VERSÃO FINAL - Dissertação de Mestrado - Daniele
VERSÃO FINAL - Dissertação de Mestrado - Daniele
VERSÃO FINAL - Dissertação de Mestrado - Daniele
Salvador-BA
2017
DANIELE MACHADO PEREIRA ROCHA
Salvador-BA
2017
Ficha catalográfica fornecido pelo Sistema Universitário de Bibliotecas da UFBA
SIBI-UFBA
Nesta vida, não construímos nada sozinhos e a elaboração desta dissertação teve o
apoio, a parceria, a paciência e a contribuição de muitas pessoas que são
extremamente importantes na minha vida.
A todos os meus familiares, em destaque para minha avó (Nicinha), pelas orações e
intercessões. Aos meus pais (Eliene e Edmundo) pelos pedidos de proteção, por
acreditar e incentivar a cada dia meu progresso nos estudos.
Agradeço a minha tia (Dr.ª Edilene), por ser inspiração, exemplo de vida e
resiliência, pois, se estou terminando este mestrado e buscando o doutorado, é
graças a ela.
Ao meu coorientador, Dr. Jorge Sales, pelo cuidado, atenção e paciência. Aprendi
muito com seus ensinamentos e com sua metodologia de ensino.
Aos meus amigos (as) de pesquisa, Luciana, Angélica, José, Fernanda, Fiama,
Juan, Adailton, pelas discussões do trabalho, pela paciência de leitura conjunta, pelo
aprendizado. Agradeço a Raquel, pelo interesse por meu tema de estudo, pela
construção conjunta do artigo. A Carlos, inspiração dentro do grupo, pela
disponibilidade. Fazer parte de um grupo interdisciplinar, focado, com diálogos e
troca de conhecimentos foi essencial para minha formação.
Aos meus amigos de mestrado e vida, Elvira, Alex e Cristiano. Nossas risadas,
trocas de experiências e momentos pós-aula fizeram toda a diferença nesta
caminhada.
À minha melhor amiga, Emilin, e ao meu cunhado e amigo Iago, pelos momentos de
diversão e pela compreensão nos meus momentos de escrita.
1 Samuel 7:12
ROCHA, Daniele Machado Pereira. Concepções, autopercepção e práticas
ligadas à saúde e doença de estudantes universitários masculinos do
Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia. 117 f.
il. 2017. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós Graduação em Estudos
Interdisciplinares sobre a Universidade, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências,
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.
RESUMO
Introdução: Poucas são as pesquisas ligadas às concepções, autopercepção e
práticas relacionadas à saúde e doença de estudantes universitários, sobretudo no
contexto da saúde do homem. Há necessidade de se ampliar as pesquisas na
intenção de perceber como os estudantes compreendem a saúde e a doença, como
avaliam o próprio estado de saúde e as práticas que utilizam em seus cotidianos.
Objetivo: Analisar as concepções, autopercepção e práticas ligadas aos processos
de saúde e doença de estudantes do gênero masculino ingressos em um curso
superior de saúde, da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Metodologia:
Participaram da pesquisa alunos com idade entre 18 e 61 anos, que responderam às
perguntas de um questionário semiestruturado, referentes à temática abordada. As
respostas foram analisadas nos moldes da análise de conteúdo de Bardin. O estudo
foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Escola de Enfermagem
da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e os participantes assinaram um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Resultados: Em relação às
concepções de saúde, as respostas referiram-se majoritariamente à ideia de saúde
como bem-estar, ligada ao conceito da Organização Mundial da Saúde (OMS), aos
hábitos de vida, como alimentação saudável e atividade física. Quanto à
autopercepção, 90% dos estudantes se consideraram saudáveis. Referente às
concepções de doença, destacaram-se as ideias de desequilíbrio do corpo e da
mente, assim como as de dores física e/ou mental. Relativo às práticas de saúde,
novamente apareceram a atividade física e a alimentação saudável como formas de
se obter uma boa saúde e prevenir doenças. Outras práticas de promoção,
prevenção, práticas integrativas / complementares e religiosas de saúde também
foram mencionadas, em menor frequência. Conclusão: As concepções relacionadas
ao modelo hegemônico biomédico, relacionado à saúde como ausência de doença,
vêm sendo desconstruídas e aos poucos um pensamento coletivo e humanizado
torna-se mais presente. Ainda assim, percebemos tanto nas concepções, quanto
nas práticas, respostas que são comumente veiculadas na mídia e que se inclinam
para uma visão de saúde individualizada do sujeito, tornando os mesmos
responsáveis por seu próprio cuidado. Na perspectiva da saúde dos homens, as
respostas afastam-se do corriqueiro distanciamento dos homens em relação aos
serviços e cuidado com a saúde, mas evidenciam algo que é discutido na literatura,
a percepção positiva de saúde e o fato de não se sentirem doentes. Desse modo,
salienta-se a necessidade de se dar destaque a novas formas de vivenciar os
processos de saúde e doença, reconstruindo/descontruindo masculinidades e
concepções/práticas de saúde e doença predominantes.
ABSTRACT
Introduction: There are few researches related to conceptions, self-perception and
practices concerned with health and illness, between university students, especially
in the context of human health. There is a need to broaden the research in order to
know how students understand health and disease, how they assess their health
status and which practices they use in their daily lives. Objective: To analyze the
conceptions, self-perception and practices related to health and illness processes
between male university students, of a higher health course in Federal University of
Bahia. Methodology: The participants of the study were students aged between 18
and 61, who answered the questions of a semi-structured questionnaire, referring to
the subject matter. The responses were analyzed according to Bardin‟s content
analysis model. The study was approved by the Research Ethics Committee of the
Nursing School of the Federal University of Bahia and the participants signed an
Informed Consent Term. Results: Regarding to health conceptions, the answers
referred mainly to the idea of health as well-being, linked to the concept of the World
Health Organization (WHO), to the habits of life, such as healthy eating and physical
activity. Regarding self-perception, 90% of the students considered themselves
healthy. Regarding conceptions of disease, the ideas of imbalance of body and mind,
as well as those of physical and / or mental pain, stand out. Concerning health
practices, physical activity and healthy eating once again appeared as ways of
achieving good health and preventing diseases. Others practices of promotion,
prevention, integrative / complementary and religious practices of health were also
mentioned, but in small amount. Conclusion: The conceptions related to the
biomedical hegemonic model, related to health as absence of disease, have been
deconstructed and gradually a collective and humanized thinking becomes more
present. Nonetheless, we perceive both conceptions and practices that are
commonly seen in the media and that are inclined to an individualized view of the
individual's health, making them responsible for their own care. From the point of
view of men's health, the answers diverge from the common distance of men in
relation to health care and services, but they point to something that is discussed in
the literature, the positive perception of health and the fact that they do not feel sick.
