Gercia Projeto
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Análise do uso dos advérbios interrogativos Onde e Aonde: Caso dos Alunos da 10ª
Classe da Escola Secundária Acordos de Lusaka.
2023
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Gércia Cuna
Análise do uso dos advérbios interrogativos Onde e Aonde: Caso dos Alunos da 10ª
Classe da Escola Secundária Acordos de Lusaka
2023
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Introdução
O Português em Moçambique é L2 para a maioria da população, que tem uma língua Bantu
como L1. Assim sendo, o Português falado neste país possui regras e traços gramaticais distintos
do Português Europeu (PE); como consequência, muitos locutores têm «competências
múltiplas5», sendo o seu discurso gerado por traços e regras comuns às do PE, mas também
próprios da «nova» gramática, por tanto o conhecimento das regras linguísticas constitui uma das
componentes fundamentais do processo de aquisição das competências linguísticas de qualquer
indivíduo, tendo em vista a integração plena na comunicação e na escrita. Advérbios
interrogativos, por sua vez, são um dos elementos que proporciona ao aluno competências, que
servirão de referência para à sua conduta, e no seu desenvolvimento intelectual no que diz
respeito à língua. Por tanto há necessidade de abordar-se profundamente o uso de advérbios
interrogativos.
Neste contexto a presente pesquisa intitulada Análise do uso dos advérbios interrogativos Onde e
Aonde: caso dos alunos da 10ª Classe da E.S. Acordos de Lusaka. Faz uma abordagem sintáctica
dos advérbios interrogativas comparando o uso de aonde e onde pelos alunos da escola em
estudo, onde pretende avaliar o uso de advérbios interrogativos onde e aonde pelos alunos da 10ª
Classe na E.S. Acordos de Lusaka, uma vez que é recorrente a confusão no uso destes dois
advérbios assim como ilustram os casos a seguir:
*Estás aonde?
*Hoje é aonde?
Geral
Analisar o uso dos advérbios interrogativos onde e aonde nos alunos da 10ª Classe da
Escola Secundária de Lusaka.
Específicos
Recolher construções com advérbios interrogativos produzidas pelos alunos da 10ª classe
da Escola Secundária Acordos de Lusaka;
Descrever as construções produzidas pelos alunos contendo Advérbios Interrogativos;
Identificar as estratégias usadas na Construção das frases contendo Advérbios
Interrogativos;
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Relacionar as estratégias do uso de onde e aonde propostas pelos autores com as dos
alunos.
Problematização
Markoni e Lakatos (2003) enfatizam que para ser considerado apropriado, o problema deve ser
analisado sobre seguintes aspectos: viabilidade, relevância, novidade, exequibilidade e
oportunidade.
*Onde vai?
*Estás aonde?
*Vais pra onde?
*Vais dormir aonde?
*Hoje é aonde?
*Vamos curtir aonde?
Diante destas construções discursivas, os falantes têm violado um dos factores responsável pela
coesão textual, gerando através dessa má escolha do advérbio interrogativo aonde que
normalmente ocorre com verbos de movimentos e advérbios interrogativo onde. Portanto, é a
partir destas manifestações linguísticas que a presente pesquisa visa levar a cabo uma
investigação partindo da seguinte questão de partida:
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Hipóteses
H1: Os alunos da 10ª Classe da Escola Secundária Acordos de Lusaka adoptam a sobre-
generalização de uso de advérbios interrogativos
H2: Os alunos da 10ª Classe da Escola Secundária Acordos de Lusaka optam por construções
sem observar nenhuma regra
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Do ponto de vista etimológico, “advérbio”, isto é, ad + verbium (Machado, 1977), é uma palavra
que acompanha o verbo e constitui uma expressão modificadora que por si só denota
determinada circunstância, seja de tempo, lugar, modo ou intensidade, considerando apenas
algumas das mais correntes e, mais ainda, desempenha na oração, genericamente, a função de
adjunto adverbial.
A natureza doo advérbio partindo da gramática tradicional, aponta para ideia de que se trata de
uma classe de palavras que modifica outras classes, em particular o advérbio pode modificar o
verbo, adjectivo e o próprio advérbio conforme Cegalla (2008:259). Nesse sentido há
conformidade entre o que se pode entender por advérbio, pois Terra (1991:56) também aponta de
advérbio como um modificador do adjectivo e do próprio advérbio, exprimindo determinada
circunstância. A expressão modificar uma circunstância aparece também em Becharra
(2009:167), o que é bastante pertinente uma vez que o advérbio é um elemento, que, na oração
pode iniciar diversas circunstâncias de acordo com a sua posição na sentença.
