Dissertação Final (Impressão) - Liz Novais
Dissertação Final (Impressão) - Liz Novais
Dissertação Final (Impressão) - Liz Novais
Salvador
2018
LIZ NOVAIS PINHEIRO
Salvador
2018
Aos alunos com quem troquei saberes e àqueles com quem trocarei.
E especialmente aos professores de Teatro da escola básica, para
que possam se inspirar livremente.
AGRADECIMENTOS
This master’s thesis addresses topics as the dream, the acting teaching at school
and the collaborative process of scenic creation. The discussion of the
assumptions inspired by the scenic collaborative creation way in the school
context incorporates the collaborative approaches as methodological tools in the
construction of a creative/pedagogic path, which took place at the Experimental
School, a private institution of primary education in Salvador-BA. The practice
experienced by students of a Primary Grade 5 class took place in the formal
curriculum at the school, lasted six months on average and lead to the scenic
result called Cordel do Sonho sem Fim, a free adaptation of the theatrical text
Cordel do Amor sem Fim, by Cláudia Barral. The theory/practical reflection
present in this research aims to inspire and guide acting teachers through
possibilities to develop creative practices of collaborative nature in their
pedagogical work. In the first chapter, introductory in nature, the research
presents the creative path of the author, leading to the origin of her relationship
with the topics dream, school and cooperation. It also addresses the sense of
dream from the methodology Dragon Dreaming, for the preparation of
collaborative projects. In the second chapter, it traces a theoretical overview of
the art teaching in Brazil and puts the Escola Experimental in context, discussing
the adaptations of the teaching and planning proposal, as well as the challenges
and solutions found. In the third chapter, the research sets out the reflexive report
of the experience inside the classroom, dividing the choices and doubts of the
creative path and the pedagogical implications. In the fourth chapter, it presents
a discussion permeated by statements, records of the students during the
process and surveys conducted along with the acting teacher and the
pedagogical coordinator of the school, in order to rate writings of the actors under
the process and outline the particulars of the creation and the classroom. This
present study concludes with reflections about the feasibility of these
collaborative approaches in the context of theater in formal education and about
the teacher’s role on the proposition of more horizontal practices when it comes
to the acting teaching in school – under the perspective of appreciation of the
learner’s subjectivities.
1 Na época, a atriz exigiu que o conteúdo da entrevista realizada fosse veiculado e utilizado somente
para o trabalho da graduação em específico. Caso houvesse outra menção ao conteúdo, mesmo com
fins acadêmicos, o correto seria optar por anonimato.
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2 Viewpoints são processos de criação cênica por meio de improvisações e composições a partir de
exercícios vocais e corporais, organizados pela diretora americana Anne Bogart. Me debruçarei mais
na explicação sobre esse procedimento na seção dois “Sonhando a Escola”.
3 Me refiro a experiência como professora de Teatro duas instituições de ensino privado, que oferecem
turma do Ensino Infantil e Fundamental (1º ao 9º ano) localizadas em regiões nobres da cidade de
Salvador e que não tenho autorização para menciona-las no presente trabalho.
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Dou aula desde 86, e até 92 a perspectiva dos alunos era sair da
escola e fazer uma carreira solo, individual. Agora percebe-se que as
pessoas saem da universidade como grupo.
Antônio Araújo
É importante não perder de vista que o processo colaborativo tem sido utilizado
como uma pratica coletiva que possui particularidades em cada grupo. No Teatro da
Vertigem, por exemplo, a divisão de funções é um aspecto extremamente bem
estabelecido, em especial, a função do dramaturgo dissociada do diretor, que permite
maior pluralidade no processo, um acompanhamento mais detalhado do processo de
criação, possibilitando as tais interferências dos outros integrantes. A presença do
dramaturgista, o profissional responsável por organizar os materiais de pesquisa dos
envolvidos, registrar proposições cênicas nos ensaios e outros documentos do
processo, além de propor a construção de células dramatúrgicas, acaba sendo
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5 De acordo com John Croft: “A Fundação Gaia é inspirada na Teoria Gaia de James Lovelock e Lynn
Margulis, que mostrava que a própria Terra está ‘viva’. Os ciclos biológicos e geológicos de água, ar
e terra, impulsionados pelo calor do Sol, são tão fortemente acoplados dentro da biosfera que formam
um metabolismo autorregulador, uma ‘entidade viva’ em evolução.” (CROFT, 2017, p. 03)
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improvisacionais com Viola Spolin (2015) e Ingrid Koudela (2017). Ainda nesse
capítulo, elenco as discussões sobre o processo de criação teatral no contexto
escolar, contemporaneidades e apontamentos para dramaturgia a partir das
inquietações de Carmela Soares (2010) e Maria Lúcia Pupo (2005).
No quarto capítulo compartilho as experiências finais do processo e reflito, a
partir das vozes dos alunos, professores e coordenação da escola e com base nas
contribuições de Célida Mendonça (2009, 2010) e Marcia Strazzacapia (2012) os
aspectos marcantes do processo e os possíveis desdobramentos na rotina da escola
e dos envolvidos. Como se trata de uma experiência pedagógica, trago como teórico
norteador Paulo Freire (1997) com a pedagogia da autonomia, aspecto primordial para
o desenvolvimento de uma criação colaborativa. Por fim, construo nos aspectos
conclusivos caminhos críticos para reflexão sobre o ensino de teatro na escola a partir
da experiência, com base em Jorge Larrosa (2002, 2011) e Vicente Concílio (2009),
convocando contribuições para a conscientização dos agentes envolvidos.
Anseio que essa pesquisa seja fomentadora de desejos coletivos e que garanta
a possibilidade de experimentação de caminhos mais horizontalizados no ensino de
teatro em diversos contextos, especialmente no escolar.
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2. SONHANDO A ESCOLA
Sonhar a escola. Às vezes soa como uma dessas frases vazias e apelativas de
marketing. Evoca uma causa consolidada, que é a educação, a escola, mas ao mesmo
tempo cansada e desgastada, por ser uma das instituições de estrutura menos
maleável no que diz respeito transformações significativas. Talvez por que seja
interessante para grupos detentores do poder garantir esse estado de quase paralisia
diante dos movimentos civis em prol da educação. E desse modo, disseminar no
senso comum o status de causa quase perdida, de esse “sonhar” a escola parece ser
algo impossível, distante do alcance. E por parecer distante, aquele que sonha é visto
como tolo ou excessivamente otimista. No entanto, assim me disponho, a desejar um
futuro, sendo como diz o educador Paulo Freire “[...] otimista, mas não ingenuamente
construído de um otimismo falso e de esperança vã. As pessoas, porém, inclusive de
esquerda, para quem o futuro perdeu sua problematicidade – o futuro é um dado –
dirão que ele é mais um devaneio de sonhador inveterado. [...]” (1996, p.19). Sonhar
como projeto de uma realidade querida, e que deve estar ao alcance das mãos
construtoras dela.
O sentido do sonhar aqui pretendido está conectado com “desejar (algo) com
insistência; pensar muito em; almejar”, o que exige trabalho e propósito, de uma vida,
de várias vidas, para se debruçar sobre esse lugar, o da educação. E aqui o espaço
é reunir desejos que dizem respeito ao ensino de teatro na escola básica.
