Brinquedoteca Espaco Brincar
Brinquedoteca Espaco Brincar
Brinquedoteca Espaco Brincar
BRINQUEDOTECAS E OS
ESPAÇOS DO BRINCAR
NO CICLO VITAL
Celina Maria Colino Magalhães , Iani Dias Lauer Leite e
Luana Carramillo Going
(orgs.)
Chanceler Dom Tarcísio Scaramussa, SDB
Reitor Prof. Me. Marcos Medina Leite
Pró-Reitora Administrativa Profª. Dra. Mariângela Mendes Lomba Pinho
Pró-Reitora de Graduação Profª. Dra. Rosângela Ballego Campanhã
Pró-Reitor de Pastoral Prof. Me. Pe. Cláudio Scherer da Silva
Atendimento
leopoldianum@unisantos.br
Celina Maria Colino Magalhães
Iani Dias Lauer Leite
Luana Carramillo Going
(Organizadoras)
BRINQUEDOTECAS E OS
ESPAÇOS DO BRINCAR NO
CICLO VITAL
Santos
2023
[Dados Internacionais de Catalogação]
Departamento de Bibliotecas da Universidade Católica de Santos
Viviane Santos da Silva - CRB 8/6746
ISBN: 978-65-87719-36-8
CDU: e-book
Revisão
Organizadores
Sobre o e-Book
Formato: 160 x 230 mm • Mancha: 130 x 190 mm
Tipologia: Goudy Old Style (textos/títulos)
07 PREFÁCIO
09 APRESENTAÇÃO
7
com as crianças: brincar e gênero, a regulação das brincadeiras pelos adultos e o brincar
espontâneo, o brincar de crianças em inclusão escolar.
Preciosas contribuições, menos frequentes de se encontrar na literatura desta área
de pesquisa acerca do lúdico, valorizam a importância do lúdico desde o intraútero e
na primeiríssima infância, com as suas “janelas de oportunidades”.
Presentes na atuação lúdica do educador, seja ele informal ou formal, vemos
como de grande importância, trazer `a discussão o brincar livre e coletivo, o brincar
dirigido ou brincar mediado, o valor (ou terror?) dos jogos online e o brincar do
autista.
Falando desta última questão, em meio a tantas dúvidas acerca da inclusão de
crianças com TEA, como não sentir gratidão por podermos ter noção de quais são os
fatores facilitadores para a brincadeira de crianças autistas, de acordo com a pesquisa
em ambiente terapêutico, a qual também contribui com a observação de seus fatores
limitantes?
Devido à diversidade dos contextos enfocados e das questões relacionadas com
o fazer lúdico, da variedade dos grupos de crianças e adolescentes abordados pelas
autoras, com fundamentação teórica e prática, este livro nos brinda com uma atualizada
e rica contribuição para a formação lúdica dos estudantes e a continua qualificação
dos profissionais que desejam se ocupar, ou já se ocupam, da atenção à criança.
A criança pede o seu lugar de escuta e de sensível observação. E esta escuta e esta
observação não podem prescindir do seu brincar.
8
APRESENTAÇÃO
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acadêmicos sobre as práticas realizadas nesse ambiente.
O contexto escolar é destacado no capítulo “Brinquedoteca como lugar de
crianças nos contextos educacionais: campo de possibilidades, continuum de
atividades…”, de Shiniata Menezes, Ilka Bichara, Dalila Carneiro e Graziele Carneiro.
O capítulo trata das brinquedotecas como locais privilegiados para a vivência das
complexas interações que acontecem nos grupos de brincadeiras (GB) e entre estes e
os adultos que atuam nesses espaços. Este capítulo aborda a brinquedoteca a partir de
dois enfoques e cenários educacionais distintos: relato de uma pesquisa realizada em
uma escola pública municipal de Salvador/BA, com crianças do grupo 5 da educação
infantil que brincavam em uma brinquedoteca improvisada; e relato de experiência de
duas bolsistas de extensão do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Feira de
Santana na brinquedoteca universitária.
O ambiente institucional é foco do capítulo “A casa do brincar: a implantação de
uma brinquedoteca no cotidiano de uma instituição de acolhimento no oeste do Pará,
de Milany Santos, Adria Juliana Miranda, Celina Magalhães e Iani Lauer Leite. Nesse
estudo, é relatado o processo de implantação da brinquedoteca, fruto de um projeto
de extensão vinculado à Universidade Federal do Oeste do Pará.
O capítulo “Brinquedoteca comunitária e desenvolvimento humano: revisão
narrativa de literatura” de Dalízia Amaral Cruz e Celina Maria Colino Magalhães,
traz uma contribuição teórica que objetiva descrever o panorama das produções
acadêmico-científicas sobre brinquedotecas comunitárias, destacando sua importância
para o desenvolvimento humano. O estudo apresenta delineamento transversal, com
caráter descritivo-exploratório e abordagem quanti-qualitativa dos dados.
A seguir, Pamella Sanchez Mello de Pinho, Thalita Lacerda Nobre apresentam
o capítulo “Uma proposta prática para a utilização do vídeo game como instrumento
para a socialização dos jovens”, no qual parte-se do pressuposto de que os modos de
interação social têm se modificado ao longo dos últimos tempos e o brinquedo como
ferramenta do brincar adquire um significado simbólico importante para a criança
e, atualmente, para os adolescentes e jovens adultos. A partir dessa constatação, é
proposta uma tecnologia social com alcance para a população pesquisada visando
oferecer plantões psicológicos online para os jovens, visando acolher esses sujeitos em
suas angústias e estimulando a reflexão e diálogo sobre os sentimentos inerentes ao
movimento da vida.
Finalizando, Adelaide Rezende traz o capítulo denominado de “O jogo do
zoar: expressões lúdicas em duas favelas da Maré”, no qual discute os registros das
brincadeiras de crianças no terceiro ano do ensino fundamental. Algumas consideradas
mais comuns, enquanto que outras apresentaram características que parecem estar
atreladas a cultura e a sociabilidade do território. Entre elas destaca-se o jogo de zoar,
uma espécie de jogo no jogo que representa duelos de afronta e resistência que aponta
para uma disputa que exige o improviso e a auto afirmação.
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Todos os capítulos ora apresentados trazem como fio condutor o brincar em
diferentes idades e contextos, assim como as diversas formas que as brinquedotecas
assumem de acordo com os espaços que estas ocupam. Os estudos realizados reafirmam
de maneira inequívoca, a importância do brincar, não importa a idade e o lugar.
As organizadoras
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O BEBÊ BRINCA DESDE O ÚTERO MATERNO?1
Rosely Perrone
INTRODUÇÃO
1
Este trabalho foi inspirado nos bebês in utero e suas mães. Contudo, ele é também resultado dos nossos
estudos com a psicanalista e pesquisadora Professora Doutora Erika Parlato-Oliveira.
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O BEBÊ BRINCA DESDE O ÚTERO MATERNO?
O BEBÊ IN UTERO
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ROSELY PERRONE
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O BEBÊ BRINCA DESDE O ÚTERO MATERNO?
O BRINCAR
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ROSELY PERRONE
o carretel pelo cordão, emitindo o som “da”, entendido por Freud como “retorno”.
O jogo do fort-da foi interpretado por Freud (1920/1996) como uma encenação de
partidas e retornos da mãe, cujo menino representava o próprio abandono. Contudo,
por meio da brincadeira, foi possível uma mudança de posição, quer dizer, de um
lugar passivo, o menino deslocou-se para uma condição ativa, passando a ter controle
sobre a ausência do objeto (da mãe) e sentir prazer ao descobrir o seu domínio acerca
da desaparição. Repetir inúmeras vezes o jogo do carretel revelou, no menino, uma
demanda inconsciente de garantir o poder de reencontro do objeto ausente, guiado
pelo desejo de elaborar a sua angústia.
O jogo do fort-da é, portanto, um exemplo de envolvimento ativo que, segundo
Freud (1920/1996), possibilita a elaboração de acontecimentos desfavoráveis, visto
que, ao brincar, a criança reproduz vivências desagradáveis, desprendendo-se de
sentimentos negativos relacionados a experiências não agradáveis e torna-se dona da
situação.
Os estudos de Lacan (1964/1998) alargaram a leitura freudiana acerca do brincar,
outorgando uma característica estrutural à ação lúdica e um caráter linguístico,
justamente pela conexão com o significante, pelo movimento de posições e pela
operação simbólica que combina a alternância entre presença e ausência, no jogo
do fort-da. Para Lacan (1964/1998), trata-se de um jogo de ocultação, que articula
dois tempos primordiais da constituição psíquica: a alienação e a separação. Segundo
ele, essas são operações originárias da lógica formal que identificam o sujeito em sua
dependência significante ao lugar do Outro, representado pela figura materna no jogo
do fort-da. Na visão lacaniana, a repetição do jogo, com alternância entre presença e
ausência, sem a desaparição do Outro, constitui o modelo da lógica simbólica.
Logo, observamos um momento de suma importância para a estruturação
psíquica da criança no jogo do fort-da que proporciona o domínio do real e a realização
de desejos.
Piaget (1945/1978), em seu tempo, traçou uma curva evolutiva do brincar da
criança, iniciada pelas brincadeiras sensório-motoras em direção às brincadeiras
simbólicas e, em seguida aos jogos de regras. Ao atribuir ao corpo a organização do real
na criança, Piaget (1937/1979) afirmava que a organização da realidade física é a base
da autorregulação simbólica, ou seja, é o corpo que possibilita a formação do símbolo
na criança. Para ele, a formação do símbolo é explicada pela estrutura do pensamento
e se torna possível apenas com o início da representação, cuja manifestação ocorre por
volta dos dezoito meses.
Segundo Piaget (1945/1978), a partir do fim do primeiro mês de vida, a
brincadeira sensório-motora já é identificada no bebê, caracterizando-se como
um processo centrado no próprio corpo. Simultaneamente, a imitação também se
manifesta, mas como um prolongamento da atividade de acomodação, na medida em
que os comportamentos imitativos fazem parte de uma conduta que o bebê associa
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O BEBÊ BRINCA DESDE O ÚTERO MATERNO?
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ROSELY PERRONE
O bebê humano, desde o início da vida, possui capacidade de fazer uso do corpo
de forma formidável. Pesquisas recentes (Fagard, Corbetta, 2014; Myowa-Yamakoshi,
Takeshita, 2006; Parlato-Oliveira, 2019; Piontelli, 1995; Reissland, Austen, 2018;
Reissland et al., 2014; Reissland, Francis, Mason, 2012; Rotenberg, Marques, Menna-
Barreto, 2003; Sparling, Wilhelm, 1993; Trevarthen, 2017, 2019) apontam que suas
habilidades e competências intraútero revelam-se por ações intencionais, que o
conduzem pelo caminho da atividade.
O uso do corpo pelo bebê é uma forma de conexão com ele mesmo, com o outro
e o entorno. Em útero materno, ele apresenta intensa sensório-motricidade ritmada,
experimentando seu potencial de velocidade, força e mobilidade, unindo-o ao prazer e
estabelecendo uma comunicação criativa, com propósito e desejo. Logo, o movimento
corporal do bebê, no ambiente uterino, envolve vários aspectos integrativos e,
essencialmente, significados.
A cada movimento que o bebê executa temos uma nova enunciação, ainda
que o movimento seja repetitivo; sua ação terá sempre uma outra velocidade e uma
entonação diferente. Nesse sentido, os movimentos que o bebê apresenta in utero não
são isolados, são uma resposta ao outro e ao seu entorno.
Segundo Trevarthen e Delafiekd-Butt (2016), o bebê nasce com um espírito
curioso e inventivo. Em investigações atuais, esses pesquisadores observaram ritmos
em ação e invenção lúdica que evidenciam progressos conforme o corpo e o cérebro
do bebê vão crescendo, o que caracteriza uma vitalidade fértil.
Após o nascimento, os primeiros sinais do brincar do bebê já são dados ao
ser colocado no seio materno. Ele demonstra prazer em abrir e fechar a boca, em
abocanhar e largar o bico do seio da mãe e em se enxergar nos olhos dela. Para mamar,
o bebê vai em direção ao seio, desloca o próprio corpo encontrando satisfação nesse
movimento e, ao mesmo tempo, gera prazer na mãe em amamentá-lo (Couvert, 2020).
Nesse sentido, o bebê é um sujeito ativo, sensível, inovador e provoca mudança no
outro, combinando ritmo e ludicidade (Trevarthen, 2017).
Os resultados das pesquisas de Nagy e Molnar (2004) mostram que, a partir do
segundo dia de vida, o bebê está apto para imitar um movimento do modelo. Além
disso, comprovam que o bebê possui capacidade de suscitar uma resposta imitativa
e convidar o outro para uma interação, isto é, de produzir uma provocação. Essas
imitações são acompanhadas por aumento da frequência cardíaca (Nagy, Molnar,
2004; Trevarthen, 1977). Um achado surpreendente nesses estudos é de que, além de
provocar uma resposta imitativa, o bebê sustenta uma interação.
As observações e os trabalhos de Brazelton (1961) com o bebê, também ressaltam
que, ao nascer, ele é um sujeito afetuoso e brincalhão, que busca significado na
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O BEBÊ BRINCA DESDE O ÚTERO MATERNO?
interação. E sobretudo, segundo ele, a capacidade do outro para responder aos sinais
do bebê é primordial na relação.
Assim sendo, desde o final do século XX, muitos estudos vêm mostrando as
competências do bebê, inclusive in utero. Contudo, a passagem de um ambiente
aquático para uma atmosfera aérea, após nascer, impõe restrições às quais ele, o bebê,
tem que se adaptar.
A força da gravidade modifica os gestos do bebê e as limitações relacionadas a ela
são percebidas nas suas primeiras ações. Mesmo já sabendo levar a mão à boca antes
de nascer, o bebê não consegue romper a força da gravidade do ambiente aéreo no pós-
natal para realizar essa ação; trata-se de uma questão de força muscular. Um exemplo
disso, após o nascimento, é que raramente o bebê consegue atingir um objeto ao levar
os braços em direção a ele (Fagard; Corbetta, 2014).
De acordo com Bullinger (2015), em útero materno, o bebê vive em ambiente
amniótico de baixa gravidade e, depois de nascer, enfrenta a gravidade terrestre. A
experiência para vencer esse desafio é, justamente, o que suscita os reflexos tônicos,
que resultarão na posição anatômica humana de referência, ou seja, o ficar de pé.
As pesquisas constatam, desse modo, que o bebê humano nasce com capacidade
para realizar diversas e variadas ações, inclusive lúdicas, competência para a imitação,
interação e provocação, de forma proposital. Possui também habilidade para integrar
as informações de modalidades diferentes como: toque e visão, orientação da cabeça
para sons, coordenação do movimento mão-boca e mão-olho, ajustamento de
padrões rítmicos da sucção, entre outras (Seidl de Moura; Ribas, 2004). Para mais,
possivelmente, ele dispõe de inúmeros saberes que nem conseguimos imaginar por
agora.
Por outro lado, as investigações comprovam que, em ambiente uterino, o bebê
coordena os movimentos corporais e faciais para seu deleite, bem como para expressar
um diálogo afetuoso com um outro responsivo (Trevarthen, 2017).
Esses resultados asseguram que in utero já são constatadas experiências
intencionais não apenas consigo mesmo, mas também com o outro. Os exames
de ultrassom e ecografia 4D mostram os bebês manipulando o cordão umbilical
no intraútero, chutando e até mesmo arremessando uma gota de sangue deixada
por uma amniocentese, entre outras condutas. Agarrar e soltar poderia, então, ser
compreendido como um jogo de pré fort-da no útero materno (Prat, 2011).
Ou ainda, os movimentos de abrir e fechar os lábios no intraútero, que criam um
ritmo, ou seja, uma presença e uma ausência (Couvert, 2020), igualmente, podem ser
assimilados como um pré fort-da, visto que abrindo e fechando os lábios o bebê abraça
o líquido amniótico. Há um prazer muscular na ação de abrir e de fechar os lábios,
quer dizer, há um “sim” e um “não” presentes, sendo ele, o bebê, quem controla todo
curso dessas ações.
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ROSELY PERRONE
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O BEBÊ BRINCA DESDE O ÚTERO MATERNO?
uterino e, embora ainda tenhamos muito a descobrir, já sabemos que o bebê humano
é mesmo um ser notável. Ele fala por meio de olhares, gestos, vocalizações, choro,
sorrisos, brincadeiras, enfim, ele é dotado de uma multimodalidade comunicativa.
Assim também, o bebê mostra fazer uso de sua sensorialidade e de seu corpo de
forma admirável, estabelecendo trocas com o outro e o entorno, com a sua mãe, desde
o ambiente uterino.
O bebê brinca in utero para seu deleite, por meio de movimentos e sensações, de
maneira ritmada, controlada e deliberada. Assim também, ele usa a brincadeira na sua
interação com o outro e o entorno, com a sua mãe, sendo justamente nesse enlace que
ele se constitui, desenvolve e cresce.
Em tempos atuais, consideramos que a interlocução entre diversas áreas do
conhecimento, tais como: Biologia, Epigenética, Música, Neurociências, Psicanálise,
Psicologia do Desenvolvimento, entre outras, é fundamental para pensarmos e
escutarmos o bebê.
Por isso, em todo este ensaio, estamos nos referindo sempre ao bebê em útero
materno e não ao feto, visto que todas as evidências científicas têm apontado que ele
já é um sujeito, desde o início da vida. E se é assim que o reconhecemos, é de bebê que
ele deve ser chamado.
O que sabemos hoje, distante de ser tudo, nos autoriza a olhar para ele, o bebê,
de uma outra forma e, com isso, fundamentalmente, reatualizarmos o nosso trabalho.
Por fim, verificamos que muitas questões em torno do bebê estão ainda por ser
respondidas. Mas, todos os indícios apontam que sim, o bebê brinca desde o útero
materno…
Vamos deixar que ele nos fale mais.