Thus, it is necessary to emphasize new ways of experiencing health and disease
processes, reconstructing / dismantling masculinities and prevailing health and
disease conceptions / practices.
APRESENTAÇÃO.....................................................................................................16
INTRODUÇÃO..........................................................................................................18
2 ARTIGOS.............................................................................................................. 25
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 94
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................... 95
APÊNDICES........................................................................................................... 106
ANEXOS..................................................................................................................111
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
(no fígado), a bile negra (no baço), a fleuma ou linfa (no cérebro) e o sangue (no
coração). Hipócrates então percebia o homem como um sistema ordenado através
desses fluídos, e o desarranjo desse equilíbrio como um estado de doença, bem
como um estímulo que a natureza realiza para o homem se reequilibrar
(CANGUILHEM, 1943/2009; REIS, 1998; SCLIAR, 2007; CRUZ, 2009; ALMEIDA
FILHO, 2011).
Nessa direção, a saúde e a doença eram então concebidas como um
equilíbrio ou desequilíbrio desses elementos, relacionados também ao ar, à água, ao
ambiente e à alimentação dos sujeitos. O filósofo pré-socrático Alcméon (510 – V
a.C) pregava que as circunstâncias do desequilíbrio eram derivadas do ambiente
físico, dos astros e do clima, reforçando as ideias de Hipócrates e caracterizando
esse período, em que as pessoas deveriam seguir um estilo de vida concernente
com as leis naturais do ambiente, como produtor de um modelo holístico de saúde,
em que a doença faz parte do homem e tem a intenção de cura para um novo
equilíbrio, diferente do modelo de integralidade atual, que considera essencial a
interação entre aspectos biopsicossociais dos sujeitos (CANGUILHEM, 1943/2009;
REIS, 1998; SCLIAR, 2007; CRUZ, 2009).
Relacionado às concepções acima, o equilíbrio e harmonia como sinônimos,
em uma perspectiva biológica e física, integram a visão da medicina experimental
positivista fundamentada pelo médico fisiologista Claude Bernard (1813-1878), autor
que defendia o saber científico para determinar os processos de saúde e doença e
que foi criador da „expressão meio interno‟. Atualmente essa expressão vincula-se à
ideia de homeostase, criada pelo fisiologista Walter Canon, por volta de 1929,
caracterizada pela autorregulação por meio das células e sistemas biológicos,
garantindo a estabilidade do meio interno e seu equilíbrio, e, dessa forma, uma boa
saúde. Nessa perspectiva, se há uma alteração do meio interno e o organismo, por
intermédio da homeostase, não consegue compensá-la, ocorre a doença (ALMEIDA
FILHO, 2011; JANCZUR, 2013).
A ideia de equilíbrio e harmonia é criticada pelo filósofo da medicina, o norte-
americano Christopher Boorse, que embora tenha seu nome pouco mencionado e
citado nas bibliografias relacionadas à saúde coletiva no Brasil, tem publicações que
reformulam conceitos de saúde e doença. A saber, Boorse considera inconsistentes
valores morais na concepção de saúde, pois eles reduzem a neutralidade, sendo a
idealização incompatível com o ideal biologicista. Desse modo, Boorse incentiva
21
uma análise nos moldes biológicos, que resultaria na expressão „saúde como
ausência de doença‟ ou na perspectiva negativa da saúde. As reformulações de
Boorse atingem a lógica fisiológica de homeostase, ao considerar que doenças
como surdez, paralisia e esterilidade não configuram quebra do equilíbrio e sim
alterações biológicas, não sustentando, assim, a teoria da homeostasia (ALMEIDA
FILHO; JUCÁ, 2002; ALMEIDA FILHO, 2011).
De acordo com a ideia de saúde como ausência de doença, baseada na
concepção boorseana, esta se desenvolve a partir do funcionamento natural de cada
parte que resultaria na saúde do organismo, sendo, assim, uma questão objetiva. De
forma individual, um organismo saudável deveria agir de maneira normal e livre de
agentes patológicos. Segundo a teoria de Boorse, os organismos seguem um
comportamento direcionado para um objetivo; alguns exemplos são o suor para o
calor, a adrenalina para o estresse, a digestão para a alimentação, dentre outros.
Desse modo, quando o sistema não funciona de maneira normal ele torna-se
imperfeito. Essa visão boorseana é criticada, pois suprime fatores econômicos,
sociais, culturais e psicológicos que perpassam os processos de saúde e doença
(ALMEIDA FILHO; JUCÁ, 2002; BATISTELLA, 2007).
Ressalta-se que o modelo biomédico está vinculado à conjuntura do
renascimento e ao método de René Descartes (1596-1650), filósofo e matemático
francês criador do discurso do método, cujas ideias produziriam o cartesianismo,
que, para além da separação mente-corpo, também se baseou na identificação de
todos os pontos para a aceitação da verdade, separação de todas as partes para
poder examiná-las e solucioná-las, através do pensamento ordenado, da
simplicidade e revisão sistemática e completa dos elementos de um discurso (REIS,
1998; BARROS, 2002; CRUZ, 2009). Laplantine (2010) considerou que esse modelo
subtrai o sujeito, sua história e suas subjetividades e que estas práticas,
institucionalizadas, levam o indivíduo a perceber-se vulnerável e fraco diante da
doença, sem poder decidir, agir e refletir acerca da sua própria experiência de
adoecimento.
Atualmente, e de forma mais prevalente, existem concepções de saúde e
doença que avançam na perspectiva do conceito de saúde ampliado, com foco nos
determinantes sociais da saúde e tendo o sujeito como protagonista das suas
percepções de saúde e doença. As discussões desses modelos são importantes
para a construção e o entendimento dos processos de saúde e doença, pois focam
22
2. ARTIGOS
2.1 ARTIGO 1
Daniele Machado Pereira Rocha1, Maria Thereza Ávila Dantas Coelho2, & Jorge Luís
Lordelo de Sales Ribeiro3
Resumo
As concepções de estudantes universitários ligadas à saúde e à doença, bem como
a auto-percepção acerca do estado de saúde são temas ainda pouco abordados.
