Texto 08

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Texto 08 – LISBOA, José da Silva (Visconde do Cairu) – Observações sobre a

Franquia na indústria, e Estabelecimento de fabricas no Brasil – 1810.

*franqueza – no século XIX, significava, além da isenção de impostos e subsídios do


governo, liberdade para se implantar indústrias no Brasil.

*no citado alvará de 1º de abril de 1808, D. João revoga o alvará de 1785 que
abolia o estabelecimento de manufaturas e indústrias no Brasil.

Visconde do Cairu- Prólogo – aponta que há duas vertentes não concordantes acerca
dos subsídios aos intentos industriosos: um, no qual o mesmo se enquadra, entende
importante o seu incentivo (animação) por parte do Estado, “[...] contanto que os ditos
privilégios sejam locais, temporários, e improrrogáveis.”, e outra na qual o Estado
deveria intervir e proteger, tal como orienta João Severiano Maciel da Costa em
“Memória sobre a necessidade de abolir a introdução de escravos africanos no Brasil,
sobreo modo e condições com que esta abolição se deve fazer e sobre os meios de
remediar a falta de braços que ela pode ocasionar”.

Cairu adverte ser perigoso um extremo patriotismo, pois este pode trazer resultados
indesejados e até mesmo contrários aos esperados e ainda atenta que o Brasil nada tem
que pretender competir com outros Estados-nação há muito (tempo) industrializados e
populosos. E propõe que convém ao Brasil seguir o exemplo dos EUA e ater-se às
fabricas que atendiam suas necessidades básicas e internas, mantendo as relações de
importação e exportação com as nações já adiantadas na indústria (basicamente, no
período, a Inglaterra).

Cairu aponta que o estabelecimento das indústrias ainda não é viável ao Brasil
oitocentista, por este não ser “um corpo de nação homogêneo e compacto”, ou seja, a
população constitui-se principalmente de escravos com uma pequena parcela de homens
livres, e menor ainda a sua participação na elite dirigente, além de ser má distribuída
territorialmente.

– Para que prospere a introdução das fábricas no Brasil, Cairu confere


essencialidade aos seguintes requisitos:

I – Capitais Disponíveis: empregar o capital não utilizado e excedente para a


implantação das indústrias, não devendo, porém, dividir o capital de outra área como a
rural ou mercantil, pois assim, caso obtivesse algum sucesso, manteria em equivalência
o capital obtido no total anteriormente, ou, no pior caso, tornar-se-ia inviável, fossem os
lucros inferiores ou nulos.

II – Vasta População: nos países populosos e com mão-de-obra disponível, por


encontrarem-se os campos, os ofícios mercantes e os ofícios banais á muito saturados de
mãos, têm-se facilidade em estabelecer as mais variadas indústrias; por ser tão
abundante o número de indivíduos, estes se sujeitavam aos baixos salários propostos
pelos capitalistas (a população brasileira somente atingiu um contingente
suficientemente numeroso para o sucesso da indústria a partir da década de 1940,
quando o governo Vargas incentiva a industrialização nacional).

III – Abundância de subsistência e de matérias primeiras: ao encontrarem-se os


gêneros de subsistência em abundancia; sendo estes produzidos ou não no país, mas de
preferencia que sejam; e em consequência seu baixo preço, os capitalistas têm maior
interesse em estabelecerem-se nesses arredores, pois, além de obterem suas matérias-
primas a um bom preço, encontram também um bom mercado consumidor no próprio
povo, sem medo de concorrências advindas de outros países.

IV – Da demanda efetiva: “A demanda efetiva do país é que regula a existência e o


preço de todas as produções, e, com especialidade as da indústria manufatureira.”- p.
65. É a parte da demanda agregada que de fato se realiza na aquisição de bens, não
apenas os de necessidades básicas, e que supõe a capacidade de pagar pelo preço
vendido. Sendo assim, a demanda efetiva movimentaria o mercado de luxo de vários
níveis, fomentando ao trabalhador maior empenho em seu oficio para adquirir
determinado artigo, impulsionando as atividades do comercio da indústria.

“A demanda efetiva das mercadorias regula a disposição da indústria em cada nação


tão exatamente, como os desejos e as inclinações dos indivíduos decidem sua conduta e
dirigem os respectivos esforços. Portanto tudo que determina a proporção da demanda
dos diferentes artigos de riqueza de um país deve regular a distribuição da sua
indústria. [...]. Algum auxilio dado ao fabricante talvez poderá criar, e por algum
tempo suster, um negocio de perda; porém só a demanda efetiva pode constituir
florescente a um estabelecimento de manufaturas, ou dirigir a constante indústria de
qualquer país a algum ramo particular.” – p. 66

V – Da superioridade dos estrangeiros em barateza e perfeição de obras: A


demanda efetiva não basta para prosperarem as fábricas, é necessário também, superar e
qualidade e menor preço dos itens importados de outros países, pois, é da natureza
humana priorizar uma maior qualidade e barateza, o que pode influenciar o contrabando
de tais artigos.

VI – Da difusão da inteligência: Cairu atesta não ser próspero implantar indústrias sem
antes haver homens letrados e conhecedores das ciências empregadas nas máquinas
engenhosas das fábricas e de várias outras áreas, como, as ciências naturais, arquitetura,
química e física.

VII – Da franqueza do comércio e indústria: os mesmos princípios que se aplicam à


franqueza do comércio e fazem os itens de subsistência serem abundantes e baratos,
devem ser os da franqueza da indústria, pois esta, se estiver em um pais com
oportunidades naturais e proporções, como as citadas anteriormente, produzirá ainda
mais benefícios que as do comercio. Aplicando então, o modelo liberal presente na
Inglaterra, a mais bem sucedida nação a estabelecer indústrias. “[...] Nesse sistema
liberal, é fácil a todo o individuo achar o posto e nível que lhe compete por suas
circunstancias pessoais e locais, sem gravame de ninguém, e com manifesta vantagem
do público, que, em cada divisão e subdivisão do trabalho, interessa achar o maior
número de servidores hábeis, e industriosos distintos, e eminentes que, pela
concorrência, farão esforços de aperfeiçoarem suas obras, e sejam, sem força alguma
de lei, ou de homem, impossibilitados a fazerem extorsão de exorbitantes salários do
respectivo serviço. Então a geral indústria avançaria progressiva e rapidamente na
melhor ordem, e em sua marcha majestosa, para dar à nação a maior opulência de que
lhe é suscetível.”- p.68

VIII – Dos privilégios, prêmios, e honras, aos inventores nas artes e ciências: Ao
premiar e favorecer tais inventores deve-se visar o aperfeiçoamento de tais obras e suas
respectivas aplicações na indústria, pois, premiar por premiar, de nada vale.

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