão intimamente
relacionadas à política (a Filosofia ficará mais para frente).
3
Note que NÃO adotamos um rigor cronológico inflexível. Há aglutinações e alteração na ordem de apresentação dos
autores para fins de melhor entendimento dos grupos de discussão (prevalência do aspecto material sobre o histórico).
Trata-se de esforço para potencializar a sua COMPREENSÃO – no fim, é isso que importa, não é verdade?
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3.1 CONFÚCIO
Você já ouviu a frase: “um exemplo vale mais do que mil palavras”? Pois, em miúdos, é
justamente isso que Kong Fuzi (Mestre Kong) pregava.
A proposta de Confúcio era de que o líder fosse um homem superior, uma vez que as
pessoas mudam pelo exemplo sincero. Assim, o governo tem por obrigação pautar-se por
princípios tradicionais (bondade, virtude, fé, sinceridade), o que invariavelmente levaria o
povo a ser bom e a nação à prosperidade. Nesse sistema, os funcionários públicos, como
não poderia deixar de ser, devem ser escolhidos pelos méritos pessoais (concurso público).
O certo é que Confúcio estava à frente do seu tempo (literalmente rsrsrs). Explico: ao
tempo em que viveu, enquanto tentava pregar meritocracia e governo pelo exemplo
(bondade), o pau comia solto: os reinos estavam sendo unificados pelo Imperador e, sem
maiores surpresas, o confucionismo era considerado mole demais para o contexto então
experimentado (que demandava autoritarismo e pragmatismo). Muito depois da morte do
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pensador, no século II a.C., a paz voltou à China e o confucionismo foi adotado como
filosofia oficial de Estado pela dinastia Han.
3.2 PLATÃO
Desde os tempos imemoriais, o homem é dado a utopias: modelos que não existem no
presente, que podem ou não existir no futuro, mas que seriam perfeitos, maravilhosos.
Platão (um dos maiores filósofos da história) foi um dos primeiros (que se tem notícia), a
entrar na brincadeira: em sua obra-prima, “A república”, ele descreveu como seria uma
cidade-estado ideal.
Você já imaginou a raiva que passou a família do Platão quando este encontrou Sócrates
(que o tirou do caminho “certo”)? Talvez tenha sido justamente esse encontro que
permitiu a Aristócles (futuro Platão) marcar seu nome (apelido) na História. Quem diria?!
E qual seria esse modelo ideal que tornou Platão tão famoso? Lembre-se que não é apenas
“esse modelo”, pois as contribuições do filósofo grego se estendem a outras áreas fora da
política (não trabalhadas aqui – apenas para citar uma: a teoria das formas).
Pois bem. Platão, seguindo em boa medida o que ensinava seu mestre (Sócrates), entendia
que o objetivo das pessoas deveria ser ter uma vida digna (eudaimonia), o que significa não
prazer, dinheiro, fama, mas virtude: sabedoria, piedade e, principalmente, justiça. Essa
constatação é a base teórica de um sem número de teorias que seriam construídas depois
por pensadores de renome (Aristóteles, Santo Agostinho, Al-Farabi, São Thomas de
Aquino...).
O problema é que os governantes tendem a agir conforme seus próprios interesses e, para
isso, compram o povo com a oferta de prazeres transitórios (normalmente glória e
riqueza). As verdadeiras virtudes ficam completamente esquecidas. Por isso a infelicidade é
geral. Alguma semelhança com a realidade que vivemos?
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Há, porém, um modo de resolver essa balbúrdia (moral) e guiar o povo para a boa vida;
existem alguns sujeitos que entendem o real significado de viver bem: os filósofos e, por
isso, eles é que devem governar.
Como Platão tinha consciência de que seria difícil para os filósofos se tornarem reis,
propunha que se educasse os reis para que se tornassem filósofos. Ele chegou a arquitetar
que uma classe governamental fosse criada. Para tanto, as crianças com potencial
intelectual (para governar) deveriam ser retiradas de suas famílias (sequestradas) e
levadas para comunas especiais. Já pensou???
Esses reis-filósofos, que Platão chamava de GUARDIÕES, teriam de ser incorruptíveis. Para
isso, além da educação, eles não teriam direito a guardar propriedades (“não colocarão
suas mãos em ouro ou prata”), devendo receber um salário que lhes garantisse nada além
da subsistência.
Aliás, Platão NÃO era lá o maior fã da propriedade privada. Em seu pensamento, as terras
tinham origem coletiva, devendo ser distribuídas pela sociedade dentro de um modelo
matemático, em que cada cidadão receberia uma fração. Dessa forma, a polis (cidade)
deveria ter 5.040 habitantes (número divisível pelos números de 1 a 10), entre os quais o
território seria repartido.
Um ponto digno de nota em Platão (há mais de um rsrsrs) é que, apesar da fama em vida,
manteve a humildade, a capacidade de parar, pensar, admitir erros e reformular suas
teorias (raro, não?).
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Inicialmente, ele considerava a lei uma violência contra a natureza (uma injustiça) – o
verdadeiro direito seria aquele inscrito na natureza (direito natural) do mais forte sobre os
mais fracos. A suposta lei democrática da polis, ao instituir a igualdade quando os seres
humanos são por natureza desiguais, representava um artifício utilizado pelos mais fracos
contra os mais fortes. O exquema era simples: as classes sociais deviam ser condicionadas
pela educação, de modo a se adequarem às suas respectivas funções (cada um na sua).
Sequer seria necessário limitar o poder do filósofo-rei (governante perfeito).
Ocorre que, após perceber que nem os filósofos chegavam ao governo, nem os tiranos
tinham a mínima disposição para a filosofia, nosso “amigo da sabedoria” revisou seu
entendimento e passou a considerar as leis como imprescindíveis para a constituição das
sociedades humanas (realismo).
As ideias platônicas foram muito influentes no Mundo Antigo (em especial no Império
Romano) e em parte da Era Medieval, ao serem incorporadas por Santo Agostinho. Na
Modernidade, acabaram ofuscadas por Aristóteles, que defendia uma democracia mais
semelhante à pretendida pelos renascentistas. Atualmente, muitos consideram que suas
noções políticas são autoritárias e elitistas, além de um tanto paternalistas – governo de
poucos (intelectualmente hábeis) a dizer o que é bom para todos.
É preciso lembrar, todavia, que os escritos de Platão eram revolucionários para a época,
pois praticamente mandavam os reis estudar e se preocuparem com as virtudes,
justamente em um mundo no qual a fama e a fortuna ditavam as regras e os reis eram os
“sabe-tudo”. Além disso, estamos falando de alguém cujo mestre acabara de ser
condenado à morte por questionar as regras da sociedade ateniense (aceitando o destino
que lhe fora imposto injustamente, Sócrates bebeu cicuta em 399 a.C.).
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3.3 ARISTÓTELES
O homem é destinado naturalmente a viver na polis, que lhe é tão natural quanto o
formigueiro é para a formiga – é inconcebível que o homem viva de outro modo. É isso:
para Aristóteles, o homem é um animal político (zoon politikon - realismo empírico).
Nas palavras do mestre: “abandonado a si mesmo não sai do puro reino animal, não se
eleva acima da pura animalidade. A verdadeira artífice criadora do homem, no significado
espiritual da palavra, naquilo que o homem tem de mais próprio e de mais característico, é
a polis. [...] Por isso, fora das comunidades políticas, não encontramos homens, mas
apenas animais selvagens, guiados pelos instintos naturais”.
Assim como Platão, Aristóteles acreditava que o propósito do homem é viver uma vida
digna (virtuosa) – a finalidade social imperativa é capacitar o homem a viver de acordo com
as virtudes (o que diferencia o homem dos outros animais, além da linguagem, é
justamente a capacidade racional, que o permite escolher o bom em detrimento do mau).
Em sua obra mais famosa, “Ética a Nicômaco”, Aristóteles classifica as formas de governo
por meio de duas questões fundamentais: (1) Quem governa? (2) A favor de quem se
governa? A simplicidade genial do raciocínio permite que as respostas elucidem os sistemas
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de governo adotados até hoje: (1) uma única pessoa, poucos ou muitos; (2) no interesse
próprio, no interesse de poucos (classe dominante) ou para toda a população. Com base
nisso (que coisa espetacular... fico pasmo), o filósofo categorizou seis espécies de governo,
organizadas em pares.
Governo de uma
- Governo de POUCOS Governo de MUITOS
ÚNICA pessoa
Governo
Monarquia Aristocracia Politeia
VERDADEIRO
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Apesar de categorizar a democracia como um regime falho, Aristóteles reconhece que ele
só perde para a politeia (ainda seria melhor que a “boa” monarquia ou aristocracia). No
geral, os muitos governando serão melhores do que os poucos ou o único.
Não é preciso mais palavras para justificar o porquê de Aristóteles ser um dos pensadores
mais influentes da história (isso porque você não viu ainda o modelo de justiça por ele
criado – veremos no encontro de Filosofia). O cara era foda!!! Com o perdão do termo.
3.4 CÍCERO
Cícero não foi o inventor da República Romana, fundada em 510 a.C., mas sim um
destacado defensor, que se utilizou de sua retórica impecável para advogá-la como forma
ideal de governo (garantia de estabilidade e prevenção às tiranias) – buscou
desesperadamente demonstrar que não era à toa que o modelo tinha funcionado (muito
bem, obrigado) por quase meio milênio.
Gerida pela constituição MISTA, a República Romana reunia elementos de três diferentes
regimes: (a) monarquia (substituída pelos Cônsules); (b) aristocracia (representada no
Senado, composto por cidadãos capacitados moral e intelectualmente); e (c) democracia
(Assembleia Popular). A ideia era (e parecia funcionar) que essas esferas de poder se
equilibrassem entre si (mais ou menos como a atual tripartição das funções estatais). Os
Cônsules funcionavam como chefes do Poder Executivo (equivalentes a um Presidente da
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Não adiantou e as previsões se confirmaram: em 48 a.C., Júlio Cesar recebeu poderes sem
precedentes e sua ditatura pôs fim à República Romana. Após sua morte, Otaviano foi
proclamado Augusto, o primeiro Imperador romano4. Depois dele vieram muitos outros
governos tirânicos até que, ao final, o Império se esfacelou.
4
O seriado da HBO, “Roma”, retrata esse período. É sensacional.
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Muito embora esse período seja muitas vezes chamado de “Idades das Trevas”, a “noite
negra” da história da Humanidade (há quem diga, de outro lado, que esta é mais uma
daquelas mentiras que, contadas mil vezes, viram verdades), é nele que surgem as
universidades e os centros de ensino – o conhecimento é protegido, organizado e
retransmitido de forma sistemática. Há vozes inflamadas que perguntam: “se se vivia uma
escuridão acachapante, de onde é que brotou todo o conhecimento manejado no
Renascimento?”. Ao que parece, se a Idade Média não foi lá a idade das luzes (resguardada
ao Iluminismo da Idade Moderna), também não foi tão sombria assim.
Em 380 o cristianismo foi declarado religião oficial do Império Romano. A partir de então,
as relações entre Estado e religião passaram a ser coisa séria. Um dos primeiros filósofos a
abordar a questão foi Santo Agostinho.
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1
Se não houver adequação entre a lei humana e a lei divina, teremos meras regras injustas
(que levam à perdição). E é preciso lembrar que ladrões e piratas também têm regras (nem
que seja roubar o próximo). Logo, se a injustiça das regras não faz diferença, o que são os
governos senão um bando de ladrões? Essa é a pergunta que devem responder os
positivistas
As adaptações das ideias gregas aos preceitos do cristianismo não findaram em Santo
Agostinho. Séculos mais tarde, Tomás de Aquino trilhou caminho semelhante ao capitanear
a escolástica (racionalização do cristianismo, com ênfase na dialética como forma de
adquirir conhecimento). Bora conferir.
Aquino tomou como base inicial de seus estudos a obra de Santo Agostinho, que havia
integrado com sucesso ao cristianismo a noção grega de que o propósito do Estado é o de
promover a vida digna (virtuosa). O Estado tem o dever de realizar o bem comum – caso
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não tenha esse firme intento, não pode ser considerado como uma forma justa de
organização do poder político.
Também defendeu que a noção de justiça é o elemento central da governança: o que
distingue um bom governo de um mau governo (e lhe dá legitimidade) é a produção de leis
justas. E o que é uma lei justa?
A lei natural (código moral) define o certo e o errado; a lei humana fixa os castigos e sua
aplicação.
(1) Lei ETERNA = vinda diretamente de Deus para reger o Universo; (2) Lei NATURAL =
tradução da lei divina para a linguagem dos homens (por meio do dom da razão),
estabelecendo o código moral e ético (certo e errado, justo e injusto); (3) Lei HUMANA
(positiva) = lei criada pelo homem para governar questões cotidianas e viabilizar o
funcionamento das comunidades (regulamenta a lei natural).
Para Aquino, o papel do Estado na promoção da vida digna está na capacitação dos
cidadãos à razão, de maneira que possam se apropriar da lei divina e, assim, desenvolver o
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senso moral e ético (lei natural), o que os guiará a viver bem. Quanto às leis humanas,
essas são tão falíveis como os homens que a criaram, podendo levar a injustiças – a
justeza das leis humanas deve ser medida pela adequação à lei natural e pelo interesse que
atendem (devem ser pensadas conforme o interesse do povo, não dos governantes – aí é
difícil, viu!).
Por fim, quem é que deve governar? Alinhando-se a Platão, Aquino não acreditava na
capacidade da maioria (as pessoas em geral não possuem o poder racional e a moralidade
necessários para gerir o governo). Assim, o governo não deve estar nas mãos do povo, mas
de um monarca ou de uma aristocracia (os quais devem ser justos - virtuosos). Ciente da
possibilidade de que o governante se corrompesse, como medida de controle ele propõe
uma forma de constituição mista (como a presente na República Romana, lembra-se?).
Novecentos anos depois, as ideias do teólogo italiano podem parecer um tanto
retrógradas, mas na época desafiavam vários preceitos impostos pelo catolicismo
9
tradicional e ainda serviram para acalentar o debate sobre a necessidade de uma legislação
secular em meio às cisões entre Estado e Igreja ocorridas nos países europeus – tem
estudante/pensador por aí (ohhh se tem...) que adora criticar os autores clássicos, mas o
faz seguindo rigidamente os paradigmas, sem trazer uma linha de inovação contra
establishment. Não seja desses
Egídio adotou a concepção aristotélica de “animal político” como sendo aquele que vive na
polis (em comunidade com seus semelhantes) e fez coro às vozes que pregam que o
objetivo da sociedade é levar os cidadãos à vida digna – como dá para notar, essa era uma
constante na Antiguidade e na Idade Média (essa noção só vai se quebrar com Maquiavel).
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Analisando hoje as ideias de Egídio, em cotejo com autores que lhe sucederam, temos uma
visão ampla do fenômeno político-jurídico, com reflexos práticos importantes. Para
entendê-los, temos de complicar um pouco!
A noção de que aqueles que estão foram da proteção e do cumprimento das leis ficam
excluídos da sociedade civil leva à possibilidade (ou necessidade) de releitura da
mitologema hobbesiana (que estudamos em Teoria Geral do Estado) sob uma nova luz: o
homo homini lupus (homem como lobo do homem) não alude somente a uma condição
pré-jurídica (estado de natureza) totalmente indiferente ao direito da polis, mas à vida fora
da sociedade com a não sujeição à ordem jurídico-política5.
A lembrar que Hobbes afirmava que no estado de natureza “nada pode ser injusto. As
noções de certo e de errado, de justiça e injustiça, não podem aí ter lugar”6. Logo, quem
está nesse estado pode fazer simplesmente o que quiser. É mais ou menos o que pensam
alguns criminosos convictos: "tô nem aí pras leis: eu vendo dorgas, eu furto, eu assalto, eu
pico eu mato". Volte e meia sou testemunha ocular disso. Como juiz, quantas vezes já vi
5
AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte: UFMG, 2002, p. 112.
6
HOBBES. Idem, p. 77.
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(em audiência), sujeito com tatuagem “só Deus pode me julgar” (na cabeça do abençoado,
a lei dos homens não se aplica a ele).
É com base nessa argumentação que Günther Jakobs propõe a teoria do “direito penal do
inimigo”7, referindo-se aos agentes que, por não se submeterem (aceitarem) as normas da
sociedade, deveriam receber tratamento jurídico diverso (estariam voluntariamente se
colocando fora da sociedade) – seria o caso do terrorista, que vê uma injustiça ou
imoralidade inaceitável no modelo social adotado e busca alterá-lo por meio de atos
capitais que afrontam profundamente a ordem jurídica posta.
E você realmente achou que esses autores antigos não servem de base para provocar as
mais acaloradas discussões modernas?? Errouuu!!! Claro que é fácil caricaturizar (como se
faz com Jakobs no Brasil) e deixar de discutir as questões profundamente. Mas se o
objetivo é, efetivamente, saber das coisas, o negócio é escavar para baixo da linha da
superficialidade.
e
4.4 AL-FARABI
7
Jakobs propõe a distinção entre um direito penal do cidadão (Bürgerstrafrecht), com plena vigência das normas
ordinárias, e um direito penal para os inimigos (Feindstrafrecht), orientado à excecionalidade (o necessário à proteção
da sociedade).
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Mas o povo
NÃO entende
O Estado que a O povo
ideal assegura felicidade vem
da virtude O povo RECUSA o
que o povo Para isso,
viva de modo temos de ter
prefere a governo dos
riqueza e os
virtuoso governantes prazeres virtuosos
virtuosos baixos
As investigações de Abu Zaide Abdal Ramane ibne Maomé ibne Caldune Alhadrami (eita
nome kkkk) têm enfoque bastante diverso (em relação a outros pensadores do seu tempo),
pautando-se em elementos históricos, sociológicos e econômicos para explicar a ascensão
e queda das instituições políticas. É considerando, por muitos, pai das Ciências Sociais –
antecipou elementos da Filosofia da História, da Sociologia e da Economia séculos antes de
essas disciplinas serem fundadas no Ocidente.
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Entre tantos méritos, o antropólogo britânico Ernest Gellner apontou Ibn Khaldun como o
responsável pela melhor definição de governo da história da teoria política:
Mas ora, o governo não é formado para guiar os cidadãos à vida digna (como vimos
repetidamente)? Como é que o governo chega ao ponto de ser fonte de injustiças? Fácil!
Lembram-se que São Tomás de Aquino media a justeza das leis humanas pela régua do
interesse que atendiam (deveriam ser pensadas conforme o interesse do povo, não dos
governantes)? É isso!
Ibn Khaldun aponta que todo governo, qualquer que seja a sua forma, contém dentro de si
as sementes da sua própria corrupção: o poder. Conforme o poder dos governantes sobre a
vida das pessoas aumenta, eles tornam-se menos preocupados com o bem-estar dos
cidadãos e mais preocupados em atender (com ações governamentais) a seus próprios
interesses – ao invés de impedir injustiças, o governo passa a cometê-las. Como diria
Thomas Paine: “quando nos planejamos para a posteridade, devemos nos lembrar de que a
virtude não é hereditária”. No mesmo sentido o economista americano Murray Rothbard:
Uma questão interessante é que o teórico entende que a solidariedade de grupo (ele utiliza
o termo árabe asabiyyah) é a base da sociedade, responsável por gerar uma unidade
política (coesão social) que nos une desde as tribos mais remotas até a complexa
organização estatal. Se os governantes voltarem seus olhos para esse espírito coletivo,
suas decisões serão capazes de prevenir injustiças. Acontece que os produtores de injustiça
atuam precisamente no intuito de deprimir esse elemento.
8
ROTHBARD, Murray Newton. The ethics of liberty. Nova York: New York University Press, 1998, p. 176.
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Os
governantes O goveno evita
O espírito passam a a injustiça,
comunitário é a explorar os
Com o cidadãos menos a que
BASE do avanço da ELE MESMO
governo sociedade,
esse espírito
comete
desaparece
Vai me dizer que você nunca teve a impressão de que é intento voluntário de alguns (ou de
muitos) gerar desunião social? As teorias que propagam a luta social sabem bem como isso
funciona – jogar uns contra os outros, desagregar a sociedade, separá-la em classes, raças,
extinguir as perspectivas de convivência pacífica, criar conflitos... Já estamos acostumados
a essas táticas e elas nem nos chocam mais (virou modelo político ordinário e até mesmo
parte do ideário do politicamente correto).
Outra estratégia (mais dissimulada) é a publicização: além de alargar os poderes dos
governantes, com a assunção de um grande número de tarefas pelo poder público 9,
esmaga-se o espírito voluntário das massas. Percebe?
Eu, por exemplo, cresci em Chapecó, uma cidade de porte médio em Santa Catarina. Lá, até
a década de 1970, o Estado quase não chegava. Foram os moradores que se reuniram e
abriram estradas, construíram o clube recreativo, a igreja, escolas, o hospital… Esse modelo
de organização comunitária é um perigo para o governo (mostra que as pessoas podem
atuar sem uma força motriz centralizada). Não sem razão, o Estado moderno atua
infatigavelmente para tomar todos os espaços (mostrar-se necessário em todas as áreas).
9
“Todo avanço do Estado se realiza em tempos de miséria pública; necessidade de proteção do indivíduo, de defesa
para a comunidade. Em suma, as forças de expansão do Estado estão sempre em atividade. [...] Em certos momentos
ela se abate e o Estado dá um grande passo, e não se pode mais em seguida fazê-lo recuar, pois toda função uma vez
exercida pelo estado se junta a seu repertório mágico” (FEDER. Idem, p. 156).
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10
O poder público moderno coloca essencialmente como instância de confisco, mecanismo de subtração, exercendo,
com amparo legal, o direito de se apropriar de uma parte das riquezas, em uma extorsão dos produtos, bens, serviços,
trabalho e sangue dos súditos. O poder, nesse aspecto, é, antes de tudo, o direito de apreensão das coisas, do tempo,
dos corpos, culminando, finalmente, no direito de se apoderar da própria vida (FOUCAULT, Michel. História da
sexualidade I: a vontade de saber. 13. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988, p. 128).
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A conclusão de Khaldun é que a organização estatal é tão natural quanto a injustiça a ela
inerente. É normal e esperado que o homem, em sociedade, vá criar uma força
organizacional para uniformizar os agires. Por outro lado, que ideia mais maluca essa de
controle de uns homens por outros.
Você já parou para pensar por que cargas d’água devemos admitir o largo controle sobre
nossas vidas pelos governantes? Veja o caso do Brasil: 200 milhões de habitantes. E lá no
topo está Renan Calheiros, um sujeito que tem poderes há tanto tempo... OK. Ele foi eleito
para sucessivas legislaturas... Mas não parece surreal que tenhamos de nos submeter ao
controle (quase totalitário) de nossas vidas por homens de reputação tão questionável?12
É por isso que, visionário como foi (deixei transparecer que gosto muito das ideias do
cara?), Ibn Khaldun assenta: o poder governamental deve ser mantido no mínimo!
11
Christina Romer, Professora de Economia da Universidade da Califórnia (Berkeley) e ex-presidente do Conselho de
Assessores Econômicos da administração Obama estimou o ponto de máximo da Curva de Laffer em 33% de
tributação.
12
“Nunca se encontrou o meio de os governantes serem de moralidade notavelmente superior à média do povo. São
egoístas e orgulhosos como os outros, ou mais precisamente, tão egoístas quanto os outros e mais orgulhosos.
Orgulhosos, julgam que o que decidem é necessariamente o bem e creem que o maior interesse da comunidade é o de
os ter como chefes. Egoístas, servem-se a si próprios sob o pretexto de servir ao bem público” (Leclercq apud FÉDER,
João. Estado sem poder. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 97).
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inicialmente prevalente de que o poder humano (estatal) advinha do divino (os reis são
representantes de Deus na Terra) começa a ser questionada. Os filósofos racionalistas e
iluministas passam a encontrar fundamentos racionais para o poder.
É essa visão que conduzirá as discussões que estudaremos agora, sem demora.
“Jean, por que é que você está falando de séries? Eu fujo delas como o diabo foge da cruz
porque preciso estudar e você fica me tentando?” Desculpe-me, é que o exemplo é
perfeito: em algumas situações, o príncipe precisará tomar decisões muito difíceis
(terríveis, cruéis... até mesmo derramar o sangue de aliados) para manter o poder
(pensando, teoricamente, em um bem maior – no caso da série, marchar até o Sul,
conquistar a independência do Norte e vingar o assassinato de Ned Stark). O pensador
italiano Niccolò di Bernardo dei Machiavelli, para nós Nicolau Maquiavel, retratou essas
relações como ninguém, imortalizadas na frase: “ao julgar ações políticas devemos
considerar os resultados por elas alcançados, e não os meios pelas quais foram
executadas”.
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A constatação é que os governantes não são julgados por sua ideologia ou moralidade,
sequer pelas ações que tomam, mas sim pelas consequências de suas ações. Em tempos de
absolutismo, não há tribunal a que se possa recorrer contra as ações dos governantes – o
que importa é a finalidade pretendida e o resultado alcançado.
O BEM-ESTAR do
... que deve manejar
O que importa não é a Os FINS
Estado é moralidade da ação,
responsabildiade
todos os meios
mas o RESULTADO justificam os
necessários para tanto
do governante... alcançado MEIOS
Se tiver de
escolher, Mas deve
O governante
melhor ser evitar ser
deve buscar ser TEMIDO ODIADO (para
AMADO e
distanciar-se de
TEMIDO
revoltas)
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(Ano: 2018 Banca: IBFC Órgão: SEPLAG-SE Prova: IBFC - 2018 - SEPLAG-SE -
Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental) “(...) Aquele que quer
governar a multidão, sob uma forma republicana ou monárquica, deve saber com
certeza quais os que são inimigos da nova ordem. Sem isso o governo terá uma
existência efêmera. (...) Tendo a multidão por inimiga, são obrigados, para afirmar seu
poder, a empregar meios extraordinários. De fato, aquele que tem número reduzido
de inimigos pode saber com certeza o seu número sem grande trabalho ou esforço,
enquanto que aquele que é objeto do ódio geral nunca tem certeza de nada, e, tanto
mais se mostra cruel, tanto mais enfraquece seu próprio poder.” Assinale a alternativa
correta, respectivamente quanto ao autor e a sua obra.
a) Max Weber, Ciência e Política, duas vocações
b) August Comte, Apelo aos Conservadores
c) Émile Durkheim, As Formas Elementares da Vida Religiosa
d) Nicolau Maquiavel, O Príncipe
Comentários
Fácil, não é?! Maquiavel! O príncipe deve ter muito cuidado para ser temido, mas não
odiado.
A assertiva correta é a D.
