11098-Texto Do Artigo-31118-2-10-20220804
11098-Texto Do Artigo-31118-2-10-20220804
11098-Texto Do Artigo-31118-2-10-20220804
CADERNOS DE CIÊNCIAS
SOCIAIS APLICADAS
DOI: https://doi.org/10.22481/ccsa.v19i34.11098
Ano XIX Volume 19 Nº 34 jul./dez. 2022 e-ISSN: 2358-1212
Resumo: O presente artigo caracteriza-se em uma análise de conjuntura da Resolução nº 125 publicada
no ano de 2010 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que instituiu a Política Judiciária Nacional de
tratamento adequado de conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário.Esse acontecimento
institucionalizou os métodos consensuais, em especial a conciliação e a mediação, como um serviço a ser
prestado pelo Poder Judiciário, sendo um marco normativo para o estabelecimento de um novo
paradigma na resolução de conflitos de interesses. O objetivo é verificar, por meio de uma análise do
contexto social e político, os motivos que contribuíram para que o CNJ instituísse a referida política
judiciária, que apresenta grande relevância na conjuntura processual brasileira e teve reflexo direto na lei
que instituiu o novo Código de Processo Civil brasileiro. Para tanto, realizou-se uma investigação com a
metodologia qualitativa, utilizando-se do método dedutivo, realizando-se uma pesquisa descritiva e
bibliográfica. Como resultado, observou-se que a Resolução 125/2010 apresenta grande relevância na
conjuntura processual brasileira, inclusive como marco normativo para a instituição de um novo
paradigma voltado para a solução consensual de conflitos de interesse, sendo que o cenário de surgimento
da referida Resolução é marcado pela constatação de uma crise do Poder Judiciário, que buscava encontrar
solução para a morosidade, falta de eficiência e elevados gastos para sua manutenção.
From litigation to pacification: an analysis of the normatization process of the National Judicial Policy
for the adequate treatment of conflicts of interest
Abstract: This article is characterized by an analysis of the context of Resolution No. 125 published in
2010 by the National Council of Justice (CNJ), which instituted the National Judicial Policy for the
adequate treatment of conflicts of interest within the scope of the Judiciary. This event institutionalized
consensual methods, especially conciliation and mediation, as a service to be provided by the Judiciary,
being a normative framework for the establishment of a new paradigm in the resolution of conflicts of
interest. The objective is to verify, through an analysis of the social and political context, the reasons that
contributed to the CNJ instituting the referred judicial policy, which has great relevance in the Brazilian
procedural conjuncture and had a right reflection in the law that instituted the new Code of Conduct.
Brazilian Civil Procedure. For that, an investigation was carried out with the qualitative methodology,
using the deductive method, carrying out a descriptive and bibliographic research.
1 Mestranda em Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (PPGCSA/UEPG-PR).
Graduada em Direito pela UEPG. Docente do Centro Universitário Santa Amélia (UNISECAL). Advogada. E-mail:
fabiane.schactae@gmail.com
2 Mestranda em Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (PPGCSA/UEPG-PR).
Especialista em Direito Penal e Criminologia (ICPC). Defensora Pública do Estado do Paraná. Bacharel em Direito
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e graduada em Ciências Sociais pela Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas (USP). E-mail: moniaserafim@yahoo.com.br.
Do litígio à pacificação: uma análise do processo de normatização da Política Judiciária Nacional de tratamento adequado de conflitos de interesses
Introdução
Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas ano XIX vol. 19 nº 34 págs. 50-64 jul./dez. 2022 UESB Vitória da Conquista/BA pág. 51
Fabiane Mazurok Schactae; Monia Regina Damião Serafim
Assim, o artigo objetiva verificar, por meio de uma análise do contexto social e político,
os motivos que contribuíram para que o CNJ instituísse a referida política judiciária, que
apresenta grande relevância na conjuntura processual brasileira e teve reflexo direto na lei que
instituiu o novo Código de Processo Civil brasileiro em 2015. Para tanto, realizou-se uma
investigação com a metodologia qualitativa, utilizando-se do método dedutivo, realizando-se uma
pesquisa descritiva e bibliográfica.
A estrutura do trabalho aborda o contexto e o cenário da ‘Política Judiciária Nacional de
Tratamento Adequado de Conflito de Interesses’, que institucionalizou a mediação no Brasil,
buscando identificar os atores envolvidos na implementação e execução dos métodos
consensuais de solução de conflitos e a relação de forças necessária para a concretização da
política.