Compreendendo, a partir da literatura, a relação distanciada entre os homens e o
cuidado em saúde, há uma necessidade de ampliar as pesquisas na intenção de
perceber como os estudantes compreendem a saúde e a doença, e como avaliam o
próprio estado de saúde. Nessa direção, o objetivo deste estudo é analisar as
concepções de saúde e doença e a auto-percepção ligada à saúde, de estudantes
do gênero masculino ingressantes em um curso superior de saúde, da Universidade
Federal da Bahia (UFBA). Participaram da pesquisa alunos com idade entre 18 e 61
anos, que responderam as perguntas de um questionário semiestruturado,
referentes à temática abordada. As respostas foram analisadas nos moldes da
análise de conteúdo de Bardin. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia
(UFBA) e os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). Com relação à concepção de saúde, as respostas mais
significativas foram referentes à ideia de saúde como bem-estar, na perspectiva do
conceito de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), ligada a hábitos de
vida, como alimentação saudável e atividade física, constantemente mencionados
na mídia. 90% dos estudantes se consideraram saudáveis. Quanto à doença, esta
1
Bolsista da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia. Mestranda do Programa de Pós-Graduação
em Estudos Interdisciplinares Sobre a Universidade – PPGEISU. E-mail: danielep.rocha@hotmail.com
2
Professora Associada da Universidade Federal da Bahia. Doutora em Saúde Pública. E-mail:
therezacoelho@gmail.com
3
Professor Associado da Universidade Federal da Bahia. Doutor em Educação. E-mail: josales@ufba.br
27
foi associada ao desequilíbrio do corpo e da mente, bem como à dor física e/ou
mental. Embora as respostas dos discentes estejam voltadas para uma definição
mais distanciada do modelo biomédico de saúde, estas se mostram individualistas,
sendo necessário o desenvolvimento, ao longo da graduação, de uma concepção
mais ampliada, relacionada aos determinantes sociais, para um pensamento mais
coletivo e humanizado.
Abstract
The conceptions of university students related to health and illness, as well as the
self-perception about health status are still little discussed. Understanding from the
literature the distance between men and health care, there is a need to broaden the
research in order to realize how students understand health and disease, and how
they evaluate their own state of health. In this direction, the objective of this study is
to analyze the conceptions of health and disease and the self-perception related to
health, of male students entering a higher education in health, in Federal University
of Bahia (UFBA). The participants of the study were students aged between 18 and
61, who answered the questions of a semi-structured questionnaire, referring to the
subject matter. The responses were analyzed according to the Bardin‟s content
analysis model. The study was approved by the Research Ethics Committee (REC)
of the Nursing School of the Federal University of Bahia (UFBA) and the participants
signed a Free and Informed Consent Term. With regard to the conception of health,
the most significant responses were related to the idea of health as well-being, from
the perspective of the health concept of the World Health Organization (WHO), linked
to life habits such as healthy eating and physical activity, constantly mentioned in the
media. 90% of the students considered themselves healthy. As for the disease, it
was associated with imbalance of body and mind, as well as physical and / or mental
pain. Although students' responses are focused on a definition that is more distanced
from the biomedical model of health, they are individualistic, requiring the
development of a broader conception, related to social determinants, for a more
collective and humanized thinking.
Introdução
As concepções de saúde e doença, bem como as percepções acerca do
estado de saúde, vêm sendo abordadas por diversos autores (as) de uma maneira
mais ampliada, considerando as subjetividades, culturas, locais em que se vive,
etnias, gêneros e religiões. Nessa direção, o conceito de saúde e doença vem sendo
estudado e debatido por diversos ângulos, históricos, filosóficos, psicológicos e
biomédicos, possibilitando uma abordagem interdisciplinar, com alternativas diversas
de discussão e pluralidade de sujeitos (Batistella, 2007; Scliar, 2007; Czeresnia,
Maciel, & Oviedo, 2013). Considerando que os estudantes da área da saúde têm a
missão de prestar cuidado com um bom acolhimento, conforme os princípios da
universalidade, integralidade e equidade do Sistema Único de Saúde (SUS), é
necessário compreender a saúde em seu sentido ampliado, portanto, contemplando
os fatores sociais, culturais e econômicos de cada sujeito e os seus saberes (Mori &
Rey, 2012).
A partir dessa realidade, adquirem importância os estudos relacionados às
concepções, práticas e auto-percepção ligadas à saúde e à doença de universitários
do gênero masculino, entendendo que o gênero pode influenciá-los (Gomes, 2003).
Elementos sociais e culturais atribuídos aos homens historicamente os colocam em
posições de privilégio, a saber, maiores salários, cargos de chefia, reconhecimento
social, etc. No entanto, as mesmas condutas que caracterizam o “ser homem” na
sociedade, como não chorar, liderar, agir com rispidez, dentre outros, também
afetam a sua saúde, diminuindo sua expectativa de vida e agravando quadros de
morbidade e mortalidade (Gomes, 2008). Segundo Gomes (2010), reforçado por
Figueiredo e Schraiber (2011), os homens, geralmente, não possuem o hábito de
discutir e cuidar da sua saúde, muitas vezes porque acreditam serem fortes e, neste
sentido, sadios.
Desse ponto de vista, percebe-se a importância do entendimento da
pluralidade dos cuidados através da interdisciplinaridade, não somente na teoria,
como na prática, transcendendo o modelo biomédico fragmentado e considerando
que a saúde vai além de uma disciplina única, direcionando para a necessidade de
uma discussão intersetorial, segundo as diretrizes do SUS. Os estudos sobre
masculinidade, saúde do homem e universidade seguem esse caminho, avançando
o conhecimento a partir da interação entre a educação, sociologia, antropologia,
29
Agostinho, Oliveira, Pinto, Balardin & Harzheim, 2010; Sousa, 2013; Sousa, Queiroz,
Florencio, Portela, Fernandez & Pereira, 2016).
Metodologia
Este é um estudo de abordagem quantitativa e qualitativa, pela possibilidade
de dimensionar as concepções de saúde e doença e percepção da própria saúde a
partir das respostas livremente dadas pelos participantes. Segundo Minayo e
Sanches (1993), a pesquisa qualitativa aproxima mais o sujeito e o objeto,
envolvendo motivos, intenções e ações de atores sociais. Oliveira (2007) contribui
informando que a abordagem qualitativa tem o objetivo de investigar o significado e
as particularidades de cada conjuntura em que se encontram os pesquisados.
