Modelo Experimental para O Estudo Da Gastrosquise em Embriões de Galinha

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 153

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA


FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA: CIRURGIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DEFEITOS DA PAREDE ABDOMINAL

MODELO EXPERIMENTAL PARA O ESTUDO


DA GASTROSQUISE EM EMBRIÕES
DE GALINHA

Carlos André Tarrio Gandara

Porto Alegre
2002
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA: CIRURGIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DEFEITOS DA PAREDE ABDOMINAL

MODELO EXPERIMENTAL PARA O ESTUDO


DA GASTROSQUISE EM EMBRIÕES
DE GALINHA

Carlos André Tarrio Gandara

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Medicina: Cirurgia, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
para obtenção do título de Mestre em Medi-
cina.

Orientador: Prof. Dr. Ubirajara Índio Carvalho da Motta

Porto Alegre
2002
Ficha Catalográfica

G195m Gandara, Carlos André Tarrio


Modelo experimental para o estudo da gastrosquise em em-
briões de galinha / Carlos André Tarrio Gandara ; orient. Ubira-
jara Índio Carvalho da Motta. – Porto Alegre, 2002.
153 f. : il. color.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Gran-


de do Sul. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação
em Medicina: Cirurgia.

1. Gastrosquise. 2. Modelos animais de doenças. 3. Embrião


de galinha. I. Motta, Ubirajara Índio Carvalho da. II. Título.

NLM: WI950

Catalogação Biblioteca FAMED/HCPA


Pegue vinte ou mais ovos e deixe-os para serem chocados por
duas ou mais galinhas. Então a cada dia, a partir do
segundo dia de incubação, retire um ovo, quebre-o e
examine-o.
Você encontrará exatamente as situações que eu
informo, pois a natureza da ave assemelha-se
à do homem.

Hipócrates (460-377 a.C.)


À minha amada esposa Mariângela, minha
maior incentivadora, por ter proporcionado a
tranqüilidade necessária para realizar este
sonho.

À nossa filha Maria Eduarda, que nasceu


em meio à dissertação e encheu de alegria
nossas vidas.

Aos meus pais, pelo exemplo.


“Soñar lo imposible soñar

Vencer al invicto rival

Sufrir el dolor insufrible

Morir por un noble ideal...

...Con fe una estrella alcanzar

Luchar por un mundo mejor

Perseguir lo mejor que hay en ti

Llegar donde nadie há llegado

Y soñar lo imposible soñar”

Don Quijote y Aldonza


Letra de Joe Darion
Do musical “El hombre de La Mancha”

Ao Dr. Ubirajara Índio Carvalho da Motta,


exemplo de Médico e Amigo,
a quem tantos outros cirurgiões pediátricos, como eu, devemos aquilo que temos de mais
precioso na medicina, nossa formação e nosso amor pelos pacientes.
Obrigado.
Agradecimentos

• Ao colega Eduardo Spadari Araújo, amigo e colaborador, que com seu

espirito científico contribuiu diretamente para esta dissertação.

• Ao Dr. Tanju Aktug, da Dokuz Eyul University, Izmir, Turquia, que pa-

cientemente respondeu a todas as minhas dúvidas, forneceu preciosas

sugestões e prestou significativa colaboração para o desenvolvimento

deste estudo.

• Aos mestres Elinês Oliva Maciel, João Vicente Bassols e João Carlos

Ketzer de Souza, pelo exemplo, estímulo e amizade.

• Ao médico veterinário Aírton Cogo, exímio especialista na criação de

aves, que, com sua experiência, auxiliou no aprendizado do desenvolvi-

mento e criação dos embriões, e à sua empresa, a Sulave S.A, que gen-

tilmente cedeu os animais para a pesquisa.

• Ao Dr. Celso Piccoli Coelho, diretor do Centro de Ciências Biológicas e

da Saúde, da Universidade de Caxias do Sul (UCS), pelo apoio à exe-

cução do experimento nos laboratórios da UCS.

• Aos colegas médicos patologistas Alessandra Godoy, Vinícius Silveira

e Ana Maria Geiger, pela competência na preparação e análise do mate-

rial anatomopatológico.
• Ao amigo e colega de mestrado Clândio de Freitas Dutra, pelas inúme-

ras vezes em que trocamos idéias sobre nossas dissertações nestes dois

anos de convivência.

• Ao Dr. Mário Wagner, que, com sua competência e objetividade, iluminou

os caminhos da estatística e da epidemiologia.

• À Dra. Maria do Horto Motta, pelo requinte e competência na revisão de

linguagem de todo o trabalho.

• Aos funcionários do Biotério da UCS, em especial à Sra. Maria Ilani da

Silveira, pela paciência e carinho que dedicou no cuidado diário dos em-

briões e pintos.

• Aos professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação em

Cirurgia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.


Sumário

LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
RESUMO
SUMMARY
1 - INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 2
1.1 - Definições ................................................................................................................................ 6
1.2 - Aspectos Históricos ....................................................................................................... 9
1.3 - Patogênese da Gastrosquise ................................................................................. 12
1.4 - Epidemiologia....................................................................................................................... 16
1.5 - Diagnóstico Pré-Natal dos Defeitos da Parede
Abdominal ............................................................................................................................... 18
1.6 - Etiologia da Lesão Intestinal na Gastrosquise....................................... 19
1.7 - Modelos Experimentais de Gastrosquise ................................................... 26
1.7.1 - Modelos Experimentais em Coelho ........................................................ 27
1.7.2 - Modelos Experimentais em Ovelha ........................................................ 28
1.7.3 - Modelos Experimentais em Rato .............................................................. 29
1.7.4 - Modelos Experimentais em Galinha ..................................................... 30

1.7.4.1 - A Incubação de Embriões de Galinha ............................... 30


1.7.4.2 - A Embriologia da Ave .................................................................... 33
1.7.4.3 - O Embrião de Galinha como Modelo Expe-
rimental ................................................................................................... 38

1.7.4.4 - Embrião de Galinha e as Técnicas de Troca


de Líquido Amniótico ..................................................................... 42
2 - OBJETIVOS ........................................................................................................................................... 47
2.1 - Objetivo Principal.............................................................................................................. 47
2.2 - Objetivos Secundários ................................................................................................. 47
3 - MATERIAL E MÉTODO ............................................................................................................... 49
3.1 - Delineamento da Pesquisa ....................................................................................... 49
3.2 - Local da Pesquisa ............................................................................................................ 49
3.3 - Estudo Piloto......................................................................................................................... 49
3.4 - Amostra...................................................................................................................................... 53
3.4.1 - Critérios de Inclusão ......................................................................................... 53
3.4.2 - Critérios de Exclusão ....................................................................................... 53
3.4.3 - Grupos......................................................................................................................... 54
3.5 - Método ........................................................................................................................................ 55
3.6 - Variáveis em Estudo....................................................................................................... 67
3.7 - Ética em Estudos Experimentais ....................................................................... 68
3.8 - Análise Estatística ............................................................................................................ 70
4 - RESULTADOS .................................................................................................................................... 72
4.1 - Sobrevida ................................................................................................................................. 72
4.2 - Acidentes no Procedimento .................................................................................... 75
4.3 - Peso, Comprimento e Largura dos Ovos e Peso dos
Embriões .................................................................................................................................. 76
4.4 - Análise Macroscópica das Vísceras Expostas....................................... 78
4.5 - Análise Microscópica das Alças Intestinais ............................................. 82
4.6 - Número de Plexos Nervosos .................................................................................. 90
4.7 - Espessura Intestinal ....................................................................................................... 92
5 - DISCUSSÃO ......................................................................................................................................... 96
6 - CONCLUSÕES ................................................................................................................................... 108
7 - PERSPECTIVAS ................................................................................................................................ 110
8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 112
ANEXOS
Lista de Tabelas

Tabela 1 Comparação entre os estudos no Brasil e Ingla-


terra ................................................................................................................................... 4
Tabela 2 Gastrosquise versus Onfalocele .................................................................. 9
Tabela 3 Fatores de risco para gastrosquise ........................................................... 17
Tabela 4 O embrião de galinha como modelo experimental
para outras patologias que não a gastrosquise ............................... 40
Tabela 5 Avaliação histológica do intestino dos embriões de
galinha ............................................................................................................................. 69
Tabela 6 Acidentes no procedimento para criar uma gas-
trosquise......................................................................................................................... 75
Tabela 7 Medidas de peso, comprimento e largura dos ovos,
peso dos embriões e relação peso do embrião pe-
so do ovo (média ± desvio padrão) ........................................................... 76
Tabela 8 Análise histológica das alças de intestino delgado
dos 3 grupos, baseado no escore padronizado da
tabela 5 (média ± desvio padrão)................................................................ 89
Tabela 9 Número de plexos nervosos por corte de intestino
(média ± desvio padrão) .................................................................................... 91
Tabela 10 Medidas de espessura intestinal em micrômetros ......................... 93
Tabela 11 Sobrevida dos modelos experimentais de gastros-
quise.................................................................................................................................. 100
Lista de Figuras

Figura 1 Gastrosquise .................................................................................................................. 7


Figura 2 Gastrosquise – detalhe .......................................................................................... 7
Figura 3 Onfalocele – Observar o saco recobrindo, as alças in-
testinais .............................................................................................................................. 8
Figura 4 O embrião de galinha e suas relações com as mem-
branas extra-embriônicas. (1) Embrião, (2) Cavidade
amniótica – âmnio, (3) Gema – saco da gema, (4) Al-
bumina, (5) Cavidade alantóide – membrana alantói-
de, (6) Câmara de ar, (7) Membrana amnioalantóide,
(8) Membrana corioalantóide, (9) Casca do ovo –
membrana do ovo. ..................................................................................................... 36
Figura 5 Embrião de 13 dias de desenvolvimento.................................................. 50
Figura 6 Transiluminação evidenciando o ovo fecundado (a) e
não fecundado (b) ...................................................................................................... 51
Figura 7 Gancho manufaturado a partir de um estilete cirúrgico,
utilizado para identificar e trazer para fora o cordão
umbilical, diminuindo o risco de lesão do embrião............................ 52
Figura 8 Incubadora....................................................................................................................... 55
Figura 9 Incubadora aberta ...................................................................................................... 56
Figura 10 Antissepsia com álcool 70%, na extremidade mais
alargada do ovo ........................................................................................................... 58
Figura 11 Abertura do orifício na extremidade mais alargada do
ovo, com o uso da pinça tipo “mosquito” .................................................. 59
Figura 12 Orifício de 0,7 a 1 cm de diâmetro aberto sobre a câ-
mara de ar para abordagem cirúrgica ........................................................ 59
Figura 13 Orifício sobre a câmara de ar com visão da membrana
do ovo ................................................................................................................................. 60
Figura 14 Abordagem da cavidade alantóide e amniótica com o
gancho, para abrir as membranas e localizar o cordão
umbilical ............................................................................................................................. 60
Figura 15 Gancho trazendo o cordão umbilical ........................................................... 61
Figura 16 Gancho trazendo o coto umbilical com as alças intes-
tinais visíveis mas cobertas pela membrana do cor-
dão. ....................................................................................................................................... 61
Figura 17 Tesoura de Iris abrindo o cordão umbilical, tomando-
-se o cuidado de não lesar a artéria e veia umbilical ...................... 62
Figura 18 Cordão umbilical aberto e as alças intestinais parcial-
mente expostas............................................................................................................ 62
Figura 19 Alças intestinais fora do cordão umbilical, liberadas
das membranas que recobrem ........................................................................ 63
Figura 20 Cordão umbilical devolvido para dentro do ovo e o ori-
fício sendo coberto por um curativo plástico adesivo ..................... 63
Figura 21 Fechamento do orifício com curativo plástico ....................................... 64
Figura 22 Final do procedimento, ovos devolvidos à incubadora
para controle de temperatura, umidade e viragem até
o 19o dia ............................................................................................................................ 64
Figura 23 No 19o dia de desenvolvimento o ovo é aberto e a vi-
talidade do embrião é avaliada pelos movimentos es-
pontâneos ou pelo sangramento das membranas da
casca.................................................................................................................................... 65
Figura 24 Embrião no 19o dia, no momento da abertura do ovo. .................. 65
Figura 25 Detalhe do abdômen do embrião com o saco da ge-
ma, o cordão umbilical e as alças intestinais com as-
pecto espessado protuídas para fora do abdômen .......................... 66
Figura 26 Embriões mortos do grupo gastrosquise .................................................. 72
Figura 27 Embrião do grupo gastrosquise morto ....................................................... 73
Figura 28 Embrião do grupo gastrosquise, que no 19o dia apre-
sentava cicatrização completa do coto umbilical, sem
exteriorização das alças ........................................................................................ 74
Figura 29 Distribuição dos ovos e embriões na amostra...................................... 75
Figura 30 Gráficos de média e barra de erro (± desvio padrão)
representando a comparação de diversas variáveis
entre os grupos em estudo (G: gastrosquise; M: mistu-
ra; C: controle) .............................................................................................................. 77
Figura 31 Embrião vivo do grupo gastrosquise ........................................................... 78
Figura 32 Embrião vivo do grupo gastrosquise ........................................................... 79
Figura 33 Embrião vivo do grupo gastrosquise. Alças intestinais
expostas, aderidas e com parede espessada, ainda é
possível identificar o saco da gema ............................................................. 79
Figura 34 Embrião vivo do grupo gastrosquise. Alças intestinais
expostas, lateralmente ao cordão umbilical e ao saco
a gema................................................................................................................................ 80
Figura 35 Embrião do grupo mistura.................................................................................... 80
Figura 36 Embrião do grupo controle .................................................................................. 81
Figura 37 Detalhe do coto umbilical aberto do embrião do grupo
controle. ............................................................................................................................. 81
Figura 38 Corte histológico do intestino de embrião do grupo C,
(100x .................................................................................................................................... 82
Figura 39 Corte histológico do intestino de embrião do grupo C,
(100x). Enterite leve ................................................................................................. 83
Figura 40 Corte histológico do intestino de embrião do grupo C,
(400x .................................................................................................................................... 83
Figura 41 Corte histológico do intestino de embrião do grupo M,
(100x) .................................................................................................................................. 84
Figura 42 Corte histológico do intestino de embrião do grupo M,
(400x). Enterite leve ................................................................................................... 84
Figura 43 Corte histológico do intestino exposto de embrião do
grupo G, (40x) ............................................................................................................... 85
Figura 44 Corte histológico do intestino exposto de embrião do
grupo G, (100x) ............................................................................................................ 85
Figura 45 Corte histológico do intestino exposto de embrião do
grupo G, (100x) ............................................................................................................ 86
Figura 46 Corte histológico do intestino exposto de embrião do
grupo G, (100x) ............................................................................................................ 86
Figura 47 Corte histológico do intestino exposto de embrião do
grupo G, (400x). Serosite severa ................................................................... 87
Figura 48 Corte histológico do intestino exposto de embrião do
grupo G, (400x) ............................................................................................................ 87
Figura 49 Corte histológico do intestino exposto de embrião do
grupo G, (100x) ............................................................................................................ 88
Figura 50 Corte histológico do intestino exposto de embrião do
grupo G, (400x) ............................................................................................................ 88
Figura 51 Corte histológico do intestino exposto de embrião do
grupo G, (400x) ............................................................................................................ 89
Figura 52 Corte histológico do intestino exposto de embrião do
grupo G, (400x) ............................................................................................................ 90
Figura 53 Corte histológico do intestino de embrião do grupo M,
(400x) .................................................................................................................................. 91
Figura 54 Corte histológico do intestino de embrião do grupo C,
(40x). Demonstração das camadas intestinais
medidas pela morfometria digital.................................................................... 92
Figura 55 Gráficos de média e barra de erro (± desvio padrão)
representando a comparação de medidas de espes-
suras intestinais. (G: gastrosquise; M: mistura; C: con-
trole) ..................................................................................................................................... 94
RESUMO
RESUMO

A gastrosquise passou, nos últimos 50 anos, da condição de uma pa-

tologia fatal para índices de sobrevida ao redor de 90%, graças aos avanços

na neonatologia e cirurgia neonatal modernas. Porém uma significativa mor-

bidade permanece, relacionada principalmente com o atraso no início do fun-

cionamento intestinal normal. Este tema é objeto de estudo em vários cen-

tros visando determinar a origem do problema e promover soluções. Os mo-

delos experimentais em animais são parte importante desses estudos. O

objetivo deste trabalho foi o de reproduzir o modelo experimental da gastros-

quise em embriões de galinha e comprovar que as alterações histopatólogi-

cas apresentadas são comparáveis às da gastrosquise em humanos. Foram

utilizados 278 ovos galinha da raça Leghorn (Gallus domesticus). Os em-

briões foram divididos em três grupos: grupo gastrosquise, no qual, através

de um orifício na casca do ovo, o cordão umbilical foi aberto e as alças intes-

tinais expostas a uma mistura de líquidos amniótico e alantóide; grupo mistu-

ra, no qual se promovia apenas a mistura de líquidos amniótico e alantóide,

sem a manipulação do coto umbilical e sem a exposição de alças intestinais;

e o grupo controle, que consistia de embriões normais e nos quais nenhum

procedimento foi realizado. Os procedimentos foram feitos no 13o dia do de-

senvolvimento embrionário, e o estudo encerrado no 19o, quando as alças


intestinais dos embriões foram removidas e encaminhadas para análise his-

tológica convencional e análise morfométrica digital. Ao final do experimento,

foram obtidos 23 embriões vivos do grupo gastrosquise (11,1% de sobre-

vida), 18 dos quais apresentavam alças intestinais expostas (8,7% de su-

cesso). No grupo mistura, 12 (70,5%) de 17 embriões sobreviveram ao pro-

cedimento. Como controle foram utilizados 10 embriões normais. Os em-

briões do grupo gastrosquise apresentaram um peso menor que os dos ou-

tros grupos. Este grupo também desenvolveu alterações intestinais consis-

tindo em infiltrado inflamatório da serosa e mucosa, alterações isquêmicas

da parede intestinal e formação de uma camada de fibrina sobre as alças.