Métodos autocompositivos
Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas ano XIX vol. 19 nº 34 págs. 50-64 jul./dez. 2022 UESB Vitória da Conquista/BA pág. 52
Do litígio à pacificação: uma análise do processo de normatização da Política Judiciária Nacional de tratamento adequado de conflitos de interesses
Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas ano XIX vol. 19 nº 34 págs. 50-64 jul./dez. 2022 UESB Vitória da Conquista/BA pág. 53
Fabiane Mazurok Schactae; Monia Regina Damião Serafim
da jurisdição ou direito de ação, é a garantia de ter o seu conflito analisado pelo Estado. Além da
inafastabilidade da jurisdição, no mesmo artigo a Carta Magna prevê, no inciso LXXVIII, que “a
todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os
meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. (BRASIL, 1988).
A intensificação da busca pelo judiciário após o restabelecimento do regime
democrático é evidenciada pelo aumento considerável dos números de demandas no Poder
Judiciário. No ano da entrada em vigor da Constituição Federal de 1988 foram ajuizadas 350 mil
ações, no ano de 2010, ano de edição da Resolução 125, o número chegou 24.227,727. (CNJ,
2011).
Esse aumento exponencial acaba por ferir o direito fundamental de acesso à justiça, vez
que este não resguarda apenas o direito de levar o conflito à apreciação do judiciário, que seria o
viés formal do referido direito, mas também abarca o viés material, que consiste na garantia de
um acesso efetivo, ou seja, que tenha a resolução do conflito e em tempo reduzido para garantir
sua efetividade e atingir o fim da jurisdição que é a pacificação social. (BEDAQUE, 2003).
Desde a década de 1960 ganhou destaque o debate sobre os problemas relacionados ao
acesso à justiça, sendo colocado como pontos críticos a capacidade restrita do Judiciário de
processar um número cada vez maior de demandas e a menor possibilidade de determinados
indivíduos ou grupos acessarem os órgãos judiciários – principalmente aqueles econômica e
socialmente mais vulneráveis. Diante desta realidade, o acesso à justiça ganhou status de “o mais
básico e fundamental dentre os direitos humanos”. (CAPPELLETTI; GARTH, 1988).
O questionamento acerca da necessidade de uma mudança no sistema judiciário no
Brasil ganhou força na década de 90, com a implantação da política neoliberal do governo
Fernando Henrique Cardoso. Numa contribuição para a política neoliberal, o Banco Mundial
elaborou estudos sobre o sistema judiciário da América Latina. O estudo teve como finalidade
implantar a ideia da necessidade de reforma, contudo não estava voltada diretamente à melhoria
da prestação jurisdicional ao cidadão brasileiro, mas sim, à promoção do desenvolvimento
econômico e à expansão do capital.
Esse objetivo fica evidente no documento técnico 319, de autoria de Maria Dakolias,
intitulado “O setor judiciário na América Latina e no Caribe: Elementos para Reforma”,
publicado em 1996 pelo Banco Mundial. Consta no referido documento, no item denominado
“Os objetivos da Reforma do Judiciário”, a afirmação de que “as novas relações comerciais
demandam decisões imparciais com a maior participação de instituições formais. Todavia, o atual
sistema jurídico é incapaz de satisfazer esta demanda[...]”. Destacam-se entre os objetivos do
documento a redução da morosidade, ampliação do acesso à justiça, a implantação dos
Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas ano XIX vol. 19 nº 34 págs. 50-64 jul./dez. 2022 UESB Vitória da Conquista/BA pág. 54
Do litígio à pacificação: uma análise do processo de normatização da Política Judiciária Nacional de tratamento adequado de conflitos de interesses
Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas ano XIX vol. 19 nº 34 págs. 50-64 jul./dez. 2022 UESB Vitória da Conquista/BA pág. 55
Fabiane Mazurok Schactae; Monia Regina Damião Serafim
dá início à reforma do judiciário que se concretiza em 2004 com a promulgação EC 45, a qual
dentre as profundas alterações no texto constitucional, criou o CNJ.