O pressuposto nessa conexão de palavras: sonho (desejo); ensino de teatro e
escola, parece distanciar de uma realidade concreta, de uma prática de ensino de
teatro nos contextos escolares marcada por uma luta pela valorização de obviedades
como: reconhecimento da disciplina Teatro como área de conhecimento, de seus
conteúdos nos currículos escolares e de profissionais devidamente licenciados. Para
quem acompanha e/ou vive o dia-a-dia de uma escola e as complexidades ligadas à
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sua estrutura é muito comum que o desejo acabe sendo engolido pelo cotidiano de
dificuldades e descrenças. A sobrecarga de horários; superlotação de turmas; a
costumeira falta de compreensão dos conteúdos de teatro pela gestão escolar; um
planejamento anual que impõe produções teatrais em datas comemorativas e
fechamentos de anos letivos sem chance de avaliar o processo; a falta de articulação
de efetivos projetos interdisciplinares; fechamento da caderneta de avaliações a
qualquer custo; são alguns dos motivos mais amplos da descrença do professor de
teatro. Como sonhar nessas condições?
José Pacheco, fundador da Escola da Ponte em Portugal, aconselha em uma
entrevista7 a procurar “nas escolas os professores que ainda não tenham morrido.” Na
visão do entrevistado, morrer seria se acomodar ao sistema educacional vigente,
reproduzir um modelo de ensino massivo e impessoal, que não compreende a
importância da construção de vínculos afetivos, emotivos, éticos e estéticos com os
alunos no processo de aprendizagem. E poderia dizer nesse sentido, que não estaria
“morto” aquele professor que não perdeu a capacidade de sonhar uma mudança no
ensino, e que ainda “saiba escutar sonhos e necessidades da comunidade”
(PACHECO, 2017) em que estão inseridos, mobilizando ações e propostas
educacionais locais que valorizem a experiência criativa e autônoma. Sonhar em
contextos adversos exige em especial aos professores de teatro uma profunda
reflexão de propósito com o ensino, com a conexão da sua própria experiência de
vida, com o senso ético e o espírito realizador de proposições concretas. Afinal, só se
faz, aprende e sonha um ensino de teatro fazendo teatro.
E para sonhar esse lugar, é preciso se munir das trajetórias históricas que
contextualizam o ensino de teatro nas escolas básicas de uma forma breve, afim de
ter uma noção mais ampla sobre as visões acerca do ensino de teatro no país.
8
Só com a LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996), ao definir a obrigatoriedade do “ensino de arte” em lugar de
“educação artística”, que o ensino de teatro para a ser reconhecido na sua especificidade.
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Contudo, o ensino de arte, nessas condições, se dava por meio de cursos livres
e oficinas, em sua maioria de forma privada.
Mais uma vez importante salientar a UFBA como referência histórica não
mencionada por muitos pesquisadores do eixo Sudeste – Sul como exceção a esse
contexto. Em 1956, com o plano cultural do Reitor Edgar Santos, a criação da Escola
de Teatro na Universidade Federal da Bahia, juntamente com as de Dança e Música
e associada a já consolidada Escola de Belas Artes, contribuíram para uma nova
relação entre Universidade – Comunidade. O interesse em na divulgação de novas
dramaturgias e formação de atores, diretores e professores numa perspectiva de
métodos e técnicas mais modernos, marcaram a história gestão e impactaram no
fomento gerações críticas e politizadas, que desembocaram, em alguns exemplos
simplórios, em movimentos como o Tropicalismo e Cinema Novo.
Ainda a respeito do Licenciado em Artes, Ana Mae Barbosa (1989) atesta que,
na década de 80, era possível haver cursos superiores de formação desse profissional
com duração de dois anos (especialmente em universidades e faculdades privadas).
De acordo com a autora, as instituições da época perduravam um currículo de
abordagem generalista das expressões artísticas, que impossibilitava o
aprofundamento e apropriação estética das linguagens pelo professor de educação
artística. Este profissional, que não teve condições de apreender um processo de
criação e as peculiaridades de cada expressão artística e até mesmo de se
experimentar artisticamente durante a sua formação, por tabela irá reproduzir um
ensino descomprometido com uma aprendizagem estética mais aprofundada.
O resultado era um programa de ensino fruto de um compilado apressado de
conteúdos atrelados às quatro áreas, com enfoque numa abordagem teórico-histórica
e com duração média de dois anos, tempo de curso impossível de abarcar as
complexidades criativas de cada área de conhecimento em arte. Inclusive, favoreciam
práticas ou dinâmicas desconectadas do propósito do ensino-aprendizagem, forjando
o descaso do planejamento dessas práticas com uma possível “liberdade de
expressão” criativa dos alunos. Um reflexo dessa provocação pode ser constatado
numa pesquisa9 feita com professores de educação artística de São Paulo em 1983,
registrada no artigo “Arte-Educação no Brasil: realidade hoje e expectativas futuras”,
9
O artigo “Arte-Educação no Brasil: realidade hoje e expectativas futuras”, de Ana Mae Barbosa (1989),
encontra-se disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
40141989000300010>. Acesso em 20 janeiro de 2018.
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disciplinas da área das linguagens nas bases curriculares comuns, incorrendo no risco
de tornar as artes mais um veículo “divertido” de ensino de outros conteúdos.
O contexto de ensino de teatro por si próprio é potente como disciplina e como
área autônoma do conhecimento que contempla uma educação estética de livre
expressividade, mediada por saberes referenciados dentro e fora do país e reflexões
sobre os processos criativos que se propõe. O conteúdo em teatro deve ser pensado
sempre em função do diálogo dos sujeitos com a realidade contextual, analisando as
formas de abordagem e de reflexão com os alunos, numa perspectiva autônoma.
A realidade do ensino de teatro nas escolas em caráter formal, em termos
práticos: com uma hora/aula de quarenta e cinco minutos para o especialista
(com turmas do 1º ao 5º ano, correspondentes ao ensino fundamental I); salas
de aula superlotadas com média de 30 a 40 alunos. Um cenário de carteiras e
de corpos condicionados a um programa de ensino conteudista e expositivo
parece ser ambiente extremamente árido ao diálogo que visa um tipo de
aprendizagem que valorize a experiência e experimentação. Nesse contexto,
como é possível resistir à descrença nessas condições e agir em prol da garantia
de um processo de aprendizado estético e sensível, que contemple as demandas
da contemporaneidade nas aulas de teatro?
É exatamente nesse aspecto que se entende a importância da formação do
professor de teatro. A busca por uma formação pedagógica atrelada à vivência e
experimentação artísticas, convicções e desejos pela mudança do cenário
escolar a partir da aula de teatro são fatores-chave para uma atuação docente
proativa e transformadora do cotidiano da escola, e especialmente dos alunos. A
professora e pesquisadora do teatro na escola Célida Salume Mendonça afirma
que “o professor é o principal agente na mudança de posturas em relação ao
ensino de teatro como prático reflexivo da sua própria experiência.” (2013, p. 43),
é aquele que reconhece a sua experiência criativa transformadora como material
base para construção da sua visão de ensino do teatro. É o que dá ânimo para
zelar por uma formação artística e pedagógica consistente e mantenedora de
uma inquietude propositiva diante das dificuldades encontradas na escola.
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10
Célida Salume Mendonça, no artigo “Montagem em sala de aula: princípios norteadores do
processo”, atribui a denominação professor-encenador de Peter Brook: “Alguns pesquisadores
utilizam os termos professor/diretor como Beatriz Cabral ou mestre-encenador como Marcos Bulhões
Martins, expressões que definem o papel do professor de teatro como condutor dos processos
criativos. Encontramos ainda as designações professor-artista, professor dramaturgo, artista-docente,
encenador-pedagogo, encenador/instrutor e professor-pesquisador-encenador.”(2013,s/p).
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11
O termo usado por Marcos Bulhões Martins é preferido por ele pois se trata de tradução de metter-
em-scene- ao professeur de Meyerhold, que em seus escritos referia-se a Stanislavski e seu trabalho
no Teatro-Estúdio.