Tais achados são característicos da gastrosquise humana e não foram

observados nos demais grupos. Os embriões do grupo gastrosquise mostra-

ram também espessamento da parede intestinal, principalmente da serosa,

quando em comparação com os outros grupos. Desta forma, o modelo ex-

perimental em embriões de galinha mostrou ser capaz de reproduzir as alte-

rações intestinais da gastrosquise humana.


SUMMARY
SUMMARY

In the last 50 years gastroschisis has gone from a fatal condition to a disease

with survival rates of around 90%. This is due to advances achieved in

modern neonatology and neonatal surgery. However, there is still significant

morbidity, related mainly to the delay in beginning normal intestinal function

observed in these patients. This topic has been studied at several centers

with a view to determining the source of this problem and achieving solutions.

Experimental animal models are a major part of these studies. The purpose

of this study was to reproduce the experimental model of gastroschisis in

chicken embryos and to prove that the histopathological changes that occur

in this model can be compared to those in human gastroschisis. A total of

278 Leghorn hen (Gallus domesticus) eggs were used. The embryos were

divided into three groups: the gastroschisis group, in which the umbilical cord

was opened through an orifice made in the eggshell, and the intestinal loops

were exposed to a mixture of amniotic liquid and allantoid; the mixture group,

in which the amniotic liquid and allantoid were simply mixed without

manipulating the umbilical stump and without exposing intestinal loops; and

the control group which consisted of normal embryos in which no procedure

was performed. The procedures were performed on the 13th day of embryo

development and the study was ended on the 19th day, when the intestinal
loops of the embryos were removed and sent for conventional histological

study and digital morphometric analysis. At the end of the experiment, 23 live

embryos were obtained in the gastroschisis group (11.1% survival), and 18 of

these presented exposed intestinal loops (8.7% success). In the mixture

group, 12 (70.5%) of 17 embryos survived the procedure. And 10 normal

embryos were used as control. The embryos of the gastroschisis group

weighed less than those of the other two groups. The gastroschisis group

also developed intestinal changes consisting of an inflammatory infiltrate of

the serosa and mucosa, ischaemic changes in the intestinal wall and

formation of a fibrin layer over the loops. These findings are characteristic of

human gastroschisis and were not observed in the two other groups studied.

The embryos of the gastroschisis group also presented a thickening of the

intestinal wall, particularly the serosa, as compared with the other groups.

Thus, the experimental model in chicken embryos proved able reproduce the

intestinal changes of human gastroschisis.


1 - INTRODUÇÃO
1 - Introdução 2

1 - INTRODUÇÃO

O prognóstico dos recém-nascidos portadores de anomalias congênitas

vem se modificando nos últimos anos. Cinqüenta anos atrás a gastrosquise

era uma malformação fatal, e hoje em dia mais de 90% das crianças sobre-

vivem e têm um excelente prognóstico a longo tempo1.

Mas a que fatores se atribui esta importante melhora?

A partir de 1943, quando ocorreu o relato do primeiro paciente portador

de gastrosquise que sobreviveu ao tratamento cirúrgico, muita coisa mudou2.

Desde então foram criadas e aprimoradas as unidades de terapia intensiva

neonatal, centros terciários complexos que compreendem, além de equipa-

mentos sofisticados, profissionais altamente capacitados. Outro aspecto im-

portante foi o desenvolvimento da nutrição parenteral, que veio para atenuar

o problema das crianças que permaneciam por longos períodos em jejum

após a cirurgia. Desenvolveram-se também os métodos de diagnóstico pré-

natal, incluindo aí principalmente a ecografia, assim como houve o apri-

moramento dos cuidados obstétricos em gestações de alto risco. A qualifica-

ção técnica das equipes cirúrgicas e o aprimoramento dos materiais utiliza-

dos para correção desses defeitos, como as bolsas de silicone, acrescenta-

ram também sua parcela ao sucesso alcançado. Esses benefícios se esten-

deram para todas as patologias neonatais, além da gastrosquise, como a

atresia de esôfago, a hérnia diafragmática e a enterocolite necrosante3, 4.


1 - Introdução 3

Desta forma, diante, hoje, de uma patologia com um índice de cura de

90% dos casos, o que resta por estudar nesses pacientes?

A verdade é que, em gastrosquise, problemas fundamentais ainda não

foram solucionados, permanecendo como objeto de estudo por muitos pes-

quisadores:

a) a sua etiologia e sua relação com as onfaloceles;

b) a ação deletéria e inconstante do líquido amniótico sobre as alças

intestinais expostas;

c) a razão para a diminuição da atividade peristáltica dessas alças;

d) o manejo correto das atresias intestinais associadas;

e) as indicações dos tratamentos estagiados (silos);

f) o manejo da síndrome do intestino curto resultante de ressecções

intestinais por múltiplas atresias, ou decorrente da diminuição de

comprimento do intestino.

Muitas perguntas ainda pendentes a respeito da gastrosquise não po-

dem ser respondidas sem a utilização de modelos experimentais da doença.

Os pacientes portadores dessa patologia raramente fornecem material para

estudo histológico, ou seja, não faz parte do tratamento a ressecção de por-

ções do intestino que serviriam como fonte de informação histológica. E,

quando tais ressecções se fazem necessárias, são devidas a atresias intesti-

nais ou volvo de intestino médio com necrose, material que não representa

propriamente a doença. Reside aí a importância de trabalhos que buscam

desenvolver estudos em modelos animais dessa malformação congênita,


1 - Introdução 4

mesmo em países em desenvolvimento, onde a dedicação à pesquisa bá-

sica é menos intensa, como no Brasil.

Em tempos em que expressões como terapia gênica, clonagem e ética

saíram do vocabulário científico e passaram a ser usados pela população e

pelos meios de comunicação, estudos experimentais de cirurgia fetal são ca-

da vez mais bem-vindos, desenvolvendo, em animais, futuros conceitos e te-

rapias para serem utilizadas em seres humanos.

Em 2001, Vilela et al.5 publicaram, no Journal of Pediatric Surgery, a

primeira casuística brasileira de crianças portadoras de gastrosquise na lite-

ratura mundial. Nessa mesma revista, seis meses antes, Driver et al.6 ha-

viam apresentado dados semelhantes a respeito de pacientes de Manchester,

Inglaterra. A tabela 1 traz um resumo desses dois estudos.

Tabela 1 - Comparação entre os estudos no Brasil e Inglaterra

Vilela, 20015 Driver, 20006


Recife Manchester
Local
Brasil Inglaterra
Período 1995-99 1991-97
Número de casos 31 91
Idade gestacional ≥ 37 sem 22 (71%) média 36,7 sem
< 37 sem 9 (29%) (31-41 sem)
≥ 2,5 kg 17 (54,8%) média 2,37 kg
Peso ao nascer
< 2,5 kg 14 (45,2%) (1,29 - 3,47 kg)
Diagnóstico pré-natal 10 (32,3%) 89 (98%)
Parto em centro terciário 11 (35,5%) 81 (89%)
Via do parto V 17 (54,8%) V 67 (73%)
C14 (45,2%) C 24 (27%)
Tipo de cirurgia FP 13 (41,9%) FP 72 (80%)
Silo 18 (58,1%) Silo 18 (20%)
Mortes 16 (51,6%) 7 (7,7%)

Sem: semanas, V: vaginal, C: cesariana, FP: fechamento primário


1 - Introdução 5

Os contrastes entre os dois estudos são evidentes. No de Vilela et al.5,

altas taxas de mortalidade estavam associadas com ausência de diagnóstico

pré-natal, prematuridade, baixo peso ao nascer, nascimento fora de um cen-

tro de atendimento especializado e atraso no tratamento cirúrgico inicial. O

desenvolvido na Inglaterra apresenta mortalidade baixa (7,7%) relacionada

com septicemia.

A falta de leitos em unidades de terapia intensiva neonatal, o deficiente

treinamento das equipes paramédicas, a escassez de centros terciários ca-

pazes de lidar de maneira correta com malformações complexas e a quase

inexistência de serviços de transporte de recém-nascidos de risco são pro-

blemas comuns no Terceiro Mundo e têm impacto nos resultados.

Altas taxas de mortalidade (51,6%), como a observada no estudo bra-

sileiro, e dificuldades de manejo também são relatados em outros países po-

bres como a Nigéria7. Esses índices contrastam com os de unidades de te-

rapia intensiva neonatal de países desenvolvidos, nas quais a mortalidade

por gastrosquise varia de 10% a 0%1, 6, 8, 9, 10, 11, 12, 13.

No momento em que pesquisadores de todo o mundo concentram seus

esforços para diminuir a lesão intestinal da gastrosquise e alongar o intestino

nas situações da síndrome de intestino curto, as dificuldades brasileiras ain-

da se situam na área dos cuidados básicos.

Mesmo atribuindo grande parte da morbimortalidade no Brasil à falta de

cuidados de atenção básica à saúde, estudos em todos os campos de aten-

ção devem ser incentivados dentro das condições disponíveis em cada local.

O desenvolvimento de linhas de pesquisa que envolvam um baixo custo na


1 - Introdução 6

sua execução bem como a utilização de modelos experimentais baratos se

fazem necessários.

O presente trabalho visa iniciar uma linha de pesquisa tendo como mo-

delo experimental o embrião de galinha, modelo esse que foi apresentado à

comunidade científica pelo Dr. Dick Tibboel14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26,

do Sophia Childrens Hospital, Erasmus University, Roterdam, Holanda e

continuado por Tanju Aktug14, 27, 28, 15, 29, 30, 31, 32, da Dokuz Eylul University,

Izmir, na Turquia.

1.1 - Definições

No grupo de defeitos congênitos da parede abdominal, a gastrosquise

freqüentemente é confundida com a onfalocele.

A gastrosquise pode ser definida como um defeito de espessura total

da parede abdominal paraumbilical, geralmente pequeno (de poucos centí-

metros), entre o músculo reto abdominal e o cordão umbilical, na maioria das

vezes à direita33 (figuras 1 e 2), podendo raramente ser à esquerda34. Por

esse defeito protuem as vísceras abdominais, mais freqüentemente o intes-

tino delgado, algumas vezes o estômago e a bexiga e raramente o fígado.

Não existe saco cobrindo as alças intestinais que estão imersas, em contato

com o líquido amniótico33. As alças intestinais apresentam-se, em geral, es-

pessadas, edematosas, encurtadas e cobertas com uma grossa membrana

de fibrina e colágeno a que a literatura de língua inglesa denominou de peel

(que significa casca), designação que se consagrou em várias línguas.


1 - Introdução 7

Fig. 1 - Gastrosquise

Fig. 2 - Gastrosquise – detalhe


1 - Introdução 8

As onfaloceles são defeitos da linha média do abdômen na cicatriz

umbilical que apresenta um anel herniário, por onde protui conteúdo abdo-

minal (intestino e freqüentemente o fígado) dentro de um saco formado inter-

namente por peritônio e, na sua camada externa, por âmnio33 (figura 3). A

tabela 2 compara os achados de gastrosquise e onfalocele.

Fig. 3 - Onfalocele – Observar o saco recobrindo, as alças intestinais


1 - Introdução 9

Tabela 2 - Gastrosquise versus Onfalocele

Parâmetro Gastrosquise Onfalocele

Tamanho do defeito Pequeno Pequeno ou grande

Conteúdo Intestino Intestino, fígado e baço

Saco herniário Ausente Presente (íntegro ou roto)

Inflamação Presente Ausente (a menos que o saco esteja


roto)

Cordão umbilical Lateral ao defeito Inserido no centro do saco herniário

Anomalias associadas Raras (a mais freqüente Freqüentes (defeitos cardíacos)


é atresia intestinal)

História familiar Rara Freqüente

(modificado de Molenaar e Tibboel21)

1.2 - Aspectos Históricos

Nem sempre é simples afirmar a quem se deve a primeira descrição de

uma doença ou anomalia congênita e, no caso da gastrosquise, sua seme-

lhança com a onfalocele provocou inicialmente muita confusão no diagnós-

tico.

Segundo Irving2, foi Ambroise Paré, famoso cirurgião que viveu no pe-

ríodo renascentista (1510-1590), quem fez as primeiras descrições da onfa-

locele.

Já Nikolas Bax33, no livro intitulado Cirurgia do Recém-Nascido, atribui

a Calder, em 1733, a primeira descrição de uma gastrosquise. Bax também

refere que o primeiro relato de uma onfalocele teria sido feito em 1557 por
1 - Introdução 10

Lycosthenes, com base na célebre publicação Manual de Patologia e Hi-

giene Antenatal de autoria de J.W. Ballantyne, em Edimburgo, Escócia, em

1904.

Em 1887, Olshausen propôs a mobilização de retalhos de pele, obtidos

a partir de descolamento da pele do abdômen, para cobrir o defeito das

onfaloceles. Esse método foi reintroduzido por Willians em 1930 e retomado

por Gross em 19482, 33, 35. A técnica, inicialmente muito atraente, mostrou-se

falha porque originava uma grande hérnia ventral que, ao contrário do que

se esperava, não diminuía com a idade, mas aumentava cada vez mais a

desproporção entre a hérnia e o tamanho da cavidade abdominal35.

Ahlfeld2, 33 desenvolveu, em 1899, o chamado tratamento conservador

com curativos embebidos em álcool sobre o saco da onfalocele. Esse méto-

do foi reintroduzido 60 anos depois por Grob2, 35, utilizando iodo e mercúrio, o

que tampouco reduziu a mortalidade.

Ballantyne, em 1904, foi quem propôs o termo gastrosquise para de-

signar todos os defeitos somáticos abdominais, com exceção da hérnia de

cordão umbilical fisiológica.

Em 1943, Watkins descreveu com sucesso o primeiro caso de correção

cirúrgica de gastrosquise2.

Dez anos mais tarde, Moore e Stokes redefiniram o termo gastrosqui-

se, restringindo-o aos defeitos ventrais da parede abdominal sem a presença

de saco2. Assim, embora a gastrosquise tenha sido descrita em 1733, so-

mente a partir de 1953 ela foi claramente diferenciada da onfalocele.


1 - Introdução 11

Em 1969, Allen e Wrenn36 utilizaram, para a correção da gastrosquise,

a técnica de fechamento do defeito com retalhos de pele, anteriormente des-

crita para a onfalocele.

Outro marco importante no tratamento dessas anomalias foi a descri-

ção por Schuster37 (1967) do uso do silo de material protético para acomo-

dar as alças intestinais no tratamento estagiado da onfalocele e da gastros-

quise.

Em 1972, Richard Earlam38 publicou nos Anais do Colégio Real do Ci-

rurgiões de Londres, Inglaterra, o primeiro relato da utilização de embriões

de galinha como animal de experimentação para o estudo de anomalias do

trato gastrointestinal, com o artigo intitulado Um estudo sobre a etiologia da

estenose congênita do intestino. A seguir surgiram também as pesquisas do

grupo da Holanda, chefiados por Dick Tibboel e, após, as da Turquia, coor-

denadas por Tanju Aktug, que permanecem até hoje como importantes con-

tribuições na área de investigação da gastrosquise utilizando o mesmo mo-

delo animal.

A Dommergues et al.39 se devem os dois primeiros relatos, datados de

1996, sobre amnioinfusão para o manejo da gastrosquise associada com oli-

godrâmnio, onde foram observados os benefícios da diluição do líquido

amniótico sobre a inflamação intestinal presente ao nascer, e a Aktug et al.29

o relato do primeiro caso de troca de líquido amniótico como forma de tera-

pia intra-útero em fetos humanos com gastrosquise.


1 - Introdução 12

1.3 - Patogênese da Gastrosquise

Na literatura médica, a verdadeira natureza da gastrosquise e da

onfalocele permanece em discussão. Enquanto alguns embriologistas e ci-

rurgiões pediátricos consideram que elas representam entidades distintas

com diferentes aspectos embriológicos e patológicos33, outros pesquisado-

res julgam corresponder a gastrosquise à ruptura intra-útero do saco de uma

pequena onfalocele, representando ambas, desta forma, anomalias simila-

res40, 41

Gross e Blodgett, citados por Kluth e Lambrecht42, descreveram a onfa-

locele como um defeito originado por uma interrupção no desenvolvimento

da cavidade corporal que parava de se expandir entre a 8a e a 12a semanas

de gestação; como resultado, o intestino não conseguiria retornar para a ca-

vidade ao redor da 10a semana e permaneceria em uma posição anormal.

Porém, sendo assim, como explicar a presença de fígado, estômago e baço

no saco herniário das onfaloceles gigantes, já que tais estruturas não estão

presentes na hérnia fisiológica de cordão?

Shaw41 prefere definir a onfalocele como um verdadeiro defeito de for-

mação da parede do abdômen (não somente no anel umbilical) para, desta

forma, explicar a presença do fígado no saco e a associação de onfalocele

com defeitos severos da parede abdominal, como a extrofia de cloaca.

Para explicar a origem da gastrosquise existem hoje, na literatura mé-

dica, quatro teorias:


1 - Introdução 13

1. Evento teratogênico: Em 1963, Duhamel43 sugeriu que um evento

teratogênico precoce deveria estar presente e, assim, evitaria a diferencia-

ção do mesênquima que forma as bordas da somatopleura, sendo a falha

nesse suporte a origem do defeito abdominal adjacente à cicatriz umbilical.

Outros pesquisadores concordam com a opinião de Duhamel44, 45, porém a

falha nessa teoria está na ausência de defeito na musculatura dos retos

abdominais1. Gray e Skandalakis, citados por Kluth e Lambrecht42, assim se

manifestaram na primeira edição de seu livro Embriologia para Cirurgiões

(1972): o defeito ocorre pela falha na migração da musculatura a partir dos

miótomos dorsais que invadem a esplancnopleura da parede abdominal em-

brionária. Já na segunda edição (1994) os autores admitem não haver uma

perfeita explicação embriológica para a gastrosquise.

