TCC Joao Pedro 30.11.2014
TCC Joao Pedro 30.11.2014
TCC Joao Pedro 30.11.2014
FLORIANÓPOLIS
2014
JOÃO PEDRO TAUSCHECK ZIELINSKI
FLORIANÓPOLIS
2014
AGRADECIMENTOS
Antes de agradecer à instituição que propiciou a minha formação, eu devo os meus sinceros
agradecimentos aos meus pais, Maria Inês e João Felício, que nunca deixaram de me apoiar em todas
as etapas da minha vida e, tenho certeza, continuarão apoiando cada nova fase pela qual irei passar.
Ao meu irmão, Bruno, pelo qual tenho muito amor e carinho, e a todos os meus familiares que
sempre estiveram presentes nos momentos felizes e tristes de minha vida. Agradeço também à
Monique, minha companheira, que dividiu (e ainda divide!) comigo muitos momentos felizes não só
durante a graduação, mas também nas festas, viagens, e momentos especiais que estivemos juntos.
Obrigado a todos os colegas da UFSC, especialmente a Pâmela, Taynah, Thailli, Juliana,
Rachid, Esdras, Elias, Toquinho, Digo Mel, Beiço, Bruninho, Toffol, Manu, Erico, Mariah, Rodolfo,
Jonathas, Pedro UFRGS e Fernanda. Estudar com vocês se tornou prazeroso e, acima de tudo,
construtivo. Agradeço também aos colegas de UCM, Manu, Jose Vázquez, Alvaro, Jairo, Guillermo,
Victor Collaguazo, Rayana, Yuri e Vinicius. ¡Les agradezco de verdad!
Agradeço à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidad Complutense de
Madrid (UCM), duas instituições de ensino que tive o privilégio de conhecer e estudar, mas devo dizer
que os maiores valores que elas carregam estão nas salas de aula, laboratórios e escritórios que elas
abrigam: as pessoas. São esses profissionais que trabalham nessas universidades que merecem os meus
elogios.
Obrigado aos professores e funcionários da UFSC e UCM, especialmente o meu orientador,
Marivaldo dos Santos Nascimento, que acreditou no meu potencial e que sempre me auxiliou nas
atividades acadêmicas. Gostaria também de agradecer as pessoas que conviveram comigo durante um
mês no Marcus G. Langseth, junto com os quais tive a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre
a aquisição sísmica 3D. Thank you very much guys!
Muito obrigado aos membros da banca pela avaliação desse trabalho, e ao PFRH-PB
240/UFSC pelo auxílio financeiro, fundamental para o desenvolvimento dessa pesquisa.
RESUMO
Figura 1 – (A) mapa geológico simplificado com a localização dos afloramentos estudados
(base GEOBANK/CPRM). (B) Mapa político do Brasil, com destaque para a Bacia
do Paraná e posição das exposições estudadas na sua borda sudeste. ..................... 14
Figura 2 – Mapa geológico simplificado, mostrando a localização da Bacia do Paraná na
América do Sul e a distribuição espacial das supersequências propostas por Milani
(1997). Fonte: Milani, 2004. .................................................................................... 15
Figura 3 - Carta estratigráfica da Bacia do Paraná. Retirado de Milani et al. 2007. ................ 17
Figura 4 – Arcabouço tectônico da Bacia do Paraná, enfatizando as estruturas NE-SW e
destacando um “rifte central” proposto por Marques et al., 1993. .......................... 20
Figura 5– Elementos arquiteturais internos ao canal (modificado de Miall, 1988). ................ 25
Figura 6 - Elementos arquiteturais externos aos canais fluviais (modificado de Miall, 1996). 25
Figura 7 - Fluxograma representativo dos fatores alogênicos principais e a influência que eles
exercem no padrão de empilhamento (modificado de Catuneanu, 2006). ............... 28
Figura 8 – Diferentes escalas (ordens hierárquicas) de análise de sequências estratigráficas e
suas principais causas (modificado de Catuneanu, 2006). ....................................... 28
Figura 9– Diagramas ilustrando o efeito da ação da energia da onda na criação ou destruição
do espaço de acomodação (modificado de Catuneanu, 2006). ................................ 29
Figura 10 – Ilustração esquemática das relações em entre os três fatores principais
responsáveis pela criação do espaço de acomodação (modificado de Jervey, 1998).
.................................................................................................................................. 30
Figura 11 – Nível do mar relativo conforme adotado por Jervey (1998). ................................ 30
Figura 12 – Ilustração do nível de base com extensão ao nível do mar para dentro do
continente (modificado de Catuneanu, 2006). ......................................................... 31
Figura 13 – Ilustração do perfil de equilíbrio fluvial (modificado de Catuneanu, 2006). ........ 32
Figura 14 – (A) Situação inicial, com o nível do mar “estável”; (B) Transgressão da linha de
costa, que exibe um padrão retrogradacional das fácies; e (C) Regressão da linha de
costa, que exibe um padrão progradacional das fácies (modificado de Catuneanu,
2006). ....................................................................................................................... 33
Figura 15 – Regressão normal e forçada de acordo com a mudança do nível de base, gráfico
superior, e taxas de sedimentação e de mudança do nível de base, gráfico inferior
(Modificado de Catuneanu, 2006). .......................................................................... 34
Figura 16 – Diferentes padrões de empilhamento estratal durante a regressão normal (A e B) e
regressão forçada (C) (modificado de Posamentier & Allen, 1999). ....................... 34
Figura 17 – Exemplo ilustrativo das terminações estratais (Catuneanu, 2006)........................ 36
Figura 18 – Ciclo transgressivo-regressivo completo, eventos e superfícies estratigráficas
geradas (modificado de Catuneanu, 2006). .............................................................. 37
Figura 19 – Conjuto de parasequências progradacionais, retrogradacionais e agradacionais
(modificado de Van Wagoner, 1988). ...................................................................... 41
Figura 20 – Imagem ilustrando a diferença dos modelos com três tratos de sistemas (acima) e
com quatro tratos de sistemas (abaixo). ................................................................... 42
Figura 21 – Ilustração do TSNA com suas superficies estratigráficas limítrofes e padrões de
empilhamento dos estratos (modificado de Catuneanu, 2006). ............................... 43
Figura 22 - Ilustração do TSMQ com suas superficies estratigráficas limítrofes e padrões de
empilhamento dos estratos (modificado de Catuneanu, 2006). ............................... 44
Figura 23 - Ilustração do TSNB com suas superficies estratigráficas limítrofes e padrões de
empilhamento dos estratos (modificado de Catuneanu, 2006). ............................... 45
Figura 24 - Ilustração do TST com suas superficies estratigráficas limítrofes e padrões de
empilhamento dos estratos (modificado de Catuneanu, 2006). ............................... 47
Figura 25 – Modelos de sequência e seus respectivos limites (modificado Catuneanu, 2002).