(Ano: 2017 Banca: IFB Órgão: IFB Prova: IFB - 2017 - IFB - Professor) A Filosofia
Política quando discutida com os estudantes é de grande valia para desenvolver o
espírito de cidadania. Um clássico desta discussão é a obra “O Príncipe” de Maquiavel
[...]. No Capítulo VIII o filósofo trata “Dos que chegaram ao principado pelos crimes”.
Segundo o pensamento do autor qual das afirmações abaixo está CORRETA em
relação ao tema em tela?
a) Ao conquistar um Estado, precisa o conquistador ter em mente o mal que terá que
executar continuamente, embora tenha que parecer bom.
b) Um príncipe deve, sobretudo, viver com os súditos, de modo que nenhum fato,
bom ou mau, o faça mudar, pois, chegando a adversidade, não haverá tempo para o
mal.
c) O príncipe deve conquistar os homens com vantagens dadas de uma só vez, pois o
bem que fizer irá favorecê-lo, de modo que todos lhe serão gratos.
d) Se bem usadas, as crueldades, que no princípio do governo podem ir aumentando
paulatinamente, poderão com o tempo ir se extinguindo até desaparecer totalmente.
e) O príncipe deve estar sempre pronto a praticar ofensas, pois a confiança em seus
súditos poderá ser sua ruína.
Comentários
Vamos ler o trecho de “O Príncipe” que resolve nossa questão: “ao apoderar-se de
um Estado, o conquistador tem de determinar as ofensas, que precisa executar, e
fazê-las todas de uma vez para não ter que repeti-las todos os dias. Assim, poderá
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(Ano: 2017 Banca: FADESP Órgão: COSANPA Prova: FADESP - 2017 - COSANPA
– Sociólogo) Para Nicolau Maquiavel, o príncipe deve, para se manter no poder
a) usar só da força.
b) ficar ocioso nos tempos de paz.
c) desconsiderar as ações dos grandes homens.
d) incorporar a arte da guerra, tanto do ponto de vista do pensamento quanto da
ação, mesmo no momento de paz.
Comentários:
ALTERNATIVA A = se usar a força o tempo todo será odiado e aí já viu né...
ALTERNATIVA B = claro... esperando (marcando bobeira) para ser derrubado, morto,
decapitado...
ALTERNATIVA C = um bom príncipe é aquele que não desconsiderada nada
(quanto negação em uma única frase). O príncipe deve estar sempre de olhos abertos
a tudo, saber de tudo, tomar providências quanto a tudo!
ALTERNATIVA D = “Deve o príncipe, portanto, não ter outra finalidade nem outro
pensamento, nem qualquer outra atividade como prática, senão a guerra, seu
regulamento e disciplina, pois essa é a única arte que se atribui a quem comanda [...].
Não deve, portanto, o príncipe deixar de se preocupar com a arte da guerra e praticá-
la na paz”
Assim, a assertiva D está correta.
Ao tratar a política dessa forma (em termos realistas), apartando-a da filosofia moral ou
ética, Maquiavel acabou por fundar a Ciência Política moderna (assim é reconhecido). À
ciência polícia antiga ficou a característica de ser altamente moralista – apenas para citar
alguns nomes, temos Confúcio, Platão e Aristóteles, sendo que os dois últimos
influenciaram Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, todos eles preocupados em
esboçar governantes virtuosos, que serviriam de exemplo e ajudariam os cidadãos a atingir
uma vida virtuosa.
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Quem merece menção honrosa aqui é Cautília ou Kautilya (c. 370 a.C. -
283 a.C.), filósofo que viveu no império Indiano do século IV a.C. e que,
em sua obra mais notória, Arthashastra Neetishastra, também retratou a
atuação estatal de modo amoral e prático: o bem-estar e a segurança do
Estado justificam o uso de quaisquer meios necessários – inclusive
assassinatos políticos são aceitáveis para se livrar da oposição.
Abarcava todos os assuntos que diziam respeito Passa a se basear sobretudo nas
à vida na cidade (exemplo: questões religiosas, implicações do poder, afastando-se da
bélicas, comerciais...) e carregava forte sentido ética e desfragmentando-se em várias
ético – a política era vista como meio para que o áreas (ciência política, filosofia política,
homem se aproximasse da plena virtude. teoria geral do Estado, sociologia).
Maquiavel era cristão e, como tal, defendia a obediência aos preceitos religiosos (virtudes
morais) na vida diária. O ponto é que, em se tratando de questões relativas ao Estado, o
fator preponderante deveria ser a utilidade, em prol da segurança pública (a moralidade
tinha de ceder). Assim, se a violência, a intriga e a dissimulação eram inaceitáveis na vida
privada, eram plenamente justificáveis na esfera pública (se voltadas ao bem comum).
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De toda maneira, não é “do nada” que Maquiavel desenvolveu sua teoria (apenas para
contentar ao rei); ao construir e fundamentar suas teses, ele realizou uma análise atenta da
natureza humana, essencialmente focada em si mesma (comportamento observado ao
longo da história): (a) a maioria das pessoas é egoísta, de visão curta, volúvel e facilmente
ludibriável; (b) temos forte tendência de imitar comportamentos em vez de refletir sobre
eles; (c) tendemos a acreditar no que nos é falado. Essas falhas poderiam ser bastante úteis
ao estabelecimento de uma sociedade bem-sucedida – o governante habilidoso e
benevolente poderia canalizar o egoísmo em prol de boas realizações, manipular
comportamentos e mentir com sucesso em nome do bem comum (“um governante
prudente não pode nem deve manter sua palavra”).
Antes de julgá-lo com todo o rigor (safado, imoral, desalmado), é preciso avaliar o contexto
histórico em que Maquiavel esteve inserido: viveu em Florença em uma época de agitações
políticas e invasões estrangeiras em uma península itálica não unificada. Como aponta
Wilhelm Dilthey, somos criaturas do nosso tempo.
De qualquer forma, o termo maquiavélico acabou universalizado a identificar alguém que é
capaz de qualquer coisa (sem escrúpulos) para alcançar seus objetivos. O próprio
Maquiavel se defende: “todos veem o que você parece ser, mas poucos sabem o que você
realmente é”.
E ninguém pode negar que o legado de Maquiavel é extenso e duradouro. Diversos foram
os governantes que declaradamente utilizaram suas ideias: Henrique VIII, da Inglaterra;
Carlos V, do Sacro Império Romano; Oliver Cromwell, Napoleão Bonaparte e Bento
Mussolini. Sua influência se estendeu ainda a pensadores como Karl Marx e Antonio
Gramsci. Seu conceito de utilidade deu suporte às ideias utilitaristas e liberais nos séculos
XVIII e XIX. Em sentido amplo, a dicotomia que propôs entre moral e política serviu de base
ao realismo político. Enfim, sua obra deu jeito de compensar o fato de não ter conseguido
retornar a vida pública conforme era sua vontade.
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“Durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum capaz de os manter a
todos em respeito, eles se encontram naquela condição chamada guerra; e uma GUERRA
que é de todos os homens contra todos os homens”.
Mas por que isso??? Opa, na própria “natureza do homem encontramos três causas
principais de discórdia. Primeiro, a competição; segundo, a desconfiança; e terceiro, a
glória” 13.
O estado de natureza (que vimos em Teoria Geral do Estado) não identifica apenas os
estágios mais primitivos da história, mas também a situação de desordem que se verifica
sempre que os homens não têm suas ações reprimidas, ou pela voz da razão ou pela
presença de instituições políticas eficientes. O estado de natureza é uma permanente
13
HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Rideel, 2005, p. 76.
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ameaça que pesa sobre a sociedade e que pode irromper sempre que a paixão silenciar a
razão ou a autoridade fracassar14.
Mas de onde vem tanto ódio no coraçãozinho tão amado (ou seria peludo?) do ser
humano? Não é difícil entender: se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo
em que é impossível que seja gozada por ambos, eles tornam-se inimigos, e, no caminho
para seu fim, esforçam-se para destruir ou subjugar um ao outro.
Eitaaa muleke! “O homem é [...], por fidelidade à sua natureza animal, um ser egoísta,
enroscado em si mesmo, dedicado, prioritariamente, às necessidades de seu ego,
concentrado, de maneira visceral, em seus próprios interesses” 15.
E para piorar ainda tem a igualdade...
Está entendendo? A igualdade é o grande problema. Como todos são iguais e, portanto,
capazes de (por um outro modo) infligir dano aos demais, na natureza somos levados a agir
por antecipação – ataque preventivo (ataco antes que me ataquem).
Deus do céu! Essa situação é terrível. Como podemos vencê-la? Ora, pelo CONTRATO.
“Um contrato? Só isso?” Só! Hobbes é precursor do contratualismo: o ingresso do homem
em sociedade civil é um ato de razão, de vontade consciente, ao qual chamou de pacto
social. “Certo. Mas quais seriam as cláusulas desse contrato?” Ótima pergunta!
14
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. 33. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 24.
15
CARVALHO, João Andrade. Ruptura da sociedade conjugal: danos, prejuízos e reparações. Porto Alegre: Síntese,
2002.
16
HOBBES. Idem, p. 74.
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O PACTO SOCIAL é composto por duas cláusulas básicas: (1ª) eu entrego minhas
armas, desde que os demais também entreguem as suas (abdico do direito de
violência); (2ª) eu me comprometo a obedecer ao soberano (sua autoridade e
leis), cujo poder reconheço como absoluto.
“Eihn?? Absoluto? Quer dizer, ilimitado?” É... pois é... o Estado precisa de poderes
ilimitados (um mal necessário17), para que possa, com efetividade, frear os impulsos
destrutivos dos homens. Não adianta criar um Estadinho... é preciso criar um Estado (com
letra maiúscula)... um Estadão! Investimos todas as nossas fichas no soberano.
Entregamos TUDO em troca de proteção, de segurança, de paz e tranquilidade (de sombra
e água fresca?).
17
No século IV a.C. o filósofo indiano Kautilya já havia afirmado que o Estado era um mal necessário para garantir a
estabilidade social.
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hobbesiana, o Estado é um gigantesco homem artificial, cuja alma é a soberania (que lhe
dá vida e movimento), criado pelos homens naturais para corporificar um poder visível,
apto a forçar a todos ao cumprimento das cláusulas do contrato social. Sim, é um monstro
terrível, mas necessário para a defesa dos próprios cidadãos (como os dragões da belíssima
Daenerys Targaryen).
Se você está pensando onde é fica a liberdade nessa história... NÃO FICA! O homem não
precisa sair do destrutivo estado de natureza? Então... com os bônus vêm os ônus, oras.
GANHA-SE a paz. PERDE-SE a liberdade. Além disso, liberdade é uma preocupação
secundária quando a questão é sobrevivência: o principal objetivo do governo é a paz e a
estabilidade para que os homens possam sobreviver – nesse contexto, a liberdade é luxo
dispensável.
O estado deve ser absoluto? Você está de brincadeira? Sai fora! É isso que diria (e disse,
mas com mais estilo e refinamento, claro) John Locke ao ser apresentado às ideias
absolutistas. “É inviável imaginar que os homens, ao instituir a sociedade, iriam conceder
ao legislador um poder arbitrário sobre suas ações, vidas, liberdade e posses, pois se assim
o fizessem, estariam se colocando em situação muito pior do que no estado de natureza,
onde ao menos dispunham de liberdade para defender, por sua própria força, seus direitos
perante as agressões alheias”18 – o governo autoritário é mais perigoso do que a desordem
civil (antes o estado de natureza que a subordinação cega).
18
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2006, p. 101-102.
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(Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: ANTT Prova: CESPE - 2013 - ANTT - Analista
Administrativo) Com relação ao Estado e sua evolução histórica, julgue o item
seguinte.
A visão de Estado, no pensamento político de Locke, consiste na tríade que se
estrutura, conforme o estado de natureza, passando pela constituição de sociedade
civil, fundada no pacto ou contrato social e desemboca no Estado Absolutista.
Comentários
A primeira parte do enunciado está ok. As fases são (1) estado de natureza e (2)
sociedade civil (pós-contrato social). Entretanto, afirmar que o destino final é o
absolutismo é sacanagem. Locke rechaçava fortemente a ideia de um soberano
absoluto (ideia alinhada a Hobbes).
Logo, o item está ERRADO.
John Locke (1632-1704) nasceu na Inglaterra, mas viveu por muitos anos
exilado na França e Holanda, suspeito de tramar para o assassinato do
rei Carlos II. Disso ele pode até ser inocente, mas suas ideias mataram o
poder real absoluto: foram a base teórica da Revolução Gloriosa (1688),
que alterou em definitivo o equilíbrio do poder, limitando duramente as
atribuições do monarca e fortalecendo o Parlamento.
Normalmente, a esta altura do campeonato surge a seguinte dúvida: “poxa, então qual o
objetivo do Estado (se não é a paz e a tranquilidade)?” O escopo do Estado é o de proteger
os direitos naturais (vida, propriedade e liberdade) e punir quem quer que se atreva a violá-
los. O governo só é legítimo enquanto seguir essa cartilha.
O contrato social, portanto, NÃO é uma renúncia à liberdade em troca de paz, mas a
substituição de uma liberdade anárquica (de fazer tudo, como se não houvesse amanhã)
por uma liberdade racional (que respeita o outro), segura, certa e, logo, reforçada.
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Locke foi um dos primeiros a identificar20 as funções estatais. Em sua visão: (a) ao
Legislativo cabe assentar uma lei que defina o que é justo e injusto e a medida comum para
resolver as controvérsias entre os homens; (b) ao Judiciário compete ajuizar as
controvérsias de acordo com a lei estabelecida; (c) ao Executivo incumbe garantir a devida
execução das leis e senteças.
Dentre essas funções, considerava o LEGISLATIVO o poder por excelência: “quem tem a
tarefa de definir o modo com que se deverá utilizar a força da comunidade para a
preservação dela própria e dos seus membros é o legislativo”21, que “constitui a essência e
a união da sociedade em agir por uma só vontade, este, uma vez instituído pela maioria, é
depositário da declaração da expressão e da conservação dessa vontade. Constituir o
legislativo é o primeiro ato fundamental da sociedade, princípio da continuação da união
de todos sob a direção de pessoas escolhidas e vínculos das leis elaboradas por estas” 22
Quando me deparei com essa passagem pela primeira vez, pensei: “como que pode um
entusiasta da liberdade ser defensor das restrições impostas pela lei? Não entendo!” Ora,
Jeremy Betham diria dois séculos depois que “cada lei é uma infração da liberdade”. Hoje
sei (e você também saberá agora): as coisas NÃO funcionam desse modo na cabeça Locke!
Para ele, o propósito da lei NÃO é o de restringir a liberdade, mas de preservá-la e
aumentá-la.
“Mas como assim?”. Simples! A liberdade “não é, como nos foi dito, uma permissão para
todo homem agir como lhe apraz. (Quem poderia ser livre se outras pessoas pudessem lhe
impor seus caprichos?). Ela se define como a liberdade, para cada um, de dispor e ordenar
19
PALLIERI, Giorgio Balladore. A doutrina do Estado. Volume I. Coimbra: Coimbra, 1969, p. 61-62.
20
Identificar é diferente de separar, para exercício por pessoas diversas, o que fará Montesquieu.
21
LOCKE. Idem, p. 106.
22
LOCKE. Idem, p. 145.
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sobre sua própria pessoa, ações, possessões e tudo aquilo que lhe pertence, dentro da
permissão das leis”.
Sem a lei, a liberdade seria meramente formal, ameaçada a todo tempo por um estado de
natureza anárquico, incerto, inserguro. Na prática, não haveria liberdade. A lei é a muralha
dentro da qual a liberdade floresce tranquila.
Captou? Sim? Então prossigamos.
O governo legítimo deve atuar com o consensentimento do povo, o que NÃO quer dizer
necessariamente democracia. A maioria pode decidir, de forma racional, pela monarquia
ou aristocracia, por exemplo.
(Ano: 2015 Banca: VUNESP Órgão: Prefeitura de São Paulo - SP Prova: VUNESP -
2015 - Prefeitura de São Paulo - SP - Analista de Políticas Públicas e Gestão
Governamental) O que inicia e constitui realmente qualquer sociedade política nada
mais é senão o assentimento de qualquer número de homens livres e capazes de
maioria em se unirem e incorporarem a tal sociedade. E isto, e somente isto, deu ou
poderia dar origem a qualquer governo no mundo. (John Locke, Dois Tratados sobre
o Governo. Adaptado)
John Locke foi um importante filósofo inglês do século XVII. Esse trecho, destacado
de um dos textos do autor, discute um aspecto fundamental da ciência política
contemporânea, o conceito de
a) conflito.
b) dominação.
c) hegemonia.
d) soberania.
e) legitimidade.
Comentários
Só o consentimento dos homens confere LEGITIMIDADE ao Estado, não a força ou
qualquer outra entidade.
Assim, a alternativa D é a correta.
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Em 21 de abril de 1993, o povo brasileiro foi às urnas para ESCOLHER entre a monarquia e a
república (forma de governo) e entre o presidencialismo e o parlamentarismo (sistema de
governo). Venceu a república (86%) e o presidencialismo (69%).
Apesar de pouco se falar sobre o assunto, até hoje a vitória (“esmagadora”) é questionada
pelos partidários da monarquia e do parlamentarismo. Adivinha por quê... A Constituição
determinava que o plebiscito ocorresse em 7 de setembro de 1993. Contudo, a Emenda
Constitucional nº 2, de 25 de agosto de 1992, antecipou a data para 21 de abril de 1993
(dia de Tiradentes, personagem normalmente relacionado a valores republicanos).
Promulgada pelo Presidente Itamar Franco (do PMDB, partido que liderava o movimento
republicano presidencialista), a Lei nº 8.624, de 4 de fevereiro de 1993, regulamentou a
votação: concedeu aos brasileiros dois meses para deliberar sobre a eventual mudança de
um regime que já vigorava há 104 anos.
Os números porventura até apoiem a tese de falta de tempo para uma melhor reflexão.
Apesar da obrigatoriedade do voto, a abstenção às urnas foi considerável e bem acima da
média (26%). Em ambas as votações o número de votos em branco e nulos somados
chegou a 20%. Ou seja, apenas metade dos eleitores efetivamente realizou opção nas
urnas23.
Alguns séculos depois, nos EUA (nação construída sobre as ideias iluministas de Locke),
Henry David Thoreau daria feição prática à desobediência civil. Opositor ferrenho da
escravidão, ele considerava que a aceitação do modelo escravista tornava o governo dos
EUA ilegítimo, o que lhe permitia, como cidadão, desobedecer às leis.
23
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral - TSE. Resultado geral do plebiscito de 1993. Disponível em:
http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/plebiscito-de-1993.
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Thoreau conclamava seus concidadãos a agir e se indignava com aqueles que silenciavam,
tachando-os de cúmplices: o Estado se tornava facilmente um veículo de injustiças quando
os homens concordavam (ou se omitiam), passivos, perante ações injustas. Os homens de
sentimento moral indiferente são os paus e as pedras da máquina da opressão.
Mas o que fazer? Revoltar-se! O cidadão insatisfeito precisava fazer mais do que só
registrar sua desaprovação nas urnas. O voto é parte do modelo governamental, mas a
consciência moral está acima e fora das instituições estatais. O indivíduo deve depositar
toda a sua influência, não apenas um pedaço de papel.
Em termos práticos: não reconhecer o Estado, não cooperar com seus funcionários, não
pagar impostos... A propósito, em 1846 Thoreau passou um tempo em cana (na prisão) por
se recusar a recolher tributos ao Estado de Massachusetts.
A escravidão pode até não ter acabado por causa da resistência proposta por Thoreau, mas
ele foi citado como inspiração por ninguém menos que Martin Luther King, cuja
desobediência civil é considerada peça-chave na derrocada do sistema que
(inacreditavelmente) segregava os negros em plena década de 1960 nos EUA – as boas
ideias plantadas hoje podem ser colhidas amanhã.
5.4 MONTESQUIEU
Deitado em sua cama, as luzes já apagadas, esperando pelo sono chegar (coçando seu nariz
de respeito – faça uma pausa e confira a foto do homem mais adiante), Montesquieu
deixava a mente viajar em pensamentos: “de onde é que Hobbes e Locke tiraram que os
homens do estado de natureza ficariam se atacando? Esses homens sentiriam, antes de
tudo, fraqueza e estariam constantemente atemorizados. TODOS se sentiriam inferiores e
dificilmente alguém se sentiria igual a outrem. NINGUÉM procuraria, obviamente, atacar.
Só posso concluir que a paz natural seria a primeira lei da natureza”.
Após nos apropriamos dessa visão radicalmente diversa sobre o homem na pré-sociedade,
somos levados a acreditar que o narigudo iria se aprofundar no tema. ERRAMOS!!!
Contemporâneo dos contratualistas, Montesquieu desenvolveu uma teoria que fez pouco
caso do contratualismo, dando mais importância à lei (existente no mundo real) do que a
uma abstração teórica do contrato social.
Sua grande preocupação era com a liberdade vs. despotismo – a questão-chave da relação
homem-estado era como garantir a liberdade e frear o despotismo. Fácil? Qual seria a
solução que você proporia? Bem, para Montesquieu, um primeiro passo era submeter o
governo às leis (Estado de Direito).
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(OAB XXIV 2017) “É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer,
mas a liberdade política não consiste nisso.” (Montesquieu)
No preâmbulo da Constituição da República, os constituintes afirmaram instituir um
Estado Democrático destinado a assegurar, dentre outras coisas, a liberdade. Esse é
um conceito de fundamental importância para a Filosofia do Direito, muito debatido
por inúmeros autores. Uma importante definição utilizada no mundo jurídico é a que
foi dada por Montesquieu em seu Do Espírito das Leis.
Assinale a opção que apresenta a definição desse autor na obra citada.
a) A liberdade consiste na forma de governo dos homens, e não no governo das leis.
b) A disposição de espírito pela qual a alma humana nunca pode ser aprisionada é o
que chamamos de liberdade.
c) Liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem.
d) O direito de resistência aos governos injustos é a expressão maior da liberdade.
Comentários
ALTERNATIVA A = ao contrário! A liberdade começa pelo governo das leis!
ALTERNATIVA B = “disposição de espírito”... “alma”... visão muito metafísica.
Montesquieu se voltava muito mais a uma noção política de liberdade.
ALTERNATIVA D = como vimos há pouco, a noção do direito de resistência se liga ao
pensamento de Locke.
ALTERNATIVA C = Montesquieu advoga a importância das regras jurídicas para
garantir a liberdade dos indivíduos. Conforme trecho de sua obra clássica: “Num
Estado, quer dizer, numa sociedade onde há leis, a liberdade só pode consistir em
poder fazer o que se deve querer, e em não ser obrigado a fazer o que não se deve
querer. É preciso ter presente o que é independência, e o que é liberdade. Liberdade
é o direito de fazer tudo o que as leis permitem. Se um cidadão pudesse fazer o que
elas proíbem, ele já não teria liberdade, pois os outros teriam igualmente esse
poder’’.
Logo, a assertiva C está correta.
Mas isso seria suficiente? Pouco provável. “Montesquieu acreditava que a natureza
humana no poder NÃO é confiável – sobre isso ainda hoje poucos discordariam dele – e,
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por isso, queria outro poder para controlar o poder. Assim afirma no Livro XI: ‘para que não
se possa abusar do poder é preciso que, pela disposição das coisas, o poder freie o
poder’”24.
“Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos
nobres, ou do povo exercesse os três poderes: o de fazer as leis, o de executar as
resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as querelas dos particulares”
Embora Montesquieu receba, hodiernamente, boa parte dos méritos (se não todos eles) de
criação da teoria, não é verdade que a tenha desenvolvido de maneira plenamente original
(do zero), uma vez que se inspirou em autores de renomada monta que haviam se
destacado na produção político-filosófica dos séculos anteriores.
24
FÉDER. Idem, p. 29-30.
25
CAETANO, Marcello. Manual de ciência política e direito constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 1996, p. 320.
26
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 23. ed. São Paulo: Atlas, 200, p. 406.
27
MONTESQUIEU, Charles de Secondat, Baron de. O espírito das leis. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 168.
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O fato é que os autores precedentes NÃO traziam uma fórmula efetiva ao exercício dos
Poderes, de modo que estes pudessem funcionar dentro de um modelo equilibrado, razão
pela qual a teoria clássica da separação é creditada ao teórico francês. Explicitando: “muito
embora a ideia da separação dos poderes tenha sido defendida muito antes de
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Montesquieu, neste período os governos exerciam os poderes das mais variadas maneiras,
sendo constante a presença de um poder superior aos demais”28.
“Em termos elementares, já que tudo pode ser explicado de modo simples, sem floreio,
cada compartimento recebeu o nome de Poder. Um, encarregado de confeccionar as leis,
que devem ser a diretriz máxima de uma sociedade organizada. Outro, incumbido de
executá-las. O terceiro, árbitro das controvérsias criadas em torno da lei. Legislativo.
Executivo. Judiciário”29.
Você deve estar se perguntando por que cargas d’água Montesquieu publicou sua obra
prima de forma anônima... ora, porque esse negócio de separação dos poderes era
bastante controverso à época e encontrou, como era de se esperar, forte resistência dos
poderes constituídos, concentrados nas mãos do monarca.
A vingança veio a cavalo: com a independência da colônia britânica na Americana do Norte
(em 1776), a teoria foi adotada pela Constituição do Estudos Unidos da América (de 1787)
e, com a Revolução Francesa, acabou sacramentada na Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão de 1789: “a sociedade que não adote a separação dos poderes não tem uma
constituição” – simples assim.
28
CRUZ, Paulo Márcio. Fundamentos do direito constitucional. Curitiba: Jaruá, 2001, p. 99.
29
ANDRADE, Luciano Benévolo de. Ato político: omissão judicial. Revista Jurídica Consulex. Brasília, ano XIV, nº 316, p.
47, 15 de março de 2010, p. 47.
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Outro ponto muito interessante da obra do barão é o relativa às formas de governo e seus
princípios. Lembra que Aristóteles classificou os governos (item 2.3)? Pois Montesquieu
também arriscou uma categorização: (a) REPÚBLICA = o corpo do povo ou apenas uma
parte do povo detém a força suprema; (b) MONARQUIA = um só governa, mas por meio de
leis fixas e estáveis; (c) DESPOTISMO = governo de um só, sem lei e sem regras, tudo sendo
arrastado segundo a sua vontade e os seus caprichos.
Essas definições mostram, de modo imediato, que a natureza de um governo NÃO depende
apenas do número dos que detêm o poder, mas também da maneira como o poder é
exercido. Monarquia e despotismo são ambos regimes que concentrados em uma só figura,
mas no caso do governo monárquico o detentor único do poder governa segundo leis fixas
e estabelecidas, enquanto que no despotismo o governante atua à margem de leis ou
regras.
