Teoria e Pratica Dos Conselho
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Teoria e Pratica Dos Conselho
Conselhos Tutelares e
Conselhos dos Direitos da
Criança e do Adolescente
Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz
PRESIDENTE
Paulo Ernani Gadelha
DIRETORA DIRETOR
Maria do Carmo Leal Antônio Ivo de Carvalho
EDITORES CIENTÍFICOS
Nísia Trindade Lima
Ricardo Ventura Santos
CONSELHO EDITORIAL
Ana Lúcia Teles Rabello
Armando de Oliveira Schubach
Carlos E. A. Coimbra Jr.
Gerson Oliveira Penna
Gilberto Hochman
Joseli Lannes Vieira
Lígia Vieira da Silva
Maria Cecília de Souza Minayo
Teoria e Prática dos
Conselhos Tutelares e
Conselhos dos Direitos da
Criança e do Adolescente
REVISÃO METODOLÓGICA
Henriette Santos
REVISÃO E NORMALIZAÇÃO
Alda Maria Lessa Bastos
Fatima Cristina Lopes dos Santos
Maria José de Sant’Anna
Catalogação na fonte
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde/Fiocruz
Biblioteca de Saúde Pública
ISBN: 978-85-61445-41-6
CDD – 362.7
2010
Editora Fiocruz Educação a Distância da Escola Nacional de
Saúde Pública Sergio Arouca
Avenida Brasil, 4036 – Térreo – Sala 112
Manguinhos – Rio de Janeiro – RJ Rua Leopoldo Bulhões, 1480
CEP: 21040-361 Prédio Professor Joaquim Alberto Cardoso de Melo
Tels.: (21) 3882-9039 ou 3882-9041 Manguinhos – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 21041-210
Telefax: (21) 3882-9006 Tel.: (21) 2598-2996
www.fiocruz.br/editora www.ead.fiocruz.br
Há um menino, há um moleque
morando sempre no meu coração.
Toda vez que o adulto balança,
ele vem pra me dar a mão.
(...) Há um menino, há um moleque
morando sempre no meu coração.
Toda vez que o adulto fraqueja
ele vem pra me dar a mão.
Carlos Nicodemos
Advogado; especialista em Direitos Humanos e doutorando em direito penal pela Universidad
Complutense de Madrid/Espanha. Coordenador executivo da Organização de Direitos Humanos –
Projeto Legal. Membro do Conselho Estadual dos Direitos da Criança do Estado do Rio de Janeiro.
Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ. Professor universitário da Faculdade de
Direito Evandro Lins e Silva/IBMEC nas disciplinas direito penal e criminologia.
Mariana Barcinski
Psicóloga; professora adjunta da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora associada
ao Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e a Saúde Jorge Careli (Claves); doutora pela
Clark University, desenvolve pesquisa sobre violência e gênero, com foco nas especificidades da
criminalidade feminina.
Organizadores
Simone Gonçalves de Assis
Mariana Barcinski
9
Sumário
Prefácio ................................................................................................................. 13
Apresentação ........................................................................................................ 15
13
Diante do contexto descrito, o livro Teoria e Prática dos Conselhos Tutelares e
Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente é fruto das novas diretrizes
traçadas pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência
da República (SEDH) nos últimos anos, com o objetivo de fortalecer a
rede dos conselhos no Brasil. Neste sentido, destacamos a necessidade
de fomentar processos de formação continuada dos conselheiros. Desde
a sua concepção, o objetivo do livro, coletivamente produzido por espe-
cialistas da área de defesa dos direitos da criança e do adolescente, era
possibilitar ao conselheiro um diálogo entre a sua prática e a teoria que
deve fundamentar o seu cotidiano de trabalho.
Esperamos que este livro possa contribuir para uma reflexão acerca das
políticas, dos agentes e dos mecanismos que compõem o cenário da
defesa dos direitos infanto-juvenis no Brasil. A idéia é que sua leitura se
traduza em uma postura crítica e uma prática que vislumbre a diversi-
dade e as especificidades das crianças e dos adolescentes brasileiros.
14
Apresentação
O livro Teoria e Prática dos Conselhos Tutelares e Conselhos dos Direitos da Criança
e do Adolescente foi originalmente concebido para conselheiros dos direitos
e tutelares. A publicação contou com o total apoio da Secretaria Especial
dos Direitos Humanos da Presidência da República, que se aliou ao Centro
Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves)
e à “Educação a Distância”, setores da Escola Nacional de Saúde Pública
Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) em todas as fases de sua produção.
15
enfrentamento de violações de direitos. Cremos que o maior conheci-
mento das atribuições de cada um dos atores que compõem a rede de
proteção poderá propiciar ações verdadeiramente articuladas entre eles.
Com essa perspectiva, ousaremos pensar em uma prática intersetorial
que possibilite um adequado atendimento das situações de violação de
direitos, bem como a diminuição dos conflitos freqüentemente observa-
dos na interlocução entre os diversos atores.
16
A análise da metodologia do atendimento em rede é o tema discutido
no Capítulo 4 “Comunicação e mobilização dos conselhos com institui-
ções parceiras, redes de serviços e sociedade civil”. O texto enfatiza o
potencial do trabalho conjunto entre os conselheiros e os demais atores
ligados à defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes e recomenda
que esta prática seja adotada no cotidiano de trabalho desses atores.
Os Organizadores
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1. Desenvolvimento de paradigmas
de proteção para crianças e
adolescentes brasileiros
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Como nos revela Áries (1981), em seu clássico livro História social da
criança e da família, se na Grécia antiga havia um sentido de mediação
entre a fase infantil e a fase adulta, na Idade Média não se observa mais
esta passagem. Até o fim da Idade Média, os termos designativos de
criança e adolescente eram empregados sem muito critério para meni-
nos e meninas de diferentes idades. Não raro se via em textos da época
rapazes de 18 a 20 anos serem denominados de crianças. Para o autor,
as concepções de criança e adolescência eram amalgamadas ao sentido
de dependência e subalternidade.
Até mesmo o valor de sua vida era relativo. Ao longo de muitos séculos,
e em épocas de altíssima mortalidade infantil, a morte de crianças muito
pequenas não era fato inusitado ou mobilizador. As crianças menores
“não contavam”, isto é, não eram consideradas, devido ao fato de ser
muito provável que morressem.
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Para pensar
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Desenvolvimento de paradigmas de proteção para crianças e adolescentes brasileiros
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Desenvolvimento de paradigmas de proteção para crianças e adolescentes brasileiros
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Do final do século XIX até os anos 1970, no século XX, a imagem emblemática
da criança em situação de vulnerabilidade social e necessitada de proteção
social mais efetiva era a do “menor abandonado” e a do “menor delinqüente”,
sendo que a primeira categoria gerava mais apelos de proteção.
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Desenvolvimento de paradigmas de proteção para crianças e adolescentes brasileiros
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Assistencialismo
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Desenvolvimento de paradigmas de proteção para crianças e adolescentes brasileiros
Para pensar
Você tem conhecimento sobre as ações dos movimentos sociais que
ocorreram nos anos 1970 e 1980?
Procure identificar programas em seu estado ou município que
exemplifiquem o tipo de atuação ocorrido naquele período.
Converse com outros profissionais que possam auxiliá-lo nessa tarefa.
O exercício de recuperar e analisar experiências passadas ajuda
a compreender melhor o modelo atual de assistência.
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
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Desenvolvimento de paradigmas de proteção para crianças e adolescentes brasileiros
de assegurar seus direitos, tanto nas leis quanto na sua efetivação pelas A corrente de cidadania baseia-
se na concepção de que crianças
políticas públicas desenvolvidas por organizações governamentais e não e adolescentes são sujeitos de
governamentais. Buscou-se não mais multiplicar os programas de aten- direitos. Todavia, a realidade é que
muitos são excluídos do processo
dimento às necessidades básicas da infância e adolescência, mas cons- de desenvolvimento social e têm
truir uma política de cidadania para crianças e adolescentes. os direitos básicos de cidadania
negados.
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Ainda segundo essa declaração, os direitos humanos devem ser acatados inter-
nacionalmente por todos e em qualquer lugar, respeitando-se as peculiaridades
locais de natureza política e cultural.
Historicamente, o debate acerca dos direitos das crianças esteve subordinado
às discussões em torno da família ou dos direitos das mulheres. No Brasil, por
exemplo, a lei do Ventre Livre (1871) estabeleceu, mediante algumas condições,
que os filhos de mulheres escravas que nascessem no Império, a partir daquela
data, seriam considerados livres.
Em 1899, nos Estados Unidos, foi criado o primeiro Tribunal de Menores do
mundo. Pela primeira vez na história, os direitos civis das crianças eram reco-
nhecidos pelo Estado. Com o surgimento desses juizados, consolidou-se a
diferenciação entre crianças e adultos. Como vimos anteriormente, a aborda-
gem das crianças, nessa época, fundamentava-se nos conceitos de carência
(abandono) e criminalidade, não abrangendo a população infantil, de uma
maneira geral.
Em 1924, os direitos infanto-juvenis foram anunciados internacional-
mente pela Declaração de Genebra sobre os Direitos da Criança. Com
base nessa declaração e no reconhecimento dos direitos da criança na
Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, foi proclamada, em
1959, a Declaração Universal dos Direitos da Criança, ratificada por 191
países. Trata-se do primeiro documento jurídico internacional voltado para
a proteção dos direitos da infância. Nela foi desenvolvido o princípio do
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Desenvolvimento de paradigmas de proteção para crianças e adolescentes brasileiros
Para pensar
Como você percebe a situação dos direitos humanos em seu município ou
estado? Existem grupos sociais que ainda não gozam dos seus direitos? Quais?
E as crianças e os adolescentes, têm seus direitos respeitados?
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
O ECA foi elaborado em um contexto que não poderia ser mais signifi-
cativo para a participação social: a intensa mobilização gerada no início
da década de 1980 pela redemocratização do país, com a convocação
de uma Assembléia Constituinte para reelaborar a Constituição Federal
(profundamente marcada pelos quase 25 anos de ditadura militar). Em
meio ao conjunto dos movimentos sociais que lutava pela democratização
do país e por melhores condições de vida, um movimento especifica-
mente voltado para a infância foi gestado no final da década de 1970. Na
sua luta contra a “desumana, bárbara e violenta situação a que estava
submetida a infância pobre no Brasil” (SANTOS, 1996, p. 144), esse
movimento vislumbrou a possibilidade de inscrever na Carta Magna
Brasileira alguns instrumentos jurídicos legais que pudessem ampliar a
defesa dos seus direitos.
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Para pensar
Como você avalia a mobilização ocorrida em sua localidade em prol dos
direitos da criança e do adolescente, que culminou com a aprovação do ECA?
Que pessoas e instituições sociais escreveram esse pedaço da história em
sua cidade? Procure investigar. Converse com outros conselheiros e
profissionais que atuam nesse campo.
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Desenvolvimento de paradigmas de proteção para crianças e adolescentes brasileiros
Visão da criança e do Menor em situação irregular, objeto de medidas Sujeito de direitos e pessoa em condição peculiar de
adolescente judiciais. desenvolvimento.
Concepção político-social Instrumento de controle social da infância e da Instrumento de desenvolvimento social, voltado
implícita adolescência vítima da omissão e transgressão da para o conjunto da população infanto-juvenil do
família, da sociedade e do Estado em seus direitos país, garantindo proteção especial àquele segmento
básicos. considerado de risco social e pessoal.
Objetivo Dispor sobre a assistência a menores entre 0 e 18 Garantia dos direitos pessoais e sociais por meio da
anos em situação irregular, e entre 18 a 21 anos, criação de oportunidades e facilidades, permitindo
nos casos previstos em lei, por meio da aplicação o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e
de medidas preventivas e terapêuticas. social em condições de liberdade e dignidade.
Efetivação em termos de Medidas restringem-se ao âmbito da Política Políticas sociais básicas; políticas assistenciais (em
política social Nacional de Bem-Estar Social (Funabem e caráter supletivo); serviços de proteção e defesa das
congêneres); segurança pública; justiça de crianças e adolescentes vitimizados; proteção jurídico-
menores. social.
Princípios da política de Políticas sociais compensatórias (assistencialismo) e Municipalização das ações; participação da
atendimento centralizadas. comunidade organizada na formulação das políticas e
no controle das ações.
Estrutura da política de O Código traz como retaguarda dos juízes a Muda a concepção sistêmica de política e estabelece
atendimento aos direitos da Funabem, as Febems e os programas comunitários. o conceito de rede. Cria os conselhos dos direitos,
criança e do adolescente A Segurança Pública também tem papel central, fundos dos direitos da criança e os órgãos executores
além da Justiça de Menores. das políticas básicas, incluindo entre elas os
programas assistenciais.
Funcionamento da política Traçada pela Funabem, executada pelas Febems e O órgão nacional traça as normas gerais e coordena a
congêneres. política no âmbito nacional.
Posição do magistrado Não exige fundamentação das decisões relativas Garante à criança e ao adolescente o direito à ampla
à apreensão e ao confinamento de menores. É defesa. Limita os poderes do juiz.
subjetivo.
Mecanismos de participação Não abre espaços à participação de outros atores Instâncias colegiadas de participação (conselhos
que limitem os poderes da autoridade policial, paritários, Estado-sociedade) nos níveis federal,
judiciária e administrativa. estadual, e municipal.
Vulnerabilidade Menores carentes, abandonados e infratores Situação de risco pessoal e social propicia
socioeconômica devem passar pelas mãos do juiz. atendimento pelo Conselho Tutelar.
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Quadro 1 – Comparativo entre o Código de Menores de 1979 e o Estatuto da Criança e do Adolescente (cont.)
Em relação à apreensão É antijurídico. Preconiza (art. 99 parág. 4) a prisão Restringe a apreensão a: flagrante delito de infração
cautelar, hoje inexistente para adultos. penal; ordem expressa e fundamentada do juiz.
Direito de defesa Menor acusado de infração penal é “defendido” Garante ao adolescente, autor de ato infracional,
pelo curador de menores (promotor público). defesa técnica por profissional habilitado (advogado).
Infração Todos os casos de infração penal passam pelo juiz. Casos de infração que não impliquem grave ameaça
ou violência à pessoa podem sofrer remissão, como
forma de exclusão ou suspensão do processo.
Internação provisória Medida rotineira. Só em caso de crime cometido com grave ameaça ou
violência à pessoa.
Internamento Medida aplicável a crianças e adolescentes pobres, Só aplicável a adolescentes autores de ato infracional
sem tempo e condições determinados. grave, obedecidos os princípios de brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição peculiar de
pessoa em desenvolvimento.
Crimes/infrações contra Omisso a respeito. Pune o abuso do poder familiar, das autoridades e
crianças e adolescentes dos responsáveis pelas crianças e adolescentes.
Fiscalização do cumprimento Não há fiscalização do Judiciário por nenhuma Prevê participação ativa da comunidade e, por meio
da lei instância governamental ou não governamental. dos mecanismos de defesa e proteção dos interesses
Órgãos do Executivo não promovem, em geral, coletivos, pode levar as autoridades omissas ou
uma política de participação e transparência. transgressoras ao banco dos réus.
