Modulo 01 Homiletica

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 5

Curso: “Pregação Bíblica”

MÓDULO 1
A CONCEITUAÇÃO DA PREGAÇÃO BÍBLICA

Introdução
Este é o primeiro módulo do seu curso sobre “Pregação Bíblica”. Desde muito
cedo na história, nas reuniões dos cristãos reservava-se tempo para que se fizesse
um estudo ou exposição das Escrituras Sagradas. A pregação sempre foi muito im-
portante para a igreja, ao longo dos séculos. Contudo, pesquisas feitas entre evangé-
licos mostram que, atualmente, há um interesse mínimo nos sermões. 1 Em contra-
partida, ainda existem pessoas que viajam longas distâncias para ouvir um bom pre-
gador. Estranho este paradoxo, não é verdade?
Precisamos concordar que ainda há interesse em “boas mensagens”, mas, nem
todas as mensagens que são pregadas semana após semana, são realmente boas.
E qual a razão? Na maioria dos casos, elas não foram preparadas adequadamente.
O pregador até tinha uma boa intenção, mas só boa a intenção não foi suficiente.
Pregar a palavra de Deus é coisa séria! Não dá para usar a frase “É o Espírito quem
fala”, como desculpa para não se preparar com seriedade quando formos expor a
palavra de Deus: o que ensina, esmere-se em fazê-lo (Rm 12:7). A pregação da pa-
lavra de Deus deve ser preparada com esmero!
É recomendável um preparo adequado, tanto para interpretar como para comu-
nicar as Escrituras. Para esta árdua, mas gratificante tarefa, além de contar com o
poder iluminador do Espírito Santo, o pregador pode contar, também, com as discipli-
nas da Hermenêutica e da Homilética. A hermenêutica trata da interpretação do texto
bíblico. A homilética, por sua vez, trata da estruturação e da comunicação do texto
bíblico. Na plataforma CTL Online você também pode adquirir o curso sobre interpre-
tação bíblica, que está disponível. Neste curso, todavia, você terá informações impor-
tantes sobre uma destas disciplinas: a homilética. O objetivo da homilética é auxiliar
na elaboração de sermões. Vejamos, de modo mais claro, algumas questões ligadas
a natureza desta disciplina.

1
Douglass (2000:139).

1
1. A IMPORTÂNCIA DA PREGAÇÃO BÍBLICA

Em uma de suas cartas ao seu filho na fé Timóteo, o apóstolo Paulo exortou:


Prega a palavra, insiste a tempo e fora de tempo, aconselha, repreende e exorta com
toda paciência e ensino (II Tm 4:2). Nesse simples e conhecido versículo bíblico, po-
demos encontrar o imperativo, o conteúdo e as características da pregação bíblica.
Vejamos a seguir cada um deles.
Em primeiro lugar, o imperativo da pregação. Existe uma ordem muito clara
nesse texto com relação à pregação da Palavra de Deus. Essa ordem ultrapassa a
barreira do destinatário original dessa carta e chega até nós: “Prega a palavra!” Esse
é o imperativo bíblico. Antes de ser elevado aos céus, Jesus também disse: ...pregai
o evangelho a toda criatura (Mc 16:15). No livro de Atos dos apóstolos, podemos ver
que, desde o seu nascedouro, a igreja primitiva sempre foi apegada à pregação da
Palavra de Deus (At 2:42; 6:4,7).
Em segundo lugar, o conteúdo da pregação. Veja o que diz o texto: “Prega a
palavra”. Não está escrito: preguem “sobre” a palavra, mas prega “a” palavra. E a que
“palavra” Paulo se refere? Não precisamos ir longe para responder. É só lermos os
três versículos anteriores, os últimos do capítulo 3 de II Timóteo: Toda a Escritura é
divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para
instruir em justiça; a fim de que o homem de Deus tenha capacidade e pleno preparo
para realizar toda boa obra (vv.16-17). Paulo está falando das Escrituras. As Escritu-
ras deveriam ser o conteúdo da pregação de Timóteo. A Palavra de Deus deve ser o
conteúdo do nosso sermão! Existem muitos pregadores que falam de tudo, menos da
Palavra de Deus, menos das Escrituras. Pregação sem a Palavra de Deus é mero
discurso vazio.
A aplicação de alguma notícia da atualidade durante o sermão deve ser inci-
dental, sendo mera consequência; não é algo primário. “Esse é o tipo de coisa que o
mundo, em seus clubes e em suas sociedades éticas, filosóficas, sociais e políticas,
é capaz de fazer; mas não é o tipo de coisa para a qual o pregador é chamado a
fazer”.2 O pregador é chamado para pregar a Palavra! A mensagem das Escrituras. A
mensagem da Bíblia. Quando a Palavra não é o conteúdo da pregação, o cristão que
a ouve recebe “palha” e não o verdadeiro alimento que sustenta, o maná dos céus!
Preguemos a Palavra!
Em terceiro lugar, as características da pregação. John Stott diz, com base
nesse texto, que quatro sinais devem caracterizar a proclamação bíblica:3