.................................................................................................................................. 48
Figura 26 – (A) Perfil litoestratigráfico com as associaçõesde fácies AF1 e AF2; (B) visão
panorâmica do afloramento que exibe nítido aumento ascendente dos pacotes de
arenitos, formando ciclos granodecrescentes ascendentes, com elementos
arquiteturais e superficies limítrofes; (C) detalhe de pelito com textura blocky
(paleosolo); (D) arenito médio a fino exibindo uma intergradação de fácies
separadas por superficies de 2ª ordem; (E) ciclos granodecrescentes ascendentes,
característicos de planícies de inundação, interpretado como sucessivos eventos de
inundação; (F) contato erosivo entre a AF1 e AF3, que pode ser traçado por vários
metros. ...................................................................................................................... 53
Figura 27 – (A) Perfil litoestratigráfico da associação de fácies de planície de inundação; (B)
arenito fino com estratificação cruzada acanalada de pequeno porte; (C) foto de
detalhe na qual é possível observar os elementos CS e FF limitados por uma
superfície de 4ª ordem; e (D) heterolito wavy. ......................................................... 54
Figura 28 – (A) perfil litoestratigráfico da associação de fácies de canais entrelaçados (AF3);
(B) foto de afloramento mostrando os ciclos granodecrescentes ascendentes, os
elementos arquiteturais e as superfícies limítrofes; (C) Elemento de acresção frontal
(DA) camadas arenitos finos com estratificação cruzada tabular (Sp), limitadas por
superfícies de 3ª ordem, e com filmes carbonosos recobrindo as superfícies; (D)
arenito fino com estratificação cruzada assimétrica (Sr) e arenito fino com
estratificação sigmoidal (Ss) - elemento de acresção lateral (LA) ? - com superfícies
de 3ª ordem; (E) foto de detalhe de arenito fino de litofácies Sp; e (F) foto de
afloramento mostrando a superfície erosiva de alto relevo, com crosta laterítica, que
limita a AF3 da AF4. ............................................................................................... 58
Figura 29 – (A) perfil litoestratigráfico da associação de fácies de frente deltaica-prodelta; (B)
superfície erosiva basal sobreposta por conglomerados, arenitos e pelitos, com
granodrescência ascendente; (C) paraconglomerado intraformacional com clastos
de pelito, subangulosos e subarredondados, e matriz arenosa (Gmg); (D) arenito
fino com estratificação cruzada simétricas (So) sobreposto a heterolito linsen (Hl)
com estrutura de carga; (E) arenito fino/pelito com acamamento heterolítico wavy
(Hw) com truncamento erosivo; (F) heterolito linsen (Hl); (G) arenito médio com
estratificação cruzada de baixo ângulo (Sl) na base e arenito médio com climbing-
ripples e recobrimentos argilosos nos foresets no topo; (H) paraconglomerado
intraformacional com clastos de arenito subangulosos (Gmg); (I) heterolito linsen
na base e arenito médio com laminação planar-paralela (Sh) e estrutura de carga no
topo; e (J) arenito médio com estratificação cruzada assimétrica (Sr) com mud
drapes. ...................................................................................................................... 61
Figura 30 - Estratificação cruzada do tipo hummocky-swaley de grande porte (>1m): (A)
fotografia interpretada da estratificação e (B) fotografia da estratificação sem
interpretação. ............................................................................................................ 61
Figura 31 – (A) perfil litoestratigráfico da associação de fácies de preenchimento de baía
central, canal de maré e barra de maré; (B) foto de afloramento das associações
AF5, AF6 e AF7; (C) arenito fino com estratificação cruzada assimétrica
cavalgante (Sr); (D) arenito fino com estratificação cruzada assimétrica (Sr)
intercalado com heterolito linsen (Hl); (E) heterolito linsen (Hl) com gretas de
dessecação; arenito fino com acamamento flaser (Hf) e estrutura de deformação do
tipo slump. ................................................................................................................ 63
Figura 32 – Vista panorâmica dos depósitos de preenchimento de canais estuarinos:
associações de canal de maré (AF6) e de delta de maré (AF7). Notar a disposição
oposta dos estratos cruzados das barras de maré. .................................................... 64
Figura 33 – (A) perfil litoestratigráfico da associação de fácies de face litorânea superior (AF
8), laguna (AF 9) e leque de lavagem (AF 10); e (B) foto panorâmica mostrando a
geometria dos corpos arenosos e pelíticos litorâneos. ............................................. 65
Figura 34 – (A) perfil litoestratigráfico da associação de fácies de face litorânea
inferior/intermediária (AF8), laguna (AF9), leque de lavagem (AF10) e face praial
(AF11); (B) relação lateral e vertical das associações de fácies; (C) vista em
afloramento da AF9 sobreposta pela AF10; (D) heterolito flaser na base e wavy no
topo, como nódulos de pirita; (E) heterolito wavy; (F) arenito médio com
estratificação acanalada; e (G) estratificação de baixo ângulo da face praial (AF11).
.................................................................................................................................. 67
Figura 35 - Perfis estratigráficos, associação de fácies e sistemas deposicionais descritos nos
afloramentos BP-06 e BP-08..................................... Erro! Indicador não definido.
Figura 36 – (A) Tratos de sistemas, superfícies estratigráficas e limites de sequência propostos
neste trabalho, coluna litoestratigráfica e curva de variação do nível de base; (B)
Curva de variação do nível do mar de acordo com a escola da Exxon e Hallam
(1983); e (C) Mapa geológico e seção estudada. ...... Erro! Indicador não definido.
Figura 37 – Arenito médio com estratificação cruzada de baixo ângulo (Sl) mostrando o onlap
costeiro sobre uma delgada camada de pelito intensamente bioturbada. ........... Erro!
Indicador não definido.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Classificação de fácies para sistemas fluviais de acordo com Miall (1996). ......... 23
Quadro 3 – Sumário das principais características das litofácies identificadas nas sucessões
permianas da borda sudeste da Bacia do Paraná, Santa Catarina, estudadas neste trabalho.
........................................................................................................................................... 51
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 12
3. MÉTODOS........................................................................................................................ 21
7. CONCLUSÕES ................................................................................................................. 73
1. INTRODUÇÃO
1.2. OBJETIVOS
1.2.1. Principais
Este trabalho tem por finalidade: (1) reconstituir os sistemas deposicionais permianos por
meio da análise de afloramentos que ocorrem na borda sudeste da Bacia do Paraná, Estado de
Santa Catarina; (2) interpretar os tratos deposicionais com base na caracterização de
superfícies estratigráficas genéticas; e (3) propor um arcabouço estratigráfico para as unidades
investigadas.
1.2.2. Específicos
Figura 1 – (A) mapa geológico simplificado com a localização dos afloramentos estudados (base
GEOBANK/CPRM). (B) Mapa político do Brasil, com destaque para a Bacia do Paraná e posição das
exposições estudadas na sua borda sudeste.
15
2. CONTEXTO GEOLÓGICO
Seu limite superior está marcado pela discordância Eotriássica, que delimita os últimos
pacotes marinhos da Bacia do Paraná.
A Supersequência Gondwana II, de idade Meso a Neotriássica, é de ocorrência bastante
pontual, e está situada apenas nas regiões gaúchas e uruguaias da bacia. Está inserida no
contexto regional pelo fato de apresentar sucessões sedimentares depositadas em bacias do
tipo gráben, materializadas na formação Santa Maria. A erosão eólica predominante no
interior do Gondwana durante o Mesozóico foi responsável pela formação da discordância
Neojurássica, que se instalou anteriormente à deposição da penúltima supersequência, a
Gondwana III (Neojurássico-Eocretáceo). Esta supersequência é representada por duas
formações, mundialmente conhecidas, denominadas de Botucatu e Serra Geral. A primeira é
constituída por arenitos eólicos, já a segunda, por rochas vulcânicas associadas ao
magmatismo relacionado à abertura do Atlântico Sul, que definem o fim dos eventos de
sedimentação extensiva no interior do megacontinente (Milani et al., 2007). A discordância
Eocretácica é responsável por limitar o topo desta supersequência.
Os ajustes isostáticos promovidos pelo espesso pacote vulcânico da Fm. Serra Geral foram
fundamentais para a implementação do último pacote rochoso da Bacia do Paraná, a
Supersequência Bauru (Neocretáceo). Constituídas por diversas formações, é fruto da
deposição de sedimentos clásticos provenientes de rochas paleozóicas e pré-cambrianas
expostas na borda basculada da bacia.
Na área em que o trabalho foi desenvolvido, afloram as seguintes unidades
litoestratigráficas: Formação Taciba (Rio do Sul, segundo França & Potter, 1988), Rio Bonito
e Palermo, todas sendo enquadradas na Supersequência Gondwana I.
A Formação Taciba (Rio do Sul) encontra-se dividida, da base para o topo, em três
membros: Rio Segredo que constitui um corpo arenoso que se adelgaça para leste; Mb.
Chapéu do Sol, que é representado por diamictitos e o Mb. Rio do Sul que é caracterizado por
ritmitos, siltitos e folhelhos (Castro, Weinschutz e Castro, 2005)
A Formação Rio Bonito pertence ao Grupo Guatá e divide-se em três membros: Triunfo,
Paraguaçu e Siderópolis. O membro Triunfo é constituído por arenitos e conglomerados
cinza-claro que contêm estratificações paralelas, cruzadas tabulares e acanaladas. Localmente
ocorrem folhelhos, argilitos e siltitos cinza-escuro a pretos, carbonosos e camadas de carvão.
O membro Paraguaçu é marcado por sedimentação pelítica (siltitos e folhelhos cinza a
esverdeados) e, secundariamente, arenitos finos com laminação planar-paralela e ondulada,
apresentando bioturbação. O membro Siderópolis é caracterizado como o intervalo superior
da formação, sendo constituído por um espesso pacote de arenitos com intercalações de
19
Esta temática tem sido abordada de diferentes maneiras, sempre objetivando estabelecer
um marco tectônico responsável pela subsidência e posterior acomodação das unidades
sedimentares. Fulfaro et al. (1982) atribuem a ocorrência de aulacógenos no embasamento,
com orientação NE-SW, como precursoras da sedimentação cratônica. Por sua vez, Zalán et
al. (1990) consideram a atividade de resfriamento litosférico como fundamental para a
subsidência da bacia, embora não descartem totalmente a possibilidade de estiramento crustal
como agente principal para o início da formação da sinéclise. Soares (1991) argumenta contra
a existência de um rifte precursor, propondo que a origem seria atribuída a um mecanismo de
flexura litosférica com abatimento de blocos, responsáveis por acomodar os sedimentos mais
antigos da bacia.
No entanto, para Milani (1997), a flexura litosférica por sobrecarga tectônica, que se
propagou para dentro do continente a partir da calha de antepaís, desempenhou um papel
fundamental. Segundo este autor, os episódios de subsidência da bacia estão intimamente
ligados com os processos orogênicos, atuantes a época, na borda ocidental do Gondwana,
sendo reconhecidos na história Fanerozóica dessa margem (Ramos et al. 1986). Portanto, a
implementação da bacia se deu ao longo de depressões alongadas, seguindo a direção NE-
SW, segundo uma trama do substrato pré-cambriano, que foi reativado devido aos esforços
compressionais atuantes na borda do continente causados pela Orogenia Oclóyica (Ramos et
al. 1986), ocorrida durante o Neo-Ordoviciano.