Fonte: Código de Menores (1927), Quadro sinóptico comparativo entre as leis 6.697/79 e 4.513/64 (Código de Menores e Política Nacional do Bem-Estar do Menor) e o projeto ECA – Projeto
de Lei 1.506 (Câmara Federal/dep. Nelson Aguiar) e 193/89 (Senado Federal/sen. Ronan Tito). Quadro elaborado por Costa e reproduzido pelo Fórum Nacional DCA, com acréscimos de Pereira
(1998) e Santos (1997).
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Desenvolvimento de paradigmas de proteção para crianças e adolescentes brasileiros
Para pensar
Com base em dados da sua realidade e da experiência como conselheiro,
reflita sobre as diretrizes da política de atendimento integral aos direitos
da criança e do adolescente. Como elas se concretizam na prática?
Quais as principais dificuldades que você identifica?
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Desenvolvimento de paradigmas de proteção para crianças e adolescentes brasileiros
Assim, os direitos humanos, a proteção integral dos direitos funda- Para saber mais sobre o Sistema de
Garantia de Direitos consulte o site
mentais das crianças e dos adolescentes e o Sistema de Garantia de do Conselho Nacional dos Direitos da
Direitos definem um tripé de valores que devem, articuladamente, asse- Criança e do Adolescente (Conanda),
hospedado no site da Presidência da
gurar a cidadania infanto-juvenil. República Federativa do Brasil.
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
Atualmente, que ações vêm ocorrendo em seu município em relação à
proteção dos direitos das crianças e dos adolescentes? Quais os pontos
positivos e negativos dessas ações?
Qual a sua avaliação sobre o funcionamento do Sistema de Garantia de
Direitos? Que sugestões você apresenta para aperfeiçoar a atuação
do sistema?
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Desenvolvimento de paradigmas de proteção para crianças e adolescentes brasileiros
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
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Anexo
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2. Conselhos dos direitos da
criança e do adolescente
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A mobilização
A rádio difusora de Santana do Grajaú anuncia insistentemente o encon-
tro que ocorrerá no próximo domingo com a participação de Maria Luiza
Barretos, Cícero José (o “Zeca da Feira”) e José Augusto de Souza, can-
didatos à Prefeitura da cidade, e dos conselhos municipais de políticas
Neuropatia óptica hereditária de
sociais e do conselho tutelar. Estamos na última semana de outubro de
Leber é uma doença rara do nervo 2004 e os conselhos dos direitos e tutelar, instituições promotoras do
óptico que provoca cegueira. Deve-
se a um defeito genético transmitido evento, estão em polvorosa com os preparativos.
da mãe para os filhos. Os homens
são mais atingidos pela doença, que
costuma se desenvolver entre os 15 A preocupação dos conselheiros começou há dois anos. O menino
e 35 anos. Os principais sintomas são André, então matriculado no ensino fundamental, começou a perder a
a perda repentina de visão em um
olho, com dificuldade para perceber visão. Em sua família esta tem sido uma preocupação de algumas gera-
as cores e alteração de campo visual.
ções; alguns membros da família têm neuropatia óptica hereditária
A doença atinge o segundo olho
num espaço de semanas ou meses. de Leber.
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Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
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Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
Outro aspecto relevante foi a riqueza das discussões. Todos ficaram satis-
feitos com a oportunidade de divulgar o levantamento realizado e de
trazer o problema da evasão escolar para o debate durante o processo
da eleição. Infelizmente, percebeu-se que os candidatos não estavam
a par da situação vivida por parte significativa das crianças da cidade,
tampouco estavam sensibilizados da importância de reverter a situação
e alterar os indicadores da educação. Por isso, os conselheiros avaliaram
que essa foi uma estratégia importante, visto que, durante a campanha,
o acesso aos candidatos é mais fácil e eles costumam estar mais propen-
sos a assumirem compromissos com a área social.
As soluções
Em janeiro de 2005, nos primeiros dias do mandato da prefeita eleita,
Maria Luiza, realizou-se, por solicitação do conselho municipal, uma reu-
nião com o novo secretário de educação, prof. João Silvério. O objetivo
era discutir o plano de ação para combater a evasão escolar, agora tema
prioritário a ser enfrentado pelo município. Nessa reunião definiu-se um
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
Reflita sobre a atuação do conselho dos direitos da criança e do adolescente
do qual você participa, à luz da definição do Conanda.
Que ações já foram implementadas no que se refere à elaboração das
diretrizes para o atendimento de crianças e adolescentes; ao acompanhamento,
controle e à avaliação das atividades realizadas?
Que dificuldades o conselho enfrenta no cumprimento das suas funções?
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Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
Para pensar
Na sua localidade o conselho dos direitos opera segundo os princípios de
participação, paridade e controle? Que tipo de dificuldade tem enfrentado
para atuar segundo esses princípios?
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O papel dos conselhos dos direitos vem sendo ampliado para além
daquele estabelecido pelo ECA. As leis de criação e seus regimentos
internos terminaram por delegar-lhes outras atribuições, que podem ser
assim resumidas:
76
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
Além das atribuições descritas, outro papel foi atribuído aos conselhos
dos direitos, em função da sua prática cotidiana: o de coordenar o pro-
cesso de escolha dos conselheiros tutelares e apoiar o funcionamento
dos conselhos. Embora se constitua um importante papel, tem sido usu-
almente mal interpretado, uma vez que sugere a subordinação do con-
selho tutelar ao conselho dos direitos. Muito esforço tem sido feito para
assegurar que os conselhos dos direitos e tutelares sejam órgãos distintos
e autônomos entre si e em relação a outros órgãos do Estado brasileiro,
sejam eles do Legislativo, do Executivo ou do Judiciário.
Para cumprir o seu papel na formulação das políticas de promoção e Os conselhos têm papel normativo,
porém suas normas não podem
defesa dos direitos da criança e do adolescente, os conselhos dos direitos substituir ou contradizer as normas
tiveram e ainda têm que definir a sua especificidade em relação às com- criadas pelo Legislativo. Seu poder
normativo tem caráter suplementar
petências do Poder Legislativo e, particularmente, do Executivo. ou complementar, tendo em vista
que as políticas estabelecidas pelos
conselhos devem se basear em
Em relação ao caráter normativo do Poder Executivo, a definição das preceitos legais.
competências são supostamente concorrentes e as decisões dos conselhos
deliberativos devem ser acatadas pelas autoridades máximas do Execu-
tivo. Contudo, a questão acerca da existência ou não de uma hierarquia
superior das deliberações dos conselhos dos direitos sobre os atos norma-
tivos do chefe do Executivo é tema algumas vezes debatido, particular-
mente mediante um conflito constituinte. O que parece certo, firmado
na jurisprudência, é que a decisão dos conselhos dos direitos da criança
e do adolescente possui natureza vinculativa, ou seja, a sua decisão em
Jurisprudência refere-se às decisões
relação aos direitos de crianças e adolescentes deve ser adotada por todos de um tribunal em matéria de
os outros segmentos (governo, outros conselhos e sociedade civil). direito.
77
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
78
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
Para pensar
Na época da sua criação, como foi estruturado o conselho em que você
atua? Atualmente permanece a mesma estrutura ou ele tem uma nova
forma de organização?
Quais os avanços e as limitações que apresenta, hoje, para a atuação dos
conselheiros e o atendimento das necessidades do município?
79
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
Como é a composição do CMDCA em sua localidade? Há paridade entre
os representantes dos setores públicos e dos órgãos não governamentais?
Como os representantes desses dois setores atuam e interagem na defesa
dos direitos das crianças e dos adolescentes?
80
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
81
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
O seu conselho se organiza em comissões?
Nos conselhos que possuem comissões, como você avalia o trabalho delas?
Quando elas funcionam bem, a que você atribui essa atuação? E nas que
funcionam mal, o que explica esse fato?
Para pensar
É importante definir o perfil da pessoa que se quer como secretário-
executivo. Em alguns conselhos, o secretário-executivo possui papéis
meramente administrativos; em outros, também lhe são delegadas funções
de representação política do conselho. Recentemente, observa-se uma
tendência de se qualificar politicamente a função de secretário- executivo
com a incorporação de ex-conselheiros para assumir esse papel.
Como você avalia essas duas possibilidades de ação do secretário-executivo?
Que conseqüências elas podem trazer para o cotidiano dos conselhos?
82
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
Para pensar
Quais as maiores dificuldades que você enfrenta no cotidiano do seu
trabalho como conselheiro?
Procure identificar os diferentes atores/dimensões envolvidos em suas
dificuldades.
83
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
84
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
mesmo sem um local exclusivo, 83% dos CMDCA do país dispõem de espaço
para atuar? A região mais bem servida é a Nordeste, seguida da Sudeste. Na
região Norte, 25% dos conselhos não dispõem de espaço próprio para suas
atividades, configurando a maior parcela entre as regiões;
�os espaços reservados aos CMDCA do país são considerados como de boa
localização (88%), bom tamanho para o funcionamento do conselho (58%),
boa conservação (75%), e apenas 48% com boa privacidade para o trabalho?
Portanto, a falta de privacidade e o tamanho inadequado são problemas que
atingem o maior número de conselhos;
muitos CMDCA no país não dispõem de armário ou estante (47%), arquivo
de documentos (51%), mesas, cadeiras e material de consumo (60%), textos
legais, tais como o ECA (20%), linha fixa de telefone (54%), computador (49%)
e acesso à internet (54%)? Nota-se, portanto, a falta de vários equipamentos
disponíveis para apoio ao trabalho dos CMDCA.
Fonte: Pesquisa nacional Ceats/FIA (2007), com dados de 2006, referentes a 49% dos conselhos municipais dos direitos.
85
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
86
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
Algumas dificuldades costumam surgir na construção de um plano de Os conflitos fazem parte das
relações sociais. Em geral, a
ação participativo, tais como o “eficientismo” dos técnicos, o predo- existência de conflitos é um fator
mínio da cultura organizacional formal, a tendência à manipulação da positivo, pois indica a existência
de opiniões divergentes sobre as
comunidade, o apego ao “pequeno” poder, a subestimação dos leigos e, questões. Isso é bom, uma vez
sobretudo, dos pobres (KLIKSBERG, 1999). Conhecer esses obstáculos é que a unanimidade sugere falta
de discussão e de problematização
importante para que sejam reforçadas ações que privilegiam o diálogo e das questões. Trabalhar com os
conflitos, buscando consenso ou
a construção de consensos. aceitação das divergências, é atuar
democraticamente. Os conflitos se
transformam em violência quando,
em vez de resolvê-los ou administrá-
Para pensar los, o gestor tenta acabar com eles,
impondo sua própria vontade e seus
Você já realizou um plano de ação participativo? interesses.
Reflita sobre as dificuldades freqüentemente encontradas e as formas de
superá-las, com base na sua própria experiência ou no relato de parceiros
que tenham vivenciado processos semelhantes ao descrito neste tópico.
87
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
O seu conselho tem um plano de ação? Quais as dificuldades encontradas
para a sua elaboração?
apenas 23% dos conselhos municipais dos direitos têm planos de ação sis-
tematizados em forma de documento?
16% dos conselhos têm planos de ação sem registro por escrito?
31% estão em fase de elaboração do plano e 30% dos conselhos municipais
e colegiados não realizaram nenhum tipo de plano de ação?
Fonte: Pesquisa nacional Ceats/FIA (2007), com dados de 2006, referentes a 49% dos conselhos municipais dos direito e 96%
dos conselhos estaduais.
88
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
Política Nacional de Defesa dos Direitos da Provocar a construção da política nacional tendo como Abril/07
Criança e do Adolescente (DCA) elaborada instrumentos iniciais o Plano “Presidente Amigo” Dezembro/08
Produto: Subsídios para elaboração de Atualizar o documento sobre diretrizes básicas de atenção Junho a
uma política nacional de atendimento integral à criança e ao adolescente Dezembro/07
da criança e do adolescente – elaborado
Retomar as deliberações da 6a Conferência Junho/07
Dezembro/07
Monitoramento das ações do Sinase – Garantir a realização do “seminário de sensibilização” com Julho/07 a
realizado Conselhos Estaduais e Conselhos das Capitais para construir Outubro/07
o pacto de acompanhamento do Sinase
Produto: Sistema de monitoramento
do Sinase – viabilizado pelo governo Elaborar resolução de criação e funcionamento das varas, Julho/07 a
delegacias especializadas e defensoria pública Maio/08
Contribuir para a redução de situação Realizar campanhas, seminários e atividades educativas e de Permanente
de discriminação por raça/etnia, gênero, conscientização
orientação sexual
1
Optamos por omitir, neste quadro, os nomes dos responsáveis por cada operação. Como um modelo de planejamento, no entanto, é fundamental que para cada operação haja um agente
responsável.
89
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Sistema de monitoramento de ações/ Obter informações e se apoderar do sistema que esta sendo Abril a
políticas destinadas à criança e ao criado pela Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Maio/07
adolescente – viabilizado pelo governo Criança e do Adolescente (SPDCA)
Produto: Estudo de viabilidade do sistema Dar seqüência à proposta de observatório apresentada pelo Maio/07 a
de monitoramento de ações/políticas Unicef Dezembro/08
destinadas à criança e ao adolescente
Apresentação pelo Instituto de Pesquisa Econômica Julho/07
Aplicada (Ipea) e pela Escola Nacional de Ciências
Estatísticas (Ence), do IBGE, visando conhecer o sistema de
acompanhamento em Direitos Humanos (DH), com ênfase
em criança e adolescente
ECA como tema obrigatório nos currículos Retomar articulação com o Conselho Nacional de Educação Julho/07 a
escolares (CNE/ MEC) (Câmaras Ensino Básico e Superior) Dezembro/07
Dentre as vantagens desse método está o fato de ele prever a ação dos
autores em vários cenários possíveis, e não apenas em um contexto em
que o conselho é o único ator intervindo. Além disso, permite aos con-
selheiros anteverem possíveis reações ou obstáculos às ações planejadas
90
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
91
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
O que fazer?
Como fazer?
A quem dirigir a ação?
Quando fazer e até quando?
Quem é responsável por cada uma das ações?
92
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
Contatos e parcerias
Mesmo que o processo seja liderado pelo setor dos direitos humanos ou
da assistência social, um plano de ação para tratar do tema proteção dos
direitos da criança e do adolescente precisa de acordos locais, relativos
aos diversos programas de uma prefeitura, uma vez que os problemas são
intersetoriais. Também devem participar dos acordos juízes da infância
e da adolescência, instituições acadêmicas, representantes dos serviços
de educação e saúde, familiares, representantes do empresariado e de
outros conselhos e associações.
93
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
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Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
Alguns autores (BOBBIO, 1994; NOGUEIRA, 2004) apontam que, nos direitos
sociais, é verificado o maior grau de defasagem entre a norma jurídica
e a sua efetiva aplicação.
Diante desse fato, é fundamental reduzir a distância entre o direito
declarado e o acesso a ele, por meio de políticas sociais. Reflita sobre
essa afirmação.
96
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
Se voltarmos à nossa análise, mais uma vez, para o caso de evasão esco-
lar em Santana do Grajaú, podemos melhor perceber essa dinâmica.