Por outro lado, para Perini (2005:98), a ideia pela expressão modificação merece outros olhares,
pois a simples compreensão de que adverbio modifica outras classes, oriunda da gramática
tradicional é vaga. As vezes uma palavra ou expressão, pode ser classificada como um adverbio,
sem haver sobre ela nenhuma natureza de modificação como se pode perceber em:
Na realidade, conforme Castilho et all (2014: 69) temos um deíctico determinativo, comum
advérbio circunstancial, apresentando uma relação de espaço, movimentando a oração para o
sentido onde a culinária é melhor. Esse deíctico ocupa uma posição argumental e não de
modificação de algum termo na oração. Nesse sentido, conforme o exemplo, as gramáticas
tradicionais apresentam um conceito de advérbio como modificador, mas há casos em que
adverbio parece não estar modificando.
Alem disso, como afirma Becharra (2009:156) o adverbio é uma classe que não modifica apenas
o verbo, adjectivo e o próprio adverbio, mas também o substantivo, como pode ocorrer em:
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Talvez por se tratar de uma classe de palavras com acentuada diferença de uso e, ainda, por ser
flexível sua posição na sentença, se torna mais complicada a sua classificação por uma regra
geral. A sua flexibilidade pode permitir ainda, certa autonomia fonológica, proporcionando
melhor interacção entre o texto e o leitor.
Cunha & Cintra (1984: 154, 342, 539) Morfologia: advérbio de lugar; advérbio interrogativo;
pronome relativo
Bechara (2000: 290, 487) Morfologia: pronome relativo; advérbio interrogativo de base
pronominal Sintaxe: adjunto adverbial de lugar; complemento relativo.
Brito (2003a: 421) Morfologia: advérbio de localização; Sintaxe: constituinte interrogativo e
relativo
Neves (2000: 373, 386) Morfologia: pronome relativo Sintaxe: adjunto ou complemento
adverbial de lugar
Raposo et al. (2013: 2102) Morfologia: advérbio de lugar; advérbio deíctico; pronome relativo
Sintaxe: adjunto adverbial de lugar
Vilela (1999: 223, 225, 242, 248,370) Morfologia: advérbio de lugar; advérbio interrogativo;
advérbio relativo; pronome relativo Sintaxe: adjunto adverbial de lugar
Estão portanto aqui reunidas, além de classificações morfológicas (pronome, advérbio),
classificações sintácticas (adjunto adverbial, complemento relativo),
1.3.Pronome relativo onde e aonde
Pronome relativo, além da sua função pronominal, é conectivo, no sentido de elemento de coesão
que Lopes e Carapinha (2013: 71) atribuem aos conectores, em geral16. Por um lado, serve de
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elemento conectivo entre as orações subordinante e subordinada e, por outro lado, desempenha
uma função sintáctica na oração subordinada a que pertence. A este nível, Casanova (2009: 263)
faz notar a sua função específica de pró-forma1, uma vez que “apresenta sempre remissão
anafórica”.
Tal como outras subclasses de pronomes, também os relativos podem apresentar formas
variáveis/invariáveis e formas simples/compostas. Assim, podemos encontrar as unidades
lexicais do nosso estudo – onde/aonde – entre as formas invariáveis, sendo uma de tipo simples e
outra de tipo composto (aglutinado) (Cunha & Cintra: 2014: 429-430). A classificação de
advérbio relativo que o DT e muitas gramáticas escolares ou mais académicas usam para a
unidade lexical onde, equivale, na verdade, a uma função pronominal. Refiramos, porém, que
esta classificação de onde como advérbio relativo é antiga. No contexto de “Particularidades de
alguns advérbios”, Epifânio da Silva Dias (1918: 177) menciona que o “advérbio relativo onde
pode ter antecedente elíptico: Pô-lo [no lugar] onde eu mandei”. Parece-nos, ainda assim, que se
o advérbio relativo “identifica o constituinte relativizado numa oração relativa” (DT) e marca
uma relação com um antecedente nominal, o seu comportamento é de natureza pronominal.
Alguns dos seguintes exemplos são inspirados em Peres e Móia (1995: 273, 281):
(12) a. Visitei anteontem o rio onde fui baptizado.
b. O Paulo gostou de viver no país onde trabalhou como tradutor.
c. Os livros devem ser arrumados no sítio de onde foram tirados.