Independentemente dos mecanismos propostos para a geração das principais estruturas, é
possível perceber que a estruturação da Bacia do Paraná é relativamente complexa e, grosso
20
modo, é compreendida por lineamentos que podem ser agrupados em três direções principais:
NW-SE, NE-SW e E-W. Os dois primeiros são mais antigos e simbolizam zonas de fraquezas
que recorrentemente se ativaram durante a evolução da bacia. A Figura 4 mostra as principais
estruturas de direção NE-SW.
3. MÉTODOS
Os métodos descritos a seguir se referem aos procedimentos seguidos neste trabalho, a fim
de atingir os objetivos elencados anteriormente, sendo que fazem parte dos estudos realizados
na grande maioria dos trabalhos em que a Estratigrafia de Sequências tenha sido a principal
ferramenta de interpretação do registro geológico, e podem ser encontradas em Catuneanu
(2006).
Este método foi utilizado para distinguir características específicas de unidades rochosas
adjacentes. Tais características distintivas podem ser encontradas em Walker (1992), e
referem-se aos atributos que podem ser observados nas rochas sedimentares, tais como:
textura, estrutura, litologia, geometria da camada, paleocorrente e conteúdo fossilífero. São
esses atributos que permitiram caracterizar as diferentes fácies presentes nos afloramentos
BP-06 e BP-08. A caracterização faciológica, pode ser subdividida em duas etapas diferentes,
mas complementares: descrição das fácies e associação de fácies.
Miall (1985) utiliza o termo elementos arquiteturais para individualizar diferentes corpos
sedimentares compostos de associações de fácies. Inicialmente, sugeriu oito elementos
arquiteturais básicos em depósitos internos aos canais fluviais, conforme visto na Figura 4.
Além destes elementos internos aos canais, Miall (1996) identificou seis elementos
arquiteturais externos ao canal (Figura 5).
Quadro 1 - Classificação de fácies para sistemas fluviais de acordo com Miall (1996).
24
Figura 6 - Elementos arquiteturais externos aos canais fluviais (modificado de Miall, 1996).
26
4. REFERENCIAL TEÓRICO
Figura 7 - Fluxograma representativo dos fatores alogênicos principais e a influência que eles exercem
no padrão de empilhamento (modificado de Catuneanu, 2006).
Muito embora a eustasia tenha sido definida por Vaill, Todd e Sangree (1977), como o
principal agente controlador da sedimentação e das mudanças do nível do mar, atualmente é
consensual que a tectônica e o clima desempenham papel igualmente importante na
distribuição dos padrões de fácies e dos padrões de empilhamento estratigráfico.
A tectônica e a eustasia controlam a dinâmica da acomodação (espaço disponível para o
acúmulo de sedimentos), determinando a energia do fluxo e o aporte sedimentar (sediment
supply), bem como o padrão de dispersão deposicional (deposicional trend). Portanto, estes
fatores são interdependentes e devem ser averiguados em qualquer escala investigativa do
registro geológico (Figura 8).
Figura 10 – Ilustração esquemática das relações em entre os três fatores principais responsáveis pela
criação do espaço de acomodação (modificado de Jervey, 1998).
Este conceito foi proposto inicialmente para sistemas marinhos. Para os sistemas
continentais o termo nível de base é mais apropriado, e pode ser entendido de forma
aproximada ao nível do mar (Jervey, 1998; Schumm, 1993), embora, em realidade, esta
superfície esteja abaixo do nível do mar, devido à ação das ondas e correntes marinhas.
Catuneanu (2006) define que o nível de base é geralmente associado a uma superfície de
referência global na qual denudação continental e agradação marinha tendem a ocorrer
(Figura 12).
Figura 12 – Ilustração do nível de base com extensão ao nível do mar para dentro do continente
(modificado de Catuneanu, 2006).
4.3.1. Transgressão
Figura 14 – (A) Situação inicial, com o nível do mar “estável”; (B) Transgressão da linha de costa, que
exibe um padrão retrogradacional das fácies; e (C) Regressão da linha de costa, que exibe um padrão
progradacional das fácies (modificado de Catuneanu, 2006).
4.3.2. Regressão
Figura 15 – Regressão normal e forçada de acordo com a mudança do nível de base, gráfico superior, e
taxas de sedimentação e de mudança do nível de base, gráfico inferior (Modificado de Catuneanu,
2006).
A regressão forçada é originada quando há queda do nível de base (Figura 15) e, neste
caso, a linha de costa regride independentemente do aporte sedimentar (Catuneanu et al.,
2009). O espaço de acomodação diminui e há intensa erosão das sucessões anteriormente
depositadas, associado a uma progradação das fácies não marinhas no sentido offshore da
bacia, sendo caracterizadas por um padrão de empilhamento downstepping (Figura 16C). O
padrão arquitetural dos estratos na região próxima a linha de costa será definida pela
combinação de diversos fatores, entre eles: a taxa de aporte sedimentar, taxa de queda do
35
As terminações estratais podem ser definidas como a relação geométrica entre os estratos
e as superfícies estratigráficas que os limitam, e são melhores observadas em seções sísmicas
2D ou em megafloramentos (Catuneanu, 2006). Os cinco tipos de terminações estratais são
(Figura 17): downlap – estratos inclinados terminam mergulho abaixo contra uma superfície
horizontal ou inclinada. Pode ser interpretado como o limite basal da unidade estratigráfica;
offlap – padrão que representa o avanço no sentido offshore das terminações mergulho acima
de estratos concordantes. Esta superfície geralmente representa uma regressão forçada, pois os
avanços das terminações mergulho acima indica a queda do nível de base e exposição das
unidades previamente depositadas; onlap – ocorre quando estratos inicialmente horizontais
terminam contra uma superfície inclinada, ou ainda quando estratos com certa inclinação
terminam mergulho acima contra uma superfície de maior inclinação. São terminações
estratais que demarcam o limite lateral de uma unidade estratigráfica; toplap - refere-se à
terminação mergulho acima de estratos inclinados (clinoformas) contra uma superfície
sobrejacente. Representa um hiato não-deposicional e se desenvolve quando o nível de base é
muito baixo, sendo responsável por impedir a deposição mergulho acima de um estrato (by-
pass). Além disso, pode evidenciar pequenas erosões acima do nível de base, ao passo que,
mergulho abaixo, há o desenvolvimento de um padrão progradacional (Ribeiro, 2001); e
truncamento erosivo - terminação mergulho acima de estratos inclinados (clinoformas) contra
uma superfície erosiva sobrejacente. Indica, geralmente, o desenvolvimento de um relevo
erosional e/ou de uma discordância angular.
36
Esses eventos são responsáveis pela formação das superfícies estratigráficas que
delimitação dos tratos de sistemas (Figura 18). Embora existam outras superfícies internas aos
tratos de sistemas, as mais adequadas para estudos litoestratigráficos e aloestratigráficos
(Catuneanu, 2006) são:
Uma superfície diácrona representa uma superfície que possui diferentes idades em distintas regiões (Bates e
Jackson, 1987), isto é, ela se forma com o avanço do tempo.
40
do espaço de acomodação é maior que a taxa de aporte sedimentar, sendo formada durante o
estágio de avanço da linha de costa em direção ao continente. A ST também marca a mudança
no padrão de empilhamento das parasequências, progradacional (abaixo) – formado durante o
TSMQ – de retrogradacional (acima) – formado durante o TST -. Dependendo da energia das
ondas e marés, a superfície transgressiva pode ser suficientemente forte para erodir os
depósitos praiais e fluviais anteriormente depositados. Nas regiões costeiras, a superfície
transgressiva por ser formada pelo ravinamento gerado pela maré, mais comumente nas zonas
estuarinas, ou pela ação das ondas na região de face litorânea inferior. Portanto, é importante
ressaltar que as duas superfícies são diácronas, pois se formam conforme o avanço da linha de
costa continente adentro. Segundo Catuneanu (2006), a ocorrência de hardgrounds e
firmgrounds (ondas) e woodgrounds (marés) são evidências desta superfície.
Superfície de inundação máxima (SIM) (Maximum flooding surface) – esta
superfície se forma no final da transgressão e, por isso, separa os estratos inicialmente
agradantes que passam para retrogradantes, do trato de sistema de nível de mar alto (HST).
Esta mudança ocorre durante o aumento do nível de base, geralmente acompanhado por um
aumento do aporte sedimentar, que ultrapassa a taxa de subida do nível de base (Catuneanu,
2006). Em seções sísmicas, é detectada pelo downlap e aspecto progradante dos estratos
acima da mesma. Nos ambientes marinhos e costeiros, a SIM constitui seções condensadas,
que corresponde a sedimentos hemipelágicos a pelágicos, acumulados durante períodos de
aporte sedimentar mínimo. Os hardgrounds também são feições típicas associadas à
superfície de inundação máxima (SIM), pois representam o grau de cimentação do fundo
marinho, muito embora os softgrounds formam-se onde a taxa de sedimentação é alta,
mantando o fundo marinho inconsolidado. A ocorrência de woodgrounds nas regiões costeiras
representam inundações marinhas sobre regiões de planícies costeiras. Na porção continental,
a ocorrência de estruturas que mostram a ação de marés em arenitos fluviais é indicativa da
SIM, além da ocorrência de níveis de carvão. Em sistemas puramente fluviais, a SIM está
relacionada a um aumento abrupto de energia fluvial, estando geralmente associada à
mudança nos estilos fluviais (i.e. passagem de um sistema meandrante para um sistema
entrelaçado), bem como à uma variação no grau de amalgamação dos canais (Catuneanu,
2006).