REFERÊNCIAS
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ROSELY PERRONE
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O BEBÊ BRINCA DESDE O ÚTERO MATERNO?
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ROSELY PERRONE
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O BRINCAR LIVRE DA CRIANÇA DE 1000 DIAS
NA BRINQUEDOTECA: VALORIZANDO SEU
DESENVOLVIMENTO PLENO
INTRODUÇÃO
O QUE É DESENVOLVIMENTO?
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O BRINCAR LIVRE DA CRIANÇA DE 1000 DIAS NA BRINQUEDOTECA: VALORIZANDO
SEU DESENVOLVIMENTO PLENO
espiritual, ao longo do tempo. Tal processo envolve mudanças nas estruturas físicas e
neurológicas, cognitivas e comportamentais, que emergem de maneira ordenada e são
relativamente duradouras. Há transformações que parecem ser universais – aquelas
mudanças que ocorrem em todas as crianças, não importando a cultura na qual vivem
ou pelas experiências que tenham tido. Contudo há outras, que diferenciam os seres
individualmente, bem como aquelas, que dependem do contexto em que cresceram. De
modo que, esses três aspectos: padrões universais, diferenças individuais e influências
contextuais sejam imprescindíveis para se compreender o desenvolvimento da criança
(BEE, 1996, 1997; BRAZELTON, 1994; GALLAHEU; OZMUN; GOODWAY, 2013;
MYERS, 2012).
A visão da existência em estágios, mais considerada pelos pesquisadores, considera
cinco características de desenvolvimento que se diferenciam em: Multidirecional – a
modificação nem sempre é linear, pois desde ganhos-perdas, compensações e déficits,
crescimento previsível versos transformações inesperadas, são cenários na vida humana.
Multicontextual – cada existência humana está envolvida em diversos contextos,
predominando: biossocial, cognitivo e psicossocial entre outros. Multicultural – são
considerados os aspectos universais e específicos relacionados ao desenvolvimento,
tais como: valores, tradições e recursos para viver. Multidisciplinar – as áreas acadêmicas
vinculadas, especialmente: Psicologia, Biologia, Educação, Sociologia e, atualmente,
a Neurociência, Epigenética, Economia, Medicina, Antropologia entre outras,
possibilitando dados para uma visão mais ampla em desenvolvimento. E, no sentido
Plástico, o mais animador – cada criatura, e cada característica dela, pode ser alterada
em qualquer ponto do ciclo vital, isto é, tratando-se de vida humana, nada é construído
e fixo, sendo muito variável, como jamais foi suposto pelos cientistas. Convém lembrar
que o estudo do desenvolvimento humano tem essa separação didática para melhor
compreendê-lo, todavia, sempre haverá sobreposição, porque o desenvolvimento é
holístico – cada indivíduo cresce como um todo integrado (BERGER, 2016).
Em meados da década de 90, a partir da criação da estratégia de Atenção
Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI), houve a preocupação com o
desenvolvimento infantil, fazendo parte das ações de promoção em saúde da criança
propostas pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS, 2005). Os Estatutos da
Criança e do Adolescente, referindo a tais fatores, sugerem o direito de a criança/
adolescente de ter, desde o nascimento, um desenvolvimento sadio e harmonioso,
em condições dignas de existência. Para isso, existem no Brasil 116,5 mil escolas de
Educação Infantil, cobrindo 8,5 milhões de matrículas de crianças de até cinco anos,
com suas famílias, conforme censo de 2017, recebendo um atendimento educacional
de qualidade (UNICEF/BRASIL, 2021a).
Assim, mediante os avanços na Neurociência, a criança passando seus primeiros
anos – especificamente “durante os primeiros 1.000 dias, desde a concepção até os dois
anos” de idade, em um ambiente estimulante e acolhedor, novas conexões neuronais
se formam na velocidade ideal, promovendo uma capacitação cognitiva para aprender
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BEATRIZ PICOLO GIMENES
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O BRINCAR LIVRE DA CRIANÇA DE 1000 DIAS NA BRINQUEDOTECA: VALORIZANDO
SEU DESENVOLVIMENTO PLENO
Desde o quarto mês, sendo colocado debruço com um rolo de apoio sob o
tórax, pode melhor alcançar e apreciar o espaço e brinquedos à sua frente, além de
fortalecer a musculatura do tronco e membros para o preparo do rastejar e o posterior
engatinhar, nessa fase que adentrou. Pode rolar o corpo para os lados, revertendo para
a posição ventral (GIMENES, 2002).
Já aos seis meses deve possuir uma rotina em sua vida, como dormir à noite toda
e ter sua soneca após o almoço. Isso lhe favorece para quando em vigília, estar mais
atento e ativo, descobrindo a forma, tamanho, peso e textura dos objetos.
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BEATRIZ PICOLO GIMENES
identifica alguma face como reconhecida. É nessa fase, que percebe que os objetos/
pessoas que somem de sua frente não desaparecem, daí sai à procura – caracterizando
a “noção de permanência de objeto” (GALLAHEU; OZMUN; GOODWAY, 2013;
GIMENES, 2020b).
Próximo dos sete-oito meses a intencionalidade é muito presente, encantando-se
com as músicas rítmicas, objetos sonoros, os jogos-surpresa do “vai-vem”, do cavalinho
sobre o joelho, e do “cuco” – quando o responsável vira o rosto de lado e volta-se para
falar: Cuco!
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O BRINCAR LIVRE DA CRIANÇA DE 1000 DIAS NA BRINQUEDOTECA: VALORIZANDO
SEU DESENVOLVIMENTO PLENO
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BEATRIZ PICOLO GIMENES
O contato com a água, areia e terra são oportunos, são matérias amorfas, com
diversidade de manipulação, liberam energias retidas pelas tensões emocionais,
acalmando e divertindo. Na ausência dessas, pode ser utilizado o macarrão, por
exemplo.
Isso porque a criança controla melhor seu interesse pela ação visomotora tátil,
cuja percepção supera a representação (imagem do objeto que está sendo construída
em nível mental), internalizando a realidade à sua volta, isto é, o conhecimento sobre o
mundo. Inicia-se, assim, no universo simbólico - simbolização, base para a construção
e efetivação da aprendizagem, e o brincar de-faz-de-conta, cujo alicerce é estruturado
com o estabelecimento da memória – o conhecimento residual que fica! (KOVACH;
PATRICK; BRILEY, 2012; GALLAHEU; OZMUN; GOODWAY, 2013).
Quanto ao nível corporal, a psicomotricidade global vai refinando-se,
especializando a motricidade viso motora fina (olhos-mãos), pois, antes de um ano
de idade, a pinça manual já estava ativa para pegar pequeninas migalhas no chão ao
engatinhar, por exemplo, devido ter a percepção visual centrada em pequenas partes
do espaço. Entretanto, caminhando para os três anos, ela muda de lugar, ao realizar
tarefas sobre uma mesinha adaptada ao seu tamanho.
As atividades devem ser manuais simples e de curta duração, expostas clara e
objetivamente, à criança desde os 15 meses.
Nessa fase, paralelamente às atividades manuais, devem ser mantidas aquelas
psicomotoras globais de maneira lúdica consistentemente. Sintetizando: a tonicidade
(neuro motricidade), a equilibração (regulada pelo aparelho vestibular), a lateralidade
(direita e esquerda), a lateralização (dominância motora entre os membros superiores),
por meio de brincadeiras de rodas, que são rítmicas e cantadas; as competitivas, como
lenço-atrás, corre-cotia; as corridas cooperativas entre outras (GIMENES, 2011).
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O BRINCAR LIVRE DA CRIANÇA DE 1000 DIAS NA BRINQUEDOTECA: VALORIZANDO
SEU DESENVOLVIMENTO PLENO
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BEATRIZ PICOLO GIMENES
Atualmente, o que mais deixa uma família contente, é que seus filhos estejam
bem, principalmente em nível de escolaridade, para poder ter uma profissão futura e
que o favoreça financeiramente.
Sobre a questão de conhecimento, isso implica em aprendizagem, ou seja,
mudança comportamental decorrente de alteração sobre o modo de pensar a respeito
de várias situações-problemas. É fundamental emocionar-se ao saber ou conhecer
sobre algo. Porque a sapiência liberta o indivíduo do desconhecimento, que outrora a
ignorância o acomodava em um circuito muito restrito de ação. Agora, ao contrário,
quando se descobre a solução sobre tal desafio, há a amplitude do pensar que o
favorece, revestindo-o com as muitas possibilidades de agir diante do universo que se
abre à sua frente (MARINO Jr, 1975).
Hodiernamente, a Neurociência esclarece esse processo em nível cerebral: o
aprender deve ser um ato desejante para ser saudável, como a Psicopedagogia sugere desde
a década de 1990. E isso acontece quando o objeto a ser conhecido estiver conciliado ao
prazer e interesse do sujeito cognoscente, cujo estado mental conduz estímulos neurais
até à área do sistema límbico, a zona de prazer-recompensa, culminando, assim, no
aceite consciente; então o ato decisivo aciona a motivação intrínseca, favorecendo o agir
contextual - ocorrendo o fenômeno. (GIMENES, 2000, 2020a; GIMENES; PERRONE,
2021a). Como já citado pelo neurocientista Damásio (2000), as emoções estão presentes
no DNA e elas habitam o cérebro, antes mesmo do surgimento da razão, por isso a
formulação das leis da aprendizagem baseada em estatísticas científicas.
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O BRINCAR LIVRE DA CRIANÇA DE 1000 DIAS NA BRINQUEDOTECA: VALORIZANDO
SEU DESENVOLVIMENTO PLENO
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BEATRIZ PICOLO GIMENES
devendo ter uma dicção e bom vocabulário por volta dos oito anos. Ela evolui muito
com o hábito desde bebê, pois balbucia, faz vocalizações prolongadas. Sorri a todos
que dele se aproximam, sorrindo para ele. Há a troca de olhares com a mãe, desde
a amamentação (natural ou mamadeira) reconhecendo-a visualmente e, pela leitura
labial e a sonoridade, desde a gestação, confirmado pela epigenética (GIMENES;
PERRONE, 2022c).
A criança pequena ganha maior desenvoltura ao falar, se puder responder
oralmente, depois de ouvir a contação de história pelo responsável, por exemplo,
indagando-lhe a opinião do conteúdo. Esse hábito colabora no desenvolvimento do
senso crítico após os seis-sete anos de idade. Além disso, a leitura em voz alta favorece
lhe não somente para a linguagem oral e escrita, mas, também, à performance da postura
e oratória futuras (GIMENES, 2021b).
Essa época dos seis anos, é muito favorável para já se observar o controle
emocional da criança, que se manifesta desde os nove meses, atingindo um retrato
colorido desse aspecto aos dois anos de idade – cujas nuances chegam até ao entorno
dos seis. Sempre lembrando que as condições orgânicas da criança devem estar dentro
da normalidade da maioria de seus semelhantes, nessa faixa etária e como já discutido
por Winnicott.
Quanto à responsividade social, esse comportamento deve existir desde bebê
até os seis anos, para manter-se plausível como participante no grupo em que vive
e favorecendo em nível de cognição social. Entretanto, as habilidades sociais, essas
tomam maior vulto após os dois anos, progredindo de fato, até os oito anos de
idade, em pleno auge da educação fundamental. E tem estreito laço com a linguagem
e a formação do pensamento simbólico, que vai desde os 18 meses aos seis anos,
dependendo, deveras, da experiência física sobre os objetos!
O simbolismo acontece decorrente dessas experiências, para abstrair as essências
do mundo real em nível mental, que reaparece no ser humano sempre quando surge algo
novo, que se deseja conhecer. Também, o universo matemático, envolvendo a noção
de quantidade, não é “transmitido” pelo ensino alheio e nem nasce com a criatura,
tem que ser adquirido/construído pela própria criança explorando as características
do mundo físico, mas pode ser facilitado pelo adulto (GIMENES; GOMES, 2013).
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O BRINCAR LIVRE DA CRIANÇA DE 1000 DIAS NA BRINQUEDOTECA: VALORIZANDO
SEU DESENVOLVIMENTO PLENO
direcionam! Sim, nessa idade, ele já se observa por inteiro no espelho – da cabeça
aos pés. Inclusive, manipula os órgãos genitais, época muito propícia para o “tirar
as fraldas” com o uso do penico. Também, já há um universo de conquistas feitas,
preparando-se para ser feliz na fase escolar que se desponta (GIMENES, 2022b).
Ele consegue fazer com o corpo muitas peraltices, brincando e experimentando
suas novas habilidades, como: o deslocamento pelo deambular; o transporte dos
brinquedos com carriolas de um lado para o outro; ou trepar em mesas e sofás para
alcançar algo que deseje. Aprecia imitar os adultos, suas expressões e posturas, além
de vestir seus adornos. Usa muito a massa para moldar, além de usar o giz grosso para
pintar (GIMENES, 2017a).
Nessa fase, a criança já consegue manipular brinquedos com partes-todo: como
cubos de empilhar, jogos de encaixe e formas geométricas. Gosta de construir legos e
alguns puzzles de tabuleiro. Além de explorar objetos usados nas rotinas da casa, tanto
os meninos como as meninas, como: colheres, caixas de plástico, vassouras, tachos,
panelas entre outros, bem como os brinquedos de puxar e de empurrar. Aprecia livros
com imagens, sonoros e táteis; filmes animados curtos, da TV ou tablete, que, até no
máximo quinze minutos, é saudável. E deve acompanhar no embalo corporal algum
gênero musical, acompanhando o ritmo da melodia se estiver habituado (GIMENES,
2017a).
Caso a criança esteja aproximando-se dos três anos, deve ir para alguma escola
tradicional? Não. Deve frequentar por meio período, uma brinquedoteca-escola, ou
seja, deve conviver em vários ambientes lúdicos com seus pares para brincar, porque
assim vivendo, acaba aprendendo divertidamente (Fig. 8 apud GIMENES; COTRIM,
2021, p. 134). O principal nessa idade é vivenciar todas as potencialidades permitidas
plenamente!
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BEATRIZ PICOLO GIMENES
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O BRINCAR LIVRE DA CRIANÇA DE 1000 DIAS NA BRINQUEDOTECA: VALORIZANDO
SEU DESENVOLVIMENTO PLENO
Portanto, a criança até os três anos já conseguiu aprender certas regras e normas
sociais. Conhece os pronomes pelo valor: isso é meu e isso é seu!
Aprende a zelar pelos brinquedos, se lhe permitirem; a guardar o brinquedo no
lugar para quando voltar e o desejar, ele estará lá! Além de aprender a repartir, esperar,
tolerar frustrações, construir objetos lúdicos em sucatas, a expressar seus desejos
com cordialidade, a se comunicar, com as palavras mágicas de respeito, entre outras
qualidades a conquistar.
Atingindo os três anos, possivelmente, então, já entende mais de 1000 palavras,
porque pergunta sobre tudo o que queira: o nome dos objetos; na linguagem oral
vai integrando progressivamente, os artigos, pronomes e advérbios; e, mesmo quando
tem “crise de personalidade”, opõe-se aos colegas, especialmente, para se afirmar
vigorosamente.
Já diferencia e reconhece algum objeto vendo apenas uma parte dele, desde que
o tenha explorado anteriormente. Faz pareamento, agrupando-os por semelhanças, a
começar pela cor, depois pela forma.
Também, desenha círculos e prossegue para um bonequinho, como sendo ela -
uma cabeça e dois palitos. Enumera os elementos que compõem uma ilustração, mais
por decorar a sequência numérica. E ama colocar a última peça na torre alta, depois
40
BEATRIZ PICOLO GIMENES
de ter construídos muitos prédios com blocos de construção, com cores, formas e
tamanhos variados, ou combinado como um trenzinho, para derrubar tudo no final - é
muito divertido!
Uma apreciação que todos se encantam, nem que seja uma vez, é sentar-se frente
ao piano por gostar de sua música, ou de encenar com alguma fantasia, mesmo que
seja para se vestir de palhacinho, no Dia do Circo. Assim, brincar faz bem à saúde física
e mental, e, mesmo que a criança adoeça, sendo internada, ela receberá os cuidados
lúdicos em uma brinquedoteca hospitalar (GIMENES, 2020b).
CONCLUSÃO
A criança na faixa etária dos 1000 dias aproximadamente, deve ter com a família
uma relação permeada pelo diálogo constante, para que a comunicação fortaleça os
laços de pertencimento social e que os princípios éticos provenham do ambiente
caseiro especialmente. A identidade infantil, que ora se estabelece, que seja regada
pelo respeito à criança, como individualidade que é, não necessitando da constante
imagem do “ego auxiliar”, que não negligencia e nem superprotege.
Essa fase, pelo fato de a memória se estabelecer ao lado da emoção intensamente,
então à noite, durante o sono, há a manifestação de “terrores noturnos”. Eles podem
ocorrer normalmente, libertando as tensões do dia a dia da criança. Devendo o
adulto acalmá-la, ficando ao seu lado por um certo tempo, explicando que ela não
está só, oferecendo algum brinquedo de afeto, especial e de seu gosto. A ciência
confirma que “é efetivado o aprendizado” durante o sono físico sobre o conteúdo
construído em vigília. E caso algo não tenha sido controlado emocionalmente durante
a vivência prática (assistir animação/vídeos, esses não promovem a catarse), o medo e
a insegurança podem se manifestar durante o relaxamento do sono profundo.
Contudo, em vigília, as atividades devem sempre focar a ludicidade, estabelecendo
os princípios comentados no BNCC, pela prática da compreensão, da gentileza e da
calma, efetivando os vínculos no relacionamento, que levam à criação da admiração
sem conflitos e com as “almofadas” do afeto que acolhe.
Tais atitudes relacionais modelam comportamentos para resiliência, que está
sendo construída nessa fase, a fim de ser protagonizada pela criança diante dos desafios
que surgirem no futuro breve, promovendo a saúde mental. Esse preparo então, é base
para a fase de desenvolvimento das habilidades e competências do próximo ciclo vital,
entre os quatro e seis anos, que a guiarão como alicerce para vida fora - a de pequeno
explorador prático.