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2.4 A PROPOSTA
A experiência prática relatada nesta pesquisa foi realizada com uma turma
do 5º ano do Ensino Fundamental I na Escola Experimental (Vila Laura, Salvador-
BA) no período de março a dezembro de 2017. A atividade se deu como prática
docente e ocupou os horários das aulas da disciplina de Teatro no ensino regular
na duração de um encontro semanal de quarenta e cinco minutos cada, as
quartas-feiras pela tarde. Considerando que no período de março a junho, devido
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A escola preza, como um dos objetivos, formar uma pessoa criativa que possa
desenvolver sua sensibilidade artística e busca a ampliação do seu universo cultural.
Segundo a revista de comemoração do cinquentenário da instituição, desde sua
fundação há um compromisso de entender a escola também como um espaço
sociocultural. Ao entrar na escola é notória a importância que se dá à produção
artística dos alunos, com desenhos e pinturas distribuídos pelos e corretores, muros
e salas de toda a instituição.
Nos anos iniciais dessas mostras quem conduzia as montagens teatrais eram os
professores regentes de turma, mas com o passar dos anos, e com os ajustes
curriculares, professores especialistas passaram a ser contratados para assumir as
aulas de teatro. O fato interessante é que, nesses vinte anos de Mostra e mais de
cinquenta anos de fundação, a escola somente a ter em seu quadro de professores
uma licenciada em Teatro no ano de 2014, sendo ela a atual professora, Taiana
Lemos. Os outros professores da disciplina eram bacharéis em teatro, atores,
diretores, mas não tinham formação em Licenciatura em Teatro. Isso faz bastante
diferença na noção de teatro propagada na escola, pois toda atribuição de licenciado
em teatro que preza pela qualidade do processo educacional, da defesa de caminhos
de aprendizagem estética significativa dificilmente será preocupação de um
profissional que lida somente com processos criativos. Sobre isso Marcia
Strazzacappa, pesquisadora das artes cênicas na escola, bem alerta:
[...] é importante que a escola, ao eleger o teatro como conteúdo de
ensino de arte, escolha profissionais que estejam adequadamente
instrumentalizados, para realizar essa tarefa. Ter profissionais
adequados não significa trabalhar com o ator, o diretor ou dramaturgo
– mesmo porque esses profissionais são especialistas em arte teatral,
mas não necessariamente educadores. Lugar de ator, diretor e
dramaturgo é no teatro. A escola é lugar de professores e alunos.”
(STRAZZACAPPA HERNANDEZ 2012, p.122-123)
uma construção cênica colaborativa, por entender que essas crianças já estão sendo
estimuladas a expressar suas opiniões de modo mais crítico e conectado com suas
subjetividades, são sujeitos ativos do processo de desenvolvimento e mais receptivas
a uma relação professor-aluno como parceiros de criação.
É de suma importância pontuar que a minha escolha de realizar essa pesquisa
no espaço escolar cria diversos condicionamentos, mas o principal é o de que devo
entender essa prática próxima da realidade de um professor de teatro que está diante
de todas as dificuldades de: gerenciamento do curtíssimo tempo de aula; das escolhas
metodológicas a serem empregadas em cada grupo e altura do processo; da
afirmação dos propósitos poéticos e pedagógicos; e da adequação ao cronograma da
instituição de modo a manter da melhor maneira possível uma proposta de
aprendizagem produtiva e prazerosa para os alunos e professores.
Sei que muitas produções acadêmicas criticam veementemente a manutenção
do formato de culminância da produção teatral como demanda da escola, no entanto
é importante deixar claro que essa mudança de visão faz parte de um processo em
que o professor parte de uma postura militante sobre a valorização do processo de
criação que não dependa de montagem de espetáculos, e que vai galgando
conquistas lentamente, dentro das coordenações pedagógicas e da direção da escola.
escolhiam qual texto literário do corpo de livros da turma, o texto literário seria
montado e o professor de teatro realizaria o processo de adaptação para a cena,
construindo um roteiro visando uma montagem de 15 a 25 minutos. Na turma em
questão, por se tratar do último ano da escola, a professora regente sugeriu trabalhar
com um texto teatral, o Cordel do Amor Sem Fim12 de Cláudia Barral, no entanto, esse
texto não tinha sido trabalho previamente em sala de aula, como era de costume. A
priori eu considerei a proposta meio inadequada, pois achava que o texto tinha alta
complexidade temática e de linguagem para essa faixa etária, além de continuar
sendo inviável pelos mesmos motivos já citados, dificultando a montagem no tempo
disposto no cronograma.
A condição para manter a pesquisa sobre a horizontalidade do processo de
criação entra em crise, pois de antemão, eu já tinha um texto escolhido sem a
participação dos alunos. E já tinha um princípio gerador temático definido que era o
sonho. Umas das características do colaborativo é justamente o coletivo dispor e
escolher os temas geradores do processo e já me via arbitrária nesse aspecto.
Revivendo as referências dos grupos teatrais que trabalham partindo de
processos colaborativos, me recobrei da experiência de adaptação livre de textos
teatrais e literários, modo característico do grupo paulista Companhia do Latão, em
que usam a dramaturgia em processo como aspecto de criação colaborativa. De
acordo com Stella Fischer, dramaturgia em processo “[...] um procedimento de
escritura teatral coletiva, elaborada durante a preparação da encenação, na qual o
texto não antecede a peça[...] (2010, p.183). Assumem o “em processo” pois a equipe
envolvida pode interferir no processo criativo da dramaturgia, mas o trato final é da
atribuição de um dramaturgo.
Inspirada nas experiências da Companhia do Latão, me propus então a pensar
a criação compartilhada nesse processo de adaptação a partir da inclusão de
estímulos, improvisações a partir de pré-textos, e de instruções com jogos teatrais,
reescrevendo em boa parte a história original, revelando uma dramaturgia de
processo que parte de uma adaptação livre de um texto teatral e preservando o
aspecto da colaboratividade no planejamento final.
12 No capítulo a seguir, Sonhando o Processo Criativo, me aprofundo mais sobre a obra e autora.
66
como: diluição das fronteiras entre linguagens; autonomia dos sujeitos; reflexão sobre
o lugar de transitoriedade (fluxo) como condição norteadora; práticas colaborativas e
interativas.
Esse entendimento do processo em que o ensinar e o criar se entrelaçam, revela
uma obviedade, para mim, sobre o comprometimento do professor de teatro com sua
prática, na medida em que é preciso estar engajado artisticamente e mediar a
construção de saberes com alunos em diferentes trajetórias de vida e proximidades
com a linguagem, e ainda assim instalar um ambiente propício a esse tipo de
experiência. Como já foi dito, os contextos escolares, de um modo geral, não
favorecem esse movimento.
Entender a potência de um processo que compreende a consciência da
abordagem artística pedagógica é crucial para um professor de teatro. É igualmente
crucial um planejamento que abra brechas para intuição, que se conecte com as
especificidades do grupo em questão, ao passo que garanta a qualidade do processo
diante do produto, a partir do diálogo horizontalizado entre os agentes envolvidos.
vezes com pesar, pelo descarte de uma parte da criação, parte da sua visão artística
é eliminada.
Diante dessas pontuações, sigo apresentando o percurso artístico-pedagógico
do processo criativo Cordel do Sonho sem Fim, de modo a refletir sobre peculiaridades
do trajeto a ser descrito, não instituindo regras nem modos de criar, apenas pontuando
caminhos que podem ser partilhados e inspiradores para novos processos.
13Cláudia acumula, entre outras, colaborações com a Casa Laboratório ("Estudo sobre o Urbano /
Figurantes", 2008) e “Cambaio” (2000), musical de Chico Buarque de Holanda e Edu Lobo, com
direção de João Falcão.