Em todos os enunciados de (12), o relativo onde estabelece uma ponte sintáctica entre o
antecedente nominal (nomeadamente, “o rio”, “o país”, “o sítio”) e a oração relativa que, na sua
estrutura de base, seria (12a) “Fui baptizado no rio”, (12b) “O Paulo trabalhou como tradutor no
país” e (12c) “Os livros foram tirados do sítio”. Deste modo, onde substitui na oração relativa o
sintagma nominal antecedente, sendo que, porque incorpora uma ideia de lugar, vai desempenhar
a função de modificador (segundo o DT) ou de complemento circunstancial na oração encaixada.
Sem dúvida que onde/aonde têm natureza adverbial; mas a sua classificação gramatical, quando
aparecem numa oração relativa, poderá ser de pronome, em vez de advérbio.
Na sequência do que dizíamos atrás, Veloso (2013: 2102) caracteriza o relativo onde pelo seu
valor locativo. Segundo a mesma autora, este pronome possui propriedades que implicam
especificidades de uso: por um lado, o seu antecedente (seja explícito ou implícito) tem de
denotar um lugar e, por outro lado, o seu valor semântico é locativo, como referido atrás. O
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pronome relativo onde pode ser empregue sem antecedente expresso (13a). Quando assim é,
vários autores admitem a existência de um antecedente interno, desenvolvendo-se onde em “no
lugar em que”, por comutação. Assim, veja-se (13b), a partir de Peres & Móia (1995: 273):
(13) a. Onde há fumo há fogo.
b. No lugar em que há fumo há fogo.
Onde, neste caso, “tem incorporado um nome nulo. Este nome contém traços como [+ lugar],
que são transmitidos a uma forma abstracta do pronome relativo” (Peres & Móia, 1995: 273). Ou
seja, para os autores, o pronome relativo além de estar “semanticamente dependente de uma
expressão lexical da frase matriz, pode também estar associado a um elemento nulo (Peres &
Móia: 1995: 270) ”, que é o caso do emprego absoluto (13a).
Que onde é locativo e significa “lugar em que” é concepção que vem da tradição gramatical.
Notem-se os seguintes dois traços de significado de onde, apontados por Jerónimo Soares
Barbosa (2005: 393-394):
(...) no adverbio de lugar Onde, 1.º há uma elipse da preposição em; a qual, como
se não exprime, dá lugar a este mesmo adverbio se poder juntar com outras
preposições; como: D’onde, Por onde, Aonde, Para onde, o que acontece em
quase todos os mais advérbios desta classe. 2.º O complemento indicado pelo
adverbio onde he composto da ideia geral de lugar, e da sua determinação
particular, feita pelo demonstrativo conjuntivo Qual Que; de sorte que esta
pequena palavra, analysada, e resolvida em seus elementos dá esta frase: Em o
qual Lugar, ou Em que Lugar?
Diferentemente de outros elementos da mesma subclasse dos advérbios de lugar, onde possui
propriedades que o tornam multifuncional. A este nível funcional, sabe-se que onde e bem assim
outros advérbios são também interrogativos (Bechara, 2000: 290) “[p]or se empregarem nas
interrogações directas e indirectas” (Cunha e Cintra, 1984: 539). O DT, como documento
regulador de termos/conceitos a usar na descrição e análise gramaticais, apresenta o “advérbio
interrogativo” – nomeadamente, onde?, quando?, porquê? – como uma das subclasses
adverbiais: Onde moras?; Quando chegaste?; Fizeste isso porquê?
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Nesta linha, consideremos os seguintes exemplos de interrogativas directas (6a, 6c) e indirecta
(6b)9:
(6) a. Onde está o livro?
b. Ignoro onde está o livro.
c. Podes dizer aonde vais?
Os contextos de (6), além de introduzirem interrogativas parciais10, exprimem uma ideia de
lugar que pode ser parafraseada por “em que lugar?” (6a e 6b) e “para que lugar?” (6c),
considerando a diferença entre onde e aonde.
Dada a formação destas duas unidades lexicais, pode-se notar que a unidade onde corresponde
àquilo a que Raposo (2013: 1575) chama um advérbio “puro” ou morfologicamente simples, ao
contrário de aonde, que resulta da recategorização de palavras de diferentes classes; segue o
modelo preposição + advérbio, nomeadamente a (prep) + onde (adv) > aonde (com contracção),
tal como outras unidades/sintagmas que derivam do mesmo modelo de formação:
Estas formações correspondem ao grupo das locuções adverbiais que se podem incluir na classe
dos advérbios, pois são “expressões formadas pela associação de duas ou mais palavras que
adquiriram um grau elevado de fixidez semântica e sintáctica, e que ocorrem com as mesmas
funções dos advérbios e em contextos semelhantes” (Raposo: 2013: 1576). No caso das
apresentadas supra, distinguem-se entre si pelo significado das preposições. Enquanto onde
designa “lugar”, de onde/donde, para onde designam direcção, respectivamente o lugar de
partida e o de chegada, e por onde, até onde também direcção em termos de extensão e percurso
(Vilela, 1999: 370).