Minayo e Sanches (1993), a respeito da pesquisa quantitativa, expõem que o
objetivo central desta é analisar dados mensuráveis de grandes grupos. No entanto,
as duas abordagens se complementam, no sentido de embasar e tornar a pesquisa
mais qualificada.
Participantes
Este estudo integra uma pesquisa maior, que investiga as concepções e
práticas pessoais e profissionais ligadas a processos de saúde e doença. Foi
realizado com 212 estudantes, do total de 245 alunos recém-ingressos no
Bacharelado Interdisciplinar em Saúde (BIS) da Universidade Federal da Bahia
(UFBA), no início do primeiro semestre letivo de 2014. Para a realização deste
artigo, foram analisadas as respostas dos estudantes do gênero masculino, dos
turnos diurno e noturno.
O total de ingressantes homens nesse ano foi de 79 alunos, dos quais 76
estudantes participaram desta pesquisa, com idades que variavam de 18 a 61 anos.
Usamos parte dos dados sócio demográficos dos discentes, como religião, local
onde reside, natureza da instituição onde concluíram o ensino médio e se possuíam
outra graduação concluída, para relacionar com as respostas obtidas.
Instrumentos
Utilizou-se um questionário semiestruturado contendo 33 perguntas acerca
das concepções, autopercepção e práticas ligadas a processos de saúde e doença,
incluindo dados sóciodemográficos. Neste artigo foram selecionadas 06 perguntas
34
Procedimentos
As respostas às perguntas abertas relacionadas à concepção de saúde e
doença foram digitadas no processador de texto Microsoft Word® e analisadas de
forma qualitativa, explorando o caráter subjetivo de cada conteúdo escrito pelos
participantes (Minayo & Sanches, 1993). As respostas às perguntas acerca da
autopercepção de saúde e doença, de natureza objetiva, foram analisadas no editor
de planilhas Microsoft Office Excel®, sendo contabilizadas em número absoluto de
estudantes e porcentagem. As cinco palavras que os estudantes mais associaram à
saúde e à doença foram computadas através do software „INSITE‟, um contador de
palavras online.
O INSITE fornece um relatório estatístico detalhado sobre o vocabulário do
texto, informando a quantidade de ocorrências de cada palavra, o tamanho das
palavras, frequência de letras, listagem das palavras por ocorrência e em ordem
alfabética, dentre outros dados. As palavras associadas ao termo saúde totalizaram
340 palavras, das quais 174 foram diferentes umas das outras, incluindo também os
sinônimos. Dos 76 participantes da pesquisa, 73 responderam todas as 05 palavras
ou menos. Relacionadas à doença, foram obtidas 360 palavras no total, sendo que,
dos 76 participantes da pesquisa, 75 apresentaram todas as 5 palavras ou menos.
Desse total de 360 palavras, 132 foram diferentes umas das outras, incluindo
também os sinônimos.
Os dados coletados foram analisados com base na análise temática de
conteúdo, de Bardin (2009), que a define como uma união de técnicas visando
alcançar o detalhamento do conteúdo que, neste caso, se caracteriza pelas
respostas dos sujeitos, interpretadas à luz da revisão de literatura. Segundo Bardin
(2009), a análise temática é realizada tomando como referência palavras, resumos,
textos, dentre outros elementos que podem significar algo para o objetivo central do
estudo. Podemos operacionalizá-la criando categorias e, se necessário,
subcategorias que auxiliarão na organização das respostas dos estudantes, por
similaridade, e na interpretação dos dados produzidos.
35
Nessa direção, após a leitura dos dados, que Bardin (2009) situa como um
elemento essencial da pré-análise, houve a categorização das unidades de análise,
que serão utilizadas tanto para as questões „O que é saúde para você?‟ e „O que é
doença para você?‟, quanto para as perguntas „Que cinco palavras você mais
associa a saúde? e „Que cinco palavras você mais associa a doença?‟. As
categorias elaboradas para a saúde foram: „saúde como bem-estar individual e\ou
coletivo‟; „saúde como qualidade de vida socialmente determinada‟; „saúde como
estilo de vida‟; „saúde como felicidade‟; „saúde como equilíbrio e\ou harmonia‟;
„saúde como vida‟ e „outros‟. Para a doença, as categorias formuladas foram:
„doença como ausência de saúde e\ou mal-estar‟; „doença como dor‟; „doença como
anormalidade e\ou distúrbios‟; „doença como desarmonia e\ou desequilíbrio‟;
„doença como morte‟ e „outros‟. Após a categorização, houve a descrição e
interpretação dos dados de acordo com a análise de conteúdo temática de Bardin
(2009) e a literatura científica sobre o tema.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Escola de
Enfermagem da UFBA, sob o nº. 741.187, respeitando os dispositivos da
Resolução nº 466/13 do Conselho Nacional de Saúde sobre Pesquisa com Seres
Humanos. Os estudantes participantes assinaram um termo de consentimento livre
e esclarecido (TCLE) de participação, e responderam de forma integral ou parcial as
perguntas citadas, de forma livre e não identificável.
Resultados
Os resultados mais expressivos obtidos com o questionário, no tocante aos
dados sócios demográficos, expressaram que 45% dos estudantes têm entre 18 e
19 anos de idade e 40% têm de 20 a 29 anos. Referente à religião, 37% são
católicos, 18% evangélicos, 11% não possuem religião e 11% são espíritas. Quando
perguntados sobre a natureza da instituição em que concluíram o ensino médio,
45% dos estudantes responderam „pública‟ e 45% „privada‟. Quanto a ter cursado
outra graduação, 84% dos discentes responderam que „não‟ e 16% que „sim‟. 67%
dos estudantes são residentes de Salvador, 24% vieram do interior da Bahia, 7% da
Região Metropolitana de Salvador (RMS) e 4% dos Estados de São Paulo e Espírito
Santo.
Esses dados sóciodemográficos apontam que a diferença de porcentagem
entre as idades dos participantes de até 19 anos e a faixa etária de 20 a 29 anos é
36
Discussão
A saúde como „bem-estar individual e/ou coletivo‟ configurou-se como a
categoria com maior número de respostas (63%). Podemos relacionar essa ideia
com o conceito de saúde da OMS, que embora criticado por autores como Segre e
Ferraz (1997) e Sá Júnior (2004) na perspectiva da impossibilidade de se alcançar
um perfeito estado de bem-estar, é comumente reproduzido. Essa ideia de saúde
envolve aspectos da subjetividade apenas parcialmente, pois até mesmo as
sensações de mal-estar podem se tornar benéficas para alguns, sendo associadas à
melhora e superação em determinados setores da vida.