4.6. PARASEQUÊNCIAS
O termo parasequências foi definido por Van Wagoner et al. (1988) para se referir a
uma sucessão relativamente concordante de estratos geneticamente relacionados limitados por
uma superfície de inundação marinha ou suas superfícies correlatas. Os padrões de
41
empilhamento dos sets de parasequências (parasequence set) são usados conjuntamente com
as superfícies e suas posições dentro de uma sequência para definir os tratos de sistemas.
Parasequência é identificada e separada de outras parasequências, por superfícies de
inundação e definem tendências deposicionais granocrescentes e granodecrescentes. As
superfícies de inundação são identificadas pelas mudanças abruptas de fácies, que pode
representar um aumento na profundidade da lâmina d’água ou diminuição do aporte
sedimentar (Catuneanu et al., 2009).
Os conjuntos de parasequências podem ser: progradacional, retrogradacional e
agradacional (Figura 19) e são essenciais para a interpretação dos tratos de sistemas, e
revelam também importantes informações sobre os controles alogênicos.
Figura 20 – Imagem ilustrando a diferença dos modelos com três tratos de sistemas (acima) e com
quatro tratos de sistemas (abaixo).
43
TRATO DE SISTEMA DE NÍVEL ALTO (TSNA) - Este trato de sistema se forma durante a
última fase do aumento do nível de base, quando a taxa de subida do nível de base encontra-se
abaixo da taxa de sedimentação, gerando uma regressão normal da linha de costa. Como
consequência, o padrão de empilhamento das parasequências é caracterizado por uma
combinação de processos progradacionais e agradacionais.
O TSNA é limitado na base pela Superfície de Inundação Máxima (SIM) e no topo por
uma combinação de três superfícies: discordância subárea (DS), superfície basal de regressão
forçada e a porção mais antiga da superfície erosiva de erosão marinha (Figura 21). A grosso
modo, este trato de sistema pode ser dividido em dois estágios: i) inicial – marcado por taxas
relativamente altas de aumento do nível de base – que é caracterizado por um forte
componente agradacional; e ii) final – constituído por taxas de subida do nível de base
relativamente mais baixas – que exibe uma componente progradacional mais proeminente
(Catuneanu, 2006).
perfil vertical de depósitos fluviais do TSNA irá ter uma granodecrescência bem marcada,
muito embora a quantidade de areia tenda a aumentar para o topo (Catuenanu, 2006).
O potencial de preservação dos depósitos gerados durante o TSNA é limitado, pois
este estágio é sucedido pelo TSMQ, que é gerado a partir da queda do nível de base, sendo
muito comum a exposição subaérea dos depósitos de TSNA.
As regiões não marinhas da bacia podem sofrer processos de incisão fluvial, by-pass
fluvial e pedogênese, por exemplo. No entanto, as incisões fluviais ocorrerão somente quando
o nível de base cair abaixo de quebras topográficas significativas (borda da plataforma,
escarpas de falha, etc), expondo assim segmentos litorâneos que são mais íngremes que o
perfil de equilíbrio fluvial (Schumm, 1993; Ethridge el al., 2001; Posamentier, 2001).
Apesar de representar uma característica comum do estágio de queda do nível de base,
a incisão fluvial pode não ocorrer no case de bacias marinhas rasas, que exibem uma
45
a criação de mais espaço de acomodação ao longo do tempo faz com que os depósitos de
planície de inundação sejam preservados no registro geológico, além disso, essa mudança
pode ser observada pelo aumento da razão planície de inundação/canal fluvial. Esses
depósitos acumulam-se, tipicamente, sobre uma superfície irregular (paleo-relevo irregular),
que é resultado da regressão forçada da linha de costa durante o TSMQ. Logo, a deposição do
TSNB contribui para a peneplanização das regiões não marinhas da bacia (Catuneanu, 2006).
Há casos, no entanto, que os depósitos de LST não se encontram preservados no
registro sedimentar, devido ou a não deposição ou a posterior erosão pela ação da
transgressão. Neste caso, a superfície da base dos vales incisos é modificada para uma
superfície de erosão transgressiva e, com isso, os vales são totalmente preenchidos por
depósitos do trato de sistema transgressivo (Dalrymple, 1992; Ainsworth & Walker, 1994).
Portanto, o potencial de preservação tende a ser baixo, tanto dos depósitos costeiros quanto
dos fluviais (Catuneanu, 2006).
A borda da plataforma, por sua vez, enfrenta uma situação de falta de aporte
sedimentar e, aliado à rápida subida do nível de base, sofre com a instabilização e, portanto, é
objeto de não deposição e/ou retrabalhamento sedimentar durante a transgressão.
A parte fluvial da bacia geralmente apresenta estruturas de ação de maré (Shanley,
McCabe e Hettinger, 1992; Shanley e McCabe, 1993), e é caracterizado por um perfil vertical
de granodecrescência ascendente. Os canais fluviais são encontrados como corpos isolados
localizados em depósitos que predominam os finos de planície de inundação, e é comum
encontrar depósitos de carvão associados aos estratos sedimentares fluviais do TST.
Os vales incisos, herdados da fase de rebaixamento do nível de base (TSMQ) e que
não foram preenchidos por depósitos de LST, podem ser preenchidos pelos depósitos
estuarinos de TST, principalmente nas regiões à jusante, ou seja, próximos à linha de costa
(Dalrymple, Zaitlin e Boyd, 1994).
No TST, tanto as porções continentais quanto marinhas apresentam um tendência a
“onlapar” sobre a superfície deposicional em direção ao continente. A diferença é que os
depósitos marinhos “onlapam” o paleo-fundo marinho, ao passo que os depósitos próximos à
linha de costa podem estar em onlap sobre a superfície de discordância subaérea, caso o
avanço seja significativo. No caso das regiões costeiras, o trato de sistema transgressivo
podem incluir um padrão backstepping dos depósitos de foreshore, fácies estuarinas
diagnósticas em pequenos rios, e ainda deltas no caso de rios maiores (Catuneanu, 2006).
4.8. SEQUÊNCIAS DEPOSICIONAIS
modificado, e outros tipos de sequências foram propostos. Dentre estes “novos” conceitos
elaborados, dois se destacam: modelo de sequência deposicional e o modelo de sequência
genética (Figura 25).
Quadro 3 – Sumário das principais características das litofácies identificadas nas sucessões permianas
da borda.
CÓDIGO DESCRIÇÃO GEOMETRIA PROCESSO IMAGEM
Conglomerado
Camadas Fluxo de
intraformacional
lenticulares; detritos
Gmg matriz-sustentado,
80 cm de pseudoplástico,
maciço,
espessura. fluxo viscoso.
monomítico.
Deposição em
Geometria
Arenito médio, transição de
sigmoidal;
Ss estratificação regime de fluxo
23 cm de
sigmoidal. inferior para
espessura.
superior.
Arenito grosso,
Camadas
estratificação Migração dunas
tabulares;
St cruzada acanalada, 3D; regime de
1,3m a 20m de
sets decimétricos a fluxo inferior.
espessura.
métricos;
Camadas
Arenito fino a grosso,
tabulares e Migração dunas
estratificação cruzada
Sp tabular com sets
amalgamadas; 2D; regime de
80 cm a 4,5m de fluxo inferior.
decimétricos.
espessura.
Camadas
Arenito fino a médio, tabulares a Fluxo oscilatório,
So laminação ondulada lobada; 30 a sem componente
simétrica. 80cm de unidirecional.
espessura.
Camadas
Arenito fino a grosso, tabulares a Formas planas de
Sh laminação planar- lenticulares; 50 leito (regime de
paralela. cm a 1,4 m de fluxo superior)
espessura.
Dunas atenuadas,
Arenito médio, Camadas
preenchimento de
estratificação cruzada tabulares; 30 a
Sl de baixo ângulo, sets 45 cm de
suaves depressões
(regime de fluxo
centimétricos. espessura.
transicional).
51
Camadas
lenticulares Depósitos de
Arenito fino a grosso, (forma de fluxos
Sm maciço. canal); 45 cm a hiperconcentrados
2m de .
espessura.
Camadas
Arenito fino a médio, tabulares e Fluxo combinado
Shw estratificação cruzada lenticulares; 50 durante eventos
hummocky. a 75 cm de de tempestades.
espessura.
Camadas
Deposição por
Pelito, maciço, textura tabulares; 25 cm
Fsm blocky. a 3,5m de
decantação
externos ao canal.
espessura.
Camadas
Deposição por
Acamamento tabulares; 15 cm
Hf tração e
heterolítico flaser. a 1,3m de
suspensão.
espessura.