2. Ruptura de uma pequena onfalocele: Shaw41 acredita ser a gas-

trosquise o resultado final da ruptura intra-útero das membranas que reco-

brem uma hérnia de cordão umbilical (nome dado na época às pequenas

onfaloceles). O distúrbio poderia ocorrer a partir da involução anormal (em

tempo ou extensão) da veia umbilical direita, em cujo local ficaria uma zona

de infarto com subseqüente defeito. Shaw41 faz uma crítica aos artigos e de-

finições que apresentam a gastrosquise como um defeito lateral a um cordão

umbilical “normalmente” inserido. Segundo ele, várias fotos nos próprios arti-

gos mostram que o cordão não está “normalmente” formado. A sugestão de

que a gastrosquise é gerada pela ruptura de uma membrana que cobre uma

hérnia do cordão umbilical é reforçada pela presença muito freqüente de má-

-rotação intestinal associada, bem como pelo relato do caso de um feto com
1 - Introdução 14

34 semanas de gestação, apresentando gastrosquise, que, em uma ultra-so-

nografia realizada sete semanas antes, apresentava apenas um hérnia um-

bilical, facilmente demonstrada. Esse fato chamou tanto a atenção da comu-

nidade científica que os autores denominaram o artigo40 publicado no Journal

of Pediatric Surgery, em 1985, de O elo perdido da gastrosquise. Glick et

al.40 entendem que existem dois tipos distintos de onfaloceles, as relaciona-

das com síndromes, nas quais a onfalocele em geral é gigante, as anomalias

associadas são freqüentes e o prognóstico é ruim, e as onfaloceles não-rela-

cionadas com síndromes, nas quais o tamanho do defeito é variável, as ano-

malias associadas são raras e o prognóstico é bom, sugerindo que a gas-

trosquise poderia ser ruptura intra-útero de onfaloceles não relacionadas

com síndromes. Interessante também é a constatação de que, em modelo

experimental de embriões de galinha, como o aqui apresentado, a gastros-

quise é produzida com mais fidedignidade de aspectos histopatológicos

quando o defeito é criado no coto umbilical e não na parede abdominal do

embrião lateral ao cordão15.

3. Anomalias da veia umbilical direita: Teorias mais recentes têm

centrado foco na hipótese de uma anomalia vascular. Em humanos, a veia

umbilical direita involui ao redor da 5a semana de gestação. Baseado na

observação de uma série de embriões, DeVries46 postulou que a gastrosqui-

se seria originada a partir da prematura atrofia ou da prolongada persistência

da veia umbilical direita (e raramente a esquerda), interferindo no desenvol-

vimento da parede abdominal e na junção com o coto umbilical.


1 - Introdução 15

4. Defeito nas artérias onfalomesentéricas: Alternativamente, tem se

postulado que um acidente vascular envolvendo as artérias onfalomesen-

téricas seria a causa da gastrosquise47, 48


. As artérias onfalomesentétricas

são ramos embrionários da aorta, pares, a artéria esquerda involui e a direita

persiste como a artéria mesentérica superior49. A disrupção intra-uterina da

artéria onfalomesentérica direita poderia comprometer a irrigação da parede

abdominal com necrose da base do cordão umbilical e herniação do intes-

tino. O interessante dessa teoria é que ela poderia explicar a associação de

gastrosquise com atresia intestinal, relativamente freqüente, já que esta úl-

tima tem uma gênese vascular comprovada. Seriam as atresias uma lesão

secundária ao comprometimento vascular e não ao estrangulamento do in-

testino no anel herniário como já foi postulado41. Um reforço à teoria de me-

canismo vascular é a associação de consumo de álcool, fumo e compostos

com substâncias vasoativas (como os descongestionantes nasais e cocaína)

com fetos com gastrosquise1, 50, 51


. O álcool é conhecido por atravessar a

barreira placentária e afetar a circulação umbilical; o cigarro também atua

causando vasoconstricção e vasoespasmo placentário51.

Não existe consenso sobre o momento da gestação em que ocorre a

gastrosquise. Estudos de ultra-sonografia já evidenciaram fetos de 12 e 14

semanas com o defeito8, 52, 53, mas, em abortos de 8 semanas, já foi encon-

trada a anomalia18, 19, 20. Alguns autores identificaram gastrosquise no último

trimestre de gestação quando ultra-sonografias prévias eram normais1.


1 - Introdução 16

1.4 - Epidemiologia

Estima-se a prevalência global da gastrosquise em 1,36 para cada

10.000 nascimentos (variando de 0,4 a 3,01), número que passa a 1,96 para

10.000 quando se incluem os abortamentos e cai para 1,06 quando somente

nativivos são considerados1. Um aparente incremento na prevalência vem

sendo observado nas últimas duas décadas e pode se dever parcialmente

ao aumento no número de diagnósticos e a uma maior acurácia na diferen-

ciação com as onfaloceles, mas, em contrapartida, a prevalência mantida em

outras regiões do globo fala a favor de um aumento real. Dados do Estudo

Colaborativo Latino-Americano de Malformações Congênitas – ECLAMC54

informam que a prevalência da gastrosquise na América Latina é de 1,24 pa-

ra cada 14.000 nascimentos vivos, já a onfalocele situa-se em 1 para cada

4.000 nascimentos vivos. Em 16 maternidades de Porto Alegre que partici-

pam do ECLAMC, no ano de 2000 houve 23.518 nascimentos e 9 casos re-

gistrados de gastrosquise, com uma taxa de 3,8 para cada 10.000 nasci-

mentos55. No Hospital de Clínicas de Porto Alegre, a prevalência de gastros-

quise entre nascidos vivos é da ordem de 4,13 para cada 10.000. Esta ele-

vada taxa deve-se ao fato de ser um centro de tratamento terciário que rece-

be casos com diagnóstico pré-natal encaminhados de todo o estado do Rio

Grande do Sul55.

Muitas possibilidades têm sido levantadas como fatores de risco para

gastrosquise. A tabela 3 resume os principais.


1 - Introdução 17

Tabela 3 - Fatores de risco para gastrosquise

Fator em estudo Evidência

Fatores Obstétricos

Mães jovens50, 51 Forte

Doença materna (gripe)51 Fraca

Baixo índice de massa corporal56 Fraca

Agentes Químicos

Fumo1 Fraca

Álcool51 Fraca

Salicilatos50, 51 Fraca

Descongestionantes nasais50, 51 Fraca

Ibuprofeno50, 51 Fraca

Drogas (cocaína e Canabis)1 Fraca

Fatores Socioeconômicos

Classe social baixa56 Fraca

Fatores Ambientais

Moradia próxima de depósitos de lixo57 Fraca

Nutrientes da dieta1 Fraca


1
Modificado de Curry et al.

Ocorrência familiar de gastrosquise tem sido descrita por vários

autores58. No estudo populacional da Califórnia56, 6 (4,7%) de 127 famílias

tiveram mais de um filho acometido, e o risco de recorrência é calculado em

3,5%.
1 - Introdução 18

1.5 - Diagnóstico Pré-Natal dos Defeitos da Parede Abdominal

O desenvolvimento das técnicas de diagnóstico pré-natal tem sido cada

vez mais rápido nas últimas duas décadas59. Um grande número de anoma-

lias atualmente pode ser diagnosticado no período gestacional.

Decisões importantes são tomadas a partir desses diagnósticos, razão

pela qual alguns autores defendem a interrupção da gravidez quando do

diagnóstico de uma anomalia cromossômica, de uma onfalocele gigante ou

de alterações sabidamente incompatíveis com a vida59, 60.

O diagnóstico diferencial, através da ultra-sonografia, entre onfalocele

e gastrosquise pode ser difícil no primeiro trimestre gestacional52. Porém a

disponibilidade cada vez maior de sondas de ecografia transvaginal de alta

resolução (5 e 7,5 MHZ) tem possibilitado um maior detalhamento das estru-

turas embriológicas no início da gravidez, tanto assim que Bahlmann et al.52,

estudando 58 fetos com diagnóstico de defeito da parede abdominal, obtive-

ram 100% de diagnóstico diferencial entre onfalocele e gastrosquise por ul-

tra-sonografia.

Elevação nos níveis de alfafetoproteína no soro materno tem sido asso-

ciada com defeitos do fechamento do tubo neural e da parede abdominal,

assim como níveis baixos estão associados com defeitos cromossômicos.

Bahlmann et al.52 encontraram alta sensibilidade para detecção de gastros-

quise utilizando a dosagem de alfafetoproteína no soro materno. Na sua sé-

rie, os valores de alfafetoproteína foram 7 vezes superiores aos da média

para casos de gastrosquise e 4,1 vezes aos de casos de onfalocele. Acredi-


1 - Introdução 19

ta-se que a diferença entre o nível de detecção de onfalocele e gastrosquise

se deva à presença do saco que cobre as onfaloceles. Uma vez que a alfa-

fetoproteína é liberada pelo intestino na troca de proteínas que realiza com o

líquido amniótico, o saco das onfaloceles diminuiria essa troca e, conse-

qüentemente, sua reabsorção pelo sangue materno52, 61. Além das medidas

no soro materno, alfafetoproteína e acetilcolinesterase podem ser dosadas

no líquido amniótico62, 63.

1.6 - Etiologia da Lesão Intestinal na Gastrosquise

A gastrosquise é muitas vezes complicada pela lesão do intestino del-

gado herniado, resultando em distúrbios da motilidade, ocasionalmente ne-

crose intestinal e atresias61,64, 65, 66, 67, o que se torna importante na medida

em que o prognóstico desses pacientes está relacionado com as condições

do intestino ao nascimento61, 68, 69, 70.

A obtenção de tecido humano para estudo da lesão intestinal na gas-

trosquise é difícil. Na maioria dos casos, não se realizam ressecções intes-

tinais que possam produzir material para análise histológica e, quando isso

ocorre, geralmente trata-se de associações com atresia ou com lesões que

tornaram parte do intestino inviável.

Uma valiosa fonte de informação foram as pesquisas de Tibboel et al.


18, 19, 20
que apresentaram em alguns trabalhos uma análise detalhada de fe-

tos com gastrosquise originados de abortos. Estudando esses fetos, os auto-

res puderam concluir que o defeito que origina uma gastrosquise deve ocor-
1 - Introdução 20

rer precocemente na formação do embrião, ao redor da 6a a 8a semanas.

Observaram ainda que fetos com menos de 30 semanas de idade gestacio-

nal não apresentavam sinais de lesão intestinal, como fibrose ou edema, ca-

racterísticas da gastrosquise, tendo tais alterações sido verificadas somente

em fetos com mais de 33 semanas. Essas observações suportaram a hipó-

tese levantada por Tibboel et al. de que as alterações do intestino estavam

relacionadas ao início do funcionamento renal pleno e ao aumento da urina

fetal no líquido amniótico. A idéia foi compartilhada com alguns outros auto-

res, como Lopez de Torre et al.71, 72, que demonstraram ser a gastrosquise

uma espécie de diálise peritoneal intra-útero na qual trocas entre o líquido

amniótico e o plasma se efetuam através do peritônio, levando a uma certa

desidratação hipercalêmica. Essas mesmas trocas seriam a gênese da hi-

poalbuminemia, da hipogamaglobulinemia e da diminuição dos níveis séricos

de transferrina nos recém-nascidos com gastrosquise73. A hipótese de que a

urina fetal seria o agente causal do dano ao intestino foi posteriormente

questionada por estudos mais aprofundados28, 31, 74 como veremos a seguir.

Albert et al.75, em em 1993, criaram um modelo experimental para con-

firmar o efeito do líquido amniótico sobre as alças intestinais. Utilizando coe-

lhas prenhas, criaram, cirurgicamente, um feto com a metade posterior do

corpo para fora do útero (feto extra-aminiótico). A conclusão do estudo foi

que o intestino da gastrosquise na ausência de líquido amniótico não desen-

volvia as alterações de espessamento e inflamação que se observam quan-

do em contato com o líquido.


1 - Introdução 21

Com a intenção de provar que os dejetos urinários estavam envolvidos,

Klück et al.16 desenvolveram um experimento com embriões de galinha,

aproveitando a característica desse animal de apresentar um saco alantóide

isolado do líquido amniótico onde são depositados seus dejetos. Até o 5o dia

embrionário, é possível criar uma gastrosquise no embrião de galinha sem

misturar o líquido amniótico com os dejetos do alantóide, criando assim um

modelo de gastrosquise no qual o intestino está somente embebido em líqui-

do amniótico, enquanto, a partir do 7o dia de desenvolvimento embrionário, a

criação de uma gastrosquise só é possível através da abertura do alantóide

e mistura de líquidos, criando um líquido amniótico que se assemelha ao hu-

mano. Com esse modelo, os autores mostraram que os achados histológicos

de espessamento intestinal só estavam presentes no grupo em que se mis-

turava o líquido. Acreditavam ter confirmado, assim, a hipótese de que a uri-

na estaria envolvida na lesão intestinal.

Em 1998, Aktug et al.28 realizaram um estudo semelhante utilizando o

mesmo animal. Através da troca de líquido amniótico e do estudo bioquímico

do líquido trocado, foi possível demonstrar que com esse procedimento se

promovia uma diminuição de dejetos intestinais no líquido (ácidos biliares e

bilirrubina), mas não a diminuição de dejetos urinários (uréia e creatinina),

provavelmente pela sua produção relativamente rápida. Nos embriões em

que se realizou a troca de líquido amniótico (diminuindo os dejetos intesti-

nais) a lesão intestinal foi muito menor. Esse fato, associado às comprova-

ções de que fetos, mesmo fora de situações de estresse, evacuam “fisiologi-

camente” pequenas quantidades de mecônio no líquido amniótico76, 77, 78


,
1 - Introdução 22

consolidou a idéia de que seriam os dejetos intestinais e não os urinários os

promotores do espessamento e da inflamação intestinal.

Olgumer et al.31, em outro importante estudo do grupo da Turquia, reali-

zaram um experimento no qual, utilizando embriões de galinha no 5o dia de

desenvolvimento embrionário, criaram gastrosquise sem abrir o saco alantói-

de, ou seja, mantendo o líquido amniótico livre de dejetos próprios do em-

brião e instilaram urina e mecônio de recém-nascidos humanos no líquido

amniótico dos embriões. Ao contrário dos embriões que receberam urina de

recém-nascidos, os que receberam mecônio apresentaram espessamento,

inflamação e depósitos de fibrina e colágeno na serosa, alterações descritas

na gastrosquise humanas. Com esse trabalho os autores reforçaram a idéia

de que são os dejetos intestinais os causadores da lesão do intestino da

gastrosquise.

Em outro estudo realizado no Reino Unido, Morrison et al.79 analisaram

amostras de líquido amniótico no final da gestação de 10 mães que apresen-

tavam fetos com gastrosquise, comparando-as com líquido amniótico de

gestações normais. O interesse desse estudo foi avaliar a presença de me-

diadores de inflamação. A análise microscópica do líquido de mães de bebês

com gastrosquise mostrou a presença de um exsudato inflamatório compos-

to predominantemente por polimorfonucleares. Essas células inflamatórias

não estavam presentes no líquido amniótico dos controles. Da mesma for-

ma, observou-se que havia aumento do antígeno celular CD15 e, nessas cé-

lulas, aumento dos níveis de CD11b, quando comparados com os controles.

A elevação de CD11b na população de células CD15 revela que as células


1 - Introdução 23

derivadas do líquido amniótico estavam em pleno estado ativado. Mas, a

partir desses achados, como identificar quem produziu as células inflamató-

rias, se a mãe ou o feto? Para responder a essa pergunta os pesquisadores

tiparam as células inflamatórias nas gestações com fetos masculinos, com-

provando que elas eram provenientes do feto e não da mãe.

Guo et al.80 apresentaram um estudo experimental de gastrosquise em

fetos de coelho, utilizando dexametasona no líquido amniótico, que mostrou

menor lesão histológica da parede intestinal e melhor atividade de enzimas

digestivas da mucosa, sugerindo o efeito protetor do corticóide como antiin-

flamatório.

Outro campo de estudo é a influência do óxido nítrico como gênese do

dano intestinal na gastrosquise. O óxido nítrico, um poderoso neurotransmis-

sor vital para as funções normais do intestino, é produzido pela enzima óxido

nítrico sintase. Anormalidades nessa enzima têm sido apontadas como cau-

sa de distúrbios da motilidade intestinal e de malabsorção81. Dois estudos fo-

ram realizados para tentar comprovar a relação entre o óxido nítrico e a le-

são do intestino da gastrosquise. O primeiro, em 1996, realizado por Bealer

et al.81, no Centro de Tratamento Fetal da Universidade da Califórnia, em

São Francisco, utilizou o modelo experimental em coelhos para medir a ativi-

dade da enzima óxido nítrico sintase no intestino. Com esse experimento, os

autores conseguiram mostrar que existe um aumento na atividade total da

enzima no intestino eviscerado.

Em 1999, Dilsiz et al.30, utilizando o modelo experimental de embriões

de galinha, testaram novamente a hipótese da influência do óxido nítrico no


1 - Introdução 24

processo de inflamação da gastrosquise, desta vez utilizando um inibidor da

óxido nítrico sintase, o chamado NG-nitro-L-arginina metil ester (L-NAME).

Os investigadores colocaram L-NAME na cavidade âmnio-alantóide de em-

briões de galinha submetidos ao procedimento para criar uma gastrosquise.

Comparando com o grupo controle que não utilizava o bloqueador da enzima

óxido nítrico sintase, o grupo com o L-NAME mostrou menor lesão intestinal.

Entretanto, nem todos os pesquisadores estão certos de que o contato

com o líquido amniótico seja a origem do problema. Deans et al.82 relataram

cinco casos de gastrosquise acompanhados com ultra-sonografias pré-na-

tais por pelo menos 18 semanas, nos quais os recém-nascidos não apresen-

tavam sinais de espessamento das alças ou peel, e concluíram que, apesar

da prolongada exposição das alças intestinais, esses casos seriam uma im-

portante evidência de que não há relação entre o tempo de exposição ao lí-

quido amniótico e a lesão intestinal. Da mesma forma, Steinbrecher, Hanna

e Burge83 publicaram, em 1996, o relato do caso de um recém-nascido que

apresentava uma onfalocele e o intestino no interior do saco mostrava-se se-

melhante ao intestino da gastrosquise, espessado, endurecido e inflamado.