Se não houvesse a pressão da mãe do André, do Conselho Tutelar e do
Ministério Público, uma política direcionada para o combate à evasão
escolar provavelmente não teria sido implantada e priorizada naquele
município. Em outras palavras, esse tema não ganharia visibilidade a
ponto de ser pauta prioritária na gestão municipal.
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Apesar de ser uma das principais atribuições dos conselhos dos direi-
tos, a formulação de políticas públicas sociais integrais para a infância e
adolescência não tem sido a atividade mais priorizada. A pesquisa “Bons
Conselhos” (CEATS; FIA, 2005) buscou identificar as ações indicadas pelos
conselhos como sendo mais relevantes em sua prática. A criação e o apoio
a entidades, projetos e ações para o atendimento de crianças e adoles-
centes constituem o maior investimento (para 59% dos conselhos). As
áreas de atendimento priorizadas são: atendimento sociofamiliar, aten-
dimento às crianças vítimas de exploração e abuso sexual, e prevenção e
atendimento de crianças e adolescentes usuários de drogas e álcool.
98
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
Outras 10%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Em relação à prática dos conselhos dos direitos, dois aspectos são pre-
ocupantes: a) a reprodução da prática estatal de considerar política
como sinônimo de programa. Apoiar a criação de programas e proje-
tos não é sinônimo de definir políticas necessárias a cada localidade.
Os programas e projetos são partes da política, porém, um conjunto de
99
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Proteção especial social é a programas não necessariamente contempla uma política integral de pro-
modalidade de atendimento
assistencial destinada a famílias moção, defesa e atendimento dos direitos da criança e do adolescente; b)
e indivíduos que se encontram a priorização da proteção especial frente à política integral de promoção
em situação de risco pessoal e
social. Integra o Sistema Único de e defesa dos direitos da criança e do adolescente. A proteção especial
Assistência Social (Suas). de crianças e adolescentes não deve se constituir uma política específica,
mas sim, um foco das várias políticas sociais.
100
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
101
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
Na análise de situação, qual é o foco priorizado pelo seu conselho?
Ele está mais voltado para as políticas de proteção especial ou tem um
foco mais universal?
102
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
103
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
104
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
A análise nunca é uma peça pronta A análise de situação é um instrumento avaliativo (como apresentare-
e acabada, mas um processo que
pode contribuir antes, durante e mos adiante com maior destaque) e que subsidia o processo de formu-
após a formulação das diretrizes que lação de uma política integral de atendimento aos direitos da criança
norteiam as políticas de proteção a
crianças e adolescentes. e do adolescente. Logo, sua estrutura deve ser baseada na verificação
do cumprimento dos direitos dessa população constantes nas leis e nas
políticas apropriadas.
106
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
Para pensar
Revisite o caso de André e reflita sobre o processo de diagnóstico crítico
da realidade efetuado naquela ocasião. Faça uma síntese dos pontos que
contribuíram para o êxito do caso.
107
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
A definição dos papéis que cabem ao governo e aos conselhos dos direi-
tos na elaboração de políticas públicas precisa ser muito clara, para evi-
tar a superposição de tarefas e o imobilismo de ambos os lados. Por essa
razão, o papel das Conferências e Fóruns dos Direitos das Crianças e dos
Adolescentes e dos Conselhos, como os da Saúde e Assistência Social, é
o de estimular o governo a propor políticas, estabelecer os parâmetros
para a sua elaboração, demandar ao governo que eles sejam ouvidos no
processo de elaboração e, finalmente, deliberar sobre as propostas de
políticas apresentadas pelos governos.
108
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
109
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
A articulação de ações Para ilustrar essa lógica, podemos apontar como exemplo o Sistema
governamentais e não
governamentais, em rede, é Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase). Aprovado em
tratada no Capítulo 4 – junho de 2006, o Sinase, fruto de um intenso debate envolvendo
“Comunicação e mobilização
dos conselhos com instituições diversos setores da sociedade e do Poder Público, constitui uma polí-
parceiras, redes de serviços e tica pública destinada à inclusão social do adolescente autor de ato
sociedade civil”.
infracional. O sistema requer ações articuladas e complementares das
três esferas de governo e das políticas setoriais de educação, saúde e
assistência social.
110
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
111
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Algumas iniciativas da sociedade Para a efetiva descentralização intergovernamental da União para Esta-
civil e de organismos internacionais
contribuem para o fortalecimento dos e Municípios, além de instituir modelos descentralizados no ordena-
da capacidade dos municípios para mento jurídico, deve-se estabelecer condições para o seu funcionamento,
assumir suas responsabilidades na
atenção aos direitos de crianças tais como ampliar a capacidade técnica e administrativa dos municípios,
e adolescentes e aperfeiçoar as para que possam assumir as funções previstas nos sistemas de políti-
políticas públicas municipais.
Dentre essas iniciativas, destacamos cas sociais. Isto requer mais investimentos financeiros em âmbito local
o “Programa Prefeito Amigo da e maiores incentivos da União e dos Estados. A esse respeito Abrucio;
Criança” da Fundação Abrinq,
e o “Selo Município Aprovado” Couto (1996) afirmam:
do Unicef.
Os municípios enfrentam hoje um duplo desafio: precisam as-
sumir políticas antes a cargo da União ou, secundariamente, dos
estados, tanto para assegurar condições mínimas de bem-estar
social às suas populações como para promover o desenvolvi-
mento econômico com base em ações de âmbito local (p. 40).
112
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
Para pensar
Como vem ocorrendo o processo de descentralização e participação no seu
município? Destaque as particularidades desse processo no que se refere à
atenção a crianças e adolescentes.
Que ações devem ser priorizadas em uma política de atenção à infância
e à adolescência para assegurar um padrão de dignidade a toda a população
dessa faixa etária?
113
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
114
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
115
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
O problema
A educação no Brasil ainda é marcada por profundas desigualdades entre
as regiões e entre as áreas rurais e as zonas urbanas de concentração da
pobreza.
Vários anos de deterioração do ensino público levaram a grandes disparidades,
do ponto de vista qualitativo, entre os setores públicos e privados da educação
nacional.
Tendo em vista que o insucesso escolar é considerado uma das principais cau-
sas da ineficiência do sistema público, e que ele é expresso pelos elevados
índices de distorção idade-série, conseqüência da repetência e do abandono, a
atual política educacional está empenhada em apoiar estratégias de correção
do fluxo escolar.
Dados do Censo Escolar de 1998 mostram alguma melhoria, mas os índices
continuam insatisfatórios: cerca de 46,7% dos alunos do ensino fundamental
apresentam distorção idade-série, embora a taxa de reprovação tenha caído
para 11,4% e a taxa de abandono para 11,1%.
Na educação infantil, apenas 33% da população de crianças de 4 a 6 anos
recebem atendimento na pré-escola, e 5% das crianças entre 0 e 3 anos têm
acesso a creches. Estudos já realizados em vários países têm demonstrado que
as crianças que recebem o atendimento adequado na educação infantil apre-
sentam melhores resultados no ensino fundamental, o que ilustra a gravidade
dos dados apresentados.
Constata-se a existência de várias experiências exitosas que introduziram
novos padrões de gestão educacional, associaram a valorização do professor
e a democratização das escolas com a participação da comunidade, em forma
116
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
Estratégias
1.1 Valorizar o profissional da educação por meio da capacitação continuada e
da justa remuneração;
1.2 Prover a manutenção dos recursos necessários à atividade educacional, tais
como infra-estrutura, equipamentos, salas adequadas, água, luz;
1.3 Investir em material didático-pedagógico adequado ao desenvolvimento do
processo ensino-aprendizagem;
1.4 Cumprir os parâmetros curriculares e os temas transversais propostos pelo MEC;
1.5 Adotar medidas de correção de fluxo escolar para crianças e adolescentes
em defasagem idade-série, propiciando o ensino modular para aqueles que
estão em situação de rua, cumprindo medida socioeducativa de internação, ou
no trabalho;
1.6 Assegurar escolas próximas às residências e, em casos especiais, os meios
de locomoção gratuitos;
1.7 Fornecer, em caráter contínuo, merenda escolar de qualidade, respeitadas
as especificidades culturais e regionais;
1.8 Promover a integração escola-família-comunidade na elaboração, execução
e avaliação do Projeto Político-Pedagógico;
1.9 Estimular a implantação da escola de tempo integral;
1.10 Implantar projeto pedagógico específico para a Educação Infantil;
1.11 Garantir instalações e equipamentos compatíveis com a faixa etária.
Estratégias
2.1 Assegurar um programa nacional de subsídios financeiros para
as famílias de crianças e adolescentes que se encontram em situação
de vulnerabilidade, estendendo o mesmo benefício ao Ensino Médio;
117
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para que cada uma das prioridades seja atingida, de fato, é fundamen-
tal um somatório de ações envolvendo setores como os de nutrição,
assistência social, esporte, lazer, cultura, bem como ações de proteção
especial e outras. Desta maneira, vai-se progressivamente introduzindo
novas ações e medidas, integrando serviços que tradicionalmente atuam
de forma setorizada e isolada. O plano de ação tem, portanto, a missão
de introduzir um novo olhar sobre a criança e o adolescente, alterar a
condução de políticas que têm se mostrado pouco efetivas para a sua
proteção e, acima de tudo, gerar transparência da ação pública, pro-
pondo acompanhamento, avaliação e controle da sua execução.
Para pensar
Que benefícios podem ser oferecidos a crianças e adolescentes por meio
da execução de um plano de ação intersetorial?
A integração de serviços para o atendimento a essa faixa etária já acontece
em seu município? Que serviços essenciais ainda precisam ser mobilizados?
O que deve ser feito para conseguir novas adesões?
118
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
119
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
120
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
121
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Nos anos 1990, toma lugar um discurso sobre a importância dos laços
familiares e da revalorização da família, enfocando seus papéis proteti-
vos e de espaço privilegiado de desenvolvimento de relações interpes-
soais (SEGALEN, 1999). O que se discute a partir dessa década é que
se faz necessário reconhecer as potencialidades protetivas, educativas
e socializadoras da família. Um dos exemplos mais tangíveis é a prática
histórica de ajuda mútua entre as famílias pobres. Essas famílias consti-
tuem redes de suporte essenciais para o enfrentamento das agruras da
pobreza, do desemprego, da doença e do desamparo (MELLO, 2002).
No campo das políticas sociais, a família não pode ser mais vista como
alvo passivo, mas como beneficiária/usuária, parceira e “minipresta-
dora” de serviços de proteção e inclusão (CARVALHO, 2002). Contudo,
esse imenso potencial se faz em estreita aliança com a efetiva atuação
122
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
Para pensar
Como tem sido a atuação do conselho em que você trabalha no que diz
respeito ao atendimento às famílias e à consideração do seu potencial?
123
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Em 2001, a Conferência Geral da Durante o século XX, o conceito de diversidade ganhou extensão e acom-
Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura panhou os novos estudos antropológicos sobre como as civilizações e as
(Unesco) aprovou, por unanimidade, nações se relacionavam entre si. Ou seja, como países, povos e etnias
a Declaração Universal sobre a
Diversidade Cultural, que enfatiza construíam a sua própria imagem e, ao mesmo tempo, a do outro. No
o reconhecimento das diferenças seu sentido mais simples, o conceito de diversidade cultural tinha como
como necessário à realização dos
direitos humanos e às liberdades referência a multiplicidade de culturas ou de identidades culturais. As
fundamentais, para a paz e a definições mais atuais de diversidade apresentam um leque bem mais
segurança. A Declaração, ratificada
pelo Brasil em 2006, define a variado, não apenas relacionado à cultura. Podemos hoje falar de uma
diversidade cultural como patrimônio
comum da humanidade. Ela pode ser
diversidade existente em um mesmo país que, dentro de sua mesma
encontrada no site da Unesco. cultura, pode abrigar diferentes grupos e segmentos que se afirmam
por uma identidade própria. Por exemplo, podemos falar da diversi-
dade dos grupos raciais, de gênero ou étnicos ou, ainda, das especificidades
dos grupos segmentados por idade (crianças, idosos), orientação sexual ou
habilidades físicas. O conceito pode ser ainda mais amplo, se definido em
termos de localização geográfica ou histórias pessoais.
124
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
Figura 7 – Diversidades
Ilustração: Tibúrcio (2008).
125
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Eqüidade configura um princípio de Alguns autores afirmam que para reduzir os efeitos negativos da desigual-
justiça redistributiva proporcional,
pautado mais pelas necessidades dade é preciso promover a eqüidade nas políticas públicas (RAWLS, 2002).
de pessoas e coletivos e por um Ou seja, mediante os princípios da justiça, adaptar a norma universal a
senso reparador de dívidas do que
pela sua igualdade formal diante da um caso específico, visando tornar a norma mais justa e o caso atendido
lei. Representa o aprofundamento no seu direito devido. A eqüidade não corrige o que é justo na lei, mas
do princípio de igualdade formal
de todos diante da lei. Implica que completa o que a justiça não alcança (CARVALHO FILHO, 2003).
pessoas e coletivos que se encontram
em circunstâncias especiais ou que
são diferentes sejam tratados de Dessa forma, aplicando o princípio da eqüidade para reduzir as desigualda-
forma especial ou diferente.
des, conseguiremos desenvolver políticas mais afirmativas e inclusivas que
assegurem os direitos universais à totalidade de crianças e adolescentes.
Contudo, trata-se de um duplo esforço: ao mesmo tempo em que adotamos
o princípio da eqüidade para reduzir desigualdades, devemos promover o
valor e o potencial da riqueza da diversidade entre sociedades e grupos.
126
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
Para pensar
Como o conselho em que você atua tem trabalhado com a diversidade?
Reflita sobre situações já vivenciadas, no conselho, em que o tema da
diversidade foi (ou deveria ter sido) abordado.
127
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
Como ocorre o atendimento aos grupos historicamente discriminados no
conselho em que você atua?
Reflita sobre os dados apresentados pela pesquisa “Bons Conselhos”
(CEATS; FIA, 2007), utilizando-os como subsídios para analisar as práticas
desenvolvidas em seu conselho.
128
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
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Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
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Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
133
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
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134
Conselhos dos direitos da criança e do adolescente
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138
3. Conselhos tutelares
Alexandre Ferreira do Nascimento, Maria Isabel Garavelo, Marcos Eliezer Cruz Kohls,
Fátima Gonçalves Cavalcante, Helena Oliveira Silva, Cristina de Fátima Guimarães,
Simone Gonçalves de Assis, Levi Marques Pereira
139
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
140
Conselhos tutelares
141
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
O conselheiro tutelar de plantão foi até a casa de Ava Poty e Kuña Vera,
a fim de dar uma resposta à solicitação encaminhada pela Funasa. Por
precaução, solicitou o acompanhamento de uma viatura da polícia
municipal de Pirajú; devido ao clima de insegurança naquela reserva, o
conselho sempre recorre à proteção policial para realização de suas ações
nesse local. Ao chegar à casa, o conselheiro encontrou as duas crianças
brincando e informou que elas deveriam acompanhá-lo no carro até
a cidade. Segundo informou o líder Ñanderu Oliveira, o tio materno
notou o movimento e tentou impedir que o conselheiro tutelar levasse
as crianças para a cidade, mas foi ameaçado de prisão pela guarda muni-
cipal e recuou. Assim, as crianças foram abrigadas na cidade.