81
“Sonho pra mim é algo que você é livre pra fazer no mundo espiritual.”
Felipe Albuquerque
“É algo que você é livre pra fazer o que quiser.” Samara Wanke
“Sonho é quando você pode fazer muitas coisas que não pode quando
acorda.” Arthur Silva
“Sonho é algo que aparece quando você pensa muito quando está
acordado.” Akin Miranda. (Depoimentos dos alunos).
todas elas, como registrada em imagem a seguir. A proposta original era que criar
ações em grupos e em seguida cada grupo iria construir uma cena em que essas
ações estivessem presentes. No entanto, o tempo para a demanda de 24 alunos numa
atividade de ação individualizada fez com que eu adaptasse para a criação de uma
imagem a partir de apenas uma ação. A fotografia15 coletiva era a tentativa de
representação da fusão das ideias.
15
As imagens e depoimentos aqui utilizados foram autorizadas para a pesquisa mediante termo de
consentimento dos responsáveis legais.
85
música e que todos sejam 2. “Estrelar um filme de 2. “Ter uma peça com um tema:
felizes com o teatro.” ação.” Diego Não brigue com o colega.”
Ludmila 3. “Fazer parte do The Felipe Albuquerque
2. “Meu sonho é estrelar Walking Dead.” Onirê
uma peça como 4. “Interpretar um boneco.”
personagem principal.” Samir
Julia 5. “Interpretar o Bomba
3. “Meu sonho é ser o vilão Feet de Star Wars.”
da peça, com plateia Felipe Botelho
cheia.” Guilherme Reis 6. “Fazer parte de um
4. “Fazer o personagem seriado de magia.”
principal na Broadway.” Arthur
Samara 7. “Meu sonho é fazer
5. “Meu sonho é fazer uma Homenagem a
mágica na frente do Frida.” Yasmin
público.” Akin 8. “Fazer uma peça no
6. “Ser um ator profissional.” Japão.” Beatriz Aiko
João Vitor 9. “Meu sonho é fazer um
personagem “Pokémon”
no teatro e ter plateia
cheia.” Luis Felipe
10. “Fazer o papel da
“Ariana Grande.”
Mariana Lis
11. “Interpretar alguém na
neve.” Amanda
12. “Fazer um caçador de
trolls no Teatro.”
Augusto
13. “Fazer uma pessoa no
Paraíso.” Maria
Eduarda
14. “Fazer Harry Potter no
Teatro.” Guilherme Leal
Fonte: Autoria Própria
Nesse processo de tabulação dos sonhos dos alunos, acabei me dando conta
que as próprias categorizações por mim estabelecidas, a fim de organizar a coleta, já
forneciam informações-chave, conceitos de abordagem e de conteúdo que poderiam
guiar a dramaturgia e a encenação: falar sobre o fazer teatral (conteúdo), com
elementos de música na cena (abordagem); do ponto de vista estético conter a
abordagem fantástica (seja através do personagem e/ou da encenação; e por fim
elencar depoimentos (conteúdo e abordagem) como elementos da história de vida dos
alunos (conteúdo e abordagem).
Essa categorização dos conceitos de abordagem e conteúdo, apesar de parecer
arbitrária, foi levada em conta diante do desejo de abarcar ao máximo a pluralidade
de material levantado. A análise desses materiais garante uma visão privilegiada
sobre a criação artística, visto que nesses documentos estão registradas as escolhas,
87
Pequenos trechos das cenas iniciais da obra original Cordel do Amor Sem Fim
que ofereciam abertura para construção de novas narrativas foram dispostos para
turma dividida em grupos. Os trechos escolhidos correspondiam a um recorte de
diálogo que revelasse características de cada um dos personagens (Teresa,
Madalena, Carminha e José). A seleção dos trechos partiu da identificação de
diálogos entre as personagens que favoreciam a abertura de criação de novos
contextos e situações dramáticas não atreladas a história original, pois eles, os alunos,
não a conheciam. Além dos trechos de textos, propus uma sequência de perguntas
relacionadas aos personagens: em qual a situação/problema os personagens
poderiam estar inseridos e como os alunos poderiam sugerir soluções para eles? A
sugestão era encenada pelos grupos e apresentada para a turma.
As soluções propostas apresentavam um entrecruzamento de alguns elementos
perceptíveis no pré-texto, como o fato da história se passar no Nordeste e na cena o
personagem ter um sotaque – com novas percepções da situação em que aquele
personagem estava inserido. A personagem Teresa que, no texto original, esperava o
seu amor voltar para busca-la, em umas das proposições de cena dos alunos tinha
esperança de sair da sua cidade natal para ser dançarina. O que modifica a forma de
olhar da personagem e consequentemente de toda a narrativa.
92
Em um outro dia da aula, quatro caixas são dispostas com objetos e curtas
informações sobre cada um dos personagens. Cada grupo se responsabiliza por
desvendar uma história através dos objetos. Qual a história por detrás de cada caixa?
O que ela revela sobre cada personagem? Em seguida o grupo ordena um conjunto
de situações que possam responder as perguntas em forma de uma curta história. As
histórias criadas eram encenadas pelos grupos.
O pacote de estímulos compostos é oriundo do drama como método de ensino,
prática teatral que tem no seu cerne a utilização de diferentes recursos como textos,
imagens, temas, objetos, espaços de ambientação que propiciem o desenvolvimento
de um processo de ações dramáticas. Esse processo pode favorecer ou não a
construção de um produto cênico final. John Somers, um dos principais
pesquisadores do método nascido na Inglaterra, em seu texto “Narrativa, drama e
estímulo composto”, traduzido por Beatriz Cabral, diz que
O estímulo composto inclui diferentes artefatos – objetos, fotografias,
cartas e outros documentos, incluídos em um container apropriado. A
significância é dada pela justaposição cuidadosa de seu conteúdo – o
relacionamento entre eles e o detalhe dos objetos sugere motivação e
ação humana. Aqui reside o segredo da criação de um estímulo
composto. (SOMERS, 2011, p. 179)
Segundo SOMERS (2011), as caixas devem ter objetos que se relacionem com
cada elemento da história, estabelecendo conexões entre si que não sejam nem
óbvias e nem distantes, e a partir do fluxo dessa rede de relacionamentos possa surgir
a narrativa. O conteúdo de cada caixa é montado com objetos que tem relação com
cada elemento de uma história única e é a partir dessa história que será criada uma
narrativa. A caixa de estímulos traz sempre um elemento que pertenceu a alguém, ao
passo que cada objeto traz pistas de como seria essa pessoa. Cada elemento na caixa
se conecta com outro, mas não de uma forma óbvia, o que fomenta um ambiente de
mistério e investigação, o que se torna motivador para construção dessa história.
De modo mais operacional, as caixas foram organizadas de acordo com cada
um dos quatro personagens extraídos da história original: Madalena, Carminha,
Teresa e José. Os elementos incluídos eram objetos que se relacionavam com
características dos personagens e alguns registros textuais como um bilhete, uma
receita e frases que se relacionavam (mas não repetiam) as propostas dos alunos das
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aulas anteriores com os pré-textos. Os alunos sabiam que as caixas pertenciam aos
personagens, mas não sabiam a qual e qual história por trás da caixa.
Na caixa de Teresa, por exemplo, continha entre alguns dos objetos uma pena
de ave e um pedaço de um programa de divulgação de um espetáculo de teatro, que
conectam a proposição resultante do pré-texto.