No ano de 2001, a pedido do Ministério das Relações Exteriores do Governo do Brasil,
o Serviço de Assessoramento sobre Investimentos Estrangeiros (SAIE), um serviço conjunto da
Corporação Financeira Internacional e do Banco Mundial, realizou, na época, uma análise do
clima para investimentos no Brasil, com ênfase especial nos IED (investimentos estrangeiros
diretos). Segundo este documento, in verbis:
Verifica-se, portanto, que nos anos que antecederam o surgimento da normativa ora
analisada foram realizados estudos impulsionados pelo Banco Mundial relacionando problemas
enfrentados no Poder Judiciário com relação à economia nacional, estabelecendo que a
morosidade, a falta de confiança e a descredibilidade do seu funcionamento tinham papel
relevante para a falta de investimentos no país.
Outro estudo publicado também indicou que os problemas acerca da ineficiência do
Poder Judiciário refletiriam negativamente na economia brasileira, destacando que:
Ademais, a crise econômica mundial de 2008, sem dúvida, deve ser levada em
consideração como pano de fundo para se analisar propostas de mudanças na estrutura do
Estado, tendo em vista que dentre as estratégias liberais-internacionais, está a da redução de
gastos públicos (SOUZA, 1984, p. 41). Nesse contexto, e como o judiciário brasileiro é um dos
mais custosos do mundo, sem dúvidas o cenário de crise internacional apresenta impactos nas
estratégias e decisões do referido poder.
Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas ano XIX vol. 19 nº 34 págs. 50-64 jul./dez. 2022 UESB Vitória da Conquista/BA pág. 56
Do litígio à pacificação: uma análise do processo de normatização da Política Judiciária Nacional de tratamento adequado de conflitos de interesses
Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas ano XIX vol. 19 nº 34 págs. 50-64 jul./dez. 2022 UESB Vitória da Conquista/BA pág. 57
Fabiane Mazurok Schactae; Monia Regina Damião Serafim
Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas ano XIX vol. 19 nº 34 págs. 50-64 jul./dez. 2022 UESB Vitória da Conquista/BA pág. 58
Do litígio à pacificação: uma análise do processo de normatização da Política Judiciária Nacional de tratamento adequado de conflitos de interesses
Com o primeiro, o príncipe ou o magistrado cria leis por um tempo ou para sempre e
corrige ou anula aquelas que foram feitas. Com o segundo, ele faz a paz ou a guerra,
Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas ano XIX vol. 19 nº 34 págs. 50-64 jul./dez. 2022 UESB Vitória da Conquista/BA pág. 59
Fabiane Mazurok Schactae; Monia Regina Damião Serafim
envia ou recebe embaixadas, instaura a segurança, previne invasões. Com o terceiro, ele
castiga os crimes, ou julga as querelas entre os particulares. (MONTESQUIEU, 2000,
p.167-168).
Nessa clássica separação de poderes, cujo intuito é evitar arbitrariedade por parte do
Estado, coube ao Legislativo a função de elaborar as leis. Contudo, nem sempre o legislador
acompanha as transformações sociais, sem contar que o processo de elaboração, votação e
promulgação das normas demanda tempo.
Com a criação do CNJ em 2004, este passou a ter dentre as suas funções, a de elaborar
relatórios anuais sobre a situação do Poder Judiciário e propor providências que julgar
necessárias. Foi no exercício dessa função que constatou a necessidade de modificação do sistema
judiciário tradicional, heterocompositivo, o qual se mostrava congestionado, conforme apontado
por diversos dados já mencionados, propondo assim a Política Nacional de Tratamento
Adequado de Conflitos de Interesses por meio da Resolução 125/2010, que emana de órgão
administrativo, não possuindo assim força de lei, vinculando apenas os integrantes do Poder
Judiciário.
A partir do contexto apresentado, verifica-se que a crise do Sistema Judiciário brasileiro
foi constatada não apenas por dados e estudos nacionais, mas também por dados do Banco
Mundial, sendo que evidentemente, esta análise possui peso bastante relevante na elaboração de
metas pelo Poder Judiciário. As análises acerca do impacto da referida crise na economia nacional
certamente estimulam o Poder Público a pensar em soluções para a questão.
Fundado em tais constatações, considerando ainda o cenário de crise mundial dos anos
de 2008 e 2009, o CNJ estabelece uma série de metas, por meio da Resolução CNJ n. 70, de
março de 2009, a qual definiu o Planejamento Estratégico do Poder Judiciário, sendo que uma
destas metas é justamente o estímulo a formas alternativas de solução de conflitos.
A existência de um Organismo Internacional como o Banco Mundial, apontando para a
gravidade do problema do Judiciário brasileiro, é um fator bastante relevante para que fosse
criada a referida Resolução.