1. Deve ser uma proclamação urgente. O texto diz ...insta... O verbo grego
epistemi significa literalmente “assistir” e assim “estar em prontidão” ou “es-
tar disponível”. O sentido aqui é de urgência e insistência.
2. Deve ser uma proclamação contextual. Paulo diz o seguinte: ...aconselha,
repreende e exorta... Isso sugere que há pelo menos três maneiras de anun-
ciar. A Palavra fala a homens diferentes, em contextos diferentes. O prega-
dor deve lembrar-se disso ao proclamá-la.
3. Deve ser uma proclamação paciente. Este sinal da proclamação é visto na
seguinte expressão: ...com toda a paciência... Veja que interessante: ao
mesmo tempo em que o dever de proclamar a Palavra é urgente, devemos

2
Lloyd-Jones (1984:44).
3
Stott (2001:101-104).

2
ter toda a longanimidade para esperar a resposta. Nunca devemos nos valer
do uso de técnicas humanas de pressão para forçar uma pessoa a se decidir
por Cristo. Os resultados da pregação devem ficar a cargo do Espírito Santo.
A nós, resta a paciência em esperá-los.
4. Deve ser uma proclamação inteligente. A última parte do versículo diz: ...e
ensino. O ministério da proclamação da Palavra é essencialmente o minis-
tério do ensino. Quem proclama a palavra deve estar preparado para o
mesmo. O sermão, ou a pregação, deve ser proclamado de modo inteli-
gente. Nós não pregamos nossas ideias, nossas opiniões, mas a Bíblia Sa-
grada. O conteúdo da mensagem está nas Escrituras. Isso exige do prega-
dor sabedoria ao apresentá-lo.

A mensagem precisa ser pregada! E, como acabamos de ponderar, não pode ser
de qualquer jeito. A pregação deve ser urgente, contextual, paciente e inteligente. O
objetivo do estudo da matéria chamada homilética é justamente este: preparar ho-
mens e mulheres, que amam ardentemente Jesus e sua Palavra, para que possam
proclamá-la de modo a atrair pessoas para o reino de Deus. Nesse mesmo sentido,
afirmou Thomas Hawkins: “O objetivo da homilética é auxiliar na elaboração de temas
que apresentem em forma atraente uma mensagem da Palavra de Deus, e com tal
eficiência que os ouvintes compreendam o que devem fazer e sejam movidos para
fazê-lo”.4

2. OS OBSTÁCULOS DA PREGAÇÃO BÍBLICA

A igreja de Cristo enfrentou muitos ataques no início de sua história. O inimigo


tentou destruí-la através da perseguição (At 4:1-31), da corrupção (At 5:1-11) e da
distração (At 6:1-4).5 Desses três ataques, o mais astuto, com certeza, foi o último: o
da distração. Se conseguisse distrair os apóstolos com a ação social, que não era o
foco da sua missão, eles descuidariam do ministério da Palavra e deixariam a igreja
sem defesa contra as heresias! Todavia, o Espírito Santo entrou em ação, e isso não
aconteceu. Os apóstolos continuaram devotados à oração e ao ministério da Palavra
(At 6:4). Qual foi o resultado disso? A palavra de Deus era divulgada, de modo que o
número dos discípulos em Jerusalém se multiplicava muito (At 6:7).
É sempre bom considerarmos esse episódio para não esquecermos que o di-
abo ainda continua sendo um opositor da igreja, e com relação à vida daqueles que
desejam ser pregadores da Palavra de Deus não é diferente. Ele continua rugindo
como leão, buscando a quem possa tragar (I Pe 5:8). Por isso, aquele que pensa estar
de pé, olhe para que não caia (I Co 10:12). Vigiemos e não nos esqueçamos: maior é
o que está em nós!
Pois bem, além dele, ainda há alguns outros obstáculos que se colocam no
caminho daqueles que desejam proclamar a Palavra de Deus. Eles são sutis. Às ve-
zes sequer achamos que eles são obstáculos. Nós precisamos ficar atentos. Muitos
pregadores têm se deixado dominar por eles e têm desenvolvido um ministério da
Palavra sofrível. Alistaremos pelo menos cinco.
Em primeiro lugar, o obstáculo do desinteresse. Existem pregadores que não têm
interesse algum no que diz respeito ao estudo da homilética. Acham que preparar
sermões é totalmente desnecessário. Usam o famoso chavão: “O Espírito Santo é