Alusões poéticas foram feitas pelos alunos aos objetos: a pena como símbolo da
liberdade, da vontade de Teresa viajar e ganhar o mundo e o programa de teatro como
meio para atingir essa liberdade. As histórias encenadas pelos grupos já apontam
para ordenação mais complexa da estruturação dramatúrgica, como nas
particularidades das situações-problema dos personagens. Era necessário conectar
as novas histórias das personagens para se ter uma ideia geral da narrativa. E assim,
iniciamos a investigação e construção da narrativa geral.
Sinopse aberta da obra a partir da criação de narrativas com “O que, Quem,
Onde”, indicadores de dramaturgia presentes nos jogos teatrais organizados por Viola
Spolin:
Teresa é irmã de Madalena e moram juntas. Elas sentem falta de algo
pra realizar. Teresa tem um grande sonho, Madalena já perdeu as
esperanças. José acha que só pode realizar o sonho dele se for com
Teresa. Teresa conhece outra pessoa, que acaba a inspirando a
seguir o seu grande sonho. Madalena aconselha José a descobrir o
que realmente ele almeja sem precisar de Teresa. José tenta sonhar
junto com Teresa, não consegue e acaba atrapalhando a vida dela.
94
Teresa fica arrasada, que deixa José arrasado, que deixa Madalena
indignada. Madalena pede a Teresa que não desista de sonhar por um
motivo. Madalena se percebe voltando a sonhar, e, sem querer, inspira
José e Teresa, que volta a sonhar. Todos se tornam felizes e
esperançosos. (Sinopse adaptada modificando as razões dos
personagens).
A partir dessa experiência, foi feita por mim, em comum acordo com o coletivo,
a seleção das proposições mais coerentes com a trajetória de investigação dos
personagens e os direcionamentos para reconstrução dramatúrgica ficaram mais
fáceis de serem visualizados. O mote dessa reconstrução foi o entendimento que as
situações de conflito da história se baseavam na realização ou não dos sonhos criados
para esses personagens. Dessa sinopse surgiram as seguintes situações: Teresa
95
queria fazer teatro e viajar; Madalena se considera velha demais para realizar o seu
sonho e tem medo de sair de casa; Carminha não investe nos seus talentos culinários
como deveria; José sonha em casar e morar com Teresa.
Algumas trajetórias dos personagens se assemelham com as do texto original,
como as de Madalena e José, no entanto foi possível perceber outras abordagens
interessantes nesse processo de recriação. Durante a intervenção dos alunos na
recriação das histórias a partir dos sonhos de Teresa e de Carminha, foi possível
identificar que existiu uma dimensão coletiva, cultural e ao mesmo tempo pessoal do
olhar criador dos alunos, presente especialmente no uso de referências pop e de
quadros de programas televisivos (em que há um apelo assistencialista na realização
do sonho de algum telespectador) e de reality shows. Revisando os sonhos
individuais, alguns já sinalizam essas mesmas referências, mas em outro âmbito, o
mais pessoal. Umas das alunas sonhava em ganhar o The Voice Kids16, por exemplo.
As proposições de cenas para os sonhos, na altura desse processo, partiram dos
resultados das articulações entre os sonhos pessoais e os coletivos, tornando as
narrativas mais complexas e com mais detalhes e nuances. A Teresa recriada na
história, a partir desse momento, sonhava em ganhar o mundo dançando e
interpretando; Carminha, a irmã que cozinhava os sonhos iria ganhar o programa
MasterChef17.
3.3.4 Música
discutidas e as ideias-chave das improvisações dos alunos, pois sabia que as novas
possibilidades de caminhos da adaptação estavam sempre sujeitas a surgir e que
também contribuiriam para encenação. Segundo Stela Fischer, num processo mais
horizontalizado de criação, há uma correspondência mais próxima entre a escritura
dramática e a escritura cênica (2010, p. 195). O processo em sala de aula inicialmente
pressupunha a mesma correlação entre dramaturgia e encenação, mas o
compromisso com o tempo pedagógico e o contexto da turma fez com que a demanda
da finalização do roteiro fosse urgente para que não inviabilizasse o espetáculo.
19
São atores que preparam para dividir a representação cênica de uma mesma personagem em um
espetáculo.
101
troca de núcleos criava uma dinâmica de atenção e jogo em que os alunos deveriam
se organizar com seus colegas de cena e estar atentos para as trocas de atores. Essa
experiência se relaciona com o que diz Carmela Soares acerca do jogo teatral
contemporâneo em sala de aula:
Como resultado do trabalho realizado ao longo de todo o curso, verifico
que durante algumas improvisações os alunos incorporaram
livremente a dinâmica do jogo teatral contemporâneo, contracenando
com o público, fazendo da cena um local de participação e criação
coletiva, onde um mesmo personagem pode ser representando por
diferentes alunos, pela exploração dos diversos espaços da sala, pela
multiplicação de gestos de uma mesma partitura cênica. (SOARES,
2010, p. 84)
anotações a cada aula, na tentativa de ordenar as ideias e cenas que mais marcaram
o processo e que tinham sentido com a proposta temática “Sonho”. Desse modo, a
estrutura do roteiro tinha uma história que foi adaptada coletivamente, contada e
comentada pelos narradores e personagens e as cenas de fantasia provocadas pelos
cantadores. O roteiro proveniente dessa colagem e cruzamentos de textos, pretende
uma interconexão entre diferentes perspectivas de abordagem sobre “sonho”
apresentando uma pluralidade de sentidos e estilos cênicos.
De modo geral, as cenas eram divididas em núcleos com os personagens
nomeados e as abordagens mais coletivas com os “cantadores” e “narradores”.
Assim, durante o espetáculo o espectador era conduzido a acompanhar os momentos
da história contada com os personagens nomeados e narradores e da fantasia
(receitas de doce e o chá de Artemísia) pelos cantadores, como informações que
chegam de forma onírica na cena.
escola, mas que pedem reflexões sobre a que custo manter proposta de montagem
com os alunos, nessas condições, pode ser significativo nas aulas de teatro. Nessa
altura, em virtude das improvisações, os grupos já estavam inclinados aos possíveis
personagens que representaria. No entanto, alguns alunos já aguardavam o texto com
a expectativa de quais personagens fariam de fato e de como seria arrematado o final
da história. Esse aspecto foi percebido em uma das falas dos alunos, na roda de
avaliação, ao fim do processo:
Uma coisa que foi difícil [do processo de criação] foi que deram o texto
final muito tarde. Porque isso atrasou as coisas. Mas a nossa
competência que fez ela ser boa. (Felipe Augusto - depoimento
transcrito da roda de avaliação em 06/12/18)
Sem falar que nesse percurso criativo, por mais que a mostra teatral fosse
prevista, inclusive por ser um projeto da escola, o enfoque estava no processo de
criação nas aulas. Como acalmar esses ânimos e manter-se fiel ao propósito da
colaboração? Convidando os alunos a se responsabilizarem pelo processo. Mas de
que modo?
A proposta estética de curingagem nas cenas surgiu como uma forma de
compartilhamento do personagem em grupos e consequentemente fez com que redes
de apoio entre os alunos do mesmo grupo fossem criadas, pois durante a narrativa
todos os integrantes do grupo estudavam todos os diálogos da personagem em
comum. Ou seja, uma aluna que estivesse no grupo das Teresas estudaria todos os
textos e ações de Teresa na narrativa, e não somente o trecho do texto de Teresa em
que lhe foi incumbido. Com essa abordagem, era possível perceber os grupos
estabelecendo entre si, de modo não muito consciente, convenções de atuação para
o personagem em comum: se ele teria sotaque, um jeito de andar que pudesse ser
acordado com os colegas que eram curingas do mesmo personagem, um movimento
característico, etc. A proposta propiciou um estado de cooperação entre os atores, ao
invés de competição sobre quem interpreta melhor.