39
historiador, por sua vez, entende que não há uma fórmula de felicidade para todos
(as), abominando publicidades que constantemente tentam incutir métodos para
atingi-la. A felicidade, segundo esse autor, varia de acordo com a cultura, com os
desejos e as ambições, sendo, antes de tudo, subjetiva. Uma pessoa feliz em um
momento pode não estar mais feliz em outro. Pensando nessa direção, o autor
critica psicólogos que trabalham com a teoria do bem-estar subjetivo, entendendo
que os instrumentos utilizados para verificar o grau de contentamento do indivíduo
são, na maioria das vezes, para avaliar o seu estado naquele momento da pesquisa.
Alguns estudos com estudantes da Universidade do Porto, em Portugal, com
universitários de instituições públicas e privadas dos Estados de Minas Gerais, Mato
Grosso e Goiás, que analisaram o grau de bem-estar subjetivo e a felicidade de
estudantes universitários, utilizando a metodologia criticada por Lenoir (2016),
alcançaram resultados que apontaram para a saúde, paz, dinheiro, educação e
sucesso na escolha do curso como essenciais para a felicidade. Percebeu-se que as
estudantes estavam mais satisfeitas com sua vida, contrariando o estudo de Diener,
Suh, Lucas e Smith (1999), segundo o qual os homens tendem a ser mais alegres
que as mulheres (Dela Coleta, Dela Coleta, 2006; Gonçalves & Kapczinski, 2008;
Lopes, Dela Coleta, 2012).
A quinta palavra mais evocada com relação à saúde foi „vida‟, com 19
respostas (24%). Esse é um termo complexo, associado, na perspectiva biomédica
hegemônica, à funcionalidade, capacidade e desempenho dos órgãos do corpo e,
consequentemente, ao exercício das atividades cotidianas (Minayo, 1997). Um dos
significados da palavra vida no minidicionário Houaiss (2010) é determinação, vigor,
energia que mantém viva os seres que pertencem à natureza. De acordo com
Canguilhem (1943/2009), a saúde é uma norma de vida flexível, que tem a
possibilidade de mudança e de reestruturação. Ela é caracterizada pela capacidade
de confrontar os perigos e prevalecer sobre eles.
Numa perspectiva econômica, a concepção de saúde como vida tende a estar
relacionada à necessidade de produção, pois foi socialmente construída a ideia de
que o corpo foi feito para a execução de tarefas. No modelo capitalista, a
necessidade dos jovens ingressarem no mercado de trabalho, formal e/ou informal,
é grande e considerando que 85% dos alunos do curso em que esta pesquisa foi
realizada são de jovens adultos, eles podem apresentar noções de responsabilidade
42
apropriado para pessoas que não desejam ser associadas a tais características e
que reproduzam, em seu pensamento, o modelo hegemônico de masculinidade. A
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) confirma a
presença majoritária de homens em serviços de alta complexidade quando sentem
dor, o que os tornam mais vulneráveis às doenças. A automedicação também se
relaciona com essa perspectiva, uma vez que, quando doentes, os homens preferem
amenizar a dor se automedicando do que buscando os serviços de saúde (Pinheiro,
Viacava, Travassos & Brito, 2002; Brasil, 2009; Gomes, 2016).
A associação da doença à „morte‟ foi realizada por 12 estudantes (16%).
Embora, em alguns momentos da vida, as pessoas se depararem com a frase „a
única certeza da vida é a morte‟, muitas não gostam de conversar sobre o tema, que
é algo inerente à fauna, à flora e ao ser humano. Esse é um processo irreversível,
ligado ao ciclo vital do nascimento, crescimento, reprodução e morte, aprendido
desde a infância, com o qual se tem dificuldade de lidar (Schramm, 2002).
A doença associada à morte tem relação biológica direta, segundo Minayo
(2007), com a interrupção da função dos órgãos. Culturalmente, saúde, doença e
morte associam-se ao contexto social de cada sujeito, embora seja mencionado que
existe, frequentemente, uma aflição relacionada a elas. A religião dos indivíduos, o
local onde residem, o modo como foram construídos e se construíram
subjetivamente influenciam essas concepções e as relações que se estabelecem
entre elas. Neste estudo, os estudantes que associaram a doença à morte (16%)
informaram não ter uma religião definida (10%) e residirem majoritariamente em
Salvador (15%).
Em relação à auto-percepção de saúde, os homens em geral tendem a não
se considerarem doentes, seja para não precisarem de atendimento em unidades de
saúde ou para se afirmarem enquanto fortes e viris. A procura por serviços ocorre
geralmente em situações de agravo, refletindo o modelo de masculinidade
hegemônica (Schraiber, et al., 2010). Almeida Filho (2011) entende que o estado de
saúde depende de várias dimensões, podendo ser analisado do ponto de vista de
um observador, que indica se o sujeito está ou não doente, ou pelo próprio sujeito, a
partir de questionários que avaliam fatores como “desempenho, condição física,
mobilidade, bem-estar emocional, humor, incapacidade, dor ou desconforto”
(Almeida Filho, 2011, p. 55).