Os autores identificaram pelo menos uma zona de estenose visível e atribuí-

ram os achados ao estreito colo da onfalocele por onde protuíam as alças.

Assim, afirmavam ser a constricção do anel o principal efeito sobre as alças

intestinais, já que o intestino não havia sido exposto ao líquido amniótico em

virtude do saco da onfalocele. Os achados histológicos de congestão, infla-

mação e fibrose da serosa, atrofia da mucosa e edema e fibrose da submu-

cosa realmente são os encontrados na gastrosquise, mas não há relato da


1 - Introdução 25

formação do peel nesse caso. Parece haver uma relação entre o contato do

líquido amniótico e o depósito de fibrina e colágeno na serosa, como de-

monstraram Amoury et al.84 e Langer et al.61.

Na tentativa de identificar quais fatores estavam relacionados com a le-

são intestinal, Langer et al.61 desenvolveram um estudo utilizando um mode-

lo de fetos de ovelha. Os autores submeteram o intestino fetal à constricção

por ligadura e ao contato com o líquido amniótico, isoladamente e em asso-

ciação. O surgimento do peel foi observado somente no intestino exposto ao

líquido amniótico, com ou sem a constricção do mesentério. Dilatação ve-

nosa e de vasos linfáticos, espessamento da camada muscular e alterações

da mucosa foram observados em animais onde se utilizou a fita para criar a

constricção do mesentério, independentemente de estar ou não exposta ao

líquido amniótico. E, tanto no modelo de exposição ao líquido amniótico

quanto no modelo de constricção do mesentério, surgiram distúrbios da moti-

lidade intestinal. Com esse estudo, os autores conseguiram isolar os dois fa-

tores, ou seja, a camada fibrosa, peel, estaria relacionada à exposição do in-

testino ao líquido amniótico, as lesões estruturais da parede intestinal esta-

riam ligadas à obstrução crônica ocasionada pela constricção do intestino na

parede abdominal. O distúrbio da motilidade intestinal estaria relacionado a

ambas.

Santos85, através da análise com técnicas histopatológicas especiais,

correlacionou, em fetos de coelhos, a hipomotilidade intestinal com altera-

ções na maturação dos neurônios dos plexos mioentéricos da gastrosquise.


1 - Introdução 26

Albert et al.86, em 2001, publicaram um experimento no qual submetiam

fetos de coelho a dois tamanhos diferentes de defeito de parede para criar

uma gastrosquise (respectivamente 1,5 e 3 vezes o diâmetro do intestino), e

os compararam com um grupo controle sem manipulação. O objetivo era

avaliar se o anel herniário por onde protuem as alças da gastrosquise teria

influência nas modificações observadas no intestino. Não houve diferenças

entres os grupos e, desta forma, não foi possível estabelecer uma relação

entre a constricção causada pelo anel herniário e as lesões presentes na

gastrosquise.

1.7 - Modelos Experimentais de Gastroquise

Gastrosquise pode ocorrer espontaneamente em ratos, coelhos da ra-

ça nova zelândia, cães da raça beagle e gatos1. E é passível de ser induzida

em laboratório por uma variedade de agentes como escopolamina e trianci-

nolona em galinhas, antagonistas do estrogênio em cães, 6-mercaptopurina

e óxido nitroso em hamster, metilmercúrio em patos, aurotiomalato, concava-

lina e tioglicose ouro em coelhos, benzopirenos, pirabital, hidroxiuréia, raios

X, nitrosuréia, cádmio, cisplatina, metilsalicilatos e hipertermia materna em

ratos1, 87
. Apesar desse grande número de possibilidades, modelos terato-

gênicos de gastrosquise têm o inconveniente de apresentar baixo índice de

sucesso, além de poder gerar anomalias associadas que se constituiriam em

fonte de confusão na avaliação de resultados. Existem vários modelos cirúr-

gicos, em coelhos, ovelhas, ratos e galinhas88.


1 - Introdução 27

1.7.1 - Modelos Experimentais em Coelho

A primeira vez que coelhos foram utilizados para produzir gastrosquise

foi em 1972. O trabalho, apresentado por Sherman et al.89 na reunião anual

da Academia Americana de Pediatria, foi publicado no ano seguinte. Os

autores realizaram um procedimento cirúrgico no qual criavam gastrosquise

em coelhos da raça nova zelândia. Das 12 ninhadas submetidas ao experi-

mento foram obtidos 37 (88%) de 42 fetos. Os embriões que tiveram o intes-

tino exposto ao líquido amniótico apresentaram um comprimento intestinal

menor que os dos outros grupos e maiores alterações histopatológicas, co-

mo serosite e enterite severas. Alguns problemas foram observados, como a

contaminação freqüente do líquido amniótico por Pasturella multocida e o fa-

to de alguns fetos, nos quais se criou gastrosquise, ao final do procedimento

apresentarem também o fígado para fora do abdômen, evento que não é co-

mum na gastrosquise.

Aoki, Ohshio e Komi90, pesquisadores japoneses, repetindo o procedi-

mento para criar gastrosquise em fetos de coelho muito semelhante ao des-

crito por Shermann et al.89, conseguiram demonstrar os achados da gastros-

quise, mas com altos índices de mortalidade que variaram de 15% a 56%.

Phillips et al.91, em 1991, apresentaram uma proposta de modificação

dos modelos experimentais de Shermann et al.89 e de Aoki, Ohshio e Komi90,

com o intuito de aumentar a sobrevida dos fetos. Para tanto utilizaram os

mesmos princípios cirúrgicos básicos, mas agregaram um manuseio mais

delicado dos fetos (usando eletrocautério para diminuir sangramentos), ado-


1 - Introdução 28

taram o uso profilático de antibióticos e trocaram a anestesia com barbitú-

ricos pelo emprego de halotano com oxigênio, com o que conseguiram um

índice de sobrevida de 82%.

Kubaski92, em 1994, repetiu o experimento proposto por Philips et al.91,

em 15 fetos de coelho submetidos à cirurgia para criar uma gastrosquise,

tendo obtido sucesso em 9 (60%). Os fetos com gastrosquise apresentavam

um peso ao nascer menor que os do grupo controle, e alterações histológi-

cas como enterite e serosite foram observadas, porém não foi possível esta-

belecer diferença entre o grupo gastrosquise e o grupo controle quanto a

essas alterações.

Estabelecido o modelo, a literatura médica continua até o momento re-

cebendo importantes contribuições de pesquisadores utilizando este animal

em seus experimentos75, 80,81,85, 86.

1.7.2 - Modelos Experimentais em Ovelha

Haller et al.93, da Universidade Johns Hopkin, Baltimore, Estados Uni-

dos, aproveitaram sua experiência prévia com cirurgia experimental em ove-

lhas para produzir intra-útero a coartação da aorta e, em 1974, publicaram o

primeiro relato do modelo experimental de gastrosquise em ovelhas. Foram

operados 31 fetos, com uma sobrevida de 19 (61%). O interessante desse

modelo foi o prolongado período gestacional (145 dias), o que permitiu expor

o intestino da gastrosquise durante 10 a 30 dias ao líquido amniótico. Nova-

mente as alterações mais marcantes, como edema, serosite e formação de


1 - Introdução 29

peel, foram notadas no grupo com maior tempo de exposição. Um achado

interessante desse estudo foram alterações nas células ganglionares do in-

testino, consistindo em atrofia e diminuição da quantidade de acetilesterase

e acetilcolinesterase. Os autores relacionaram a essas alterações os distúr-

bios da peristalse típicos das crianças operadas por gastrosquise, porém a

maioria dos trabalhos desenvolvidos nos anos seguintes não conseguiram

reproduzir esse achado18, 19, 20, 92.

O modelo descrito por Haller et al.93 foi adotado pela equipe de pes-

quisadores do Programa de Tratamento Fetal da Universidade da Califórnia,

São Francisco, Estados Unidos, chefiado pelo Dr. Michael Harrison. Esse

grupo, um dos mais expressivos no estudo de Medicina Fetal na atualidade,

publicou três importantes artigos, compondo uma série denominada Etiologia

da Lesão Intestinal na Gastrosquise61, 68, 94.

1.7.3 - Modelos Experimentais de Gastrosquise em Rato

Correia-Pinto et al.95 apresentaram, em 2001, um novo modelo experi-

mental para gastrosquise, desta vez em ratos. Utilizando ratos da raça

Wistar, criaram a gastrosquise através de cirurgia fetal, por abertura do útero

e da parede abdominal dos fetos com exposição do intestino. Na análise dos

resultados, os autores demonstraram fetos com gastrosquise com peso cor-

poral, peso do intestino e comprimento do intestino menores que os dos con-

troles. Na avaliação histológica, o intestino exposto apresentava-se edema-

toso, com achatamento das vilosidades, dilatação venosa e linfática, mas


1 - Introdução 30

sem infiltrado inflamatório. Os autores acreditam serem as principais van-

tagens do modelo o curto período gestacional, o extenso conhecimento a

respeito da anatomia, embriologia e histologia dos ratos, a necessidade de

pouco material cirúrgico, a facilidade de criação do animal, a grande quanti-

dade de fetos por ninhada e, principalmente, a grande disponibilidade de

marcadores e reagentes para análise de DNA em ratos, capaz de permitir a

utilização do modelo em pesquisas a nível molecular.

Em outro estudo, Ferreira et al.74 utilizaram ratos adultos para mime-

tizar, através de injeção intraperitoneal, os efeitos da urina e do mecônio nas

alças intestinais. Conseguiram desta forma demonstrar a importância dos

dejetos intestinais na lesão da gastrosquise e reproduzir graus variados de

lesão.

1.7.4 - Modelos Experimentais em Galinha

1.7.4.1 A Incubação de Embriões de Galinha

Para a realização desta pesquisa, fez-se necessário conhecer melhor

os princípios e práticas de incubação de ovos de galinha, o que foi obtido

através do estudo dos manuais de criação de aves96, 97, 98, 99.

Para se obterem bons resultados, o ideal é que os ovos tenham a cas-

ca íntegra e limpa e sejam normais em todos os seus aspectos. Os ovos de

galinha pesam em média 60 g96, 98. Algumas características individuais dos

ovos podem influenciar na sua capacidade de eclodir; são elas: o tamanho, a

qualidade do seu interior, a qualidade da casca e a idade. Para o desenvolvi-


1 - Introdução 31

mento da pesquisa os ovos foram selecionados de acordo com esses cri-

térios. Morris et al.98, em 1968, estudaram o percentual de fertilidade e eclo-

são de acordo com o peso do ovo. Ovos de 44 g tiveram 81% de fertilidade e

51% de eclosão, já os de 58 g tiveram 91% de fertilidade e 74,5% de eclo-

são. O peso médio do pinto ao nascer e o percentual sobre o peso do ovo

também foram estudados, sendo a média e o percentual, respectivamente,

de 34 g e 66,8% do peso do ovo.

Ao colocar os ovos na incubadora, procura-se manter a extremidade

mais larga para cima, para que o embrião não se desenvolva com a cabeça

voltada para a cavidade mais estreita, desprovida da câmara de ar97. A po-

sição do ovo é importante na medida em que, se a câmara de ar não estiver

presente na extremidade em que está a cabeça do embrião, este poderá

morrer de asfixia quando iniciar a respiração pulmonar, ao redor do 20o dia

de incubação. Da mesma forma, o processo de perfuração da casca não se

completa na extremidade mais estreita do ovo, por não haver espaço sufi-

ciente para o embrião mover a cabeça em várias direções96.

O controle da temperatura é um item importante no desenvolvimento

do experimento. As incubadoras automáticas com ventilação forçada ou com

ventiladores de circulação de ar devem manter uma temperatura ao redor

dos 37,5º C; nas incubadoras de ar parado, naquelas em que nenhum venti-

lador ou nenhuma corrente de ar se move dentro delas, a temperatura deve

ser mais elevada, ao redor de 38 a 39,5º C. Flutuações na temperatura alte-

ram seriamente o processo de crescimento e desenvolvimento do embrião.

Baixas temperaturas atrasam a eclosão, enquanto temperaturas de incuba-


1 - Introdução 32

ção elevadas fazem o pinto eclodir antes dos 21 dias. Apesar de o embrião

ser relativamente resistente a períodos curtos de exposição a baixas tempe-

raturas, ele é muito sensível a altas temperaturas96.

A umidade contida no ar da incubadora é muito importante para o de-

senvolvimento normal e conseqüente eclosão do ovo. A manutenção de uma

umidade relativa de aproximadamente 65% previne, sob condições normais,

uma perda excessiva de umidade dos ovos99. Em incubadoras pequenas,

onde a viragem manual e individual dos ovos é realizada com a abertura da

máquina, a cada vez que a máquina é aberta ocorre uma perda muito rápida

de umidade. Apesar de a água estar presente na incubadora, a recuperação

da umidade envolve considerável retirada de água do interior dos ovos. Incu-

badoras pequenas podem necessitar de um borrifamento de água morna a

cada abertura para viragem. Nesta pesquisa foi mantida a umidade relativa

ao redor de 80%, graças à colocação de água quente no reservatório espe-

cífico da incubadora96.

Com respeito à viragem, ela têm por finalidade prevenir a aderência do

embrião na casca. Os manuais de criação aconselham virar os ovos pelo

menos 5 vezes ao dia. As incubadoras grandes mantêm os ovos em uma

posição de 45º e procedem à viragem automática e regular dos ovos. Esse

procedimento deve ser realizado durante todo o período de incubação e in-

terrompido 3 dias antes da eclosão96, 99.

As incubadoras devem fornecer uma troca de ar contínua para remover

o dióxido de carbono produzido pela respiração do embrião e fornecer oxigê-


1 - Introdução 33

nio. Outro aspecto importante é a manutenção da limpeza e desinfecção da

incubadora a fim de evitar contaminações no procedimento.

1.7.4.2 - A Embriologia da Ave

As espécies aviárias com sua reprodução sexuada peculiar, na qual o

feto se desenvolve fora da mãe, oferecem um sistema excelente para estudo

da embriologia. Grande parte do processo de desenvolvimento que ocorre

no embrião aviário pode ser diretamente relacionado com o processo de de-

senvolvimento comum a muitos outros animais, mas que não pode ser tão

facilmente estudado como no embrião de aves.

Nas aves, a primeira divisão celular começa aproximadamente 3 horas

após a fertilização, quando a gema chega ao istmo do oviduto96, o que cor-

responderia em humanos ao período de 24 horas após a fecundação49. A

primeira diferenciação da camada celular ocorre no útero imediatamente an-

tes de o ovo ser posto; esse processo é denominado de gastrulação96, 100


.

Após a postura do ovo fértil, a divisão celular e a diferenciação continuam

sempre que o ovo for mantido em uma temperatura acima de 27º C, de pre-

ferência ao redor de 37,5º C96.

Durante o primeiro dia de incubação desenvolve-se todo o ectoderma

primitivo, ou seja, o canal neural100. O tecido do trato digestivo anterior esta-

rá diferenciado em 24 horas de incubação, assim como as células sexuais

primárias96, 100, 101.


1 - Introdução 34

Durante o segundo dia de incubação a partir da divisão das células pri-

márias, surgem o cérebro, os olhos e os ouvidos, e são formados os extratos

da cauda e do sistema vascular. Esse estágio corresponde no homem a

aproximadamente 3 a 4 semanas de desenvolvimento embriônico49. No se-

gundo dia de incubação também inicia-se a formação do coração do embrião

e durante o 4o ou 5o dia o coração estará completamente desenvolvido. Du-

rante o 3o dia de incubação formam-se os membros e o esôfago. No 4o dia o

ovo embrionado de galinha equivale a 2 meses de gestação humana49. No

5o dia pode-se observar a formação dos pulmões, da traquéia, do esôfago,

do fígado, do pró-ventrículo, da moela, do pâncreas e dos órgãos sexuais100,


101
. Durante esse dia o embrião de galinha tem uma aparência semelhante à

dos embriões de muitos outros animais em estágio de desenvolvimento equi-

valente. No 6o dia de incubação o embrião torna-se visivelmente diferen-

ciado do de outros animais. As divisões estruturais iniciam a formar as asas

e as pernas. A alça duodenal forma-se e o intestino delgado protui pelo anel

para dentro do cordão umbilical. Os primeiros movimentos voluntários apare-

cem no 6o dia. No 7o dia o bico típico das aves surge, o intestino começa a

ganhar volume e prolonga-se ocupando o interior do cordão umbilical, em

seguida o abdômen torna-se mais proeminente. No 8o dia começam a surgir

os folículos das penas sobre a pele e no 9o o contorno é típico de uma ave.

No 12o dia tem início o surgimento da penugem, e as penas são visíveis no

13o dia. Até o 14o dia o embrião permanece perpendicular ao eixo longitudi-

nal do ovo, mas, a partir desse estágio, torna-se muito longo para essa po-

sição e deve girar paralelamente para melhor acomodar-se. No 15o dia o


1 - Introdução 35

abdômen começa a envolver o intestino delgado que habitava o cordão um-

bilical e no 16o dia as escamas e as unhas estão mais duras e a albumina

está toda consumida. Durante o 17o dia o embrião inicia sua preparação final

para eclodir. O líquido amniótico é absorvido, apesar de o âmnio ainda estar

aderido ao embrião emplumado e úmido, e o intestino, que estava herniado

no cordão umbilical, retornará para o abdômen. O embrião ocupa nesse mo-

mento quase todo o espaço no ovo. No 18o dia o conteúdo restante da gema

começa a entrar para o abdômen do embrião através da retração do saco da

gema pela abertura umbilical essa retração perdura até o 19o dia, e a aber-

tura umbilical não estará completamente fechada antes da eclosão. Durante

o 19o dia o bico apresenta um capuz pontiagudo chamado dente do ovo, que

perfura a câmara de ar, tendo início a respiração pulmonar. No 20o dia co-

meçam a diminuir a respiração e a circulação pela membrana corioalantóide,

as quais finalmente, cessam. É essencial que esta membrana esteja avas-

cular no momento da eclosão para que não ocorram hemorragias. No 21o

dia ocorre a eclosão96, 101.