Outro momento apontado nas anotações como dificuldade no processo diz
respeito a entrada do roteiro-texto propriamente dito. Após a leitura do roteiro, os
ensaios começavam a apresentar dificuldade de fluidez na montagem das cenas, de
modo que o empoderamento conquistado pelos alunos na improvisação das cenas
criadas por eles (e que ali estavam escritas) tenha se perdido. A figura do professor-
diretor centralizador era solicitada por eles para resolução de conflitos entre os alunos
e, buscando executar as cenas, os alunos solicitavam instruções de posicionamento
que não foram necessários no momento da criação.
O professor tem papel fundamental nesta hora. É preciso interferir, [...]
estimular a imaginação dos alunos; propor e descobrir juntos com eles
maneiras diferentes de agir e reagir a uma dada situação dramática,
promovendo o fluxo ininterrupto das ações cênicas. (SOARES, 2010,
p. 91).
prazeroso conquistado nos primeiros momentos de criação, para não recair num mar
de insatisfação e na repetição de padrões de processos automatizados.
O número excessivo de turmas e alunos muitas vezes torna o trabalho
do professor árido. Este fato exige do professor uma postura vigilante
para não render ao tédio e à ação mecânica. Neste sentido o professor
deve se manter numa atitude de improvisação constante, reinventando
propostas e estratégias o tempo todo, de maneira a promover a
entrada do aluno no jogo e a superar as dificuldades que se
apresentam durante as ações pedagógicas. (SOARES, 2010, p. 96)
No entanto, não havia mais tempo viável, nem na duração das aulas (os trinta
dos quarenta e cinco minutos das aulas, naquela altura do processo, eram divididos
em um jogo de concentração para cena e montagem propriamente dita) e nem da
quantidade de encontros para estabelecer uma conversa mais consistente com o
grupo e reconectar os valores de cooperação no âmbito da discussão em grupo. Após
conversas com a professora Taiana sobre as possíveis alternativas, surgiu a ideia de
durante a aula dividir a turma em alguns núcleos de atuação por cena e esses núcleos
simultaneamente leriam as cenas, acordariam a relação com o espaço e ao final
improvisariam as cenas com as palavras deles, sem ficarem presos ao texto.
Na aula seguinte a proposta foi implementada e surtiu um efeito bastante
positivo, pois eles se engajavam em pensar em tarefas menores (cenas e não em
pensar no roteiro como um todo) e conseguíamos trabalhar as transições entre as
cenas com mais agilidade, pois os grupos já apresentavam as improvisações na
sequência lógica do roteiro. Somente por conta dessa estratégia conseguimos finalizar
a montagem do roteiro e ainda ter cinco encontros para ensaiar todo o espetáculo.
A estrutura de encenação continha muitas cenas coletivas, especialmente na
abertura musical e no bloco de sonhos dos atores. A montagem das cenas coletivas
sempre era mais demorada por conta da disposição de muitos atores na mesma cena,
o que numa sala de aula de uma turma do 5º ano do ensino fundamental costuma
gerar dispersão entre os menos preocupados e desgaste com os que se engajam na
peça. Nas rodas de avaliação essa questão era sempre pontuada e era interessante
perceber como o trabalho com as assembleias realizado na escola é evidenciado no
poder de argumentação dos alunos.
As assembleias escolares da Experimental têm como objetivo tratar
temáticas que envolvem a dinâmica da turma, da sala de aula e da
escola, em geral. Delas participam o professor e todos os alunos do
grupo. Sua função é regular e regulamentar a convivência e as
relações interpessoais no âmbito de cada classe e, com encontros
108
No decorrer dos ensaios, a apropriação dos atores nas cenas era cada vez mais
evidente, de modo que no último encontro antes da apresentação final conseguimos
em uma aula fazer um ensaio do espetáculo de modo seguro e divertido para os
envolvidos, dispensando a aula de música como complemento.
Dadas as considerações de percurso criativo, faz-se necessário concluir essa
seção projetando a culminância do espetáculo para a próxima, como forma de avaliar
o processo, entender e propor soluções para os problemas de trajeto aqui discutidos.
O processo aqui também é como o sonho, não se finda em definitivo, mas se renova
ao revelar-se.
110
4. SABOREANDO O SONHO
sala de aula, para que o fluxo do processo não fosse interrompido para problematizar
as ausências. Os alunos acabaram se engajando nos ensaios para todo o espetáculo
e não exclusivamente para a cena em que estariam presentes.
Nos últimos três encontros, os ensaios aconteceram em espaços abertos, fora
da sala de aula, para que tivéssemos uma noção de espaço um pouco mais próxima
do que seria o palco do teatro. E ainda tomar consciência da dinâmica de entrada e
saída dos personagens nas cenas, posicionamento das coxias, resoluções atreladas
a espacialidade e ritmo do espetáculo.
24Segundo artigo “Miguilim em cena: processo de montagem”, o processo foi desenvolvido com alunos
do 3º semestre do curso de Licenciatura em Teatro da UFBA. Segundo a autora, a proposta era que
desenvolver um processo colaborativo e de uma organicidade que pudesse ser viabilizada no
contexto formal de ensino. Disponível em
<http://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/abrace/article/view/1395>
119
Me parece que esse medo de não saber toda história se relacionava diretamente
com não ter o texto final em mãos. Ao meu ver, ter o texto final em mãos poderia
significar ter consciência da finitude do processo para os alunos. Estudar o texto,
dividir os personagens, estudar/decorar as falas são as formas mais tradicionais de
se iniciar um processo de montagem na escola, o que me faz achar natural o
estranhamento por parte dos alunos nessa nova experiência. O trabalho de
proposição de outros caminhos de criação é árduo e exige uma reflexão profunda do
professor no que diz respeito ao contexto escolar específico: as condições de fluência
desse processo, de tempo, de espaço, a maturidade do grupo envolvido, da
instituição, e da própria afinidade estética do professor - que precisa estar de fato
engajado com a proposta.
Percorrer um processo criativo com um produto final que não seja somente
baseado em um texto envolve construir um planejamento de aula que fomente
soluções de criação gradativa e propicie a experimentação, a investigação da
linguagem teatral a partir de escolhas metodológicas coerentes com os desejos e
condições do grupo. Um processo em que a produção como um todo vai se formando
paulatinamente pelo fazer, dialogando com o conceito de formatividade de Pareyson,
mas não somente a ideia de execução de algo pré-estabelecido ou uma técnica, mas
também de um fazer que “ao mesmo tempo inventa o modo de fazer.”(1993, p.59).
Falar sobre sonho acabou sendo uma temática guarda-chuva no processo, em
que trechos dos sonhos reais dos alunos se mesclam com os sonhos dos
personagens. Essa mistura de realidade e ficção, decorrente da encenação, também
foi pontuada como um aspecto interessante.
Julia: A peça foi montada na base dos nossos sonhos, digamos assim.
Pra peça ser montada, ela teve partes “de verdade”. De todas as peças
ela foi a maior e no final ela foi até legal porque a gente tinha um
personagem com várias pessoas interpretando pra não acontecer de
ninguém esquecer sua fala.
120
conversa. Um momento precioso durante a roda de avaliação final com alunos foi o
processo de releitura dos primeiros sonhos compartilhados no início do processo.
Figura 18 - Mural adaptado por mim a partir dos post-its da 2º rodada de sonhos dos alunos
25Um quadro com novos sonhos foi construído para melhor visualização das informações e anexado
ao Apêndice junto aos registros de processo.