Cada forma de governo possui seu princípio motriz, que é o sentimento que deve animar
os homens no interior do respectivo tipo de governo para que ele funcione
harmoniosamente (faz o governo ser o que ele deve ser). Na república temos a virtude
(amor pelas leis e dedicação à coletividade); no despotismo o medo, o terror (noção
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“Nas monarquias a política faz com que sejam feitas grandes coisas com a menor
virtude possível. Como nas mais belas máquinas a arte emprega tão poucos
movimentos, forças e rodas quanto possível, o Estado subsiste
independentemente do amor pela pátria, do desejo da verdadeira glória, da
renúncia a si mesmo, do sacrifício dos interesses mais caros e de todas essas
virtudes heroicas que encontramos nos antigos, e das quais somente ouvimos
falar” (Livro III, Capítulo 5).
Note que a honra do barão não é mesmo moral, mas política (busca do melhor resultado).
O mesmo acontece com a virtude: o fato de o princípio da república ser a virtude não
significa que nela os homens sejam virtuosos, mas que deveriam sê-lo, e que as repúblicas
só serão prósperas se os cidadãos forem virtuosos – viverem para e pela coletividade, na
qual se sentem cidadãos, o que implica que sejam e se sintam iguais uns aos outros.
E qual era a forma ideal para Montesquieu? A democracia? NÃO!!! A leitura de “O Espírito
das Leis” não deixa dúvida de que a preferência do autor se inclina à monarquia – além de
prescindir (dispensar) da virtude para bem funcionar, a monarquia é forma de governo
que se distingue mais do despotismo do que a própria república democrática. “Mas
como???” Calma! Não se indigne. Vamos aprofundar.
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Essa ideia se contrapõe não só à teoria despótica de Hobbes como também à teoria da
república democrática de Rousseau, que se prende à vontade geral (única titular da
soberania) e deixa de admitir as “sociedades parciais”, que se interpõem entre os
indivíduos e o total social – essa vedação levaria não só ao despotismo tradicional como à
ditadura jacobina (triste efeito da supressão dos corpos intermediários).
(Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: MCT Prova: CESPE - 2012 - MCT - Analista em
Ciência e Tecnologia Pleno - Tema I) Com relação aos modelos de distribuição de
poder e às teorias da democracia, julgue o item seguinte.
Uma das fontes do pluralismo moderno é a teoria dos corpos intermediários, cujo
princípio básico consiste na divisão de poderes.
Comentários
Montesquieu caracterizou os corpos intermediários como condições essenciais para o
governo moderado, descrevendo-os como compensatórios contra a tendência
endógena de qualquer soberano de monopolizar os poderes. O soberano precisa ser
limitado tanto pela divisão das funções estatais quanto por entidades ou práticas
autônomas que a sociedade mesma produz. O pluralismo, portanto, é necessário à
moderação do poder.
Não se pode, de todo modo, confundir as partes da teoria: corpos intermediários e
divisão dos poderes são coisas distintas (um não é princípio básico do outro), muito
menos fonte do pluralismo moderno.
Logo, o item está ERRADO.
(Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: MCT Prova: CESPE - 2012 - MCT - Analista em
Ciência e Tecnologia Pleno - Tema I) Com relação aos modelos de distribuição de
poder e às teorias da democracia, julgue o item seguinte.
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Uma das fontes do pluralismo moderno é a teoria dos corpos intermediários, cujo
princípio básico consiste na divisão de poderes.
Comentários
Montesquieu caracterizou os corpos intermediários como condições essenciais para o
governo moderado, descrevendo-os como compensatórios contra a tendência
endógena de qualquer soberano de monopolizar os poderes. O soberano precisa ser
limitado tanto pela divisão das funções estatais quanto por entidades ou práticas
autônomas que a sociedade mesma produz. O pluralismo, portanto, é necessário à
moderação do poder.
Não se pode, de todo modo, confundir as partes da teoria: corpos intermediários e
divisão dos poderes são coisas distintas (um não é princípio básico do outro), muito
menos fonte do pluralismo moderno.
Logo, o item está ERRADO.
30
PARKER, Philip. Guia ilustrado Zahar: história mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p. 262-263.
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31
SOBOUL, Albert. A Revolução Francesa. São Paulo: Difel, 1974, p. 9.
32
PARKER. Idem, p. 272.
33
ORDOÑES, Marlene; QUEVEDO, Júlio. História. São Paulo: IBEP, 2002, p. 146-149.
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Sem dúvida alguma, o século XVIII (especialmente o seu final) foi a Era das Revoluções. As
estruturas sociais que vivenciamos hoje (democracia, república, presidencialismo, direitos
fundamentais) foram forjadas nesse período, mas não sem sangue, suor, lágrimas, caneta
(pena) e papel. Deixemos o sangue para os fãs de MMA, o suor para os marombeiros e as
lágrimas para os noveleiros. Vamos nos concentrar no que foi produzido pela caneta sobre
o papel
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Lembra daquele homem malvadão descrito por Hobbes? Pode esquecê-lo! E da guerra de
todos contra todos? Deixa pra lá! Na visão de Rousseau, no estado de natureza o homem
era livre e feliz, como os animais. NÃO é a natureza que nos faz maus, mas a sociedade:
sociedades más produzem maus cidadãos.
Qual é que era a realidade no estado de natureza, então? Era de paz e amor. Em uma
conjuntura em que “NÃO HÁ PROPRIEDADE CONSTANTE”35, o homem é guiado por dois
princípios bem simples: (a) desejo de autopreservação; e (b) compaixão pelos outros.
Ocorre que o surgimento da propriedade privada criou uma desigualdade imediata entre
os proprietários e os sem-propriedade.
34
Quem viu Tropa de Elite 1 vai entender a tirada: “do apartamentinho da Zona Sul não dá pra ver esse tipo de coisa
não” (André Mathias) kkkkk.
35
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. 3. ed. São Paulo: Martin Claret, 2008, p. 26.
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inveja – os homens passaram a se julgar em relação aos outros com base na riqueza
material.
Isso quer dizer que Rousseau é um socialista? Sim e não. Melhor: Não exatamente... É
certo que as ideias rousseaunianas seriam aproveitadas por autores marxistas, mas o autor
francês, pessoalmente, ainda que choramingasse a criação da propriedade privada, não
defendia sua completa extinção. Para ele, o modelo ideal de Estado seria uma pequena
república agrária, em que os cidadãos seriam proprietários de fazendas coletivas (como se
fossem condomínios rurais). Ele acreditava que abolição total da propriedade geraria um
conflito entre liberdade e igualdade. Sua proposta era uma distribuição que, em sua
concepção, pudesse ser considerada razoavelmente justa.
Mas não seria mais fácil retornar ao estado de natureza, onde havia liberdade plena? Não.
No estado primitivo as pessoas não conseguiriam levar adiante ideais mais elevados do que
seus apetites animais – desejos mais sofisticados dependem da sociedade civil.
Bom, se não podemos voltar ao estado anterior, ao menos podemos construir uma
sociedade que melhore a vida de todos. Mas como? A força e a liberdade são os
instrumentos fundamentais para a conservação do homem... o que precisamos é encontrar
um modo de combiná-las de maneira adequada... “achar uma forma de sociedade que
defenda e proteja com toda força a pessoa e os bens de cada sócio, e pela qual, unindo-se
cada um a todos, não obedeça todavia senão a si mesmo e fique tão livre como antes”36. É
justamente essa equação que o contrato social soluciona.
36
ROSSEAU. Idem, p. 29.
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A ordem social é um direito sagrado que serve de base para todos os demais
(não provém de Deus nem da natureza, mas das convenções).
O problema é que contrato social nos moldes originais se torna uma armadilha dos ricos
contra os pobres, um pacto que preserva a desigualdade. O estado e a sociedade acabam
atuando como um peso sobre os indivíduos, desigualando-os pela propriedade e, ao
mesmo tempo, privando-os da liberdade natural.
É possível, entretanto, mudar todo esse quadro se as instituições políticas e a sociedade
forem organizadas de modo eficiente. Se isso for feito, o novo contrato social realizará uma
correção, suprindo as desigualdades e fazendo com que os homens, desiguais em força ou
engenho, tornem-se iguais por convenção e de direito: “o pacto social estabelece entre os
cidadãos uma igualdade tal, que eles se obrigam todos debaixo das mesmas condições, e
todos devem gozar dos mesmos direitos”37.
O contrato social reformulado produz um corpo moral e coletivo (Estado), que é mero
executor das decisões – o soberano é o conjunto de pessoas, que tem uma vontade
própria, a VONTADE GERAL, a qual NÃO se confunde com a simples soma das vontades
individuais (vontade de todos), mas é uma síntese delas e, por isso, é sempre reta e tende
constantemente à utilidade pública.
A vontade geral NÃO é o mero somatório das vontades particulares, mas a sua intersecção,
voltada à realização do interesse comum, em detrimento dos interesses particulares. Cada
37
ROSSEAU. Idem, p. 41.
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indivíduo pode ter uma vontade própria (particular) até mesmo contrária à vontade geral
que tem como cidadão. A vontade geral não é necessariamente unânime, mas permite a
participação de todos, vencendo o interesse da maioria voltado ao bem comum.
Imagine que você está em uma assembleia em que se discute um empréstimo compulsório
em favor do Estado. Você sabe que terá de abrir sua carteira para o poder público e que
isso é importante para atender a uma emergência (ocorreu uma enchente devastadora no
povoado). Só que você, claro, tinha outros planos para esse dinheiro (um cavalo novo,
porque o seu já está perdendo os dentes). Na visão rousseauniana, você pode até ter uma
vontade particular de negar ao Estado o empréstimo, mas ciente do interesse público,
votaria favoravelmente ao empréstimo, guiado pela vontade geral (bem comum). Será
mesmo? Kkkkk
Essa noção um tanto quanto abstrata (e de difícil visualização prática) é a base das
democracias modernas.
(2017 OAB XXIII) ...só a vontade geral pode dirigir as forças do Estado de acordo
com a finalidade de suas instituições, que é o bem comum... (Jean-Jacques Rousseau)
A ideia de vontade geral, apresentada por Rousseau em seu livro Do Contrato Social,
foi fundamental para o amadurecimento do conceito moderno de lei e de
democracia.
Assinale a opção que melhor expressa essa ideia conforme concebida por Rousseau
no livro citado.
a) A soma das vontades particulares.
b) A vontade de todos.
c) O interesse particular do soberano, após o contrato social.
d) O interesse em comum ou o substrato em comum das diferenças.
Comentários
ALTERNATIVA A = os interesses das pessoas são variados e até contraditórios, de
modo que a vontade geral não pode ser a “soma das vontades particulares”.
ALTERNATIVA B = a vontade de todos é a soma das vontades particulares, que, por
serem díspares, podem estar em contradição com a vontade geral.
ALTERNATIVA C = soberano é o povo. O interesse particular, evidentemente, não se
confunde com a vontade geral.
ALTERNATIVA D = exatamente! A intersecção dos interesses privados, que forma o
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E se alguém (ou um grupo) clamar por ser a voz da vontade geral, quando, na verdade,
expressa uma vontade particular? Sim: aí está a porta ao totalitarismo (os déspotas
costumam jurar que agem em prol do bem comum e que são porta-vozes da vontade
geral... vide Hugo Chávez, Fidel Castro e Cia Ltda).
Para remediar esse perigo, Rousseau, aproveitando para admitir a impossibilidade de se
evitar facções (vontades particulares organizadas), propunha multiplicá-las
indefinidamente, criar tantas quanto possível, de modo que nenhuma poderia alegar ser a
geral ou ser dominante o suficiente para se opor à vontade geral.
Como diria Hegel: o espírito que prefere a liberdade à vida torna-se senhor (de si mesmo);
o espírito que prefere a vida à liberdade torna-se escravo (dos outros).
38
ROSSEAU. Idem, p. 25.
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39
ROSSEAU. Idem, p. 46.
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E não parou por aí: Rousseau continua vivo nas noções de povo como soberano, de
igualdade como objetivo da sociedade, da existência de interesses coletivos distintos dos
de cada membro da coletividade. Serve ainda de alicerce para todos os autores
transformistas, que figuram poder modelar a sociedade para o melhor (de Marx a Rawls).
Onde você está lendo este material? Em casa? Não? Em uma biblioteca, café, ou outro local
qualquer? Ótimo! O que garante que quando você voltar para casa estará tudo lá? Sua
cama, televisão, mesa, geladeira, comida, roupas, cachorro, gato, passarinho... Quer dizer,
vivemos em um país que admite a propriedade privada (até que se prove o contrário) e se
alguém for lá e pegar o que é seu haverá furto (artigo 155 do Código Penal). Ok. Mas quem
fará cumprir uma sentença penal condenatória? Não está entendendo onde estou
querendo chegar com essa história? Deixe-me
explicar...
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ou para outrem. O que você faz? Você convida seus amigos e vai lá no Buba tentar
recuperar a carne à força. Era assim que funcionava: na FORÇA!
Bem, mas se você tem o “direito” de defender sua caça por sua própria força e até mesmo
de se agrupar com outros (força coletiva aumentada) para fazer valer seus direitos (no
caso, de propriedade), por que não criar uma força pública e pô-la a funcionar em prol de
direitos estabelecidos, como a vida, a liberdade e a propriedade? Ótima ideia, não?
Teremos uma organização coletiva do direito individual de legítima defesa como base do
Estado, a operar conforme a LEI.
Essa alegoria descreve o pensamento simples, mas brilhante, de Frédéric Bastiat.
“Cada um de nós tem o direito natural de defender sua própria pessoa, sua
liberdade, sua propriedade. Se cada homem tem o direito de defender – até
mesmo pela força – sua pessoa, sua liberdade e sua propriedade, então os
demais homens têm o direito de se concentrarem, de se entenderem e de
organizarem uma força comum para proteger constantemente esse direito”40.
Transformando a conclusão em premissa, temos ainda: “o direito coletivo tem, pois, seu
princípio, sua razão de ser, sua legitimidade, no direito individual. E a força comum,
racionalmente, não pode ter outra finalidade, outra missão que não a de proteger as forças
isoladas que ela substitui”41. Logo, os limites da atuação estatal são bem definidos, NÃO
admitindo que sejam extrapolados. Alguém se atreveria a dizer que a força serve não para
defender nossos direitos, mas para aniquilar os iguais direitos dos semelhantes? Não? Ok.
Mas se isso não é certo para as forças individuais, porque seria certo para a força coletiva,
que nada mais é do que a união organizada das forças individuais?
40
BASTIAT, Frédéric. A lei. 2. ed. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1991, p. 4-5.
41
BASTIAT. Idem, p. 5.
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Claude Frédéric Bastiat (1801-1850) ficou órfão aos nove anos. Aos
17 deixou a escola para cuidar dos negócios da família. Aos 24, com a
morte do avô (que o criara e deixou-lhe bens suficientes para uma
vida confortável), pôde dedicar-se aos estudos e à vida política,
tornando-se deputado. A partir de 1844 passou a escrever sobre
economia e rapidamente ganhou notoriedade. Por infelicidade do
destino, poucos anos depois foi vencido pela tuberculose.
42
Quando escrevi esta parte do livro, fiz a besteira de dar uma checada no vídeo original da música. Meu Jesus
Amado!!! Para quem não tem humor (nem um pouco) refinado, até que pode render algumas risadas kkkk. Olha só:
https://goo.gl/AASV1d.
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sem ataques injustos, com incentivos positivos (percepção de que valha a pena se esforçar
e de que seja por demais arriscado ou custoso tentar espoliar os demais).
E olha que tivemos uma grande chance de seguir por esse caminho no seio das revoluções
“liberais” (ou, como preferem alguns, burguesas). Poderíamos ter acabado com os
privilégios da nobreza e instalado a igualdade, mas, tão rápido as classes antes espoliadas
obtiveram poder político, preferiram estabelecer um sistema de espoliação generalizado,
em que TODOS brigam com unhas e dentes para obter vantagens legais.
Ao cabo, “não se julga suficiente que a lei garanta a cada cidadão o livre e inofensivo uso de
suas faculdades para o seu próprio desenvolvimento físico, intelectual e moral. Exige-se, ao
contrário, que espalhe se diretamente sobre a nação o bem-estar, a educação e a
moralidade”43.
Ora, mas se o poder público parece ser teoricamente funcional para organizar a justiça, por
que mesmo não o deixar organizar o trabalho, a educação e a saúde? Porque ele não tem
condições de fazer isso... ao menos não sem desorganizar a justiça e criar uma série de
conflitos.
É o que vemos com clareza hoje em dia: as casas legislativas e os centros de poder político
em geral, ao redor do mundo todo, transmutaram-se em verdadeiras arenas de combate,
nas quais os grupos sociais se digladiam em busca dos seus “direitos” (interesses privados).
Essa sim é a guerra de todos contra todos.
43
BASTIAT. Idem, p. 16.
44
BASTIAT. Idem, p. 46.
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Nadando contra a correnteza, Bastiat ataca ainda, a golpes de machado, dois pontos-chave
do pensamento de Rousseau que ganharam o mundo (tornaram-se paradigmáticos): (a) o
fator democrático (sufrágio universal); e (b) o governo como gestor da sociedade.
1) Por que tanta fuzarca pelo sufrágio universal? Se a força pública é destinada apenas a
garantir que as pessoas não sejam lesadas em sua vida, liberdade e propriedade, não muda
muita coisa poder votar. O papel do governo é restrito e a sociedade como um todo é que
ganha peso. Agora, claro, quando o Estado é o distribuidor e redistribuidor de riquezas,
quando a ele compete tudo, ele faz tudo, manda em tudo, então realmente cada um de
nós quer fazer parte do poder público, seja para participar da farra na distribuição de
benefícios, seja para evitar que sejamos os prejudicados. O grau de importância do sufrágio
se liga intrinsicamente ao modelo de intervenção estatal: quanto maior a intervenção,
maior a necessidade de se participar do governo; quanto menor a intervenção, menor o
interesse em atuar junto à força pública.
Isso funciona mais ou menos como o síndico de um prédio simples e com poucos
apartamentos (nem elevador têm). A função é basicamente garantir a segurança da porta
principal e contratar alguém para realizar os serviços de limpeza e reparos (manutenção).
Não há função ativa de investimentos e coisas do tipo. As reuniões desse condomínio não
têm apelo (há pouco dinheiro para farrear) e o cargo de síndico é mais ônus do que bônus.
Agora, peguemos um edifício complexo, de alto padrão, com vários blocos (estilo colmeia
de abelha) e muito dinheiro, ampla área comum, piscina, teatro, playground, campinho...
as empresas lutam com todas as forças para ganhar a administração do condomínio
(envolve muita grana) e o síndico é um cargo importantíssimo, não raro gerando brigas
entre os condôminos (disputa pelo poder).
Quando o Estado é grande (tem muitos poderes) e você não faz parte dele, a chance de sair
prejudicado é enorme. O sufrágio, nesse modelo, é mesmo fundamental. Com a redução
das atribuições estatais, a tendência é que cada um se preocupe mais com a própria vida
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Apesar disso, Rousseau teima em afirmar que “entre o legislador e o príncipe, entre o
príncipe e os súditos existem as mesmas relações que entre o agrônomo e o agricultor, que
entre o agricultor e a terra”. Bastiat se pergunta: “E como ficam os homens nisso tudo? [...].
A que altura, acima da humanidade, está, pois, colocado o escritor? Rousseau reina sobre
os próprios legisladores e ensina-lhes seu ofício em termos imperativos: ‘Quer-se dar
estabilidade ao estado? Então aproximem-se os extremos tanto quanto possível. Não se
tolerem nem os ricos nem os mendigos’ [...]. Pobre espécie humana! O que se tornaria a
dignidade da pessoa se fosse confiada aos seguidores de Rousseau?”46.
45
FÉDER. Idem, p. 97.
46
BASTIAT. Idem, p. 36 e 38.
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Não somos massa de modelar! “Há no mundo excesso de grandes homens. Há legisladores
demais, organizadores, fundadores de sociedades, condutores de povos, pais de nações,
etc. Gente demais se coloca acima da humanidade para regê-la, gente demais para se
ocupar dela [...]. E posto que se infligiram inutilmente ao corpo social tantos sistemas, que
se termine por onde se deveria ter começado: que se rejeitem os sistemas; que se coloque,
por fim, a Liberdade à prova”47.
Não são poucos os que criticam as ideias de Bastiat 48 (em geral os pensadores de
esquerda), acusando-o de ser insensível à pobreza, às
dificuldades alheias, aos “desfavorecidos”. Ele se defende com
vigor, assentando não ser, de modo algum, contra a organização
natural, apenas contra a organização forçada; nada contra a livre
associação, apenas contra a associação imposta; nada contra a
fraternidade espontânea, apenas contra a fraternidade
normativa; nada contra a solidariedade providencial, apenas
contra a solidariedade artificial (que soterra a responsabilidade);
47
BASTIAT. Idem, p. 56 e 57.
48
A foto à direita é de um busto de Bastiat na comuna francesa de Mugron.
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nada contra a filantropia altruísta, apenas contra a falsa filantropia. Nas suas próprias
palavras: “eu combato uma ideia que acredito ser falsa; um sistema que me parece injusto;
uma injustiça tão independente das intenções pessoais, que cada um de nós tira proveito
da ideia do sistema sem o querer e sofre por sua causa sem o saber”49.
Final do século XVIII. Ainda que a França não fosse uma potência como a Grã-Bretanha, era
a mais poderosa das velhas aristocracias monárquicas da Europa. Ocorre que nela o
conflito entre os interesses estabelecidos no Ancien Régime e os interesses dos grupos
sociais ascendentes (em especial a burguesia) era mais agudo do que em qualquer outro
lugar50.
O território francês apresentou-se, então, como o palco perfeito para a ruptura dos
paradigmas vigentes na civilização europeia, em um movimento que operou modificações
irreversíveis, em especial na ligação do Estado com a religião e nas relações com a
sociedade civil51, conjuntura que rapidamente despertou acirrados debates entre
intelectuais e políticos.
Um dos mais destacados pensadores a se insurgir com veemência contra a revolução foi
Edmund Burke. Membro do partido conservador Whig, que defendia o progresso gradual
da sociedade, em contraste com o partido Tory, que lutava para manter as coisas como
estavam (restauração da monarquia com poder absoluto do rei).
49
BASTIAT. Idem, p. 24
50
HOBSBAWM, Eric. The age of revolution: 1789-1848. New York: Vintage books, 1996, p. 55.
51
RÉMOND, René. O antigo regime e a revolução: 1750-1815. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1986, p. 137-139.
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Qualquer um que acredite que pode usar seus poderes racionais para destruir a
sociedade e construi-la de novo (melhor e a partir do nada), tal como Rousseau, é tolo e
arrogante.
52
HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 14-15.
53
DOUZINAS, Costas. O fim dos direitos humanos. São Leopoldo: Unisinos, 2009, p. 161.
54
KRITSCH, Raquel. Política, religião, revolução e soberania em Reflexões sobre a revolução em França do conservador
E. Burke. In: Revista espaço acadêmico. Londrina, n. 123, p. 68-82, ago. 2011, p. 72-73 e 77.
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55
CAMPOS, Roberto. O século esquisito. Rio de Janeiro: Topbooks, 1990, p. 198 e 205.
56
BURKE, Edmund. Reflexões sobre a Revolução em França. Brasília: UnB, 1982, p. 90.
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Pior, desvinculada das situações práticas, dos espaços e da cultura, a seara dos direitos
torna-se um campo de batalha em que os interesses de poder se digladiam para
institucionalizar universalmente seus pontos de vista 57. Outra vez, temos a guerra de todos
contra todos.
E não há mesmo limites para aquilo que as pessoas podem racionalmente exigir como de
direito. Os direitos se tornam aquilo (qualquer coisa) que as pessoas querem. Se você está
se perguntado qual o problema disso... “Quanto mais direitos melhor, não?” Não é bem
assim...
Se o governo se voltar à coletivização de cada necessidade, de cada paixão, de cada
capricho, o resultado será o caos. É tarefa do Estado mediar os desejos das pessoas, não
atender à sua integralidade, afinal, nenhum homem deve ser juiz em causa própria – temos
forte inclinação a achar que é justo e de direito aquilo que nos favorece.
Os
interesses Cabe ao
podem Estado julgar
O Estado é uma entrar em os conflitos: Cabe ao Estado
conflito dizer o JUSTO O governo
invenção do submeter as
NÃO pode
homem para vontades a uma
atender a
mediar os LEI que respeite
TODOS os
interesses em a realidade.
interesses
sociedade
57
HERRERA FLORES, Joaquín. A (re)invenção dos direitos humanos. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2009, p. 172.
58
Burke (assim como ocorre com quase todos os conservadores) é demonizado pelos progressistas, que figuram nele
uma defesa dos privilégios e desigualdades existentes (status quo), o que absolutamente não é verdade: Burke deu
demonstrações durante toda sua vida e obra de amplo comprometimento na defesa daqueles que julgava injustiçados.
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levaria a um banho de sangue e terror, um caos tão avassalador que conduziria os militares
a assumir o poder. Muita gente riu da previsão...
As profecias de Burke não se aplicam apenas à Revolução Francesa. Seus escritos são mais
precisos (no alvo) e atuais do que nunca. É claro que as proclamações à superioridade do
povo inglês hoje soam hilárias até mesmo entre os britânicos e sua crítica provinciana
tornou-se um tanto obsoleta. Por outro lado, as considerações tecidas há mais de duzentos
anos soam mesmo proféticas à luz dos fardos colocados sobre o mundo contemporâneo.
Duvida? Confira comigo.
De que adianta proclamar o direito abstrato à vida às vítimas da fome e da guerra; ou à
liberdade de expressão e de imprensa às pessoas incapazes de ler por falta de acesso à
educação? De que adianta aclamar o direito à saúde em um lugar como o Haiti, onde um
hospital básico atende a mais de dois milhões de pacientes e, diariamente, portadores de
HIV são dispensados pela falta de recursos?59
Como é de costume ocorrer com as ideias bem cultivadas (já falamos disso), sobrevivem à
morte de seus lavradores.
Na obra “Investigação sobre o entendimento humano” (1748), David Hume propôs que o
bem e o mal devem ser distinguidos pela utilidade: uma ação boa é aquela que tem um
bom resultado.
Vinte anos depois, Jeremy Bentham aproveitou-se da ideia: tanto a moralidade privada
quanto as políticas públicas devem ser reduzidas a esse princípio, de modo que os homens
59
DOUZINAS. Idem, p. 165.