Criar confiança, com paciência e amor, adornados pela ludicidade e o bom
humor na maior parte do tempo, certamente oferece uma convivência feliz, mesmo
41
O BRINCAR LIVRE DA CRIANÇA DE 1000 DIAS NA BRINQUEDOTECA: VALORIZANDO
SEU DESENVOLVIMENTO PLENO
REFERÊNCIAS
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BEATRIZ PICOLO GIMENES
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O BRINCAR LIVRE DA CRIANÇA DE 1000 DIAS NA BRINQUEDOTECA: VALORIZANDO
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44
BEATRIZ PICOLO GIMENES
45
O BRINCAR DE CRIANÇAS AUTISTAS: FATORES
FACILITADORES E LIMITANTES NO CONTEXTO
TERAPÊUTICO
INTRODUÇÃO
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O BRINCAR DE CRIANÇAS AUTISTAS: FATORES FACILITADORES E LIMITANTES NO
CONTEXTO TERAPÊUTICO
dessas crianças, nos contextos nos quais estão inseridas, buscando identificar aspectos
ou características positivas e negativas para que o brincar aconteça, mesmo diante das
dificuldades inerentes ao TEA. Principalmente, por ser esta uma qualidade intrínseca
aos seres humanos.
Em vista disso, este capítulo apresenta resultados relativos aos agentes facilitadores
e dificultadores para o brincar de crianças autistas em um contexto terapêutico, no
município de Santarém, no Pará.
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RAFAELA DOS SANTOS REIS e IANI DIAS LAUER LEITE
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O BRINCAR DE CRIANÇAS AUTISTAS: FATORES FACILITADORES E LIMITANTES NO
CONTEXTO TERAPÊUTICO
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RESULTADOS
AMBIENTE FÍSICO
AMBIENTE SOCIAL
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O BRINCAR DE CRIANÇAS AUTISTAS: FATORES FACILITADORES E LIMITANTES NO
CONTEXTO TERAPÊUTICO
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RAFAELA DOS SANTOS REIS e IANI DIAS LAUER LEITE
“Mário tirou os sapatos, caminhou na trilha acompanhado pelo seu pai; pisou no cascalho;
pisou nas pedras, mas rapidamente retirou os pés; pisou na areia e na grama. Tentou ir
embora, mas o pai o trouxe de volta”.
“A professora deu a mangueira ligada para ele molhar as plantas, molhou um pouco,
depois apertou na ponta da mangueira e começou a molhar as plantas distantes. Em
seguida, começou a esguichar a água da mangueira para o alto. Nesse momento, o pai
pediu para parar, ele molhou os pés e a professora. O pai disse que Mário ia molhar todo
mundo desse jeito. A professora sorrindo disse que lá para se molhar mesmo. Com isso, o
pai ficou mais tranquilo”.
“Mário se aproximou da torneira, a professora o chamou e disse que estava tirando uma
foto dele. Ele, imediatamente, olhou e mandou um beijo na direção dela. Depois começou
a passar a mão nas plantas”.
53
O BRINCAR DE CRIANÇAS AUTISTAS: FATORES FACILITADORES E LIMITANTES NO
CONTEXTO TERAPÊUTICO
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RAFAELA DOS SANTOS REIS e IANI DIAS LAUER LEITE
principalmente pra encaixar que é os jogos que ele mais brinca... os jogos de encaixe, né”.
Além disso, ela concluiu dizendo: “Ah, também, eles gostam... as atividades que eles
gostam historinha. Principalmente, a Alice e o Luigi. Eles gostam muito de historinhas. Quando
eu começo a contar ficam bem atentos prestando atenção... gostam de musiquinhas também, eu
começo a cantar... eles gostam de música”.
DISCUSSÃO
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O BRINCAR DE CRIANÇAS AUTISTAS: FATORES FACILITADORES E LIMITANTES NO
CONTEXTO TERAPÊUTICO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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CONTEXTO TERAPÊUTICO
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SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS: O BRINCAR E
AS PRÁTICAS INCLUSIVAS
INTRODUÇÃO
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SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS: O BRINCAR E AS PRÁTICAS INCLUSIVAS
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NEIDE MARIA SANTOS, CLÁUDIA BENITEZ M. DOS REIS e LUANA CARRAMILLO-GOING
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SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS: O BRINCAR E AS PRÁTICAS INCLUSIVAS
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NEIDE MARIA SANTOS, CLÁUDIA BENITEZ M. DOS REIS e LUANA CARRAMILLO-GOING
conflitivas.
A implantação da formação dos profissionais da educação pode ocorrer para e pela
atuação em Assembleia de Processos Decisórios. Esta tem a proposta de desenvolver o
conhecimento teórico prático sobre como acontece o desenvolvimento moral, segundo
a teoria piagetiana em crianças e adolescentes pela prática das assembleias em busca de
relações mais humanas, pelo respeito mútuo entre as crianças e os jovens, incluindo a
todos do processo educativo numa cultura de paz (REIS, 2022).
Ao considerar a diversidade que se manifesta no cotidiano do contexto escolar,
sendo o professor o protagonista do processo educativo é imprescindível a formação
para lidar com os conflitos e situações de bullying e cyberbullying.
Com especial atenção se evidencia a demanda das redes sociais caracterizando a
exposição acentuada, a invasão da privacidade e o acesso a conteúdo inapropriado para
a idade das crianças e adolescentes que não sabem administrar a situação. Algo que
transcende muitas vezes o alcance das famílias e professores e que atingem diretamente
as relações interpessoais dos alunos dentro e fora da escola, gerando o bullying e o
cyberbullying.
As Assembleias de Processos Decisórios podem contribuir na resolução de
conflitos se instituídas na escola, previstas para prevenir e amenizar as situações de
violência. O intuito é abrir espaços de escuta para conhecer melhor os anseios, os
pensamentos, os desejos, os conflitos e o fazer dos estudantes, levando-os a refletir
pelo bem comum.
A realização da mediação nas assembleias pode ocorrer pelos agentes escolares,
professores e pelos próprios estudantes ao longo do processo, na perspectiva de gerar
ações emancipatórias e autônomas em todos os envolvidos da comunidade educativa,
desde que sejam preparados por meio de formação para tal (ARAUJO, 2007).
A teoria piagetiana associada aos estudos de desenvolvimento infantil é o aporte
teórico apresentado para que se possa lidar com os conflitos na busca da formação
integral dos estudantes, de forma que os valores estejam vinculados às relações
interpessoais mais justas e solidárias, articulando-se com as diversas disciplinas
curriculares (REIS, 2021).
Ademais, como finalidade das disciplinas curriculares se projeta construir um
currículo em que as atividades metodológicas, as atitudes do educador e a avaliação
fundamentem sua prática e levem em consideração o desenvolvimento humano e
moral, na construção do conhecimento compartilhado cientificamente para a vivência
do bem comum.
Dentro das vivências das assembleias se apresentam momentos em que se institui
a palavra, o diálogo, e o coletivo se reúne para refletir, tomar consciência de si mesmo
e transformar o que o coletivo considera como oportuno.
As assembleias oportunizam o momento em que professores e estudantes
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SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS: O BRINCAR E AS PRÁTICAS INCLUSIVAS
66
NEIDE MARIA SANTOS, CLÁUDIA BENITEZ M. DOS REIS e LUANA CARRAMILLO-GOING
que afetam a classe ou a escola, e as relações interpessoais que tratam dos conflitos,
dos encalços, das intimidações, além das conquistas realizadas pelos estudantes,
professores, pela classe e escola. Os valores socialmente desejáveis deverão estar seguros
pelo diálogo nesse espaço (ARAUJO, p. 51, 2015).
Os temas propostos são organizados em grupos como: pontos positivos, pontos
a melhorar e sugestões para enfrentar os desafios. Os estudantes podem escrever em
espaços determinados e visíveis sobre o que querem debater na próxima assembleia.
Para atender os temas, os assuntos, a abertura do espaço de escuta e diálogo
determinante da assembleia pode ocorrer por meio de atividades que envolvam a
ludicidade, como jogos com regras, jogos cooperativos e jogos digitais com o intuito
de mobilizar reflexões sobre alguma ação já vivenciada e problematizada pelo grupo.
Ademais, o jogo é uma atividade intelectual e lúdica que aborda aspectos motores,
simbólicos, conceituais e atitudinais e este contribui quando mediados pelo adulto ou
o próprio estudante na reflexão, compreensão e resolução dos conflitos.
As atividades que envolvem dinâmicas e jogos contribuem para que o aluno
reflita seus sentimentos sobre determinado assunto ou situação, elabore seus
argumentos e alcance um patamar de equilíbrio mais consciente perante si e o grupo.
Não necessariamente esse aluno precisa falar, mas o fato de participar lhe proporciona
a percepção das regras do jogo ou dinâmica, ouve as colocações dos colegas e atenta-se
ao ponto de vista do outro.
A aprendizagem e o desenvolvimento não estão em si apenas no jogo ou dinâmica
e sim no resultado das relações que se estabelece no meio, com os pares e mediadores,
é um processo que depende dos domínios adquiridos sabendo-se que este transcende
o contexto da partida, e da intervenção realizada pelos profissionais que conduzem a
assembleia.
Podemos citar como exemplo o jogo cooperativo “volençol”, pensado para
refletir sobre as relações interpessoais dos alunos evidenciada pelo grupo. Ao ser
realizado durante a assembleia o mediador atem-se a propor a atividade, a apresentar
os obstáculos, questionar, analisar os procedimentos e as condutas dos alunos para a
resolução dos conflitos. Ao fazer isso traz diversas contribuições do grupo a fim de que
possam apropriar-se de condutas e formas de raciocinar que lhes favoreça uma atuação
adequada, não apenas nesse contexto, mas em outros.
CONCLUSÃO
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SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS: O BRINCAR E AS PRÁTICAS INCLUSIVAS
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NEIDE MARIA SANTOS, CLÁUDIA BENITEZ M. DOS REIS e LUANA CARRAMILLO-GOING
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71
PRÁTICAS EDUCATIVAS NUMA BRINQUEDOTECA
HOSPITALAR EM SANTARÉM: PERCEPÇÃO DE
ACADÊMICOS
INTRODUÇÃO
73
PRÁTICAS EDUCATIVAS NUMA BRINQUEDOTECA HOSPITALAR EM SANTARÉM:
PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS
individuais que cria, através das atividades educativas desenvolvidas; pela qualidade
das relações interpessoais que possibilita; pela atuação como agente polarizador de
vários recursos e serviços; pelas emoções gratificantes que gera e pelos sentimentos e
valores positivos que desperta, para além da compensação do sofrimento causado pela
enfermidade.
O Hospital Regional do Baixo Amazonas do Pará Dr. Waldemar Penna, localizado
em Santarém, Estado do Pará, é referência na atenção de média e alta complexidade
e atende a população do próprio Município e de mais 18 que fazem parte da região
Oeste do Estado; possui equipe multiprofissional especializada e realiza atendimento
ambulatorial e de internação (com 40 leitos de pediatria/obstetrícia, 22 na clínica
cirúrgica e 28 na clínica médica). O Hospital é totalmente vinculado ao SUS e, como
tal, prima por seus princípios e diretrizes.
A brinquedoteca é coordenada pelo Núcleo de Educação Permanente – NEP do
HRBA, que capacita os brinquedistas acadêmicos da Universidade do Estado do Pará
– UEPA, sobre a forma de trabalhar no espaço destinado ao lúdico com as crianças;
funciona de segunda a sexta, nos horários das 9 às 11h e das 15 às 17h.
A educação, a humanização, a equidade e a integralidade no atendimento fazem
o diferencial na atenção à saúde do usuário, e a proposta de implantação de espaços
destinados ao lúdico infantil no Hospital Regional, e tem como objetivo intervir
na ambientação, priorizando as práticas educativas e a humanização hospitalar,
proporcionando à criança um espaço mais agradável durante o período de internação.
Com a única brinquedoteca hospitalar na região Oeste do Pará, e com base no
trabalho desenvolvido como Coordenadora do Núcleo de Educação do Hospital
Regional do Baixo Amazonas do Pará Dr. Waldemar Penna, e como coordenadora da
brinquedoteca da Clínica Pediátrica de julho de 2009 a janeiro de 2010, emergiu o
interesse em apreender sobre as atividades educativas desenvolvidas na brinquedoteca
hospitalar com as crianças hospitalizadas: Qual a percepção dos acadêmicos quanto às
contribuições das práticas educativas às crianças de uma brinquedoteca hospitalar no
município de Santarém?
Assim, este capítulo apresenta um estudo, que se apoiou em constructos
metodológicos, abordagem qualitativa, descritiva, do tipo do estudo de caso, com
recorte temporal no período de 2011 a 2012. Realizou-se investigação documental e
empírica, fazendo uso da entrevista semiestruturada com os 8 acadêmicos dos cursos
da área de saúde de uma Instituição de Ensino Superior - IES Estadual. Os dados
coletados foram tratados por meio da análise ídeo-central, para Teixeira (2005) a
“análise ídeo-central” é uma modalidade de análise temática que visa evidenciar ideias
centrais ou ideias-chave nucleares dos discursos; ideias que emergem das respostas
obtidas questão-por-questão.
74
ANDRÉA RENI MENDES MARDOCK e ELIZABETH TEIXEIRA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pseudônimo Idade Gênero Atuação na Curso
brinquedoteca
Chapeuzinho Vermelho 20 Feminino Voluntária Educação Física
BarbieParticiparam do estudo208 (oito) acadêmicos
Feminino PAE1
que aceitaram Educação
fazer Físicado estudo,
parte
Bela Adormecida 20 Feminino PAE Enfermagem
e Branca
assinaram
de Neve o Termo de Consentimento
19 Feminino Livre e Voluntária
EsclarecidoEnfermagem
(TCLE). Os traços
identitários de cada indivíduo são forjados no seio de cada cultura [...] segundo Veiga
Cinderela 19 Feminino PAE Enfermagem
Rapunzel
(2015). Para se perceber as 20
Preto Alfa 21
Feminino
contribuições
Masculina
Voluntária
significativas Educação Física
dos participantes
Voluntário Enfermagem
do estudo,
é Zéimperativo
Colmeia conhecê-los, partindo
20 do princípio que
Masculina PAEestes atores da saúde estão
Enfermagem
envolvidos com o ensino-aprendizagem.
No Quadro 01 a seguir, ilustra-se o perfil dos acadêmicos participantes do estudo,
segundo idade, gênero, atuação na brinquedoteca e curso de graduação.
1
Programa Assistência Estudantil da UEPA.
75
PRÁTICAS EDUCATIVAS NUMA BRINQUEDOTECA HOSPITALAR EM SANTARÉM:
PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS
Fica evidenciado que hoje o hospital não é mais apenas um lugar de sofrimento,
através da brinquedoteca pode-se ter um lugar lúdico, “rico” (ainda está um pouco
longe disso, mas deveria ser) de brinquedos, cheio de imaginação, alegria, contagiante
e envolvente, sendo visto como um aspecto positivo, no aprendizado e na contribuição
do tratamento para as crianças. Conforme quadro 02, ver a seguir:
Chapeuzinho A brinquedoteca tem importante função na unidade hospitalar. Um espaço onde as crianças
Vermelho podem desenvolver diversas atividades, brincar, se divertir, esquecer o sofrimento e tédio
que é ficar no leito do hospital.
Barbie A brinquedoteca em uma unidade hospitalar tenta influenciar a recuperação das crianças
tendo como “arma”, o brincar, a fim de proporcionar à criança momentos de ludicidade;
interação e a fuga da dura realidade da vida no hospital, permitindo a imaginação e a
invenção de cada uma.
Bela Adormecida A brinquedoteca tem grande importância para o hospital, pois ela estimula as crianças a
brincar, sorrir, além de interferir no contato dos próprios pacientes. Estimula a alegria, a
criança tem menos chance de ficar deprimida e acaba por melhorar e até mesmo anteceder
a volta do paciente ao seu lar.
Branca de Neve A brinquedoteca tem uma importância muito grande, por trazer pra essas crianças a alegria,
um bem-estar emocional para as mesmas.
Cinderela Com a brinquedoteca as crianças não vivem no mundo somente dos remédios e
procedimentos, elas se distraem.
Rapunzel Brinquedoteca é imaginar muitos brinquedos em um mesmo lugar, com crianças brincando
felizes, em um espaço especial: contagiante e envolvente, onde somam-se sorrisos,
diminui a tristeza, multiplicando-se a amizade e dividindo o carinho com todos.
Preto Alfa Uma oportunidade para as crianças terem um contato com o lúdico.
Zé Colmeia A brinquedoteca é uma opção a mais para a criança hospitalizada, de brincar e continuar
a interação que tinha quando sadia. É o espaço onde a criança pode ser criança, é o que na
maioria das vezes faz elas esquecerem o sofrimento e medo que estar em um hospital.
IDEIAS-TEMAS
Momentos lúdicos – Muitos de brincadeiras – Esquecer o sofrimento – Influência
na recuperação
76
ANDRÉA RENI MENDES MARDOCK e ELIZABETH TEIXEIRA
Chapeuzinho Até o momento não há um planejamento das atividades que são feitas na brinquedoteca.
Vermelho As atividades são executadas aleatoriamente, de acordo com o gosto e necessidade das
crianças.
Barbie O planejamento da brinquedoteca é organizado de acordo com a disponibilidade de
participação de cada voluntário e é bem executado uma vez que todos os dias têm
voluntários presentes na brinquedoteca.
Bela Adormecida Na verdade, o planejamento das atividades durante o período em que estou atuando, não
existe e acaba por repetir as brincadeiras do dia anterior, creio que isso não deve ocorrer
mais, pois já existe um projeto de planejamento da brinquedoteca e novas capacitações.
Branca de Neve No momento não têm nenhum planejamento sendo executado no hospital (brinquedoteca).