126
26Experiência descrita no artigo “MAPEIE-SE! E busque de modos criativos de ser e estar no mundo
para relacionar-se com a artisticidade das crianças” de Marinas Marcondes Machado. Disponível em
<https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/teatro3c/article/view/2372>
127
entre o prescrito e o realizado” / Ernaldina Sousa Silva Rodrigues –Faculdade de Ciências Humanas
– Programa de Pós-Graduação em Educação / Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba,
2009. Disponível em <https://www.unimep.br/phpg/bibdig/pdfs/2006/BKNUDNKMVHBD.pdf>
128
[...] a experiência é cada vez mais rara, por falta de tempo. [...] A
velocidade com que nos são dados os acontecimentos e a obsessão
pela novidade, pelo novo, que caracteriza o mundo moderno,
impedem a conexão significativa entre acontecimentos [...] a
velocidade e o que ela provoca, a falta de silêncio e de memória, são
também inimigas mortais da experiência. (LARROSA, 2001, p. 23)
Construir com os alunos o Cordel do Sonho sem Fim foi ter uma esperança sem
o costumeiro ar passivo. Uma esperança movida por pequenas investidas na
realidade escolar, assim como essa proposta na dissertação. É uma tentativa de
mover-se em direção ao sonho, a um futuro não sabido, ou nas palavras de Paulo
Freire, a “mudança do mundo implica na dialetização entre a denúncia da situação
desumanizante e o anúncio de sua superação, no fundo, o nosso sonho.” (1996, p.79).
O sonho de Teresa, esperança trazida no texto de Cláudia Barral e mantida na
adaptação, faz acreditar no poder de transformação de realidades, e faz dar um passo
em direção ao sonho maior, o de pensar em uma educação escolar significativa para
os envolvidos e que contemple a produção de subjetividades e o respeito a elas.
139
REFERÊNCIAS
ABREU, Luís Alberto de. Processo Colaborativo: Relato e Reflexões sobre uma
Experiência de Criação. In: Cadernos da ELT, nº 2 – junho/2004.
CABRAL, Beatriz Ângela Vieira. Drama como método de ensino. São Paulo: Hucitec,
2006.
DEMO, Pedro. A nova LDB: Ranços e avanços. 20ª Ed. Campinas, SP: Papirus,
2008.
SANTANA, Arão Paranaguá de. O ensino de teatro nas séries iniciais e a questão da
formação de professores. In: Teatro: criação e construção de conhecimento, v. 1, p.
16-23, 2013. Disponível
em: <https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/teatro3c/article/view/661/376>
Acesso em 12 de jun. de 2018
SANTOS, Clóvis Domingos dos. 1971- A Cena Invertida e a Cena Expandida:
projetos de aprendizagem e formação colaborativas para o trabalho do ator. 2010.
(Dissertação de mestrado).
143
SPOLIN, Viola. Jogos Teatrais: O fichário de Viola Spolin. São Paulo: Perspectiva,
2001.
______. Improvisação para o Teatro. São Paulo: Perspectiva, 1992.
APÊNDICES
Sonhos individuais
145
Esboços do roteiro
146
Narradores:
O que é bonito neste mundo, e E que a doçura que se não prova
anima, Se transfigura numa doçura
É ver que na vindima de cada sonho Muito mais pura e muito mais nova...29
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
Ah meus amigos, era dezembro de chuva e calor na Beira de Rio. E eram três
irmãs: Teresa, Carminha e Madalena.
Cena 2 (O palco se ilumina e vemos os móveis de uma casa simples,
sertaneja. Vê-se Madalena costurando uma roupa. Entra Carminha). G1:
Teresa:Bia; Madalena: Maria Eduarda; Carminha: Amanda
Carminha – Tô fazendo. Agora sem farinha é que não vai poder ser.
Madalena – Manda Teresa buscar farinha.
Carminha – Teresa mal acabou de chegar da rua. Tá cansada.
Madalena – E aquilo lá cansa?
Carminha – Vá você, minha irmã.
Madalena – Agora essa mania de me tirar de casa!
Carminha – Distrai um pouco...
Madalena – E comprar farinha lá é distração, Carminha?
Carminha – Um passeio até a venda...
Madalena – Pra voltar carregada de saco? Manda Teresa.
Carminha – Eu vou contigo.
Madalena – Se pode largar a panela pra ir comigo então por quê é que não
vai só?
Carminha – Eita, que eu esqueci da panela! (Sai)
Madalena – Anda com a cabeça aonde?
Carminha – (de fora da cena, gritando da cozinha) Então vai Teresa.
Madalena – Ela mesma. (gritando) Teresa! Ô, Teresa, essa menina, chegue
aqui.
(Teresa entra com um livro na mão)
Teresa – Que foi?
Carminha – Vai lá na venda, minha irmã, e traz dois saco de farinha pra fazer
o pão doce, vai, Teresa?
Teresa – A da venda é mais cara.
Madalena – É mais cara porque é melhor.
Carminha – (Entrando) Tem nada não, Teresa, traz a farinha boa.
Madalena – É pela ocasião.
Teresa – Que ocasião, meu povo? José come aqui dia sim dia não.
Madalena – Mas hoje ele vai te propor, né minha irmã.
Teresa – Diz que é, né?
Madalena (avisando) – A panela, Carminha...
Carminha – Vou vê...! (Sai)
Madalena – E tu vai aceitar, né, Teresa? E tu gosta dele?
Teresa – (ignorando a pergunta de Madalena e gritando pra Carminha) O
dinheiro tá onde, Carminha?
Madalena – Responde, Teresa. Cê gosta dele?
Cena 4 - Volta a cena na casa das irmãs. Somente as irmãs estão na sala.
Transição de Grupo Grupo2: Teresa – Júlia; Madalena – Ludmila;
Carminha - Samara
Teresa – (fala para as irmãs)E é por isso que eu não fico com José. (explica
para José)Eu tava era com medo de ficar sozinha, José. Sem vontade para as
coisas. Mas aí, parece que quando penso em atuar, eu fico cheia de energia, parece
até que fico mais viva!
Narrador – Agora Teresa era só coragem e esperança.
Carminha – E você vai desistir do noivado e vai fazer o quê, minha irmã?
Teresa – Vou me preparar para o Festival, estudar e ensaiar bastante, eu vou
ganhar esse concurso!
Narrador – E o diagnóstico:
Madalena – Tá doida!
Narrador – E tudo que podia ser dito, foi dito.
Madalena – Mas você não pode fazer as duas coisas minha irmã? Tá errado
isso...
Narrador – E o quê que é certo nesse mundo errado?
Madalena – Vai deixar um rapaz bom que nem José pra fazer coisa incerta?
151
Cena 6 - Casa das irmãs. Teresa na sala lendo e fazendo anotações. José
chega.
Transição de grupo Grupo1: Teresa – Bia; Madalena – Maria Eduarda;
Carminha - Amanda; José – F. Augusto
José – Como você é bonita Teresa!
Teresa – Deixa de besteira homem!
José – Tudo o que falo pra você é besteira, Teresa! É besteira gostar de você?
Teresa – Mas eu não gosto de você desse jeito Zé!
José – Eu gosto por nós dois! (tenta abraçar)
Teresa – Ih, Zé, tá ficando doido? Eu não quero você não!
(Chega Carminha com os sonhos na bandeja)
Carminha – Tá ficando doido, moço?
(José larga Teresa)
Carminha - (empurrando José) Não tá ouvindo a moça dizer que não gosta,
não?
Teresa – Eu vou é provar meus sonhos na cozinha. (pega a bandeja e sai).
(Teresa sai. José senta numa cadeira. Pausa)
José - Teresa era pra casar comigo!
Carminha - Não faça essa escolha por ela não, moço. Deixe que ela sabe.
José - Teresa lá sabe de nada! Tua irmã desandou, Carminha, com essa
história de concurso. E eu? Como é que fico? Eu fico é como, Carminha? Me diga!