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possam trabalhar juntos para atingir o mesmo fim (um ato bom é aquele que traz a maior
felicidade para o maior número de pessoas possível).
De toda forma, mesmo a melhor ação traz consigo algum efeito colateral negativo (um mal
ao lado do bem). Exemplo: ao fazer uma cirurgia para salvar a vida de um paciente, o
médico normalmente precisa fazer um corte. Isso é aceitável, não é? Claro... mas, também,
o médico só deve realizar o tratamento se este trouxer mais benefício do que dano – em
vários casos de câncer, a quimioterapia é tão lesiva que simplesmente não vale a pena (a
expectativa de aumento na sobrevida é pequena perto da perda na qualidade de vida
provocada pela intervenção). O mesmíssimo raciocínio vale para a lei: mesmo a melhor lei
tem, em sua natureza, um mal.
Se você está confus@ com que tipo de mal a lei poderia trazer sem seu bojo, pense bem:
toda lei é uma restrição da liberdade – a lei impede o indivíduo de agir da maneira como
bem entenda. Justamente por isso, a lei só pode se justificar se causar mais bem do que
mal (o que, convenhamos, não é tão simples).
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De maneira semelhante, uma pena só deve ser aplicada se gerar algum benefício social ou
se servir para, razoavelmente, piorar a situação do criminoso (o crime não pode
compensar: a punição serve também para garantir que o lucro eventualmente obtido com
o delito não faça a ação, com o risco embutido, valer a pena).
Perceba que “na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se
as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção
penal se torne desnecessária” (artigo 121, § 5º, do Código Penal). O que estamos lendo
aqui é que a punição aumentaria ainda mais o sofrimento do autor do ato ilícito, chegando
ao ponto de se tornar desproporcional. Quando o próprio resultado do delito já causar um
mal grave (suficiente) ao causador, a aplicação da pena se torna desnecessária.
60
AMARAL, Gilberto Luiz (Coord.), et al. Quantidade de normas editadas no Brasil: 27 anos da Constituição Federal de
1988. Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário – IBPT, Curitiba, 30 de setembro de 2015. Disponível em:
<http://www.ibpt.com.br/img/uploads/novelty/estudo/2272/QuantidadeDeNormas201527AnosCF01102015.pdf>
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à custa da maioria. Bons governos produzem o máximo de felicidade para o maior número
possível de pessoas. Temos aqui uma aritmética moral e governamental: o governante
deve decidir com uma “calculadora social” sempre em mãos.
A democracia é boa porque as pessoas gostam de decidir (ou de pensar que decidem) os
rumos da nação. Isso as torna felizes. E os políticos, em uma democracia, tendem a ter
interesse pessoal em aumentar a felicidade da maioria para garantir a reeleição. Fecha
certinho... simples assim! Se encontrarmos outro modelo que nos traga maior felicidade,
tchau para a democracia.
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61
“O nó górdio é uma lenda que envolve o rei da Frígia (Ásia Menor) e Alexandre, o Grande. É comumente usada como
metáfora de um problema insolúvel (desatando um nó impossível) resolvido facilmente por ardil astuto ou por "pensar
fora da caixa". Conta-se que o rei da Frígia (Ásia Menor) morreu sem deixar herdeiro e que, ao ser consultado, o
Oráculo anunciou que o sucessor chegaria à cidade num carro de bois. A profecia foi cumprida por um camponês, de
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feitura da lei. E nisso Kant é categórico e imperativo (com o perdão do trocadilho – se não
entendeu a tirada, entenderá em instantes): nenhum princípio válido pode ser baseado na
felicidade, afinal, ninguém deve (ou pode) tentar impor o que é felicidade para outra
pessoa – as regras baseadas na felicidade jamais podem ser aplicadas a todos de maneira
consistente. Alguma dúvida de que ele discorda do utilitarismo de Jeremy Bentham?
Não é papel do estado cuidar da felicidade, muito menos obrigar os indivíduos a fazerem os
outros felizes. Por exemplo, não poderia (ou deveria) o poder público obrigar os netos a
visitarem suas avós, mesmo que se verificasse ser bom para a felicidade geral da nação que
as avós sejam amadas (e visitadas para que o amor seja demonstrado).
Poxa, mas se não cabe ao Estado garantir o sorriso no rosto de cada cidadão, então para
que serve o Leviatã? Na visão kantiana cumpre ao Estado garantir a liberdade das pessoas
dentro da lei. Nada além disso. Cada um que busque sua própria felicidade naquilo e da
forma que julgar melhor, desde que não viole a liberdade e os direitos dos outros.
nome Górdio, que foi coroado. Para não esquecer de seu passado humilde ele colocou a carroça, com a qual ganhou a
coroa, no templo de Zeus. E a amarrou com um enorme nó a uma coluna. O nó era, na prática, impossível de desatar e
por isso ficou famoso. Górdio reinou por muito tempo e quando morreu, seu filho Midas assumiu o trono. Midas
expandiu o império, mas não deixou herdeiros. O Oráculo foi ouvido novamente e declarou que quem desatasse o nó
de Górdio dominaria todo o mundo. Quinhentos anos se passaram sem ninguém conseguir realizar esse feito, até que
em 334 a.C Alexandre, o Grande, ouviu essa lenda ao passar pela Frígia. Intrigado com a questão, foi até o templo de
Zeus observar o feito de Górdio. Após muito analisar, desembainhou sua espada e cortou o nó. Lenda ou não o fato é
que Alexandre se tornou senhor de toda a Ásia Menor poucos anos depois. É daí também que deriva a expressão
‘cortar o nó górdio’, que significa resolver um problema complexo de maneira simples e eficaz” (fonte: Wikipédia).
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O pensamento kantiano sobre certo x errado NÃO se pauta no resultado obtido com a ação
(se positivo ou negativo: felicidade ou dor) e nem se liga a elementos circunstanciais
(contingências). O núcleo do seu raciocínio está nas noções de imperativos: categórico e
hipotético62.
Para saber se algo é certo ou errado, devemos É o modelo utilizado pelas leis:
universalizar a ação e verificar se, como “subtrair de coisa alheia móvel, de que
resultado, haveria lesão à liberdade alheia – se tem a posse ou a detenção: Pena -
todos poderiam assim agir sem prejudicar a reclusão, de um a quatro anos, e
liberdade geral de agir de igual modo multa” (artigo 155 do Código Penal). Se
(compatibilização das liberdades). furtar, deve ficar recluso.
No plano político, mais especificamente, Kant observa que o governo só pode gerir
legitimamente a sociedade (governar) se a sua existência contar com o consentimento do
povo, não de alguns, nem da maioria, mas de toda a população. As leis de um governo
estrangeiro (força de ocupação ou potência colonialista) não têm qualquer legitimidade.
Em miúdos: a legitimidade do governo e das leis depende de estarem firmados nos desejos
racionais das pessoas (com base no imperativo categórico) – o contrato social é baseado
em uma coalizão das vontades de todos os indivíduos (as leis são a vontade do povo).
Se a lei não for tal que todo o povo possa com ela concordar (se enguiçar na
universalização), será injusta. Isso não quer dizer que se um jagunço doido resolver
encrencar com uma lei ela passará automaticamente a poder ser descumprida, mas sim
que é preciso que toda lei parta do princípio de que seja pelo menos possível (razoável) que
o povo em geral a aceite.
62
Não avançaremos de maneira mais aprofundada no estudo dos imperativos nesta oportunidade. Cabe à Filosofia
Jurídica debruçar-se sobre o tema e esmiuçar essa que é uma das teorias mais importantes para o Direito. Faremos
isso no encontro pertinente, pode deixar.
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Já pensou se é promulgada uma lei que proíbe o casamento heterossexual... você acha que
as pessoas concordariam com essa lei no Brasil? Pouco provável. Assim como seria pouco
provável que gozasse de consentimento popular uma lei que, hoje em dia, proibisse o
casamento homossexual. Ambas as leis seriam evidentemente injustas e desafiariam as
pessoas a resistir a elas (descumpri-las).
Agora, quando há a possibilidade de que a lei seja justa (mesmo que eu, isoladamente
tenha as minhas ressalvas) é meu dever (e de cada um) respeitá-la – não pode alguém
deixar de pagar impostos porque considera que o dinheiro está sendo investido para os
esforços de guerra (sendo o sujeito um pacifista); há ao menos uma chance de a guerra ser
justa e até mesmo inevitável). PAGUE o imposto e não pegue em armas, se esse for o caso!
Quer outro exemplo: quem nunca ouviu empresários reclamando dos impostos (que
seriam extorsivos)? Por isso, sabemos, alguns deles acabam sonegando (evasão fiscal). Há
quem chame isso de legítima defesa contra o roubo estatal legalizado. Kant concorda?
NÃO! Mesmo que eles se indignem com a exação (e que tenham certa razão: o sistema
publicizador implica a necessidade de uma voraz máquina arrecadatória), o
descontentamento em vista do interesse pessoal não autoriza ao descumprimento de uma
lei que conta com o presumível consentimento popular – sobra como alternativa chegar ao
poder e mudar a política econômica, fiscal, tributária...
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imediata comoção. Os que são contrários reclamam que isso causará engarrafamentos e
que a lentidão no escoamento de grãos, vinho e leite trará enormes prejuízos à
economia63. Aderindo às ideias de Bentham, você calcula que o índice de felicidade geral
sofreria abalo com a redução da velocidade. Vamos mantê-la mais elevada (e que os
carroceiros e cavaleiros cavalguem com cuidado). Ponto para o pragmatismo utilitarista.
A segunda demanda é sobre mendicância. Os cidadãos estão reclamando que há muitos
pedintes pelas ruas, dormindo próximo dos estábulos, implorando por migalhas. Alguns até
cometem assaltos. Há os que não são perigosos, mas que ficam ali aporrinhando os
transeuntes, jogando lixo em local impróprio, fazendo suas necessidades fisiológicas nos
canteiros. A coisa está feia. A situação de desconforto é geral. Um Senador propõe adotar
uma ideia de Bentham e recolher, se for o caso à força, todos os mendigos a uma casa de
tratamento em que trabalharão para pagar suas próprias despesas. A reação contrária é
forte. Você titubeia. A imagem dos pedintes sendo recolhidos na marra te incomoda. E
onde fica a liberdade deles de ir e vir? Você lembra de Kant. Será que essa ação enérgica
poderia ser universalizada? Você fica em severa dúvida. É difícil negar a noção de
imperativo categórico... de homem como fim em si mesmo... de direito individual
inalienável de liberdade...
Esse choque entre a busca do bem-estar coletivo vs. a defesa dos direitos individuais está
no seio das críticas tanto a Bentham (onde ficam os direitos do homem?) como a Kant
(onde fica o bem-estar social?). Atento a isso, um inglês de cabelo engraçado (confira a
fotografia de John Stuart Mill adiante para saber do que estou falando) buscou fazer uma
espécie de fusão ou compatibilização entre os dois pensamentos (de Bentham e de Kant),
pretendendo encontrar o ponto de equilíbrio entre a liberdade individual e a busca da
felicidade coletiva.
Herdeiro das ideias UTILITARISTAS64, Mill mantinha vivo o argumento de que as ações
deveriam ser julgas (boas ou más, certas ou erradas, justa ou injustas) de acordo com a
contribuição que oferecessem para a soma total de felicidade da comunidade. Adicionou
ao raciocínio, entretanto, o elemento de defesa das liberdades individuais.
63
Essa discussão ocorreu na transição entre os prefeitos de São Paulo Fernando Haddad (PT) e João Dória (PSDB),
quando o tucano aumentou o limite de velocidade vigente para as marginais (que havia sido reduzido pelo petista).
64
Jeremy Bentham era amigo pessoal de James Mill (pai de John Stuart) e ajudou diretamente na criação do garoto,
inspirando ideias e hábitos. Só podia dar certo...
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“A tirania da maioria está agora incluída entre os males contra os quais a sociedade
precisa estar sempre vigilante”
65
Movido por interesses pessoais, Thomas Edison, o inventor da lâmpada incandescente, registrou o recorde mundial
de patentes. Foram 1.093 patentes nos EUA e 1.500 em todo o mundo. Ao cabo, todos nos beneficiamos de sua
genialidade. Você só está lendo este livro digital porque ele e Nicolas Tesla deram aplicação industrial à eletricidade.
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Mill observa que as opiniões do povo são com frequência impensadas, arraigadas em
pouco mais que o próprio interesse e as preferências pessoais... Se o governo democrático
se guiar sempre pela (sucumbir à) voz da maioria, o resultado previsível será a prevalência
dos interesses dos grupos dominantes da sociedade, o que invariavelmente dará vazão a
uma tendência geral de aumento do controle social, coletivização escorchante e
desaparecimento da noção de indivíduo (como sujeito de direitos).
Diante dessa conjuntura preocupante, Mill tentou estabelecer um princípio claro que
definisse os limites e o equilíbrio entre a autonomia individual e a interferência
governamental, uma fronteira entre o Estado e o indivíduo, entre o público e o privado: o
governo só deve (pode) intervir na liberdade dos indivíduos para evitar que uns causem
danos aos outros.
66
Mais recentemente, surgiram pesquisas tratando dos fumantes passivos e vários países proibiram o fumo em locais
fechados (públicos ou acessíveis ao público, como restaurantes), o que já começa a ser um tanto questionável na visão
liberal de Mill... e se eu quiser ter um restaurante fumódromo, não posso?
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67
Recurso Extraordinário nº 635.659/SP.
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Para que um conceito verdadeiro mantenha sua vitalidade e poder, ele precisa ser
constantemente desafiado e investigado, o que se aplica em especial às ideias a
respeito da sociedade e da política, as quais jamais alcançam (ou devem alcançar)
a certeza própria das verdades matemáticas.
É inviável que algumas ideias recebam uma espécie de certificação (carimbo ideológico) de
que são sagradas, infalíveis e inquestionáveis, ao passo que outras sejam consideradas
socialmente inaceitáveis – está em voga ultimamente que certas linhas de pensamento não
têm o direito sequer de ser expressadas, apondo-se-lhas algum rótulo depreciativo
(discurso do ódio ou quejandos). Mill anota que apesar de os hereges não serem mais
queimados em fogueiras, a intolerância social quanto às opiniões não ortodoxas
(contraparadigmáticas) ameaça insensibilizar as mentes e turbar o desenvolvimento das
ideias que moverão as rodas da sociedade.
Sem o debate livre (noção americana de free speech, combatida no Brasil), as ideias se
tornam dogmas repetidos sem qualquer entendimento real (será que vemos isso hoje em
dia?). O drama é esse mesmo: “princípios e comportamentos, quando convertidos em
slogans estéreis, não são mais capazes de motivar ações autênticas”.
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Retomando essa noção, um conceito moderno possível (neutro), trata a ideologia como
conjunto de valores e/ou regras que tem como objetivo guiar a sociedade a um status
considerado ideal, seja ele no âmbito político, econômico ou social (ou todos eles).
Pois bem. Foi Karl Marx, junto com seu amigo Friedrich Engels, que, ao publicar o
“Manifesto Comunista”, em 1848, acendeu o estopim para uma enorme batalha ideológica.
O mundo nunca mais seria o mesmo. Salvo um ou outro pensador que escapa do padrão,
as discussões políticas foram polarizadas entre apoiadores e detratores dos sistemas
capitalista e socialista. De certo modo, até hoje é assim...
Com o desenrolar dos séculos, surgiram os subtipos (modelos que estão mais para cá, mais
para lá) como o Nazismo e o Fascismo, entremeados pelas duas Grandes Guerras
(Mundiais). Não foram tempos banais...
Nas trincheiras desse embate, contendem alguns dos mais destacados pensadores da
contemporaneidade, cuja fama e ideias mantêm-se vivas até hoje. Vamos ver o que
conseguimos levantar sobre esses caras (e suas mentes).
Como já referido alhures (em diversas passagens), a França do final do século XVIII era uma
bomba-relógio: um Estado esperando por uma revolução. Acabou que os burgueses
tomaram a frente (e a Bastilha) e fizeram seu estrago primeiro. Poderiam ter sido outros.
Discursos bem mais à esquerda ressoavam pelos círculos intelectuais, bares, cafés e
lupanares.
Importada da Inglaterra vinha a inspiração de Robert Owen, um reformista social galês
que, filho de artesãos, conseguira se tornar coproprietário de uma fábrica têxtil, na qual
estabelecera um modelo de produção que se preocupava com os trabalhadores – apenas
como exemplo, reduziu a jornada de trabalho para 10,5 horas diárias (um avanço para uma
época, em que a rotina diária de trabalho normalmente era de 14 a 16 horas) e abriu uma
loja em que os empregados podiam comprar produtos de qualidade por pouco mais que o
preço de custo.
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Esses autores, como se pode notar, estavam longe de apresentar o extremismo que se
veria adiante na obra de Marx e Engels. Owen, inclusive, originalmente havia sido seguidor
de Jeremy Bentham e, mesmo quando bem mais inclinado ao socialismo, ainda incorporava
elementos utilitaristas e liberais em sua teoria. Já Rouvroy utilizava abertamente vários
conceitos de Adam Smith e inspirou John Stuart Mill (ambos autores liberais).
O contato com as sementes do modelo coletivista que brotaria a seguir, de toda sorte, foi
suficiente para que Alexis Tocqueville lhe lançasse uma crítica arrebatadora, afirmando que
o socialismo brinca com as (aproveita-se das) paixões materiais do homem. Ele se indignava
com quem, aqui e acolá, anunciava um modelo que poderia garantir uma igualdade forçada
de posses, terra aos desabrigados, comida aos famintos, lazer e cultura aos que, até então,
mal se sustentavam (promessas que, evidentemente, encontravam corações abertos a
recebê-las).
Sua teima com os socialistas começava pela propriedade privada, que para ele é o
resultado da livre aplicação das faculdades humanas. O homem é livre para trabalhar e
gozar dos frutos do seu trabalho (propriedade). Se a propriedade é minada pelo socialismo,
onde ficar a liberdade? Não fica. No socialismo o indivíduo (e sua liberdade) simplesmente
não importa.
Assim, apesar de todo o falatório humanista, na visão de Tocqueville o socialismo trata os
trabalhadores como meras engrenagens na máquina coletivista operada pelo Estado.
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E as desigualdades sociais? Ficam sem solução? Tocqueville admitia com tranquilidade que
algo estava errado na sociedade e que a revolução era mesmo inevitável. Só que, para ele,
a resposta NÃO estava na luta de classes. O socialismo atiçava não apenas o proletariado,
mas também os proprietários (uns contra os outros). O Estado político de paz descrito por
Hobbes se transformava no Estado de guerra68. A luta de classes, muito longe de ser
superada, perpetuava-se. O caminho seria reafirmar o ideal revolucionário de uma
sociedade livre, sem classes.
Outro ponto de tensão para o pensador francês era que o modelo coletivista ignorava a
generosidade (virtude mais elevada do homem), abordando as relações sociais como se
esta não existisse. Em um modelo de liberdades, que dê espaço à fraternidade espontânea,
argumentava ele, os pobres são protegidos pela caridade. Mas em um modelo dominador,
a iniciativa individual é sufocada pelo Estado, que devora pouco a pouco todos os âmbitos
da sociedade, até que se torna “o senhor de cada homem”.
68
Marx admitiria isso mais tarde: “o Estado é guerra”, diria ele.
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O socialismo
O socialismo O socialismo
sufoca o O socialismo é
ignora as destroi a
indivíduo e o um sistema
VIRTUDES propriedade e
torna mera de SERVIDÃO
humanas a LIBERDADE
engrenagem
Tocqueville morreu mais de meio século antes que a primeira experiência socialista real se
concretizasse (em 1917). Suas previsões, porém, mostrar-se-iam bastante apuradas. Ao se
comparar seus escritos com a realidade que viria a ser vivenciada pelos cidadãos nos
regimes coletivistas (não apenas na URSS, como também na Alemanha Oriental, China, boa
parte da África, Coreia do Norte, Cuba e, mais recentemente, na Venezuela) é incrível sua
capacidade de antecipar alguns dos terríveis desdobramentos práticos que poderiam advir
de uma teoria que, já em seu nascedouro, arrogava resolver o enigma da história.
A obra de mais este francês que marcou época, a propósito, é manejada por muitos
atualmente como uma réplica eficaz (antídoto) contra a afirmação desgastada de que o
socialismo pode dar certo (apenas foi mal aplicado), pois as críticas de Tocqueville são
anteriores à colocação do modelo em prática (analisam os possíveis desdobramentos da
teoria como ela foi apresentada em seus primórdios)... ponderações que se mostraram,
infelizmente (para o povo das citadas nações), de uma exatidão surpreendente e
desconcertante.
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A Revolução Industrial não só produziu riqueza como antes nunca visto, mas também
barateou produtos além de qualquer expectativa prévia. As descobertas tecnológicas e os
processos de produção em massa permitiram que a população em geral passasse a ter
acesso a produtos que, pouco antes, apenas os nobres podiam comprar.
“Do começo do século 18, o consumo de açúcar por inglês passou de 1,8 quilo
por ano para mais de 10 quilos, a quantidade de chá quadruplicou, e a de café
também. Nas casas, a mesa de jantar ficou maior – e começaram a aparecer
objetos como relógios de parede, pratos de porcelana, copos de vidro, cortinas,
toalhas. O armário ficou sem espaço. ‘Roupas eram um dos produtos mais
roubados no século 18, somando 27% dos casos registrados de furto e a maior
porcentagem das condenações por roubo’ [...]. Por causa da concorrência
desleal dos moinhos e teares automáticos, o preço dos tecidos de algodão caiu
90% durante a Revolução Industrial, levando os ladrões a procurarem coisas
mais caras que roupas. A carne para o churrasco na varanda também ficou mais
barata. Por causa de outro filhote da Revolução Industrial – a refrigeração –, foi
possível importar carne de muito longe. [...] Nos primeiros cinquenta anos do
século 19, os trabalhadores ingleses passaram a considerar a carne como parte
da dieta normal” [...]. Mesmo os historiadores marxistas admitem que as
fábricas deixaram os produtos mais acessíveis”69.
Isso não quer dizer que tudo era uma maravilha (um mar de rosas). A falta de comida
fresca, de água de qualidade e as doenças deixavam a vida na cidade mais curta. Em 1841,
a expectativa de vida em Manchester era de 25 anos; em Londres, de 36; na zona rural, de
45. A jornada de trabalho média dos operários ingleses ultrapassava 12 horas por dia
(3.500 horas ao ano) – é difícil encontrar uma época histórica em que as pessoas
trabalharam tanto. Em 1851, 36% das crianças entre 10 e 14 anos trabalhavam fora de
casa. Mendigos, meninos de rua, bêbados, prostitutas e desempregados vagavam pelas
ruelas enlameadas e escurecidas pela fumaça das chaminés. Nas palavras do poeta William
Blake: “vagueio por essas vielas violadas e noto em todas as faces encontradas sinais de
fraqueza e de dor”70.
69
NARLOCH, Leandro. Guia politicamente incorreto da história do mundo. São Paulo: Leya, 2013, p. 98-99.
70
NARLOCH. Idem, p. 90-91.
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Testemunhas desse mundo em transformação, Karl Marx resolveu seguir a linha reformista
de Rousseau: se a sociedade não é como queremos, por que não a moldar ao nosso
agrado? E como fazê-lo? Via revolução, destruindo o sistema econômico capitalista.
Para Marx, a força produtiva representava a soma da força do trabalho humano com os
meios de produção. No capitalismo, poucas pessoas detêm os meios de produção e o
trabalhador é obrigado a se submeter ao capital, o que deixa clara a lógica subversiva do
==21f93e==
Com a
divisão das
funções...
o trabalho
se torna
massante
... e o
trabalhador
vira mera
ENGRENAGEM
na produção
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Essa divisão entre capital e trabalho gera inevitável tensão (luta de classes) entre o
proletariado (empobrecido e explorado) e os capitalistas (proprietários enriquecidos), que
detém e controlam os meios de produção para seu exclusivo benefício. Qual a solução?
Abolir a propriedade privada (que está na raiz da alienação), oras!
No comunismo, o trabalho recobraria seu verdadeiro fim, o que faria surgir um sentimento
de irmandade entre os trabalhadores (ninguém tralharia por obrigação, mas por amor).
Os seres humanos têm necessidades e, para atendê-las, aplicam suas habilidades para
produzir os bens que as satisfaçam. Essa atividade (produção de bens) pode ser organizada
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Se você está se perguntando onde é que entra o Estado nessa história toda, respondo: o
poder público, em aporte à economia de mercado, serve para garantir ao capitalismo a
exploração dos trabalhadores – é por meio dele que os indivíduos das classes dominantes
fazem valer os seus interesses. O Leviatã atua como um muro entre as classes, cujo intento
é manter protegido o modelo vigente, em especial a consagração da propriedade privada.
Como o Direito não é muito diferente. A ordem jurídica opera como legitimadora do
capitalismo – à medida que o sistema apresenta certas necessidades a lei é criada.
Ilustrando: a liberdade de contrato e a autonomia da vontade entre as partes são
essenciais para a circulação de bens e o acúmulo de capital. Portanto, o Direito NÃO surge
da natureza (direito natural), da racionalidade ou das necessidades comuns da população,
mas sim das necessidades do sistema econômico burguês.
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SUPERESTRUTURA
instrumentos de poder
INFRAESTRUTURA
relações econômicas
Os ecos de Marx seriam sentidos nas décadas seguintes, com a colocação das suas ideias
em prática na Rússia, na China e em Cuba. O ponto é que Marx pouco disse sobre detalhes
de como o sistema comunista deveria funcionar (após a revolução) – suas únicas
prescrições claras era a propriedade comum e a economia centralizada (para garantir o
encontro da oferta com a demanda). O negócio virou meio que experimento social –
tentativa e erro.
LÊNIN
Foi o que aconteceu. Em outubro de 1917, as forças populares lideradas por Vladimir Lênin
tomaram o poder. Pela primeira vez na história, o sistema comunista sairia do papel para a
prática.
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ironicamente, teve de lutar contra os levantes promovidos pela classe que há pouco o
colocara no poder.
Há ainda vários intelectuais que se autodeclaram lenistas, incluindo o filósofo eslavo (pop)
Slavoj Zizek, que diz admirar a disposição de Lênin de “sujar as mãos” (de sangue?) para
aplicar a teoria marxista e atingir seus objetivos.
STÁLIN
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Muito mais radical do que Lênin (que já não era lá flor que se cheirasse), Stálin não
demorou a reverter as concessões leninistas à economia de mercado. Nacionalizou
empresas e ativos e coletivizou toda a estrutura industrial. As fazendas foram
desapropriadas (transformaram-se em “propriedade socialista estatal”) e reunidas sob
controle do governo.