Cinderela Não existe o planejamento, na verdade a gente inventa na hora o que fazer com elas. De
acordo com o que a criança quer fazer.
Rapunzel Sei que existe o planejamento das atividades na brinquedoteca, mas no momento não está
sendo executado, não sei se por falta do apoio da coordenação responsável pela
brinquedoteca no hospital, pois não temos contato com os mesmos e muito menos apoio
para o desenvolvimento das atividades.
Preto Alfa Não há um planejamento específico, mas realizamos as atividades de acordo com a
necessidade dos pacientes.
Zé Colmeia O planejamento da brinquedoteca se divide em antes e depois da entrada de novos
voluntários. Antes desses voluntários entrarem eles fazem capacitações que ajuda a
conhecer mais a fundo como funciona a brinquedoteca. Após a entrada são planejadas
algumas atividades para assim serem desenvolvidas com as crianças, mas as atividades
são feitas de modo aleatório.
IDEIAS-TEMAS
Não há planejamento – Atividades realizadas de acordo com a necessidade – O
planejamento existe, mas não é executado
77
PRÁTICAS EDUCATIVAS NUMA BRINQUEDOTECA HOSPITALAR EM SANTARÉM:
PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS
Chapeuzinho Sim. Pois as crianças, a maioria das vezes, ainda não tomaram banho e nem café quando
Vermelho chegamos, tempo ideal para arrumar o espaço. Na saída é uma situação parecida, tanto no
período da manhã quanto da tarde.
Barbie Sim. A brinquedoteca funciona de segunda a sábado (manhã e tarde); proporcionando às
crianças várias horas de descontração por dia.
Bela Adormecida O horário de funcionamento é totalmente adequado, pois o tempo em que o brinquedista
demora para chegar no espaço e se organizar é o tempo em que as crianças já tomaram
seus banhos e já se alimentaram. E o horário que o brinquedista sai condiz com a hora do
almoço do paciente, levando em consideração que atuo pelo turno da manhã como
brinquedista.
Branca de Neve Sim, o horário é bem adequado, pois as crianças já tomaram o café da manhã, quando nós
brinquedistas chegamos e quando saímos, eles vão almoçar.
Cinderela Sim, é o horário que já estão acordadas e dispostas para brincar.
Rapunzel Com certeza, pois é o que melhor se adéqua as crianças hospitalizadas, não interferindo
nos horários: banho, café da manhã, almoço, jantar e nas administrações dos
medicamentos.
Preto Alfa Sim, geralmente iniciam-se as atividades entre 8:00 às 12:00 horas e a tarde 14:00 às 18
horas.
Zé Colmeia Sim, pois se mais cedo as crianças ainda estão dormindo e mais tarde já estão almoçando.
No caso da tarde por volta das 18:00 horas elas precisam ir para os leitos. O horário é
adequado, tanto no período da manhã quanto da tarde.
IDEIAS-TEMAS
O horário é adequado
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ANDRÉA RENI MENDES MARDOCK e ELIZABETH TEIXEIRA
IDEIAS-TEMAS
Convite para as brincadeiras – Jogos – Desenhos – Histórias – Recortes – Origami
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PRÁTICAS EDUCATIVAS NUMA BRINQUEDOTECA HOSPITALAR EM SANTARÉM:
PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS
IDEIAS-TEMAS
Tem caráter Educativo – Lúdico - Pedagógico
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ANDRÉA RENI MENDES MARDOCK e ELIZABETH TEIXEIRA
Chapeuzinho O espaço físico, por ser pequeno, limita algumas atividades. Mas ainda assim dá-se um
Vermelho jeito e as brincadeiras acontecem.
Barbie A Brinquedoteca é um lugar muito importante dentro do hospital, uma vez que ela pode
favorecer mais rapidamente a reabilitação das crianças enfermas, que pode estar com
grandes alterações emocionais, físicas e intelectuais.
Bela Adormecida O espaço brinquedoteca é de fundamental importância para o paciente, pois ela atinge a
autoestima das crianças. Quando falta algum voluntário as crianças perguntam, sente falta.
Ela é um espaço em que tanto o voluntário, como o paciente e até mesmo o acompanhante,
sente-se mais aliviados, pois ao que parece eles esquecem por algumas horas que estão
dentro de um ambiente hospitalar.
Branca de Neve O espaço é pequeno, ficando ao lado do refeitório, mas é um local onde as crianças e nós
nos sentimos bem.
Cinderela É um pouco pequeno o espaço.
Rapunzel É um espaço pequeno, mas aconchegante, é onde podemos conhecer cada criança e seus
acompanhantes que geralmente são os pais, posso dizer que é o local mais feliz do hospital,
onde as crianças sentem prazer em está, o lugar onde elas podem escolher o que fazer, com
que brincar.
Preto Alfa Poderia ser um espaço maior.
Zé Colmeia O espaço físico é inadequado. Muito pequeno e localizado ao lado do refeitório.
IDEIAS-TEMAS
Pequeno - Importante – Aconchegante - Alívio
Apesar de ser um espaço pequeno, como citado pelos acadêmicos, tem todo seu
diferencial na vida de cada criança, acompanhante e acadêmico, que desfrutam desse
espaço com prazer e alegria. Segundo Porto (2010) o ambiente onde deve funcionar a
brinquedoteca deve ser aconchegante, limpo, arrumado ao final de cada sessão.
As brinquedotecas têm uma importância imensa na vida das pessoas que
precisam desses espaços, principalmente a brinquedoteca hospitalar, apesar de ser um
espaço pequeno, mas é onde as crianças sentem prazer em estar, porque nesse espaço
tem liberdade de escolher o brinquedo ou a brincadeira que norteiam as atividades
desenvolvidas pelos acadêmicos (brinquedistas).
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PRÁTICAS EDUCATIVAS NUMA BRINQUEDOTECA HOSPITALAR EM SANTARÉM:
PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS
Chapeuzinho O espaço físico poderia ser ampliado ou mesmo uma sala poderia ser providenciada ou
Vermelho adaptada para suprir as necessidades.
Barbie Sim. Os responsáveis da brinquedoteca poderiam entrar em contato com lojas que
pudessem doar brinquedos; lápis de cor; papel; E.V.A.; hidrocor e, seus nomes seriam
divulgados em uma camisa exclusiva dos brinquedistas.
Bela Adormecida Sim, creio que o espaço deveria ser maior para que as crianças ficassem mais à vontade,
deveria ser longe do refeitório dos profissionais de saúde, poderia ter mais brinquedos.
Outra sugestão é que outras faculdades pudessem aderir ao voluntariado já que pessoas de
fora não podem pelo risco que o hospital oferece.
Branca de Neve Sim, seria bom um local maior, com mais brinquedos.
Cinderela Poderia ter um espaço mais amplo.
Rapunzel Sim, que seja ampliado no espaço do refeitório que é junto ao espaço da brinquedoteca,
que na maioria das vezes nós utilizamos para desenvolver atividades com as crianças.
Preto Alfa Em relação ao atendimento na recepção, poderiam recepcionar melhor as pessoas que
chegam ao hospital, sejam voluntários, pacientes, acompanhantes ou outras pessoas e
poderia ter mais brinquedos para as crianças.
Zé Colmeia Sim, poderia ser numa sala, só onde seriam feitas as atividades, mais ampla e mais
brinquedos.
IDEIAS-TEMAS
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ANDRÉA RENI MENDES MARDOCK e ELIZABETH TEIXEIRA
com o próprio emocional, em meio a tanto sofrimento das crianças e com a morte,
pois isso abala a estrutura dos brinquedistas.
IDEIAS-TEMAS
As capacitações foram boas – A preparação emocional é importante
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PRÁTICAS EDUCATIVAS NUMA BRINQUEDOTECA HOSPITALAR EM SANTARÉM:
PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS
A criança precisa neste momento de pessoas que as façam felizes, que as façam
sorrir, brincar, se distrair e ao mesmo tempo aprender através das brincadeiras, muitas
delas perdem os cabelos, devido ao tratamento, para as meninas é um momento difícil
e constrangedor, então os brinquedistas podem ajudar a superar isso.
IDEIAS-TEMAS
Gosto de descobrir o que as crianças querem fazer – Não gosto de fazer o que não sei -
Morte
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ANDRÉA RENI MENDES MARDOCK e ELIZABETH TEIXEIRA
Chapeuzinho Sinto-me bem. As crianças transmitem algo bem satisfatório pra nós quando a fazemos
Vermelho servir.
Barbie Sinto-me muito feliz e abençoada por Deus, já que estou proporcionando coisas boas para
aquelas crianças e aprendendo também a encarar a vida de forma diferente, com mais
humildade e sabedoria.
Bela Adormecida Antes eu pensava que ia fazer o bem a alguém, hoje vejo que são eles que fazem o bem
para mim, quando a gente sai de lá, sente a sensação de alegria, de dever cumprido. A cada
sorriso, desenho ou dobradura, recorte que você recebe deles, o coração se enche de
alegria.
Branca de Neve Sinto-me muito feliz em levar alegria para as crianças, me sinto renovada a cada dia que
vou para a brinquedoteca, é uma lição de amor e alegria.
Cinderela Bem, aprendi com as crianças a superação e a força de vontade de cada uma delas de se
recuperar.
Rapunzel É maravilhoso poder fazer parte desse projeto, onde podemos trazer um pouco de
felicidade, descontração as crianças e aos familiares mais conforto e ânimo. Onde sabemos
que seremos muito bem recompensados quando conseguimos fazer pelo menos uma
criança sorrir naquele dia, sinto-me importante para elas, pois percebo que sentem minha
falta, é interessante eles sabem os dias que vamos, e eles ficam nos aguardando e quando
deixamos de ir, somos cobrados, pelas próprias crianças, e quando conquistamos a
confiança delas que não é muito fácil e tão rápido requer um certo “trabalho” dedicação,
elas fazem desenhos para nos presentear, dobraduras pensando na gente.
Preto Alfa Realizado!
Zé Colmeia Sinto-me bem, já que estou conhecendo a realidade das crianças e interagindo com elas.
IDEIAS-TEMAS
Muito Feliz – Abençoada – Realizado – Sinto-me bem
Segundo Santos (1997) entende-se também que para trabalhar numa brinquedoteca
é necessário um profissional diferente, o “brinquedista”, que antes de mais nada deve
ser um educador, ou seja, antes de ser um especialista em brinquedo, deve ter em
sua formação conhecimentos de ordem psicológica, sociológica, pedagógica, artística...
Enfim matérias que lhe dê uma visão de mundo e uma visão clara e crítica sobre
a criança, jogo, brinquedos, brinquedoteca, escola, homem, sociedade e, ao mesmo
tempo, seja uma pessoa com sensibilidade, entusiasmo, determinação, dinamismo,
que chora, que ri, que canta e que brinca.
Concordo com a autora que um brinquedista tem que ter todas essas qualidades,
e fico muito feliz, porque na brinquedoteca Carrossel, vê-se brinquedistas com um
coração enorme cheio de amor para dá a essas crianças, sentindo-se realizados, por
poder proporcionar um momento de alegria, sentindo-se recompensado através de
um sorriso, um abraço, um desenho que receberam de presente, pois sabem que
ganharam o dia quando fizeram uma criança enferma sorrir em meio ao sofrimento e
a dor, brinquedistas que se sentem abençoados e realizados por conhecerem crianças
especiais como as que frequentam a brinquedoteca.
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PRÁTICAS EDUCATIVAS NUMA BRINQUEDOTECA HOSPITALAR EM SANTARÉM:
PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS
Chapeuzinho Procuro chegar um tempinho antes das 8:30 para quando as crianças forem à brinquedoteca
Vermelho elas encontrarem alguém para brincar com elas. Não sou muito criativo, mas tento me
superar.
Barbie Sou sempre pontual, procuro chegar as 8:00hrs e sair as 12:00hrs (3 vezes por semana),
me daria nota 9,0. Já minha criatividade precisa ser mais explorada, me daria nota 6,0.
Bela Adormecida No quesito pontualidade não falho e nem posso falhar, criatividade é bem interessante
porque quando falta algo no espaço que eles queiram a gente sempre dá um “jeitinho de
brasileiro”.
Branca de Neve Minha criatividade é boa, porque sempre busco fazer com que as crianças brinquem,
desenhem etc. quanto a pontualidade eu sempre chego e saio na hora certa.
Cinderela Não sou tão criativa, acho que poderia fazer mais.
Rapunzel Sempre exerço as atividades com o meu melhor, sendo pontual, pois as crianças esperam
com ansiedade a nossa chegada, a maioria das vezes elas já vão informando o que querem
fazer, pois a maioria das vezes elas querem desenhar ou jogar.
Preto Alfa Pontualidade: sou sempre; criatividade: nós nos “viramos nos 30”.
Zé Colmeia Na maioria das vezes chego antes do horário para preparar o local. Não sou tão criativo
mais consigo desempenhar muitas brincadeiras.
IDEIAS-TEMAS
Há pontualidade – Tem criatividade
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ANDRÉA RENI MENDES MARDOCK e ELIZABETH TEIXEIRA
Chapeuzinho Eles procuram ajudar também no trabalho da brinquedoteca. De minha parte não há
Vermelho reclamações com relações a eles.
Barbie Muito boa, as enfermeiras e médicos são muito atenciosos e procuramos sempre manter
um convívio harmonioso com todos do hospital.
Bela Adormecida A maioria nos trata super bem, são cordiais, nos recebem bem, ficam curiosos pra saber
quem somos e porque estamos lá. A gente também ganha muita experiência com eles.
Branca de Neve Nos dias em que eu vou, a equipe é sempre atenciosa e nos ajudam a fazer nosso papel na
brinquedoteca. Seria bom que a equipe que fica na recepção do HRBA fosse mais educada,
com todas as pessoas e conosco também.
Cinderela Muito bom, dependo do estado de espírito que os profissionais vêm para o trabalho, mas
geralmente são muito receptivos.
Rapunzel Sempre muito boa, pois eles também ficam felizes com as nossas atividades, pois acaba
facilitando também o trabalho deles, pois eles falaram que as crianças ficam melhores
quanto participam das atividades, aceitam melhor os medicamentos e também se
alimentam melhor.
Preto Alfa Os profissionais da saúde são muito gentis conosco.
Zé Colmeia Temos uma boa interação. Nós nos ajudamos bastante.
IDEIAS-TEMAS
São Atenciosos - Gentis – Receptivos
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PRÁTICAS EDUCATIVAS NUMA BRINQUEDOTECA HOSPITALAR EM SANTARÉM:
PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS
IDEIAS-TEMAS
Refúgio do estresse – Alegria – Elas melhoram
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IDEIAS-TEMAS
Socialização – Alegres e Dispostas - Afetividade
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PRÁTICAS EDUCATIVAS NUMA BRINQUEDOTECA HOSPITALAR EM SANTARÉM:
PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS
IDEIAS-TEMAS
Dá Alívio – Contribui para o tratamento – Favorece a Conversação
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crianças que realmente precisam dessa atenção cotidiana, colocando esperança em
seus corações.
Segundo Santos (2011) ao valorizar as atividades lúdicas como um meio a
mais na alavancagem dos processos de desenvolvimento e aprendizagem, requer
concomitantemente pensar na preparação daqueles que se dispõem atuar nesse campo
emergente, qualificando os instrutores (acadêmicos) que deverão atuar com os atores
(crianças e acompanhantes) nas mais variadas faixas etárias.
“Cada criança participante da brinquedoteca Carrossel é um exemplo de
superação para cada um de nós e sei que fazemos a diferença na vida delas”; e dessa
forma percebe-se que os brinquedistas não só ensinam as crianças, mas aprendem tanto
quanto elas, elas os fazem ficarem alegres quando estão contentes e tendo melhora em
seu quadro clínico, mas os deixam também super tristes quando partem para um
outro mundo ao qual não se conhece.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
brinquedoteca tem a sua beleza, que encanta não só as crianças, mas os próprios
acadêmicos (brinquedistas) com a experiência que proporciona a cada um, tanto
para a profissão como para a vida pessoal. O envolvimento de acompanhantes, que
também são contagiados pelos brinquedistas, integra e coopera, e interagem nas
referidas atividades favorecendo um clima democrático no espaço brinquedoteca.
Transcendem-se limites lúdicos, tornando a brinquedoteca um local propício para o
desenvolvimento de novos laços e vínculos afetivos; o que foi nitidamente perceptível
ao longo do estudo, envolvendo os participantes os quais frequentemente relatavam a
singularidade das relações ali construídas.
É importante ressaltar a confiança que os acompanhantes depositam nos
brinquedistas, pois quando percebem a chegada deles ao passar pelo corredor da
Clínica Pediátrica, logo em seguida começam a sair dos leitos e se direcionar para a
brinquedoteca.
Dessa forma fica evidente a participação positiva dos brinquedistas e a forma
como conquistam as crianças e acompanhantes, mantendo amizade e confiança, de
forma envolvente nesse espaço tão aconchegante que é a brinquedoteca. Basta o sorriso
de uma criança que está enferma para este trabalho ser gratificante. Esses pequenos
gestos é que fazem a vida ficar mais feliz e completa.
Com base nessas conclusões, sugere-se um trabalho contínuo no espaço da
brinquedoteca, com equipe interdisciplinar e multidisciplinar, pois é perceptível a
necessidade educacional, psicológica e social. Destaca-se o papel dos brinquedistas
voluntários no desenvolvimento das práticas educativas por meio do lúdico. Ficou
evidente a necessidade das crianças serem acompanhadas pelos brinquedistas para
ocupar o tempo ocioso com atividades lúdicas-pedagógicas dentro do hospital. Com
isso, propicia-se o verdadeiro brincar, aquele que possibilita a expressão das necessidades
mais profundas do ser humano; aquelas que embora desconhecidas, podem estar
bloqueando a liberação de potencialidades ou impedindo o acesso à felicidade.