Camadas
Acamamento Deposição por
tabulares; 15 a
Hw heterolítico tração e
30 cm de
ondulado (wavy). suspensão.
espessura.
cruzada assimétrica (fácies Sr), cruzada acanalada (fácies St), heterolitos wavy (fácies Hw) e
flaser (fácies Hf). Estes pacotes são sucedidos por arenito fino com laminação cruzada
assimétrica (Sr), com direção WNW, arenito fino com laminação plano-paralela (fácies Sh) no
topo. Estes arenitos são sucedidos por heterolíticos (fácies Hw e Hl) compostos de arenitos
finos e pelitos (fácies Fsm e Fl), tabulares a lenticulares de 20 cm a 1 m de espessura e
extensão lateral de 30m (Figura 26B). Pelito maciço (fácies Fsm) geralmente ocorre no topo
dos ciclos, compondo uma sucessão de 20m. Na base ocorrem pelitos (Figuras 26B e 26C)
maciços, friáveis (blocky) com fraturas preenchidas por óxido de ferro e o topo limitado por
uma superfície erosiva (Figura 26F).
Interpretação: Planícies de inundação constituem regiões de baixa expressão topográfica
e caracterizadas pela abundância de sedimentos de granulação muito fina em relação aos
grossos. Constituem diversos subambientes de sistemas deposicionais cuja dinâmica
sedimentar é controlada especialmente pelo clima (Miall, 1996). As camadas de arenito muito
fino são sucedidas por estratos heterolíticos lateralmente extensos, com arquitetura tabular a
lenticular, que permitem interpretar esta associação como correspondente a depósitos de
planície de inundação. O caráter relativamente plano da superfície deposicional e a
variabilidade considerável de fácies refletem contínuas mudanças no processo de
sedimentação (Scherer, 2008). Este processo é indicado pela presença de superfícies
limítrofes de 2a ordem (Miall, 1996) nas camadas de arenitos médios a finos (litofácies Sl, Sr,
Sh, St, Hw e Hf: Figura 25D). O conjunto de pacotes é limitado por superfícies de 4a ordem
(Figuras 26B e 27C), que limita depósitos de rompimento de diques marginais (crevassa),
compondo o elemento arquitetural CS, desenvolvido por espraiamento sobre a planície de
inundação (Aslan e Blum, 1999). Estes depósitos são formados durante aumento substancial
da carga fluvial confinada ao canal, que geralmente é desencadeado durante evento de
enchentes episódicas. Depósitos de crevassa se acunham lateralmente na forma de lençóis e
são separados dos sedimentos finos da planície de inundação (FF). A planície de inundação
inclui sedimentos acumulados por suspensão (litofácies Fsm, Fl, Hl e Hw) e geralmente são
extensos lateralmente. Os ciclos de granodecrescência ascendentes, conforme podem ser
vistos nas Figuras 25B e 25E representam distintos episódios de inundação (Mial, 1996).
53
Figura 26 – (A) Perfil litoestratigráfico com as associações de fácies AF1 e AF2; (B) visão panorâmica do
afloramento que exibe nítido aumento ascendente dos pacotes de arenitos, formando ciclos
granodecrescentes ascendentes, com elementos arquiteturais e superfícies limítrofes; (C) detalhe de pelito
com textura blocky (paleosolo); (D) arenito médio a fino exibindo uma intergradação de fácies separadas
por superfícies de 2ª ordem; (E) ciclos granodecrescentes ascendentes, característicos de planícies de
inundação, interpretado como sucessivos eventos de inundação; (F) contato erosivo entre a AF1 e AF3,
que pode ser traçado por vários metros.
54
Figura 27 – (A) Perfil litoestratigráfico da associação de fácies de planície de inundação; (B) arenito
fino com estratificação cruzada acanalada de pequeno porte; (C) foto de detalhe na qual é possível
observar os elementos CS e FF limitados por uma superfície de 4ª ordem; e (D) heterolito wavy.
cruzada assimétrica (Sr) que sucedem pacotes de arenito da fácies Sm. Esta litofácies é
limitada por superfícies planas que mergulham paralelamente a extensão da camada.
Interpretação: Depósitos de preenchimento de canais são geralmente caracterizados pela
predominância de pacotes de arenito grosso, com gradação normal muito bem desenvolvida.
Os estratos desenvolvem geometria lenticular tendo a base côncava erosiva e topo plano, que
sugere fluxo canalizado. A superfície basal dos depósitos de preenchimento de canal é
definida como uma superfície limítrofe de 5a ordem, pois delimita corpos arenosos de canais
principais, indicando incisão do canal fluvial, colocando em contato os elementos
arquiteturais CH e FF. O elemento CH, por sua vez, apresenta em direção ao topo e
lateralmente uma superfície de 4a ordem que aparece inclinada em direção ao centro do canal,
transversalmente ao sentido de migração das formas de leito, definindo o contato com o
elemento LA que, internamente, apresenta superfícies de 3a ordem que representam a
migração de barras de acresção lateral (barras em pontal) dentro do canal (CH), e podem
ocorrer devido às mudanças no padrão das barras relacionadas à instabilidade do fluxo
associadas a irregularidades do leito do canal fluvial ou à reorganização do fluxo durante
períodos de enxurradas (Scherer, 2008). Os pacotes de arenito maciços, que compreendem o
elemento CH, são formados por fluxos concentrados de densidade (Mulder & Alexander,
2001) e/ou de fluxos arenosos densos (Sandy dense flows) sensu Tinterri et al. (2003).
56
Figura 28 – (A) Perfil litoestratigráfico da associação de fácies de preenchimento de canal (AF2); (B)
foto panorâmica mostrando a geometria das camadas, elementos arquiteturais e superfícies limítrofes;
(C) arenito grosso maciço, elemento CH; (D) foto de detalhe do contato entre os elementos
arquiteturais LA e FF; (E) intergradação de fácies, exibindo inclusive estruturais deformacionais,
característicos do elemento arquitetural CS; (F) heterolito wavy; (G) heterolito flaser; e (H) marcas de
folha preservadas sobre o acamamento de arenito da litofácies Hf.
Descrição: A associação é constituída pelas litofácies Sm, Sh, St, Sp, Sr, Ss, Sp, Hf, Hw e
Fsm (Figura 29A) que compõem uma sucessão de pacotes de arenitos, com gradação normal,
geometria tabular e lenticular, possuindo extensão lateral de mais de 100 m e espessura de
mais de 10 m. Geralmente, apresentam base e topo erosivos, suavemente ondulados,
formando ciclos granodecrescentes ascendentes (Figura 29B). A porção basal de cada ciclo é
constituída de arenito grosso, com gradação normal (litofácies Sm, St e Sp), as vezes com
57
clastos grosseiros na base (lags residuais), sucedidos por arenito médio a fino, muitas vezes
sem gradação aparente (litofácies Sp, Sr, Ss, Hf e Hw), indicando paleocorrente para WSW, e,
subordinadamente, pela fácies Fsm, que aparece limitando os pacotes de arenitos (Figura
29C). Superfícies erosivas internas e externas aos estratos são comuns, sendo observadas em
toda a sucessão.
Interpretação: Ambiente com canais entrelaçados produzem depósitos arenosos a
conglomeráticos com geometria em lençol e uma história de preenchimento complexa e
diversificada, com restrição de depósitos de planície de inundação (Scherer, 2008). Na
sucessão estudada, os arenitos grossos a finos, com geometria tabular e lenticular, ou em
lençol, definem o elemento arquitetural SB composto de estruturas trativas unidirecionais de
barras com acresção frontal (DA) e lateral (LA) (Figuras 29C, D e E), internamente com
superfícies de 3a ordem. Estas superfícies têm aspecto erosivo, que indicam processo de
reativação associada à mudança na velocidade do fluxo (Scherer, 2008). Esse elemento
arquitetural [SB] é limitado por superfícies de 4a ordem, que o colocam em contato com o
elemento DA, caracterizado pela presença de superfícies de 3a ordem, que truncam estratos
subjacentes (Figura 29D). A ocorrência de filmes ou (intraclastos) carbonosos nestes estratos
ou sobre as superfícies de 3ª ou 4ª ordem sugerem retrabalhamento de depósitos de planície de
inundação. O espessamento vertical e ascendente das camadas de arenito reflete aumento no
espaço de acomodação e no aporte sedimentar, com aumento da dinâmica sedimentar que é
atestada pela abundância de superfícies de 3a ordem. Esta associação de fácies é limitada no
topo por uma superfície erosiva, de alto relevo, que a coloca em contato abrupto com
associação de fácies deltaica (AF4, Figuras 29A e 29F).
58
Figura 27 – (A) perfil litoestratigráfico da associação de fácies de canais entrelaçados (AF3; Membro
Triunfo, Formação Rio Bonito); (B) foto de afloramento mostrando os ciclos granodecrescentes
ascendentes, os elementos arquiteturais e as superfícies limítrofes; (C) Elemento de acresção frontal
(DA) camadas arenitos finos com estratificação cruzada tabular (Sp), limitadas por superfícies de 3ª
ordem, e com filmes carbonosos recobrindo as superfícies; (D) arenito fino com estratificação cruzada
assimétrica (Sr) e arenito fino com estratificação sigmoidal (Ss) - elemento de acresção lateral (LA) ? -
com superfícies de 3ª ordem; (E) foto de detalhe de arenito fino de litofácies Sp; e (F) foto de
afloramento mostrando a superfície erosiva de alto relevo, com crosta laterítica, que limita a AF3 da
AF4.
