Texto 01-Leitura Imanente
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O REVOLUCIONÁRIO E O ESTUDO
POR QUE NÃO ESTUDAMOS ?
© do autor
Creative Commons - CC BY-NC-ND 3.0
Catalogação na fonte
Departamento de Tratamento Técnico do Instituto Lukács
Bibliotecária Responsável: Fernanda Lins
L638r Lessa, Sérgio.
O revolucionário e o estudo : por que não estudamos? / Sérgio
Lessa.– São Paulo : Instituto Lukács, 2014.
120 p.
Bibliografia: p. 109-112.
ISBN: 978-85-65999-21-2.
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ª edição: Instituto Lukács, 2014
INSTITUTO LUKÁCS
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institutolukacs@yahoo.com.br
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A leitura imanente
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26 Tanto quanto sabemos, foi José Chasin o primeiro entre nós a tratar desta
questão, nestes moldes, no item 3 da Introdução ao seu O integralismo de Plínio
Salgado (Chasin, 1978).
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em nossa investigação.
Esses são os passos segundo e terceiro.
Nesse momento da investigação em que estamos nos aproxi-
mando dos parágrafos e das suas relações, é mais frequente do que
raro que as pessoas entrem em um quê – permitam-me a brincadeira
– de “depressão”. Por um lado, a investigação avança tão lentamente
para com as nossas expectativas iniciais – plenas de inexperiência
e desconhecimento do texto! – e nossas debilidades teóricas para
compreendermos o texto vão se explicitando de tal maneira – o úni-
co modo disponível de delas tomarmos consciência e, aos poucos,
as superar –, que temos a sensação de que nunca seremos capazes
de entender o que temos à frente. O desânimo surge e, por vezes,
pode até mesmo nos impedir de estudar. Tentamos encontrar jus-
tificativas para abandonar o esforço e fazer algo “mais produtivo”
– quase sempre, mais fácil e mais compatível com as alienações da
vida cotidiana.
Todos passamos por isso. Desenvolver a capacidade de colocar
sob controle nossa subjetividade de tal modo a que não sejamos
paralisados por essas (permitam-me, novamente) “depressões” faz
parte do aprendizado de como estudar. Logo, contudo, essa sensa-
ção tenderá a ser substituída pela alegria (por vezes também desequi-
librada, que beira a euforia) de estarmos aprendendo e conseguindo
desvendar no mundo o que antes era um “mistério”. Também no
caso da euforia, algum controle da subjetividade deve se desenvol-
ver, ainda que por razões opostas.
O quarto passo será realizado em dois momentos. Ao final de
cada capítulo ou parte importante do texto, deve-se redigir um pe-
queno e resumido texto no qual seja dito: “Nesse capítulo o autor
postula essa tese (ideia, categoria, etc.) e com tais argumentos orde-
nados desta forma”. O segundo momento é a reunião, em um úni-
co texto, destes textos parciais que foram produzidos ao longo da
leitura. Nesse texto, final, resumido e direto, sem rebuscamentos ou
“firulas”, dizemos: “O autor escreveu esse livro para defender essa
ideia (ou concepção, ou conceito etc.) com tais argumentos assim
ordenados. No capítulo primeiro, postula x com tais argumentos;
no capítulo dois, postula y com tais argumentos”, e assim por diante.
Na maior parte das vezes, quando se trata de um texto não muito
grande (um artigo ou algo como Salário, Preço e Lucro, de Marx), o
primeiro momento pode ser deixado de lado e se ir direto ao segun-
do. Em texto maior os dois momentos são imprescindíveis.
Ao final do quarto passo, podemos expor com precisão o con-
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Essa não é uma questão com resposta simples. Por um lado, ne-
nhuma leitura imanente poderá ser bem-sucedida se não atender,
por algum viés, à curiosidade e ao desejo de conhecer o mundo do
militante revolucionário. Sem que tenhamos algum prazer no estu-
do, o esforço que requer a leitura imanente se torna quase insupor-
tável. É importante que se inicie por algo com que se tenha alguma
afinidade.
Para os que me procuram para discutir o que estudar, recomendo
sempre três obras que me parecem decisivas para a compreensão
dos dias atuais. A mais recente delas é a obra-prima de Mészáros,
Para além do capital; a segunda é a Ontologia de Lukács; e a terceira
é O Capital de Marx. Mészáros tem a vantagem de ser um profun-
do comentário de Marx (veja, sobre isso, o Capítulo IV), depois de
iniciada a crise estrutural do capital. Para além do capital é a primeira
análise da totalidade do sistema do capital após O Capital de Marx.
Temos, ainda, a vantagem de contar com um belo texto que serve
de introdução à obra, Mészáros e a incontrolabilidade do capital (Pania-
go, 2012). A principal desvantagem dessa obra de Mészáros para o
início do estudo é o complicado estilo do autor, algo que pode ser
superado, porém requer esforço adicional.
A Ontologia de Lukács (1976, 1981e 1990) é um texto decisivo na
recuperação das teses fundamentais de Marx (nesse sentido, Mészá-
ros é um prolongamento de seu mestre Lukács). Sua exposição dos
argumentos marxianos de como o trabalho é a categoria fundante
do ser social; como o mundo dos homens é um complexo de com-
plexos que tem no trabalho o momento predominante de seu desen-
volvimento, com a mediação da totalidade; como a ideologia e a alie-
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Por fim, uma palavra sobre grupos de estudo. Sempre que possí-
veis, são muito úteis. Mas não substituem o estudo individual.
Reunir pessoas que previamente não realizaram a leitura imanente
do texto não é muito mais do que justapor a ignorância de todos:
atrapalha mais do que ajuda. Na melhor das hipóteses, é um des-
perdício de tempo. Grupos de estudo apenas são úteis se comple-
mentam o estudo individual. Reunir pessoas que trazem consigo a
leitura imanente do texto pode ser muito rico; do contrário não tem
grande serventia.
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Conclusão
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