Sentença
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Vistos etc.
De outro vértice, o art. 96, da Lei de Falências, especifica que `a falência requerida com
base no art. 94, inciso I do caput, desta Lei, não será decretada se o requerido provar: I –
falsidade de título; II – prescrição; III – nulidade de obrigação ou de título; IV – pagamento da
dívida; V – qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a cobrança
de título; VI – vício em protesto ou em seu instrumento; VII – apresentação de pedido de
recuperação judicial no prazo da contestação, observados os requisitos do art. 51 desta Lei; VIII
– cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do pedido de falência,
comprovada por documento hábil do Registro Público de Empresas, o qual não prevalecerá
contra prova de exercício posterior ao ato registrado´.
Pois bem! Singelo compulsar dos termos da contestação oferecida pela LUMINAR, revela
que – à exceção da forma especial de protesto – nenhuma dessas possibilidades foi eleita como
entrave ao pedido falimentar contido na inicial, tendo a ré optado, única e tão somente, por
deduzir argumento que deveria ser manejado por meio do recurso próprio à desconstituição da
decisão de fls. 148/149.
Não tendo agravado de tal decisão, disto decorrendo a preclusão lógica, têm-se que a
desnecessidade de instrumentalizar o pedido com protestos especiais para fins falimentares
assume caráter irresistível.
Aplica-se tal conclusão, do mesmo modo, à aludida necessidade de intimação pessoal (fls.
251/253), porquanto afeta ao instituto do desnecessário `protesto especial para fins
falimentares´, estando a matéria açambarcada pelo manto da preclusão lógica.
O aludido art. 330, do CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, determina expressamente que 'o
juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo sentença: I - quando a questão de mérito for
unicamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, não houver necessidade de produzir prova
em audiência;' [...].
CELSO RIBEIRO BASTOS e IVES GANDRA MARTINS, de forma brilhante ensinam que
"a função jurisdicional só se independentizou das demais no século XVIII com a prevalência da
Teoria de Montesquieu consistente já agora na clássica separação do poder." [...] "Ao lado da
função de legislar e administrar, o Estado exerce a função jurisdicional. Coincidindo com o
próprio evoluir da organização estatal, foi ele absorvendo o papel de dirimir as controvérsias que
surgiam quando da aplicação das leis". [...] "À função jurisdicional cabe este importante papel de
fazer valer o ordenamento jurídico, de forma coativa, toda vez em que o seu cumprimento não
se dê sem resistência. Ao próprio particular (ou até mesmo às pessoas jurídicas de direito
público), o Estado subtraiu a faculdade de exercício de seus direitos pelas próprias mãos. O
lesado tem decomparecer diante do Poder Judiciário, o qual, tomando conhecimento da
controvérsia, se substituià própria vontade das partes que foram impotentes para se comporem.
O Estado, através de umde seus Poderes dita, assim de forma substitutiva à vontade das
próprias partes, qual o direito queestas têm de cumprir." (BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS,
Ives Gandra. Comentários à constituição do Brasil. v. 4. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 1, 11-13).
Magnânimo raciocínio é expresso por JOSÉ ROBERTO SANTOS BEDAQUE, para quem
"tanto quanto as partes, tem o juiz interesse em que a atividade por ele desenvolvida atinja
determinados objetivos, consistentes nos escopos da jurisdição" (BEDAQUE, José Roberto dos
Santos. Garantias constitucionais do processo civil. São Paulo: RT, 1999).