Eu amo Teresa, Carminha.
(Pausa. Olham-se fixamente.)
Carminha – O amor perdoa viu, José? Perdoa tudo. Perdoa sempre.
José – Carminha, eu amo é Teresa.
Carminha – Ama, não.
José – Como é que não amo?
Carminha – Esse que cê sente não é amor, não. É vaidade. O amor é quando
a gaiola tá aberta, quando a coleira tá frouxa. O amor é o de soltar, esse de prender
é vaidade.
José (pensativo) – Eu vou é pra minha casa. Cadê Madalena?
Madalena – (entrando) Já acordei. E Teresa?
Carminha – Na cozinha, com os sonhos.
Madalena – Tava aqui pensando, se a questão é de esperar, então todo
mundo espera junto essa doidice de Teresa com esse concurso passar! Eu espero,
Carminha espera, José espera! Não espera, José?
José – Espero.
Madalena – Pois então esperamos juntos! Eu não dou uma semana pra esse
encantamento dos infernos terminar. Não resiste ao tempo não, Teresa. Cê vai ver,
José. Não dou uma semana!
(E ficam os três, imóveis, esperando. Teresa passa comendo um sonho pela
boca de cena)
Narrador – E passou uma semana.
Madalena – Não dou mais uma semana.
153
Madalena – Caindo.
Carminha – Uai.
Madalena – Me deixe, Carminha!! Eu não consigo sair, não saio e pronto!!
Carminha – Vai ficar sem sair?
Madalena – Não sinto falta.
Carminha – Mas pra vê o mundo.
Madalena – Vejo da janela! Não vejo da janela?
Carminha – E o mundo é só o redor dessa casa é, Madalena?
Madalena – Não perdi nada mais longe.
Carminha – Tem tanta terra que tu num vai andar...
(Pausa)
Carminha – Você já tentou sair?
Madalena – Já.
Carminha – E teve o quê?
Madalena – Caí.
Carminha – Ficou tonta e caiu, foi?
Madalena – Fiquei tonta e desmaiei
Carminha - Venha comigo agora. Só chegar no quintal.
Madalena – Carminha, eu não quero, não.
Carminha – Eu fico do teu lado, minha irmã, eu te amparo. Se tu cai, eu te
seguro,
eu sou forte e tu não é pesada.
Madalena – Vou não.
Carminha – Se tu não fosse minha irmã e ia dizer que era esquisitice de gente
doida.
Madalena – Tu sabe que eu não sou nada doida.
Carminha – Se me dissessem assim: “Espia, Carminha, naquela casa tem
uma
moça que as pernas só funcionam dentro de casa. Na rua ela cai”, eu ia dizer
na
mesma da hora: Doideira. Oh, esqueci! A doida da casa é Teresa!
Cena 8 - (Teresa saboreia na cozinha os sonhos)
Transição de Grupo Grupo3: Teresa – Yasmin; José - João
Teresa – Esses são os melhores sonhos do mundo, hum... E com chazinho
de Artemísia então ficam bom demais... Hum, tive uma ideia genial para meu
monólogo que estou escrevendo, mas vou colher um galhinho de Artemísia pro chá,
acho que as minhas irmãs também irão gostar! Amanhã será o grande dia!
(Teresa sai de cena)
Narrador – Mas quem disse que seria fácil? Tem gente que ainda não sabia
lidar com os sonhos dos outros (aponta pra José), não é José?
(José entra na cozinha e rouba seu caderno)
José – Agora eu só quero ver essa história de concurso e teatro acontecer!
(sai de cena)
155
Cena 11 - Concurso
Narrador - E agora, com vocês Teresa de Beira Rio!
Monólogo de Teresa (Todas as Teresas em cena no palco)
Amor, bicho sem medida, inimigo do tempo, me ensine a ter paciência.
Amor, trem sem rumo, siga esse caminha comigo, me leve na tua mão, me
cobre
com teu manto, anda do meu lado, acende meu olhar.
Amor, velho cego, me ensine a enxergar meus irmãos. Vai, amor, vulcão,
explode no meio do mundo e queima tudo que não for teu.
(todas Teresas) Vai, rio que não tem fundo, remédio antigo, vira tudo do
avesso, faz do mundo teu arado, espalha a tua semente.
Aplausos do público
(Madalena encontra Carminha na plateia) Transição de Grupo 2 - Teresa –
Júlia; Madalena – Ludmila; Carminha – Samara + Grupo 3: Teresa – Yasmin;
Madalena – Isadora; Carminha: Luisa + Grupo1: Teresa – Bia; Madalena –
Maria Eduarda; Carminha - Amanda;
Madalena - Teresa!
158
Salvador
2017
161
1. INTRODUÇÃO
2. OBJETO
3. OBJETIVOS
4. JUSTIFICATIVA
Anseio que essa pesquisa seja fomentadora de desejos coletivos, e que garanta
a possibilidade de experimentação desse procedimento em diversos contextos. O
estudo das possíveis origens de modo de criação em coletivo, perpassando pela
criação coletiva, dá um suporte para compreensão dos processos colaborativos em
grupos brasileiros e suas peculiaridades, entender a importância desse modo criação
na atualidade e sua notória contribuição para prática pedagógica no ambiente escolar.
5. PERSPECTIVA METODOLÓGICA
objetos etc.) um estímulo dentro do processo criativo; dentro da noção das texturas,
assimila-se o conceito mais primário, que se refere a qualidade própria que um
material que desperta sensações ao contato, remetendo não só impressões limitadas
à visão e ao tato mas também, como texturas sonoras, termo presente em Sergio
Baron em “Texturas Sonoras: Áudio na Hipermídia”(2005). A utilização de tecidos,
imagens, sons, instrumentos no processo de modo diário propicia uma apropriação
da proposta de uma forma mais contundente, e reflete presença cênica dos alunos.
A organização das aulas será pautada pela utilização da metodologia Dragon
Dreaming, que consiste numa estratégia de organização de saberes para
concretização de projetos colaborativos, amplamente utilizada em comunidades onde
existem uma atuação social. O projeto nesse caso, é experiência em sala com a turma
que contempla uma apresentação de culminância na escola. Os eixos dessa
metodologia serão trabalhados em quatro verbos de inspiração.
SONHAR, que diz respeito a toda coleta inicial de informações, desde
informações técnica aos desejos dos alunos, no que diz respeito a temas e assuntos.
Na condução irei utilizar o tema guarda chuva “Sonho” como pré – texto para coleta
desses desejos. Textos poéticos, textos sobre memórias, músicas, histórias pessoais
são dispostos aos alunos para que sejam estimulados para criação de improvisações
e textos que serão elementos chaves na construção dessa dramaturgia; PLANEJAR,
diz respeito ao meu trabalho mais estrito de adequação da proposta ao tempo de
prática. Contempla a escolha das improvisações e textos que constituirão as cenas,
avaliação da proposta estética a ser aprofundada e implementação dos materiais de
ensaio e adequação a condições técnicas existentes (figurino, espaço, logística) afim
de viabilizar a proposta de culminância; REALIZAR, trata-se da própria realização da
culminância, em que abarca todas as condições reais da apresentação e gestão das
imprevisibilidades; CELEBRAR, que por fim propõe o exercício da auto-avaliação a
todos os participantes, visando reconhecer os possíveis aspectos transformadores da
experiência, apontando já caminhos pra outros novos “sonhos”.
167
CRONOGRAMA 2017
REFERÊNCIAS
BAIRON, Sergio. Texturas sonoras: áudio na hipermídia. São Paulo: Hacker, 2005.
BOAL, Augusto. 200 jogos e exercícios para o ator e não-ator com vontade de
dizer algo através do teatro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991.
ANEXOS