Especificamente as unidades onde e aonde são constituintes locativos “compatíveis com certos
grupos de verbos” (Mário Vilela, 1999: 370). Esta visão de Vilela é pertinente para
compreendermos o uso distinto de tais unidades, do ponto de vista da regência verbal. Diferentes
quanto à forma, como já se disse, pertencem à subclasse dos advérbios de lugar e dos advérbios
interrogativos, as duas com valor semântico locativo: locativo estático no caso de onde; locativo
dinâmico no caso de aonde. Ou seja, onde indica o lugar no espaço em que se está ou em que se
realiza determinado acontecimento ou ação11, o que significa que tal advérbio é usado com
verbos que exprimem estado, permanência, quietação ou repouso, em síntese, ausência de
movimento12.
Vejamos os seguintes exemplos de interrogativas parciais:
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Em ambas as interrogativas, o constituinte onde pode ser comutado pela expressão analítica “em
que lugar”, sendo de destacar a presença elíptica da preposição em (cf. citação supra de Barbosa,
2005: 393-394), que prototipicamente é regida por verbos sem valor de movimento em PE13,
ainda que em fases pretéritas da língua encontremos ocorrências de em com o verbo ir e outros
de movimento14.
Nos termos das interrogativas parciais de (7), teremos:
(8) a. Em que lugar compraste o caderno?
b. Em que lugar devo esperar?
13 A
(9) b. A que lugar foi a Atalia?
A diferença formal entre as unidades onde vs. aonde nem sempre é tida em conta. Câmara (1985:
120, nota 8) refere, além da existência de confusões, o facto de, na língua literária, ser usual
aonde com o valor de onde. É assim significativo que Cândido de Figueiredo (1986) apresente
para a entrada aonde os significados de “Para que lugar. Para o qual lugar. Para onde. O mesmo
que onde” e a seguinte atestação na obra Eufrósina: “e aonde não houver condição ...”, que
evidencia o uso de aonde com um verbo de tipo existencial. No que respeita à sincronia actual,
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quer Cunha e Cintra (1984), quer Bechara (2000) alertam para a confusão. Segundo os dois
primeiros autores (Cunha e Cintra, 1984: 351):
Embora a ponderável razão de maior clareza idiomática justifique o contraste que a disciplina
gramatical procura estabelecer, na língua culta contemporânea, entre onde (= o lugar em que) e
aonde (= o lugar a que), cumpre ressaltar que esta distinção, praticamente anulada na linguagem
coloquial, já não era rigorosa nos clássicos.
Bechara (2000: 487-488) entende que os gramáticos têm tentado evitar a confusão, “reservando o
primeiro [onde] para a ideia de repouso e o segundo [aonde] para a de movimento para algum
lugar”. Em conformidade, apresenta os seguintes casos, ocorrendo onde com um verbo de tipo
estático (10a) e aonde com o verbo de movimento ir (10b):
(10) a. O lugar onde estudas…
b. O lugar aonde vais…
A posição de Bagno (2012: 926) é bastante mais radical. De forma algo provocatória, pergunta e
responde “Onde ou aonde? Tanto faz!”, estabelecendo uma comparação entre o português
onde/aonde e outras línguas românicas, que, ou não apresentam esta diferença – caso do francês
où e do italino dove – ou, quando ela existe – caso do espanhol dónde e adónde – terá perdido
pertinência. Com base no número de ocorrências das duas unidades num corpus constituído pelo
jornal Folha de S. Paulo, conclui, talvez de forma demasiadamente perentória que: “(...)
podemos afirmar sem medo que não existe distinção semântica entre onde e aonde em português.