Como retaliação, os camponeses queimaram parte das plantações e mataram animais, o
que levou a uma dramática escassez. A resposta do governo foi enérgica: as colheitas
remanescentes foram confiscadas e levadas para as cidades, resultando em uma tragédia
sem precedentes. Na Ucrânia (conhecida como “cesta de pão” pela produção agrícola) 5
milhões de pessoas morreram de fome71 (holocausto genocida conhecido como
Holodomor).
MAO TSE-TUNG
71
Se quiser saber mais sobre Holodomor, assista a este documentário impactante: https://goo.gl/vBhP8u.
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Marx havia dito que o comunismo substituiria o modelo capitalista. Em miúdos, a revolução
socialista pressupunha uma sólida sociedade capitalista anterior, a qual formava os meios
de produção que seriam tomados pelo proletariado. O problema é que a China era uma
terra de camponeses.
Mao não se deu por vencido, aproveitou a ideia de “partido de vanguarda” utilizada por
Lênin (na Rússia czarista a industrialização também era embrionária) e adaptou o modelo a
uma nação predominantemente agrícola: iria insuflar a consciência de classe nos
camponeses (era claro para ele que seria um proletariado rural, não urbano, que faria a
revolução) – os países ainda estagnados em estruturas semifeudais pulariam a fase
capitalista e iriam direito para o socialismo pleno.
Os
A China era camponeses
mais agrária são o
que industrial proletariado
Nos países
da China
industrializados Os países
o comunismo agrários, como
substitui o a China,
capitalismo PULARÃO a
fase capitalista
A tomada do poder, claro, não se daria com rosas. Embora Mao tenha passado a década de
1920 organizando protestos e greves, ele tinha consciência de que agitações não seriam,
nem de longe, suficientes. Só a luta militar faria a revolução ser vitoriosa. Os camponeses,
desarmados, nada poderiam fazer contra as forças capitalistas armadas. A liberdade só
seria conquistada quando os revolucionários pegassem em armas. “O poder político vem
do cano de um revólver”.
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Em 1953 foi lançado o primeiro plano quinquenal pelo governo comunista, o qual obteve
resultados relativamente positivos no aumento da produção, escolarização e expectativa
de vida. O sucesso, no entanto, foi efêmero.
Em 1958 foi anunciado o “Grande Salto Adiante”, plano que previa uma série de medidas
que incluíam investimentos na indústria e infraestrutura, desapropriação de terras e
planificação da economia (bem ao estilo Stálin). As fazendas foram organizadas em
comunas, com metas de produção. As pessoas foram deslocadas de regiões com alta
produtividade para onde ela era baixa. A ideia era forçar a economia chinesa a alcançar o
Ocidente.
Mas o tiro (para quem tanto gostava de armas) saiu pela culatra. O plano miraculoso de
Mao causou uma das maiores catástrofes que o mundo já viu. Como a produtividade não
aumentou (caiu), iniciou-se a repressão. Entre 1958 e 1962, pelo 45 milhões de chineses (a
maioria camponeses) foram sujeitos a trabalhos forçados exaustivos, os que se recusaram
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foram torturados, houve confisco de alimentos e execuções em massa. Por uma estimativa
conservadora, 18 milhões de pessoas morreram, mas há quem sugira que foram mais de 55
milhões de mortes.
De quebra, em 1966 foi anunciada a “Revolução Cultural”, destinada a “limpar” a China das
influências burguesas – além de alienar o povo, a política tinha como objetivo neutralizar a
crescente oposição que faziam ao governo alguns setores menos radicais do partido.
Imagina o que aconteceu... os “comitês revolucionários” perseguiam todo e qualquer
suspeito de deslealdade política ao regime; o ensino superior (dispensável né) foi
praticamente desativado; “O Livro Vermelho” (coletânea de citações de Mao que exaltam
sua ideologia e professam uma forma de culto à sua personalidade) foi distribuído aos
milhões. A China toda foi “reeducada”. E quem não concordou? Fácil: muitos foram
exilados ou tiveram de fugir... tantos outros foram executados (especialidade da casa).
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CHE GUEVARA
Há quem seja teórico. Há quem seja prático. Em vez de ficar preso às questões teóricas
(análise econômica do marxismo), o companheiro Che se aprofundou em como tomar o
poder para implementar o comunismo. Em vez de esperar pelo advento das condições
ideais para a revolução, ele se propunha a fazê-la desde logo – as condições favoráveis
poderiam ser criadas com uma estratégia de guerrilha que inspiraria o povo a revoltar-se.
E, assim como Mao, Che não esperava que a ponta de lança da revolução estaria nas
cidades, nos locais industrializados. Os países da América Latina e Central e da África
também mereciam as maravilhas do comunismo e não podiam esperar pela formação de
uma classe proletária (industrialização). Era nas áreas rurais que pequenos grupos rebeldes
armados deveriam agir, justamente onde poderiam obter o máximo de resultado contra as
forças do regime (grupos militantes tinham uma vantagem na guerrilha em espaço rural).
Em 1954, Che conheceu Fidel Castro no México e viu chegar sua oportunidade de colocar
suas ideias em prática: os dois se uniram na luta contra o governo cubano de Fulgêncio
Batista (apoiado pelos EUA) e criaram uma base militar em plena floresta (Sierra Maestra).
O grupo militar que ficou conhecidos como barbudos (as condições na mata não permitiam
o corte regular de cabelos e barba) alcançaria o poder em 1959, instalando o primeiro
governo comunista das Américas.
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72
NARLOCH, Leandro; TEIXEIRA, Duda. Guia politicamente incorreto da América Latina. São Paulo: Leya, 2011, p. 25-26.
73
A charge ao lado é do cartunista político (de esquerda) Carlos Latuff..
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Como em todos os países que adotaram o comunismo até então, não demorou para o
governo cubano iniciasse a matança em massa: pelotões de fuzilamento foram formados.
Em “La Cabaña” (uma prisão política), realizaram-se centenas de julgamentos
“revolucionários”, seguidos de execuções. Che Guevara estava à frente de tudo, tanto que
recebeu a alcunha de “carniceiro de la cabaña”. Em plena assembleia da ONU, em 1964, ele
respondeu aos questionamentos recorrentes que lhe eram feitos pelos delegados de outras
nações: “fuzilamentos? Sim, temos fuzilado, fuzilamos e continuaremos fuzilando, caso
seja necessário. Nossa luta é uma luta à morte”74.
Braço direito de Fidel, Che ocupou os cargos de embaixador, presidente do Banco Nacional
e ministro da indústria. Não se saiu bem. A economia definhou, a produção despencou e a
população como um todo empobreceu. Em vez de pregar cartazes (como na URSS), Che
fazia apelos efusivos (em discursos dirigidos à nação) para que os agricultores plantassem
mais e atingissem as metas de produção. Vou te dar uma chance de adivinhar o desfecho...
Sem os incentivos individuais, o resultado (previsivelmente) foi o mesmo que na União
Soviética e na China.
74
Se não acredita em mim, confira o trecho do discurso em VÍDEO.
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Em uma entrevista realizada em 2018, Caetano Veloso disse o seguinte: “A esquerda tem
um problema e que terá sempre, enquanto precisar ser esquerda, que é defender algo que
não está estabelecido, demonstrado. A direita tem sempre essa vantagem. Isso é
indiscutível. E nós tivemos as experiências das revoluções socialistas e do próprio histórico
do marxismo, nas tentativas práticas, que foram desastrosas”. Estabelecida essa premissa,
ele pergunta ao então presidenciável Ciro Gomes de que maneira o candidato pesava essas
questões. A resposta: “eu tenho pensado muito nisso aqui com os meus botões, quando eu
volto da luta da rua e tal... eu paro para pensar e eu acabo chegando ciclicamente à mesma
conclusão: EU QUERO CORRER ESSE RISCO”75. Ciro Gomes teve 13,3 milhões de votos no
primeiro turno das eleições.
7.3 ANARQUISTAS
75
Confira a entrevista na íntegra. O trecho citado é a partir de 17min27seg.
76
DALLARI. Idem, p. 45-47.
77
DALLARI. Idem, p. 47.
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O grande problema (e desafio) dos anarquistas é indicar de maneira prática o modo como a
sociedade se libertaria do Estado e implementaria uma sociedade desprovida de um poder
central organizador. Alguns pensadores ficaram famosos por suas tentativas de responder a
essa questão. Vamos a eles.
“Do direito da FORÇA derivam a exploração do homem pelo homem ou, dizendo
doutro modo, a servidão, a usura, o tributo imposto pelo vencedor ao inimigo
vencido, e toda essa família numerosa de impostos, gabelas, revelias, corveias,
derramas, arrendamentos, aluguéis etc., numa palavra, a PROPRIEDADE”.
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78
Há um belo artigo a respeito do debate: “Quando o liberal e o socialista se defrontam: Bastiat, Proudhon e a renda
do capital”. Disponível AQUI.
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O anarquismo de Proudhon passava pelo fato que a união deveria ser entre as pessoas, os
indivíduos, não entre elas e uma instituição coercitiva, que nada mais fazia além de
sustentar a noção falsa de propriedade.
O contrato social deve ser entre os indivíduos, não entre esses e o Estado.
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O PODER
corrompe
mesmo os As massas
virtuosos acabam
As escravizadas
A sociedade é instituições se A liberdade e a
uma união de tornam plenitude são
homens sob corrompidas alcançadas pela
autoridade rejeição da
autoridade
O Estado deve ser sempre visto como um mal. Sua função prática é organizar e manter a
exploração dos pobres pelos ricos. Mas NÃO se engane: essa aparente superioridade da
classe dirigente é ilusória – o Estado também age arbitrariamente contra a elite quando
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julga necessário (vide Revolução Francesa). TUDO deve ser feito para destruir o Estado,
inclusive sacrificar temporariamente a ordem púbica por medidas revolucionárias79.
Não concordo, nem deixo de discordar. Esse era o lema de Kropotkin. Um dos mais
importantes pensadores anarquistas do século XIX, ele transitou entre a Rússia e diversos
países da Europa (Inglaterra, França, Suíça, apenas para citar três) escrevendo, participando
de manifestações, divulgando suas ideias.
79
DALLARI. Idem, p. 48.
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Esse russo singular (possivelmente irmão perdido de Gandalf e Albus Dumbledore) chegou
a se aliar a Marx e Bakunin, embora discordasse de ambos: ele não admitia concessões às
instituições burguesas (como fazia Marx, acusado por ele de esboçar um capitalismo de
Estado, com a mera estatização dos meios de produção) e nem achava que a violência era o
único modo de se chegar ao anarquismo (como entendia Bakunin): o verdadeiro
anarquismo social (sem Estado) podia ser implementado por meios pacíficos porque é a
evolução natural da sociedade cooperativa.
80
DALLARI. Idem, p. 49.
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ideia de propriedade é, por si só, antiética e injusta, uma vez que as riquezas são geradas
pelo esforço conjugado de homens de todas as classes, não havendo qualquer justificativa
plausível para que os benefícios sejam acumulados por uma classe menos numerosa,
composta, em grande parte, justamente pelos que pouco ou nada produzem.
7.3.4 ANARCOCAPITALISTAS
Não é pela boa-vontade do padeiro que devemos esperar pelo pão quentinho às 6h da
manhã, mas sim pela sua intenção de lucrar. O mesmo vale para medicina. A
ultrassonografia médica (que salva milhares de bebês ao detectar malformações) não foi
resultado da bondade desinteressada de alguém, mas de uma corrida tecnológica que
rendeu lucros à empresa vencedora.
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Outra questão interessante é: se os homens fossem liberados para pensar soluções sobre
necessidades básicas, talvez, vários serviços que hoje são públicos teriam uma cara
completamente diferente. No caso da iluminação, por exemplo, quem sabe não teríamos
outro modelo menos ridículo do que esse de uma montoeira de fios passando por postes e
81
O Instituto está presente no brasil e sempre tem textos interessantes para leitores não letrados em Economia:
https://www.mises.org.br.
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82
ROTHBARD, Murray Newton. The ethics of liberty. Nova York: New York University Press, 1998, p. 176.
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A leitura dos escritos anarcocapitalistas deixa antever que esses pensadores acreditam
piamente que o sistema publicista é que impõem a miséria a uma parcela da população e
reforça a posição dos ricos – em nome de uma redistribuição capenga, de uma suposta
filantropia governamental, uns poucos se aliam ao Estado e lucram muito. Aos demais resta
lutar contra o sistema para conseguir alguma coisa ou amargar uma desventura alienada.
Fique espert@!
83
Se você, mais uma vez, não acredita em mim, mais uma vez, CONFIRA em vídeo.
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Sorel, não sem razão, é um autor controverso. Suas ideias influenciaram tanto os fascistas
(Giovanni Gentile e Benito Mussolini) quanto os comunistas (como Antonio Gramsci) e
mesmo anarcossindicalistas (a exemplo de Walter Benjamin).
Quem seguiu à risca essas ideias foi Mao Tsé-Tung. Em 1956 ele
afirmou: “é apenas através de discussão, crítica e raciocínio que nós
podemos promover a correção das ideias, superando as ruins e
realmente fixar nossos objetivos” (parecia John Stuart Mill). Deu-se
início à Campanha das Cem Flores – “que flores de todos os tipos
desabrochem, que diversas escolas de pensamento se enfrentem”.
O Partido Comunista Chinês, destarte, incentivou a expressão das
mais variadas escolas de pensamento (inclusive anticomunistas). O
que aconteceu? Os ingênuos criticaram pesado e foram logo
taxados de “direitistas burgueses”. Identificados, foram expurgados
sem dó nem piedade. A revolução não poderia correr riscos e a
violência era o meio de assegurá-la. Maquiavel adoraria a tática.
O sociólogo José Ortega Y Gasset, em “A rebelião das massas”, (1930) observou que o
levante das massas é acompanhado de um declínio dos intelectuais, com o triunfo do
pseudointelectual, uma nova força na história (sem senso, nem direção). Como essa nova
classe “pensante” não tem uma noção apurada de tradição, de propósito ou de
moralidade, a sociedade que é por ela conduzida fica sem um código moral. Tudo se
justifica. Inclusive a violência (física e verbal).
O que é o Estado? Ao estudarmos Teoria Geral do Estado nos deparamos com essa questão
intrigante. E nos atentamos para o quão difícil é respondê-la. Max Weber, entre outras
preocupações, procurou solucionar a charada secular: o Estado é uma comunidade humana
que reivindica o monopólio legítimo do uso da força em um território.
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Toda a teoria política de Weber, portanto, se liga aos conceitos de força (poder),
legitimidade e dominação. Em um dos esquemas mais famosos (e cobrados em provas) ele
identifica a existência de três tipos ideais de dominação (poder + legitimidade).
Tipos de DOMINAÇÃO:
84
WEBER, Max. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981
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ministro no parlamentarismo).
Esses modelos, claro, interligam-se, sendo incomum que se encontre um sistema puro.
Exemplo: é possível, e até mesmo corriqueiro, que o líder escolhido pelo meio racional
(eleições) consiga inspirar dominação carismática (herói em guerras militares, políticas,
sociais).
Os problemas pessoais e de saúde não impediram Weber de escrever um dos livros mais
influentes do século XX, “A ética protestante e o espírito do capitalismo” (1905), por alguns
(especialmente sociólogos) considerada a obra mais importante do século. Nela Weber
discorda de Marx, negando que a infraestrutura econômica seja o fator determinante da
organização social (se não lembra do que estamos falando, vide específico sobre MARX).
Após estudar os modelos capitalistas europeus e norte americano, comparando-os com os
modelos orientais (onde o capitalismo ainda não se fazia presente), Weber chegou à
conclusão de que a ética religiosa protestante (vocação para o trabalho, aceitação do lucro,
hábito de economizar, assunção de responsabilidades individuais) havia pavimentado o
caminho para o capitalismo – os valores culturais é que determinam o modelo econômico,
e não o inverso. O que Marx apresentou como causa é, na verdade, EFEITO.
MODELOS DE GESTÃO
Max Weber sistematizou os modelos pelos quais o Estado administra a máquina pública,
esboçando três sistemas: patrimonialista, burocrático e gerencial.
No modelo PATRIMONIALISTA há confusão entre o patrimônio público e o patrimônio
particular do governante, o que leva o aparelho administrativo do Estado a ser percebido
como uma extensão do poder do agente político.
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O modelo BUROCRÁTICO, por sua vez, é caracterizado pela administração com caráter
“racional”, pela formalização de regras por escrito, pela definição de funções específicas
para cada pessoa (profissionalização), com visão piramidal e hierárquica. A marca aqui é a
impessoalidade – seleção com base na qualificação técnica e no mérito. Como se pode
antever, há separação entre a propriedade e a administração e previsibilidade do
comportamento funcional.
O problema é que o modelo burocrático pode apresentar
dificuldades com relação à eficiência – os procedimentos, que
trazem muitas vantagens, têm como efeito colateral certo
engessamento da máquina pública.
O próprio Weber anteviu que eventuais problemas na
racionalização não são estruturais, mas de gestão e
competência: uma burocracia muito rígida faz com que,
paradoxalmente, a eficiência caía, em vez de aumentar. É
preciso gerenciamento.
Mais recentemente surge, então, o modelo GERENCIAL, que abranda o rigor excessivo da
burocracia, mediante gestão profissional, com a fragmentação das unidades
administrativas, a adoção de modelos de gestão empresarial (competição e padrões de
performance), voltando o foco aos resultados, por meio do uso eficiente dos meios
existentes.
Quantas e quantas vezes ouvimos o termo “Fascismo” como um rótulo pregado em ideias
liberais (geralmente aos berros, com dedo em riste e eventual cusparada...). Nada poderia
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ser mais impreciso. O Fascismo finca firme suas raízes no nacionalismo coletivista,
justamente como repulsa ao individualismo.
O pensador político e ativista Giuseppe Mazzini, em sua obra “Deveres do homem” (1860)
foi um dos primeiros a propalar como teoria política a ideia de que os deveres para com o
Estado estão acima dos interesses individuais do homem.
Ao trabalharmos por nosso país e pelo princípio correto, trabalhamos para a humanidade
É essa visão coletiva que levaria o povo à prosperidade. O país é muito mais do que um
grupo de indivíduos reunidos em um território, é uma associação de pessoas ligadas por
uma irmandade.
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85
FÉDER. Idem, p. 156.
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Seguindo pela linha coletivista e nacionalista esboçada por Giuseppe Mazzini, Gentile
rejeitava o individualismo e defendia que o coletivismo era a resposta tanto para o
propósito do povo quanto para a vitalidade e coesão do Estado – os indivíduos e as
gerações são unidos por uma vontade maior (mais elevada), a vontade da nação: é
necessário MOLDAR todas as vontades individuais em uma só!
Entre as medidas para moldar as vontades, Gentile incluía reescrever a história. Entre 1929
e 1936 ele atuou como editor chefe da Enciclopédia Italiana, um esforço homérico para
recontar a história da nação ao gosto fascista. E olha que a tática pegou. Eric Hobsbawm,
considerado o maior historiador moderno (autor dos best sellers “A Era das Revoluções”, “A
Era do Capital” e “A Era dos Impérios”) é conhecido como criador da história social, uma
interpretação dos fatos históricos ao gosto socialista.
Mais uma vez, sou obrigado a citar, oportunamente, o genial romance de George Orwell,
1984: se todos os registros contam o mesmo conto, então a mentira passa a ser a história e
se torna verdade. “Quem controla o passado”, diz o slogan do partido, “controla o futuro:
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quem controla o presente controla o passado”. O passado, ele refletia, não foi meramente
alterado, ele foi, na verdade, destruído. A história toda é um palimpsesto 86, raspada e
reescrita tantas vezes quantas se mostrou necessário. E uma vez procedida à adulteração,
não é mais possível provar que qualquer uma tenha sido feita. Pode ser muito bem que
literalmente cada palavra nos livros de história, mesmo aquilo que é aceito sem
questionamento, seja pura fantasia. Tudo desapareceu em meio à névoa. O passado foi
apagado, o apagamento foi esquecido, a mentira se tornou verdade87.
O modelo de Estado fascista pensado por Gentile aliava-se à ideia de conformação das
vontades individuais e de prevalência total do público sobre o privado, do coletivo sobre o
individual. Todas as instituições da sociedade civil que atuavam ao largo da organização
estatal deveriam ser reprimidas; todos os valores humanos (legais, morais, éticos,
espirituais), todas as esferas da vida do cidadão (econômica, social, cultural, religiosa)
deveriam atuar sob subordinação do Estado.
86
Palimpsesto (do grego antigo palímpsêstos = “aquilo que se raspa para escrever de novo”) designa um pergaminho
ou papiro cujo texto foi eliminado para permitir a reutilização. Tal prática foi adotada na Idade Média, sobretudo entre
os séculos VII e XII, devido ao elevado custo do pergaminho. A eliminação do texto era feita através de lavagem ou,
mais tarde, de raspagem com pedra-pomes. A reutilização do suporte de escrita conduziu à perda de inúmeros textos
antigos – desde normas jurídicas em desuso até obras de pensadores gregos pré-cristãos. A recuperação dos textos
eliminados tem sido possível em muitos casos, através do recurso a tecnologias modernas (Fonte: Wikipédia).
87
“If all records told the same tale—then the lie passed into history and became truth. ‘Who controls the past,’ ran the
Party slogan, ‘controls the future: who controls the present controls the past.’” (p. 27) “The past, he reflected, had not
merely been altered, it had been actually destroyed.” (p. 28) “All history was a palimpsest, scraped clean and
reinscribed exactly as often as was necessary. In no case would it have been possible, once the deed was done, to
prove that any falsification had taken place.” (p. 31) “It might very well be that literally every word in the history books,
even the things that one accepted without question, was pure fantasy. […] Everything faded into mist. The past was
erased, the erasure was forgotten, the lie became truth.” (p. 58) (Orwell, George. 1984. Houghton Mifflin Harcourt.
Edição do Kindle) (Tradução própria... e não reclame, dando para entender é a conta...)
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A vontade da
nação
prevalece
sobre a do
indivíduo
O Estado
Fascista
abarca a
Nada pode
TUDO
estar fora do
âmbito do
Estado
Qualquer governo, por mais poderoso que seja, não consegue se sustentar apenas pela
força: a noção de legitimidade e o consentimento popular são fundamentais. A visão
mecanicista de Estado como a força a serviço da classe dominante (tão ressaltada por
Engels) é estreita e deixa de perceber elementos fundamentais da disputa pelo poder.
Assentando essa percepção apurada como premissa, Gramsci revisou radicalmente o
pensamento marxista, preparando-o para os desafios da modernidade no Ocidente.
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Com uma leitura da realidade de perspicácia acima da média, Gramsci notou que uma coisa
era fazer revolução socialista no Império Russo do início do século XX, cujos cidadãos
(russos, bielo-russos, ucranianos, polacos e germânicos) sequer formavam uma unidade
(60% não falavam russo), outra coisa era implementar um sistema coletivista em uma
sociedade como a inglesa, a italiana, a francesa, em que a individualidade era acentuada
(arraigada por séculos) e os princípios legados pela civilização judaico-cristã haviam deixado
marcas profundas.
Nesses países, a luta de classes NÃO podia ser travada apenas no campo político (muito
menos militar), mas também (e principalmente) no campo social, cultural, educacional.
Daí a necessidade de se criar intelectuais orgânicos, pessoas que não só pensassem como
também participassem da construção e da formação dos significados culturais e
informacionais da população (escritores, juristas, professores, jornalistas, religiosos,
artistas...). Ou seja: o esquema era conseguir fazer com que pessoas influentes
espalhassem as ideias socialistas, de maneira que fossem adotadas pelas massas e
(re)disseminas sem resistência.
Quem faz a revolução são os intelectuais: deixem os quartéis em paz e tomem as escolas,
as universidades, as igrejas, os teatros, a imprensa...
Toninho (como podemos chamá-lo carinhosamente) foi prodígio em entender que o Estado
(como poder público) NÃO pode ser reduzido ao governo se quisermos avaliar e influenciar
seus desdobramentos. Há pelo menos duas esferas: a sociedade política e a sociedade civil
(Estado ampliado).
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Se você ainda não está entendo completamente onde está o ponto de atrito entre as
teorias de Marx e Gramsci, esclareço. Algumas (para não dizer todas rsrsrs) as previsões de
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Mais do que sugerir um socialismo reformista (gradual), Gramsci propôs a mudança radical
do foco da batalha, saindo do campo dos fatores político-econômicos para invadir o campo
da dominação ideológica. Ele aperfeiçoou a dialética marxista ao conceber que o poder da
classe dominante não reside apenas no controle dos aparatos políticos, econômicos e
repressivos. Se fosse, seria mais fácil modificar a ordem das coisas, pois a força pura e
simples sempre pode ser desafiada.
Esse gênio (do mal? kkkk) ressaltou que o principal aspecto de consolidação do poder é a
hegemonia cultural, exercida por intermédio, principalmente, do controle do sistema
educacional, das instituições religiosas e dos meios de comunicação, o que atua de forma
“silenciosa” (sem gerar alardes, inibindo a potencialidade de oposição) e duradoura
(impõe-se às gerações do futuro, reduzindo as chances de reversibilidade).
Como se fazer esse controle? Infiltrando intelectuais orgânicos (comprometidos com o
socialismo) nesses espaços. Esse é o modo de implodir o sistema capitalista de dentro para
fora, derruindo-o por suas próprias instituições. Impressionante, não?
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SUPERESTRUTURA
Cultura Economia
INFRAESTRUTURA
Economia CULTURA
Agora você entendeu o porquê da Revolução Cultural promovida por Mao Tsé-Tung?
No Brasil, em que pese a ditadura militar (1964-1985) tenha sido posicionada sempre à
direita (mesmo que sua política econômica e social tenha traços claros de intervenção e
coletivismo), com a abertura, em meados da década de 1980, o cenário político
imediatamente se mostrou fortemente alinhado à esquerda. Como explicar isso? Simples:
GRAMSCI.
Já a partir da década de 1960, com ou sem repressão, as universidades vinham sendo
tomadas por pensadores de inspiração marxista, o mesmo ocorrendo com as escolas, a
mídia (escrita e falada), o mundo cultural em geral (cinema, televisão, teatro, dança, artes
88
Nas palavras de Millôr Fernandes: “o comunismo é como um alfaiate que quando o terno não serve faz alterações no
cliente”
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plásticas...) e até mesmo as igrejas (a Pastoral da Terra é apenas um exemplo). Hoje, ao que
parece, o autor italiano estaria satisfeito com o cenário ideológico brasileiro.