Acerca do instituto, LUIZ TZIRULNIK leciona que "poderá ser decretada a falência do
devedor que, sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida,
materializada em título ou títulos executivos protestados, cuja soma ultrapasse o equivalente a
40 salários mínimos na data do pedido de falência" (TZIRULNIK, Luiz. Direito falimentar. 7. ed.
rev. ampl. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005. p. 155). Mais adiante, o
sobredito doutrinador especifica que "quaisquer que sejam as razões do não pagamento, todas
elas levam à impontualidade e à inadimplência que, assim, poderá ser causa de decretação de
falência. Ainda, se o devedor tiver relevante razão de direito para não pagar a sua obrigação, ele
a teria provado antes de permitir que o título de que é devedor fosse a protesto, Mais: se não o
fez nesse momento, essa relevante razão de direito poderá ainda ser analisada na contestação
ao pedido de falência. Deste modo, ainda que o devedor possua relevante razão de direito, essa
razão apenas seria analisada no início do processo falimentar, visto que, de qualquer modo,
resulta em impontualidade, levando à presunção da falência do devedor", logo adiante
salientando que "para pedir a falência, o credor há de provar de forma clara e objetiva a
impontualidade do devedor, o que é feito por meio do protesto de um título, meio que prova que
o credor exigiu o pagamento, mas que o devedor se recusou a fazê-lo, legitimando-se, assim, a
ação de execução", daí decorrendo "o legislador caracterizar com precisão a impontualidade de
pagamento de obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados"
(TZIRULNIK, Luiz. op. cit. p. 156).
A análise dos documentos encartados aos autos, indica que os títulos de crédito
decorrentes das operações contratuais entabuladas entre a ELETROCAL e a LUMINAR, foram
levados a protesto, viabilizando o aparelhamento de execução.
Cuidam-se, pois de títulos líquidos, certos e exigíveis, não tendo sido referida a existência
de qualquer ação de sustação de protesto, nulidade dos títulos, revisão contratual, notificação,
contra-notificação, etc.
Nada, absolutamente nada, foi alçado pela LUMINAR, como circunstância de derrogação
do crédito conclamado pela ELETROCAL.
Importante destacar que se trata a demandada de empresa com atuação supra estadual,
dispondo de várias filiais, de modo que o não-pagamento do singelo valor original de R$
168.649,74 (cento e sessenta e oito mil, seiscentos e quarenta e nove reais e setenta e quatro
centavos), indica, de fato, sua incapacidade financeira.
E deste perigo de dano iminente e irreparável ao direito dos credores emana a necessidade
de proteção cautelar, na forma do art. 798, do CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, segundo o qual
`além dos procedimentos cautelares específicos, que este Código regula no Capítulo II deste
Livro, poderá o juiz determinar as medidas provisórias que julgar adequadas, quando houver
fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão
grave e de difícil reparação´.
Sobre a matéria, JOSÉ DA SILVA PACHECO leciona que "no curso do processo, o juiz ex
offício ou a pedido do credor, pode ordenar o seqüestro dos livros, papéis, e bens do devedor".
(PACHECO, José da Silva. Processo de falência e concordata. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1.988. p. 216).
Observando a possibilidade de que os bens da devedora não venham a ser suficientes para
o pagamento dos débitos trabalhistas, fiscais, com garantia real, hipotecária e aqueles
quirografários, compreendo salutar impedir que os responsáveis pela quebra – sócios-
gerentes/administradores – venham a alienar seus bens pessoais, a fim de que não sejam
alcançados pelos efeitos da falência.