46
Referências
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2.2 ARTIGO 2
RESUMO
Atualmente há uma escassez de pesquisas que abordem a temática das práticas de
saúde e doença, no sentido coletivo e individual de grupos específicos da população
brasileira, em especial a masculina, que possui um histórico de falta de cuidado com
a saúde. Objetivo: Identificar e analisar as práticas ligadas à saúde e à doença de
estudantes do gênero masculino, de um curso superior em saúde. Métodos: Os
participantes desta pesquisa foram estudantes do gênero masculino, que
responderam as perguntas de um questionário semiestruturado. As respostas foram
analisadas com base na análise de conteúdo de Bardin. Resultados: Os estudantes
responderam, em sua maioria, que utilizavam práticas de atividade física (AT) e
alimentação saudável (AS) para manter uma boa saúde e prevenir doenças. Outras
práticas de saúde também foram informadas, como práticas integrativas /
complementares e religiosas de saúde, porém em pouca quantidade. Conclusão: A
maioria das respostas dos alunos (AT e AS) está ligada à concepção de uma boa
saúde, podendo significar cuidado, mas também reproduzindo ações reducionistas
de saúde. O diálogo com o alunado é importante, no sentido da ampliação das
4
Doutora em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia. Professora Associada da
Universidade Federal da Bahia e Coordenadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Saúde,
Violência e Subjetividade – SAVIS. Endereço para correspondência: Rua Barão do Jeremoabo, s/n –
306 – Ondina, Salvador, Bahia, Brasil. E-mail: therezacoelho@gmail.com
5
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares Sobre a Universidade –
PPGEISU. Graduanda do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidade. Bacharela em Saúde pela
Universidade Federal da Bahia. Pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Saúde,
Violência e Subjetividade – SAVIS Endereço para correspondência: Rua Barão do Jeremoabo, s/n –
306 – Ondina, Salvador, Bahia, Brasil. E-mail: danielep.rocha@hotmail.com
6
Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia. Professor Associado da Universidade
Federal da Bahia e Pesquisador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Saúde, Violência e
Subjetividade – SAVIS. Endereço para correspondência: Rua Barão do Jeremoabo, s/n – 306 –
Ondina, Salvador, Bahia, Brasil. E-mail: josales@ufba.br
54
ABSTRACT
Currently there is a lack of research that addresses the theme of health practices and
disease, the collective and individual sense of specific groups in the Brazilian
population, especially the masculine that has a historic of lack of care for the health,
according to the literature. Objective: To identify and analyze practices related to
health and illness of male students, of a course in health. Methods: The participants
in this study were male students, who answered the questions of a semi-structured
questionnaire. The answers were analyzed in the mold content analysis of Bardin.
Results: The students responded mostly using physical activity (PA) and healthy
eating (HA) practices in maintaining good health and prevent disease. Other
promotion practices and prevention were also informed as well as integrative /
complementary health and religious practices however in small quantities.
Conclusion: The PA and HA are much related to the design of the students of good
health, which can mean care, but also plays standard reductionist actions of health.
The dialogue with the student body is important, in the direction of broadening of
health practices in the collective scope and at the therapeutic context, considering
even unconventional practices.
RESUMEN
En la actualidad hay una escasez de investigación que aborda el tema de las
prácticas de salud y la enfermedad, el sentido colectivo e individual de grupos
específicos de la población, especialmente la masculina, que tiene una carencia de
cuidado con la salud. El objetivo: Identificar y analizar prácticas relacionadas con la
salud y enfermedad de estudiantes del género masculino, de un curso superior en
salud. Los métodos: Los participantes eran estudiantes del género masculino, que
respondieron a un cuestionario semi estructurado. Las respuestas han sido
analizadas sobre la base de análisis de contenido de Bardin. Los resultados: Los
estudiantes respondieron que, en su mayoría, usaban prácticas de actividad física y
alimentación sana para mantener una buena salud y prevenir enfermedades.
También fueron informadas las prácticas religiosas y las prácticas integración /
complementario del salud, pero en pequeñas cantidades. Conclusión: La mayoría
de las respuestas de los estudiantes está relacionada con el concepción de buena
salud y puede significar la atención, pero también prácticas reduccionistas de la
salud. El diálogo con el alumnado es importante en el sentido de la expansión de las
prácticas de salud en el contexto colectivo y terapéutico, teniendo en cuenta las
prácticas incluso no convencionales.
Introdução
Desde o final de 1970, as pesquisas relacionadas à saúde e doença dos
homens vêm ascendendo, mesmo que em uma perspectiva norte-americana. Esses
estudos, em sua maioria fundamentados na produção da cientista social Raewyn
Connell, evidenciam que a masculinidade hegemônica - conjunto de práticas
expressas como padrão, exemplar, associadas aos homens - não inclui o
comportamento do autocuidado em relação à saúde (CARRARA; RUSSO; FARO,
2009; CONNELL, 1995).
Na conjuntura latina e brasileira, pesquisas começaram a emergir a partir da
década de 80, com as altas taxas de morbimortalidade entre os homens. Em um
56
Metodologia
Este estudo é parte do resultado de uma dissertação de mestrado e integra
uma pesquisa maior, que investiga as concepções e práticas pessoais e
profissionais ligadas a processos de saúde e doença, através de um questionário
semiestruturado contendo 33 perguntas acerca desta temática. Esse instrumento foi
aplicado a 212 estudantes recém-ingressos no Bacharelado Interdisciplinar em
Saúde (BIS) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), no início do primeiro
semestre letivo de 2014, dos quais 79 eram do gênero masculino e 76 participaram
desta pesquisa, com idade que variava entre 18 e 61 anos.
Foram selecionadas, do questionário, 08 perguntas referentes às práticas de
saúde desses alunos: „Que ações você considera importantes para manter a
saúde?‟, „Quais dessas ações você realiza para manter a sua saúde?‟, „Que ações
você considera importantes para prevenir doenças?‟, „Quais dessas ações você já
realizou para prevenir doenças?‟, „O que você faz quando está doente?‟, „Sobre
sua alimentação, assinale seus hábitos‟, „Agora falaremos sobre seu hábito de
praticar atividade física‟, „Qual (is) são as práticas integrativas / complementares
e/ou religiosas que você utiliza?‟. Os sujeitos participantes do estudo responderam
ou não a todas as perguntas acima citadas, de forma livre e sem identificação.
Os dados coletados foram analisados com base na análise de conteúdo,
focando na análise temática de Bardin (2009), que a define como uma união de
técnicas visando alcançar o detalhamento do conteúdo que, neste caso, se
caracteriza pelas respostas dos sujeitos, interpretadas à luz da revisão de
literatura. Desse modo, a análise e interpretação dos dados foram feitas a partir
dos seguintes passos e da seguinte forma: as respostas das quatro primeiras
perguntas, que eram abertas, foram digitadas no processador de texto Microsoft
Word® e analisadas de forma qualitativa. As demais perguntas, de natureza
objetiva, continham a opção de assinalar um ou mais itens e foram analisadas no
editor de planilhas Microsoft Office Excel®, sendo contabilizadas em número
absoluto de estudantes e porcentagem.