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Ora, se os donos da Kodak, que tinham tudo a perder e sabiam tudo sobre o seu nicho de
negócios, não conseguiram ler bem as intrincadas informações disponíveis (erraram) e
foram à falência, como podemos acreditar que um bando de burocratas (o Estado) possa
conhecer todos os ramos e dirigir, de cima, a economia INTEIRA com sucesso? Isso é
IMPOSSÍVEL.
Hayek torna pública a constatação óbvia (não é de hoje que precisamos falar o óbvio e ele
ainda soa estranho) de que o planejamento central estava fadado ao fracasso porque os
planejadores (supostos magos da administração e da economia) jamais têm acesso a todas
as informações necessárias para acompanhar as mudanças sociais, de mercado, das
necessidades dos indivíduos. Seria um delírio imaginar que esses administradores possuem
consciência de tudo (onisciência divina) e capacidade de atender a tantas necessidades
individuais distintas e mesmo contraditórias.
Quem já jogou SimCity sabe do que estamos falando: as usinas pegam fogo, as estradas
ficam esburacadas, o dinheiro acaba, sobra aqui, falta lá... esse negócio de administrar uma
cidade inteira com economia planificada é para lá de complicado... imagina só um país
inteiro. Mas talvez seja isso mesmo, há algo de mágico, um desejo humano irrefreável de
poder, de dirigir os demais, de marcar o nome na História como grande líder... ou talvez
seja mais simples... e a ideia seja lucrar, mantendo os benefícios concentrados em uma
elite privilegiada, enquanto o povo trabalha amarrado a um sistema espoliador. O que você
acha?
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A História nos oferece exemplos hilários de como o planejamento central pode dar
muitooo errado – e todos os cidadãos pagam a conta, não apenas o empresário
malsucedido (o que aconteceria no modelo de economia de livre-mercado).
Na década de 1960, o primeiro-ministro de Gana, Kwame Nkrumah (um dos queridinhos do
Pan-Africanismo), colocando adiante seus planos de modernizar e industrializar o país,
determinou a construção de uma fábrica de mangas enlatadas (a maior do mundo), com
capacidade para processar 7 mil toneladas por ano. Só que, quando a fábrica estava pronta,
os gênios do governo perceberam que não havia mangueiras na região. Foi preciso plantá-
las e esperar quase uma década para colher o primeiro fruto auahuhauuhaahua (é de
chorar de rir). E não terminou por aí! Quando a produção começou, notaram que a
demanda MUNDIAL do produto era menor do que a produção da fábrica, sem contar os
concorrentes. Falam as más línguas que os ganeses estão comendo manga enlatada em
três refeições diárias (mentira, com governos desse tipo, os pobres coitados nem tem o que
comer).
E antes fosse uma questão apenas financeira (e tivéssemos de suportar a pobreza gerada
pelo fracasso estatal em gerir sua colossal empresa pública)... a interferência do Estado na
economia tem efeitos muito mais profundos – há uma razão lógica para uma das obras de
Hayek ser intitulada “O CAMINHO PARA A SERVIDÃO” (1944).
“O controle econômico NÃO é meramente o controle de uma parte da vida que pode ser
separada do restante; é o controle dos meios para TODOS os nossos fins”
A brecha entre a economia planejada e o livre mercado não é somente uma questão
econômica, mas um aspecto fundamental de liberdade política. A concessão do
planejamento central da economia carrega consigo o poder de administrar as vontades, de
ditar as necessidades – um plano econômico amplo, passo a passo, avança sobre as
escolhas individuais, sufocando-as. No final dessa alameda encontra-se o TOTALITARISMO.
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O planejamento central da
Os livres mercados atendem às
economia ignora as necessidades
necessidades dos indivíduos...
individuais...
Nas palavras de Gerald Ford (38º Presidente americano): “um governo grande o suficiente
para lhe dar tudo o que você quer é forte o bastante para tirar tudo o que você tem”.
Hayek ainda observa que há uma tensão ética e prática entre a centralização da economia
e o sistema democrático: os planos econômicos estatais, mesmo quando pretensamente
voltados a beneficiar a todos, possuem tantas questões políticas-chave, as quais precisam
ser delegadas a tecnocratas não eleitos, que, em última instância, o programa é
antidemocrático. E mesmo que assim não fosse, ninguém é qualificado para exercer o
poder ilimitado (absoluto), nem mesmo o povo.
“Entendi, Jean, mas qual o papel do Estado, então?” Na visão de Hayek, cumpre ao governo
a manutenção do Estado de Direito, com o mínimo de interferência possível na vida das
pessoas. O Estado deve ser uma associação civil que oferece uma área segura, dentro da
qual cada indivíduo pode desenvolver seus próprios projetos.
E onde fica a igualdade? Como combater a pobreza? A igualdade deve ser perante a lei,
não forçada pela lei. A pobreza e a riqueza são situações da vida que envolvem os
indivíduos e suas escolhas e ações. De toda forma, o livre mercado concede incentivos para
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que todos busquem ser o melhor possível e alcancem benefícios que lhes permitirão ter
uma boa vida. A liberdade enriquece a nação como um todo. Parece pouco? O Estado deve
intervir para forçar a igualdade? Essa ideia não ficará sem consequências... “uma
reivindicação por igualdade material só pode ser satisfeita por um governo com poderes
totalitários”.
Aposto que você nunca tinha ouvido falar sobre Hayek ou, se é que ouviu, pouco sabia
sobre ele. Pois é... não é de se surpreender... o Brasil é reduto gramscista e a teoria
austríaca não encontra muita simpatia nessas terras tupiniquins...
Por vários anos, os avisos contra a farra com o dinheiro público foram complemente
desprezados (e em parte ainda o são, por diversas questões, inclusive o interesse de
políticos e de megaempresários, que lucram muito com governos agigantados). Vários
Estados caíram no canto da sereia da teoria de John Maynard Keynes89 (criticada
severamente pelo austríaco) e realizaram gastos públicos massivos. O resultado veio, a
galope, na forma de déficits nos orçamentos e crise econômica generalizada90.
89
O economista britânico John Maynard Keynes defende que o modo de se lidar com as crises econômicas é a
intervenção governamental em larga escala, especialmente mediante gastos públicos.
90
Quer rir um pouco? E aprender ao mesmo tempo? Boa! Confira a paródia “Luta do século - Keynes x Hayek”:
https://goo.gl/CgCMpb. Gostou? Tem o “Segundo Round”: https://goo.gl/61T6jx.
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No início da década de 1970, alguns governantes, desesperados com a situação crítica (em
meio à crise do petróleo), voltaram seus olhos à obra liberal da escola austríaca. A
recuperação econômica dessas nações chamou a atenção da academia dorminhoca. Em
1974 veio o reconhecimento: Hayek recebeu o Prêmio Nobel – ainda assim, continua a ser
praticamente ignorado no Brasil, até mesmo nos cursos de Economia... Por que será?
Olhe à sua volta. Prédios. Casas. Pessoas caminhando para lá e para cá. Todos subordinados
às leis. Agora ligue a TV. Notícias. O STF disse isso. O Presidente disse aquilo. O Congresso
Nacional votou não sei o que. A estrutura estatal nos cerca, nos regula, nos limita. Que
loucura, não? Mesmo após termos vistos tantas ideias (de anarquistas a socialistas, de
liberais a fascistas)... do nada de Estado ao tudo de Estado... ainda fica aquela sensação da
dúvida. Por que submetemos nossa vontade ao império e ao poder do Estado? Por que, e
em que medida, devemos nos sacrificar pela instituição estatal? Você se sente
incomodado? Essas as questões aporrinhavam tanto Jellinek, que ele precisou sentar e
tentar respondê-las – não conseguia mais sequer dormir...
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Ao tentar dar solução aos problemas que se colocavam diante de si, Jellinek sistematizou as
justificativas historicamente apresentadas para a existência do Estado: (a) teológica =
conforme o evangelho de São Lucas, Deus concedeu à Cristandade duas espadas para o
combate do mal: a espada espiritual (Igreja – Papa) e a espada terrena (Estado –
Monarca)91; (b) força = o Estado é o domínio dos fortes sobre os fracos, é um poder natural
inescapável, como o calor do Sol, os movimentos da Terra e o fluxo e refluxo dos mares”;
(c) jurídica = o Estado deriva de uma ordem jurídica que lhe precede e é superior, noção
que se subdivide em patriarcal (a base estatal é a família), patrimonial (o cerne do Estado é
a defesa da propriedade) e contratual (os homens voluntariamente aderem a uma união
social); (d) ética = o Estado é obra da necessidade moral; (e) psicológica = o Estado é uma
formação natural, um produto do espírito ou um fato histórico, determinado por certos
impulsos humanos (como o impulso social, a tendência à utilidade e o medo).
Isoladamente, para Jellinek, nenhuma dessas teorias de mostra suficiente. O Estado, na sua
forma concreta, na variedade de suas manifestações históricas, somente pode ser
justificado mediante os fins que executa – a justificação do Estado perpassa
necessariamente a definição da sua finalidade.
91
Lucas 22, 35-38: “E perguntou-lhes: Quando vos mandei sem bolsa, alforje, ou alparcas, faltou-vos porventura
alguma coisa? Eles responderam: Nada. Disse-lhes pois: Mas agora, quem tiver bolsa, tome- a, como também o alforje;
e quem não tiver espada, venda o seu manto e compre-a. Porquanto vos digo que importa que se cumpra em mim isto
que está escrito: E com os malfeitores foi contado. Pois o que me diz respeito tem seu cumprimento. Disseram eles:
Senhor, eis aqui duas espadas. Respondeu-lhes: Basta.”
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Jellinek REJEITA tanto a teoria dos fins ampliativos do Estado (teoria eudemonista utilitária,
que pressupõe que a organização política tenha de garantir o bem-estar do indivíduo e da
comunidade), pois esta daria margem a estados absolutistas, policialescos e socialistas,
quanto a dos fins limitativos (mera garantia da segurança e da liberdade), pois ensejaria
que o fim do Estado é a própria limitação do Estado diante da ordem jurídica.
Ele se alinha à teoria dos fins RELATIVOS: além das funções essenciais e limitativas, o
Estado teria o dever inarredável de ordenar e auxiliar as manifestações da solidariedade
social, já que esta seria responsável pela possibilidade de vida coletiva e do próprio
desenvolvimento social.
Com base nessa situação de finalidade, Jellinek propõe que há quatro posições (status) em
que um indivíduo pode estar em relação ao Estado: passiva, ativa, negativa e positiva. Este
é o ponto de sua obra mais cobrado em provas.
Quatro STATUS:
c) negativo (status activus civitatis) = representa o espaço que o indivíduo tem para agir
livre da atuação do Estado, podendo autodeterminar-se sem ingerência estatal.
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Você gosta de poesia? Sim? Ótimo! Não? Ihhh, não me xingue Eu sei que este é um
material objetivo, científico, concursístico, mas e quando o negócio (poema) é muito, muito
oportuno, adequado ao momento? Eu não quero ficar aqui descrevendo os horrores da
guerra. Delego esta missão a uma das maiores escritoras que o Brasil já teve o prazer de
produzir.
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É... para nós, que nascemos após a década de 1950, o mundo é de algodão doce. Estamos
sempre reclamando de alguma coisa, mas o fazemos de barriga cheia. Claro que temos
muitos desafios: doenças, miséria, desigualdades sociais, mortes no trânsito, criminalidade,
etc., etc. e etc. Mas, convenhamos, nada disso se compara com o barulho das bombas
zunindo em nossos ouvidos; a ameaça constante de nossas casas serem reduzidas a pó; a
morte de pessoas queridas não como fatalidade inesperada, mas como iminência
irrefreável; a conquista de nosso país por uma nação estrangeira, que marcha sobre
monumentos nacionais falando uma língua incompreensível. É... a guerra é a desgraça
humana em sua face mais perversa.
Imagine-se agora como Nicolas Flamel (o inventor da pedra filosofal e que vive até hoje...
tanto que apareceu em “Animais Fantásticos: os crimes de Grindelwald”). Ele viu tantas
guerras na Europa que não é mais capaz de contar. Hoje vivemos, felizmente, tempos de
relativa (e duradoura?) PAZ.
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Mas isso não quer dizer que não devamos nos preparar para o pior92 (que o diga Carl
Schmitt) – inclusive, recentemente (em 20/12/2018), o anjinho do Vladmir Putin disse
categoricamente (em aviso aos EUA) que não podemos subestimar a possibilidade de uma
guerra nuclear. Durma-se com esse barulho... De toda forma, não estamos falando em
preparação apenas do ponto de vista militar, bélico, mas sim teórico.
As guerras, por maior que tenha o sido o infortúnio impingido, nos ensinaram muito
(teóricos como Hannah Arendt têm tanto a dizer...). Além disso, os horrores verificados ao
final da Segunda Grande Guerra (holocausto e bombas nucleares) nos levam a refletir sobre
os limites éticos da batalha e sua fundamentação (Michael Walzer dedicou parte de sua
vida a isso).
Por último, o terreno do pós-guerra foi remexido, o mundo não é mais o mesmo (o mundo
é outro), o que abre espaço a novas discussões, possibilidades e problemas a serem
resolvidos. Neste capítulo final, avançaremos sobre os pensamentos que surgiram nesse
período marcante da nossa história, fechando a porta do nosso encontro e abrindo as
portas dos novos tempos. Simbora!
92
Enquanto Hitler ascendia ao poder na Alemanha, uma voz solitária bradava que o homem do bigodinho iniciaria uma
nova guerra na Europa. Era preciso se preparam. Com a necessidade de investimentos em outras áreas após a Primeira
Guerra Mundial, poucos lhe deram crédito, alguns até o zombaram. Pois dito e feito! Em maio de 1940, um mês antes
da queda da França, Winston Churchill foi escoltado de seu velho ancoradouro até o comando da frota do país.
Raramente na história tanta responsabilidade recaíra sobre os ombros de apenas um homem: o primeiro-ministro da
última nação livre na Europa inteira (BLAINEY, Geoffrey. Uma breve história do século XX. São Paulo: Fundamento
Educacional, 2008, p. 137-138).
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Aula 03
A vida política de uma nação sempre inclui circunstâncias excepcionais, que devem ser
manejadas.
Segundo a teoria de Schmitt, a lei provê o arcabouço pelo qual se pode gerenciar situações
normais, mas ela NÃO consegue lidar com conjunturas excepcionais – a teoria legal é
distante da prática (sociedade em movimento), não conseguindo resolver com a agilidade e
força necessárias (eficácia) questões em uma sociedade em transformação, marcada por
mudanças sociais inesperadas, que poderiam ameaçar a própria existência do Estado.
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Como corolário, o governante deve estar acima da lei, para que possa decidir (legislar)
diante de situações excepcionais.
Normalidade Excepcionalidade
“Para Schmitt é difícil prever e definir com clareza quais são os limites do
estado de exceção. É certo que uma Constituição pode até mesmo prever a
competência do governante durante o período de exceção. Todavia, NÃO pode
determinar com toda precisão o limite deste poder soberano. O soberano decide
tanto sobre a ordem que subsiste no caso extremo de emergência, quanto sobre
as ações que devem ser realizadas para superar o caos, trazendo de volta a
normalidade. Ele está fora do ordenamento jurídico normalmente vigente e,
entretanto, pertence a este, pois cabe a ele a competência para decidir se a
Constituição in toto pode ser suspensa”94.
93
SCHMITT, Carl. Teologia Política. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.
94
MACEDO JÚNIOR, Ronaldo Porto. Carl Schmitt e a fundamentação do direito. São Paulo: Max Limonad, 2001, p. 137.
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Não por outra razão nosso querido autor apoiou o nazismo até o
fim – mesmo expulso do partido e preso após a guerra, jamais
renegou as ideias que o aproximaram de Hitler. Sua lógica era
simples: a sobrevivência do Estado é mais importante do que a
liberdade e, algumas vezes, até mesmo a vida dos indivíduos.
Para o desespero dos estudiosos, Schmitt descreveu “A Noite das
Facas Longas” (1934), quando 85 oponentes de Hitler foram
assassinados, como a “forma mais elevada de justiça
administrativa”. Ou seja: o Fünher estava apenas agindo (legítima
e corretamente) como soberano ao garantir a ordem no Estado. É
mole ou quer mais?
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Uma das questões mais palpitantes da atualidade vem sendo ignorada por alguns teóricos
políticos, uma vez que envolve o ingresso em um campo minado: a RELIGIÃO.
Segundo o instituto americano de
pesquisa Pew Research Center, a
população muçulmana na Europa pode
triplicar até 2050, o que franqueia o
púlpito a um debate acalorado. Há quem
não veja qualquer problema nisso, afinal,
qual é o problema mesmo? Mas há quem
diga que a cultura europeia está
seriamente ameaçada de extinção e
compare o evento às invasões bárbaras ao
Império Romano no século V – que
acabaram criando as condições para a transformação total do modelo social (ensejaram o
Feudalismo). Isso sem falar nos atos terroristas cometidos pelos extremistas... o assunto é
para lá de tormentoso.
O cerne (núcleo) do problema é orbitado por dois pontos (elétrons): (a) uma das
características para se identificar uma religião é que ela busca convencer os demais de que
a sua visão de mundo é a correta (arregimentar fieis), ou seja, tenta se colocar como
entidade única de leitura da realidade; (b) a religião islâmica NÃO admite lei fora da sharia
– não há separação entre a religião e o Estado (direito), de modo que todas as leis devem
ser fundamentadas nas escrituras sagradas (Alcorão). A conclusão é que, uma vez que a
população muçulmana se torne maioria em certo local, e venha a assumir (de algum
modo) o poder político, a sharia (lei religiosa islâmica) é estabelecida como lei única95.
95
Dando bobeira pelo YouTube, encontrei alguns vídeos (por alguns questionáveis, mas certamente assustadores)
sobre o assunto: https://goo.gl/Uoy4Dw (A Sharia na Europa); https://goo.gl/Uh3oLS (Islamismo espalha ódio na
Europa com a implementação da Sharia); https://goo.gl/oH4C8R (Patrullas de Sharia en Europa) e
https://goo.gl/NvZy3S (Germany Enforces Sharia Blasphemy Laws).
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modo de governo, seu sistema jurídico) com uma população majoritariamente muçulmana.
Só que, em meio à acesa polêmica sobre a liberdade religiosa, a não discriminação, a
garantia de direitos a refugiados, essa discussão essencialmente política é jogada para
baixo do tapete pelos teóricos sérios, que prezam por suas vidas acadêmicas rsrsrsrs (fica
relegada a discussões em blogs, parte da mídia e ao underground).
Para não empacarmos apenas no que é concreto, vamos à teoria (geralmente, fazemos o
caminho inverso... da teoria à prática, mas aqui também vamos da prática à teoria). Nesse
intento, valioso conferir a pregação do filósofo político Abul Ala Maududi.
Syed Abul A'la Maududi Chishti (1903-1979) nasceu na Índia e foi educado
em casa por seu pai (um fervoroso religioso). Iniciou a vida profissional
como jornalista e depois passou a escritor – ganhou fama com “Para
compreender o Islamismo” (1928). Apoiador inicial do nacionalismo de
Gandhi, distanciou-se do Mahatma por cobrar dos muçulmanos indianos
que reconhecessem o Islã como única identidade. Mudou-se para o
Paquistão (de maioria muçulmana), onde chegou a ser preso e condenado
à morte por liderar um levante. A sentença foi abrandada e Maududi
terminou a vida, tranquilamente, em Nova Iorque.
Para Maududi (ou Sr. Mau), o islamismo NÃO é só uma religião, mas um programa
revolucionário. Cabe aos muçulmanos executar esse plano por meio da jihad (guerra
santa). O propósito final do islã é construir um Estado islâmico MUNDIAL, se for preciso
destruindo os que se opuserem a ele.
Unidos por essa ideia, os muçulmanos se tornam politicamente indivisíveis, o que faz com
que os Estados-nação percam a razão de existir. A jihad é uma guerra tanto espiritual como
política: objetiva ao mesmo tempo impor a ideologia islâmica como controlar os recursos
do Estado, para, finalmente, estabelecer o reino de Alá na Terra.
“O islã não tem intenção de confiar seu governo a um único Estado ou a um grupo de
países. A meta do islã é provocar uma revolução UNIVERSAL”.
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...mas um
programa
revolucionário
Os
muçulmanos
devem
executar o
programa...
Para fechar de vez a ideia e não deixar dúvidas: “lutem em nome de Alá e
segundo Alá. Lutem contra aqueles que não acreditam em Alá” (Sunni
Hadith).
96
Charge sagaz de Carlos Latuff, extraída de https://bibliaspa.org/exposicoes/charges-de-carlos-latuff.
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Obviamente, nem todo muçulmano compra a ideia de sair atacando, por meios violentos
ou políticos, os infiéis – há tantos que são (a esmagadora maioria, imagina-se)
louvavelmente rebeldes em seu pacifismo e ainda há pensadores fantásticos, como Ibn
Khaldun. Mas isso não altera o fato de que o Islã se coloca como resposta última à
organização humana, rechaçando a divisão entre o divino e o secular. A vitória do islã como
religião importa, nessa intepretação, na destruição do modelo de pensamento político
ocidental (tudo o que estudamos até agora vira letra morta).
Já no início do século XIX, pensadores como John Ruskin e William Morris demonstravam
preocupação com os impactos da industrialização no meio ambiente. A ideia foi
caminhando a passos de formiga, arregimentando alguns adeptos após a Primeira Guerra
Mundial, com a publicação de estudos científicos sobre a extensão dos danos causados
pelo homem à natureza.
Em 1962 a calmaria estremece de vez com a publicação de “Primavera silenciosa” (um
relato dos problemas ambientais causados pelos pesticidas), pela bióloga marinha
americana Rachel Carson. Tem início, de fato, a guerra verde (nada silenciosa). O
movimento ambientalista ganha voz e corpo e chega ao século XXI como uma agenda
fundamental para os governos.
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Arne Naess seguiu pelo caminho traçado por Carson e incluiu o homem no ecossistema,
em vez de pensá-lo como separado da natureza. Segundo sua ordem de ideias, nós
fazemos parte de um ecossistema complexo e interdependente. Não podemos ver a Terra
como um recurso a ser explorado pelos humanos (consumidores de bens naturais). Nossa
ambição egoísta e ilimitada coloca o planeta em risco.
Algumas das noções de Naess passeiam pelo campo ético, como o desenvolvimento da
compaixão humana em relação aos outros seres – todas as criaturas (animais ou vegetais)
têm direito à vida. Mas há uma parte do seu pensamento que trouxe importante
contribuição para a seara política.
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E Naess não para por aí. Segundo ele, a ecologia rasa (crença de que os problemas
ambientais podem ser resolvidos pela adequação do modelo capitalista de produção
industrial) está fadada ao insucesso, pois centra sua ótica no ser humano. Não que ela não
tenha qualquer valor, mas é capaz apenas de soluções superficiais. Ao conceber a
humanidade como um ser superior dentro do ecossistema, deixa de reconhecer a
necessidade de reformas sociais mais amplas.
A natureza não aguenta o ritmo do progresso humano. Na busca de saciar seus desejos
incontroláveis, o homem vem alterando o delicado equilíbrio da natureza, o que pode
conduzir não apenas a danos ambientais irreparáveis como à própria destruição da raça
humana.
Ele propõe, então, a ecologia profunda, uma substancial reforma do comportamento do
homem e do modelo organizacional da sociedade: precisamos compreender que a natureza
possui um valor intrínseco e que os seres humanos somente habitam a Terra, não são os
donos dela. Ao usarmos os recursos naturais, temos de fazê-lo de modo que preservemos
toda a vida existente no planeta.
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Ao que se percebe, a ecologia é um tema mais atual (palpitante) agora do que na época em
Naess escreveu. A recente saída dos EUA do Acordo de Paris estremeceu o mundo político
e revoltou pessoas comuns do povo (de japoneses a esquimós, de indígenas a aborígenes).
É... o ambientalismo está na ordem do dia e, para muita gente, virou praticamente uma
religião.
Só que aqui, amig@s, estamos no mundo da zetética. Gostamos é de gerar controvérsia...
viemos para causar discórdia
Como contraponto, apresentamos as opiniões minoritárias que questionam a catástrofe
ambiental antropogênica (provocada pelo homem). Apenas de modo ilustrativo, o
documentário “A grande farsa do aquecimento global” 97, produzido pelo Channel 4
britânico, traz uma leitura alarmante da realidade: Paul Driessen, autor do livro “Green
Power, Black Death” (“poder verde, morte negra”), assevera que as políticas que buscam
supostamente evitar o aquecimento global estão tendo um desastroso efeito sobre as
pessoas mais pobres do mundo. Dizer ao Terceiro Mundo que somente podem usar energia
solar ou eólica (instável e três vezes mais cara) é o mesmo que lhes dizer: ‘vocês não
podem ter eletricidade’, com todas as malesas daí decorrentes. A variável ambiental
deveria considerar não apenas os danos da utilização de certo recurso natural, mas
também os danos de sua não utilização.
Em um de seus quadros, o documentário mostra as campanhas ambientalistas pela não
utilização de energia termelétrica a óleo ou carvão na África ‒ a despeito das grandes
reservas desses minérios no continente. Nas palavras do economista queniano James
Shikwati: “alguém está interessado em matar o sonho africano, e o sonho africano é se
desenvolver. Mas como se poderia promover, nos países mais pobres do mundo, a
industrialização movida a energia solar?” Patrick Moore, cofundador do Green Peace
97
Confira o documentário legendado (The great global warming swindle) em: https://goo.gl/aNgEqb.
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endossa a crítica: “o movimento ambiental tem se transformado na maior força que existe
contra o desenvolvimento dos países em desenvolvimento” – é do interesse das nações já
desenvolvidas que não haja novos atores concorrenciais no mercado internacional: o
ambientalismo teria uma faceta perversa.
Polêmico, não? Independentemente do mérito (que é negócio para cientista e é difícil de
achar o erro e a razão no meio de tantos interesses), a parte mais valiosa do programa é
demonstrar que todos aqueles que ousam questionar as conclusões do vigoroso
movimento ambientalista atual são rapidamente esmagados (perdem o emprego, a
credibilidade, o financiamento de suas pesquisas...). E onde não tem debate...
Se ficou curios@ com essas teorias (da conspiração?), há vários vídeos na internet do Prof.
Ricardo Augusto Felício98, um professor brasileiro da USP que costuma questionar o
aquecimento global e que o homem tenha influência sobre o clima do planeta. Em uma
entrevista, inclusive, ele confessa que vem sendo perseguido pela academia (não conseguiu
se tornar livre docente e teve seu salário drasticamente reduzido), o que não é surpresa:
uma pesquisa conduzida pela Universidade de Oxford (Inglaterra) descobriu que a
imprensa brasileira é a que menos dá voz aos céticos das mudanças climáticas provocadas
pelo homem99.