POSTO ISTO, considerando, ainda, o mais que dos autos consta – especialmente os
princípios gerais de Direito aplicáveis à espécie – com arrimo em o disposto no art. 94 e seguintes
da Lei nº 11.101/05, arts. 330 e 333, incs. I e II, do CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, acolho o
pedido formulado por ELETROCAL-INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE MATERIAL ELÉTRICO S/A.,
decretando a FALÊNCIA da LUMINAR COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA., pessoa jurídica de
direito privado com atuação no comércio varejista de material elétrico, inscrita no CNPJ/MF sob
o nº 86.432.234/0001-23, sediada na rua Altamiro Guimarães nº 1.094, bairro Oficinas, neste
município e comarca de Tubarão-SC., e com filiais nos seguintes endereços: 1) rua Marechal
Deodoro nº 65, centro, neste município e comarca de Tubarão-SC., CEP 88.700-000; 2) avenida
Centenário nº 4.111, bairro São Cristóvão, no município e comarca de Criciúma-SC., CEP
88.800-000; 3) avenida Centenário nº 4.111, bairro São Cristóvão, no município e comarca de
Criciúma-SC., CEP 88.800-000; 4) rua Coronel Pedro Demoro nº 1.820, bairro Estreito, no
município e comarca de Florianópolis-SC., CEP 88.000-000; 5) rua São Paulo nº 43, centro, no
município e comarca de Blumenau-SC., CEP 89.100-000; 6) avenida Presidente Kennedy nº
1.312, bairro Campinas, no município e comarca de São José-SC., CEP 88.115-000; 7) avenida
Fernando Machado nº 2.382-D, centro, no município e comarca de Chapecó-SC., CEP 89.802-
110; 8) rua Antônio Bertoncini nº 333, bairro Cidade Alta, no município e comarca de Araranguá-
SC., CEP 88.900-000; 9) rua Doutor João Colin nº 2.257, bairro América, no município e comarca
de Joinville-SC., CEP 89.200-000; 10) avenida XV de Novembro nº 196, centro, no município e
comarca de Joaçaba-SC., CEP 89.600-000; 11) rua Júlio Müller, esquina com a rua Abelardo
Peixer s/nº, bairro Barreiros, no município e comarca de São José-SC., CEP 88.110-040; 12)
rodovia SC-404 nº 2.657, bairro Itacorubi, no município e comarca de Florianópolis-SC., CEP
88.065-970; 13) rua Antônio Luiz Bittencourt s/nº e km 01, Estrada Geral Ilhotinha, no município
e comarca de Capivari de Baixo-SC., CEP 88.745-000, e, 14) avenida Marechal Floriano Peixoto
nº 7.465, bairro Boqueirão, no município e comarca de Curitiba-PR., CEP 81.650-000 (fls.
141/145).
Fixo o termo legal da falência no 90º (nonagésimo) dia anterior à data do primeiro protesto
conhecido, qual seja, 27/10/2004 (fls. 18, 23, 31), definindo o prazo de 15 (quinze) dias, para as
habilitações de crédito, que deverão ser feitas com declaração de origem e justificativas, na
forma do disposto no art. 7º, § 1º, da Lei nº 11.101/05.
Nos termos do disposto no art. 104, da Lei nº 11.101/05, os sócios sobreditos deverão ser
imediatamente intimados para comparecimento em cartório no prazo de 48 (quarenta e oito)
horas, subscrevendo termo de comparecimento, com a indicação do nome, nacionalidade,
estado civil, endereço completo do domicílio, devendo ainda declarar, para constar do dito termo:
a) as causas determinantes da sua falência, quando requerida pelos credores; b) os nomes e
endereços de todos os sócios, acionistas controladores, diretores ou administradores,
apresentando o contrato ou estatuto social e a prova do respectivo registro, bem como suas
alterações; c) o nome do contador encarregado da escrituração dos livros obrigatórios; d) os
mandatos que porventura tenham outorgado, indicando seu objeto, nome e endereço do
mandatário; e) seus bens imóveis e os móveis que não se encontram no estabelecimento; f) se
fazem parte de outras sociedades, exibindo respectivo contrato; g) suas contas bancárias,
aplicações, títulos em cobrança e processos em andamento em que forem autores ou réus.
Com fundamento no art. 104, inc. V, da Lei de Falências, ordeno a suspensão de todas as
ações ou execuções movidas contra a LUMINAR COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA., ressalvadas
as hipóteses previstas nos §§ 1º e 2º do art. 6º da aludida Lei.
Designo o próximo dia 28/04/2008, às 16h30min. para tomar por termo as declarações do
sócios da LUMINAR COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA.
Consoante o disposto no inc. XIII, do art. 104, da Lei nº 11.101/05, dê-se ciência da
presente decisão ao órgão do Ministério Público.
Publique-se na íntegra.
Registre-se.
Intimem-se.
JUIZ DE DIREITO