REFERÊNCIAS
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ANDRÉA RENI MENDES MARDOCK e ELIZABETH TEIXEIRA
93
BRINQUEDOTECA COMO LUGAR DE CRIANÇAS
NOS CONTEXTOS EDUCACIONAIS: CAMPO DE
POSSIBILIDADES, CONTINUUM DE ATIVIDADES...
Shiniata Menezes
Ilka Bichara
Dalila Carneiro
Graziele Carneiro
Brinquedos
(Fernando Faro)
INTRODUÇÃO
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BRINQUEDOTECA COMO LUGAR DE CRIANÇAS NOS CONTEXTOS EDUCACIONAIS:
CAMPO DE POSSIBILIDADES, CONTINUUM DE ATIVIDADES...
Magalhães, 2003; Magalhães, Bichara, Pontes, 2003; Brougère, 2004; Gosso, Morais,
Otta, 2006).
Bougère (2004) coloca que o brinquedo, sendo uma das fontes de imagens e
representações culturais, é um suporte das ações lúdicas empreendidas pela criança.
Diante dele, a criança se depara com uma imagem cultural especialmente construída
para ela. Decifrar essa imagem implica apreender e se apropriar de códigos culturais
básicos que definem e regulam a vida social – padrões e conduta, inclusive expectativas
em relação aos gêneros, normas, valores, crenças, ritos. Isto é um desafio constante, ao
qual a criança responde, em grande parte, no e através do brincar. Assim, as diferentes
brinquedotecas constituem-se cenários diversos de produção e transformação da
cultura; por outro lado, estes mesmos cenários revelam múltiplos contextos culturais
nos quais as crianças estão inseridas.
Mesmo que apresentem características comuns, as brinquedotecas se diferenciam
quanto ao formato, conteúdo, propósitos, dinâmicas, locais nos quais estão situadas.
Ainda assim, como casa de brinquedos, é um local privilegiado para a vivência das
brincadeiras e das complexas interações que acontecem nos grupos de brincadeiras
(GB) e entre estes e os adultos profissionais que atuam nesses espaços.
A brincadeira oportuniza a manipulação e a interação lúdicas, processos
fundamentais de ressignificação e apropriação, pois a criança, na relação com
o brinquedo, cria formas inéditas, inusitadas de apreensão, ativa e autoral, das
informações culturais nele veiculadas. Assim, a criança não se limita nem à estrutura
do brinquedo, nem ao conteúdo simbólico que ele expressa, mas, brincando com
ele, sozinha ou em interação, transforma-o, atribuindo-lhe novos significados, muitas
vezes, inclusive, anulando/negando as prescrições (significados anteriores) veiculadas
pela estrutura do brinquedo e pela propaganda que incrementa sua distribuição e
consumo (Brougère, 2004).
Não nos referimos, aqui, apenas aos brinquedos já produzidos, aqueles que
chegam às crianças já formatados, mas incluímos também os brinquedos por elas
inventados a partir de objetos diversos, tais como papéis, elementos da natureza,
sucata, entre outros. Os brinquedos assim criados possibilitam perceber, de forma
mais direta, o processo transformador das brincadeiras que altera o significado deles,
atribuindo-lhes sentidos diversificados. Por exemplo, a bola de meia, a mesma que
pouco antes vestia o pé, tornada recurso essencial para a vivência da brincadeira de
futebol; ou pedrinhas, areia e folhas que viram uma armadilha ou se tornam apetitosas
iguarias em uma festa de aniversário de faz de conta.
Além de brincar, a criança estabelece com o brinquedo relações de posse, de
investimento afetivo, de exploração e de descoberta. Tais relações engendram a formação
de vínculos que precisam ser melhor compreendidos e respeitados. A depender da
idade, a criança pode vivenciar o brinquedo como parte dela mesma, uma extensão
de seu próprio corpo. Há que se ter cuidado nos momentos de “despedida” de tais
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SHINIATA MENEZES, ILKA BICHARA, DALILA CARNEIRO E GRAZIELE CARNEIRO
brinquedos, evitando-se a perda (ou o corte) abrupta. Tais vínculos também podem
explicar preferências que estão além de padrões de beleza ou valores socialmente
instituídos. Em cenários como as brinquedotecas, os brinquedos mediam interações
de parceria ou de conflitos entre pares, revelando-se ainda importante recurso nos
rituais de acesso às brincadeiras.
As brinquedotecas são relevantes para a criança contemporânea que vive nas
grandes cidades, podendo tornar-se um local privilegiado não só de encontro com
pares, como também de observação de suas brincadeiras, já que a grande variedade de
brinquedos disponível estimula desde o simples tocar e/ou experimentar objetos até a
complexidade das interações grupais (Bomtempo, 2009). Nas brinquedotecas também
é possível, através do brincar espontâneo, observar, problematizar e discutir aspectos
do desenvolvimento da criança, tais como suas habilidades, seu jeito de aprender,
como apreende sua realidade social (Adur; Polomanel, 2014). Há brinquedotecas que
inclusive já incorporam em seu acervo os jogos eletrônicos e muitas, no período em
que vigorou, no Brasil, o distanciamento social por conta da pandemia de COVID-19,
funcionaram de modo virtual, reinventando-se.
A organização do espaço lúdico tem se mostrado uma variável significativa na
determinação (e na previsibilidade) da forma e do conteúdo das brincadeiras. Assim,
a descrição e a análise de episódios de brincadeira podem revelar características da
organização do espaço – como arranjos espaciais1, disponibilidade de brinquedos e
de equipamentos, densidade, diferença de gênero – que influenciam no tipo, duração
e qualidade das brincadeiras empreendidas nesse espaço (Johnson, Christie, Yawkey,
1999; Campos-De-Carvalho, 2011; Bichara et al., 2009).
No entanto, ainda é pouco comum, em estudos de Psicologia do Desenvolvimento
no Brasil, pesquisas que abordem o meio físico e suas características e como as pessoas
– em especial, para os fins deste capítulo, as crianças – se relacionam com o espaço
(Kobarg, Kuhnen, Vieira, 2008; Bichara, 2006; Campos-de-Carvalho; 2004). Há, aqui,
uma lacuna, que se acentua ainda mais pelo destaque dado às influências do meio
social no desenvolvimento da criança, evidenciando o que Campos-de-Carvalho (2011)
considera uma negligência: poucas pesquisas que abordem as características físicas do
contexto. No entanto, podemos considerar a indissociabilidade entre os meios físico
e o sociocultural.
As brinquedotecas existem em diversos cenários: hospitais, creches, escolas,
universidades; além de unidades autônomas localizadas em bairros. Apesar da
centralidade do brincar, têm diferentes objetivos. A brinquedoteca escolar, além de
assegurar o direito às brincadeiras em um contexto que privilegia atividades acadêmicas,
possibilita investigar a relação das crianças com colegas, com os adultos que a cercam e
a interação com um novo ambiente físico que condiciona comportamentos, inclusive
1
Arranjos espaciais são configurações do espaço criadas a partir da “maneira como os móveis e equipa-
mentos existentes em um local estão distribuídos e posicionados entre si” (Campos-de-Carvalho, 2011,
p.71).
97
BRINQUEDOTECA COMO LUGAR DE CRIANÇAS NOS CONTEXTOS EDUCACIONAIS:
CAMPO DE POSSIBILIDADES, CONTINUUM DE ATIVIDADES...
as próprias brincadeiras.
No entanto, sabe-se que o contexto escolar, da educação infantil à universidade,
não é neutro; ao contrário, é um “texto” cultural forjado nas condições de existência das
pessoas que nele convivem, condições estas historicamente construídas. Esse “texto”,
relevante no processo formativo, se mostra e pode (deve) ser lido na arquitetura dos
prédios, na organização dos espaços de aprendizagem – desde a disposição dos móveis
aos currículos, oficiais e ocultos, adotados, que refletem as desigualdades sociais, as
múltiplas e diversas etapas de desenvolvimento e de mundos de vida, as diferentes
concepções e práticas educativas implementadas, condicionadas aos determinantes
sociais vigentes. Podemos então indagar e refletir sobre a inserção de uma “casa de
brinquedos” em tal contexto: para que? para quem? para brincar como, de que e com
quem?
Este capítulo aborda a brinquedoteca, concebendo-a como lugar de criança,
inserida em dois cenários educacionais a partir de dois enfoques distintos: inicialmente,
apresenta uma pesquisa realizada em uma escola pública municipal de Salvador/BA,
com crianças do grupo 5 da educação infantil que brincavam, em dias e horários
regulares, em uma brinquedoteca improvisada em uma área física cuja configuração
se aproximava a um estreito corredor (Figura 01) – portanto, muito distante dos
padrões sugeridos pela literatura. Este relato privilegia a brinquedoteca como lugar
de brincadeiras espontâneas entre as próprias crianças, entendendo-se brincadeiras
espontâneas ou livres como o brincar no qual não há intervenção nem participação
de adultos; as crianças brincam entre si, tendo liberdade para escolherem brinquedos,
tipos de brincadeiras e parcerias.
98
SHINIATA MENEZES, ILKA BICHARA, DALILA CARNEIRO E GRAZIELE CARNEIRO
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BRINQUEDOTECA COMO LUGAR DE CRIANÇAS NOS CONTEXTOS EDUCACIONAIS:
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BRINQUEDOTECA COMO LUGAR DE CRIANÇAS NOS CONTEXTOS EDUCACIONAIS:
CAMPO DE POSSIBILIDADES, CONTINUUM DE ATIVIDADES...
Carlos brinca com o castelo, nas Mesas, com colegas. Há bonecos e animais que
se envolvem em lutas. Outro colega, Mathias, traz uma boneca que veste um short e
um top, inserindo-a na brincadeira. Os meninos riem. Carlos vai à estante, pega uma
boneca e também a insere na brincadeira. As duas bonecas se encontram e lutam.
Depois a brincadeira continua com os meninos tentando colocar as bonecas em
diversas partes do castelo. Ambos riem muito.
A luta entre as duas bonecas ocorre outra vez. Depois Carlos, rapidamente,
abaixa o short de uma das bonecas; depois levanta seu top. Ele e Mathias riem. Carlos
encosta a boneca no rosto de Mathias, que está sentado à mesa brincando, e faz com
que a boneca o beije na boca. Mathias toma um susto, mas sorri. Carlos ri. Depois
acontece uma terceira luta entre as bonecas.
Este episódio oportuniza a discussão sobre a brincadeira de meninos com bonecas
(note-se que não se trata de um brincar de bonecas, típico de meninas), ao tempo
em que ilustra a brincadeira simbólica de luta mediada por brinquedos. Embora
desde o início do episódio já se observe a brincadeira de luta através de bonecos e
animais, a introdução das duas bonecas no cenário lúdico não apenas dá continuidade
à brincadeira, como possibilita a incorporação de novos significados (sinalizados,
inclusive, pelo riso de ambos os brincantes), claramente alusivos à curiosidade sexual
pelo corpo feminino representado nas bonecas e à provocação de um “beijo roubado”.
O registro ainda informa sobre as amplas possibilidades de manipulação de
brinquedos que assim adquirem novos significados (Brougère, 2004). Apesar de ser
um brinquedo característico de meninas, seu uso pelos meninos mostra-se alinhado
ao universo cultural masculino (De Conti; Sperb, 2001).
Dessa forma, constatou-se nesta pesquisa que o adulto assumiu a função de
cuidador (Cotrim; Bichara, 2013), entendendo-se as ações de repreensão, ordem e
veto como ações de cuidado com as crianças no contexto escolar.
Passamos, então, ao relato de experiência de extensão de duas bolsistas, estudantes
do curso de Psicologia, na brinquedoteca da Universidade Estadual de Feira de Santana
– UEFS. Seguimos, com curiosidade, a indagação: como as crianças brincam nesse
espaço que, prioritariamente, se apresenta com o objetivo da formação acadêmica – o
que vincula o brincar ao aprender, tanto das crianças quanto dos adultos que com elas
se relacionam na brinquedoteca universitária?
A brinquedoteca UEFS atende crianças entre 0 a 10 anos de idade, filhas e filhos
de servidores, docentes, discentes e da comunidade externa ao ambiente universitário.
Trata-se de um espaço que, embora busque priorizar o brincar espontâneo, implementa
também em suas ações dois outros tipos de brincar, conforme explicitamos
anteriormente: o brincar dirigido e o brincar mediado. Se, no relato sobre a pesquisa em
uma brinquedoteca da educação infantil, observamos o brincar espontâneo exclusivo
entre as crianças e a relação destas com adultos profissionais que se colocavam no lugar
de cuidadores que realizavam intervenções no brincar, regulando-o, na brinquedoteca
104
SHINIATA MENEZES, ILKA BICHARA, DALILA CARNEIRO E GRAZIELE CARNEIRO
universitária de que tratamos aqui o cenário, tanto físico quanto social, é totalmente
outro. Vivenciando essa “casa de brinquedos” voltada à pesquisa, ao ensino e à extensão
no nível universitário, as crianças têm a oportunidade e o desafio de empreenderem
formas de brincar distintas, estabelecendo com os adultos diferentes interações a
depender do lugar que estes ocupam nas brincadeiras.
No brincar espontâneo tal como o entendemos aqui, o adulto é o observador que
busca aprender e apreender a complexidade das brincadeiras infantis, respeitando a
autonomia e a autoria das crianças. Ao participarem das brincadeiras espontâneas das
crianças, por exemplo, quando convidados, os adultos ficam atentos para não retirar
o protagonismo destas. E interferem em tais brincadeiras quando solicitados pelas
crianças ou quando surge a necessidade de intervenções. Por outro lado, no brincar
dirigido, implementado a partir de atividades, os adultos seguem um planejamento
prévio flexível; ainda que considerem sugestões e opiniões das crianças, estas não
escolhem as brincadeiras.
Entre o brincar espontâneo e o brincar dirigido, há outra forma de brincar na
brinquedoteca UEFS que se apresenta quando o adulto engaja-se nas brincadeiras,
tornando-se brincantes. Então, o que antes se apresentava como consulta às crianças,
torna-se, em um continuum de possibilidades, brincadeira mediada, ou seja, negociada,
combinada com as crianças que assim dela se apossam, transformando-a junto com
os adultos. A inclusão do adulto no grupo de brincadeira (GB) das crianças é algo
que merece ser mais estudado, principalmente à luz dos achados de Menezes (2020),
quando propõe a tese do GB como lugar político no contexto escolar. Note-se que o
papel do adulto cuidador mostra-se transversal aos três tipos de brincar ora elencados.
Vejamos, no relato das bolsistas, como as crianças brincam nesta brinquedoteca,
considerando suas características específicas.
105
das vagas restantes através do contato com a equipe da brinquedoteca via e-mail ou
telefone. São permitidas, no máximo, dez crianças no espaço, embora esse critério
varie com as visitas de escolas da educação infantil, que ocorrem principalmente
durante o mês de outubro, quando se comemora o Dia das Crianças.
Cada criança que frequenta o espaço tem a oportunidade de explorar os diversos
cantinhos de brinquedos: consultório médico, casinha, camarim, leitura e brinquedos
de montagem, sendo que cada uma delas possui suas preferências, ou seja, cantinhos
que costumam brincar frequentemente. Nos momentos de brincar espontâneo, quando
podem escolher com qual brinquedo desejam brincar, com quem e onde desejam
permanecer, ou mesmo escolher não brincar – o que é raro, as crianças exercitam o
fortalecimento de sua autonomia. A observação dessas brincadeiras faz parte da rotina
dos adultos e embasam as outras atividades lúdicas por eles coordenadas.
Dessa maneira, foi possível registrar momentos como o futebol na área externa
da brinquedoteca, em que as crianças, mesmo não dispondo de um local realmente
adequado para o jogo, adaptaram-se ao espaço da área externa permitido às brincadeiras.
Ali elas estão em contato com a movimentação cotidiana da universidade, ou seja, com
a vizinhança de outros espaços, com pessoas transitando, conversando ou estudando
nas proximidades. É interessante notar a brincadeira espontânea assegurando e
dando visibilidade à participação das crianças no cenário acadêmico (Farenzena et
al., 2018), misturando-se aos afazeres dos estudantes, docentes, servidores, trazendo às
suas dinâmicas outras cores e outras sonoridades (como ficar insensível aos gritos de
“gooolll!!!”?).
Em outros episódios de futebol, o início de um corredor se transformou na trave,
sendo que o jogo era constantemente interrompido pela passagem de discentes. Isso
demonstra tanto a adaptação da brincadeira às condições físicas disponíveis, recriando-
as, como a capacidade do grupo de brincadeira de sustentação coletiva apesar dos
obstáculos.
Em outros momentos de brincadeiras espontâneas observadas, as cadeiras da
brinquedoteca se tornaram um trem, ou camas, avião, obstáculos de um percurso
de uma competição. O sofá presente na área interna se transformou em um palco
de shows, algumas crianças se tornaram os artistas famosos e as outras crianças se
transformaram em uma plateia e em fãs. O cantinho temático do escritório tornou-se
escritório de um advogado, sala de atendimento médico e sala de espera de uma clínica
médica. O banheiro infantil e a cozinha se transformaram em esconderijo. Toda a
brinquedoteca e tudo que há nela, para as crianças frequentadoras, torna-se algo a
ser utilizado no brincar. O que não se tem se faz com o que tem, é inventado, criado
e fantasiado; assim surgem diversas brincadeiras, histórias, encontros, experiências.
Aqui encontramos o processo de transformação do espaço, do uso de seus recursos, da
criação acontecendo, fomentando os empreendimentos lúdicos coletivos.
Tais registros das brincadeiras espontâneas na brinquedoteca UEFS indicam
ocupações e apropriações autorais, inéditas, que nos fornecem pistas da transformação
da brinquedoteca em um lugar de crianças, na perspectiva que adotamos no presente
capítulo.