No estudo da interação entre o líquido amniótico e as alças intestinais

extrusas da gastrosquise, um aspecto importante é o reconhecimento das

membranas que recobrem o embrião de galinha, sua disposição e suas fun-

ções. Quatro são as membranas encontradas no interior do ovo: saco da ge-

ma, âmnio, córion e alantóide (figura 4).


1 - Introdução 36

Fig. 4 - O embrião de galinha e sua relação com as membranas extra-embriônicas. (1)


Embrião, (2) Cavidade amniótica – âmnio, (3) Gema – saco da gema, (4) Albu-
mina, (5) Cavidade alantóide – membrana alantóide, (6) Câmara de ar, (7)
Membrana amnioalantóide, (8) Membrana corioalantóide, (9) Casca do ovo –
membrana do ovo (modificado de Molenaar, Meijers e Tibboel100)

O saco da gema tem algumas características peculiares relacionadas

com a sua função. Ele é uma membrana vascularizada. As ilhotas de sangue

se desenvolvem a partir da sua camada externa. A camada interna se dife-

rencia em células epiteliais glandulares que secretam enzimas digestivas

que digerem os nutrientes da gema, e em outras células que absorvem esses

nutrientes digeridos e os transportam para o sistema sangüíneo. O sistema

vascular do saco da gema é contínuo ao do embrião, levando assim nutrien-

tes importantes da gema para alimentar o embrião em crescimento96.


1 - Introdução 37

Uma segunda membrana extra-embriônica, o âmnio, que começa a se

formar no 2o dia de incubação, é uma membrana transparente avascular que

cresce sobre e através do embrião, envolvendo-o completamente. Aos 3,5

dias de incubação o embrião está totalmente envolvido por ele. O âmnio é

preenchido por um líquido claro e incolor, no qual o embrião se encontra

imerso. Esse líquido permite que o embrião se mova naturalmente, enquanto

se protege de forças externas excessivas, portanto sua função é análoga à

do líquido amniótico nos humanos49. Retornando ao 2o dia de incubação, o

córion é formado com o âmnio a partir de uma dobra próxima da cabeça. No

entanto, ao invés de crescer envolvendo diretamente o embrião, como faz o

âmnio, o córion forma um grande saco, semelhante a uma bolsa, que envol-

ve ambos. O córion surge e vai fundir-se com a membrana interna da casca

do ovo. Mais tarde, no 3o dia de incubação, na região abdominal do embrião,

uma nova membrana brota como um balão e, à medida que cresce para fora

do embrião, ocupa o espaço entre o córion e o âmnio; essa membrana é o

alantóide. O alantóide desenvolve um sistema sangüíneo altamente vascu-

larizado que se prolonga com o embrião. Ele continua a se expandir no inte-

rior do córion em desenvolvimento e, no 7o dia de incubação, se une ao có-

rion, formando a membrana corioalantóide, a qual tem uma superfície de

contato com a casca e com a albumina do ovo, importante para a função

digestiva do alantóide. A membrana alantóide secreta enzimas que digerem

a albumina. Os nutrientes digeridos a partir da albumina bem como o cálcio

da casca do ovo são absorvidos pelo sistema capilar do alantóide e transpor-

tados ao embrião em desenvolvimento. O alantóide efetua duas funções adi-


1 - Introdução 38

cionais igualmente importantes: ele recebe os produtos da excreção metabó-

lica dos rins do embrião, retirando-os do sangue e depositando-os na cavida-

de do ovo16, 96, 100, e colabora com a respiração embriônica, antes de ocorrer

o desenvolvimento funcional do pulmão, captando oxigênio dos poros da

casca. O sistema capilar sangüíneo do alantóide fortemente aderido à casca

através do córion absorverá oxigênio e liberará dióxido de carbono, que será

eliminado pelos poros da casca. Portanto ele funciona como um pulmão em-

briônico temporário96.

O saco alantóide dá ao embrião de galinha uma característica peculiar,

ele é o depósito das excretas do embrião. Portanto, no embrião de galinha,

as excretas urinárias e intestinais não se misturam com o líquido amniótico,

como acontece em humanos. Nos estágios iniciais de desenvolvimento, ou

seja, até o 6° dia embrionário, o saco alantóide é pequeno, sendo relativa-

mente fácil abordar o embrião sem abri-lo. Porém, a partir do 7o dia, a abor-

dagem da membrana amniótica, do cordão umbilical e do embrião só é pos-

sível através da abertura do saco alantóide. Isto proporcionou aos pesqui-

sadores a possibilidade de criar gastrosquise em que o intestino fosse ba-

nhado por líquido amniótico com e sem dejetos urinários e intestinais16, de

acordo com o momento do no qual se realiza o experimento.

1.7.4.3 - O Embrião de Galinha como Modelo Experimental

O primeiro relato do uso do embrião de galinha como modelo experi-

mental em cirurgia pediátrica encontra-se no trabalho de Earlam38, datado


1 - Introdução 39

de 1972 e publicado nos Anais do Colégio Real de Cirurgiões da Inglaterra.

Nesse estudo, através da abertura no ovo, o autor provocava lesão no me-

sentério a fim de desenvolver atresia e estenose intestinais. Earlam utilizou

160 ovos no 14o dia de desenvolvimento e em 38 provocou a lesão dos va-

sos mesentéricos: 5 (13%) embriões desse grupo sobreviveram e 3 (8%)

apresentaram estenose intestinal.

O trabalho de Earlam38 serviu de base para Tibboel, Molenaar e Van

Nie17, em 1979, darem início à utilização ampla desse modelo animal. Em

seu artigo inicial denominado Novas perspectivas em cirurgia fetal: o em-

brião de galinha, os autores utilizaram 1372 embriões para desenvolver um

estudo que ia desde a simples dissecção para familiarizar-se com o animal

até a criação de um modelo de peritonite meconial (através da perfuração de

uma alça intestinal do embrião) e de outro de atresia intestinal (através da le-

são dos vasos do mesentério).

Para testar separadamente os efeitos da hipóxia generalizada e da is-

quemia localizada sobre o intestino, Tibboel, Van Nie e Molenaar26 em 1980,

utilizaram novamente o modelo de embrião de galinha. Nesse segundo estu-

do, submeteram um grupo de ovos a um ambiente com moderada e severa

hipóxia e, em outro grupo, repetiram o experimento de ligadura do mesen-

tério com fio de sutura, para criar uma isquemia mesentérica localizada e

temporária. No grupo submetido a hipóxia, os embriões nasceram com le-

sões intestinais semelhantes às observadas na enterocolite necrosante; em

contrapartida, os embriões submetidos a isquemia localizada do mesentério

apresentaram tipos variados de atresia intestinal.


1 - Introdução 40

Nos anos seguintes o embrião de galinha foi utilizado como modelo ex-

perimental para várias doenças. A tabela 4 apresenta alguns desses experi-

mentos.

Tabela 4 - O embrião de galinha como modelo experimental para outras

patologias que não a gastrosquise

Doença Autor/ Ano Experimento Objetivo Sobrevida ao


Experimento
Estudo da diferen- Hutson102, Enxerto de ductos de Estudar o papel da morte 18% a 43%*
ciação sexual 1984 Muller no peritônio en- celular programada nos
tre embriões de gali- mecanismos de regressão
nha dos ductos de Muller
Atresia de esôfa- Kleckner103, Sutura colocada no Produzir atresia de esôfa- 34% a 51%*
go 1984 pólo cranial obrigando go (sem sucesso)
o embrião a assumir
uma postura de hiper-
flexão da cabeça
Kluth104, Preparação e análise Estudar a formação e se-
1987 através de microsco- paração do esôfago e tra-
pia eletrônica do in- quéia −
testino anterior de em-
briões de galinha em
diversas fases do de-
senvolvimento
Doença de Meijers24, Demarcação de célu- Analisar a migração de
Hirschsprung 1987 las nervosas com H3 células nervosas −
timidina
Meijers23, Transecção do intesti- Desenvolver um modelo ex-
1989 no do embrião em di- perimental para estudo da −
versas fases do de- doença de Hirschsprung
senvolvimento
Meijers22, Culturas de intestino de Estudar a colonização do
1992 embriões de galinha intestino por células ner- −
vosas
Atresia intestinal Tibboel25, Lesão de vasos do me- Testar a hipótese vascular
e peritonite 1989 sentério e perfuração das atresias intestinais e 82%
meconial de alças do embrião provocar contato do 78%
mecônio com o peritônio
fetal
Atresia intestinal Tovar105, Coagulação de vasos Estudar através de mi-
1991 do mesentério para croscopia eletrônica as 19,4%
criar atresia intestinal atresias intestinais
Meningomielo- Olgumer106, Modelo experimental Testar a troca de líquido −
cele 2001 de meningomielocele amniótico como forma de
em embriões de gali- diminuir a lesão medular
nha

* Valores variáveis em virtude de o estudo ter utilizado embriões em diferentes fases de desenvol-
vimento
1 - Introdução 41

Klück et al.16, em 1983, publicaram o primeiro estudo com o modelo ex-

perimental de gastrosquise em embriões de galinha. Foram utilizados 999

embriões com uma sobrevida global de 32%, mas com apenas 6% de su-

cesso no desenvolvimento de uma gastrosquise. Os autores conseguiram

reproduzir os achados histológicos do intestino de gastrosquise e ainda le-

vantaram a hipótese de que seria a urina fetal a causadora das alterações.

Em 1987 e 1989, Gheri e Bryk107, 108 apresentaram dois importantes es-

tudos sobre o desenvolvimento do intestino delgado de embriões de galinha.

Através de análise morfométrica digital, realizaram medidas de área e de es-

pessura do duodeno e do íleo de embriões de galinha normais em diferentes

dias de desenvolvimento. A pesquisa tem sua importância concentrada no

fato de que, apesar de ser um modelo experimental, hoje consagrado, pou-

cos artigos estão disponíveis a respeito da embriologia e da histologia nor-

mais. Os estudos mostraram que é possível calcular o índice de encurta-

mento dos espécimes de intestino de embriões de galinha submetidos à pre-

paração histológica, que se situa ao redor de 13% em média, e forneceram

importantes tabelas a respeito da espessura e da área da parede intestinal

normal nesse modelo.

O embrião de galinha serviu também como modelo experimental na

tentativa de testar as hipótese de origem da gastrosquise. Aktug et al.15 rea-

lizaram um experimento no qual embriões de galinha no 13o dia de desen-

volvimento embrionário eram submetidos à criação de uma gastrosquise

através de dois métodos distintos. Um grupo tinha o defeito criado na parede

abdominal (DPA) e o outro grupo no coto umbilical (DU). A sobrevida dos


1 - Introdução 42

embriões ao experimento foi de 40% no grupo DPA e de 87% no grupo com

DU, sendo que metade dos embriões vivos no grupo de DPA apresentava-se

sem gastrosquise e com cicatrização do defeito. Na análise do defeito e das

alças intestinais extrusas, os autores constataram que, no grupo DPA, havia

um firme anel nas bordas e o intestino se apresentava com características

hemorrágicas. Já no grupo DU as alterações macroscópicas e microscópi-

cas, como edema, formação de peel e espessamento de parede, eram mais

compatíveis com as observadas na gastrosquise. Seria esta uma comprova-

ção da teoria de que a ruptura do cordão umbilical daria origem à gastros-

quise.

Apesar de a maioria dos pesquisadores dar preferência a modelos de

mamíferos quando realizam estudos do trato gastrointestinal e das malfor-

mações congênitas, alegando que a embriogênese dos mamíferos é seme-

lhante, o desenvolvimento dos embriões de galinha pode ser comparado ao

de humanos em alguns pontos. A peristalse nos embriões humanos inicia no

segundo trimestre da gestação, o mesmo se aplicando à produção de bile e

à deglutição de líquido amniótico pelo feto. A literatura relata que, da mesma

forma, o embrião de galinha inicia a deglutição e a peristalse e passa a pro-

duzir a bile ao redor do 16o dia de incubação17.

1.7.4.4 - O Embrião de Galinha e as Técnicas de Troca de Líqui-


do Amniótico

No âmbito das pesquisas da influência do líquido amniótico na gênese

da lesão da gastrosquise, o embrião de galinha foi o animal de experimen-


1 - Introdução 43

tação preferido para estudos que avaliavam os mecanismos de inflamação,

como mediadores inflamatórios79, óxido nítrico30 e efeito do mecônio e da

urina31 sobre as alças. A partir desses experimentos surgiu a idéia de “purifi-

car” o líquido amniótico dos fatores agressores ao intestino, promovendo sua

diluição.

Em 1995, Aktug et al.14 publicaram os resultados do primeiro experi-

mento que utilizou a troca de líquido amniótico. No modelo de embrião de

galinha, diluíram o líquido amniótico em uma solução fisiológica e, ao final do

experimento, observaram menor lesão das alças submetidas à troca, tanto

macro como microscopicamente.

Um ano depois, Dommergues et al.39 publicaram o primeiro relato de

infusão de solução fisiológica na cavidade amniótica em fetos humanos com

gastrosquise. Esses pesquisadores franceses aproveitaram dois casos de

gestações com fetos com gastrosquise e oligodrâmnios para propor amnioin-

fusão, com o intuito de diminuir os efeitos lesivos da ausência de líquido

amniótico, tendo observado uma melhora no aspecto macroscópico do intes-

tino da gastrosquise. Sapin et al.109, aproveitando a experiência de Dommer-

gues et al.39, adotaram o mesmo procedimento com outros dois fetos com

gastrosquise e oligodramnia, obtendo também bons resultados. Mas foi so-

mente em 1998 que Aktug et al.29, acumulando a experiência com o modelo

de embrião de galinha, realizaram a troca de líquido amniótico por uma so-

lução salina fisiológica em uma gestação de um feto com gastrosquise e

sem oligodrâmnio. Ao nascer, a criança apresentava mínimo edema de al-

ças, o que possibilitou o fechamento fascial sem dificuldade e com início da


1 - Introdução 44

via oral no 5o dia e alta hospitalar no 8o dia, o que não é o habitual nos casos

de gastrosquise.

Luton et al.110 apresentaram o primeiro estudo comparando gestações

de gastrosquise com e sem troca de líquido amniótico (10 casos em cada

grupo). Como resultado houve uma melhor evolução clínica dos pacientes

submetidos à troca de líquido amniótico, porém ensaios clínicos com um

número maior de pacientes são necessários.

Simultaneamente os estudos foram sendo aprofundados e, com o obje-

tivo de testar duas diferentes soluções para troca de líquido amniótico na

gastrosquise, Aktug et al.27, em 1998, utilizaram o embrião de galinha como

modelo experimental, trocando líquido por uma solução fisiológica, e em ou-

tro grupo, uma solução hiperosmolar com glicose. Novamente os melhores

resultados foram obtidos com a troca de líquido pela solução fisiológica. Os

autores concluíram ser a simples diluição do líquido o fator determinante da

melhora das alças intestinais. No mesmo ano esses pesquisadores publica-

ram um artigo complementar28 ao anterior no qual realizavam a análise do

líquido amniótico pós-troca, tendo descoberto que ocorria uma importante

diminuição dos dejetos intestinais (ácidos biliares e bilirrubina), ao contrário

dos urinários, que não se alteravam. Assim, a melhora no aspecto do intesti-

no após a troca de líquido amniótico por uma solução fisiológica muito pro-

vavelmente se devia à eliminação de dejetos intestinais, não urinários, deter-

minando, desta forma, uma correção às conclusões do primeiro artigo14.

Recentemente, Kanmaz et al.111 utilizaram o modelo de gastrosquise

em embriões de galinha para testar a alcalinização do líquido amniótico com


1 - Introdução 45

bons resultados na diminuição da lesão intestinal, podendo ser esta uma al-

ternativa à troca de líquido, mais simples de ser executada.


2 - OBJETIVOS
2 - Objetivos 47

2 - OBJETIVOS

2.1 - Objetivo Geral

• Reproduzir o modelo experimental da gastrosquise em embriões de galinha.

2.2 - Objetivos Específicos

• Determinar as taxas de sobrevida dos embriões ao experimento.

• Avaliar o aumento ponderal dos embriões.

• Analisar, à microscopia ótica, as alterações histológicas do intestino dos

embriões.

• Utilizar técnicas de morfometria digital para medir a espessura da parede

intestinal dos embriões.

• Comparar as diferenças entre o intestino exposto ao líquido amniótico e o

intestino não-exposto.

• Determinar se o modelo desenvolvido apresenta as alterações observadas

na gastrosquise.
3 - MATERIAL E MÉTODO
3 - Material e Método 49

3 - MATERIAL E MÉTODO

3.1 - Delineamento da Pesquisa

Este estudo foi do tipo experimental, randomizado, contemporâneo, cego e

controlado.

3.2 - Local da Pesquisa

A pesquisa foi desenvolvida no Biotério e Laboratório de Cirurgia Experimental

do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Faculdade de Medicina da Uni-

versidade de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul.

3.3 - Estudo Piloto

Visando adquirir experiência com a estrutura do ovo de galinha e com a ana-

tomia do embrião, realizou-se a exploração e dissecção de 14 ovos, estudando-se a

disposição das membranas embrionárias, a estrutura do cordão umbilical com as

alças intestinais em seu interior e a distribuição do líquido amniótico (figura 5).