4
Hawkins (1980:14).
5
Stott (2008:132).

3
quem fala” (usam Lc 12:11-12). Nós sabemos e concordamos que quem tem de falar
é o Espírito Santo mesmo, mas isso não exclui o preparo por parte do pregador.
Em segundo lugar, o obstáculo da preguiça. Há muitos sermões sendo feitos de
qualquer jeito. Existem pessoas que desejam pregar, mas têm preguiça de ler, estu-
dar, preparar-se para tal. A Bíblia diz: ...o que ensina, esmere-se no fazê-lo (Rm 12:7).
Em terceiro lugar, o obstáculo do orgulho. Orgulho é o conceito exagerado de si
mesmo. Geralmente, quem prega, acha que prega bem. Esse é um obstáculo que
também deve ser vencido!
Em quarto lugar, o obstáculo do recalque. Recalcar é calcar outra vez; e calcar é
pisar com o pé ou com os pés. Muitos pregadores usam o momento da pregação para
extravasar com alguém. São os famosos “sermões encomendados”. Não podemos
cair nessa tentação.
Em quinto lugar, o obstáculo da teoria. Se por um lado existem aqueles que od-
eiam teoria, têm aversão a métodos e desprezam a homilética, existem outros que a
“divinizam”. Acham que teoria é tudo ou que ela diz tudo; precisamos tomar cuidado.
Homilética não é substituta de uma vida com Deus. Oração e pregação precisam sem-
pre andar juntas. Um sermão muito bem preparado, mas que não conta com o res-
paldo de uma vida dedicada ou consagrada a Deus é um mau sermão. Quem não
conhece a famosa história da esposa que disse, enquanto seu esposo pregava: “-
Como eu gostaria que ele praticasse, em casa, o que ele ensina no púlpito!”. Pregue-
mos o que vivemos, e vivamos o que pregamos!

3. A NATUREZA DA PREGAÇÃO BÍBLICA

Nesta parte, faremos algumas considerações sobre a definição de “pregação”


e, depois, sobre a definição de “homilética”.

3.1 A definição de pregação

A pregação está em declínio atualmente. Entretanto, no Novo Testamento a


pregação é o evento central através do qual Deus opera nas pessoas (cf. I Pe 1:23; I
Ts 1:9-10, 2:13). A pregação sempre teve lugar central na vida da igreja do primeiro
século. “No ministério de Jesus, pregar era algo de enorme importância. Embora se
sentisse grandemente tentado a dar a primazia a outros métodos para aproximar-se
do mundo, ele ‘veio pregando’. Na sinagoga, em Nazaré, ele descreveu a si mesmo
como tendo sido divinamente ordenado a ‘evangelizar os pobres [...], proclamar liber-
tação aos cativos [...] e apregoar o ano aceitável do Senhor’ (Lc 4:18-19)”.6
Mas, se a pregação é tão importante, como podemos defini-la? É necessário com-
preendermos a sua natureza. No Novo Testamento, pregar é proclamar o evangelho,
as boas novas, a mensagem recebida de Deus. Em linhas gerais, podemos dizer que
pregar é comunicar a verdade divina através da personalidade humana escolhida. 7
Essa tarefa é tão importante que as palavras usadas para “pregação” no Novo Testa-
mento se repetem mais de 115 vezes! A pregação é a estratégia divina deixada por
Jesus à sua igreja. E, nesse aspecto, a história da igreja não mente. A força da igreja
está diretamente relacionada com a força do púlpito. “Sempre que a mensagem do
púlpito foi incerta e vacilante, a igreja esteve fraca; e sempre que o púlpito apresentou
uma mensagem positiva, declarativa, a igreja foi forte”.8
6
Broadus (2009:4).
7
Ibidem.
8
Idem, p. 8.

4
3.2 A definição de homilética

É exatamente por causa da missão que a igreja possui de “pregar” o evangelho,


que surgiu a homilética. Homilética não é um substituto espiritual, nem garantia de
sucesso. O que é homilética, então? A nossa palavra portuguesa “homilética” é deri-
vada do termo grego homilia, que significa um discurso com a finalidade de convencer
e agradar. Jilton Moraes diz que homilia significava também “conversação” e, somente
com o passar do tempo, adquiriu o significado de discurso religioso.9
Temos o verbo “homileo” em Lucas 24:15, com o sentido de “conversar”: En-
quanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou... O verbo “conver-
sar”, passou a ser empregado para indicar os discursos em tom familiar que eram
feitos em reuniões ou assembleias. Deste verbo, vem o substantivo homilia, que pas-
sou a designar as exposições instrutivas que se fazia das escrituras no contexto litúr-
gico das primeiras comunidades cristãs.
A arte de falar em público vem da Grécia Antiga e tinha o nome de “retórica”. O
cristianismo passou a usar essa arte como meio de pregação. Olhando por esse
prisma ainda, John Broadus diz que a ciência da homilética nada mais é “que a adap-
tação da retórica às finalidades e às exigências particulares da pregação. A homilética
pode ser definida como a ciência da preparação e da entrega de um discurso baseado
nas Escrituras”.10 Ela é uma auxiliar na pregação bíblica. Nasceu quando os pregado-
res cristãos começaram a estruturar os seus sermões.

Conclusão

A homilética nasceu para ser uma auxiliar na pregação bíblica. No presente


curso, nosso objetivo é ajudá-lo, passo a passo, a construir um sermão bíblico usando
as técnicas da homilética. Oramos para que, no final deste curso, possamos ter ferra-
mentas suficientes para sermos conhecidos como obreiros aprovados, que manejam
corretamente a Palavra (2 Tm 2:15).

9
Moraes (2007:20).
10
Broadus (2009:13).

Você também pode gostar