Mas como acontecem as performances das crianças em brincadeiras dirigidas ou
mediadas? Nesses momentos, elas participam de atividades que envolvem o desenho
coletivo, mímica, história coletiva, faz de conta direcionado, entre outros recursos. Tais
atividades são desenvolvidas visando o respeito à faixa etária e consideram o número
de participantes envolvidos. Entre as muitas atividades implementadas, selecionamos,
para fins deste capítulo, os registros de dois episódios de brincadeiras mediadas – “Os
fantoches” e a “brincadeira de casinha”:
“OS FANTOCHES”
“BRINCADEIRA DE CASINHA”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
119
CASA DO BRINCAR: A IMPLANTAÇÃO DE UMA BRINQUEDOTECA NO COTIDIANO DE
UMA INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO NO OESTE DO PARÁ
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MILANY SANTOS DE CARVALHO, ADRIA JULIANA VASCONCELOS SOUSA DA SILVA,
CELINA MARIA COLINO MAGALHÃES e IANI DIAS LAUER LEITE
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CASA DO BRINCAR: A IMPLANTAÇÃO DE UMA BRINQUEDOTECA NO COTIDIANO DE
UMA INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO NO OESTE DO PARÁ
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MILANY SANTOS DE CARVALHO, ADRIA JULIANA VASCONCELOS SOUSA DA SILVA,
CELINA MARIA COLINO MAGALHÃES e IANI DIAS LAUER LEITE
A IMPLANTAÇÃO DA BRINQUEDOTECA
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CASA DO BRINCAR: A IMPLANTAÇÃO DE UMA BRINQUEDOTECA NO COTIDIANO DE
UMA INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO NO OESTE DO PARÁ
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MILANY SANTOS DE CARVALHO, ADRIA JULIANA VASCONCELOS SOUSA DA SILVA,
CELINA MARIA COLINO MAGALHÃES e IANI DIAS LAUER LEITE
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CASA DO BRINCAR: A IMPLANTAÇÃO DE UMA BRINQUEDOTECA NO COTIDIANO DE
UMA INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO NO OESTE DO PARÁ
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MILANY SANTOS DE CARVALHO, ADRIA JULIANA VASCONCELOS SOUSA DA SILVA,
CELINA MARIA COLINO MAGALHÃES e IANI DIAS LAUER LEITE
as crianças mais velhas optam por brincar com os infantis que tem as idades parecidas,
e os pequenos por não serem escolhidos para brincar juntos acabam ou brincando
sozinhos ou brincam com os mais novos também.
O trecho da entrevista aponta ainda que não há diferença de gênero na hora
dessas escolhas, todos ficam sempre juntos apesar das idades diferentes. Sobre esse
contexto Feldman, Papalia (2013) e Berger (2016) salientam que as características
humanas podem e estão a todo instante sendo moldadas em diferentes formatos, isto
é, estão sempre em um processo contínuo e em constante evolução.
Dessa maneira, é relevante compreender os três domínios biossocial, cognitivo
e psicossocial, como destacam os autores, pois cada criança apresenta características
próprias. Nesse processo de mudanças existem outros fatores que influenciam e afetam
o desenvolvimento do sujeito além das características individuais, devido cada um ter
vivido em diferentes contextos no decorrer de sua vida até chegar à instituição. Os
autores ressaltam que os seres humanos são seres sociais que desde o início da vida
se desenvolvem dentro de um contexto social (Feldman, Papalia, 2013; Berger, 2016).
A seguir serão evidenciadas as questões relacionadas às perguntas alusivas ao
que mais gostam de fazer e o que não gostam de fazer na instituição, respostas que
demonstram sua satisfação no decorrer do dia. Seguem as respostas apresentadas pelos
participantes.
Às vezes assistir filme e brincar de bola, o que eu menos gosto é de ficar no
barulho de muito barulho eu não gosto (P1, menina, 11 anos).
“Eu gosto de fazer no abrigo, eu gosto de brincar, eu gosto de ler, eu gosto
de assistir filme da maravilha né, e aí é só o que aconteceu, eu não gosto
de fazer, eu sei fazer o para casa e para aula, mas um medo de fazer o
para casa, um instante na hora as cuidadoras me chamam pra fazer o
dever e na hora que me chamo eu faço direitinho, como eu sei olha, não
sei só” (P2, menina, 05 anos).
Brincar, de ficar no quarto (P3, menino, 06 anos).
É Comer, nada (P4, menino, 09 anos).
Gosto de comer e de brincar é de ta no quarto (P5, menino, 06 anos).
As informações verificadas neste trecho ressaltam a percepção dos infantis
quanto às questões que representam o seu dia a dia, isto é, do que eles mais gostam
de fazer e o que não gostam de fazer na instituição. Os fatos demonstram que mesmo
diante de situações passadas de vulnerabilidade o gosto pela brincadeira acaba sendo
predominante.
Guedes (2013) mensura em seu estudo, que a brincadeira está presente no
cotidiano das crianças e adolescentes e serve como estratégia de vida, sendo que
cada um apresenta em suas formas de brincar, subjetividades distintas. Contudo, há
um fator limitante no contexto da pesquisa de Guedes, que é o não acesso livre aos
127
CASA DO BRINCAR: A IMPLANTAÇÃO DE UMA BRINQUEDOTECA NO COTIDIANO DE
UMA INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO NO OESTE DO PARÁ
brinquedos, sendo a justificativa dada referente ao fato de que estes podem quebrar.
Também não há acesso livre aos espaços abertos, as crianças podem utilizá-los apenas
com a supervisão de um adulto.
Essa realidade foi encontrada neste estudo, pois as crianças só podem estar em
outros espaços com a presença do cuidador e ainda não podem utilizar os brinquedos
que ganham, pois podem quebrar, como aponta o autor, o que destaca que essa pode
ser uma realidade vivenciada em outras instituições e que é preciso ampliar o olhar
sobre estas questões.
Nas verbalizações dos entrevistados, percebe-se que a maioria gosta de assistir
filme, e nas observações nos dias de visitas averiguou-se que cada uma vivenciava esse
momento de maneiras diferentes, reforçando a ideia que cada um tem formas de
executar suas brincadeiras e vivenciar sua subjetividade.
Em relação ao que não gostam de fazer, ficou exposto que a maioria das respostas
tem relação com as regras da instituição, como o ter que ficar no quarto no momento
do descanso mesmo sem querer, ou então, fazer as atividades acadêmicas.
Bronfenbrenner (1996) considera que o desenvolvimento enquanto processo
amplia as concepções do ser humano a partir da interação com o meio no qual está
inserido, permite que haja sempre a reestruturação de atividades no ambiente sendo
elas complexas ou não. Nesse sentido, pode-se dizer que, mesmo que as crianças não
gostassem das regras, precisavam se reinventar o tempo todo para poder passar por
essas horas de reclusão dentro dos quartos.
Quanto às questões sobre as preferências pelas brincadeiras e onde mais gostam
de brincar as crianças disseram:
De bola, no campinho (P1, menina, 11 anos).
Eu gosto dessa coisa aqui, eu gosto de brincar de casinha igual essa daí lá
de casa, mas essa casinha tá cheio de brinquedo e eu gostava de brincar
igual essa aqui, olha lá, essa foto aqui, eu gosto de brincar com essas
casinhas, era essa minha casa hoje, eu brincava muito com ela, gosto de
brincar com as bonecas eu brinco muito com elas lá em casa, onde eu
gosto mais de brincar é no campinho (P2, menina, 05 anos).
De Bola, Campinho (P3, menino, 06 anos).
De carrinho, na maloca (P4, menino, 11 anos).
Brincar com Barco, canoa, de carrinho de dois carrinhos, ali no campinho
bem ali logo, olha (P5, menino, 06 anos).
Essas verbalizações retratam muito a respeito das brincadeiras realizadas na
instituição e os locais, fatos que se diferem do que foi levantado nas observações, pois
as brincadeiras e os locais onde ocorrem as brincadeiras não foram os observados na
observação sistemática.
No momento das observações as brincadeiras ocorriam na maior parte do tempo
128
MILANY SANTOS DE CARVALHO, ADRIA JULIANA VASCONCELOS SOUSA DA SILVA,
CELINA MARIA COLINO MAGALHÃES e IANI DIAS LAUER LEITE
na sala de estar, fato que diverge do desejo das crianças, tendo em vista que estas
gostam de estar nos espaços estruturados para o brincar mais livre como o campinho
e a maloca.
Bichara (2016) e Kishimoto (2015) destacaram que a brincadeira pode representar
para a criança um jeito de assumir o protagonismo de suas ações, ter satisfação pessoal,
autonomia, produzir cultura, ou seja, é por meio das brincadeiras que a criança toma
consciência das regras de comportamento, a partir de suas experiências, fatos que
puderam ser detectados quando os participantes expressaram os seus desejos a partir
das regras colocadas pela instituição.
Percebe-se que a equipe e os cuidadores têm limitações em organizar os locais que
as crianças gostam de brincar, pois limitam o acesso. Tal fato pode se tornar um fator
que dificulta o desenvolvimento humano, pois conforme Bronfenbrenner (1996) os
objetos e os símbolos presentes no ambiente, devem exercitar a atenção e imaginação
da pessoa em processo de desenvolvimento.
No contexto pesquisado, não se observou o preparo do espaço e de brinquedos e/
ou materiais para a realização de brincadeiras por parte dos cuidadores. Ao contrário, as
crianças permaneciam ociosas na maior parte do tempo programado para a realização
das brincadeiras, ficando em frente à televisão ou dispersos, aguardando o horário de
irem para o banho e jantar.
Neste estudo foi possível identificar que as crianças não estão sendo ouvidas
quanto aos seus desejos. No dia a dia gostariam de brincar com os brinquedos que
possuem, de circular livremente, mas não podem. Tais desejos ficaram evidenciados
durante as entrevistas.
Outra questão relevante é que os locais que as crianças mais gostam de brincar
são os menos acessados por elas. Por serem ambientes ao ar livre que permitem e
possibilitam que estas tenham mais movimentação, os profissionais acabam tolhendo
suas vontades, porque possuem a concepção que dará mais trabalho controlar todas
as crianças nesses ambientes. Percebe-se que provavelmente por não frequentarem
estes locais em sua rotina, os infantis acabam intensificando esse desejo e vontade de
brincar nesses locais não permitidos.
No próximo trecho destacam-se as respostas referentes aos parceiros durante as
brincadeiras: com quem mais gostam e em qual momento do dia costumam fazer isso.
Verifica-se por meio destas, as interações e os horários do dia que costumam mais
brincar, conforme respostas abaixo:
Com quem eu mais gosto tipo o os meninos que eles sabem brincar, os
menores não sabem eu gosto de brincar com os meninos, quatro horas
na hora é que o sol ta mais baixo, antes disso não brinca porque o sol ta
muito forte e a gente pode ficar doente (P1, menina, 11 anos).
Com meus irmãos, mas meus irmãos não me gostam de brincar com eles,
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CASA DO BRINCAR: A IMPLANTAÇÃO DE UMA BRINQUEDOTECA NO COTIDIANO DE
UMA INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO NO OESTE DO PARÁ
seis horas da manhã quando acordo brinco mais de manhã (P2, menina,
05 anos).
Com A4 e P4, à tarde (P3, menino, 06 anos).
Não gosto de brincar com ninguém, de tarde eu brinco mais (P4, menino,
09 anos).
Com o P3, A3 e com A8 de tarde (P5, menino, 06 anos).
As verbalizações revelam como ocorrem as escolhas para as interações nos
momentos de brincadeira e como as crianças consideram o horário pertinente para
brincar, ficando evidente que a maioria reconhece que o horário disponível para o
brincar é no turno da tarde.
Na visão de Bomtempo (1999), a criança ao brincar vive e se relaciona de
forma concreta com outro sujeito, se adapta e recriam novos conhecimentos para si,
o que se pode constatar nos momentos que estavam brincando uns com os outros,
principalmente os participantes com mais idade, dialogavam sobre determinado
assunto, trocavam ideias e a partir da história que contavam uns para os outros criavam
novas formas de brincar.
Na pesquisa de Bichara (2011) as crianças desenvolviam suas brincadeiras a partir
da relação que tinham com os ambientes da casa em que moravam, evidenciando
que a criança tem a capacidade de recriar e criar diversas possibilidades durante suas
brincadeiras. Tal fato foi observado nesta pesquisa: os acolhidos precisavam se adaptar
ao espaço no qual permaneciam.
Nesse sentido, Bichara e Becker (2016) ressaltam que a brincadeira ocorre através
do processo exposto pela cultura e pela dinâmica das relações, características culturais
da região e do contexto onde ocorre. Pode-se destacar neste sentido que nos ambientes
de acolhimento institucional acontece o brincar, porém com algumas peculiaridades
que envolvem o contexto, como o acesso aos espaços e o ambiente controlado o tempo
todo.
Pedroso, Lobato e Magalhães (2016) revelam que o contexto de abrigo pode
desempenhar o papel de ambiente facilitador do desenvolvimento emocional e social
das crianças que nele vivem, do mesmo modo, pode exercer o papel substitutivo a esse
ambiente faltoso, isto é, pode vir a ser suficientemente bom e facilitar a espontaneidade
intrínseca à infância, ao desenvolvimento emocional e maturacional e a criatividade
inerente à condição de estar vivo.
Destaca-se que aconteciam interações entre todos, porém os que se consideravam
maiores brincavam juntos, separados das crianças menores como se observa nas
falas dos participantes. Os participantes que tinham irmãos consideravam que não
brincavam juntos mesmo que quisessem, devido à diferença nas idades, cenas que
várias vezes foram detectadas no decorrer das visitas. Além disso, outro ponto que
chama atenção é o fato dos irmãos não demonstrarem comportamentos afetivos e de
130
MILANY SANTOS DE CARVALHO, ADRIA JULIANA VASCONCELOS SOUSA DA SILVA,
CELINA MARIA COLINO MAGALHÃES e IANI DIAS LAUER LEITE
cuidado uns com os outros, como observado durante a coleta. Segue trecho do diário
de campo:
Durante as brincadeiras os infantis de idades maiores brincavam sempre
juntos e não permitiam que os menores entrassem na brincadeira, na
maioria das vezes as brincadeiras eram de luta, de correr e adivinhação.
Observa-se que o A3 não permite que a P2 brinque junto com ele, sempre
chama atenção dela e manda ir embora, situação que acontece também
com o P3 e P4 que não brincam juntos e chegam até se agredir precisando
da intervenção dos cuidadores, os irmãos quase não se envolvem e con-
versam fato que chama atenção nas observações (Observação de campo,
01/10/2019 às 16h30min, sala de estar, sessão 01).
Esse dado se contrapõe aos dados reportados por Cavalcante, Costa e Magalhães
(2012) em sua pesquisa, ao salientarem que as crianças com irmãos no abrigo
apresentavam comportamento de cuidado em suas brincadeiras e que as demonstrações
de afeto (abraços, beijos e carícias) eram predominantes em todas as crianças.
A seguir serão ressaltados os trechos das entrevistas com as respostas que dizem
respeito ao ambiente que não pode brincar, perguntas pertinentes para a compreensão
da realidade vivenciada na casa. Seguem as respostas abaixo:
Que eu não posso brincar é lá fora às vezes não na brinquedoteca, só
La no campinho de vez em quando que leva nós e nós volta pra cá pra
dentro de novo, vai tomar banho e aí fica ai assistindo filme de novo (P1,
menina, 11 anos).
No campinho porque, porque no campinho ta muito quente, muito quen-
te (P2, menina, 05 anos).
Tem na maloca (P3, menino, 06 anos).
Aqui na brinquedoteca (P4, menino, 09 anos).
Lá no quarto mais eu brinco só eu (P5, menino, 06 anos).
Os dados revelam no trecho acima como as crianças percebem e pensam a respeito
do seu acesso aos ambientes da instituição: verbalizações que confirmam o observado
nas visitas, pois foi constatado que passavam a maior parte do tempo na sala de estar,
ambiente controlado pelos cuidadores.
Nesse sentido, ao exporem suas respostas nota-se que de fato os lugares que não
podem brincar na maior parte do tempo são os espaços organizados para as crianças,
conforme o que preconiza Rasmussen (2004), como é o caso da brinquedoteca, onde
um dos participantes destacou na sua fala que não podia brincar nesse espaço.
Essa ideia foi verificada também ao longo do processo de coleta de dados, pois em
uma ocasião uma das participantes informou que a brinquedoteca não estava sendo
utilizada, devido à fuga de uma adolescente, após isso suspendeu-se a sua utilização até
segunda ordem e até aquele momento não tinham voltado a usar o espaço.
131
CASA DO BRINCAR: A IMPLANTAÇÃO DE UMA BRINQUEDOTECA NO COTIDIANO DE
UMA INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO NO OESTE DO PARÁ
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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MILANY SANTOS DE CARVALHO, ADRIA JULIANA VASCONCELOS SOUSA DA SILVA,
CELINA MARIA COLINO MAGALHÃES e IANI DIAS LAUER LEITE
REFERÊNCIAS
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CASA DO BRINCAR: A IMPLANTAÇÃO DE UMA BRINQUEDOTECA NO COTIDIANO DE
UMA INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO NO OESTE DO PARÁ
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MILANY SANTOS DE CARVALHO, ADRIA JULIANA VASCONCELOS SOUSA DA SILVA,
CELINA MARIA COLINO MAGALHÃES e IANI DIAS LAUER LEITE
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BRINQUEDOTECA COMUNITÁRIA E
DESENVOLVIMENTO HUMANO: REVISÃO NARRATIVA
DA LITERATURA
INTRODUÇÃO
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BRINQUEDOTECA COMUNITÁRIA E DESENVOLVIMENTO HUMANO: REVISÃO
NARRATIVA DA LITERATURA
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DALÍZIA AMARAL CRUZ e CELINA MARIA COLINO MAGALHÃES
MÉTODO
139
BRINQUEDOTECA COMUNITÁRIA E DESENVOLVIMENTO HUMANO: REVISÃO
NARRATIVA DA LITERATURA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
141
BRINQUEDOTECA COMUNITÁRIA E DESENVOLVIMENTO HUMANO: REVISÃO
NARRATIVA DA LITERATURA
A partir da CHD, foi possível realizar a análise crítica dos artigos selecionados.