143
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
No caso das crianças kaiowa, que direitos foram violados? Quais foram os
agentes violadores?
Qual a sua opinião sobre a conduta do agente e do conselheiro tutelar?
Qual foi o impacto das decisões tomadas para as crianças e para a
política de proteção local?
144
Conselhos tutelares
145
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
No Capítulo 4 – “Comunicação e No que diz respeito à articulação entre os diversos atores que atuam na
mobilização dos conselhos com
instituições parceiras, redes de defesa de crianças e adolescentes, no caso em discussão, a Secretaria
serviços e sociedade civil”, tratamos Estadual de Assistência Social do governo de Mato Grosso do Sul e o
especificamente da importância de
se construir um trabalho em rede Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente mantêm
eficiente. convênio com a Escola de Conselhos da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul. O objetivo do convênio é oferecer formação, qualificação
e aperfeiçoamento aos membros dos conselhos tutelares dos municípios,
ampliando o controle social das políticas públicas voltadas ao atendimento
de crianças e adolescentes. Entretanto, ainda existe pouca articulação
entre o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, o
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA)
e o Conselho Tutelar do município de Pirajú. Também não existe uma
articulação eficaz das outras entidades e instituições que compõem a
rede de atendimento à criança indígena. Há ainda pouca discussão entre
essas instituições, de modo a construir uma orientação comum para as
ações de atendimento às crianças indígenas, muitas vezes gerando dis-
putas e desentendimento entre as próprias instituições.
Para pensar
Como você avalia a postura dos integrantes da rede de proteção à criança
de Pirajú em relação às famílias indígenas?
Os conselheiros tutelares manifestam as dificuldades decorrentes do cenário
multiétnico do município. No seu dia-a-dia como conselheiro tutelar, você
identifica alguma dificuldade advinda da diversidade entre os grupos que
você atende? Como se preparar para situações como essas?
146
Conselhos tutelares
147
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Fonte: IBGE (2002) ; Ceats/FIA (2007). Não inclui 103 conselhos tutelares existentes, porém inativos.
2.
Os percentuais descritos na terceira coluna da tabela não se referem à abrangência de conselhos tutelares nos municípios brasileiros,
3.
uma vez que há municípios com mais de um conselho tutelar e municípios sem nenhum. Exemplo: para a região Sudeste, o valor 100%
não significa que todos os municípios tenham conselhos tutelares, mas que o número deles excede o número de municípios da região.
O Conselho Nacional dos Direitos da O ECA, em seu art. 132, estabelece que em cada município deverá haver
Criança e do Adolescente (Conanda),
em sua Resolução n. 75, recomenda pelo menos um conselho tutelar, composto por cinco membros escolhi-
a criação de um conselho tutelar dos pela comunidade local para mandato de três anos, permitida uma
para cada 200 mil habitantes ou
em densidade populacional menor recondução. O art. 134 estabelece que as regras de funcionamento do
quando o município for organizado conselho tutelar (local, dia e horário), bem como a eventual remune-
por Regiões Administrativas, ou
tenha extensão territorial que ração dos conselheiros devem ser regulados por lei municipal. No que
justifique a criação de mais de um
se refere à escolha dos membros, o processo será estabelecido por lei
conselho tutelar por região.
municipal e realizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal
dos Direitos da Criança e do Adolescente e a fiscalização do Ministério
Público. Para ser conselheiro tutelar, a pessoa precisa ter reconhecida
idoneidade moral, idade superior a 21 anos e residir no município em
que está instalado o conselho.
148
Conselhos tutelares
Desjurisdicionalização
149
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Autonomia
150
Conselhos tutelares
Para pensar
Em seu município, a relação entre os conselhos tutelares e dos direitos tem
sido colaborativa?
Como você avalia os papéis desempenhados por ambos os conselhos?
151
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
nem todos os conselhos tutelares do país contam com um espaço fixo para
o seu trabalho? Ainda há 12% dos conselhos sem espaço permanente para
atuar;
a localização dos espaços de trabalho foi considerada boa, na avaliação de
80% dos conselhos e que 20% a consideram regular ou ruim?
a disponibilidade de horário dos espaços dos conselhos tutelares também é
majoritariamente bem avaliada pelos conselheiros (por 93% deles)?
a avaliação das condições de privacidade para execução das atividades nos
atuais espaços dos conselhos é pouco otimista: apenas 37% consideram que os
locais proporcionam boa privacidade, enquanto 28% os consideram regulares
e 34%, ruins?
15% dos conselhos não têm mobiliário básico (mesa e cadeira) para o aten-
dimento da população e 24% deles não têm material de consumo, como papel,
envelopes e outros?
Fonte: Pesquisa nacional Ceats/FIA (2007), com dados de 2006, referentes a 71% dos conselhos tutelares.
152
Conselhos tutelares
Para pensar
No caso do município de Pirajú, você acha que o conselho tutelar poderia
ter acionado algum profissional da equipe técnica para acompanhar o caso
das crianças indígenas?
Qual teria sido a contribuição desses profissionais, discutindo o caso junto
com o conselho?
153
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
154
Conselhos tutelares
155
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
No caso do município de Pirajú, de que forma ocorreu a relação entre o
conselho tutelar e a família das crianças?
Na rotina de trabalho de seu conselho, como é feita a escuta da opinião
da criança e do adolescente e a observação do contexto social e familiar?
156
Conselhos tutelares
157
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
Analise a sua prática de conselheiro à luz das capacidades recomendadas
para o exercício dessa função.
Quais os limites de ação presentes em seu cotidiano de trabalho no
colegiado?
158
Conselhos tutelares
Para pensar
Reflita sobre a importância que tem o conselho tutelar e a rede de proteção
em situações ainda pouco reconhecidas pela sociedade e pelos serviços
públicos em geral, como a das crianças indígenas.
Como incluir a preocupação com a especificidade da população indígena
na rotina dos conselhos tutelares?
159
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
No art. 129 estão incluídas outras três medidas (incisos VIII, IX e X), cuja
aplicação é de competência exclusiva dos juízes da infância e juventude:
perda da guarda, destituição da tutela e suspensão ou destituição do
pátrio poder (ou poder familiar).
160
Conselhos tutelares
Para pensar
Com base na sua experiência, reflita sobre as principais dificuldades encontradas
no desempenho das atribuições descritas.
161
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
Você acredita que a condução do caso das crianças do município de Pirajú
teria sido diferente se houvesse, por parte dos agentes envolvidos, maior
conhecimento da realidade daquela família indígena?
Gráfico 1 – Índice de avaliação do conselho tutelar sobre a eficiência no exercício de suas atribuições (Brasil)
162
Conselhos tutelares
Gráfico 2 – Índice de dificuldades sentidas pelo conselho tutelar em seu dia-a-dia (Brasil)
Falta de entidades para receber crianças que precisam ser encaminhadas para 0,77
a aplicação de medidas de proteção
Falta de clareza na definição de papéis entre o Conselho Tutelar e o Poder Judiciário. 0,15
Para pensar
Com base em sua atuação, pense nas atividades mais freqüentemente
desempenhadas, bem como nas maiores dificuldades enfrentadas
pelo seu conselho.
No Capítulo 2 enfatizamos a Para que o conselho tutelar possa realizar de forma eficiente todas as
importância do plano de ação
para os conselhos dos direitos. Você atribuições que lhes são propostas, ele precisa contar não apenas com
pode ler neste capítulo os detalhes uma adequada estrutura física, equipe técnica e organização interna,
técnicos de como elaborar um plano
de ação. mas também ter um plano de ação que defina sua forma de agir.
164
Conselhos tutelares
Um plano que contemple esses três focos de ação contribui para que os
conselhos tutelares assumam, paulatinamente, papel estratégico de indi-
cador de políticas públicas voltadas à infância e à adolescência, agindo
na prevenção da violação dos direitos, e não exclusivamente nas ações
emergenciais, após o direito ter sido violado.
165
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
Você acha que o conselho tutelar do município de Pirajú tem um plano
de ação elaborado que contemple toda a população infanto-juvenil
do município, com destaque para as especificidades da população
indígena atendida?
O Sipia utiliza o termo “fato” ao O Sipia apresenta quatro módulos, com focos direcionados para várias
tratar de situações de ameaça ou
violação dos direitos da criança e instituições do Sistema de Garantia de Direitos:
do adolescente. Neste capítulo,
optamos, sempre que possível, por Módulo I – monitoramento da aplicação de medidas de proteção
usar os termos “comunicação” e especial à criança e ao adolescente, sob a ótica da violação e ressarci-
“fato” por acreditar que os termos
“denúncia” e “caso” remetem mento dos direitos (conselhos tutelares).
a uma prática policialesca de
tratamento da situação relatada.
Módulo II – monitoramento da aplicação de medidas socioeducativas
a adolescentes em conflito com a lei (justiça da infância e da juventude).
Módulo III – monitoramento dos procedimentos judiciais de coloca-
ção familiar e das adoções nacionais e internacionais (justiça da infância
e da juventude e comissões judiciárias estaduais).
166
Conselhos tutelares
Um pouco de história
Nos anos 1990, o Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência (Cbia), com o
intuito de pensar e sistematizar a forma de trabalho dos conselheiros tutelares,
propôs a criação de um sistema de informação para a infância e adolescência.
Foram quatro anos de pesquisa em entidades de atendimento a crianças e
adolescentes, compreendendo como se dava a interpretação dos fatos por meio
das entrevistas, relatórios e formulários utilizados por essas entidades e for-
mulando as categorias de violação de direitos. Criou-se, também, um processo
de registro que consistia em três fichas, nas quais os conselheiros tutelares
identificavam a criança pelos seus dados pessoais, descreviam os fatos, apon-
tavam o direito violado e o agente violador, aplicavam a medida pertinente à
criança e/ou ao adolescente, ou aos pais/responsáveis, requisitavam serviços e/
ou encaminhavam para o MP ou para o Poder Judiciário, destacando sempre o
acompanhamento e o encerramento do fato. Desta maneira, foi criado o Núcleo
Básico Brasil (NBB), uma base comum de dados, colhidos e agrupados homo-
geneamente nas diferentes unidades federadas por meio de um instrumento
único de registro.
167
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
O Sipia I possui campos para o registro dos casos atendidos pelos con-
selhos tutelares, modelos de requisição de serviços, representações ao
MP e ao Poder Judiciário. Embora ainda não esteja implementado em
boa parte dos conselhos tutelares do Brasil, os dados hoje existentes
mostram a importância da implementação do sistema para a garantia
dos direitos das crianças e adolescentes.
Ao longo de quase dez anos, notamos que o direito violado mais fre-
qüentemente registrado é o da convivência familiar e comunitária,
correspondendo a 48,2% dos registros. Em seguida, temos violação do
direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, concentrando 24,5% das
ocorrências. A violação do direito à educação, cultura, ao esporte e lazer
vem a seguir (19,1%) e, em seqüência, a violação do direito à vida e à
saúde (5,7%) e à profissionalização/proteção no trabalho (2,5%) (SIPIA,
2008). Dados mais detalhados são apresentados a seguir.
168
Conselhos tutelares
100%
90% 19%
60%
Não
22% 23%
50% 18% Em parte
38%
Sim
40%
0%
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil
169
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Outro aspecto para que se alcance Um grande limitador para o uso eficiente do Sipia é a dificuldade de
o uso efetivo e eficiente do Sipia é
o monitoramento e a alimentação garantir a ampla adesão dos municípios ao sistema. Para tal, os gestores
dos dados de forma permanente públicos teriam que empreender esforços a fim de fornecer uma estru-
e regionalizada, com a adesão
dos municípios e seus respectivos tura adequada de funcionamento aos conselhos, com disponibilização de
conselhos tutelares ao Sipia I. equipamentos necessários e a sua devida manutenção. O uso adequado
Para tanto, é indispensável que as
coordenações estaduais possuam a do Sipia depende, ainda, da formação continuada dos conselheiros na
devida estrutura de funcionamento
implementação e no uso do sistema.
para dar suporte aos usuários,
cumprindo seu papel na gestão do
sistema como política de Estado.
Para a disponibilização dos registros
No próximo item, procuramos relacionar algumas ações dos conselhos,
locais no portal, é necessário que, apontando como elas podem ser facilitadas pela utilização de ferramen-
periodicamente, o usuário local,
com cadastro no portal, execute tas do Sipia I, especificamente no que se refere ao registro e à leitura do
o arquivo GERA, que consolida os fato ocorrido com a criança ou o adolescente, à definição das medidas a
dados, atualizando as informações
acumuladas no banco de dados serem adotadas e à realização do diagnóstico de violações vividas pelas
do computador onde o sistema crianças e adolescentes em determinada localidade.
está instalado. Posterior a isso, o
arquivo precisa ser enviado ao portal
para que as informações sejam
publicadas.
O atendimento a crianças, adolescentes e
suas famílias
Recebendo o fato
O conselho tutelar é chamado a agir toda vez que recebe uma comunica-
ção ou toma conhecimento de violação ou ameaça de violação dos direitos
de crianças e adolescentes. A comunicação pode ser feita por denunciante
anônimo, por escrito, por telefone ou pessoalmente. Para que seja consi-
derada consistente, no entanto, deve conter o nome da criança ou adoles-
cente, os direitos violados, o local ou endereço da ameaça ou violação e
qualquer referência que permita a verificação do fato comunicado.
Criança ou adolescente com
direito ameaçado – em risco Ao receber uma comunicação de violação ou de ameaça de violação
iminente de privação de bens
(materiais ou imateriais) ou interesses
dos direitos de crianças ou adolescentes, o conselheiro deve registrá-la
protegidos por lei. e apurá-la imediatamente. A apuração do fato deve ser feita no local
Criança ou adolescente com em que ocorreu a ameaça ou a violação de direitos (escola, domicílio,
direito violado – quando a privação
de bens ou interesses se concretiza. hospital etc), usualmente por meio de visitas de atendimento. Nos casos
Direitos podem ser ameaçados ou mais complexos, ou sempre que o conselheiro achar pertinente, o con-
violados por ação ou omissão da
sociedade ou do Estado, por falta, selho pode solicitar aos órgãos municipais a presença de um técnico
omissão ou abuso do responsável,
ou em razão da própria conduta da
(médico, psicólogo, assistente social) para a realização do atendimento
criança e do adolescente. (CONANDA, 2007). Em caso de não dispor de assessoria técnica, o
170
Conselhos tutelares
Para pensar
No município de Pirajú, além das crianças indígenas e da família, que pessoas
da comunidade poderiam ter prestado informações relevantes ao conselho
tutelar na condução do caso?
171
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
173
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para que um caso seja registrado pelo conselheiro tutelar no Sipia é necessário que
apresente três condições básicas de uma violação de direito:
Existência da vítima, isto é, de um sujeito de 0 a 18 anos incompletos que
tenha sofrido a violação ou ameaça. A criança ou o adolescente com direito
violado ou ameaçado deve ser identificado e cadastrado no sistema para que
se tenha o histórico de atendimento e a devida documentação do fato apre-
sentado. Essas informações são sigilosas por lei e somente o conselheiro pode
ter acesso a elas. Caso as informações não sejam preservadas, o conselheiro
estará infringindo a lei, tornando-se um violador em relação à criança ou ao
adolescente.