59
Descrição: Esta associação de fácies é constituída pelas litofácies Gmg, Sh, Sr, So, Sp, Sl,
Sm, Hl, Hf, Hw, Fsm e Fl. Forma uma sucessão de 23 m de altura por de 60 m, caracterizada
por pacotes lenticulares e sigmoidais de conglomerados, arenitos e heterolitos, limitada na
base por uma superfície erosiva (Figura 30B).
Ciclos granocrescentes ascendentes exibem padrão de espessamento ascendente. Os
conglomerados intraformacionais são matriz-sustentados, com clastos de pelito em matriz
arenosa (Gmg, Figura 30C), que são sucedidos por arenito grosso a fino lenticulares com
laminação plano-paralela (Sh), cruzada de corrente (ripples) e cruzada cavalgante (climbing
ripples – Sr, Figura 30G), com sentido para SSE ou W. Ocorrem arenitos com estratificação
ondulada simétricas (So), estratificação cruzada tabular com terminação tangencial (Sp) e
estratificação cruzada de baixo ângulo (Sl, Figura 30G).
Arenito maciço (Sm) e heterolitos linsen (Hl, Figura 29F), flaser (Hf), wavy (Hw), pelitos
maciço (Fsm) e laminado (Fl) formam pacotes amalgamados. Arenitos lenticular ou
sigmoidal apresentam superfícies de reativação (Figura 30E), e configuram acamamentos
ondulados do hummocky (λ > 1 m; Figura 31). Os heterolitos geralmente são lenticulares e,
em alguns casos, apresentam estruturas de carga (Figura 30D e 30I). Os conglomerados
intraformacionais aparecem também em direção ao topo da sucessão, e apresentam grandes
clastos de arenitos subangolosos a subarredondados (Figura 30H).
Interpretação: A ocorrência de uma sucessão lateralmente contínua de arenitos e pelitos
amalgamados (litofácies Sh, Sr, So, Sp, Sl, Sm, Hl, Hf, Hw, Fsm e Fl) e paraconglomerados
monomíticos, com abundantes clastos de pelito e arenitos subangulosos a subarredondados, a
presença de estruturas como a estratificação cruzada do tipo hummocky-swaley (HCS),
permitem interpretar essa associação de fácies como depósito deltaicos, influenciados por
tempestades e fluxos hiperpicnais. Arenitos grossos representam sedimentação por fluxo
unidirecional concentrado, provavelmente, proveniente das regiões de desembocaduras dos
rios, que ocorrem durante eventos catastróficos (Mulder & Syvitsky, 1995). Myrow, Fischer e
Goodge (2002) argumentam que a maior parte dos sedimentos que chegam à região distal do
delta durante eventos de alta descarga fluvial e tempestades. Os heterolitos indicam deposição
durante de baixa energia após a passagem de ondas de tempestades ou período de baixa vazão
fluvial. Os conglomerados intraformacionais representam ressedimentação causada por
eventos de tempestades, que gera correntes de alta energia.
60
Figura 3028 – (A) perfil litoestratigráfico da associação de fácies de frente delta de cabeceira; (B)
superfície erosiva basal sobreposta por conglomerados, arenitos e pelitos, com granodrescência
ascendente; (C) paraconglomerado intraformacional com clastos de pelito, subangulosos e
subarredondados, e matriz arenosa (Gmg); (D) arenito fino com estratificação cruzada simétricas (So)
sobreposto a heterolito linsen (Hl) com estrutura de carga; (E) arenito fino/pelito com acamamento
heterolítico wavy (Hw) com truncamento erosivo; (F) heterolito linsen (Hl); (G) arenito médio com
estratificação cruzada de baixo ângulo (Sl) na base e arenito médio com climbing-ripples e
recobrimentos argilosos nos foresets no topo; (H) paraconglomerado intraformacional com clastos de
arenito subangulosos (Gmg); (I) heterolito linsen na base e arenito médio com laminação planar-
paralela (Sh) e estrutura de carga no topo; e (J) arenito médio com estratificação cruzada assimétrica
(Sr) com mud drapes. (Membro Paraguaçu/Formação Rio Bonito).
61
Descrição: Esta associação é constituída pelas litofácies Sr, Hl, Fl e Fsm (Figura 32A),
que compõem uma sucessão de camadas tabulares com aproximadamente 5 m de espessura,
por algumas dezenas de metros de extensão lateral. Formam sucessões cíclicas
granocrescentes ascendentes entre pacotes de arenitos finos (Sr) (Figura 32B), com laminação
cruzada que apresentam recobrimento argiloso nos foresets, e heterolitos (Hl, Figura 32D),
além de pelitos cinza escuro, laminados a maciços (Fl e Fsm), que geralmente predominam
para o topo, com nítido adelgaçamento ascendente das camadas de arenitos.
Interpretação: Depósitos de baía central representam a porção central em um ambiente
estuarino, onde ocorre a convergência da carga fluvial com a carga marinha. Por isso, os
depósitos de baía central desses ambientes são caracterizados por apresentar a porção de
menor energia de um sistema estuarino, consequentemente, apresenta sedimentos mais finos
(Rossetti, 2008). O predomínio das litofácies Fsm, Fl e Hl, indica sedimentação por suspensão
em áreas restrita e protegida, com baixa energia, de um sistema estuarino. Arenitos finos, com
62
laminação cruzadas por corrente (ripples) e cavalgante (climbing ripples), indicam processos
de sedimentação por tração em regime de mais alta energia.
Figura 30 – (A) perfil litoestratigráfico da associação de fácies de preenchimento de baía central, canal
de maré e barra de maré; (B) foto de afloramento das associações AF5, AF6 e AF7; (C) arenito fino
com estratificação cruzada assimétrica cavalgante (Sr); (D) arenito fino com estratificação cruzada
assimétrica (Sr) intercalado com heterolito linsen (Hl); (E) heterolito linsen (Hl) com gretas de
dessecação; arenito fino com acamamento flaser (Hf) e estrutura de deformação do tipo slump.
(Membro Paraguaçu/Formação Rio Bonito).
64
Figura 31 – Vista panorâmica dos depósitos estuarinos dominados por maré: associações de canal de
maré (AF6) e de barras de maré (AF7). Notar a disposição oposta dos estratos cruzados das barras de
maré. (Membro Paraguaçu/Formação Rio Bonito).
Descrição: A associação AF8 compreende as litofácies Sh, Sl, Shw, Sr, So, Hw e Hf
(Figura 34A) que constituem camadas tabulares e lenticulares, com base e topo planos (ou
levemente convexo), internamente sem gradação aparente. Compõem uma sucessão de
aproximadamente 4,5 m de espessura por 20 m de extensão lateral. Arenitos médios (com
65
litofácies Sh, Sl, Shw, Sr, So e Hf), são bem selecionados e encontram-se sobrepostos por
arenitos finos bem selecionados (com litofácies Shw, Sr, Hf e Hw). A estrutura mais evidente
dessa sucessão de fácies é a estratificação cruzada do tipo hummocky-swaley (Figura 34B) de
grande porte (> 1,5m). Esporadicamente, podem ocorrer finas camadas (< 2 cm) de pelito
maciço que limitam os pacotes.
Interpretação: A associação de litofácies apresenta características de ambiente de fácies
litorânea inferior à média, sujeito a ação das ondas de tempo e de tempestade. Estes depósitos
na região estudada exibem estruturas de fluxo combinado que envolve um componente de
corrente unidirecional e oscilatório (litofácies Sr e litofáceis So) muito bem preservadas,
associadas a estratificação cruzada hummocky e swaley, que são as feições mais importantes
nestes depósitos, que atestam a influência de tempestades nestes depósitos em âmbito marinho
(Snedden & Nummedal 1991, Walker & Plint 1992). Momentos de baixa energia
deposicional são indicados pela litofácies Hw e Hf (Figuras 34 D e 35 E).
Figura 32 – (A) perfil litoestratigráfico da associação de fácies de face litorânea superior (AF 8),
laguna (AF 9) e leque de lavagem (AF 10); e (B) foto panorâmica mostrando a geometria dos corpos
arenosos e pelíticos litorâneos. (Membro Siderópolis/Formação Rio Bonito).
Descrição: Essa associação de fácies é composta pelas litofácies Hl e Sr, que constitui
pacotes lenticulares, com cerca de um metro de espessura e 15 m de extensão lateral,
compondo acamamento heterolítico linsen, ricos em matéria orgânica e nódulos diagenéticos
de pirita (Figura 34A). A base destes depósitos, geralmente, é plana e topo suavemente
66
Descrição: Essa associação de fácies é constituída pelas litofácies Ss, Sl, Sh e Sp, que
formam camadas tabulares, com aproximadamente 3 m de espessura e algumas dezenas de
metros de extensão lateral, com base suavemente ondulada e topo plano, internamente sem
gradação aparente, que aparecem no topo da sucessão. A aparecimento de mud drapes é
restrita à litofácies Ss (Figuras 35F e 35G), embora finas lâminas de pelitos possam ocorrer
limitando os pacotes.