Assim, o corpus geral teve aproveitamento de 144 segmentos de texto - STs (72,22%).
Esse percentual é consistente para a análise, pois os manuais indicam que a retenção de
STs aproveitados deve ser de no mínimo 70%. O conteúdo analisado foi categorizado
em 3 Classes, divididas em duas ramificações (A e B). O subcorpus A corresponde à
Classe 3 (Perspectiva Social), com 35 STs (33,5 %). Já o subcorpus B corresponde às
Classes 2 (Concepção de Brinquedoteca Comunitária), com 36 STs (34,62 %) e 1
(Brinquedoteca e Desenvolvimento Humano), com 33 STs (31,73%). Para visualização,
o dendrograma (Figura 1) apresenta a lista e nuvem de palavras componentes de cada
Classe, com respectiva frequência (f) e a indicação da associação do Qui-quadrado (X²
> 3,80) das palavras em maior afinidade com a Classe e o nível de significância dessa
associação pelo p-valor.
142
DALÍZIA AMARAL CRUZ e CELINA MARIA COLINO MAGALHÃES
143
BRINQUEDOTECA COMUNITÁRIA E DESENVOLVIMENTO HUMANO: REVISÃO
NARRATIVA DA LITERATURA
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DALÍZIA AMARAL CRUZ e CELINA MARIA COLINO MAGALHÃES
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BRINQUEDOTECA COMUNITÁRIA E DESENVOLVIMENTO HUMANO: REVISÃO
NARRATIVA DA LITERATURA
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DALÍZIA AMARAL CRUZ e CELINA MARIA COLINO MAGALHÃES
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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BRINQUEDOTECA COMUNITÁRIA E DESENVOLVIMENTO HUMANO: REVISÃO
NARRATIVA DA LITERATURA
REFERÊNCIAS
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DALÍZIA AMARAL CRUZ e CELINA MARIA COLINO MAGALHÃES
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BRINQUEDOTECA COMUNITÁRIA E DESENVOLVIMENTO HUMANO: REVISÃO
NARRATIVA DA LITERATURA
150
UMA PROPOSTA PRÁTICA PARA A UTILIZAÇÃO
DO VÍDEO GAME COMO INSTRUMENTO PARA A
SOCIALIZAÇÃO DE JOVENS
INTRODUÇÃO
151
UMA PROPOSTA PRÁTICA PARA A UTILIZAÇÃO DO VÍDEO GAME COMO
INSTRUMENTO PARA A SOCIALIZAÇÃO DE JOVENS
152
PAMELLA SANCHEZ MELLO DE PINHO e THALITA LACERDA NOBRE
De acordo com Berger e Berger (1977), socialização pode ser definida como o
processo pelo qual o sujeito se molda como ser participante da sociedade em que se
encontra inserido. Nesse processo, o indivíduo apreende alguns padrões que permeiam
seu cotidiano e nesse procedimento há a formação de sua identidade. Se constitui em
sua singularidade.
Os autores explicam também que a organização social afetará diretamente na
formação do sujeito e o movimento contrário é também verdadeiro. Sendo assim, se
constituem conceitos e padrões que muitas vezes não são ditos, mas experienciados e
transmitidos por atitudes e formas de pensar e se organizar. Os autores complementam
que “...na biografia do indivíduo a socialização, especialmente em sua fase inicial,
constitui um fato que se reveste de um tremendo poder de constrição e de uma
importância extraordinária.” (BERGER; BERGER, 1977, p. 204).
Desta forma, para a ciência psicológica, os indivíduos se constituem a partir
da socialização, influenciando e sendo influenciado pela cultura e sociedade,
reconhecendo a si mesmo e ao outro como sujeitos importantes na formação.
É nesse bojo que se pode pensar na atividade do brincar e nos jogos como
ferramentas importantes constituintes da subjetividade e da socialização. À medida
que as sociedades vão se tornando mais tecnológicas passa-se a fazer mais sentido que
153
UMA PROPOSTA PRÁTICA PARA A UTILIZAÇÃO DO VÍDEO GAME COMO
INSTRUMENTO PARA A SOCIALIZAÇÃO DE JOVENS
154
PAMELLA SANCHEZ MELLO DE PINHO e THALITA LACERDA NOBRE
155
UMA PROPOSTA PRÁTICA PARA A UTILIZAÇÃO DO VÍDEO GAME COMO
INSTRUMENTO PARA A SOCIALIZAÇÃO DE JOVENS
é necessariamente motivado pelo amor da mãe, ou pelo seu amor-ódio ou pela sua
relação de objeto, não por formações reativas (WINNICOTT, 1975, p. 79). Tão forte
e importante é essa atividade e essa correlação entre mãe e criança que constrói a
imagem de confiança e desconfiança nos objetos investidos.
Winnicott (1975) avança em suas considerações afirmando que a brincadeira é
uma forma de comunicação, sendo muito útil no contexto terapêutico. A brincadeira
expressa desejo, de maneira criativa, em determinado tempo e espaço. Quando,
anteriormente, aborda a precariedade da magia, refere-se à linha teórica do que é, de
fato, percebido pelo sujeito e a subjetividade deste.
A partir do conceito que o brincar carrega, é possível pensar sobre como o
objeto transicional auxilia no contato entre o mundo externo e o mundo interno,
uma vez que, na infância, a onipotência está sendo, gradativamente, desconstruída.
Ao adentrar a adolescência e o período adulto jovem, o sujeito vê, mais uma vez, o
conflito constante entre o que percebe ao seu redor e o que sente em si. É possível,
então, pensar no brincar como maneira de satisfazer os desejos conflitantes que se
encontram no mundo interno.
O brincar parece conferir uma condição única ao sujeito: encontrar-se no
mundo “real”, mas, manipulando conteúdos trazidos à consciência, utilizando-se de
brinquedos ou outros objetos que se mostrem capaz de traduzir sua intenção ou, com
imaginação, o que deseja. Na brincadeira, o sujeito concilia fenômenos externos com
conteúdos internos.
Nesse sentido, o brinquedo tem o intuito de intermediação entre a realidade
interna e externa, e o objeto transicional pode se instalar como ponte entre individuo
e realidade, não sendo eleito apenas na infância, mas se reatualizando em todo o
momento que a realidade precisar ser novamente representada.
Atualmente, com a evolução da tecnologia, inteligência artificial e formas
avançadas de simulação da realidade, é possível também obter aparatos eletrônicos
com maior facilidade, seja para fins profissionais ou para lazer. A democratização da
internet e das plataformas de jogo propiciaram seu acesso.
Os jogos foram desenvolvidos de maneira a não somente divertir, mas
proporcionar experiências imersivas e envolventes, com tramas que exigem reflexões
críticas a respeito da sociedade ou para distrair o jogador da realidade em que vive,
também podendo propor treinamento intenso para que seja capaz de derrotar o
“chefão final”, dentre outros. Apesar de fórmulas relativamente parecidas, a vivência
que cada jogador tem é única, uma vez que depende do ponto de vista singular que
somente aquele indivíduo terá.
Na obra “Psicologia de grupo e análise do ego”, Freud (1921) ressalta que
a experiencia subjetiva do sujeito tem como referência o outro, a linguagem e a
determinação simbólica da mesma, o que tem relação direta com o que foi abordado
na obra “Projeto para uma psicologia científica”, onde Freud (1895) discute sobre o
156
PAMELLA SANCHEZ MELLO DE PINHO e THALITA LACERDA NOBRE
157
UMA PROPOSTA PRÁTICA PARA A UTILIZAÇÃO DO VÍDEO GAME COMO
INSTRUMENTO PARA A SOCIALIZAÇÃO DE JOVENS
A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
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PAMELLA SANCHEZ MELLO DE PINHO e THALITA LACERDA NOBRE
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UMA PROPOSTA PRÁTICA PARA A UTILIZAÇÃO DO VÍDEO GAME COMO
INSTRUMENTO PARA A SOCIALIZAÇÃO DE JOVENS
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PAMELLA SANCHEZ MELLO DE PINHO e THALITA LACERDA NOBRE
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os jogos e a atividade de jogar faz parte da constituição humana. É por meio dos
objetos que compõem essa atividade que a criança, desde a tenra infância é capaz de
representar a experiência vivida consigo e com o outro.
O videogame, especificamente, surgiu em um momento de evolução da tecnologia
de informação e comunicação, acompanhando o desenvolvimento da civilização em
busca da quebra de fronteiras e ampliação de territórios em que se pudesse habitar.
Apesar disso, a constituição psíquica não se alterou e todo seu processo
permanece inalterado, organizando-se diferentemente apenas em relação à cultura e
época histórica em que o sujeito se encontra inserido. Nesse sentido, observa-se a
atividade do brincar como forma de compreensão desse sujeito.
O trabalho de dissertação partiu da ideia de que o videogame poderia se
configurar como uma versão atualizada do objeto transicional instalado durante a
infância. A criança que brinca guardaria consigo a experiência de que o brinquedo
eleito como objeto transicional representaria o desejo materno e o suporte necessário
para a constituição do self.
Diante disso, construiu-se uma proposta de produto técnico, como tecnologia
social, com o intuito de levar o profissional psicólogo ao ambiente em que estão
os jovens que vivenciam esse período de transição entre etapas, em constituição e
formação do self em comunicação com grupo social e sociedade mais ampla. Trata-
se da proposta de plantões psicológicos que objetivam oferecer espaço de escuta aos
sujeitos para que se crie o exercício de comunicação e reflexão acerca das experiencias
vividas.
REFERÊNCIAS
161
UMA PROPOSTA PRÁTICA PARA A UTILIZAÇÃO DO VÍDEO GAME COMO
INSTRUMENTO PARA A SOCIALIZAÇÃO DE JOVENS
162
PAMELLA SANCHEZ MELLO DE PINHO e THALITA LACERDA NOBRE
p. 29-48, 2015.
SOUZA, R. V. F. Tradução e Videogames: uma perspectiva histórico-descritiva
sobre a localização de games no Brasil. 2015. Tese de Doutorado. Universidade
de São Paulo.
VIEIRA, E. M.; BORIS, G. D. J. B. O plantão psicológico como possibilidade de
interlocução da psicologia clínica com as políticas públicas. Estudos e pesquisas
em psicologia, v. 12, n. 3, p. 883-896, 2012.
WINNICOTT, D.W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Ed. 1975.
163
O JOGO DE ZOAR: EXPRESSÕES LÚDICAS EM DUAS
FAVELAS DA MARÉ
INTRODUÇÃO
165
O JOGO DE ZOAR: EXPRESSÕES LÚDICAS EM DUAS FAVELAS DA MARÉ
as formas de disputa pelo brincar na favela e detalhes das expressões lúdicas dos
mareenses, buscando as interseções entre as expressões dos adultos e das crianças,
relacionadas a identidade dos moradores e as marcas sociais do território.
166
ADELAIDE REZENDE DE SOUZA
detalhes do espaço público vestem roupas que facilitam sua camuflagem, dificultando
achá-las em seus esconderijos e vencer a brincadeira.
Também os adultos procuram, para si, formas de escapar da aspereza cotidiana,
encontrando maneiras de distração. Constroem sua identidade interagindo com a
imagem percebida de sua ambiência, surgindo formas distintas de brincar/distração.
Como é o caso dos bailes funks e os cultos evangélicos, que, opostos em sua formatação
e proposta, podem convergir em relação à intenção dos moradores. Essas atividades
são maneiras cultivadas para diminuir o impacto de um território segregado e com
formas de entretenimento tão restritas. Para se alegrar, buscam se (re)inventar criando
pontos de encontro para o fortalecimento dos laços de amizade com quem mais se
identificam.
Estudos sobre infância nas classes negligenciadas pelo Estado, geralmente,
discutem e problematizam aspectos da vida das crianças sem, no entanto, contar
com suas falas, ações, reflexões de seu cotidiano e sobre a maneira como veem a
sociedade. No entanto, ao ignorar detalhes que integram o dia a dia das crianças
associando-as apenas à pobreza e inadequação, além de não interromper um ciclo
de exclusão, colaboram com sua permanência. Aqui destacamos o brincar como um
modo de dizer que compõe um campo de subjetividade. Segundo Jardim (2003, p.56),
o brincar é um campo de subjetivação da infância que permite através de elementos da
realidade externa uma experiência criativa, pela qual é possível compreender aspectos
da constituição infantil. pois: “[...] não é contabilizado, nem pedagogizado e foge do
caráter de capitalização”.
Vale ressaltar que as experiências no mundo real dão às crianças os recursos para
as brincadeiras. Nesse sentido “[…] os aspectos da identidade social da criança – o
gênero, o ambiente cultural e a organização familiar e comunitária, os valores e as
crenças – vão influenciar o estilo, os tipos e a quantidade de brincadeiras que uma
criança vai exibir” (GARVEY, 2015, p. 239). Este enfoque torna-se fundamental para
a compreensão do repertório lúdico que será apresentado aqui, sobretudo quando
consideramos que em muitos jogos, o jogador precisa partilhar dos códigos construídos
coletivamente para poder jogar, respaldado em referências intersubjetivas (Brougère,
2002). O aprendizado desse conhecimento se faz através da troca entre crianças que
possuem a oportunidade de encontros regulares, onde criam e recriam sentido a suas
brincadeiras, a partir desses momentos e das fortes contribuições dos modos de ser dos
adultos de seu território.
167
O JOGO DE ZOAR: EXPRESSÕES LÚDICAS EM DUAS FAVELAS DA MARÉ
Inicialmente foram realizadas visitas semanais à uma turma do terceiro ano do ensino
fundamental com crianças entre 8 e 9 anos de idade. Em seguida, com mais confiança
no território a pesquisadora passou a fazer incursões com uma parte do grupo de
crianças, nas ruas e becos das favelas próximas.
A escola com um cenário contraditório, contava com excelente espaço físico e
bons equipamentos, além de uma equipe comprometida com o ensino, ao mesmo
tempo que estava localizada em um contexto tenso. Território de grande escassez
econômica, com frequentes conflitos e disputa entre organizações do varejo de drogas
e intervenções policiais, ficava em uma região denominada “Divisa” ou “Faixa de
Gaza”. A área é denominada assim, pois fazia fronteira entre as duas comunidades: a
Baixa do Sapateiro (dominada pela facção do Terceiro Comando) e a Nova Holanda
(dominada pela facção do Comando Vermelho). Este local costuma ser palco para o
protagonismo da disputa territorial aterrorizando os moradores.
Nestes espaços foi utilizado constantemente um caderno de campo registrando as
observações e conversas realizadas em diferentes momentos cotidianos. Também foram
feitas algumas visitas às residências e entrevistas participativas semiestruturadas (com
alunos, professores e familiares), grupos de discussão a partir de situações-problemas
apresentadas pela pesquisadora e o acompanhamento a passeios na favela. Também
foram registrados: fotos e vídeos feitos pelo celular que permitiram descobrir novas
formas de desvelar as múltiplas dimensões da realidade dos moradores.
168
ADELAIDE REZENDE DE SOUZA
Assim, o zoar pode ser uma disputa, com base na tentativa de desqualificar alguém,
na qual o desempenho do oponente mais articulado vai interferir na posição de poder
entre ele e os amigos. A questão é que a criança que consegue se sobrepor a outra
com frequência, e com raciocínio e rapidez, parece ter maior status no grupo. Assim,
destacamos este jogo como importante foco de investigação, que reflete a identidade
e produção cultural do território. Vale destacar que este tipo de jogo de disputa não é
exclusivo deste lugar. Está presente em outras favelas, outros bairros do Rio de Janeiro,
Brasil e outros locais do mundo, fazendo parte de um padrão intergeracional que
constitui a cultura lúdica e integra à cultura popular dos povos de várias regiões.
A respeito dos jogos de humilhação, Green (2013) destaca um lado pouco
discutido nas pesquisas sobre o brincar, o lado perverso, chamado pelo autor de “jogo
sujo”, uma vez que não é baseado exatamente num intercâmbio, mas na vontade de
dominar. É uma forma de impor a vontade de uma pessoa e de submeter o outro. Nos
intervalos cotidianos das ruas há combates de zoação, onde o objetivo é saber quem zoa
melhor o outro. Existe a vontade de provocar, de deixar o amigo sem graça e humilhado
diante do grupo, no entanto, mesmo considerando que em alguns momentos pode
haver confronto físico ou o rompimento temporário do laço de amizade, na maior
parte das vezes é encarado com bom humor.
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O JOGO DE ZOAR: EXPRESSÕES LÚDICAS EM DUAS FAVELAS DA MARÉ
de entrada para uns 10 ou 15 minutos de recreação da turma. Fato que, não ocorria
todos os dias. Dessa maneira,
[…] de acordo com a Matriz Curricular - versão de 14 de janeiro de 2019,
o intervalo para o recreio no turno único: das 8h às 15h, sendo 7 (sete)
horas de trabalho escolar, terá 70 (setenta) minutos destinados a recreio e
refeições definido pelo educador da turma, uma vez que ele é considerado
o encarregado de planejar a rotina das crianças.
Aqui vale detalhar que 70 minutos diários para recreio e refeições, eram divididos
entre a alimentação e sobrava pouco tempo para a recreação. Apesar do clima escolar
ser lúdico e afável, pois as equipes costumavam ter uma relação afetuosa com os
alunos, a estrutura escolar, não disponibilizava tempo e espaço exclusivo para o recreio
coletivo e a expressão livre das brincadeiras dos estudantes. De acordo com Rossetti-
Ferreira (2003), a ordenação tradicional das escolas costuma se apropriar do lúdico
estruturando-o, regrando-o, delimitando seus espaços e horários. Segundo a autora, a
essência do brincar que é a espontaneidade, o não ter hora marcada nem programada
ou material preestabelecido, por não ocorrer em muitos contextos escolares, as
expressões lúdicas acabam prejudicadas. Aqui destacamos que é realmente complexo,
harmonizar a lógica do brincar espontâneo com a lógica tradicional escolar.