As respostas dos participantes da pesquisa foram distribuídas em quatro
categorias gerais, algumas com subdivisões, a saber: práticas individuais de
preservação da saúde, que comportam as subcategorias alimentação saudável,
atividade física e outras práticas; práticas coletivas de promoção da saúde, sem
subcategorias; práticas de prevenção de doenças, com as subcategorias
64
Resultados e discussão
aspecto pode ser explicado pelo fato de 84% dos discentes não possuírem outra
graduação concluída e não ser comum nas escolas haver explicações sobre a
diferença entre práticas de prevenção de doenças, que implicam o conhecimento
epidemiológico para se conhecer e combater os riscos antes que se adoeça, e
práticas de promoção da saúde, que podem ser individuais ou coletivas (BUSS,
2000).
As demais práticas de prevenção apresentadas pelos alunos foram
agrupadas na subcategoria „outras práticas‟, referente à higiene, ingestão de
líquidos, uso restritivo de álcool e outras drogas, vacinação, qualidade do sono,
equilíbrio espiritual, comunhão com Deus, descanso e equilíbrio corporal. A seguir,
estão algumas dessas respostas: S44. “(...) Prevenção e orientações de doenças
(...)”; S70. “(...) Boa higienização com tudo que lidamos, vacinação, métodos
preventivos (...)”.
É importante destacar que, para os participantes desta pesquisa, essas
práticas fazem parte de um conjunto de ações importantes para prevenir doenças,
que envolvem religião, relacionamentos saudáveis e cuidados com o corpo. Essas
ações podem evitar doenças como cânceres, arboviroses – doenças transmitidas
por mosquitos, a exemplo da dengue -, depressão, tabagismo, hipertensão, dentre
outras. Elas contribuem para a prevenção de doenças tanto em homens quanto em
mulheres, já que as mesmas não fazem distinção de gênero, nem de etnia (ALVES
et al, 2005; SOUZA JUNIOR; BIER, 2008).
Nas subcategorias „atividade física‟ e „alimentação saudável‟, obteve-se o
maior número de respostas dos estudantes, ou seja, 38 e 37 respectivamente.
verduras e frutas diárias (53% e 51%) e mínimo de 3 refeições por dia (87%).
Essas respostas podem ser associadas ao guia alimentar para a população
brasileira, do Ministério da Saúde, que informa que, para se obter uma boa saúde, é
necessária a ingestão de pelo menos três refeições por dia: o café da manhã, o
almoço e o jantar. Os alimentos considerados importantes são aqueles que possuem
concentração de carboidratos, como o arroz, massas, pães, raízes (como a
mandioca) e tubérculos (como a batata). Também devem ser incluídas na dieta
frutas, legumes e verduras, bem como alimentos que são ricos em proteínas, como
cereais, castanhas e sementes. O guia alimentar, em consonância com outros
autores, reprova dietas milagrosas veiculadas pela mídia por concordar que estas,
em sua maioria, não incluem os alimentos necessários para uma boa alimentação
(BRASIL, 2006; NAHAS et al, 2000).
Práticas terapêuticas
respostas. Esses dados, embora com menor frequência, muito têm a ver com a
presença da religiosidade em nossa cultura, com a mestiçagem entre os povos
indígenas, europeus e africanos, que trouxeram consigo práticas e rituais religiosos
de cura. Os dados sóciodemográficos dos estudantes mostram que muitos são
católicos, outros são evangélicos e espíritas, o que faz com que eles possam
realizar práticas de banho de folhas, orações e rezas, muito utilizadas nessas
religiões citadas, para descarregar as energias negativas, retomar o equilíbrio,
purificar o corpo, dentre outros objetivos (BOTELHO, 2010).
Considerações finais
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2.3 ARTIGO 3
RESUMO
As concepções e práticas relacionadas à saúde e doença estão ligadas às
conjunturas sociais, econômicas, políticas e culturais de cada indivíduo e englobam
aspectos individuais, subjetivos, multidimensionais e intersetoriais. O padrão
hegemônico de masculinidade distanciou os homens dos cuidados com a saúde,
contribuindo para a escassez de pesquisas que envolvem esses sujeitos. Objetivo:
analisar a influência da masculinidade nas concepções e práticas de estudantes de
um curso superior em saúde, relacionadas à saúde e à doença. Método:
participaram desta pesquisa 76 discentes homens, que responderam a um
questionário semiestruturado. As respostas foram interpretadas nos moldes da
análise de conteúdo de Bardin. Resultados: concepções de saúde associadas às
dimensões físicas e psicológicas e à qualidade de vida foram prevalentes. A doença
7
Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares Sobre a
Universidade (PPGEISU) da Universidade Federal da Bahia. Doutora em Saúde Pública, psicóloga e
Coordenadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Saúde, Violência e Subjetividade – SAVIS.
R. Barão de Jeremoabo, s/n, IHAC, Ondina, Salvador - BA, 40170-115. E-mail:
therezacoelho@gmail.com. Fone: 55 71 999778920.
8
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares Sobre a Universidade –
PPGEISU da Universidade Federal da Bahia. Bacharela em Saúde e graduanda do Bacharelado
Interdisciplinar em Humanidades pela Universidade Federal da Bahia. E-mail:
danielep.rocha@hotmail.com
9
Graduanda do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde pela Universidade Federal da Bahia. E-mail:
souraquelaraujo@gmail.com.
77
ABSTRACT
The conceptions and practices related to health and disease are linked to social,
economic, political and cultural conjunctures of each individual and include individual,
subjective, multidimensional and intersectoral aspects. The hegemonic patter of
masculinity distanced men from the health object, contributing to the lack of care and
scarcity of research involving these individuals. Objective: to analyze the influence
of masculinity in the conceptions and practices of students of higher education in
health related to health and disease. Method: seventy-six male students participated
in this research, answering a semi-structured questionnaire. The answers were
interpreted along the lines of Bardin‟s content analysis. Results: health's conceptions
associated with physical and psychological dimensions and with quality of life were
prevalent. The disease was related to the ideas of imbalance and altered normality.
Conceptions of health as absence of disease and vice versa were minority. Among
the actions for maintain health and prevent diseases, physical activity and healthy
eating were highlighted. When sick, 93% of participants affirmed seeking a health
professional and 71% practiced self-medication, while alternative and / or
complementary practices were reported to a lesser extent (32%), as well the religious
ones (20%). Conclusion: it is noticed that among the students the health-disease
binomial is perceived as a complex and multifactorial phenomenon. There is a major
78
concern with preventive and healthy life habits - characteristics of care and health
notions that distance themselves from the hegemonic model of masculinity and
health discussed among researchers of this theme.