Por outro lado, internamente, a multiplicação de demandas sem solução também
chamou a atenção para a necessidade de implementação de reformas no sistema de justiça, dentre
os quais, a institucionalização de formas alternativas de solução de conflitos, a fim de dar maior
agilidade e eficiência para o sistema de justiça.
Outro ponto que merece atenção, em especial considerando um cenário de crise
econômica mundial vivenciado nos anos de 2008 e 2009, é o dos gastos envolvidos para
manutenção do Poder Judiciário, sendo que evidentemente, a demora das ações judiciais impacta
de forma significativa o aumento dos custos necessários para manutenção do sistema de justiça.
Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas ano XIX vol. 19 nº 34 págs. 50-64 jul./dez. 2022 UESB Vitória da Conquista/BA pág. 60
Do litígio à pacificação: uma análise do processo de normatização da Política Judiciária Nacional de tratamento adequado de conflitos de interesses
Válido analisar dados apresentados pelo relatório ‘Justiça em Números 2019’ acerca da
força de trabalho do Poder Judiciário, vez que boa parte dos recursos destinados ao órgão são
relativos ao pagamento de pessoal. Em 2018, o Poder Judiciário contava com um total de 450.175
pessoas em sua força de trabalho, sendo 18.141 magistrados (4%), 272.138 servidores (60,5%),
73.926 terceirizados (16,4%), 64.609 estagiários (14,4%) e 21.361 conciliadores, juízes leigos e
voluntários (4,75%). Este dado é bastante significativo, tendo em vista que segundo pesquisa
realizada pela Universidade de São Paulo no ano de 2019, apesar do texto da Resolução nº
125/10 ter previsão de pagamento de remuneração, não encontraram, nos estados visitados,
nenhum caso de conciliador remunerado. (CNJ, 2019)
Assim, verifica-se que a atividade jurisdicional, por meio da referida Resolução está
sendo, em parte, transferida para voluntários, dos quais se espera que auxiliem a resolver a crise
do Poder Judiciário. Há delegação de responsabilidade estatal para terceiros que não integram os
quadros do judiciário, tendência observada justamente em estratégias neoliberais de diminuição
do Estado. Assim, percebe-se que o neoliberalismo é uma força presente na estratégia
estabelecida na referida Resolução.
O texto original3 da Resolução é distribuído em quatro capítulos que abordam,
respectivamente, acerca da instituição da política, das atribuições do CNJ, das atribuições dos
Tribunais e dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC) e do Portal da
Conciliação. Dentre os assuntos tratados na Resolução, cabe destacar que a mesma contempla
que “o acesso à justiça vai além da vertente formal, que é a entrada em juízo do pedido
formulado pela parte” (BEDAQUE, 2003, p.71), implicando em uma ordem jurídica justa, que
corresponde a garantia de resposta efetiva e adequada à pretensão, isto é, “resultados que sejam
individual e socialmente justos” (CAPPELLETTI e GARTH 1998, p.8). Também faz expressa
menção à mediação e conciliação como “instrumentos efetivos de pacificação social, solução e
prevenção de litígios” (CNJ, 2010).
A Resolução determinou que os Tribunais criassem, no prazo de 30 (trinta) dias, o
NUPEMEC (Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos) a quem,
dentre outras, compete a implementação da Política e a instalação dos CEJUSC, espaços que
concentrariam a realização dos métodos consensuais.
A implementação e o desenvolvimento da Política Judiciária depende da cooperação
entre dos atores envolvidos, seja na implementação, seja na execução da política, o que Souza
(1984) denomina de relação de forças. Além da criação dos espaços para a aplicação dos métodos
3O texto teve três alterações posteriores, mas que não alteraram sua essência, razão pela qual não serão abordadas
nesse texto.
Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas ano XIX vol. 19 nº 34 págs. 50-64 jul./dez. 2022 UESB Vitória da Conquista/BA pág. 61
Fabiane Mazurok Schactae; Monia Regina Damião Serafim
consensuais, os CEJUSCs, cuja função foi atribuída aos Tribunais de Justiça de cada Estado,
necessitam também de pessoal capacitado para execução, que são os mediadores e os
conciliadores, uma vez que o Magistrado não pode em um mesmo conflito, exercer as duas
funções. Contudo, de nada adianta haver espaço adequado, profissionais capacitados, se não
houver incentivo a essas práticas.