Nem no Brasil, nem em Portugal. Nem na língua escrita, nem na língua falada” (Bagno, 2012:
929). A ser assim, ficaria por explicar a aceitabilidade duvidosa de enunciados como (11a), que,
porque integram um constituinte verbal com valor locativo dinâmico (ir a), implicam o uso do
advérbio aonde (11b)15:
(11) a. ?? No domingo vamos onde nos conhecemos.
b. No domingo vamos aonde nos conhecemos
a unidade onde caracteriza-se por ser semanticamente locativa, isto é, possui o traço [+ lugar],
parafraseável por “o lugar em que” e comutável por outros advérbios de lugar, como já atrás
mostrámos. Este valor locativo implica uma dimensão de espaço físico, muito embora o seu uso
mostre a ocorrência de extensões metafóricas a partir da dimensão física.
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O facto é assinalado por diversos autores. Peres e Móia (1995: 302) atestam ocorrências do
seguinte tipo, que constituem evidência de que no português actual o pronome onde é usado
como uma pró-forma em substituição do sintagma “em que”:
Assim, diríamos que, quanto a estes usos, onde pode apresentar o traço nocional das unidades a
que se refere, traço este equivalente ao do sintagma “em que”.
Tratando-se de pronome relativo, as suas características impõem dois requisitos distintos quanto
ao seu uso: (i) o seu antecedente (explícito ou implícito) tem de denotar um lugar e (ii) o valor
semântico do pronome dentro da oração relativa tem de ser locativo, quer o pronome seja
funcionalmente um complemento oblíquo, quer seja um adjunto. Consideremos os seguintes
exemplos:
(28) a. Visitei a casa onde viveu o Jairo.
b. Tropecei no armário onde tinha posto os copos.
c. Lembro-me do distrito onde conheci a Lídia.
d. Levaram-me ao restaurante onde se comem os melhores bifes de Lisboa.
Neste caso, o pronome é usado com valor de locativo estático e com valor locativo de destino.
Mais especificamente (Veloso, 2013: 2103):
(...) nos casos em que o constituinte relativo corresponde a um valor locativo estático,
de ‘lugar em que’, este deveria ter a forma onde (cf. o restaurante onde jantei), mas é
possível encontrar-se a forma aonde (cf. o restaurante aonde jantei); inversamente,
nos casos em que o constituinte relativo corresponde a um valor locativo dinâmico
direccional, de ‘lugar a que’, este deveria ter a forma aonde (cf. o restaurante aonde
fui), mas é possível encontrar-se a forma onde (cf. o restaurante onde fui).
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Para sintetizarmos, podemos dizer que a tradição gramatical atribui ao item onde um valor
semântico de localização física, interpretada como “lugar em que se situa a acção verbal”. Além
deste valor semântico, segundo Marinho (2005:16), “[n]os usos desse item, atribui-se a ele outras
acepções como a de lugar abstracto, nocional, evento, tempo, não o limitando à expressão de
lugar físico, embora se mantenha a referência a uma localização”. Mais ainda, a autora considera
que,
(...) o onde oferece aos usuários da língua a seguinte significação instrucional: usa-se esse item
numa operação de subordinação da oração que inicia ao elemento antecedente, presente ou
implícito no contexto anterior, que expressa “lugar (físico) em que se situa a acção verbal”
(Marinho, 2005: 16).
A visão de Marinho reforça a ideia que temos sobre os traços pertinente do par onde/aonde.
Assim, como advérbio de lugar, denota localização espacial, isto é, traço [+lugar]. A este traço
comum acrescem outros traços de significado específicos: onde possui um valor semântico de
locativo estático. Já aonde, de locativo [+dinâmico], mais especificamente direccional. É assim
que o item onde, equivalendo a “em que lugar”, assume um valor semântico de locativo estático
em (36):
(36) Regressei à cidade onde cresci.
Já o item aonde, equivalendo a “a / para que lugar”, assume um valor semântico de locativo
dinâmico, indicando o movimento direccionado. Consideremos a seguinte construção:
(37) Eu não sei aonde fomos.
Ao nível de traços de significado, poderíamos apresentar o seguinte:
• • Onde = “locativo” + “espaço físico” + “espaço nocional” + “espaço estático”
de onde” para indicar a origem e “lugar por onde” para a circunstância de passagem. Deste
modo, consideremos as seguintes estruturas, que são possíveis respostas aos interrogativos onde?
(38a), aonde? / para onde? (38b), de onde? (38c) e por onde? (38d):
• (38) a. A Lídia vive/está em Luanda.
• b. A Atalia vai a/para Benguela.
c. O Jairo saiu/veio da escola.
d. O Jairo passou por Évora
• Portanto, são considerados no nosso estudo empírico os contextos de onde (locativo com
valor estático) e os de aonde (locativo com valor dinâmico ou movimento direccionado), ambos
em construções interrogativas e relativas.