RESUMEN
Las concepciones y prácticas relacionadas com salud y enfermedad están
conectadas a coyunturas sociales, económicas, políticas y culturales de cada
individuo y incluyen aspectos individuales, subjetivos, multidimensionales y
intersectoriales. El modelo hegemónico de masculinidad distancio los hombres del
objeto salud, contribuyendo para la falta de cuidado y escasez de investigaciones
destes individuos. Objetivo: analizar la influencia de La masculinidad em lãs
concepciones y prácticas de los estudiantes de un grado em salud relacionadas com
salud y enfermedad. Método: participaron en esta investigación 76 estudiantes
hombres, que respondieron a um cuestionario semiestructurado. Las respuestas
fueron interpretadas en los moldes del análisis de contenido de Bardin. Resultados:
concepciones de salud asociadas con las dimensiones físicas y psicológicas y La
calidad de vida predominaron. La enfermedad fue relacionada con desequilibrio y
alteración de la normalidad. Concepciones de salud como ausencia de enfermedad y
vice versa fueron minoria. Entre las acciones para mantener la salud y prevenir la
enfermedad, se destacan la actividad física y la alimentación saludable. Cuando
enfermos, 93% de los participantes dijeron que buscan un profesional de la salud y
71% practicar la automedicación; las prácticas alternativas y/o complementarias se
han reportado en menor medida (32%), así como las religiosas (20%). Conclusión:
se observa que entre los Estudiantes el binomio salud-enfermedad es percibido
como fenómeno complejo y multifactorial. Predominantemente existe una
preocupación con hábitos de prevención y de vida saludable – características de
cuidado y nociones de salud que se distancian del modelo hegemónico de
masculinidad y salud discutido entre los investigadores.
INTRODUÇÃO
10
“Caracterizado pela ênfase nos aspectos biológicos, individuais e pela abordagem mecanicista,
esse modelo passa a fragmentar o corpo em sistemas, órgãos, tecidos e células, estruturando um
conhecimento cada vez mais especializado sobre cada função e disfunção orgânica” (BATISTELLA,
2007, p. 54).
80
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
vista que os homens buscam menos os serviços de saúde que as mulheres, como
apontado na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (BRASIL,
2009).
Em relação às práticas de saúde alternativas e/ou complementares, 32% dos
entrevistados afirmaram utilizá-las. Dentre essas, as que obtiveram maior destaque
foram: massagem (20%), homeopatia (14%), fitoterapia (13%), banho de folhas
(10%) e RPG (10%). Mesmo que a utilização das práticas alternativas e integrativas
apareça de forma moderada entre os discentes, os dados corroboram com a Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), apontando que há
uma crescente legitimação social dessas práticas (BRASIL, 2006). Otani e Barros
(2011), em artigo de revisão de literatura, também consideram que existe um
interesse crescente por parte de usuários, profissionais e gestores nos conceitos de
Medicina Integrativa e Medicinas Alternativas e Complementares, de modo que são
necessárias a implementação e o gerenciamento de novas práticas de cuidado e
cura.
Ayres (2001), ao discutir (inter)subjetividades, aponta que a importância do
controle da doença não deve ser diminuída. No entanto, “deve ser revista sua
exclusividade como critério normativo de sucesso das práticas de saúde” (AYRES,
2001, p.7). Como mencionado, o autor considera que as (inter)subjetividades são
caracterizadas pela mobilidade do sucesso prático. Nessa perspectiva, quando o
sujeito opta por práticas de saúde alternativas, a sua escolha deve ser respeitada,
haja vista que as escolhas das práticas de saúde estão relacionadas com o caráter
relacional das identidades e historicidades dos indivíduos e grupos. Nesse sentido, a
PNPIC aponta que a adoção das práticas de saúde alternativas está relacionada
com os diferentes processos de adoecimento e de saúde, de forma que o indivíduo
deve ser considerado de modo global (BRASIL, 2006).
Sobre as práticas adotadas quando se está doente, além das práticas
alternativas e complementares, houve destaque também para a realização de
tratamentos religiosos (20% entre os entrevistados). Tais práticas se relacionam com
a complexidade do processo do adoecimento e do caráter relacional das escolhas,
tendo em vista que a adoção de uma prática religiosa está relacionada com
aspectos culturais e subjetivos. A adoção de práticas religiosas é, também, uma
forma de enfrentamento da doença, de forma que a fé não está dissociada do
processo de adoecimento (MURAKAMI & CAMPOS, 2012). Nesse sentido,
90
CONCLUSÃO
Entre os discentes participantes deste estudo, o binômio saúde-doença é
percebido como fenômeno complexo, que envolve diversos fatores. Em relação às
práticas adotadas, nota-se que é majoritária a preocupação com hábitos preventivos
e hábitos de vida saudável. É interessante perceber que a grande maioria dos
estudantes busca realizar alguma ação para manter a saúde ou prevenir doenças; a
proporção de alunos que não realizam nenhuma dessas ações é muito baixa.
As respostas mais prevalentes entre os discentes estão relacionadas à ideia
de saúde como bem-estar, conforme o conceito de saúde da Organização Mundial
da Saúde (OMS). Foi possível perceber que, atrelado à noção de bem-estar
individual, eles se referiram à qualidade de vida em seu âmbito coletivo, envolvendo
entretenimento, cultura e educação. Esses aspectos se distanciam das concepções
e práticas ligadas à saúde entre aqueles que reproduzem o modelo hegemônico de
masculinidade, como vimos. Nessa perspectiva, as práticas de saúde dos
estudantes estão ligadas majoritariamente à alimentação saudável e à atividade
física, bem como à automedicação e à busca por profissionais de saúde, quando
doentes. Práticas alternativas e religiosas ligadas à saúde foram poucas vezes
mencionadas, mas refletem a multiplicidade dos saberes e racionalidades envolvidas
nesse processo.
Como mencionado, muitos estudos apontam a existência de uma
masculinidade hegemônica que seria prejudicial à saúde dos homens, associada às
noções de invulnerabilidade, comportamento de risco e pouca preocupação com a
própria saúde. No entanto, esta pesquisa e outros estudos acerca das
representações sociais da saúde, entre os homens, apontam uma tendência à
mudança, na medida em que os homens têm demonstrado maior preocupação com
91
AGRADECIMENTOS
Ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) pelo apoio à pesquisa e a
Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) pela concessão de
bolsa de Iniciação Científica.
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APÊNDICES
107
ANEXOS
112