Entretanto, na rua e na escola, as brincadeiras eram frequentes, a maioria com
elementos constitutivos da favela, que por sua vez, integrada as regras tradicionais de
algumas brincadeiras foram alimentadas pela cultura local, oferecendo um repertório
próprio da Maré. Assim, não apareceram de forma estática e isolada, estavam integradas
nas percepções e ações das crianças. Aqui será destacada a força local e as interações
das crianças que “[...] co-constroem com a cultura o espaço vivido, onde, à medida
que elas avançam com suas experiências afetivas sobre o lugar, agrupam valores que
reorganizam o seu estar no mundo” (COELHO, et al, 2006, p. 77).
Em relação aos ajustes necessários para aproveitar as características dos espaços
disponíveis, tanto nas ruas das duas comunidades, como nos espaços escolares, as
crianças apresentaram repertórios lúdicos semelhantes, decorrentes de seus saberes
a partir das oportunidades oferecidas em relação aos lugares que frequentam. Neste
ponto, percebemos que as crianças para brincar foram capazes de se adequar aos
espaços oferecidos, expressando uma habilidade de achar soluções para a falta de lugar
que poderia atrapalhar as brincadeiras. Apesar da configuração espacial da favela da
Nova Holanda se apresentar distinta da configuração da Baixa do Sapateiro, em ambas
existem poucas ruas largas e praças com possibilidades para brincar e suas estruturas
espaciais não possuem um planejamento para essa função.
Nos vários lugares estreitos e as vezes escuros, é possível ver diversas crianças
pulando corda, brincando de pique, andando de bicicleta, empinando pipa, jogando
futebol, bafo, dominó ou simplesmente, paradas conversando. Dado que evidencia
que a ausência de espaços amplos que deveriam ser oferecidos pelo Estado, não são
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ADELAIDE REZENDE DE SOUZA
empecilhos para que o brincar aconteça. Coelho et al, (2006), apontam que na favela a
utilização dos espaços livres é peculiar por parte dos seus habitantes mirins
Figura 01- Jogo de bingo no beco Figura 02- Jogo de bafo no beco
Fonte: autora
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O JOGO DE ZOAR: EXPRESSÕES LÚDICAS EM DUAS FAVELAS DA MARÉ
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ADELAIDE REZENDE DE SOUZA
Pesquisadora – Não!
Ju- But é quando a pessoa quer zoar pra gastar mermo, porque o cara
é bronze, platina, a gente diz platinaaaaa! (mudando o tom da voz) de
zoar. Mas, agora quem é dima aí, o cara não zoa não! É que eles falam
que as pessoas tão na patente ruim que é a primeira patente, que é a
patente de bronze, entendeu? E quem criou esse jogo foi a garena e vários
jogos. Todos nós jogamos, o VT, tá falando que vai parar, chega na hora,
pergunta o meu login, tem como jogar on line.
173
O JOGO DE ZOAR: EXPRESSÕES LÚDICAS EM DUAS FAVELAS DA MARÉ
questão de contar o que seu grupo tinha feito durante uma brincadeira que chamou
de brincadeira de guerrinha – polícia contra bandido.
Ju- Nós tava brincando lá que nós era rico, mas quando a tia saiu, nós
começamos a tacar peça pro alto, pecinha de dominó. Aí todo mundo
caindo no chão. começamos a falar “caveirão tá subindo o morro, tá
subindo o morro! (fazendo barulho de tiro). Nós dava só tecão, era cada
barulhão, aí foi até bala perdida... o dominó saiu da sala, não sei se pe-
gou em alguém, só sei que o negócio desceu com tudo. Aí nós falava olha
o caveirão e aí dava um estalo.
Ju - O caveirão era a tia, quando a tia saía, ela tava na porta, nós come-
çava a tacar, tacava na porta para ela não entrar mais. Todo mundo lá,
abaixado, gritando... Também eu acertei a cara do Y sem querer.... e o C
tomou uma bem no queixo, só não sei quem foi, de dominó, raspando. Ni
e Cla morreram, elas estavam na casinha.
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ADELAIDE REZENDE DE SOUZA
interferem diretamente na vida das crianças. Dessa forma, a analogia feita pelas
crianças em relação à professora e o “Caveirão” deu a oportunidade de fantasiar a
respeito desses fatos, fortalecendo assim, o equilíbrio emocional delas, possibilitando
que conseguissem lidar com suas rotinas dentro e fora da escola, com mais alegria e
ânimo.
Outra ligação interessante é quando elas falam da pedra de dominó que saiu
da sala e caiu no andar de baixo da escola, associando-a com a ideia de bala perdida,
termo muito utilizado quando uma bala da polícia atinge alguém inocente. A pedra de
dominó, ao sair da sala, ficou sem controle, caindo em qualquer direção, semelhante
à bala chamada de perdida. Afinal, “balas perdidas” são disparadas com frequência para
justificar mortes de pessoas próximas, moradoras de seus territórios, ou de territórios
com características semelhantes, justificando, assim, que não houve a intenção de
matar. Nesse sentido, Isaacs et al (1969) propiciam um entendimento dessa relação
feita pelas crianças quando afirmam que além da fantasia ser utilizada como um meio
de defesa contra as ansiedades e controle dos impulsos instintivos, também serve como
expressão de desejos reparadores. O processo desse tipo de brincadeira pode dar às
crianças a liberdade de expressar sentimentos e explorar suas experiências relacionadas
às situações em que vivem na escola e nas ruas da favela, fortalecendo uma espécie
de sensação de domínio diante da impotência e opressão. Linn (2010) destaca que a
fantasia pode ser valiosa se podermos utilizá-la para confrontar o medo, lidar com a
raiva ou para lidar com questões devastadoras que confundem as crianças.
Um outro exemplo de territorialidade, que evidencia o cruzamento espacial do
que ocorre nas ruas da Maré e é readaptado para a escola, ocorreu durante um dos
almoços realizados no refeitório, quando um grupo de meninas criou uma pequena
adaptação de um funk:
[…] Pode chegar, pode chegar
Que a aula vai começar
Sabe aonde você ‘tá?
Naquele lugar que tu ouviu falar
Aonde tu senta, aonde tu sobe
Aonde tu desce, aonde que tu rebola
Sabe aonde você ‘tá?
Aqui dentro da escola
Ai, me solta, porra! (adaptação da música - Me Solta - Nego do Borel)
O trecho do funk apresentou, duas pequenas adaptações que estão em negrito,
são palavras que as crianças trouxeram para a música, modificando o sentido original.
Primeiramente, na segunda linha quando aparece a frase “Que a aula vai começar”.
Na música original, no lugar da palavra “aula”, aparece a palavra “festa”. A outra
adaptação é a inserção da frase: “Aqui dentro da escola”, que na música original é: “É
no Baile da Gaiola”. Dessa forma, as meninas trouxeram um aspecto da cultura local:
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O JOGO DE ZOAR: EXPRESSÕES LÚDICAS EM DUAS FAVELAS DA MARÉ
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ADELAIDE REZENDE DE SOUZA
preparação que contava com vários momentos anteriores ao jogo em si. Foi possível
identificar que havia um planejamento prévio durante os intervalos das tarefas escolares
para a disputa lúdica. Além disso, nos diversos intervalos, falavam, muitas vezes entre
si, sobre várias etapas do que tinha ocorrido no jogo anterior ou debochando de
alguém que não conseguiu jogar direito.
Este jogo apresentou muitos desdobramentos, pois uma boa desenvoltura
permitia que a criança participasse interferindo com suas ideias, colaborando com
o planejamento da disputa e fazendo com que a criança ganhasse destaque perante
o grupo, interferindo no papel hierárquico de cada criança, pois seus ritmos exigiam
esforços demasiados, durante as partidas, que eram intensas. Para driblar um
adversário e fazer um gol essa atividade demandava vigor, planejamento e agilidade.
Ser hábil com tanta presteza durante essa brincadeira não era característica de
todas as crianças, aspecto que aumentava a admiração do grupo, em relação às que
conseguiam. Os momentos iniciais das partidas representavam ritmos mais tranquilos
e uma intensidade ainda branda, preparatória para o que iria ocorrer durante o jogo, à
medida que a partida começava, os ânimos se acirravam e, apesar de ser a brincadeira
que mais durava, nunca ocorria com tranquilidade: constantemente as partidas eram
interrompidas, por queixas de falta, xingamentos ou discordâncias, fazendo com que,
a todo instante, algum impasse tivesse que ser resolvido para dar seguimento ao jogo.
Esses momentos incluíam confrontos, físicos ou verbais, em grupo ou individuais, em
que cada lado defendia, com argumentos ou agressões, diferentes pontos de vista. No
entanto, os conflitos não tinham grande duração, logo as pazes eram realizadas. Ao
oferecer oportunidades de viverem sentimentos diversos, tais quais: inveja, rivalidade,
ciúme e raiva, em relação aos companheiros, a brincadeira ensejava a oportunidade de
aprender a regulá-los, e enfrentar a frustração (FORTUNA, 2010).
De modo geral, a impressão era que todas as brincadeiras eram frenéticas, com
pouco tempo de duração, entretanto, eram bastante tangíveis, exigindo uma entrega
por parte das crianças. Parecia inevitável a capacidade de lidar com diferentes ritmos e
a necessidade de troca com o outro, mesmo que este outro estivesse próximo ou mais
distante. Com relação a isso, havia os tratos, espécie de combinados que as crianças
tinham e que surgiam no meio das brincadeiras, exigindo atenção do jogador para
não cair na armadilha das regras e ter que pagar prendas. Souza (1999) estudando
brincadeiras de rua com um grupo de crianças moradoras da periferia da cidade de
Belém do Pará, encontrou alguns tipos de “tratos”, denominados como acordos, feitos
entre crianças, que podem ser cobrados no meio da disputa de uma brincadeira. No
território da Maré, as crianças tinham dois tratos mais comuns: “é da joaninha” e
“pause”.
Com relação ao primeiro, a criança podia estar brincando de pique e uma outra
perguntar “de quem é esta blusa?”, apontando para a blusa da criança próxima, se ela
tem o trato “é da joaninha”, toda pergunta feita sobre seus objetos teria que responder:
“é da joaninha”. Se respondesse que é dela, então ela errava e deveria pagar uma prenda,
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O JOGO DE ZOAR: EXPRESSÕES LÚDICAS EM DUAS FAVELAS DA MARÉ
dando o objeto próprio, ou um outro para a outra criança. Nem sempre isso acontecia
e uma prenda, como imitar um animal, era exigida como punição. Destacamos aqui
que mesmo durante uma brincadeira agitada, para a criança conseguir corresponder
de forma correta ao trato, era requerido uma diminuição no ritmo de sua atuação,
sobretudo porque precisava pensar e associar a pergunta que estava sendo feita para
responder corretamente. Sobre o segundo trato o “pause”, ele acontecia muitas vezes
durante uma atividade na escola, por exemplo, a criança estava comendo e a outra dizia:
pause! Então a criança teria que ficar imóvel, até a outra criança dizer “despause!”,
enquanto isso, a criança que mandou a outra “pausar”, podia mexer no corpo dela,
deixando-a em posições engraçadas para ser zoada. Neste ponto, a brincadeira tinha
seu ritmo alterado, pois havia a exigência de amenizar o padrão de brincar, requerendo
da criança um controle corporal como forma de participação.
Assim, os tratos evidenciaram que as brincadeiras se compunham da premissa
da alteração de ritmos, demandando das crianças controles físicos e psíquicos para
lidar com as mudanças exigidas. Os tratos mudavam o movimento e a pulsação das
brincadeiras, pois muitas vezes uma mesma brincadeira podia esquentar e esfriar,
fazendo com que o ritmo se modificasse, evidenciando o maior ou menor grau de
envolvimento, eles exigiam uma concentração paralela, suas regras eram extras em
relação à brincadeira principal que estava acontecendo naquele momento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
178
ADELAIDE REZENDE DE SOUZA
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O JOGO DE ZOAR: EXPRESSÕES LÚDICAS EM DUAS FAVELAS DA MARÉ
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Os progressos da psicanálise. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. p. 79-135.
180
ADELAIDE REZENDE DE SOUZA
181
SOBRE AS ORGANIZADORAS E AUTORAS
ORGANIZADORAS
183
extensão Musicaliza bebê, voltado para o auxílio ao desenvolvimento motor, cog-
nitivo, afetivo e musical de crianças de 3 meses a 4,5 anos, mediante o ofere-
cimento de atividades musicais/movimento para famílias de infantes na faixa
etária mencionada. Seus atuais temas de interesse são: bem-estar subjetivo e quali-
dade de vida na infância; brincadeiras e desenvolvimento de crianças em diversos
contextos de vida; crianças e adolescentes institucionalizados; crianças, infâncias
e conexão com a natureza; psicomotricidade, musicoterapia, dançaterapia e qual-
idade de vida. ianilauer@gmail.com
AUTORAS
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dade Ambiente e Qualidade de Vida (PPGSAQ - Ufopa) Desenvolve atividades
de musicalização para bebês a partir de 3 meses de idade e desde 2016 atua no
Projeto Musicaliza Bebê da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).
Membro do Grupo de Pesquisa Laboratório de Pesquisa Crianças e Infâncias
Amazônidas (LAPCIA) que desenvolve estudos acerca das diferentes formas de
brincar das crianças e adolescentes. Mestranda do Programa de Pós Graduação
Sociedade, Ambiente e Qualidade de Vida (PPGSAQ - Ufopa). adriajuliana8@
gmail.com
185
ta de Iniciação Científica (2022-2023); estagiária na Creche-UEFS (2022-2023).
Participou da 13° Jornada de Extensão da UEFS (2019); 14° Jornada de Extensão
da UEFS (2020); IV Jornada de Psicologia da UEFS (2020); V Jornada de Psico-
logia da UEFS (2021); 13° Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (2022); XXVI
Seminário de Iniciação Científica da UEFS (2022). Fez cursos sobre Psicologia
da Saúde, Psicologia Jurídica e Gestalt-terapia.
Elizabeth Teixeira
Doutora em Ciências: Desenvolvimento Sócio Ambiental pela UFPA (1999). O
1º Pós-Doutorado foi em Sociologia (2002), com Boaventura de Sousa Santos,
Universidade de Coimbra, Portugal; o 2º em Enfermagem (2013), na UERJ. Em
seus estudos destaca-se a produção e validação de tecnologias cuidativo-educacio-
nais.
186
Ilka Dias Bichara
Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia (1978), me-
strado em Psicologia (Psicologia Experimental) pela Universidade de São Paulo
(1989) e doutorado em Psicologia (Psicologia Experimental) pela Universidade
de São Paulo (1994). Professora titular aposentada da Universidade Federal da
Bahia, é docente do PPGPSI/UFBA vinculada a área de concentração Psicolo-
gia do Desenvolvimento e a linha de pesquisa Transições Desenvolvimentais e
Processos Educacionais. Desenvolve pesquisas e orienta Teses e Dissertações nos
seguintes temas: brincadeiras e contextos, culturas lúdicas, brinquedos e tecno-
logias digitais, infâncias em diferentes contextos, entre outros. Coordenadora
do GT “Brinquedo, Aprendizagem e Saúde” da ANPEPP (Gestão 2022/2024).
Ex-diretora do Instituto de Psicologia da UFBA. ilkabichara@gmail.com
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em Sociedade, Ambiente e Qualidade de Vida pela Universidade Federal do Oes-
te do Pará (UFOPA). Pós graduada em Fisioterapia Neurofuncional (Biocursos).
Servidora Pública Federal (UFOPA). Membro do grupo de pesquisas Laboratório
de Pesquisa em Crianças e Infâncias Amazônidas – LAPCIA/UFOPA. rafaelai-
be@gmail.com
Rosely Perrone
Psicóloga com reconhecimento de grau pela Faculdade de Psicologia da Universi-
dade de Lisboa. Mestre em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista de
São Paulo com reconhecimento de grau pela Faculdade de Psicologia da Univer-
sidade de Minho. Doutoranda em Psicologia Clínica pela Faculdade de Psicolo-
gia da Universidade de Lisboa. Certificado Europeu em Psicologia. Participação
em eventos científicos e publicações. Experiência em Psicologia clínica, hospi-
talar e da saúde, atividade de coordenação e supervisão, comissões gestoras e
projetos lúdicos. Docente em cursos de pós-graduação, especialização e formação.
Atualmente concentra estudos e pesquisas acerca do bebê humano. roseprandi@
hotmail.com
Shiniata Menezes
Professora Adjunta do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Feira
de Santana (UEFS). Doutora e Mestra em Psicologia (Universidade Federal da
Bahia / UFBA); graduada em Bacharelado em Psicologia e Formação de Psicólo-
go (UFBA). Membro do GT ANPEPP Contextos Sociais de Desenvolvimento:
Aspectos Evolutivos e Culturais. Fez Aperfeiçoamento em Formação Clínica na
Abordagem Sócio-Histórica (IPSH/ 2022) e Pós-graduação lato sensu em Psi-
cologia Educacional pela PUC-MG (1993). Coordenadora do Serviço-Escola da
UEFS entre fevereiro de 2018 e fevereiro de 2021. Psicóloga clínica autônoma
desde 1995 (CRP: 03/01275). Realiza pesquisas sobre brincadeiras espontâneas
na Educação Infantil. Realiza palestras, cursos, formação de professores, com
ênfase em Psicologia do Desenvolvimento e Psicologia da Educação. shiniata@
hotmail.com
Thalita Lacerda Nobre
Dra. em Psicologia clínica. Docente do Mestrado em Psicologia, Desenvolvimen-
to e Políticas Públicas da Universidade Católica de Santos. Pós-doutora em Psico-
logia clínica pela PUC-SP. Email: thalita.nobre@unisantos.br
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