3 - Material e Método 50

Fig. 5 - Embrião de 13 dias de desenvolvimento. Notar o cordão umbilical com as alças

intestinais no seu interior (seta) e o saco da gema (sg)

Com o objetivo de verificar a viabilidade do experimento, adquirir familiaridade

com o diagnóstico dos ovos fecundados e não-fecundados, desenvolver a técnica e

escolher o melhor momento de criar a gastrosquise, foi realizado um estudo piloto

com 90 ovos, cujos resultados são apresentados a seguir: em 8 ovos foi possível

diagnosticar a ausência de embrião através da ovoscopia. A ovoscopia, um proce-

dimento diagnóstico simples e muito utilizado pelos criadores, realiza-se colocando o

ovo contra uma fonte de luz com razoável intensidade (em nossa pesquisa utiliza-

mos uma lâmpada de Halogênio – Decostar – Osram® - Germany 500w – 12v); a com-

pleta transiluminação do ovo, sem sombras no seu interior, faz o diagnóstico da au-

sência do embrião, ao passo que os ovos fecundados apresentam uma sombra que
3 - Material e Método 51

corresponde ao embrião em desenvolvimento (figura 6). Em 10 ovos não se realizou

nenhum procedimento, eles foram deixados para nascer, a fim de se confirmar o dia

do desenvolvimento embrionário no qual se encontravam os ovos da mesma série.

Fig. 6 - Transiluminação evidenciando o ovo fecundado (a) e não fecundado (b)

Foram selecionados para o procedimento piloto de criação da gastrosquise 72

ovos. Em 59 o procedimento foi feito seguindo as descrições prévias da literatura14,


15, 27, 28
. No 19o dia, havia 55 embriões mortos e 4 (7,2%) vivos. Nos restantes 13

(18%) embriões, selecionados para o procedimento, houve algum acidente técnico

que impossibilitou a execução. Em 1 caso ocorreu fratura da casca do ovo, em 6 ca-

sos, abertura acidental do saco da gema, em 2 casos, sangramento importante das

membranas que envolvem o embrião e, em 4 casos, houve lesão do corpo do em-

brião pelo instrumental cirúrgico.


3 - Material e Método 52

A partir do estudo piloto optou-se por realizar a pesquisa no 13o dia embrioná-

rio, considerando não só a facilidade propiciada pelo tamanho do embrião como

também o fato de que a maioria dos autores dos trabalhos de troca de líquido amnió-

tico desenvolveram seus estudos nessa fase14, 15, 27, 28, 112
. Foi constatada também

uma extrema dificuldade técnica na manobra de exteriorização do cordão umbilical,

quando se utilizavam instrumentos cirúrgicos delicados convencionais, como a pinça

de Adson e a pinça hemostática tipo mosquito. A apreensão do corpo do embrião

por essas pinças ocasionou variados graus de lesão, indo desde uma escoriação até

arrancamento completo de membros, razão pela qual se desenvolveu um instrumen-

to próprio para realização do procedimento que consiste em um gancho, manufatu-

rado a partir de um estilete cirúrgico (figura 7). Com esse gancho foi possível facil-

mente exteriorizar o cordão umbilical, junto à sua implantação no corpo do embrião,

e não foram mais observadas lesões tipo arrancamento.

Fig. 7 - Gancho manufaturado a partir de um estilete cirúrgico, utilizado para identificar e


trazer para fora o cordão umbilical, diminuindo o risco de lesão do embrião
3 - Material e Método 53

3.4 - Amostra

3.4.1 - Critérios de Inclusão

Foram utilizados na pesquisa 278 ovos fecundados de galinha da raça Leghorn

(Gallus domesticus), fornecidos por um mesmo incubatório e procedentes de diver-

sos criadores da região nordeste do Rio Grande do Sul.

O ovos foram selecionados por veterinário especialista em criação de aves e

levados para o laboratório em uma caixa isolante térmica, a fim de evitar perda de

calor durante o transporte. O transporte do incubatório até o laboratório de pesquisa

não demorou mais de 10 minutos na maioria das vezes. Os ovos selecionados para

o estudo foram retirados do incubatório no 11o ou 12o dia de desenvolvimento em-

brionário para a realização do procedimento no 13o dia. Na chegada ao laboratório

os ovos foram submetidos à ovoscopia: os sem embrião foram excluídos e os ovos

com embrião foram identificados com o número do seu protocolo, escrito na casca

com lápis preto, pesados e medidos no seu comprimento e largura e as informações

registradas no protocolo de pesquisa (Anexo 1).

3.4.2 - Critérios de Exclusão

Foram considerados critérios para exclusão do estudo:

a) ovos nos quais ocorreu algum tipo de acidente no procedimento de criação

da gastrosquise, como sangramento abundante do cordão umbilical, lesão com ex-

travasamento do saco da gema, lesão traumática do embrião (laceração ou arranca-

mento de membros) e fratura da casca do ovo;


3 - Material e Método 54

b) embriões que, mesmo sendo submetidos ao procedimento de criação de

gastrosquise, apresentavam uma regeneração total do coto umbilical, sem exteriori-

zação de vísceras no momento da abertura do ovo no 19o dia;

c) embriões mortos.

3.4.3 - Grupos

Utilizou-se para análise dos dados a divisão da amostra em 3 grupos:

• Grupo G (Gastrosquise): 18 embriões nos quais foi realizado o procedi-

mento cirúrgico para criar uma gastrosquise no 13o dia de desenvolvimento embrio-

nário e que no final do experimento, no 19o dia, na abertura do ovo apresentavam-se

vivos e com o intestino protuído para fora da cavidade abdominal.

• Grupo M (Mistura de líquido amniótico e alantóide somente): 12 em-

briões nos quais foi realizado o experimento no 13o dia, consistindo na abertura do

orifício na casca e abertura das membranas amniótica e alantóide, promovendo a

mistura dos líquidos amniótico e alantóide, mas que diferia do grupo gastrosquise

por não haver a manipulação do cordão umbilical (sem expor as alças). No 19o dia

os ovos foram abertos, e o coto umbilical de cada animal vivo foi examinado para ga-

rantir que não havia visceras expostas, sendo então abordado. As alças de intestino

delgado ali localizadas foram removidas para exame.

• Grupo C (Controle): 10 embriões do 19o dia, trazidos diretamente do incu-

batório, nos quais nenhum procedimento foi realizado. Os ovos foram abertos e o

intestino delgado junto ao anel umbilical foi removido para exame.


3 - Material e Método 55

3.5 - Método

No laboratório os ovos eram colocados em uma incubadora com sistema de

aquecimento através de ar quente circulante, própria para esta finalidade (Hova-

-Bator® Incubator, Model G.Q.F. Mgf. Co. Savannah, Ga. USA) (figuras 8 e 9), man-

tidos a uma temperatura de 37,5º C e em um ambiente com 80% de umidade e gira-

dos manualmente 1 ou 2 vezes ao dia até o procedimento. A temperatura da incu-

badora era controlada por 2 termômetros, um termômetro-higrômetro digital (Hygroterm

– Kat Nr. 30.5000 – TFA – Germany) com variação de – 10° a + 60° C de tempera-

tura, com divisões de 0,1° C e com variação de 10% a 99% de umidade relativa,

com divisões de 1%, e um termômetro a mercúrio, próprio para pequenas incuba-

doras (Incoterm® - ref. 89345/01), de 25° a 40° C, com divisões de 1° C. A umidade

relativa era controlada pelo termômetro-higrômetro digital citado acima.

Fig. 8 - Incubadora
3 - Material e Método 56

Fig. 9 - Incubadora aberta

Os ovos previamente randomizados por grupo, numerados, pesados e medidos

eram retirados da incubadora e colocados em um suporte apropriado para o proce-

dimento, tendo-se o cuidado de manter o pólo mais largo, aquele que contém a câ-

mara de ar, voltado para cima, porque ali se daria a abordagem. Luvas cirúrgicas es-

téreis eram calçadas e um campo estéril era colocado sobre o ovo, de forma a per-

mitir a exposição da área a ser manipulada. Em seguida se procedia à antissepsia

do local de abordagem com álcool isopropílico a 70% (figura 10). O instrumental ci-

rúrgico era selecionado e consistia de uma tesoura de íris, uma pinça de Adson sem

dente, uma pinça de preensão tipo “mosquito” e o gancho fabricado para este pro-

cedimento. Com a pinça mosquito iniciava-se a confecção de um orifício no pólo do

ovo de 0,7 a 1 cm de diâmetro (figura 11). A seguir abordava-se a câmara de ar do

ovo (figura 12) e no assoalho da câmara de ar encontrava-se a membrana do ovo


3 - Material e Método 57

que era aberta em conjunto com a membrana corioalantóide (figura 13). A abertura

em separado dessas duas membranas não era possível. Os sangramentos eram

controlados com o delicada preensão dos vasos ou com uma pinça de cautério do

tipo bipolar. Em seguida abordava-se a cavidade amniótica e com o gancho proce-

dia-se à busca pelo cordão umbilical (figura 14). Esta manobra é facilitada seguindo-

se os grandes vasos umbilicais que são facilmente identificados (figura 15) ou explo-

rando com o gancho junto aos membros inferiores do embrião. Após identificado, o

cordão umbilical era gentilmente exteriorizado do ovo e procedia-se à identificação

das estruturas do seu interior. As alças intestinais são facilmente visíveis dentro do

cordão umbilical (figura 16). Com a tesoura de irís e com auxílio da pinça de Adson,

fazia-se a abertura do cordão umbilical o mais próximo possível do abdômen do em-

brião (figura 17), na zona denominada coto umbilical. Em seguida uma gentil pres-

são era realizada a fim de que algumas alças intestinais saíssem pela abertura (fi-

gura 18). Atenção especial nesse momento era dada aos vasos umbilicais que cru-

zam dentro do cordão umbilical (figura 19); uma lesão desses vasos, com conse-

qüente sangramento, inviabiliza o procedimento. Após exteriorização das alças, o

cordão umbilical retornava para dentro do ovo. A borda da abertura na casca era

limpa de resíduos de sangue e líquido amniótico e o orifício era fechado com o uso

de curativo plástico (figuras 20 e 21) (Tegaderm® - 3M Health Care, St. Paul, USA).

Em seguida o ovo era recolocado na incubadora e seguia com cuidados de

verificação de temperatura e umidade 3 vezes ao dia e viragem manual 1 a 2 vezes

ao dia (figura 22). Em cada lote em incubação, pelo menos um ovo normal era dei-

xado para nascer espontaneamente, afim de confirmar o dia previsto para a eclosão

do lote. Os ovos eram examinados diariamente pelo pesquisador e, mesmo cons-

tatando-se a morte do embrião, eles não eram retirados da incubadora. Ao final do


3 - Material e Método 58

experimento, no 19o dia, os ovos eram retirados da incubadora, pesados e abertos

para exame. Os animais vivos, identificados pela presença de movimentos espon-

tâneos e/ou sangramento de membranas na abertura da casca (figura 23), eram

examinados e classificados como apresentando gastrosquise ou não. Aqueles que

não apresentavam alças intestinais expostas eram excluídos e os com as alças de

intestino delgado expostas eram submetidos à secagem do excesso de líquido

amniótico, fotografados, pesados e realizada eutanásia por exangüinação dos vasos

umbilicais, sendo removido o intestino protuído pelo defeito abdominal para posterior

análise anatomopatológica (figuras 24 e 25). Esses embriões vieram a compor o

grupo gastrosquise (G) no estudo.

Fig. 10 - Antissepsia com álcool 70%, na extremidade mais alargada do ovo


3 - Material e Método 59

Fig. 11 - Abertura do orifício na extremidade mais alargada do ovo, com o uso da pinça
tipo “mosquito”

Fig. 12 - Orifício de 0,7 a 1 cm de diâmetro aberto sobre a câmara de ar para aborda-


gem cirúrgica
3 - Material e Método 60

Fig. 13 - Orifício sobre a câmara de ar com visão da membrana do ovo

Fig. 14 - Abordagem da cavidade alantóide e amniótica com o gancho, para abrir as


membranas e localizar o cordão umbilical
3 - Material e Método 61

Fig. 15 - Gancho trazendo o cordão umbilical. Notar a grande artéria umbilical presente
no seu interior (seta)

Fig. 16 - Gancho trazendo o coto umbilical com as alças intestinais visíveis mas cober-
tas pela membrana do cordão. Notar o corpo do embrião logo adjacente (seta)
3 - Material e Método 62

Fig. 17 - Tesoura de Iris abrindo o cordão umbilical, tomando-se o cuidado de não lesar
a artéria e veia umbilical

Fig. 18 - Cordão umbilical aberto e as alças intestinais parcialmente expostas


3 - Material e Método 63

Fig. 19 - Alças intestinais fora do cordão umbilical, liberadas das membranas que reco-
brem. Notar a grande artéria umbilical (seta) que encontra-se no campo cirúrgico

Fig. 20 - Cordão umbilical devolvido para dentro do ovo e o orifício sendo coberto por
um curativo plástico adesivo
3 - Material e Método 64

Fig. 21 - Fechamento do orifício com curativo plástico

Fig. 22 - Final do procedimento, ovos devolvidos à incubadora para controle de tempe-


ratura, umidade e viragem até o 19o dia
3 - Material e Método 65

Fig. 23 - No 19o dia de desenvolvimento o ovo é aberto e a vitalidade do embrião é ava-


liada pelos movimentos espontâneos ou pelo sangramento das membranas da
casca (setas)

Fig. 24 - Embrião no 19o dia, no momento da abertura do ovo. Notar a circulação ativa, o
sangramento das membranas (memb) e o intestino protuído pelo defeito umbili-
cal (seta), junto ao saco da gema (sg)
3 - Material e Método 66

Fig. 25 - Detalhe do abdômen do embrião com o saco da gema, o cordão umbilical e as


alças intestinais com aspecto espessado protuídas para fora do abdômen (se-
ta)

As alças intestinais eram fixadas em formol a 10% e encaminhadas para o la-

boratório de patologia, para fixação em parafina. Para obter cortes transversos (de 5

micrômetros de espessura), o ângulo entre o eixo longitudinal do espécime e a lâ-

mina do micrótomo foi o mais próximo possível de 90°. Os cortes do intestino eram

montados em lâminas de vidro e corados com hematoxilina e eosina. Procedia-se à

avaliação histológica usual dos cortes à procura de sinais inflamatórios e da forma-

ção de peel, conforme a tabela 5. As análises morfométricas foram realizadas a par-

tir da digitalização das imagens obtidas em microscopia ótica com microscópio

Zeiss® (Modelo Axiastar) com ótica plana acromática e foto-tubo (videocâmara


3 - Material e Método 67

Sony® DXC 151) e analisadas através do programa integrado de morfometria e aná-

lise de imagem Image Pro Plus – Media Cybernetics®.

Através da análise digital foi possível calcular a espessura da parede intestinal

para cada corte histológico em micrômetros.

3.6 - Variáveis em Estudo

As variáveis estudadas foram:

• Peso do ovo em gramas: aferido através de balança semi-analítica da mar-

ca Micronal, modelo B2000, com divisões de 0,01 g.

• Comprimento e largura do ovo em milímetros: aferidos por de um pa-

químetro com divisões de 1 mm.

• Mortalidade de embriões ao procedimento: avaliada mediante exame vi-

sual de movimento do embrião e/ou sangramento de membranas na abertura da

casca do ovo, para diagnóstico de vitalidade.

• Peso do embrião em gramas: aferido pelo mesmo método de pesagem de

ovos.

• Relação peso embrião pelo peso do ovo (PE/PO): em percentuais – cal-

culada pela fórmula: (Peso do embrião / Peso do ovo no 19o dia ) X 100.

• Acidentes do procedimento: identificados pelo pesquisador e anotados no

protocolo de pesquisa.

• Avaliação das estruturas exteriorizadas na gastrosquise: identificadas

pelo pesquisador e anotadas no protocolo de pesquisa.


3 - Material e Método 68

• Avaliação da inflamação intestinal: realizada através de escore semiquan-

titativo, por análise histológica convencional. A tabela 5 apresenta os critérios de

avaliação histológica utilizados no estudo

• Medidas das espessuras intestinais: expressas em micrômetros, aferidas

através de análise morfométrica digital dos cortes, realizando-se 6 medidas aleató-

rias para cada embrião, quais sejam:

− espessura total de parede;

− espessura da serosa;

− espessura da camada muscular;

− espessura da mucosa (medida a partir da base do vilo até o início da ca-

mada muscular).

• Avaliação do número de plexos nervosos mioentéricos: efetuada por

análise histológica convencional em hematoxilina-eosina.

3.7 - Ética em Estudos Experimentais

A utilização dos embriões foi realizada sob condições éticas e científicas regu-

lamentadas pela Lei Federal no 6.638, de 08 de maio de 1979, a qual estabeleceu as

normas para a prática didático-científica da experimentação com animais113. Esta

pesquisa foi autorizada pela coordenação do Centro de Ciências Biológicas e da

Saúde – Laboratório de Cirurgia Experimental, da Faculdade de Medicina da Univer-

sidade de Caxias do Sul, onde foi desenvolvido o trabalho experimental.


3 - Material e Método 69

Tabela 5 - Avaliação histológica do intestino dos embriões de galinha

Classificação Grau Histologia Escore

Serosite

Ausente 0 Ausência de alteração anatomopatológica 0

Leve I Edema e infiltrado inflamatório grau I (até 5 leucócitos por


1
campo de 40X)

Moderada II Edema e infiltrado inflamatório grau II (de 5 a 25 leucócitos


2
por campo de 40X) + proliferação endotelial

Severa III Edema e infiltrado inflamatório grau III (mais de 25 leucócitos


por campo de 40X, com exsudato seroso e hiperemia in- 3
tensa) + proliferação mesotelial

Enterite

Ausente 0 Ausência de alteração anatomopatológica 0

Leve I Edema e infiltrado inflamatório grau I com discreta ectasia ve-


nosa e linfática, com discreto edema vilositário (sem atrofia 1
da vilosidade), do cório da mucosa ou do mesentério

Moderada II Edema e infiltrado inflamatório grau II, com congestão veno-


sa e ectasia linfática + discreta atrofia vilositária com mo-
2
derado edema das vilosidades, do cório da mucosa ou do
mesentério

Severa III Edema e infiltrado inflamatório grau III apresentando conges-


tão venosa intensa com extravasamento de hemácias para o
interstício + atrofia vilositária severa com alargamento ou 3
achatamento vilositário, do cório da mucosa ou do me-
sentério

Necrose

Ausente 0 Ausência de alteração anatomopatológica 0

Leve I Necrose restrita à serosa 1

Moderada II Necrose estendendo-se à serosa e muscular 2

Severa III Necrose transmural 3

Depósito de colágeno e fibrina na serosa (Peel)

Ausente 0 Ausência de peel sobre a serosa 0

Leve I Depósito focal de peel sobre a serosa 1

Moderado II Depósito moderado de peel sobre a serosa 2

Severo III Depósito extenso de peel sobre a serosa 3

Modificada a partir de Sherman et al.89, Ferreira et al.76 e Kubaski92.