E você, o que acha? O ponto é da mais ressaltada relevância (advirto). É como se perguntar
se Deus existe... se ele existe, melhor que você escute os padres, pastores, pregadores...
porque senão a coisa vai ficar feia para o seu lado na eternidade; agora, se ele não existe, aí
tem muita gente dedicando a vida à religião sem razão. O mesmo se diga do
ambientalismo: se os pregadores da catástrofe ambiental estão com a razão, amig@,
melhor que tomemos jeito, ou vamos acabar ficando sem planeta e ainda não temos
alternativa viável (esperando o Elon Musk dar um jeito nisso); mas se o furor ecológico é
balela, tem muito país deixando de se desenvolver, muita gente sem eletricidade por
nada... estamos matando o sonho africano sem razão verdadeira.
O que temos de ter em mente é que em qualquer movimento da amplitude do
ambientalismo, há o risco de imperar (e de turbar a verdade dos fatos) o jogo político-
econômico (devemos estar sempre atentos a ele). Há quem diga que vivemos um momento
histórico em que gradativamente passamos de uma biopolítica (controle do Estado sobre o
corpo humano) para uma bioecopolítica – ao tempo em que se aprofunda o poder sobre a
vida, avança-se sobre um novo polo: o ecossistema. Nem o corpo como máquina, nem o
corpo como espécie; o objeto de seu controle é o corpo como planeta 100. Todo cuidado é
pouco...
98
Veja ele no Jô Soares: https://goo.gl/Yn6yhf.
99
Confira a reportagem: https://goo.gl/Zhq4oc.
100
BOTH, Vlademir. O biopoder e o discurso dos direitos humanos: um estudo a partir de M. Foucault. 2008. 121 f.
Dissertação (Mestrado em Filosofia) Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, São Leopoldo, 2008, p. 109.
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John Rawls dedicou sua vida a estudar a justiça. E para fazer isso ele adentrou ao âmbito
político (mais do que costumam fazer os autores que tratam sobre o tema). Isso porque,
segundo seu entendimento, a justiça não se aplica apenas às relações interindividuais, aos
fatos do cotidiano, muito pelo contrário, seu campo principal está nas instituições sociais –
ao focar na justiça redistributiva e nos parâmetros para a distribuição de direitos e deveres
pelos organismos sociais, Rawls modificou o papel do governo e proveu forte fundamento
teórico às ações afirmativas.
Pelo contrato,
os indivíduos
devem ser A igualdade é A base da
A chave para tratados com As instituições
obtida
IGUALDADE são justas se sociedade
uma sociedade mediante
acessíveis a
melhor na instituições está em
TODOS e
adequação do
sociais justas
distributivas INSTITUIÇÕES
contrato social SOCIAIS
justas
Vamos ilustrar. A tenista russa Maria Sharapova (cuja fotografia, por exclusivo interesse
científico-filosófico, colaciono abaixo) é um atentado contra a justiça! A mulher é gata e
dotada de grande habilidade atlética (muito valorizada atualmente). Jogando tênis, ficou
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rica e influente. Aí não tem como tolerar! É preciso dar um jeito de compensar tantos
“privilégios” ou de fazer com que os frutos que ela colhe sejam socialmente
compartilhados, ora essa... E para as meninas, que talvez estejam questionando o fato de
eu não ter usado o David Beckham como exemplo, digo que é lógico que eu não colocaria
aqui uma imagem daquele feioso, fedido e metido a boleiro.
Bem, concentrando-se novamente após admirar por alguns instantes a fotografia supra ,
cabe concluir que é por isso que, na teoria rawlseniana, os princípios de justiça NÃO se
pautam na moralidade individual das pessoas, mas se voltam a instituições sociais que
possam corrigir as desigualdades por meio: (a) de serviços públicos (especialmente
educação) e vantagens razoáveis (tributação escalonada) em favor dos menos favorecidos;
(b) da abertura de cargos públicos e mesmo posições na iniciativa privada para TODOS
(quer seja por meio de cotas); e ainda (c) pela concessão de amplos poderes políticos
(sufrágio universal com igualdade material de condições para o debate).
O processo de debate e de deliberação prévia são mais importantes do que o próprio voto
em si e dão o verdadeiro valor à democracia. Por isso a necessidade de se garantir uma
igualdade material na dialética pública.
Em suma, não se deve admitir que a sociedade seja construída (que os resultados sociais
sejam distribuídos) por fatores aleatórios como os dotes naturais (força, inteligência,
perspicácia, habilidades artísticas ou esportivas), a fortuna (a sorte, como o nascimento em
uma família estruturada), a riqueza (que abre mil possibilidades), convenções sociais que
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PRIVILÉGIOS INSTITUIÇÕES
EDUCAÇÃO
Inteligência
Pública
Acesso a
Riqueza
TRABALHO
Direito de
Poder
DEBATE e VOTO
Rawls acredita que esses princípios (liberdade como regra e igualdade como fator
determinante, só podendo se empreender pela diferença para beneficiar os menos
desfavorecidos e, por consequência, restabelecer a igualdade estremecida por fatores
aleatórios) permitiriam a CONCORDÂNCIA COLETIVA (todos seriam capazes de
razoavelmente com eles concordar), pois se pautam em uma ideia de justiça baseada na
equidade, não nos interesses individuais.
A propósito, para Rawls a democracia liberal é o melhor modelo político para garantir a
redistribuição dos bens sociais com equidade (justiça). O sistema socialista foca
demasiadamente na igualdade completa, mesmo que essa não traga resultados positivos à
maioria e ainda que a igualização se dê com o sacrifício da liberdade. O melhor seria
mesmo manter o capitalismo e garantir que, onde aparecessem resultados desiguais,
instituições sociais imbuídas de forte senso de justiça pudessem corrigir as distorções.
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Claro que os socialistas não deixariam por menos. Eles criticam a crença de que é possível a
um regime capitalista liberal garantir que os princípios propostos (igualdade e diferença)
sejam realmente cumpridos. Bradam também que o modelo não é aplicável a sociedades
em que as desigualdades sociais já são muito profundas e por demais arraigadas nas
instituições sociais.
Não fosse seu refinamento, Rawls diria que o choro é livre, pois suas ideias, bem ou mal,
tornaram-se alicerce para as sociais-democracias modernas. Ele é, sem sombra de dúvidas,
um dos autores com maior influência nas políticas públicas dos dias de hoje.
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poder capaz de fazer com que os direitos sejam respeitados – admite-se a criação e
organização pública, por exemplo, da polícia e dos tribunais.
Ora, cada pessoa é dotada de uma vida individual, separada do todo, da sociedade. Esse
fato (existência de seres humanos com vidas distintas uns dos outros), concede a cada um
o poder de governar a si mesmo (ser o senhor soberano de si próprio), desde que, em seu
modo de vida, não lese os demais. Não há justificativa plausível para que o homem tenha
sua individualidade desrespeitada, sendo tratado como peça em uma engrenagem social
maior.
A sociedade NÃO é um corpo vivo em que as partes devem ser equalizadas à força; a
sociedade é uma união de indivíduos, cada um de valor inestimável, um fim em si
mesmo.
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O principal livro de Nozick (“Anarquia, Estado e Utopia”) foi escrito com base em um curso
lecionado em parceria (na forma de debate) com Michael Walzer, o qual, logo após a
publicação da obra, tornar-se-ia (eu já falei que adoro mesóclise?) um dos maiores críticos
aos argumentos nela defendidos.
Dando prosseguimento à sua tese, Nozick defende que qualquer forma de Estado diversa
do Estado mínimo é incompatível com os direitos individuais. Quando o Estado promete
ter como base a liberdade, mas, no passo seguinte, constitui um monopólio para si de
alguma atividade (em prol do “bem comum”), acabou de negar o que prometeu defender.
Quando o Estado diz tutelar a propriedade, mas em seguida a espolia para redistribuir
renda, legaliza o roubo institucional. Quando o Estado brada a igualdade, mas sem demora
instaura diferenciações (para equalizar desigualdades), transforma a exceção em regra
jurídica e impede que as pessoas possam, por si mesmas, encontrar formas de vencer as
dificuldades.
Sempre que o Estado abandona seu caráter negativo e protetivo dos direitos básicos,
passando a atuar positivamente, começa a infringir os direitos que jurou proteger.
101
Gostou da charge? Há mais em Charges do Lane: http://chargesdolane.blogspot.com.
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A conclusão é que o Estado deve ser nada mais que a ordem coercitiva para o cumprimento
dos contratos, a proteção contra a força ilegítima e a segurança contra os ataques à
propriedade, à vida e à liberdade (Estado mínimo). Tudo que for além disso (maior do que
isso), em termos de efetiva proteção aos direitos individuais, NÃO pode ser justificado.
Sabe aquele cara que entra na briga não para apartar, mas para bater nos dois
contendores? Esse é o Michel Walzer. Em 1983, ele publicou a obra “Esferas da justiça”, na
qual propôs a noção de “igualdade complexa”, a qual seria capaz de embasar um sistema
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“É muito difícil traçar o limite entre o que sou e o que é meu” (William James)
O problema é que certos bens são predominantes – os indivíduos que os possuem podem
comandar uma vasta série de outros bens. É o caso da riqueza e do poder político. E o pior
é quando esses bens se encontram monopolizados nas mãos de uma pessoa ou grupo de
pessoas, o que gera inevitável conflito social quanto à sua (re)distribuição.
Perdida na complexidade dinâmica das sociedades capitalistas, a igualdade simples vê-se às
voltas em um eterno leva-e-traz, debatendo-se sem conseguir dissolver os monopólios
sobre os bens predominantes (que podem variar, e variam, de cultura para cultura, de
sociedade para sociedade).
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Walzer, então, propõe uma visão revolucionária, um foco totalmente distinto para o
problema. Ele organiza os bens em ESFERAS. Por exemplo: a riqueza não está (não pode
estar) na mesma esfera que a religiosidade: “o dinheiro é inadequado na esfera dos ofícios
eclesiásticos”. Hoje, ficamos indignados ao lembrar do comércio de indulgências na Idade
Média. A venda de terrenos no céu, mais do que estelionato, é-nos uma afronta.
Com base nisso, a igualdade complexa deixa de tentar controlar os monopólios sobre os
bens sociais predominantes. O ataque se dá em outra frente de batalha: busca-se combater
o predomínio, desfazendo-se a capacidade desses bens de comandar bens de esferas
distintas.
Exemplo: não se pode admitir que o dinheiro influencie no ofício religioso. E essa conclusão
não parte de um consenso sobreposto (como advogaria Rawls), em que as pessoas, em
meio ao pluralismo, acordam sobre a imoralidade da prática, mas sim da valoração
inerente ao bem social em questão – como a prática religiosa reside em campo diverso do
mercado, o critério de distribuição de bens baseado no capital não deve ser válido para as
relações espirituais.
A vantagem desse modelo (em relação à igualdade simples) é que ele seria capaz de
trabalhar com eficácia dentro da complexidade inerente a uma sociedade que desenvolve
suas relações em diversas esferas, cada uma com critérios valorativos díspares.
Cada bem deve ser distribuído de acordo com seu significado social e de forma que
nenhum possa dominar ou distorcer a distribuição nas esferas de justiça distintas.
Não gostou do exemplo dado acima? “Mercado x religião” não está com nada? Então
vamos a situações mais presentes na atualidade (de amplo debate público).
Você acha justo que a falta de dinheiro faça com que alguém, trabalhador, morra por falta
de atendimento médico? Ou que alguém com potencial intelectual deixe de receber
instrução em razão de sua ascendência? Em um cenário de igualdade complexa, a etnia ou
a raça e a riqueza não podem importar nas esferas da saúde e da educação. Saca?
Claro que, sem mistérios, essa tese (bem ou mal
redistributiva e interventiva) choca-se frontalmente com
as ideias de Nozick, segundo o qual, entre pessoas
adultas, capazes e conscientes, a liberdade deve reger as
relações. Cada um que se vire! Se quer se entregar à
simonia (compra e venda de favores divinos), que o faça!
Engraçado que, ao ler as propostas de Nozick, de maneira
nua e crua, ainda nos espantemos com sua “dureza”.
Mas, na prática, vemos isso todos os dias. É o caso de
algumas igrejas evangélicas, em que há franca monetarização das relações. O que o Estado
faz para impedir tais práticas? Nada! A liberdade religiosa vem servindo de escudo eficiente
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para que surjam até mesmo “empresários da fé”, alcunha que foi dada ao Pastor Edir
Macedo.
Seria esse o preço que cobra (o ônus de) um sistema real de liberdades? Talvez...
Walzer tenta reforçar aquilo que Rousseau havia afirmado no século XVIII: é possível que
igualdade e liberdade caminhem juntas. Para ele, o regime de igualdade complexa é o
inverso da tirania, pois impede que o monopolista de um bem predominante controle a
distribuição de outros bens em seu próprio benefício e instale o ciclo vicioso dos privilégios
(monopólio dos bens predominantes): riqueza leva a melhores posições sociais, que
carregam ao poder político, que permite a organização do sistema de modo a franquear a
acumulação de riqueza nas mãos da elite, que lhes garante riqueza, que dá a seus filhos
educação de qualidade, o que lhes abre melhores oportunidades, o que lhes traz riqueza...
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RIQUEZA EDUCAÇÃO
RIQUEZA
Terminou? Poderíamos parar por aqui, mas vamos aproveitar que Walzer é um dos grandes
teóricos do direito de guerra para construir uma espécie de apêndice sobre o tema:
GURRAS justas x injustas.
“Jeannnn. O que tem a ver guerra com política?” TUDO! Nas palavras de Carl Von
Clausewitz: “a guerra é a continuação da política por outros meios”. Para o vitorioso, o
armistício encerra um duelo de grande escala em que a força obriga o inimigo a ceder à
vontade prevalente; para o derrotado, resta retornar à política ordinária para minorar os
danos sofridos na batalha. Em seu cerne, a guerra envolve sempre um objetivo
primordialmente político (quer seja a salvação da nação, a manutenção da soberania, a
imposição da independência).
Dito isso, indago: considerando os preceitos humanistas que regem a contemporaneidade,
é possível, em alguma hipótese, justificar a guerra? Quer dizer: vestir uniformes e sair
matando pessoas do lado inimigo (às vezes, civis inocentes) em prol de um objetivo
político... E ainda que admitida essa possibilidade, quais condutas são aceitáveis no campo
de batalha? Em sua obra “Guerras justas e injustas” (1977), complementada por “War and
justice” (2001), Michael Walzer traçou os elementos básicos para a justificação de uma
guerra e as ações que podem ser consideradas admissíveis em meio ao conflito.
Claro que ele não foi o primeiro. As guerras fazem parte da história da humanidade. São
parte relevante, bastando ver que, mesmo no Brasil, que teve participação apagada nos
maiores conflitos e poucas batalhas próprias, gastamos vários semestres na escola a
estudar esses eventos.
Santo Agostinho foi um dos primeiros a se aventurar pelo assunto. Ele afirmou que a
defesa contra agressões e a busca da restauração da paz é mais do que uma necessidade, é
um imperativo para justificar a guerra (com remorsos e como último recurso).
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São Tomás de Aquino, por seu turno, é o responsável pela base moderna da teoria de
guerra justa (jus ad bello), que depende, segundo ele, de três fatores: (a) intenção correta;
(b) autoridade do soberano; e (c) causa justa. A declaração, destarte, deve ser feita pela
autoridade legítima e ter como objetivo principal a garantia da paz – a guerra jamais pode
ser lutada visando ao ganho particular (como a guerra de conquista). Ademais, deve ser
defensiva, não preventiva.
Walzer aproveita o aporte e sacramenta: a guerra, em certas circunstâncias, é necessária.
Só que as condições para o combate estão sujeitas a fortes limitações morais e éticas.
Normalmente, não se pode atacar alvos civis (o foco deve ser sobre as bases militares), há
o tempo consensual para recolhimento dos corpos (tempo de não agressão), não se deve
executar prisioneiros de guerra (soldados rendidos), é proibido o ataque de médicos e da
cruz vermelha...
A guerra é tão INFERNAL que as restrições morais devem ser afastadas se isso puder
acelerar o final do conflito.
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Eu já citei Game of Thrones (As Crônicas do Gelo e do Fogo) neste encontro? Acho que sim
kkkk Há uma passagem (Batalha do Bosque dos Murmúrios) em que Robb Stark utiliza
parte dos seus soldados (a infantaria) em uma armadilha para atrair os exércitos inimigos
para a sua cavalaria. O resultado foi uma vitória esmagadora e, de quebra, Jaime Lannister
capturado. A questão moral da escolha, porém, não ficou desapercebida: Robb teve de
dormir dali em diante sabendo que havia enviado milhares de homens para a morte.
Saindo das páginas dos livros (e das telas das séries), a vida real não é diferente. Uma das
questões mais polêmicas do Século XX é a utilização, pelos EUA, de armas atômicas no
ataque ao Japão, ao final da Segunda Guerra Mundial. Conquanto a crítica ácida seja
destilada pela grande maioria dos estudiosos, há quem veja nas bombas de Hiroshima e
Nagasaki o exemplo perfeito de aplicação da teoria walzeriana.
102
São Paulo: Leya, 2013, p. 132-133.
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É razoável acreditar que, houvesse uma operação anfíbia rumo a Tóquio, morreriam
muito mais japoneses que as cerca de 200 mil vítimas das bombas atômicas. Só na
invasão ao arquipélago de Okinawa, pelo menos 100 mil civis morreram (um quarto da
população local), além de 70 mil soldados. Depois dessa derrota, prevendo o próximo
passo dos americanos, o exército japonês guardava10 mil aviões camicases, preparava
cerca de 800 mil soldados e instruía mulheres e crianças a lutar até a morte com facas e
espadas.
O país ainda teria de se defender das tropas soviéticas, que talvez tentassem conquistar
Tóquio antes dos americanos. O Japão tinha na época uma população do tamanho da
alemã – cerca de 70 milhões. Caso sofresse uma invasão americana e soviética ao
mesmo tempo, provavelmente teria também o mesmo destino da Alemanha, que
perdeu 10% de sua população durante a guerra, cerca de 7milhões de pessoas. Mas no
fim do conflito as mortes de japoneses ficaram na casa dos 3 milhões.
Talvez a tragédia fosse ainda maior que a da Alemanha, pois nem mesmo os nazistas
eram nacionalistas tão fanáticos quanto os japoneses. Não só pilotos camicases
acreditavam ser honrado sacrificar-se pela pátria – boa parte dos japoneses preferia
morrer lutando a se render. Em Okinawa, milhares de cidadãos, ao perceberem a vitória
dos Aliados, participaram de suicídios coletivos para evitar serem capturados – ou foram
forçados a isso pelos militares.
O nacionalismo japonês era tão forte que, mesmo depois dos ataques nucleares a
Hiroshima, ainda havia oficiais contra a rendição incondicional. Só após o bombardeio a
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Nagasaki, a cúpula militar passou a acreditar que os americanos tinham várias bombas
atômicas e se deu por vencida. Mesmo depois disso, jovens militares se revoltaram para
seguir em guerra. Entre os dias 13 e15 de agosto de 1945, homens liderados pelo
major Kenji Hatanaka, de 21 anos, tentaram dar um golpe de estado para evitar a
rendição, mas foram controlados.
Em 15 de agosto, o imperador Hiroíto pôde, enfim, anunciar a rendição pelo rádio. Seu
discurso continha um dos mais extraordinários eufemismos da história: “a situação de
guerra não se desenvolveu necessariamente para a vantagem do Japão”.
Certamente, haverá, com razão, corações que palpitarão pela desumanidade do ato. Mas
como refere Walzer: na guerra, a desumanidade é nada mais que a humanidade sob
pressão. Resta-nos refletir e, de todas as maneiras possíveis, evitar que o inferno da guerra
se inicie, porque uma vez encetado, os atos que levam a seu desfecho são da pior estirpe.
9 QUESTÕES
Q1. Ano: 2010 Banca: CESPE Órgão: DPU Prova: CESPE - 2010 - DPU - Defensor Público
Federal
De acordo com as concepções teóricas do marxismo, julgue o item seguinte.
Segundo Louis Althusser, o aparelho ideológico de Estado dominante para a burguesia
era a Igreja
Q2. Ano: 2014 Banca: CESPE Órgão: Câmara dos Deputados Prova: CESPE - 2014 -
Câmara dos Deputados - Analista Legislativo
A respeito da teoria política, julgue o item subsecutivo.
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Q3. Ano: 2015 Banca: VUNESP Órgão: Prefeitura de São Paulo - SP Prova: VUNESP -
2015 - Prefeitura de São Paulo - SP - Analista de Políticas Públicas e Gestão
Governamental
É preciso que, pela disposição das coisas, o poder freie o poder. (Montesquieu, O
Espírito das Leis. Adaptado)
A afirmação de Montesquieu, filósofo iluminista francês do século XVIII, indica uma
importante característica das democracias contemporâneas, expressa corretamente
na ideia de
a) dissociação do poder soberano e sua partição com base nas três funções
fundamentais do Estado – a legislativa, a executiva e a judiciária.
b) pertencimento a uma comunidade política nacional, com direitos e deveres comuns
e responsabilidades sobre os poderes constituídos.
c) controle do território por um governo amparado por um sistema legal e com
capacidade de utilizar a força militar para implementar suas políticas.
d) autoridade do governo sobre uma área com fronteiras claras, dentro da qual ele
representa o poder supremo e soberano.
e) autodeterminação dos povos baseada no direito natural das nações que
compartilham uma origem, uma cultura e uma língua comuns.
Q4. Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: MCT Prova: CESPE - 2012 - MCT - Analista em
Ciência e Tecnologia Pleno
Com relação aos modelos de distribuição de poder e às teorias da democracia, julgue
o item seguinte.
Poliarquias são regimes políticos cujas estruturas possuem altos índices de
liberalização, mas não de inclusão.
Q5. Ano: 2017 Banca: IFB Órgão: IFB Prova: IFB - 2017 - IFB - Professor
Ao discutir a Filosofia Política de Maquiavel fica mais fácil compreender as manobras
políticas contemporâneas. O filósofo ao discorrer sobre o “Principado Civil” (O
Príncipe, cap. IX), debatendo os cuidados que se deve ter tendo em vista a forma
como chegou ao poder, afirma:
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Q6. Ano: 2010 Banca: ESAF Órgão: MPOG Prova: ESAF - 2010 - MPOG - Analista de
Planejamento e Orçamento - Planejamento e Orçamento
A discussão sobre os temas centrais da Teoria Clássica formaram a base da moderna
Ciência Política. Assinale a opção correta.
a) No mundo antigo, a ética estava inextricavelmente atrelada à política, pois que o
pressuposto diretor desta era aquele que apontava a associação humana em
comunidades políticas, como algo teleologicamente natural. A divisão entre esfera
pública e privada, no campo político, não estava muito clara, uma vez que a política
era considerada uma extensão dos assuntos particulares.
b) A filosofia política clássica, sobretudo interpretada pelo sistema teórico platônico,
comporta que a finalidade da política é um preceito oriundo da natureza humana,
distinguível pelo logos, em cumprir a excelência virtuosa, por meio de opções e
escolhas que permitam se alcançar o bem comum, sem se preocupar com a essência
das coisas.
c) No Renascimento, o rompimento com o ideal da política clássica se dá com Spinoza,
quando este rechaça a moral cristã como fundamento e finalidade da política,
teorizando a construção de uma "moral própria" da natureza "passional" humana
aplicada ao "como" manter a unidade e logro de um "poder externo" que preveja e
conserve os homens em certa direção, evitando o supremo mal da aglutinação
irracional de uns contra outros.
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d) Bodin justifica que a instabilidade do conviver humano deve ser erradicada por um
poder soberano, indivisível, uno e inalienável, que tenha o condão de evitar o sumo
malus; mas que, sobretudo, seja forte o sufi ciente de modo a evitar a anarquia para
ele, a ameaça de prevalecer as condições objetivas do que denomina Estado de
natureza. Bodin denomina tal Estado de Leviatã.
e) Os contratualistas Hobbes e Rosseau, bem como o precursor da ciência política,
Karl Marx, tiveram seus pensamentos aplicados na estrutura das convenções
modernas e, sobretudo, foram responsáveis pelo projeto político sob o qual se vive
hoje. A concepção de direito natural, no que toca a um código de preceitos dados ao
homem pela razão de assim ser, justificam os limites do império das legislações
normativas contemporâneas, notadamente as Constituições.
Q7. Ano: 2014 Banca: MPE-SC Órgão: MPE-SC Prova: Promotor de Justiça
Analise o enunciado da questão abaixo e assinale se ele é Certo ou Errado.
Na obra de Jean-Jacques Rousseau, nota-se a preocupação com o respeito à vontade
geral dos indivíduos que compõem o Estado, além de uma constante crença na
bondade da natureza humana, ao contrário do que defendeu Hobbes. Para Rousseau
o homem nasce bom, porém, com as disputas existentes no meio em que se encontra
inserido, acaba se degenerando. Enfatizando o valor ao predomínio da vontade
individual, defende que direitos essenciais possam ser renunciados, como a liberdade
e igualdade.
Q8. Ano: 2017 Banca: UFMT Órgão: POLITEC-MT Provas: UFMT - 2017 - POLITEC-MT -
Papiloscopista
"O modelo contratualista [...] é essencialmente um método para dar uma resposta
racional à pergunta que num certo sentido faz unidade com o pensamento político, a
saber: como deve ser organizado um estado legítimo, ao qual todos os cidadãos sejam
obrigados a dar o seu assentimento" (Stefano Petruccini. Modelos de Filosofia
Política. São Paulo: Paulus, 2014.)
A partir das informações do texto, analise as afirmativas.
I - O modelo contratualista apresenta uma contraposição entre um estado de
natureza (pré-político) e um estado civil (político).
II - O estado de natureza, para Thomas Hobbes, é caracterizado como uma "guerra de
todos contra todos".
III - Na concepção lockeana do contrato social, a propriedade privada não constitui um
direito inviolável.
IV - Para Rousseau, no pacto social, o indivíduo abdica de sua liberdade em prol da
segurança de sua vida.
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Q9. Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2017 - OAB - Exame de Ordem
Unificado - XXIV
É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer, mas a liberdade
política não consiste nisso (Montesquieu)
No preâmbulo da Constituição da República, os constituintes afirmaram instituir um
Estado Democrático destinado a assegurar, dentre outras coisas, a liberdade. Esse é
um conceito de fundamental importância para a Filosofia do Direito, muito debatido
por inúmeros autores. Uma importante definição utilizada no mundo jurídico é a que
foi dada por Montesquieu em seu Do Espírito das Leis.