Direito violado ou ausência do mesmo, ou seja, prática de uma ação contrária
ao direito assegurado ou mesmo a ausência da ação necessária ao cumprimento
do direito assegurado na legislação. Tratando-se propriamente do registro do
direito violado no sistema, segue-se uma matriz de categorias de direitos, isto é,
uma tabela de caracterização das violações que está pautada nos cinco direitos
fundamentais. Uma leitura completa e objetiva do caso é fundamental para que
seja identificada a violação e dado o devido encaminhamento para ressarcir o
direito violado.
Agente violador é o responsável pela ação ou pela omissão que resultou
no descumprimento do direito. A violação pode ser responsabilidade de uma
ou várias pessoas, mas pode ser também de uma instituição. O Sipia especifica
cinco tipos de agentes violadores:
1. Pais ou responsáveis – parentes, familiares e pessoas que convivem
com a família do sujeito que sofreu a violação. Estão também incluídas
pessoas que não são estranhas ao ambiente familiar, que têm acesso
aos espaços de convivência da família e que lidam, no dia-a-dia ou fre-
qüentemente, com a criança ou o adolescente. No Sipia há as opções de
resposta: pai, mãe, padrasto, madrasta, irmãos, avós, tio/tia, responsável
e outros. Ressalta-se que é preciso ter cuidado ao acusar a família, nos
casos de violação, para que não lhe sejam demandados recursos e ati-
tudes que ela não tem condições de assumir. Às vezes, a violação, além
de atingir o menor de 18 anos, também afeta a família e a comunidade
com as quais ele convive. Assim ocorre, por exemplo, quando não se tem
transporte para uma escola distante, na área rural, ou quando a família
não tem moradia. Nesses casos, a responsabilidade não pode ser atribuída
aos pais ou ao responsável, cabendo avaliar as falhas e omissões do Estado
e da sociedade.
174
Conselhos tutelares
175
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
Identifique situações que geraram a aplicação de medidas protetivas no
conselho em que você atua. Reflita sobre a pertinência das medidas aplicadas
e os seus desdobramentos.
Quais as dificuldades encontradas em seu cotidiano para a aplicação
de medidas protetivas?
176
Conselhos tutelares
nesse caso, devem visar à eliminação dos motivos que o levaram à prática
infracional. O acompanhamento da família do adolescente em conflito
com a lei é outra ação de extrema importância. As medidas de proteção,
mesmo quando o judiciário não as determina, são fundamentais para
trabalhar na perspectiva de favorecer as condições de retorno do adoles-
cente ao convívio familiar, com as precauções para evitar reincidência.
177
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
178
Conselhos tutelares
179
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
180
Conselhos tutelares
181
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
3. Encaminhamentos especiais
182
Conselhos tutelares
Acompanhando o fato
Para pensar
Reflita sobre o acompanhamento dos fatos e/ou casos no conselho em
que você atua. Procure identificar as principais dificuldades e possíveis
alternativas de solução.
183
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Realizando o diagnóstico
Lendo os dados
Quando lemos os dados do Sipia precisamos lembrar que eles são produto
da alimentação do sistema e dependem, diretamente, da condição de fun-
cionamento do conselho tutelar e da interpretação dos casos de violação
dos direitos realizada pelos conselheiros. No processo de análise dos dados,
é importante perceber a relação deles com o conhecimento do conselheiro
sobre a sua realidade local, valorizando aspectos da sua experiência acumu-
lada pela observação meticulosa/atenta/cuidadosa do cotidiano da sua área
de atuação. Uma situação que podemos tomar como exemplo é o caso de
municípios que apresentam problemas referentes à violência que impac-
tam crianças e adolescentes e que, no entanto, não chegam ao conselho
em virtude da disseminação de uma cultura do silêncio ou do receio em
denunciar. Nesses casos, os dados do Sipia estariam subnotificados.
186
Conselhos tutelares
Esses exemplos fazem menção aos possíveis casos existentes que não são
registrados. Mas também precisamos atentar para a leitura do fato que
se apresenta ao conselho após a denúncia. Para que se possa aplicar a
medida adequada é fundamental a análise adequada da situação, iden-
tificando a violação e o agente violador. Como exemplo da importância
de uma análise mais apurada, imaginemos o caso em que uma mãe
não possui condições materiais para garantir a alimentação de um filho
recém-nascido e, mesmo não apresentando indicativos de negligência e
maus-tratos, tenha seu filho afastado do convívio familiar por decisão do
colegiado do conselho tutelar. O registro de um fato com tal leitura irá
indicar a mãe como agente violador do direito à convivência familiar e
comunitária com base na argumentação da falta de condições materiais.
A aplicação desta medida não atende ao preceito determinado no ECA,
uma vez que, nesse contexto, caberia uma medida de encaminhamento
da família aos serviços de assistência do município. No caso, a falta de
condições materiais é uma questão estrutural da sociedade em que vive-
mos e seria incorreto indicar a mãe como agente violador.
Outro aspecto a ser observado na leitura dos dados diz respeito à maneira
de categorizar o direito violado, considerando a classificação do NBB.
É possível que ocorram erros de classificação: no momento do cadastro no
sistema; na seleção de determinado item incorreto ou devido ao entendi-
mento diferente de uma mesma situação. Por exemplo: a violência física
está especificada nos grupos dos direitos fundamentais – Liberdade, Res-
peito e Dignidade e Convivência Familiar e Comunitária, na categoria
Inadequação do Convívio Familiar. Diante de um fato onde haja agressão
por parte de um familiar, a indicação é que o registro seja no grupo da
violação do direito Convivência Familiar e Comunitária. No entanto, pode
ocorrer do mesmo ser erroneamente registrado no grupo Liberdade, Res-
peito e Dignidade. Com base nesse exemplo, para o cálculo dos casos de
violência física será preciso considerar a soma dos registros dos dois grupos
de direito, para que se tenha o quadro total dos casos de violência física.
187
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Cabe destacar que a leitura dos dados locais permite não só contribuir
para a construção de um diagnóstico que possa subsidiar as políticas
da infância e adolescência, como servir de instrumento na análise das
interpretações dos conselheiros frente aos casos.
Elaborando o diagnóstico
Para pensar
Relembrando o caso das crianças do município de Pirajú, que dados poderiam
ser extraídos para subsidiar a elaboração de um diagnóstico sobre as
crianças indígenas daquela localidade?
constrangimento de repetir os fatos e vivenciar novamente o sofrimento. O art. 136 do ECA (BRASIL, 1990),
que dispõe sobre as atribuições
É importante que todo encaminhamento a outros serviços seja feito por do conselho tutelar, diz que para
escrito, em papel timbrado, com a descrição da situação, a identificação promover a execução de suas
decisões (inciso III), o órgão pode
do direito violado e dos procedimentos adotados pelo conselho. Deve “requisitar serviços públicos nas
conter, ainda, a solicitação de que o interlocutor comunique ao conselho áreas de saúde, educação, serviço
social, previdência, trabalho e
os procedimentos e o acompanhamento do fato. Este somente poderá segurança” (alínea a).
189
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
190
Conselhos tutelares
O Ministério da Saúde estabelece uma Ficha de Notificação Compulsória A Ficha de Notificação Compulsória
de maus-tratos fomenta o registro
de maus-tratos, instrumento de formalização da comunicação do fato ao dos casos dessa natureza no
conselho tutelar, estabelecendo uma rotina de procedimentos que orien- setor saúde que, com os dados
gerados pelas notificações,
tam a ação dos profissionais, especialmente os da área da saúde. O con- mune-se de informações para
selho tutelar pode se valer dessa ficha para iniciar os procedimentos de o desenvolvimento de políticas
de saúde de enfrentamento ao
proteção em parceria com os profissionais do serviço de atendimento. fenômeno da violência infanto-
juvenil. Assim, se em seu município
ela ainda não está implantada,
O conselho tutelar é também freqüentemente acionado pelo setor saúde fomentar sua implantação pode ser
para fazer cumprir a exigência de acompanhante da família junto à uma importante ação do conselho
tutelar para a promoção de políticas
criança ou ao adolescente, em casos de internação. A falta de acom- públicas.
panhamento pode ser precipitadamente caracterizada como negligência
por parte da família. O conselheiro deve ser cauteloso em sua avaliação,
procurando conhecer a realidade e verificando se a família tem condições
191
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Atenção!
192
Conselhos tutelares
A escola deverá comunicar ao conselho tutelar os casos de maus-tratos O ECA estabelece que o
conselho tutelar tem o poder
envolvendo seus alunos, de faltas injustificadas e evasão escolar (depois
de requisição do serviço público
de esgotados os recursos da escola), bem como os casos de elevados níveis de de educação, dentre outros
(BRASIL, 1990, art. 136, III, a);
repetência. Os casos referidos devem ser comunicados com relatório das mais especificamente estabelece
ações realizadas e seus resultados, para que o conselho tutelar possa como medida de proteção
a “matrícula e freqüência
aplicar as medidas de proteção adequadas. É vedado à escola expulsar obrigatória em estabelecimento
ou transferir aluno compulsoriamente sob qualquer alegação. O Regi- oficial de ensino fundamental”
(BRASIL,1990, art. 101, III).
mento Escolar não poderá ser contrário ao ECA. A escola, na impossibilidade
de atender à requisição por
falta de vagas, deve justificar
A relação da escola com o conselho tutelar é, em geral, conflituosa. Por formalmente ao conselho.
Nesse caso, o conselho deve se
um lado, temos a escola como a unidade do Estado responsável por
mobilizar, a fim de promover a
oferecer o acesso à educação pública de qualidade. Por outro, temos o ampliação de vagas na região,
indicando-a para o CMDCA e
conselho tutelar como órgão responsável por zelar pela garantia desse ao Poder Executivo ou, ainda,
direito. Considerando a realidade precária da educação pública, esta- notificando ao Ministério Público
a situação de oferta irregular de
belece-se aí uma relação de tensão. O conselho deve ter uma atenção vagas (algo que fere os direitos
especial para o setor educação, posto que a escola é o espaço externo à coletivos). Na situação de não
atendimento injustificado das
família de maior contato com a criança e o adolescente, constituindo-se requisições do conselho, cabe o
espaço privilegiado de conhecimento de suas realidades e histórias de recurso da representação junto
à autoridade judiciária (BRASIL,
vida. A escola, portanto, pode se tornar um importante aliado do conse- 1990, art. 136, III, b).
lho na sua missão de proteção especial nas situações de ameaça ou viola-
ção de direitos. Apesar disso, o conselho deve considerar as situações de
violações perpetradas pelos próprios agentes de educação, que também
demandam a intervenção do conselho.
193
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
194
Conselhos tutelares
A criança, de até 11 anos, que pratica ato infracional não deve ser levada
à delegacia, mas ao conselho tutelar, que aplicará as medidas de prote-
ção cabíveis. Quando se tratar de adolescente autor de ato infracional
(de 12 a 18 anos incompletos), ao conselheiro não compete acompanhar
depoimentos, assinar boletim de ocorrência ou localizar familiares.
195
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
§ 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos que dela necessi-
tarem, através de defensor público ou advogado nomeado.
§ 2º. As ações judiciais da competência da Justiça da Infância e Juven-
tude são isentas de custas e emolumentos ressalvada a hipótese de liti-
gância de má-fé (BRASIL, 1990, art. 141).
196
Conselhos tutelares
Não é fácil para a maioria dos conselhos efetuar essa fiscalização de forma
sistemática. Ainda mais complicado é avaliar a eficácia dos programas de
atendimento em execução na localidade. Como já dissemos, boa parte do
tempo e energia dos conselheiros é gasto no atendimento. Quanto maior
a abrangência do município, mais instituições e programas existem. Na
prática, muitos conselhos apenas conseguem acompanhar as instituições
denunciadas por graves violações de direitos. Por essas razões, definir a
esfera da fiscalização como parte importante do plano de ação do conse-
lho implica prever tempo e pessoas disponíveis para essa ação. Significa
atuar preventivamente e não apenas após a notificação de violação ou
ameaça aos direitos ter sido feita.
197
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
Quais as principais dificuldades encontradas pelo seu conselho ao fiscalizar
instituições e entidades? Quais as alternativas encontradas?
Reflita sobre o trabalho intersetorial como estratégia para a proteção das
crianças e dos adolescentes.
198
Conselhos tutelares
199
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
Você já utilizou as estatísticas do seu conselho tutelar e a sua experiência
cotidiana na localidade para apontar as áreas onde há maior necessidade de
recursos? Você já discutiu o orçamento da sua localidade com o Poder Executivo?
Em alguns municípios isso acontece! Em Betim, no estado de Minas Gerais,
por exemplo, o prefeito envia ofício para o conselho tutelar marcando
audiência para que este auxilie na elaboração e na execução do orçamento.
Isso ocorreu após anos de pressão política e sensibilização sobre a importância
de incluir os direitos de crianças e adolescentes na agenda governamental.
O papel de assessorar o Executivo é do conselho tutelar. Não espere que ele
solicite a sua assessoria. Faça valer as suas atribuições e zele pelos direitos
das crianças e dos adolescentes do seu município!
200
Conselhos tutelares
Atentar para a especificidade de cada caso requer um olhar atento sobre No Capítulo 2 – “Conselhos
dos direitos da criança e do
a diversidade existente entre as pessoas. adolescente”, tratamos da
diversidade e sinalizamos a
importância do reconhecimento das
Destacaremos algumas especificidades e diversidades que fazem parte diferenças como aspecto necessário
do cotidiano dos conselheiros tutelares e que precisam ser percebidas e à realização dos direitos humanos e
das liberdades fundamentais.
avaliadas criticamente no atendimento: faixa etária, gênero, raça/etnia,
sexualidade, presença de deficiências ou necessidades especiais. Com-
preender as diferenças de cada criança, adolescente e família, bem como
o contexto cultural, social e econômico de onde vêm é um passo funda-
mental para o planejamento da atenção oferecida. Trataremos, ainda, do
desafio que é atender crianças e adolescentes que vivenciam violências.
201
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
202
Conselhos tutelares
Para pensar
Com base nos resultados da pesquisa “Bons Conselhos” e recordando
o caso do município de Pirajú, que dificuldades o conselho tutelar desse
local enfrentou para conhecer melhor a realidade das crianças indígenas?
Que atitudes poderiam ter sido adotadas para obter esse conhecimento?
A dificuldade dos conselhos tutelares brasileiros em identificar crianças Grupos minoritários são os grupos
considerados diferentes do grupo
e adolescentes pertencentes a grupos minoritários aumenta ainda mais dominante por características
se pensarmos nas muitas formas de diversidades vivenciadas por esse étnicas, religiosas, de costumes
etc. Por essa razão, não têm a
grupo etário, algumas das quais discutimos a seguir. mesma garantia de direitos ou as
mesmas oportunidades que o grupo
majoritário. Esses grupos usualmente
Idade e desenvolvimento infanto-juvenil sofrem violações de seus direitos
por expressão de preconceitos,
Com a promulgação do ECA passamos a valorizar a condição peculiar da discriminações e hostilidades,
que devem ser denunciadas e
criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento, admitindo encaminhadas ao conselho tutelar.
espaço para as transformações próprias desse período no que se refere ao
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições
de liberdade e de dignidade.