3 - Material e Método 70

3.8 - Análise Estatística

Inicialmente os dados foram descritos através de média e desvio padrão.

Variáveis qualitativas foram expressas por freqüência e percentual. Na comparação

dos grupos utilizou-se a análise de variância com 1 (um) critério de classificação

(ANOVA one-way). A localização de diferenças significativas foi feita mediante o do

teste de comparações múltiplas de Duncan. A comparação de variáveis assimétricas

foi confirmada pela utilização do procedimento não paramétrico de Kruskal-Wallis,

com localização de diferenças pelo teste de Dunn. O nível de significância foi de

α = 0,05. Os dados foram processados e analisados com o auxílio dos programas

SSPS® (v.10) e Sigmaplot® (V 2.1).


4 - RESULTADOS
4 - Resultados 72

4 - RESULTADOS

4.1 - Sobrevida

Dos 236 ovos do grupo gastrosquise (G), 207 (87,7%) tiveram o procedimento

cirúrgico realizado com sucesso e 29 (12,3) apresentaram acidentes na execução.

Dos 207 embriões submetidos à criação de uma gastrosquise, 184 (88,9%) es-

tavam mortos ao final do experimento (figuras 26 e 27) e 23 vivos, sendo, portanto,

de 11,1% a taxa de sobrevida ao procedimento para criar uma gastrosquise.

Fig. 26 - Embriões mortos do grupo gastrosquise


4 - Resultados 73

Fig. 27 - Embrião do grupo gastrosquise morto. Observar a presença do defeito abdo-

minal com as alças intestinais exteriorizadas (seta)

Dos 23 embriões que sobreviveram ao experimento, 5 (21,7%) mostravam ci-

catrização do defeito abdominal sem alças intestinais expostas (figura 28) e 18 apre-

sentavam gastrosquise, reconhecida pelo exame do embrião. Então, considerando

os 207 embriões submetidos inicialmente ao procedimento, a taxa de sucesso na

realização de gastrosquise foi de 8,7% (IC 95%: 5,4 a 13,6).

Dos 17 embriões do grupo mistura (M), 12 (70,5%) sobreviveram ao experi-

mento, o que resultou em taxa de sobrevida de 70,5%.


4 - Resultados 74

Fig. 28 - Embrião do grupo gastrosquise, que no 19o dia apresentava cicatrização com-
pleta do coto umbilical, sem exteriorização das alças. Observas a zona de cica-
triz no coto umbilical (seta)

A comparação da taxa de sobrevida desses dois grupos mostrou haver entre

eles diferença estatisticamente significativa (P = 0,045).

Os 15 ovos deixados para nascer eclodiram no dia previsto para ser o 21o do

desenvolvimento embrionário.

A figura 29 resume a distribuição da amostra nos grupos de estudo.


4 - Resultados 75

AMOSTRA

Total de ovos
278

Grupo gastrosquise Grupo mistura Grupo controle Embriões


para nascer
236 17 10 15

Procedimento de
Procedimento para
criar uma gastrosquise mistura de líquidos
somente

Sucesso no Acidente Embriões vivos Embriões mortos


procedimento no procedimento 12 5
207 29 (70,5%) (29,5%)
(87,7) (12,3%)

Embriões vivos Embriões mortos


23 184
(11,1%) (88,9%)

Com Gastrosquise Sem Gastrosquise


18 5
(8,7%) (21,7%)

Fig. 29 - Distribuição dos ovos e embriões na amostra

4.2 - Acidentes no Procedimento

A tabela 6 indica os acidentes ocorridos no procedimento cirúrgico que fizeram

com que 29 ovos do grupo G fossem desprezados.

Tabela 6 - Acidentes no procedimento para criar uma gastrosquise

Acidente cirúrgico f %

Lesão do saco da gema 16 55,17

Fratura da casca do ovo 2 6,90

Sangramento dos vasos umbilicais 11 37,93

Total 29 100,00
4 - Resultados 76

4.3 - Peso, Comprimento e Largura dos Ovos e Peso dos Embriões

A tabela 7 apresenta o peso, o comprimento e a largura dos ovos, bem como o

peso dos embriões e a relação peso do embrião/peso do ovo (PE/PO).

Tabela 7 - Medidas de peso, comprimento e largura dos ovos, peso dos embriões e
relação peso do embrião/peso do ovo (média ± desvio padrão)

GRUPOS

Variáveis G M C P

n = 18 n = 12 n = 10

Peso do ovo no dia 13 (g) 53,51 ± 5,70 57,71 ± 3,62 54,20 ± 4,34 0,069

Peso do ovo no dia 19 (g) 51,67 ± 5,50 55,72 ± 3,44 52,40 ± 3,96 0,066

Comprimento (mm) 55,44 ± 3,07a 58,25 ± 2,73b 56,40 ± 2,37a, b 0,038

Largura (mm) 42,67 ± 1,41 42,83 ± 1,03 42,70 ± 1,64 0,946

Peso do embrião (g) 17,43 ± 4,01a 21,98 ± 1,74b 25,43 ± 2,44c < 0,001

Relação PE/PO 33,79 ± 7,26a 39,60 ± 4,04b 48,51 ± 2,69c < 0,001
Letras-índice não-coincidentes apresentam diferenças estatisticamente significativas.

As médias de comprimento dos ovos mostraram uma diferença estatisticamen-

te significativa no Grupo M, porém não foram evidenciadas diferenças nas compara-

ções do peso do ovo no dia 13 e no dia 19 e da largura.

A comparação do peso do embrião e da relação PE/PO nos três grupos mos-

trou uma diferença estatisticamente significativa, indicando que houve uma diminui-

ção no peso do embrião do grupo gastrosquise quando comparado com os grupos

mistura e controle.

A figura 30 apresenta em gráficos as medidas de peso, comprimento e largura

dos ovos, peso dos embriões e relação PE/PO.


4 - Resultados 77

70 70
Peso do ovo no

Peso do ovo no
60 60
13 dia (g)

19 dia (g)
50 50
o

o
40 40

0 0
G M C G M C
Grupo Grupo
Comprimento do ovo

Largura do ovo (mm)


70 50
60 45
(mm)

50 40
40

0 0
G M C G M C
Grupo Grupo
Peso do embrião (g)

32 60
Relação PE/PO

50
24
40
16 30
20
8
10
0 0
G M C G M C
Grupo Grupo

Fig. 30 - Gráficos de média e barra de erro (± desvio padrão) representando a compara-


ção de diversas variáveis entre os grupos em estudo (G:gastrosquise; M: mis-
tura; C: controle).
4 - Resultados 78

4.4 - Análise Macroscópica das Visceras Expostas

A avaliação por inspeção das visceras expostas ao nascimento mostrou que

em todos os casos do grupo G as vísceras expostas foram alças do intestino delga-

do (figuras 31, 32, 33 e 34). Não foi observado fígado exposto em nenhum dos ca-

sos. Nos grupos M e C, no momento da abertura do ovo, o cordão umbilical encon-

trava-se intacto e não havia visceras expostas em nenhum deles (figuras 35, 36 e

37).

Fig. 31 - Embrião vivo do grupo gastrosquise. Observar a dilatação e hiperemia das alças
intestinais expostas
4 - Resultados 79

Fig. 32 - Embrião vivo do grupo gastrosquise. Observar o espessamento e a aglutinação


de alças intestinais, lembrando uma gastrosquise humana (seta)

Fig. 33 - Embrião vivo do grupo gastrosquise. Alças intestinais expostas, aderidas e com
parede espessada, ainda é possível identificar o saco da gema
4 - Resultados 80

Fig. 34 - Embrião do grupo gastrosquise. Alças intestinais expostas, lateralmente ao cor-


dão umbilical e ao saco a gema. Notar a hiperemia e o aspecto inflamatório das
alças.

Fig. 35 - Embrião do grupo mistura. Notar o coto umbilical intacto e o início do processo
de retração do saco da gema
4 - Resultados 81

Fig. 36 - Embrião do grupo controle. Observar o coto umbilical intacto (seta), e o pleno de-
senvolvimento do animal no 19o dia

Fig. 37 - Detalhe do coto umbilical aberto do embrião do grupo controle. Observar as al-
ças intestinais com aspecto normal, sem edema ou hiperemia
4 - Resultados 82

4.5 - Análise Microscópica das Alças Intestinais

A avaliação microscópica das alças intestinais baseada no escore previamente

apresentado (tabela 5) classificou os achados de serosite, enterite, necrose e peel.

Os grupos M e C exibiram poucas alterações ao exame histopatológico (figuras 38,

39, 40, 41 e 42). Diferentes graus de lesão puderam ser observados no Grupo G,

conforme se pode ver nas figuras 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50 e 51.

Fig. 38 - Corte histológico do intestino de embrião do grupo C, (100x). Observar o aspecto

normal das camadas do intestino


4 - Resultados 83

Fig. 39 - Corte histológico do intestino de embrião do grupo C, (100x). Enterite leve

Fig. 40 - Corte histológico do intestino de embrião do grupo C, (400x). Observar o aspecto

normal das vilosidades intestinais e das camadas mucosas e muscular


4 - Resultados 84

Fig. 41 - Corte histológico do intestino de embrião do grupo M, (100x). Observar infiltrado

inflamatório nas vilosidades intestinais

Fig. 42 - Corte histológico do intestino de embrião do grupo M, (400x). Enterite leve. Observar

o nítido infiltrado inflamatório nas vilosidades intestinais


4 - Resultados 85

Fig. 43 - Corte histológico do intestino exposto de embrião do grupo G, (40x). Observar

espessamento da parede, as alças intestinais aderidas

Fig. 44 - Corte histológico do intestino exposto de embrião do grupo G, (100x). Observar

espessamento da parede, edema e infiltrado inflamatório na serosa


4 - Resultados 86

Fig. 45 - Corte histológico do intestino exposto de embrião do grupo G, (100x). Observar


espessamento da parede, e os sinais de enterite severa, com infiltrado inflama-
tório na mucosa

Fig. 46 - Corte histológico do intestino exposto de embrião do grupo G, (100x). Observar

a congestão dos vasos do mesentério (seta)


4 - Resultados 87

Fig. 47 - Corte histológico do intestino exposto de embrião do grupo G, (400x). Serosite

severa. Observar o infiltrado inflamatório na serosa (setas)

Fig. 48 - Corte histológico do intestino exposto de embrião do grupo G, (400x). Observar

espessamento da serosa e infiltrado inflamatório e fibrina


4 - Resultados 88

Fig. 49 - Corte histológico do intestino exposto de embrião do grupo G, (100x). Observar


a necrose de toda a parede intestinal e o depósito de fibrina sobre a serosa.
Desorganização da estrutura normal da parede

Fig. 50 - Corte histológico do intestino exposto de embrião do grupo G, (400x). Observar

infiltrado inflamatório na serosa e também na mucosa (enterite)


4 - Resultados 89

Fig. 51 - Corte histológico do intestino exposto de embrião do grupo G, (400x). Observar


intenso infiltrado inflamatório do mesentério

A tabela 8 apresenta as médias dos escores de avaliação histopatológica obti-

dos pelos três grupos em estudo.

Tabela 8 - Análise histológica das alças do intestino delgado dos 3 grupos, baseado
no escore padronizado da tabela 5 (média ± desvio padrão)

Grupos
Achados G M C P
n = 18 n = 12 n = 10
a b
Serosite 2,17 ± 0,79 0,25 ± 0,45 0,3 ± 0,48b < 0,001
Enterite 1,83 ± 1,04a 0,25 ± 0,45b 0,3 ± 0,67b < 0,001
a b b
Necrose 0,94 ± 1 0 0 < 0,001
a b b
Peel 1,28 ± 1,07 0 0 < 0,001
Total 6,22 ± 3a 0,5 ± 0,8b 0,6 ± 0,84b < 0,001

Letras índice não-coincidentes apresentam diferenças estatisticamente significativas.


4 - Resultados 90

A comparação dos escores obtidos pelos 3 grupos mostrou diferença estatisti-

camente significativa para todos os parâmetros do grupo G em relação aos de-

mais.

4.6 - Número de Plexos Nervosos

O número de plexos nervosos da parede intestinal foi contado (figuras 52 e 53)

e a tabela 9 apresenta os resultados.

Fig. 52 - Corte histológico do intestino exposto de embrião do grupo G, (400x). Observar

os plexos nervosos mioentéricos (setas)


4 - Resultados 91

Fig. 53 - Corte histológico do intestino de embrião do grupo M, (400x). Observar o plexo

nervoso mioentéricos (seta)

Tabela 9 - Número de plexos nervosos por corte de intestino (média ± desvio pa-
drão)

Grupos

G M C P

n = 13 n = 12 n = 10

Plexos Nervosos 12,23 ± 3,92 11,5 ± 3,15 11,1 ± 2,23 0,69

Não houve diferença estatisticamente significativa na contagem de plexos ner-

vosos nos 3 grupos estudados.


4 - Resultados 92

Em 5 amostras do grupo G, as condições técnicas da preparação histológica

não pertimiram uma contagem precisa do número de gânglios, tendo sido esses ca-

sos excluídos.

4.7 - Espessura Intestinal

A tabela 10 apresenta as médias dos resultados obtidos das medidas da es-

pessura da parede intestinal total e de suas diferentes camadas, mediante análise

morfométrica digital (figura 54).

Fig. 54 - Corte histológico do intestino de embrião do grupo C, (40x). Demonstração das


camadas intestinais medidas pela morfometria digital (azul: espessura total; rosa:
mucosa; vermelho: serosa; verde: muscular)
4 - Resultados 93

Tabela 10 - Medidas de espessura intestinal em micrômetros

Grupos

Camadas G M C P

n = 18 n = 12 n = 10

Mucosa 187,13 ± 16,45a 175,31 ± 12,77b 176,85 ± 7,71a, b 0,048

Muscular 173,76 ± 71,98 194,73 ± 57,97 181,68 ± 52,87 0,679

Serosa 96,98 ± 25,57a 62,41 ± 14,26b 51,7 ± 10,76c 0,001

Total 457,86 ± 75,34 432,46 ± 54,27 410,24 ± 45,64 0,163

Letras-índice não-coincidentes apresentam diferenças estatisticamente significativas

Os valores da espessura intestinal mostraram uma diferença estatisticamente

significativa nas medidas da serosa e da mucosa. A espessura da muscular não

apresentou diferença.

Encontrou-se diferença na espessura total entre os grupos G e C, no entanto

essa diferença (que pode ser considerada de tamanho moderado), não atingiu signi-

ficância estatística clássica. No entanto, ao realizar-se uma análise de regressão li-

near, por estarem os grupos ordenados por magnitude de efeito, constatou-se uma

significância limítrofe (P = 0,056). Isto quer dizer que, à medida que a exposição do

embrião ao líquido amniótico modificado aumenta, maior é a espessura observada

na parede do intestino.

A figura 55 contém os gráficos de espessuras intestinais nos três grupos em

estudo.
4 - Resultados 94

220 280

muscular (μm)
240
Espessura da

Espessura da
200
mucosa (μm)

180 200
160 160
120
140

0 0
G M C G M C
Grupo Grupo

140 550

Espessura total da
120
Espessura da

500
serosa (μm)

serosa (μm)
100
450
80
60 400
40 350
20
0 0
G M C G M C
Grupo Grupo

Fig. 55 - Gráficos de média e barra de erro (± desvio padrão) representando a comparação


das medidas de espessuras intestinais. (G: gastrosquise; M: mistura; C: controle)
5 - DISCUSSÃO
5 - Discussão 96

5 - DISCUSSÃO

A prevalência global de gastrosquise vem aumentando na última década, fa-

lando-se até em “epidemia da gastrosquise”114. Em contrapartida, avanços signi-

ficativos foram alcançados nas diferentes áreas de atenção aos pacientes. As ques-

tões ainda pendentes quando ao manejo são hoje matéria de intenso estudo por

pesquisadores de todo o mundo, e modelos experimentais em animais são parte fun-

damental das pesquisas.

O objetivo deste estudo foi o de reproduzir e, desta forma, avaliar o modelo

experimental em embriões de galinha, testando a hipótese de que este modelo ani-

mal seria capaz de desenvolver achados intestinais compatíveis com a gastrosquise

humana.

O embrião de galinha tornou-se o modelo experimental de gastrosquise em

pelos menos dois grandes centros de pesquisa: Holanda e Turquia.

Sem dúvida, suas principais vantagens são o baixo custo de execução do ex-

perimento, o descarte fácil, a dispensa de anestesia e reduzido o material cirúrgico

utilizado.

O embrião de galinha é um modelo único, principalmente porque o procedi-

mento pode ser realizado no período em que o intestino protui pela hérnia do cordão

umbilical15, e pelo fato de o líquido amniótico estar livre de dejetos urinários e intes-

tinais fetais que estão contidos no saco alantóide. Assim sendo, pode-se optar por

criar uma gastrosquise misturando ou não os dejetos cloacais do embrião ao líquido


5 - Discussão 97

amniótico, basicamente na dependência do momento do desenvolvimento embrio-

nário em que se realiza o procedimento. Criar uma gastrosquise banhada somente

por líquido amniótico, sem dejetos, pode ser útil quando se quer testar separada-

mente substâncias irritantes ao intestino, como urina e mecônio humanos31.

Outra vantagem é a de que, no embrião de galinha, a gastrosquise pode ser

realizada em estágios precoces do desenvolvimento16, 19, 31 como se acredita ser sua

embriogênese18, 19.