Assinale a opção que apresenta a definição desse autor na obra citada.
a) A liberdade consiste na forma de governo dos homens, e não no governo das leis.
b) A disposição de espírito pela qual a alma humana nunca pode ser aprisionada é o
que chamamos de liberdade.
c) Liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem.
d) O direito de resistência aos governos injustos é a expressão maior da liberdade.
Q10. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: Câmara Legislativa do Distrito Federal Prova: FCC -
2018 - Câmara Legislativa do Distrito Federal - Consultor Legislativo - Redação
Parlamentar
A política não é necessária, em absoluto – seja no sentido de uma necessidade
imperiosa da natureza humana como a fome ou o amor, seja no sentido de uma
instituição indispensável do convívio humano. Aliás, ela só começa onde cessa o reino
das necessidades materiais e da força física. Como tal, a coisa política existiu sempre e
em toda parte tão pouco que, falando em termos históricos, apenas poucas grandes
épocas a conheceram e realizaram. Esses poucos e grandes acasos felizes da História
são, porém, decisivos; é só neles que se manifesta de cheio o sentido da política e, na
verdade, tanto o bem quanto a desgraça da coisa política. Com isso, eles tornam-se
determinantes, mas não a ponto de poder ser copiadas as formas de organização que
lhes são inerentes, e sim porque certas ideias e conceitos que se tornaram plena
realidade para um curto período de tempo, também co-determinem as épocas para
as quais seja negada uma experiência plena com a coisa política.
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(Adaptado de: ARENDT, Hannah. O que é Política? – fragmentos das obras póstumas
compilados por Úrsula Ludz. Tradução de Reinaldo Guarany, 11.ed., Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2013, pp. 50-51)
O texto acima é classificado como parte de uma obra de
a) Ciência Política.
b) História Política.
c) Análise Política.
d) Filosofia Política.
e) Sociologia Política.
9.2 GABARITO
Q1. ERRADO
Q2. ERRADO
Q3. A
Q4. ERRADO
Q5. C
Q6. A
Q7. ERRADO
Q8. D
Q9. C
Q10. D
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Q1. Ano: 2010 Banca: CESPE Órgão: DPU Prova: CESPE - 2010 - DPU - Defensor Público
Federal
De acordo com as concepções teóricas do marxismo, julgue o item seguinte.
Segundo Louis Althusser, o aparelho ideológico de Estado dominante para a burguesia
era a Igreja.
Comentários
Essa é para ficar ligado! Não trabalhamos especificamente as ideias de Louis Althusser. Isso
porque vimos a teoria abrangente de Antonio Gramsci, que segue na mesma linha e tem
maior envergadura e peso histórico. De toda forma, quanto ao autor demandado na
questão, embora a Igreja também seja importante para o desenvolvimento da dominação,
o principal aparelho ideológico do poder é a ESCOLA. Não é à toa que, no Brasil e no
mundo, o marxismo cultural se atirou de cabeça nas instituições de ensino (primeiro
universidades, depois escolas).
Em vista disso, o item está ERRADO.
Q2. Ano: 2014 Banca: CESPE Órgão: Câmara dos Deputados Prova: CESPE - 2014 -
Câmara dos Deputados - Analista Legislativo
A respeito da teoria política, julgue o item subsecutivo.
A partir de uma abordagem marxista, Antonio Gramsci reforçou o sentido da ação
política subordinada às forças materiais e enfatizou a supremacia da estrutura
econômica sobre a superestrutura ideológica
Comentários
Para Marx, a infraestrutura (relações sociais de produção) era base da ideologia dominante,
ou seja, de toda a superestrutura – o proletariado sequer tinha uma ideologia própria, mas
apenas uma falsa consciência. A mudança dessa realidade, então, só poderia ser operada
por um único caminho: a revolução, que extinguiria as relações sociais de produção
capitalistas (infraestrutura) e, por consequência, derrubaria a superestrutura.
Com Gramsci, a teoria marxista ganha uma nova dimensão: a superestrutura passa a ter
importância prevalente sobre a infraestrutura – o caminho seria quebrar a hegemonia que
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o grupo dominante exerce por meio de aparatos considerados privados (igreja, escola,
mídia, etc.).
Alcunhado de marxismo das superestruturas, o modelo de Gramsci atribui um papel
central à ideologia (construída pelas instituições) e, pautando-se no conceito de “bloco
hegemônico”, esclarece que o poder das classes dominantes no seio do modo de produção
capitalista NÃO reside apenas no controle dos aparelhos repressivos do Estado, mas
também no sistema de ideias, doutrinas e crenças de uma sociedade.
Em suma, é na sociedade civil que ocorrerá a revolução silenciosa.
Logo, o item está ERRADO.
Q3. Ano: 2015 Banca: VUNESP Órgão: Prefeitura de São Paulo - SP Prova: VUNESP -
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Governamental
É preciso que, pela disposição das coisas, o poder freie o poder. (Montesquieu, O
Espírito das Leis. Adaptado)
A afirmação de Montesquieu, filósofo iluminista francês do século XVIII, indica uma
importante característica das democracias contemporâneas, expressa corretamente
na ideia de
a) dissociação do poder soberano e sua partição com base nas três funções
fundamentais do Estado – a legislativa, a executiva e a judiciária.
b) pertencimento a uma comunidade política nacional, com direitos e deveres comuns
e responsabilidades sobre os poderes constituídos.
c) controle do território por um governo amparado por um sistema legal e com
capacidade de utilizar a força militar para implementar suas políticas.
d) autoridade do governo sobre uma área com fronteiras claras, dentro da qual ele
representa o poder supremo e soberano.
e) autodeterminação dos povos baseada no direito natural das nações que
compartilham uma origem, uma cultura e uma língua comuns.
Comentários
Não vamos nem ficar aqui tergiversando em circunlóquios desnecessários (falei pouco, mas
falei bonito, não é?). A frase do enunciado é uma flecha de luzes piscando a apontar para a
tripartição das funções estatais. Sem mais!
Em vista disso, a alternativa A é a correta e gabarito da questão.
Q4. Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: MCT Prova: CESPE - 2012 - MCT - Analista em
Ciência e Tecnologia Pleno
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Comentários
Aproveitamos o espaço aqui para tratar de pequenos tópicos que não foram abordados
especificamente no encontro. Fazendo o acabamento. Conferindo os detalhes. Lapidando o
diamante. Pois bem. Poliarquias são democracia no seu mais alto nível de
desenvolvimento. Tendo, portanto, altos índices de inclusão popular.
Em vista disso, o item está ERRADO.
Q5. Ano: 2017 Banca: IFB Órgão: IFB Prova: IFB - 2017 - IFB - Professor - Filosofia
Ao discutir a Filosofia Política de Maquiavel fica mais fácil compreender as manobras
políticas contemporâneas. O filósofo ao discorrer sobre o “Principado Civil” (O
Príncipe, cap. IX), debatendo os cuidados que se deve ter tendo em vista a forma
como chegou ao poder, afirma:
I) o principado é causado pelo povo ou pelos poderosos, conforme haja oportunidade
de agir para uma ou outra destas partes;
II) o povo vendo que não pode resistir aos poderosos, volta a atenção a um, e o elege
príncipe, para poder defender-se com a autoridade dele;
III) aquele que atinge o principado com a ajuda dos poderosos consegue manter-se
com mais facilidade no poder;
IV) aquele que chega ao principado com o favor popular, acha-se só, e tem em torno
de si ou nenhum ou pouquíssimos que não estão preparados para obedecê-lo;
V) do povo inimigo o príncipe nunca pode estar seguro, por serem muitos, ao passo
que pode defender-se contra os poderosos, por serem poucos.
Estão CORRETAS as afirmativas:
a) I, II, III e IV
b) V, I, II e III
c) IV, V, I e II
d) III, IV, V e I
e) II, III, IV e V
Comentários
I = isso! Ao “principado se chega pelo favor do povo ou pela graça dos poderosos”.
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II = exato! O “povo, do mesmo modo, vendo que não resistirá aos grandes, dá reputação a
um cidadão e o elege príncipe para defender-se sob sua autoridade”.
III = nops! “O que sobe ao principado auxiliado pelos grandes, mantém-se com maiores
dificuldades do que o que se elege pelo povo; acha-se aquele que tem muita gente ao
redor que lhe parece igual a ele e por isso não pode comandá-la nem manejar como
quiser”.
IV = perfeito! “aquele que alcança o principado pelo favor do povo, acha-se só e ao seu
redor, ou não tem ninguém ou alguns poucos que não estão aptos a obedecê-lo”.
V = não é exatamente o que está no texto, mas está valendo. “Contra a hostilidade popular,
não pode o príncipe jamais estar seguro, pois são muitos; com relação aos grandes, pode,
porque são poucos. O pior que um príncipe pode esperar do povo hostil é que ele o
abandone. Da inimizade dos grandes, porém, não só deve temer que o abandonem, mas
que também o ataquem, pois estes têm maior alcance de vistas é astúcia maior, e sempre
têm tempo de se salvar, procurando achegar-se dos prováveis vitoriosos”.
Em vista disso, a alternativa C é a correta e gabarito da questão.
Q6. Ano: 2010 Banca: ESAF Órgão: MPOG Prova: ESAF - 2010 - MPOG - Analista de
Planejamento e Orçamento - Planejamento e Orçamento
A discussão sobre os temas centrais da Teoria Clássica formaram a base da moderna
Ciência Política. Assinale a opção correta.
a) No mundo antigo, a ética estava inextricavelmente atrelada à política, pois que o
pressuposto diretor desta era aquele que apontava a associação humana em
comunidades políticas, como algo teleologicamente natural. A divisão entre esfera
pública e privada, no campo político, não estava muito clara, uma vez que a política
era considerada uma extensão dos assuntos particulares.
b) A filosofia política clássica, sobretudo interpretada pelo sistema teórico platônico,
comporta que a finalidade da política é um preceito oriundo da natureza humana,
distinguível pelo logos, em cumprir a excelência virtuosa, por meio de opções e
escolhas que permitam se alcançar o bem comum, sem se preocupar com a essência
das coisas.
c) No Renascimento, o rompimento com o ideal da política clássica se dá com Spinoza,
quando este rechaça a moral cristã como fundamento e finalidade da política,
teorizando a construção de uma "moral própria" da natureza "passional" humana
aplicada ao "como" manter a unidade e logro de um "poder externo" que preveja e
conserve os homens em certa direção, evitando o supremo mal da aglutinação
irracional de uns contra outros.
d) Bodin justifica que a instabilidade do conviver humano deve ser erradicada por um
poder soberano, indivisível, uno e inalienável, que tenha o condão de evitar o sumo
malus; mas que, sobretudo, seja forte o sufi ciente de modo a evitar a anarquia para
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Comentários
Eita questão difícil! Essa é para desafiar geral! Vamos lá, sem desespero!
Assertiva B = “sem se preocupar com a essência das coisas”? Todo o modelo platônico é
voltado à essência das coisas (ideias). O mesmo se diga de Aristóteles, que em um deslize
(perdoável, para quem tanto acertou) chegou a dizer haver escravos por natureza (cuja
essência existencial era servir).
Assertiva C = foi Maquiavel, em 1532 (e não Spinoza) quem rompeu com o ideal da política
clássica (baseada na crença política das ideias inatas e das virtudes).
Assertiva D = essa era fácil. Quem fala em Leviatã é Thomas Hobbes.
Assertiva E = Marx precursor da ciência política? Faz-me rir. Fica para a próxima,
barbudinho.
Assertiva A = no mundo antigo (Grécia, sobretudo), a política se relacionava
intrinsicamente à ética. Sócrates, Platão... todos esses caras tratavam do bom governo
relacionando-o às virtudes morais do governante. É apenas com Maquiavel, e sua obra “O
Príncipe”, que é quebrada essa lógica finalística (ou teleológica, no termo utilizado pela
afirmativa).
Em vista disso, a alternativa A é a correta e gabarito da questão.
Q7. Ano: 2014 Banca: MPE-SC Órgão: MPE-SC Prova: Promotor de Justiça
Analise o enunciado da questão abaixo e assinale se ele é Certo ou Errado.
Na obra de Jean-Jacques Rousseau, nota-se a preocupação com o respeito à vontade
geral dos indivíduos que compõem o Estado, além de uma constante crença na
bondade da natureza humana, ao contrário do que defendeu Hobbes. Para Rousseau
o homem nasce bom, porém, com as disputas existentes no meio em que se encontra
inserido, acaba se degenerando. Enfatizando o valor ao predomínio da vontade
individual, defende que direitos essenciais possam ser renunciados, como a liberdade
e igualdade.
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Para Hobbes, o Estado de Natureza é um estado de guerra contra todos, em que cada um
busca atropelar o outro para satisfazer os próprios desejos. O contrato social surge para
resguardar a paz, mediante a renúncia da liberdade. Já para Rousseau, no estado primitivo
o homem vivia em feliz harmonia. É com o surgimento da propriedade privada que o
conflito se instaura. O contrato social, nesse cenário, tem como função garantir a igualdade
entre as pessoas. O que lasca o item é a seguinte afirmação: “defende que direitos
essenciais possam ser renunciados, como a liberdade e igualdade”. Rousseau adverte que o
homem NÃO se pode renunciar à liberdade (questão ínsita à natureza humana) – não há
compensação possível para que renuncia a tudo e se coloca como escravo.
Logo, o item está ERRADO.
Q8. Ano: 2017 Banca: UFMT Órgão: POLITEC-MT Provas: UFMT - 2017 - POLITEC-MT -
Papiloscopista
"O modelo contratualista [...] é essencialmente um método para dar uma resposta
racional à pergunta que num certo sentido faz unidade com o pensamento político, a
saber: como deve ser organizado um estado legítimo, ao qual todos os cidadãos sejam
obrigados a dar o seu assentimento" (Stefano Petruccini. Modelos de Filosofia
Política. São Paulo: Paulus, 2014.)
A partir das informações do texto, analise as afirmativas.
I - O modelo contratualista apresenta uma contraposição entre um estado de
natureza (pré-político) e um estado civil (político).
II - O estado de natureza, para Thomas Hobbes, é caracterizado como uma "guerra de
todos contra todos".
III - Na concepção lockeana do contrato social, a propriedade privada não constitui um
direito inviolável.
IV - Para Rousseau, no pacto social, o indivíduo abdica de sua liberdade em prol da
segurança de sua vida.
Está correto o que se afirma em
a) II e III.
b) I e IV.
c) III e IV.
d) I e II.
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I = descrição perfeita: estado de natureza (pré-político) e estado civil (político).
II = Hobbes: o homem é o lobo do homem. Logo, no estado de natureza há "guerra de
todos contra todos".
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Q9. Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2017 - OAB - Exame de Ordem
Unificado - XXIV
É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer, mas a liberdade
política não consiste nisso (Montesquieu)
No preâmbulo da Constituição da República, os constituintes afirmaram instituir um
Estado Democrático destinado a assegurar, dentre outras coisas, a liberdade. Esse é
um conceito de fundamental importância para a Filosofia do Direito, muito debatido
por inúmeros autores. Uma importante definição utilizada no mundo jurídico é a que
foi dada por Montesquieu em seu Do Espírito das Leis.
Assinale a opção que apresenta a definição desse autor na obra citada.
a) A liberdade consiste na forma de governo dos homens, e não no governo das leis.
b) A disposição de espírito pela qual a alma humana nunca pode ser aprisionada é o
que chamamos de liberdade.
c) Liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem.
d) O direito de resistência aos governos injustos é a expressão maior da liberdade.
Comentários
Assertiva A = se as leis não servem para nada, o que rege o governo e a relação entre os
homens? Melhor seria então retornar ao estado de natureza...
Assertiva B = muito fresco (poético) para uma obra que cria a ciência política justamente
pelo seu realismo.
Assertiva D = essa seria mais a pegada de Locke.
Assertiva C = exato! No livro décimo, em seu capítulo III, Montesquieu lacrou: “a liberdade
é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; e se um cidadão pudesse fazer o que elas
proíbem ele já não teria liberdade, porque os outros também teriam este poder”.
Em vista disso, a alternativa C é a correta e gabarito da questão.
Q10. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: Câmara Legislativa do Distrito Federal Prova: FCC -
2018 - Câmara Legislativa do Distrito Federal - Consultor Legislativo - Redação
Parlamentar
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Comentários
Para quem marcou a assertiva A: PEGADINHA! A Filosofia tem por objetivo a análise crítica
dos modelos de pensamento em geral. Ela olha os fefômenos de cima de busca atuar
universalmente no que é especializado. O texto de Arendt tem essa característica, pois
ingressa fundo na essência (necessidade) da própria política, sem a tomar como uma
premissa e buscar modelos de organização social (ciência política).
Em vista disso, a alternativa D é a correta e gabarito da questão.
10RESUMO
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POLÍTICA
Política é a atividade na qual os homens deliberam as regras que regerão sua convivência e os objetivos
que buscarão coletivamente.
Política é a organização harmônica da oposição de vontades, influenciada e condicionada por todo o agir do
ser-humano, ao mesmo tempo em que influencia e condiciona esse mesmo agir, em sua totalidade. É arte de
transformar tendências sociais em normas jurídicas (Hermann Heller).
Idade Medieval: escolástica e patrística. Forte ligação da religião com a política (Santo Agostinho, São Tomás de
Aquino, Egídio Romano, Al-Farabi, Ibn Khaldun).
Absolutismo: objetivismo, com quebra da ligação entre política e moral. Discussões que envolvem os limites do
Estado e sua fonte de legitimidade (Maquiavel, Hobbes, Locke e Montesquieu).
Era das Revoluções: as estruturas sociais são completamente alteradas pelas Revoluções Americana e Francesa, que
trazem ao mundo a república presidencialista e os direitos fundamentais. Os autores discutem a possibilidade de se
modificar a sociedade pela atividade política (Rousseau, Bastiat, Burke, Bentham, Kant, Mill).
Embate ideológico: com a publicação do “Manifesto Comunista”, em 1848, os debates da ciência política são
galvanizados para as discussões entre capitalistas e comunistas, bem como subtipos (como Fascismo e Nazismo). A
grande questão é a intervenção do Estado, a liberdade das pessoas e as desigualdades sociais (Tocqueville, Marx,
Anarquistas, Weber, Gentille, Gramsci, Hayek, Jellinek).
Guerra e Pós-guerra: A Segunda Guerra Mundial trouxe para a política não apenas questões relativas ao direito de
guerra, mas também em relação ao âmbito de atuação estatal. A Guerra Fria manteria vivas as chamas do debate e
abriria espaço para discussões acerca de uma sociedade melhor nos tempos modernos (Carl Schmitt, Maududi, Arendt,
Rawls, Nozick, Walzer).
AUTORES
As pessoas mudam pelo exemplo sincero. Assim, o governo tem por obrigação servir
de exemplo, pautando-se por princípios tradicionais (bondade, virtude, fé,
Confúcio
sinceridade), o que invariavelmente levaria o povo a ser bom e a nação à
prosperidade. O líder tem de ser um homem superior.
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(1) Quem governa? Uma única pessoa (monarquia), poucas pessoas (aristocracia),
muitos (politeia). (2) A favor de quem se governa? No interesse próprio (tirania), no
Aristóteles interesse da classe dominante (oligarquia), no interesse de muitos (democracia). A
politeia é o governo de muitos em favor de todos. A democracia (forma
corrompida) é o governo de muitos em favor de muitos.
Razões para os homens não chegarem a uma vida virtuosa: (a) ignorância: o povo
não sabe que a felicidade vem das virtudes; (b) enganação: o povo não entende as
Al-Farabi virtudes; (c) perversão: o povo sabe o que é uma vida virtuosa, mas escolhe não a
seguir (prefere o prazer e a riqueza). O profeta-filósofo pode guiar o povo à vida
virtuosa.
Os governantes não são julgados por sua ideologia ou moralidade, sequer pelas
Nicolau ações que tomam, mas sim pelas consequências de suas ações. O soberano não
Maquiavel pode ser limitado pela moralidade, devendo fazer o que for necessário para alcançar
seus objetivos (manutenção do poder). Os fins justificam os meios.
No Estado de natureza o homem vive uma guerra de todos contra todos. Pelo
contrato social, o homem abdica do direito de violência e confere poder absoluto
Thomas Hobbes
para o governante manter a paz, criando-se o Levitã (poder visível, gigantesco
homem artificial, para proteção da sociedade).
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Para que não se possa abusar do poder é preciso que, pela disposição das coisas, o
poder freie o poder (tripartição dos poderes). Categorização dos governos: (a)
república = o corpo do povo ou apenas uma parte do povo detém a força suprema;
Montesquieu
(b) monarquia = um só governa, mas por meio de leis fixas e estáveis; (c)
despotismo = governo de um só, sem lei e sem regras, tudo sendo arrastado
segundo a sua vontade e os seus caprichos.
Qualquer um que acredite que pode usar seus poderes racionais para destruir a
sociedade e construi-la de novo (melhor e a partir do nada) é tolo e arrogante. O
governo é como um ser vivo, com um passado, um presente e um futuro. NÃO é
Edmund Burke
possível matá-lo e reiniciá-lo. As ideias de direitos abstratos, por sua vez, nada
significam se não forem associadas a situações concretas: a política é a arte do
possível.
Nenhum princípio válido pode ser baseado na felicidade, afinal, ninguém pode
impor o que é felicidade para outra pessoa. NÃO é papel do estado cuidar da
Immanuel Kant
felicidade de quem quer que seja. Cumpre ao Estado garantir a liberdade das
pessoas dentro da lei.
Alex Tocqueville O socialismo ignora as virtudes humanas (como a fraternidade espontânea), destrói
a propriedade (fruto da liberdade) e sufoca o indivíduo, tornando-o mera
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Não precisamos do Estado: o impulso inato nos homens em atender a seus próprios
Murray Rothbard interesses leva aos melhores resultados sociais. A sociedade deve ser regida pela
livre pactuação (sociedade voluntária e autorregulada).
Eu odeio a classe média. Ela dominaria o sistema parlamentar, que ofereceria meios
para que pequenos burgueses medíocres se impusessem sobre o restante da
George Sorel
sociedade. O modo de resolver isso era a violência. A classe trabalhadora deveria
acreditar em mitos políticos (noções irrefletidas) e colocá-los em prática.
NÃO diga eu, diga nós. Os deveres para com a nação vêm antes dos direitos
Giuseppe Mazzini
individuais. É essa visão coletiva que levaria o povo à prosperidade.
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Como o Estado deve ser visto de forma ampliada (para englobar a imprensa, as
escolas, a Igreja, os sindicatos), intelectuais com ideias socialistas deveriam ser
infiltrados nos espaços de influência da sociedade civil para derrubar a hegemonia
Antonio Gramsci cultural burguesa (era isso que alteraria a infraestrutura econômica, e não o
contrário, como entendia Marx). A luta de classes NÃO pode ser travada apenas no
campo político (muito menos militar), mas também (e principalmente) no campo
social, cultural, educacional.
As leis atuam bem em situações normais. Mas a vida política de uma nação sempre
inclui circunstâncias excepcionais, que devem ser manejadas. Portanto, o
Carl Schmitt
governante deve estar acima da lei, para que possa decidir (legislar sem limites ou
condicionantes) em situações excepcionais (estado de exceção por ele declarado).
O islã NÃO é só uma religião, mas um programa revolucionário, que deve ser
Abul Ala executado pelos muçulmanos por meio da luta revolucionária (guerra santa - jihad).
Maududi Os opositores devem ser destruídos, até que se alcance o Estado islâmico mundial,
governado pela sharia (lei derivada das escrituras sagras e a única aceitável).
A ecologia rasa (crença de que os problemas ambientais podem ser resolvidos pela
adequação do modelo capitalista de produção industrial) está fadada ao insucesso,
pois centra sua ótica no ser humano. A ecologia profunda propõe uma substancial
Arne Naess reforma do comportamento do homem e do modelo organizacional da sociedade
(com redução do consumismo e busca de fontes alternativas de energia):
precisamos compreender que a natureza possui um valor intrínseco e que os seres
humanos somente habitam a Terra, não são os donos dela.
John Rawls A chave para uma sociedade melhor está na adequação do contrato social, tratando-
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se os indivíduos com efetiva igualdade, a qual só pode ser obtida por meio de
instituições sociais justas, que equilibrem as desigualdades existentes (derivadas de
dotes naturais como a inteligência ou de posições sociais de poder), distribuindo
benefícios sociais (como educação pública, tributação escalonada e acesso a cargos).
Cada pessoa é dotada de uma vida individual (um fim em si mesmo), o que lhe
confere (deve conferir) o poder de governar a si própria, desde que, em seu modo
Robert Nozick de vida, não lese os demais. As pessoas não podem ser tratadas como meio para os
fins do Estado redistributivo. A conclusão é que qualquer forma de Estado diversa
do Estado mínimo é incompatível com os direitos individuais.
11 BIBLIOGRAFIA
Gostou muito do assunto e quer estudar mais? Está com tempo? Ótimo! Seguem as minhas
recomendações bibliográficas para estudos adicionais – baseio-me tanto na cobrança em
OAB/concursos quanto no aprofundamento do tema.
Se você não puder ler todos esses livros, apenas tenha certeza de que sabe a que eles se
referem e quais linhas gerais são defendidas por seus autores. Isso é bastante importante.
Depois não diga que eu não avisei ;)
ARISTÓTELES. Política.
BASTIAT, Frédéric. A lei.
HOBBES, Thomas. Leviatã.
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo.
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe.
MONTESQUIEU, Charles de Secondat, Baron de. O espírito das leis.
PLATÃO. A República.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social.
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Boa leitura!
12 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final deste nosso encontro instigante. Tenho convicção de que com as
informações disponibilizadas estamos muito mais preparados para discutir política, tentar
resolver problemas do dia a dia e, claro, responder questões de prova.
Em nossa viagem de conversível, visitamos autores que não são objeto de cobrança direta
em prova (ao menos não vi até agora), mas que podem ser tão bem manejados em uma
avalição escrita e ou oral... Nossa caixa de ferramentas sai desse encontro recheada de
novos alicates, chaves, parafusos... aparecendo qualquer problema, estaremos prontos a
resolvê-lo.
E no mais, você tá ligad@: quaisquer dúvidas, sugestões e críticas, ou se você viu algum
erro no material (ajude a melhorá-lo a cada dia), entre em contato sem hesitação. Estou
disponível no fórum do Curso ou por e-mail!
Aguardo @ amig@ na próxima aula. Até lá!
Jean Vilbert
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