203
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Desenvolvimento humano
Refere-se às mudanças que ocorrem ao longo do tempo de maneira ordenada
e relativamente duradoura e afetam as estruturas físicas e neurológicas, os
processos de pensamento, as emoções, as formas de interação social e mui-
tos outros comportamentos. Três aspectos são importantes para se entender o
desenvolvimento da criança e do adolescente: a existência de padrões univer-
sais, as diferenças individuais e as influências contextuais.
Protagonismo infanto-juvenil
Busca assegurar o exercício concreto da cidadania nas relações cotidianas,
colaborando efetivamente para a construção de sujeitos de direitos e deveres.
Estimular o protagonismo é atribuir progressivamente à criança e ao adoles-
cente a responsabilidade de autor de seu próprio desenvolvimento. Ao mesmo
tempo em que o sujeito adquire habilidades sociais para transitar em seu meio
com autonomia, ele deve ser capaz de estabelecer relações de cooperação,
participando da vida da comunidade.
Gênero
Os papéis que homens e mulheres exercem na sociedade definem formas
diferentes de se colocar e se relacionar no mundo. Então, quando falamos
de gênero estamos nos referindo às características atribuídas a cada um
dos sexos pela cultura de uma dada sociedade. A diferença entre sexo e
gênero está em que sexo é atribuído biologicamente e gênero é uma cons-
trução que se dá nas relações sociais e culturais entre mulheres e homens.
Em outras palavras, a cultura de uma sociedade tem peso determinante na
definição dos papéis que homens e mulheres vão exercer, influenciando o
desenvolvimento de formas diferenciadas de pensar e de ver o mundo.
O caso a seguir conta o drama de uma jovem paraense, que alcançou ampla
divulgação nos meios de comunicação brasileiros em 2007. A adolescente, com
idade entre 15 e 20 anos, foi colocada numa cela prisional com cerca de vinte a
trinta homens no estado do Pará e foi repetidamente violada durante quase um
mês. Ela havia sido presa em flagrante delito de furto e foi para a delegacia de
Abaetetuba, na região metropolitana de Belém, onde ficou na referida cela por
pelo menos 26 dias. O conselho tutelar do município confirmou que a jovem
tem menos de 18 anos e disse ter sido abusada sexualmente pelos colegas de
cela. Um responsável da polícia local justificou a prisão da jovem com outros
homens por ter sido apanhada em flagrante delito e a delegacia ter apenas
uma cela. O policial declarou ainda que, ao ser detida, a jovem afirmou ter 19
anos. Grupos de defesa dos direitos das mulheres dizem não se tratar de um
caso isolado.
Hematomas e queimaduras de cigarros. O conselheiro tutelar afirmou ter
recebido uma denúncia anônima sobre a situação. Segundo ele, a jovem tem
15 anos, conforme certidão de nascimento em poder do órgão. A prisioneira
apresentava hematomas e queimaduras de cigarros pelo corpo, segundo a
mesma fonte. Foi submetida a exame de corpo de delito, mas o relatório não
foi concluído. Os policiais que detiveram a jovem foram afastados das funções
pela direção da Polícia Civil do Pará.
Justiça do Pará estava a par da situação. A Justiça do Pará tinha sido infor-
mada de que havia uma mulher em uma cela com vinte homens, mas não agiu.
O policial responsável disse que as autoridades judiciais foram informadas no
dia imediatamente a seguir em que a jovem foi presa e que a polícia local
não podia tomar outras providências sem a sua autorização. A governadora
do estado do Pará, Ana Júlia Carepa, prometeu um inquérito completo sobre o
caso e se disse chocada com a notícia.
Para pensar
A propósito do caso mencionado, que aspectos relacionados à idade e ao
gênero estão presentes na violação de direitos da jovem paraense? Como
você avalia a estratégia do conselho tutelar nesse caso?
Como o conselho tutelar deve agir em relação à mídia, em casos que ganham
destaque como esse?
205
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
A Lei Maria da Penha (BRASIL, Grande parte das violências e discriminações sofridas por mulheres,
2006) cria mecanismos para coibir
e prevenir a violência doméstica e sejam elas jovens, idosas ou meninas, é estimulada pela indiferença
familiar contra a mulher. De acordo social ou a tolerância perante essas atitudes. Para tanto, contribuem as
com art. 5o desta lei “violência
doméstica e familiar contra a mulher visões de homens e mulheres adultos, que estimulam a subordinação
é qualquer ação ou omissão baseada entre crianças e adolescentes do sexo feminino, enquanto reforçam a
no gênero que lhe cause morte,
lesão, sofrimento físico, sexual agressividade para aqueles do sexo masculino.
ou psicológico e dano moral ou
patrimonial.”
A tentativa de assegurar a igualdade de direito entre os sexos, superando
as desigualdades das meninas em relação aos meninos, nos leva a desta-
car dois aspectos importantes no dia-a-dia do conselheiro: a exploração
sexual de crianças e adolescentes e o trabalho infantil doméstico.
Estereótipo é um conjunto Embora em nossa cultura seja muito comum a dominação das mulheres
de traços que supostamente
caracterizam um grupo, deformando
pelos homens, precisamos perceber que há muitas formas de vitimiza-
sua imagem da mesma maneira ção que acometem os homens, problematizando o estereótipo de que
que quando se faz uma caricatura,
com todos os perigos de distorção mulheres são sempre as vítimas e homens são sempre os agressores. Por
e empobrecimento da percepção exemplo, meninos sofrem muitas cobranças e pressões (físicas, psicoló-
social.
gicas e sociais) da sociedade para se mostrarem emocionalmente fortes
e estáveis. As mulheres representam papel importante na socialização
masculina, uma vez que são elas quem usualmente educam seus filhos
com a expectativa da força e da virilidade. Estudos têm mostrado, por-
tanto, que homens e mulheres sofrem violência de gênero (GOMES
et al., 2005), identificando violências cometidas pelos meninos contra
as meninas, dos meninos entre si, das meninas contra os meninos e
das meninas entre si.
206
Conselhos tutelares
Orientação sexual
Conforme a definição descrita no Programa Brasil Sem Homofobia
(BRASIL, 2004), orientação sexual significa:
(...) a atração afetiva e/ou sexual que uma pessoa sente pela ou-
tra. A orientação sexual existe num continuum que varia desde a
homossexualidade exclusiva até a heterossexualidade exclusiva,
passando pelas diversas formas de bissexualidade (p. 29).
Um dos princípios defendidos pelo programa citado reafirma que a Homofobia é o medo, a aversão
ou o ódio aos homossexuais. É a
defesa, garantia e a promoção dos direitos humanos incluem, necessa- causa principal da discriminação e
riamente, o combate a todas as formas de discriminação e de violência. da violência contra homossexuais
(MOTT, 1996).
Portanto, o combate à homofobia e a promoção dos direitos humanos
de homossexuais é um compromisso do Estado e de toda a sociedade
brasileira (BRASIL, 2004, p. 12).
207
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Raça/etnia
Racismo é a convicção de que existe uma relação entre as características
físicas hereditárias, como a cor da pele, e determinados traços de cará-
ter e inteligência ou manifestações culturais. O racismo subentende ou
afirma que existem raças, que algumas são superiores às demais e que
tal superioridade autoriza uma hegemonia política e histórica. Ao longo
da história, a crença na existência de raças superiores e inferiores foi
utilizada para justificar a escravidão e o domínio de determinados povos
por outros.
Raça
208
Conselhos tutelares
Para pensar
Na função de conselheiro, alguma vez você presenciou discriminações e
estereótipos direcionados a criança ou adolescente sob seus cuidados? Em
que contexto essa situação ocorreu?
Você e os demais colegas do conselho tutelar já discutiram sobre como
identificar situações discriminatórias e a melhor forma de atender crianças
e adolescentes sob essas condições?
209
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
De que forma os conselhos tutelares poderiam se preparar para entender
melhor a cultura indígena, especialmente as formas de cuidado existentes
na família e na comunidade?
Como lidar com diferentes poderes existentes nas distintas culturas, como
o dos pais, do xamã, da Funai, do conselho tutelar, do juiz da infância e
juventude etc?
Como agir para disseminar o debate sobre este tema, ainda tão pouco
realizado pela sociedade brasileira?
Deficiências
Em todo o mundo a Organização das Nações Unidas estima a existên-
cia de cerca de 600 milhões de pessoas com deficiência, das quais 80%
concentram-se em países em desenvolvimento. No Brasil, segundo o
210
Conselhos tutelares
Com base nesses dados oficiais do IBGE, Neri (2003) descreve graus
diferenciados de deficiência e conclui que 2,5% da população brasileira
apresentam incapacidade de ouvir, enxergar ou andar e/ou deficiência
física ou mental. Utilizando-se dos mesmos dados, o Fundo das Nações
Unidas para a Infância realizou um estudo sobre diversidade na infân-
cia e na adolescência, revelando que no Brasil existem 2,9 milhões de
crianças e adolescentes com idade entre 0 a 17 anos que apresentam
pelo menos alguma deficiência, 4,7 % do total de crianças e adolescen-
tes do país. A maior ocorrência segundo o tipo de deficiência registrada
pelo estudo foi a deficiência visual, atingindo 1,6 milhão de crianças e
adolescentes (UNICEF, 2003).
211
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Paralisia cerebral Uma ou mais lesões em diferentes áreas do cérebro, com modificações
na fala, visão, audição e organização motora, havendo em muitos casos a
inteligência preservada.
Deficiência visual Perdas visuais, parciais ou totais, após correções óticas ou cirúrgicas, que
limitem o desempenho normal.
Deficiência Perdas auditivas, parciais ou totais, após correções cirúrgicas ou uso de
auditiva aparelho, que limitem o desempenho normal.
Deficiência mental Retardo mental medido por testes ou pelo desempenho funcional,
com rendimento intelectual inferior à média e prejuízos nos padrões
comportamentais esperados para a idade.
Deficiência Agrupa duas ou mais deficiências numa organização evolutiva mais
múltipla complexa pelo efeito interativo de incapacidades e desvantagens.
Autismo Síndrome comportamental dos primeiros anos de vida, caracterizada
por desvios qualitativos na comunicação, interação social e no uso da
imaginação com severos prejuízos sociais, havendo deficiência mental
associada ou inteligência quase normal ou normal.
Psicose infantil Interrupção progressiva ou abrupta do desenvolvimento normal de uma
criança com graves distúrbios de comportamento, havendo parada ou
retrocesso do desenvolvimento.
Dependente de Severa deficiência ou doença crônica, associada à dependência de serviços
tecnologia médicos que compensem funções vitais pelo uso de equipamentos, ou
pela dependência de cuidados permanentes de enfermagem para evitar
a morte ou deficiências futuras. Podem fazer uso da ventilação mecânica,
traqueostomia, terapia do oxigênio, terapia intravenosa ou hemodiálise.
O modo como fazemos referência às pessoas com deficiência é algo que tem
uma história. É importante termos cuidado com o que falamos, uma vez que a
palavra enunciada pode funcionar como “porta-voz” de preconceitos sem que
percebamos.
Até a década de 1960 prevalecia no Brasil e no mundo o termo “incapacitados”.
Nele estava implícita a idéia de que qualquer deficiência reduzia a capacidade
do indivíduo em todos os aspectos (físico, psicológico, social, profissional, den-
tre outros). Entre os anos 1960 e 1980 se adotou os termos “deficientes” e
“excepcionais”. O primeiro termo traz a desvantagem de generalizar a pessoa
dentro da idéia de deficiência (que atinge “a totalidade do ser”); o segundo
passou a se referir somente aos indivíduos com deficiência intelectual, deixando
de incluir os desviantes da norma na outra ponta da curva da normalidade,
212
Conselhos tutelares
os indivíduos com altas habilidades. De 1981 até 1987, a ONU adotou o termo
“pessoas deficientes”, deixando de utilizar a noção de “indivíduos” e passando
a adotar a noção de “pessoas”, a fim de igualá-las aos demais membros da
sociedade. Algumas organizações contestaram o uso de “pessoa deficiente”,
alegando que isso também apontava para a idéia generalizante de que a pes-
soa “por inteiro” era deficiente.
Em 1988, o ano da nossa Reforma Constitucional, foi adotado o termo “pessoas
portadoras de deficiência”, apenas em países de língua portuguesa. A noção de
“portar uma deficiência” passou a ser um valor agregado à pessoa, ou seja, a
deficiência passou a ser vista como um detalhe da pessoa. Esse termo, que às
vezes é usado de modo abreviado, “portadores de deficiência”, foi adotado na
Constituição Federal e em todas as leis e políticas na área da deficiência.
Em 1990, surge o termo “pessoas com necessidades especiais”, visando subs-
tituir “deficiência” por “necessidades especiais”. Algumas vezes utiliza-se tam-
bém “portadores de necessidades especiais”. Essa concepção amplia a noção
clássica de deficiência com causa orgânica (do tipo sensorial, motora, mental
e múltipla) para agrupar outros tipos com ou sem causa orgânica (como o
distúrbio da linguagem, distúrbio da aprendizagem, transtornos do compor-
tamento, autismo, psicose infantil, entre outros). O termo “pessoas especiais”
é uma forma reduzida de se referir às pessoas com necessidades especiais e,
por isso, surgiram expressões como “crianças especiais”, “alunos especiais” e
“pacientes especiais”.
A Declaração de Salamanca, disponível no site do Ministério da Educação,
preconiza, desde 1994, a educação inclusiva para todas as pessoas, com ou
sem deficiência. Ela adotou o termo “pessoas com deficiência” referindo-se
àquelas com necessidades educacionais especiais. A idéia é a de reconhecer
que as pessoas com deficiência fazem parte de um grande segmento social de
excluídos que devem ser inseridos em cada aspecto da vida social. No século
XXI, eventos mundiais e diversas organizações têm adotado o termo “pessoas
com deficiência”. O termo “portador” tem sido questionado por sua alusão a
idéia de “portar” (levar) uma deficiência, noção imprecisa. Portanto, o termo
“pessoas com deficiência” é o que ganhou maior adesão tendo sido incluído no
texto da Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dig-
nidade das Pessoas com Deficiência/ONU (SASSAKI, 1999; 2003). A Convenção
Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência de 2006, ratificada
pelo Brasil também corrobora o uso do termo “pessoas com deficiência”.
213
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Ana é uma mulher de 30 anos que sofre de transtorno mental e tem uma
filha de nove anos, Jane, com paralisia cerebral desde o nascimento.
O pai é usuário de drogas e a mãe usou drogas durante a gravidez.
214
Conselhos tutelares
Mãe e filha residiam em uma casa de fundos, quarto e sala (sem divisó-
ria), cozinha e banheiro, num local perigoso. O telhado, feito de telha,
tinha um buraco, que demandava o uso de balde em dias de chuva,
e algumas janelas estavam quebradas, sendo fechadas com plástico.