Para o desenvolvimento da política, não basta a institucionalização pelo Poder
Judiciário, vez que tão importantes quanto a questão normativa e estrutural, são os sujeitos
envolvidos no processo de resolução de conflitos, a quem compete o incentivo à utilização do
serviço, conforme restou destacado no inciso VI do art. 6º da resolução 125, onde está disposto
que é necessário:
[...] estabelecer interlocução com a Ordem dos Advogados do Brasil, Defensorias
Públicas, Procuradorias e Ministério Público, estimulando sua participação nos Centros
Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania e valorizando a atuação na prevenção
dos litígios; (CNJ, 2010).
Considerações finais
Acontecimento são fatos que “adquirem um sentido especial para um país, uma classe
social, um grupo social ou uma pessoa” (SOUZA, 1984, p.10), sendo que a Resolução 125/2010,
que instituiu a Política Judiciária Nacional de Tratamento Adequado de Conflitos de Interesse, se
enquadra nesse conceito.
Como visto, essa resolução institucionalizou a mediação e a conciliação, passando estas
a integram os serviços a serem prestados pelo Poder Judiciário na resolução de conflitos de
interesses. Esse acontecimento é um marco para um novo caminho e, igualmente, para
estabelecimento de um novo paradigma no âmbito do Poder Judiciário, onde até então os
conflitos eram resolvidos pelo meio heterocompositivo, ou seja, solução por meio da decisão
imposta, e a partir de então passa-se a priorizar e incentivar a resolução por meio dos métodos
autocompositivos, onde vigora o princípio do autorregramento da vontade.
No Brasil, a institucionalização da mediação e da conciliação, como salientado, ocorreu
por meio de uma resolução oriunda de um órgão do Poder Judiciário, não tendo assim força de
lei. Contudo, a Resolução 125/2010 teve reflexos na reforma processual que deu origem ao Novo
Código de Processo Civil, Lei 13.115 de 20 de abril de 2015, que por sua vez, incluiu a mediação
e a conciliação como um ato processual obrigatório já no início do processo. Ainda em 2015 foi
promulgada a Lei 13.140, conhecida como a Lei da Mediação, que disciplina acerca dos
Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas ano XIX vol. 19 nº 34 págs. 50-64 jul./dez. 2022 UESB Vitória da Conquista/BA pág. 62
Do litígio à pacificação: uma análise do processo de normatização da Política Judiciária Nacional de tratamento adequado de conflitos de interesses
REFERÊNCIAS
BRASIL.Emenda Constitucional nº.45, de 2004. Altera dispositivos dos arts. 5º, 36, 52, 92, 93,
95, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 107, 109, 111, 112, 114, 115, 125, 126, 127, 128, 129, 134 e 168 da
Constituição Federal, e acrescenta os arts. 103-A, 103-B, 111-A e 130-A, e dá outras providências.
Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/emecon/2004/emenda constitucional-
45-8-dezembro-2004-535274-exposicaodemotivos-149264-pl.html#:~:text=A
%20Justi%C3%A7a%2C%20em%20seus%20v%C3%A1rios,mesma%20comunidade%20podem
%20distribuir%20Justi%C3%A7a.&text=Os%20ju%C3%ADzes%20n%C3%A3o%20se%20sub
metem%20a%20qualquer%20modalidade%20de%20censura%20externa. Acesso em: 06 mar.
2021.
CASTELAR, A., org. Judiciário e economia no Brasil [online]. Rio de Janeiro: Centro
Edelstein de Pesquisas Sociais, 2009.
Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas ano XIX vol. 19 nº 34 págs. 50-64 jul./dez. 2022 UESB Vitória da Conquista/BA pág. 63
Fabiane Mazurok Schactae; Monia Regina Damião Serafim
DIDIER Jr., F. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte
geral e processo de conhecimento.17. ed. - Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015.
MONTESQUIEU, C. S. O espírito das leis. Tradução Cristina Muracho. São Paulo, Martins
Fontes: 2000.
SANTOS,B. S. Pela mão de Alice: o social e político na pós-modernidade. 7ªed. Porto: Edições
Afrontamento, 1999.
SOUZA, H. J. (Betinho). Como se faz análise de conjuntura. 27ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes.
1984.
Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas ano XIX vol. 19 nº 34 págs. 50-64 jul./dez. 2022 UESB Vitória da Conquista/BA pág. 64