67
Interpretação: A face praial é normalmente definida como a parte emersa da praia onde
ocorre o espraiamento das ondas devido à diminuição da profundidade, e está situada entre o
nível de baixa-mar e preamar. Camadas tabulares, de arenitos médios bem selecionados, com
laminações sigmoidal, baixo-ângulo e plano-paralela, que possuem sets com baixa inclinação
(Figura 35G) atestam depósitos de face praial. Recobrimento argiloso em estratos cruzados
por correntes (mud drapes) indicam a presença de sedimentos em suspensão na coluna
d´água.
Figura 346 - Perfis estratigráficos, associação de fácies e sistemas deposicionais descritos nos
afloramentos BP-06 e BP-08.
Este sistema fluvial ocorre imediatamente sobre o Membro Rio do Sul, limitado na
base pelo LS (Figura 36) e apresenta espessura de aproximadamente 20 m e extensão lateral
maior que 30 m. É formado por arenitos grossos, maciços e estratificados, na forma de
camadas vertical e lateralmente complexas, que sugerem deposição em condições de maior
energia, e baixo potencial para preservação de depósitos de planície de inundação. Superfícies
de 3a e 4 a ordem indicam a diminuição da baixa taxa de criação de espaço de acomodação,
condizente com a os estágios finais de queda no nível relativo do mar. Neste contexto, podem
se desenvolver canais entrelaçados com alta carga de fundo, variabilidade na descarga e
facilidade de erosão dos bancos arenosos Schumm (1963, 1981).
70
com o ambiente marinho através de canais de maré, que, eventualmente sofreram influência
de tempestades, provocando a deposição de conglomerados intraformacionais.
Essa unidade estratigráfica interpreta é correlata ao Membro Paraguaçu (Formação Rio
Bonito), que cobre o ambiente flúvio-deltaico da Formação Rio do Sul, marcando uma fase de
afogamento generalizado.
O sistema de ilha barreira compreende as associações fácies litorânea superior (AF8),
laguna (AF9), leque de lavagem (AF10) e praial (AF11), tendo aproximadamente 12,5 m de
espessura por 30 m de extensão lateral. A geometria dos pacotes revelam a disposição de
arenitos, pelitos e heterolitos na forma de camadas tabulares, ou lenticulares. A base de toda a
sucessão é suavemente ondulada, evidenciando o contato entre sistema deposicional de ilha
barreia e o sistema fluvial entrelaçado (registrado apenas no afloramento BP-08). Este sistema
de ilha barreira encontra-se associado a depósitos de laguna, leque de lavagem, delta de maré
enchente e maré vazante, face praial (foreshore) e face litorânea (shoreface). O ambiente de
laguna apresenta-se restrito aos ambientes de canais de maré, muito embora em estuários
mistos, a comunicação com o ambiente marinho seja maior. Nas porções da laguna mais
próximas a ilha barreira, no entanto, ocorre a entrada de sedimentos arenosos proveniente da
barreira, representativos de durante eventos de tempestades e/ou fortes ventos (Weise e
White, 1980).
Já na região da barreira voltada ao mar aberto, os processos marinhos são mais notáveis,
sendo semelhantes aos ambientes costeiros e praiais abertos, como os da região de face praial,
face litorânea intermediária/inferior. Na área estudada, é possível observar o aparecimento de
alguns elementos que permitiriam interpretar esses depósitos como de sistemas de ilha
barreira. Conforme pode ser visto na Figura 36, há uma sucessão entre os elementos de face
litorânea superior, laguna central, leque de lavagem (washover fan), e face praial (foreshore),
que geralmente formam ciclos de granodecrescência ascendente, exceto quando há a
“progradação” dos depósitos de washover sobre os depósitos de laguna central.
A bioturbação é relativamente escassa, mas está presente, principalmente nos arenitos
finos associados aos depósitos de leque de lavagem e face praial. Nesta mesma figura, é
possível observar o onlap costeiro sobre os depósitos de shoreface.
O sistema estuarino lagunar-barreira, definido neste trabalho, foi desenvolvido durante o
período de subida do nível de base (Trato de Sistema Transgressivo: TST), estando limitado
na base pela superfície transgressiva (ST) que o coloca em contato com o TSNB (Membro
Triunfo). Os fatores alogênicos que mais influenciam a deposição deste trato de sistema são o
clima e eustasia, marca do final da glaciação no Eo-permiano.
73
7. CONCLUSÕES
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AINSWORTH, R. B.; PATTISON, S.A. Where have all the lowstands gone? Evidence for
attached lowstand systems tracts in the Western Interior of North America. Geology, V.
22, p. 415-418, 1994.
ASLAN, A.; BLUM, M.D. Contrasting style of Holocene avulsion, Texas Gulf Coastal Plain,
USA. In: Smith N.D. & Rogers J. (eds.) Fluvial Sedimentology VI. Oxford, Blackwell, p.
193-209, 1999.
BATES, R.L.; JACKSON, J.A. Glossary of Geology (Third Edition). American Geological
Institute, Washington, D.C. p. 788, 1987.
CAPUTO, M.V.; CROWELL, J.C. Migration of glacial centers across Gondwana during
the Paleozoic Era. Geological Society of America Bulletin, v. 96, p.1020-1036, 1985.
CAPUTO, M.V., MELO, J.H.G., STREEL, M., and ISBELL, J.L. Late Devonian and Early
Carboniferous glacial records of South America. Geological Society of America Special
Papers, v. 441, p. 161-173, 2008.
CASTRO, J.C.; BORTOLUZZI, C.A.; CARUSO Jr., F.; KREBS, A.S. Coluna White:
Estratigrafia da Bacia do Paraná no Sul do Estado de Santa Catarina – Brasil.
Florianópolis: Secretaria de Estado de Tecnologia, Energia e Meio Ambiente. 1 v. (Séries
Textos Básicos de Geologia e Recursos Minerais de Santa Catarina, 4). 1994.
CHURCH, K.D.; COE, A. L. Processes controlling relative sea-level change and sediment
supply. In: COE, A. L.; BOSENCE, D.W.J.; CHURCH, K.D.; FLINT, S.S.; HOWELL, J. A.;
WILSON, R. C. L (eds.). The Sedimentary record of sea-level change. Cambridge, UK:
Cambridge University Press and the Open University, 2003.
COE, A. L.; CHURCH, K.D. Sequence Stratigraphy. In: COE, A. L.; BOSENCE, D.W.J.;
CHURCH, K.D.; FLINT, S.S.; HOWELL, J. A.; WILSON, R. C. L (eds.). The Sedimentary
record of sea-level change. Cambridge, UK: Cambridge University Press and the Open
University, 2003.
DALRYMPLE, R. W.; ZAITLIN, B. A.; BOYD, R. (Eds.). Incised Valley Systems: Origin
and Sedimentary Sequences. SEPM Special Publication 51, p. 391, 1994.
ELLIOT, T. Deltas. In: READING, H.G. (ed.). Sedimentary environments and facies.
Oxford, Blackwell Scientific Publications, p. 113-154, 1986.
FAIRBRIDGE, R. W. The estuary: its definition and geodynamic cycle. In: OLAUSSON, E.;
CATO, I. (eds.). Chemistry and Biochemistry of Estuaries. New York, Wiley, p. 1-35,
1980.
FISHER, W.L.; MCGOWEN, J.H. Depositional systems in the Wilcox group of Texas and
their relationship to occurence of oil and gas. Gulf Coast Association Geological Society,
Transactions 17, p. 105-125, 1967.
FISHER, J.J.; SIMPSON, E.J. Washover and tidal sedimentation rates as environmental
factors in development of a transgressive barrier shoreline. In: Barrier Islands from the
Gulf of St. Lawrence to Gulf of Mexico, Leatherman, S.P. (eds.). Academic Press, New
York, NY. p. 127-148, 1979.
HOFFMAN, P.F. Precambrian geology and tectonic history of North America. In: BALLY,
A.W; PALMER, A.R. (eds.) The geology of North America – an overview. Boulder,
Geological Society fo America, v. A, p. 447-512. (Chapt. 16), 1989.
GALLOWAY, W.E. Process framework for describing the morphological and stratigraphic
evolution of deltaic depositional systems. In: BROUSSARD, M.L. (ed.). Deltas. 2nd Ed.
Houston Geol. Soc., Houston, Texas, p. 87-98, 1975.
HALLAM, A. The case for sea-level change as a dominant causal factor in mass
extinction of marine invertebrates. Phil. Trans. Royal Soc. B 325: 437-455, 1983.
HOLZ, M.; FRANÇA, A. B.; SOUZA, P.A.; IANNUZZI, R.; ROHN, R. A stratigraphic
chart of the Late Carboniferous/Permian succession of the eastern border of the Paraná
Basin, Brazil, South America. Journal of South American Earth Sciences. v. 29, n. 2, p. 381-
399, 2010.