Embora o sogro e o irmão fossem pedreiros, esse problema persistiu por
longo tempo e, simbolicamente, ele parecia refletir a mente “vazada” de
Ana, sem um “telhado” de “contenção emocional” que lhe amparasse e
sem janelas para barrar os ventos e as tempestades interiores. –“Ah, eu
queria tanto que minha mãe cuidasse de mim”– dizia Ana, demandante
de cuidados. Jane é acompanhada com regularidade num Centro de
Reabilitação e Promoção Social.
Para pensar
Como ajudar Jane e Ana, em meio a tantas vulnerabilidades?
Em sua opinião esse caso deveria ser notificado ao conselho tutelar? O que o
conselho poderia (ou deveria) fazer nessa situação?
Com a mãe doente e o pai e a avó ausentes, o ciclo de violência (negli- Ainda neste capítulo apontamos
para o fato de que diversas formas
gência) a que Jane estava submetida precisava ser interrompido. Os de violência são reproduzidas e
fatores de risco combinados violavam os direitos de cuidado e proteção perpetuadas em determinados
grupos familiares.
da criança: a doença da mãe, a falta de apoio da família ampliada, a
desorganização da família, impedindo a regularização da documentação
e dificultando o acesso a benefícios, perpetuando a falta de recursos e a
pobreza. A equipe do Centro de Reabilitação fez várias tentativas para
sensibilizar os demais integrantes da família, conseguindo que o pai
viesse poucas vezes para uma conversa; a avó paterna continuava sem
215
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
assumir um amparo maior, alegando ter outros netos para cuidar; a avó
materna foi localizada e aparentemente se comprometeu em colaborar.
Na prática, no entanto, essa ajuda não foi adiante. Esgotadas todas as
possibilidades, a equipe fez uma notificação ao conselho tutelar, que
agiu em consonância com as alternativas pensadas pela equipe: acionou
a participação direta do pai e das avós. A avó materna ficou com a res-
ponsabilidade de garantir a continuidade do tratamento de Ana.
Para pensar
Que fatores protetores você identifica no caso de Ana e Jane? Será que a
equipe do Centro de Reabilitação demorou a notificar o caso ao conselho
tutelar ou, ao contrário, será que ela agiu corretamente esgotando primeiro
todas as alternativas? Como você avalia a estratégia da equipe e do conselho?
Violências
Além do desafio de identificar e trabalhar com a especificidade e a diver-
sidade de cada criança e adolescente, em sua prática o conselheiro(a)
tutelar deve estar atento às diversas formas de violência a que estão
freqüentemente submetidas crianças, adolescentes e suas famílias. Des-
tacamos o grande número delas que vivem em situação de pobreza e
vulnerabilidade, primariamente devido à violência estrutural a que estão
submetidas, violando seus direitos mais básicos.
216
Conselhos tutelares
217
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
218
Conselhos tutelares
219
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224
4. Comunicação e mobilização dos
conselhos com instituições parceiras,
redes de serviços e sociedade civil
225
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
O Capítulo 2 apresenta o caso da A ação dos conselhos tutelares e dos direitos no que se refere à evasão
evasão escolar no município de
Santana do Grajaú. Se você ainda escolar em Santana do Grajaú é um bom exemplo de ação articulada.
não o leu, sugerimos que faça uma Contudo, é preciso diferenciar uma eventual ação articulada de uma
leitura atenta do referido caso,
antes de prosseguir o estudo deste atuação de longo prazo em rede. Embora uma eventual ação articulada
capítulo, visto que muitas idéias possa ser o início de um processo de articulação de um atendimento
lá apresentadas vão ajudá-lo a
acompanhar e compreender melhor em rede, neste capítulo trataremos das articulações cotidianas mais a
a análise feita a seguir sobre o
trabalho intersetorial integrado e o
longo prazo.
atendimento em rede, com base em
situações práticas.
O foco deste capítulo é a constituição e atuação de redes locais e micro-
territoriais de programas e serviços da política de promoção, proteção,
defesa e atendimento dos direitos da criança e do adolescente. Ressalta-
mos, porém, que essas redes estão conectadas ou são encontros de outras
redes mais amplas, locais, estaduais e nacionais. Por exemplo, os conse-
lhos dos direitos formam entre si mesmo a sua própria rede em âmbito
local, estadual e nacional. Os conselhos tutelares também formam entre
eles uma rede específica com dimensões local, estadual e nacional. Por
sua vez, é fundamental que os conselhos dos direitos e tutelares atuem
em rede e sejam parte de uma rede mais ampla, chamada Sistema de
Garantia de Direitos. A atuação desses conselhos em relação aos demais
atores ligados à defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes – os
centros de defesa, as defensorias públicas, as promotorias da infância e
da juventude e as varas especializadas da infância e juventude – é outro
aspecto fundamental para a existência de uma rede de proteção.
226
Comunicação e mobilização dos conselhos com instituições parceiras, redes de serviços e sociedade civil
Para pensar
O atendimento numa perspectiva de rede exige articulação, integração e
complementaridade das ações de cada órgão ou serviço envolvido. A rede
de atendimento é formada por um conjunto de órgãos e serviços que não
atua, necessariamente, de forma articulada, integrada ou complementar.
Em seu município, certamente existem vários serviços/instituições que atendem
crianças e adolescentes, constituindo uma rede de atendimento. Segundo
seu ponto de vista, essa rede de atendimento oferece atendimento
em rede? Por quê?
Em qualquer ação em rede voltada para a garantia dos direitos das crian-
ças e dos adolescentes, a participação dos conselhos dos diretos e tute-
lares é essencial. Primeiro, por esses conselhos serem fundamentais ao
Sistema de Garantia de Direitos. Segundo, porque possuem atribuições
específicas (essenciais em uma ação intersetorial) que não podem ser
desempenhadas pelos demais componentes da rede.
227
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Caso – Juliana
Nome
Juliana Silva, nascida em 21/12/1990, filha de Rosilda e José Dias, mãe
diarista e pai falecido.
228
Comunicação e mobilização dos conselhos com instituições parceiras, redes de serviços e sociedade civil
25 de dezembro de 1991
O SOS Criança foi chamado por vizinhos que relataram que as três
crianças, que viviam com a mãe e cujo pai havia falecido, estavam sem
receber cuidados mínimos, inclusive sem alimentação. Na visita foi
observado que a mãe encontrava-se embriagada e, segundo os vizinhos,
havia batido nas crianças por elas terem ido pedir alimento na casa dos
vizinhos. A mãe foi orientada e a família passou a ser acompanhada pelo
SOS Criança.
18 de janeiro de 1992
Após contato do SOS Criança com a unidade de saúde e a creche, a mãe
foi orientada a levar as filhas para consulta médica, visto que apresen-
tavam várias feridas pelo corpo e sinais de desnutrição. Priorizou-se o
ingresso das irmãs na creche do bairro.
11 de fevereiro de 1992
Péssimas condições de higiene. Os vizinhos disseram que a sra. Rosilda
cheirava cola, bebia muito e deixava as crianças sozinhas nos finais de
semana; além disso, estava grávida. Foi constatado que as crianças não
haviam sido levadas à consulta, na unidade de saúde, nem à creche.
06 de março de 1992
As irmãs foram afastadas da mãe pelo Juizado da Infância e da Juven-
tude, permanecendo no educandário até setembro de 1996, quando, por
ordem judicial, foram devolvidas à mãe, agora com um novo compa-
nheiro (sr. Hélio Mariano, mecânico) e dois filhos.
Para pensar
Você pode observar que, apesar do contato do SOS Criança com a unidade
de saúde e a creche, esses serviços não estabeleceram entre si uma
comunicação efetiva, que repercutisse em uma atenção conjunta e resultados
mais favoráveis.
Reflita sobre a perspectiva do atendimento em rede e as ações necessárias
à sua efetivação, com base nesse caso.
229
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Outubro de 1996
Na escola – Juliana começou a freqüentar a escola, mas faltava com
muita freqüência e não conseguia acompanhar as outras crianças. Estava
sempre desatenta e dormia durante as aulas. A mãe foi chamada várias
vezes para conversar sobre a criança, sem resultados. Nesse mês, foi cha-
mada novamente para justificar as faltas da Juliana. Compareceu para
informar que a filha havia caído da bicicleta e quebrado a perna, motivo
da sua ausência. Disse, também, que a filha fica freqüentemente doente,
por isso falta às aulas; acrescentou, ainda, que Juliana sempre foi muito
preguiçosa, tem problemas na cabeça e não gosta de estudar.
20 de fevereiro de 1997
Juliana foi encontrada na rua, de madrugada, após telefonema anônimo
para a delegacia informando que uma criança havia sido atropelada
naquele local. Foi levada ao hospital, onde faleceu três dias depois.
230
Comunicação e mobilização dos conselhos com instituições parceiras, redes de serviços e sociedade civil
Para pensar
Você reparou que Juliana passou por vários serviços (SOS Criança, Juizado
da Infância e da Juventude, escola, unidade de saúde e hospital)? Como
você avalia a conduta dos serviços que atenderam a menina?
231
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
No contexto das questões sociais, a rede tem sido vista como a solução
adequada para administrar políticas e projetos nas seguintes situações:
em que os problemas sejam complexos, em que existam múltiplos atores
envolvidos, em que interajam agentes públicos, setores não governa-
mentais, serviços centrais e locais e em que exista uma considerável
demanda por respostas.
Para pensar
O atendimento em rede já existe em seu município? Caso sim, qual é a forma
de inserção dos conselhos dos direitos e tutelares na rede? Se não, que
providências devem ser tomadas para implantar esse tipo de atendimento?
232
Comunicação e mobilização dos conselhos com instituições parceiras, redes de serviços e sociedade civil
Educação
Saúde Ação Social
Município
Conselho Nucria
Educação
ONG
Estado
Para pensar
As organizações que você conhece trabalham de forma verticalizada ou
horizontalizada na garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes?
Reflita sobre o modo como você trabalha no seu cotidiano. As relações que
você estabelece com as demais instituições são verticalizadas ou em rede?
233
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes, esse trabalho ocorre
pela construção de vínculos que se complementam e possibilitam o
compartilhamento de responsabilidades.
235
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
236
Comunicação e mobilização dos conselhos com instituições parceiras, redes de serviços e sociedade civil
Para pensar
No caso da Juliana, se existisse, efetivamente, uma atuação em rede, o que
poderia ter sido diferente? Qual seria a atuação do conselho tutelar naquelas
circunstâncias?
Caso – Jorgina
A história da Jorgina aconteceu na chegada do século XXI (CAVALCANTI,
2002). Ela mora em um morro do Rio de Janeiro com dois filhos, uma
menina de dois anos e um menino de um ano e três meses. Durante
o dia, deixava-os a sós dentro de casa e saía à procura de trabalho e
comida. O pai do caçula era traficante e estava preso. O pai da menina,
também envolvido com drogas e ex-presidiário, morava no morro com
a mãe e a família.
237
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
O enterro só foi efetuado após a criança ser registrada (ação até então
obstaculizada), tendo em vista a necessidade do atestado de óbito. Ime-
diatamente a mãe perdeu a guarda da menina, que foi internada em
uma instituição, por ordem judicial.
Para pensar
Como você analisa as ações da rede de instituições envolvidas no apoio a
Jorgina e seus filhos?
Você concorda que essa rede de atendimento não se configurou como um
atendimento em rede? De que forma as instituições poderiam
ter se organizado para oferecer um atendimento eficaz?
238
Comunicação e mobilização dos conselhos com instituições parceiras, redes de serviços e sociedade civil
Para pensar
Quais as potencialidades do trabalho em rede? Procure levantar algumas com
base em suas experiências.
Para pensar
Relembrando a história da Juliana, você reparou que, na escola, a mãe da
criança relatou que a menina havia caído da bicicleta e, na unidade de saúde,
da escada? Se houvesse comunicação efetiva entre a escola e a unidade
de saúde, esse fato representaria, certamente, um sinal de alerta para maus-
tratos e para a adoção de ações de proteção e acompanhamento do caso.
E no caso da Jorgina, você notou a precária comunicação que havia entre
as instituições?
De que forma o conselho tutelar pode melhorar a comunicação entre as
instituições e a atenção à criança e sua família? De que modo pode melhorar
a sua própria atuação?
239
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
240
Comunicação e mobilização dos conselhos com instituições parceiras, redes de serviços e sociedade civil
241
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Uma vez que a violação de direitos tem causas múltiplas e várias con-
seqüências, configurando situações que requerem encaminhamentos
e acompanhamentos sistemáticos, o trabalho em rede possibilita uma
combinação de intervenções capaz de promover a atenção integral.
Todas as questões passam a ser acompanhadas por profissionais de várias
áreas ou especialidades, possibilitando que as ações específicas de cada
setor sejam colocadas à disposição para o enfrentamento da questão.
O trabalho em rede amplia a possibilidade de ação e de decisão de cada
um dos componentes e da rede como um todo.
Para pensar
Segundo seu modo de ver, como a sua atuação no conselho poderia
potencializar as ações dos demais atores/instituições integrantes de uma rede
de garantia dos direitos da criança e do adolescente? Como a atuação dessas
instituições poderia potencializar a sua atuação no conselho?
242
Comunicação e mobilização dos conselhos com instituições parceiras, redes de serviços e sociedade civil
243
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
244
Comunicação e mobilização dos conselhos com instituições parceiras, redes de serviços e sociedade civil
Para pensar
Quais são os atores/instituições que você identifica como potenciais parceiros
no seu estado/município?
245
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
Em seu estado/município, quais são os atores/instituições que você escolheria
para participar dos primeiro e segundo momentos de estruturação da
rede? Por quê?
Definição da agenda
Um calendário deve ser definido em conjunto pelos participantes que se
propõem a formar uma rede. É importante que as instituições presentes
possam pensar e convidar outras pessoas e instituições que sejam poten-
ciais parceiros. Alguns elementos têm que ser previstos na agenda de
reuniões dos integrantes da rede: a) acesso à “metodologia da ação em
rede” (LOPES et al., 2008); b) acesso aos conhecimentos relacionados ao
tema “direitos humanos das crianças e dos adolescentes” e temas corre-
latos (maus-tratos contra essa população, entre outros); c) apresentação
da instituição que representa (missão, valores sobre o problema, alcance
de suas ações, público que atende, formas de encaminhamento, capaci-
dade do serviço e contribuição para a construção da rede); d) estímulo
e garantia de troca de informações, compartilhamento de experiências,
aprendizado conjunto e realização de ações coletivas; e) acesso a infor-
mações sobre a realidade local acerca dos direitos violados.
Capacitação/sensibilização continuada
A capacitação deve envolver profissionais de diferentes áreas, principal-
mente daquelas diretamente ligadas à atenção a crianças e adolescentes
em nível local (escolas, creches, unidades de saúde, hospitais, assistên-
cia social, entre outras), porque possuem maior potencial de percep-
246
Comunicação e mobilização dos conselhos com instituições parceiras, redes de serviços e sociedade civil
Para pensar
Que outros conteúdos você sugere para a capacitação dos integrantes
de uma rede de defesa dos direitos da criança e do adolescente?
