Antologia - Pedro Marques
Antologia - Pedro Marques
Antologia - Pedro Marques
Abril de 2022
2
AVENIDA DA SAUDADE
As calçadas estreitas,
a rua de paralelepípedo,
os muros bêbados que trombei
da Saudade
[Poesia: Pedro Marques. Clusters. Prefácio Ledo Ivo. Posfácio Caio Gagliardi. Cotia, SP: Ateliê Editorial,
2010.]
[Poema com melodia de Rodrigo Duarte: Rodrigo Duarte. Vias de Encontro. Campinas, SP/São Paulo:
PROAC, 2014. Online: https://soundcloud.com/rodrigo-duarte-compositor/avenida-da-saudade ]
3
PALHAÇADA
Vi o palhaço de mo-
Lá no farol da Paulista
Tinha na mão a chupe-
Tava chorando na pista
Um suspensório, um sapa-
Todo molambo em folia
Gente de terno ou vesti-
Do riso falso saia
Um suspensório, um sapa-
Todo bobão de anemia
Gente de terno ou vesti-
Do cambaleio sorria
[Letra para melodia de Nenê Baterista: Juliana Amaral. SM, XLS. São Paulo; Selo Sesc, 2012. Online:
https://www.youtube.com/watch?v=82aPAthF53M ]
4
[Poesia e música: Pedro Marques. Cena Absurdo. Música Gustavo Bonin, Juliana Amaral e Micael
Antunes. Posfácio Luís Fernando Prado Telles. Cotia, SP/São Paulo: Ateliê Editorial/Estúdio Risco,
2016. Online: http://cenaabsurdo.com.br/cluster04/ ]
5
TEMPO BOM
A chuva chegando
pra renovar o ar seco...
Mas tem gente reclamando:
“Pra chover inda é cedo!”
[Canção com melodia de Só Pedro: Sá Pedro. Outro. Florianópolis: Calamar Sounds, 2019. Online:
https://www.youtube.com/watch?v=oTAIlkHATAI ]
6
CATINGA DE RODA
CATIRADO POETA BARRASCOSO COM O CAIPIRAÇO. NERVO DIDÁTICO CONTRA A FOSSA QUE
DESGOVERNA.
1.
Mano Fábio Casemiro,
se aprochega pro dueto,
limpa a caixa de catarro,
toca a pinga no panfleto.
Nosso céu já tá fedido,
nosso mar ficando preto,
e o bosteiro, sem vergonha,
canta agora no coreto.
2.
No coreto sobra espaço,
cabe até mais um bocudo,
obrigado, Mano Pedro,
tamo junto em trova e tudo.
Mais que pinga, é estricnina
pra pegar na familícia,
tem catarro que dê conta
dessa podre de imundiça?
3.
É famélica família,
pasta tudo que fareja,
do capim até o cartão,
rapa o dízimo da igreja.
Não tivesse a fuça branca
do coxinha tipo Veja,
nego entrava bem na cana
ou se dava mal no EJA.
4.
Os danado lascrifento,
tudo tísico e burbônico,
uma renca de salafra,
num tem um que seja idôneo.
Verminose da natura,
erva braba, tiririca,
não tem quem vale o que come,
são uns bando de lazica.
(...)
[Poesia com melodia de tradicional: Pedro Marques. Encurralada: converso pra boi mugir. Desenhos de
Carol Betioli. Um dueto com Fábio Martinelli Casemiro. São Paulo: Editacuja, 2020. Online:
https://www.encurralada.com.br/ ]
7
LOOPING LÚMPEN
Pero de Magalhães Gandavo (1540-1580), “Dos costumes da terra”, Tratado da terra do Brasil
(1570)
[Poesia: Pedro Marques. Saques & Sacanagens: ensaio sobre as dores brasis. Desenhos Paulo Ito. São Paulo:
Editacuja, 2021.]
8
CANÇÃO DO NÉ SONG OF AIN'T
Ninguém dizia o fim da história, Nobody claimed the end of the story,
os gafanhotos the grasshoppers
comendo a terra e o rio de ouro, né? chewing land and golden river, ain't it?
[Poesia: Pedro Marques. Saques & Sacanagens: ensaio sobre as dores brasis. Desenhos Paulo Ito. São Paulo:
Editacuja, 2021.]
[Audiovisual: Canção no Né. Texto em português Pedro Marques. Texto em inglês Kevin Kraus.
Arranjo sonoro Micael Antunes. Arranjo visual Guilherme Zanchetta. Vozes Ariane Aparecida, Ber
Neves e Stella Rea. ORFIA - Laboratório de Transmutação Visual. Juíz de Fora, MG: Instituto de Artes
e Design – Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), 2021. Online:
http://https//www.orfia.org/4rs-30n-
6?fbclid=IwAR0HUpAgr6Ucr_Ifom_MbasfXRi1D1LWejMiz0rMps4ZpiRu-ckh1p5x3IA ]
10
TROVAR PUNK
1.
Punhetinha quando nasce,
se esparrama pela mão;
poetinha quando grita,
faz trovão no cuecão.
3.
A minha gente fodida
amarelou-se na dor,
pra ver o Temer passar
votando coisas de horror.
5.
Caminhando e cagando
e assistindo o Faustão,
somos todos boçais
empre(gados) ou não.
7.
Yeah, eu quero ficar bem!
Quero que o MDB
assegure o Sol pra todos,
pra mim Bolsa LSD.
12.
Eu não troco o Aecinho
noiadinho de por pó,
pruma boca na cidade
nem que cheire a bangaló.
14.
Desgraça pouca é bobagem
– aids, pop, repressão –
e o empalamento só engrossa
– Temer, PEC, mensalão.
21.
O escorpião sem ferrão,
o punk sem atitude,
o poeta sem cortante:
eis o mundo com saúde.
22.
De laranja fala o Maia,
de limão fala o Itaú,
do que a terra, mais garrida,
fala um falo em cada cu.
[Poesia: Pedro Marques. Assbook. Prefácio João Adolfo Hansen. São Paulo: Editacuja, 2022. ]
11
MÃO DE FLOR
[Canção. Martina Marana. Você Caiu. Campinas, SP/São Paulo: PROAC, 2022. Online:
https://www.youtube.com/watch?v=pmNbPap2MTM ]