JERVEY, M.T. Quantitative geological modeling of siliciclastic rock sequences and their
seismic expression. In: WILGUS, C.K.; HASTING, B.S.; KENDALL, C.G.St.C.;
POSAMENTIER, H.W.; ROSS, C.A.; Van Wagoner, J.C. (eds.). Sea-level changes: an
integrated approach. Tulsa, O.K., Society of Economic
Paleontologists and Mineralogists, Special Publication No. 42, p. 47-69, 1988.
KLEIN, G.D. Intracratonic basins. In: BUSBY, C.J.; INGERSOLL, R.V. (eds.). Tectonics of
sedimentary basins. Blackwell Science, Cambridge, p. 459-478, 1995.
LEIGHTON, M.W.; KOLATA, D.R. Selected interior cratonic basin and their place in the
scheme of global tectonics – a synthesis. In: LEIGHTON, M.W.; KOLATA, D.R.; OLTZ,
D.F.; EIDEL, J.J. (eds.) Interior cratonic basins. Tulsa, AAPG Memoir 51, p. 729-797,
1990.
LOUTIT, T.S.; HARDENBOL, J.; VAIL, P.R.; BAUM, G.R. Condensed sections: the key to
age-dating and correlation of continental margin sequences. In: WILGUS, C.K.; HASTINGS,
B.S.; KENDALL, C.G.St.C.; POSAMENTIER, H.W.; ROSS, C.A.; VAN WAGONER, J.C.
(eds.). Sea Level Changes––An Integrated Approach. V. 42. SEPM Special Publication,
pp. 183–213, 1988.
MARQUES, A.; ZANOTTO, O.A.; FRANÇA, A.B.; ASTOLFI, M.A.M.; PAULA, O.B.
Compartimentação tectônica da Bacia do Paraná. PETROBRAS – Núcleo de Exploração da
Bacia do Paraná, Curitiba, p. 87 (Rel. Int.), 1993.
MIALL A.D. Alluvial deposits In: Walker R.G & James N.P. (eds) Fácies models: response
to sea level change. St. John's, Geological Association of Canada, p. 119-142, 1992.
MIALL, A. D. The Geology of fluvial deposits: sedimentary facies, basin analysis, and
petroleum geology. Springer Verlag, Berlim, p. 582, 1996.
MILANI, E.J. Comentários sobre a origem e a evolução tectônica da Bacia do Paraná. In:
MONTESSO-NETO, V., BARTORELLI A., CARNEIRO C.D.R., BRITO-NEVES B.B.
Geologia do Continente Sul-Americano – evolução da obra de Fernando Flávio Marques
de Almeida. Ed. Becca, p.265-279, 2004.
MILANI, E.J.; MELO, J.H.G.; SOUZA, P.A.; FERNANDES, L.A.; FRANÇA, A.B. Bacia do
Paraná. In: MILANI, E.J.; RANGEL, H.D.; BUENO, G.V.; STICA, J.M.; WINTER, W.R.;
CAIXETA, J.M.; PESSOA NETO, O.C. (Eds.). Bacias Sedimentares Brasileiras - Cartas
Estratigráficas. Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, 15(2): 265-287, 2007.
MITCHUM, R.M. Jr.; VAIL, P.R.; THOMPSON, S. Seismic stratigraphy and global
changes of sea level: Part 2, The depositional sequence as a basic unit for stratigraphic
analysis: AAPG Memoir 26, p. 53-62, 1977.
NIO, S. D.; YANG, C. Diagnostic atributes of clastic tidal deposits: a review. In: Rahmani, R.
A. (ed.) Clastic tidal sedimentology. Calgary, Canadian Society of Petroleum Geologists,
(Memoir 16), 3-28, 1991.
PEREIRA, E.; CARNEIRO, C.R.; BERGAMASCHI, S.; ALMEIDA, F.F.M. Evolução das
sinéclises paleozóicas: Províncias Solimões, Amazonas, Parnaíba e Paraná. In: HASUI, Y.;
CARNEIRO, C.R.; ALMEIDA, F.F.M.; BARTORELLI, A. (eds.) Geologia do Brasil,
Editora Beca, São Paulo. p. 392-421, 2012.
POSAMENTIER, H.W.; JERVEY, M.T.; VAIL, P.R. Eustatic controls on clastic deposition.
I. Conceptual framework. In: WILGUS, C.K.; HASTINGS, B.S.; KENDALL, C.G.St.C.;
POSAMENTIER, H.W.; ROSS, C.A.; VAN WAGONER, J.C. (Eds.). Sea Level Changes––
An Integrated Approach. V. 42. SEPM Special Publication, p. 110– 124, 1988.
POSAMENTIER, H.W.; MORIS, W.R. Aspects of the stratal architecture of forced regressive
deposits. In: HUNT, D.; GAWTHORPE, R.L. (eds.) Sedimentary Responses to Forced
Regressions. Geological Society of London, Special Publication 172, p. 19-46, 2000.
RAMOS, V. A.; JORDAN, T. E.; ALLMENDINGER, R. W.; MPODOZIS, C.; KAY, J. M.;
CORTÉS, J. M.; PALMA, M. Paleozoic terranes of the central Argentine-Chilean Andes.
Tectonics, Washington, v. 5, n. 6, p. 855-880, 1986.
REINSON, G.E. Transgressive barrier island and estuarine systems. In: WALKER, R.G.;
JAMES, N.P. (eds) Facies models: response to sea level change. Geological Association of
Canada, pp. 1-14, 1992.
SCHUMM, S.A. Evolution and response of the fluvial system: sedimentological implication.
In: ETHRIDGE, F.G. & FLORES, R. (eds.). Recent and ancient non-marine depositional
environments: models for exploration. Tulsa, SEMP. p. 19-29. (Society of Economic
Paleontologists and Mineralogists, Special Publication 31, 1981.
SLOSS, L.L.; KRUMBEIN, W.C.; DAPPLES, E.C. Integrated facies analysis. In: Longwell,
C.R. (Ed.). 1949. Sedimentary facies in geologic history. Geological Society of America
Memoir, 39:91-124, 1949.
SLOSS, L.L. Sequences in the cratonic interior of North America. Geological Society of
America Bulletin, v. 74, p. 93–114, 1963.
81
TINTERRI R., DRAGO M., CONSONNI A., DAVIOLI G., MUTTI E. Modelling
subaqueous bipartide sediment gravity flows on the basis of outcrop constraints: first
results. Marine and Pretoleum Geology, 20: 911-933, 2003.
VAIL, P. R.; TODD, R. G.; SANGREE, J. B. Seismic Stratigraphy and Global Changes of
Sea Level: Part 5. Chronostratigraphic Significance of Seismic Reflections: Section 2.
Application of Seismic Reflection Configuration to Stratigraphic Interpretation Memoir 26, p.
99 – 116, 1977.
VAN WAGONER, J.C., POSAMENTIER, H.W., MITCHUM, R.M., VAIL, P.R., SARG,
J.F., Loutit, T.S., Hardenbol, J. An overview of sequence stratigraphy and key definitions. In:
WILGUS, C.K., HASTINGS, B.S., KENDALL, C.G.St.C., POSAMENTIER, H.W., ROSS,
C.A., VAN WAGONER, J.C. (eds.). Sea Level Changes––An Integrated Approach, vol.
42. SEPM Special Publication, pp. 39–45, 1988.
WALKER, R.G. Facies, facies models and modern stratigraphic concepts. In: WALKER,
R.G.; JAMES, N.P. (eds.). Facies models: Response to Sea Level Change. Geological
Association of Canada, pp. 1-14, 1992.
WALKER, R.G.; PLINT, A.G. Wave and storm dominated shallow marine system. In:
WALKER, R.G.; JAMES, N.P. (eds.) Facies models - response to sea level change.
Geological Association of Canada, p. 219-238, 1992.
WEISE, B.R.; White, W.A. Padre Island National Seashore, Guidebook 17. University of
Texas, Bureau of Economic Geology, 1980.
WHITE, I.C. Relatório final da Comissão de Estudos das Minas de Carvão de Pedra do
Brasil. Rio de Janeiro: DNPM, 1988. Parte I, p.1-300 ; Parte II, p. 301-617. (ed. Fac-similar),
1908.
82
ZALÁN, P.V.; ASTOLFI, M.A.M.; VIEIRA, I.S.; CONCEIÇÃO, J.C.N.; NETO, E.V.S.;
MARQUES, A. The Paraná Basin, Brazil. In: LEIGHTON, KOLATA, OLTZ, EIDEL (eds.)
Interior cratonic basins. Tulsa, American Association of Petroleum Geologists, AAPG
Memoir 51, p. 681-708, 1990.
ZALÁN, P.V.; WOLFF, S.; CONCEIÇÃO, J.C.J.; ASTOLFI, M.A.M.; VIEIRA, I.S.; APPI,
V.T.; ZANOTTO, A.; MARQUES, A. Tectonics and sedimentation of the Paraná Basin. In:
Gondwana Seven Proceedings. São Paulo, Instituto de Geociências – USP, p. 83-117, 1991.