247
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
248
Comunicação e mobilização dos conselhos com instituições parceiras, redes de serviços e sociedade civil
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
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Comunicação e mobilização dos conselhos com instituições parceiras, redes de serviços e sociedade civil
251
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Observe que cada uma das redes citadas, embora localizadas em diferen-
tes municípios/estados do país, apresentou um motivo desencadeador
para a sua criação. Há também especificidades em relação ao ator que
fomentou a sua estruturação, ao público ou problema-alvo, à compo-
sição e estrutura de cada rede. Essas especificidades estão diretamente
relacionadas à realidade de cada região. Não existe, portanto, um modelo
único a ser seguido, uma vez que cada realidade deve ser considerada.
252
Comunicação e mobilização dos conselhos com instituições parceiras, redes de serviços e sociedade civil
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5. Orçamento público e fundos dos
direitos da criança e do adolescente
Francisco Sadeck
255
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Orçamento público
O orçamento público tem tudo a ver com o nosso dia-a-dia. Grande parte
das receitas governamentais, ou seja, do dinheiro que o governo arre-
cada, sai do nosso bolso, direta ou indiretamente. Quando compramos
pãezinhos ou arroz, pagamos a conta da luz ou da água, por exemplo,
repassamos uma parcela do que ganhamos para o governo, em forma
de impostos indiretos, embutidos no preço das mercadorias e das tarifas
dos serviços públicos. Há também impostos diretos, como o imposto de
renda, pago por milhões de pessoas quando recebem o salário mensal ou
quando prestam serviços para alguma empresa, ou para outra pessoa.
256
Orçamento público e fundo dos direitos da criança e do adolescente
Para pensar
Relembrando o caso do André, morador do município de Santana do Grajaú,
apresentado no Capítulo 2, responda:
Como a atuação qualificada dos conselhos sobre o orçamento público
poderia garantir material pedagógico especial para o menino?
De que modo o conselho poderia ajudar a promover políticas educacionais
de qualidade para crianças e adolescentes com necessidades diversas?
257
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
Você sabe como é elaborado o orçamento no seu estado/município? Você
participa da sua elaboração?
Procure a secretaria a qual o conselho está ligado e informe-se
sobre os prazos e possíveis formas de participação.
258
Orçamento público e fundo dos direitos da criança e do adolescente
Para pensar
Quais são as políticas prioritárias para a infância e a adolescência no seu
município? Elas são contempladas no orçamento?
Para pensar
Seu estado/município fornece acesso às informações orçamentárias?
No caso de não conseguir acessá-las, você sabe que o Ministério Público
pode ajudá-lo a obter os dados?
260
Orçamento público e fundo dos direitos da criança e do adolescente
261
TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
No seu município tem orçamento participativo? Como ele funciona?
Você considera o processo de participação popular no orçamento
municipal eficaz no sentido de assegurar as demandas da sociedade?
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Orçamento público e fundo dos direitos da criança e do adolescente
O ciclo orçamentário
Três leis compõem o ciclo orçamentário:
O papel das três leis (PPA, LDO e LOA) é integrar as atividades de plane-
jamento e orçamento para assegurar o sucesso da ação governamental
nos municípios, nos estados e no país.
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
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Orçamento público e fundo dos direitos da criança e do adolescente
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
Responda as indagações a seguir sobre a atuaçao dos conselhos dos direitos
e tutelares no ciclo orçamentário do seu estado/município.
Os conselhos tutelares são chamados para ajudar na elaboração do
orçamento, de acordo com o art. 136, inciso IX do ECA?
Os conselhos dos direitos e tutelares realizam articulações para incluir políticas
de infância como prioridade na LDO, tanto no Executivo quanto no Legislativo?
Você observa alguma articulação para assegurar e aumentar os recursos
para políticas de infância na LOA, tanto no Executivo quanto no Legislativo?
Como ela ocorre?
O que os conselhos dos direitos e tutelares podem fazer para garantir o
controle social sobre os gastos públicos no seu estado/ município?
Tem havido situações de contingenciamento (ver definição mais adiante) de
recursos do orçamento em sua localidade? Isto afetou as ações do conselho?
Você tem acesso ao relatório de execução orçamentária e à prestação de contas?
Qual o prazo para o Legislativo julgar a prestação de contas do Executivo?
O processo orçamentário
O processo orçamentário diz respeito ao papel de cada poder no orçamento
público: como o orçamento é elaborado, discutido e aprovado e como a
execução de suas ações é fiscalizada e avaliada. Cada poder tem papel
específico nesse processo: ao Executivo cabe elaborar os projetos de lei e
executá-los; ao Legislativo compete discutir, propor emendas, aprovar as
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Orçamento público e fundo dos direitos da criança e do adolescente
Os conselhos dos direitos têm o papel de garantir que o seu plano de ação
e as diretrizes e metas elencadas como prioritárias para as políticas sociais
públicas, destinadas a crianças e adolescentes, sejam contempladas nas
leis orçamentárias. Cabe aqui apresentar o exemplo do Conselho Nacional
dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), que participou ati-
vamente da discussão do PPA 2008-2011 do governo federal. O Conanda
determinou as diretrizes das políticas para infância e a adolescência que
deveriam ser incluídas no PPA, como a inclusão do Sinase, do Plano
Nacional de Convivência Familiar e Comunitária, dentre outros.
a inclusão do plano de ação dos conselhos municipais dos direitos no Plano
Plurianual (PPA) dos municípios foi realizada por 78% dos conselhos, sendo, de
maneira integral, em 29%, e de maneira parcial, em 49%?
22% dos conselhos não conseguiram levar, nem mesmo parcialmente,
aspectos de seus planos de ação para o Poder Executivo Municipal?
entre os conselhos estaduais dos direitos, 48% tiveram seus planos de ação
parcialmente incluídos no orçamento estadual, 26% tiveram seus planos inseri-
dos integralmente e os planos dos outros 26% não foram incluídos?
Fonte: Pesquisa nacional Ceats/FIA (2007), com dados de 2006, referentes a 49% dos conselhos municipais e 96% dos
conselhos estaduais de direitos.
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Orçamento público e fundo dos direitos da criança e do adolescente
Para pensar
Como ocorre o processo de elaboração do orçamento pelo Executivo no seu
estado/município?
O seu conselho tutelar participa junto ao Poder Público na definição de metas
e políticas para a infância e adolescência?
O conselho dos direitos tem determinação nas políticas públicas para a
infância no seu estado/município?
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Essa prática normalmente resulta enorme ganho social, uma vez que
possibilita a alocação de recursos para a garantia e efetivação dos direitos
de crianças e adolescentes. Além disso, evita que a decisão sobre o que é
ou não prioritário fique apenas nas mãos do Poder Executivo.
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Orçamento público e fundo dos direitos da criança e do adolescente
Para pensar
Há algum canal de participação da sociedade no orçamento do seu estado/
município?
Existe alguma iniciativa/parceria dos conselhos tutelares e dos direitos com
o Legislativo local?
Há uma frente parlamentar da infância e adolescência no Legislativo
de seu município?
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
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Orçamento público e fundo dos direitos da criança e do adolescente
Para pensar
Você tem acesso às informações sobre a execução orçamentária do seu
estado/município?
Sabe quanto o governo gasta em políticas para a infância e a adolescência?
O conselho dos direitos solicita/recebe periodicamente relatórios
sobre orçamento das políticas para infância e a adolescência?
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
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Orçamento público e fundo dos direitos da criança e do adolescente
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
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Orçamento público e fundo dos direitos da criança e do adolescente
Para pensar
No seu município existe um Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente?
Como ele é chamado?
A transparência no gasto público é uma das linhas de ação do conselho
dos direitos em seu município? O Poder Público presta contas à sociedade
e emite relatórios dos recursos que aplica nas políticas para a infância?
O ECA prevê a criação do FDCA nas três esferas da federação, a fim de O Fundo é uma das condições
fundamentais para a realização
agregar os recursos financeiros necessários à instalação e manutenção dos princípios e diretrizes do ECA.
da rede de proteção. Os fundos são criados como uma das diretrizes da Não existe prioridade absoluta sem
prioridade orçamentária!
política de atendimento à criança e ao adolescente. Ressaltamos que o
FDCA não responde pela totalidade da política para crianças e adoles-
centes, é apenas parte do todo!
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
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Orçamento público e fundo dos direitos da criança e do adolescente
Essas políticas devem ser implementadas, de forma descentralizada, Vale lembrar que as entidades
não governamentais só podem
por entidades de atendimento governamentais ou não governamentais, receber recursos do FDCA depois de
mediante inscrição de programas no conselho municipal dos direitos da registradas no conselho municipal
dos direitos da criança e do
criança e do adolescente. adolescente.
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Para pensar
Os recursos do FDCA são utilizados para o funcionamento dos conselhos dos
direitos ou tutelares em seu município? Quais os programas complementares
financiados com recursos do Fundo?
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Orçamento público e fundo dos direitos da criança e do adolescente
Para pensar
É importante que o conselho faça a Declaração de Benefícios Fiscais (DBF)
para a Receita Federal. Assim, evita que a pessoa que fez a destinação do
Imposto de Renda para o Fundo dos Direitos caia na malha fina.
O conselho do seu município procede desse modo ao receber destinações
do Imposto de Renda? Envia recibo de destinação para o Fundo às pessoas
físicas ou jurídicas? Presta contas da receita, dá informações ou emite
relatórios para quem faz a destinação, informando como os recursos foram
aplicados?
No caso do FDCA, a legislação não faz referência a transferências de fundo
a fundo, como, por exemplo, no caso da assistência social. Uma vez que
a legislação nada informa sobre a questão, esse tipo de transferência não
acontece de maneira permanente e institucionalizada. Sabe-se que alguns
conselhos dos direitos, como o de São Paulo, adotam transferências fundo a
fundo do FDCA estadual para o municipal.
Esse tipo de transferência também ocorre no seu município?
Gestão do FDCA
O fundo da criança e do adolescente está vinculado ao conselho dos
direitos, que é o órgão responsável por estabelecer os critérios gerais de
aplicação e fiscalização dos recursos. Ao incorporar a participação da
sociedade civil no poder decisório, o conselho contribui para a formação
de um espaço público no qual a questão da democratização das políticas
sociais está em foco.
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
A elaboração do plano de ação A prioridade de direcionamento dos gastos deve ser dada às políticas de
pelo conselho dos direitos é um dos
temas tratados no Capítulo 2. atendimento a crianças e adolescentes, fundamentadas em um plane-
jamento elaborado pelo conselho dos direitos. Esse planejamento com-
preende a base da atuação do conselho e é composto por quatro etapas:
1) diagnóstico local da situação da criança e do adolescente; 2) plano de
ação; 3) plano de aplicação; e 4) avaliação das atividades desenvolvidas
na área.
A CPP também está relacionada ao fundo, uma vez que é da sua respon-
sabilidade o processo de implantação dos projetos financiados por ele e
a mediação entre as entidades e as Secretarias de Governo, responsáveis
por acompanhar os projetos. É nessa comissão que são aprofundadas as
discussões que subsidiam a elaboração das diretrizes da política muni-
cipal para crianças e adolescentes. Ela também é responsável pelo
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Orçamento público e fundo dos direitos da criança e do adolescente
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
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Orçamento público e fundo dos direitos da criança e do adolescente
CINTRA, J.C. Fundos municipais dos direitos da criança e do adolescente. In: Seminário A gestão do
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São Paulo, 2002.
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
BRASIL. Lei n.10.257, de 10 de julho de 2001: estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá
outras providências. Disponível em:
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BRASIL. Lei n. 4.320, de 17 de março de 1964: estatui normas gerais de Direito Financeiro para
elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do
Distrito Federal. Brasília, 1964.
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Siglas
Andi ECA
Agência de Notícias dos Direitos da Infância Estatuto da Criança e do Adolescente
Cbia Ence
Centro Brasileiro para Infância e Adolescência Escola Nacional de Ciências Estatísticas
Cebrap FDCA
Centro Brasileiro de Análises e Planejamento Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente
Cedeca Febem
Centro de Defesa da Criança e do Fundação Estadual do Menor
Adolescente Yves de Roussan
FIA
Cendec Fundação para a Infância e Adolescência
Centro de Estudos Contemporâneos
FNDC
Cidid Frente Nacional de Defesa dos Direitos da Criança
Classificação Internacional das Deficiências,
FNPETI
Incapacidades e Desvantagens
Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho
CMDCA Infantil
Conselhos Municipais dos Direitos da
Fonacriad
Criança e do Adolescente
Fórum Nacional dos Dirigentes de Órgãos de Políticas
CNE Públicas para a Infância e Adolescência
Conselho Nacional de Educação
Funabem
CNS Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor
Conselho Nacional de Saúde
Fundeb
CNP Fundo da Educação Básica
Conselho Nacional de Propaganda
HIV
CO Vírus da imunodeficiência humana
Comissão Permanente de Orçamento
IBGE
Conade Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Conselho Nacional dos Direitos da
Idesp
Pessoa Portadora de Deficiência
Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e
Conanda Políticos de São Paulo
Conselho Nacional dos Direitos da
INSS
Criança e do Adolescente
Instituto Nacional do Seguro Social
CPI
Ipea
Comissão Parlamentar de Inquérito
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
CPP
LBA
Comissão Permanente de Políticas Públicas
Legião Brasileira de Assistência
DBF
LDB
Declaração de Benefícios Fiscais
Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional
DCA
LDO
Fórum Nacional Permanente de Entidades
Lei de Diretrizes Orçamentárias
Não Governamentais de Defesa dos Direitos
da Criança e do Adolescente LOA
Lei Orçamentária Anual
DCI
Defesa da Criança Internacional Loas
Lei Orgânica da Assistência Social
DH
Direitos Humanos LRF
Lei de Responsabilidade Fiscal
DSEIs
Distritos Sanitários Especiais Indígenas
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TEORIA E PRÁTICA DOS CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
MEC Sesi
Ministério da Educação Serviço Social da Indústria
MP SGD
Ministério Público Sistema de Garantia dos Direitos
Nucria Sinase
Núcleo de Atendimento de Crianças e Adolescentes Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
Vítimas de Crime
Sipia
OAB Sistema de Informação para a Infância e a Adolescência
Ordem dos Advogados do Brasil
SPDCA
OCA Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do
Orçamento Criança e Adolescente Adolescente
OIT Suas
Organização Internacional do Trabalho Sistema Único de Assistência Social
ONG TAC
Organização Não Governamental Termo de Ajustamento de Conduta
ONU Unesco
Organização das Nações Unidas Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura
OSCIP
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público Unicef
Fundo das Nações Unidas para a Infância
PEC
Proposta de Emenda à Constituição
Peti
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
PNBEM
Política Nacional do Bem-Estar do Menor
PNCFC
Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária
PNEVSIJ
Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual
Infanto-Juvenil
PPA
Plano Plurianual
PPAG
Plano Plurianual de Ação Governamental
SAM
Serviço de Assistência ao Menor
SAS
Secretaria de Atenção à Saúde
Savas
Serviço de Atendimento à Vítima de Agressão Sexual
SEDH
Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Senac
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
Senai
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
Seplan
Secretaria de Planejamento
Sesc
Serviço Social do Comércio
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Formato: 210x260mm.
Tipologias: Meridien LT Std e Frutiger Lt Std.
Papel: Offset 90g/m2
Capa: Cartão Supremo 250g/m2
CTP digital, impressão e acabamento: Corbã Editora Artes Gráficas Ltda.
Rio de Janeiro, março de 2010