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Para a abordagem do problema, optamos pelo método indutivo, que consiste num processo
mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados,
infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas (Marconi &
Lakatos, 1995: 86). Ele permitiu-nos chegar a conclusões gerais (sobre todos alunos da 8ª
classe), através de dados que foram obtidos com aos elementos seleccionados para a amostra.
2.2. Pesquisa quanto aos objectivos
Olhando para os objectivos da nossa pesquisa, a mesma é descritiva. Segundo GIL (1999:46), a
pesquisa descritiva é aquela que pretende descrever uma realidade que acontece num
determinado local ou que busca relacionar as variáveis. Portanto, a nossa pesquisa é descritiva na
medida em que tem por objectivo descrever até que ponto os alunos da 10ª classe observam o
uso correcto na construção contendo advérbios de interrogação aonde e onde.
No presente trabalho, optamos por pesquisa qualitativa. Trivinos (1987) citado por Oliveira
(2011:24), acredita que a “abordagem de cunho qualitativo trabalha os dados buscando seu
significado, tendo como base a percepção do fenómeno dentro do seu contexto”.
Quanto à abordagem, a pesquisa é qualitativa. A pesquisa qualitativa é aquela cujas informações
não são quantificadas; os dados obtidos são analisados indutivamente; a interpretação de
fenómenos e atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa (Gil,
2008:20). Esta pesquisa realizou-se de uma forma qualitativa porque se analisaram e se
interpretaram os dados de forma qualitativa, descrevendo os diversos posicionamentos dos
sujeitos envolvidos na própria pesquisa a respeito do tema.
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2.3.1. Entrevista
Segundo Marconi e Lakatos (2003:195), a entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de
que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma
conversação de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação social, para a
colecta de dados ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social. Assim,
a escolha desta técnica de recolha de dados, surge com o intuito de ter informações seguras,
através da interacção com o nosso grupo alvo. É precisamente nesta técnica de recolha de dados
que vamos obter subsídios sobre o problema em estudo. A entrevista foi aplicada a professora
que lecciona português na 10ª classe, com propósito de saber se os alunos usam correctamente
advérbios aonde e onde.
2.3.2. Questionário
Na visão de Cervo & Bervian (2002) citados por Oliveira (2011:37), o questionário refere-se a um
meio de obter respostas às questões por uma fórmula que o próprio informante preenche. Ele pode
conter perguntas abertas e/ou fechadas. Através do questionário aberto, recolhemos dados que nos
pudessem facilitar o conhecimento do problema por nós pesquisado. No nosso trabalho, o
questionário foi aplicado aos alunos.
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intenções. Apresentamo-nos ao campo da pesquisa com uma credencial passada pela secretaria
da Universidade Save extensão Maxixe.
No campo de pesquisa, explicamos aos inquiridos sobre os propósitos do estudo e garantiremos o
anonimato aos mesmos. Para o segundo item, não colhemos algum dado com base no qual se
possa identificar o fornecedor. Igualmente, explicamos a necessidade de dar consentimento à
pesquisa e a possibilidade de retirar o mesmo em caso de não sentir-se à vontade.
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Referências Bibliográficas
BECHARA, E. Moderna Gramática Portuguesa. 38.ª Edição. Revisada e pelo Autor. Rio de
Janeiro: Editora Nova Fronteira/Editora Lucerna, 2015.
LEAL, A. & OLIVEIRA, F. Subtipos de verbos de movimento e classes aspectuais. In: Textos
Seleccionados. XXIII Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística. Lisboa:
APL, 2008.
HOUAISS, A. et al. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva,
2001.
21
MARTINET, A. Função e Dinâmica das Línguas. Tradução de Jorge Morais Barbosa e Maria
Joana Vieira Santos. Coimbra: Livraria Almedina, 1995.
PERES, J. A. & MÓIA, T. Áreas Críticas da Língua Portuguesa. 2.ª Edição. Colecção
Universitária. Lisboa: Série Linguística, 2003.
RAPOSO, E. B. P & XAVIER. F. Maria, Uso e significado das principais preposições. In.:
Eduardo B. P. Raposo et al (org.). Gramática do Português. Vol. II. Coimbra: Fundação
Calouste Silva, Ana Alexandra Lázaro da (2009). Estatuto Sintáctico dos «advérbios»: Função e
Classe. Colecção Linguística 5. Évora: Universidade de Évora - Centro de Estudos em Letras.
Gulbenkian, 2013.