Os custos com este modelo experimental são sensivelmente mais baixos do

que com outros animais, os ovos de galinha embrionados são de baixíssimo custo e

os gastos com incubação e procedimento cirúrgico também são modestos. O alto

custo é a principal desvantagem dos modelos que empregam ovelhas.

As principais desvantagens do embrião de galinha como modelo experimental

se situam na alta taxa de mortalidade e nas diferenças observadas nas membranas

embrionárias e na composição do líquido amniótico.

Uma das críticas ao modelo em galinhas seria que a composição do líquido

amniótico e do sangue seria distinta da dos mamíferos, em especial o homem. A os-

molaridade plasmática e do líquido amnioalantóide do embrião de galinha é real-

mente menor que em humanos71, porém o comportamento do líquido amnioalantóide

e do líquido amniótico humano se assemelha. Ambos apresentam diminuição dos

níveis de sódio e elevação na concentração de potássio, uréia e creatinina, relacio-

nadas ao início do pleno funcionamento renal, que acontece ao redor do 15o dia nos

embriões de galinha e na 30ª semana nos fetos humanos19.

Outra desvantagem do modelo é a dificuldade técnica em obter espécime de

intestino no qual se possa medir o comprimento e, dessa forma, calcular a densi-

dade, como realizado por Kubaski92. As alças intestinais, no presente estudo, na


5 - Discussão 98

maioria das vezes estavam agrupadas e aderidas, o que impossibilitou a medida do

seu comprimento.

Quando comparados com o modelo experimental em ratos desenvolvido por

Correia-Pinto et al.95, os embriões de galinha têm a vantagem de ser animais maio-

res (o peso do embrião de galinha no 19o dia é cinco vezes maior que o do feto de

rato no 21o dia embrionário). Sem dúvida, os ratos talvez sejam os animais com os

quais os pesquisadores tenham maior experiência, porém, apesar das vantagens

citadas pelos autores, como modelos experimentais de gastrosquise os fetos de rato

são animais pequenos. Mesmo o trabalho de Correia-Pinto et al.95 necessitou da uti-

lização de microscópio (16x de aumento) para realizar o procedimento.

A infecção seguida de abortamento foi uma complicação observada em mode-

los experimentais em coelhos89, 92. Nos embriões de galinha deste estudo, a conta-

minação não foi considerada, pois os ovos de galinha são estruturas colonizadas por

germes, no seu exterior e interior. Para reduzir as perdas, os criadores utilizam mé-

todos para controlar a contaminação, como vaporização com formalina, com per-

manganato de potássio ou banho em solução com antibióticos96. Nenhum desses

métodos, porém, foi utilizado nesta pesquisa, uma vez que o uso de produtos po-

deria causar danos ao embrião. Ovos de galinha contaminados são fáceis de ser

identificados pelo odor característico, e os embriões não resistem à infecção.

A escolha do melhor momento para realizar gastrosquise em embriões de gali-

nha leva em conta muitos fatores. Como este experimento desejava criar condições

de líquido amniótico que se assemelhassem ao humano, o procedimento deveria ser

realizado após o 7o dia de desenvolvimento16. Porém embriões de 7 dias são ani-

mais pequenos112 e de difícil manipulação sem microscópios ou lupas cirúrgicas31.


5 - Discussão 99

A opção por realizar o procedimento no 13o dia foi baseada na maioria dos tra-

balhos que consideraram a data ao redor desse dia como a ideal14, 15, 28, 30, 31, 71. Da

mesma forma, o final do procedimento foi realizado no 19o dia para proporcionar um

período relativamente longo de exposição das alças intestinais ao líquido amnioa-

lantóide e porque, no 20o e 21o dias, o embrião cresce significativamente, começa a

movimentar-se intensamente no interior do ovo, a quantidade de líquido diminui e

existe o risco de o intestino eviscerado aderir a outras estruturas. Entretanto, auto-

res16, 71 já demonstraram que, quanto mais precocemente se realiza a gastrosquise,

maior é a sobrevida.

A decisão de realizar a abertura do coto umbilical do embrião ao invés de fazê-

-lo na parede abdominal, para promover a saída das alças, baseou-se no estudo de

Aktug et al.15, que comparou esses dois procedimentos e demonstrou que os acha-

dos histopatológicos das alças intestinais do grupo em que se realizava uma abertu-

ra do coto umbilical, eram mais representativos da gastrosquise.

Os embriões onde se realiza a gastrosquise através da abertura da parede

abdominal desenvolvem nítidas alterações isquêmicas do intestino, como se o anel

na parede tivesse exercido constricção sobre o mesentério das alças extrusas e le-

vado à necrose intestinal com completa cicatrização do defeito15. Esse fato também

é observado em humanos, existindo relatos de fetos com diagnóstico de gastrosqui-

se em ecografias pré-natais e que nascem com o abdômen sem defeito e com atre-

sia intestinal associada (vanishing bowel)65, 115, 116. A constricção do defeito pode ser

explicada pela cicatrização das bordas da pele e dos tecidos da parede abdominal

como músculo e aponeurose. Sabe-se, atualmente, que o processo de cicatrização

intra-útero ocorre de maneira distinta do observado fora do útero117. Ferimentos da

pele intra-uterinos resolvem sem formar cicatriz, mas feridas no estômago ou em


5 - Discussão 100

músculos como o diafragma produzem importantes cicatrizes cobertas por fibrina,

efeito esse que os estudos atribuem ao contato com o líquido amniótico117, 118, 119 Po-

rém algum mecanismo de autoproteção deve estar envolvido, salvaguardando o cor-

dão umbilical, pelo fato de que, nos defeitos umbilicais, se os bordos do coto umbi-

lical cicatrizassem em contato com o líquido amniótico, isso colocaria em risco a vida

do feto já que faria constricção sobre o vasos umbilicais.

A sobrevida observada neste estudo é considerada baixa mesmo em compa-

ração com a de outros estudos em embriões de galinha. A tabela 11 compara a so-

brevida dos animais em vários trabalhos experimentais.

Tabela 11 - Sobrevida dos modelos experimentais de gastrosquise

Autor / Ano Animal Sobrevida ao experimento (%)


Haller93 / 1974 Ovelha 48,7
61
Langer et al. / 1989 Ovelha 42,8
Aoki et al.90 / 1980 Coelho 15, 23,56a
Phillips et al.91 /1991 Coelho 78
75
Albert et al. / 1993 Coelho 38,1
Kubaski92 / 1994 Coelho 73,3
85
Santos / 2000 Coelho 86,9
95
Correia-Pinto et al. / 2001 Rato 90,6
Klück et al.16 / 1983 Galinha 32b (6c)
Lopez de Torre et al.71 / 1991 Galinha 51b (22,8c)
Aktug et al.14 / 1995 Galinha 41c
Aktug et al.15 / 1997 Galinha 87 ( 80c)
Dilsiz et al.30 / 1999 Galinha 36,6c
Gandara / 2002 Galinha 11,1b (8,7c)
a
Taxa de sobrevida variável em decorrência de diferentes momentos da gestação
em que foi realizado o procedimento.
b
Sobrevida global de embriões de galinha ao procedimento (com e sem gastros-
quise).
c
Sobrevida de embriões com gastrosquise em relação ao número total de em-
briões submetidos ao procedimento.
5 - Discussão 101

Um fato relevante observado no presente estudo foi o de que a sobrevida dos

embriões aumentou à medida que se diminuía o número de viragens dos ovos (de 3

para 1 vez ao dia), o que pode se dever ao fato de se reduzir também o número de

vezes em que a incubadora foi aberta, tornando menor assim, a perda de calor e

umidade. Porém o número de viragens dos ovos não foi uma variável controlada.

Uma maior sobrevida foi observada também nos últimos grupos em que se rea-

lizou o procedimento, fato que acredita-se estar relacionado à curva de aprendizado

cirúrgico na realização da gastrosquise.

A elaboração do gancho para manipulação e tração do cordão umbilical foi fun-

damental para evitar lesões ao embrião. Com o gancho é possível abrir as mem-

branas de maneira romba e com pouco sangramento, tornando-se, dessa forma, a

tração sobre os vasos umbilicais também mais segura. Não há na literatura pesqui-

sada relatos de sua utilização.

A utilização de microscópio e de material de microcirurgia (pinças e tesouras) é

uma opção ao material empregado neste estudo; certamente a manipulação mais

delicada dos embriões resultará em menor mortalidade.

Comparativamente houve diferença estatística entre a sobrevida do grupo G e

do grupo M, basicamente, acredita-se, em decorrência da manipulação (tração e

dissecção) do cordão umbilical e dos vasos (artéria e veia umbilicais), já que a dife-

rença entre esses dois grupos aí se situa. Em outros trabalhos15, 16 que adotaram o

mesmo modelo experimental, a manipulação do cordão, com conseqüente espasmo

ou sangramento dos vasos umbilicais, foi considerada a principal causa de morte do

embrião.

A perfuração do saco da gema foi o acidente cirúrgico mais comum no grupo

G, fato que determinou, obrigatoriamente, interromper-se o procedimento e despre-


5 - Discussão 102

zar o embrião, visto que essa lesão provoca a mistura indesejável dos nutrientes da

gema com o líquido amniótico, modificando-o. A fratura da casca do ovo leva à per-

da de líquido amniótico, e a lesão dos vasos umbilicais produz intenso sangramento

e morte do embrião.

Outro importante aspecto a ser discutido é o fato de que, em modelos experi-

mentais de ratos e coelhos, com freqüência se observa a evisceração do fígado, es-

tômago, intestino grosso, bexiga e até mesmo rins pelo defeito89, 90, 91, 92, enquanto

no embrião de galinha ocorre somente a evisceração do intestino delgado, parecen-

do representar melhor o que acontece na maioria dos pacientes com gastrosquise.

Existe uma intensa troca entre o embrião em desenvolvimento e o meio, atra-

vés da casca do ovo. Oxigênio é absorvido pela membrana corio-alantoíde e chega

até o embrião que excreta gás carbônico e água pelos poros da casca, com conse-

qüente diminuição do peso do ovo durante a incubação. Em virtude disso, realizou-

-se o controle do peso do ovo no início e no final do estudo. Apesar da abertura do

ovo e da manipulação, não houve diferença de peso nos três grupos estudados, sig-

nificando que as trocas através da casca foram semelhantes.

Uma diferença foi detectada no comprimento do ovo do grupo M. A intenção

inicial foi a de que os grupos fossem iguais, principalmente na forma do ovo, razão

pela qual se optou pela randomização. Porém, como os outros parâmetros de largu-

ra e peso se mantiveram sem diferença entre os grupos, esta observação não deve

ter sido relevante.

O fato do peso do embrião ter sido menor no grupo G em relação aos grupos M

e C demonstrou que a exposição das alças intestinais no modelo experimental pro-

moveu o baixo peso, que é uma característica comum da gastrosquise5, 6, 8, 120, 121,
122, 123, 124, 125
. Em embriões de galinha, a alimentação por via transamniótica consti-
5 - Discussão 103

tui-se em significativa parcela de sua nutrição e, ao contrário das gestações em hu-

manos, o líquido amniótico do embrião de galinha tem altos níveis de proteínas71.

Explicações para o baixo peso poderiam ser a alteração do líquido amniótico pela

mistura com o líquido alantóide, a dificuldade de trânsito intestinal e a alta taxa cata-

bólica à qual são submetidos os embriões no procedimento14.

Da mesma forma, a relação PE/PO foi menor no grupo G. O controle dessa

relação é útil para diminuir as variações possíveis nos pesos dos ovos. Este método

é adotado pelos criadores96, 98


e foi utilizado também por Dilsiz et al.30 e Aktug et

al.14.

O funcionamento normal do trato gastrointestinal parece ser um fator essencial

no crescimento intra-uterino, e recém-nascidos com gastrosquise são pequenos para

idade gestacional provavelmente em virtude disso125, 126. Assim, se justifica um rigo-

roso controle do bem estar fetal durante a gestação como forma de identificar e ten-

tar controlar situações de sofrimento fetal, dilatação de alças intestinais e retardo do

crescimento127.

A análise histológica realizada através do escore padronizado mostrou ser o

Grupo G distinto, em todos os aspectos avaliados, dos grupos M e C. Sem dúvida, a

exposição do intestino ao líquido amnioalantóide foi a causa dessa diferença. Em to-

dos os estudos em embriões de galinha como modelo para gastrosquise, alterações

como serosite, enterite, necrose e formação do peel são observadas em diferentes

graus14, 15, 16, 27, 28, 30, 31, 71.

A serosa mostrou ser o local de maiores alterações, certamente por ser a su-

perfície em real contato com o líquido amnioalantóide. Também, no estudo em fetos

humanos realizado por Amoury et al.84, foi a serosa que mostrou o maior comprome-

timento, com edema e acúmulo de colágeno e fibrina (peel). Nos modelos de ovelha
5 - Discussão 104

de Haller et al.93, houve uma importante hipertrofia do peritônio visceral. Edema sub-

seroso e formação de peel parecem ser achados constantes em humanos e nos em-

briões de galinha84, 18, 19, 20


. Langer et al.61 descreveram uma intensa reação infla-

matória, com tecido de granulação e neovascularização na serosa de seu modelo

em ovelhas, que também foi encontrado no presente estudo.

Comparando com os modelos em fetos de coelho, o embrião de galinha conse-

gue reproduzir os achados de formação de peel, o que não é demonstrados nos ex-

perimentos com coelhos85, 92. Em virtude do peel ser considerado um elemento im-

portante na caracterização do intestino da gastrosquise, sendo, inclusive, associado

aos distúrbios da motilidade intestinal61, 68, 69, 94, os modelos em coelhos falham nes-

se aspecto. Possivelmente o tempo de exposição do intestino ao líquido amniótico

não seja suficiente para desenvolver o peel em coelhos.

Espécimes de intestino de gastrosquise humana têm mostrado uma mucosa de

aspecto normal84, o que também se repetiu nos modelos de embrião de galinha de

Kluck et al.16 e Tibboel et al.18. No presente estudo, a mucosa exibiu graus variados

de enterite inespecífica, achado compartilhado também em modelos de coelho89, 92.

Já Haller et al.93 demonstraram sérias alterações na produção de enzimas da muco-

sa.

Alterações isquêmicas foram observadas nos espécimes do Grupo G, consis-

tindo de necrose da mucosa e áreas de necrose parietal. Tais alterações que não

são vistas em outros modelos85, 90, 92, 93, já foram descritas por Tibboel et al.18 e Aktug

et al.15. Essas áreas isquêmicas podem ser explicadas por constricção das alças de

intestino, e conseqüentemente do mesentério, no anel formado pela cicatrização do

defeito se este se estendeu além do coto umbilical, na parede abdominal do em-

brião. A isquemia poderia explicar as atresias intestinais associadas, o vanishing do


5 - Discussão 105

intestino e o alto percentual de cicatrização dos defeitos observados no presente es-

tudo e em outros relatos da literatura15, 16, 71.

A simples contagem do número de plexos nervosos mioentéricos não mostrou

diferença nos três grupos deste estudo. Isto se repete em outros trabalhos com di-

versos modelos experimentais18, 19, 20, 92 e na série de gastrosquise em humanos de

Amoury et al.84. Pórem Haller et al.93, em seu modelo em ovelhas, conseguiram de-

monstrar lesão nas células ganglionares mioentéricas e progressiva redução da ativi-

dade da ATPase nas camadas musculares da parede intestinal, justificando assim

as alterações do peristaltismo. Recentemente, Santos85 aprofundou a análise sobre

os plexos mioentéricos do modelo de gastrosquise em coelhos, utilizando técnicas

histoquímicas especiais, e identificou nítida deficiência de maturação neuronal no

intestino.

A opção por se utilizar a análise morfométrica digital para avaliar a espessura

do intestino se baseou no fato de que os espécimes de intestino de embriões de

galinha são estruturas pequenas e delicadas à manipulação, o que tornou difíceis,

inclusive, os processo de preparação histológica. A totalidade dos autores consul-

tados utilizou a régua microscópica para medir a espessura intestinal dos modelos

experimentais27, 28, 30, 31, 92, porém em espécimes tão pequenos esse método compa-

rativo poderia gerar um importante viés de aferição. Baseado nos artigos de Gheri e

Bryk107,108, que utilizaram morfometria digital para estudo do intestino de embriões

de galinha normais, deu-se preferência por essa técnica.

A serosa foi a camada da parede intestinal que apresentou maior espessamen-

to no grupo G quando comparado com os grupos M e C. A camada muscular não

mostrou espessamento, o que também não foi visto nos estudos de Kluck et al.16 e

Tibboel et al.18. O espessamento da parede intestinal é atribuído às enzimas pro-


5 - Discussão 106

venientes do trato gastrointestinal do embrião, como a fosfatase alcalina, as dissa-

caridases e a tripsina, dissolvidas no líquido em contato com as alças128, 129. O inte-

ressante é que essas substâncias estão presentes no líquido amniótico de gesta-

ções humanas normais, mas ausentes quando o feto apresenta atresia intesinal ou

fibrose cística. Nos embriões de galinha foi demonstrada também a presença de sais

biliares e bilirrubina na mistura de líquidos27.

Qual dessas substâncias estaria diretamente envolvida com os achados, ou em

que proporção cada uma delas participa são questões que necessitam de mais es-

tudos para serem respondidas. De qualquer forma, o embrião de galinha se constitui

num bom modelo para tais investigações.


6 - CONCLUSÕES
6 - Conclusões 108

6 - CONCLUSÕES

Com base nos resultados obtidos, é possível estabelecerem-se as conclusões

a seguir:

• modelo experimental da gastrosquise em embriões de galinha é passível de

ser reproduzido, nas condições deste estudo.

• A taxa de sobrevida dos embriões ao experimento foi de 11,1%, e a de so-

brevida dos embriões com gastrosquise, de 8,7%.

• Os embriões com gastrosquise apresentaram baixo peso.

• As alterações histológicas observadas são comparáveis às da gastrosquise

humana e não estavam presentes no intestino não-exposto ao líquido amnioalantói-

de. São elas:

− sinais histopatológicos de serosite, enterite, formação de peel e áreas de

necrose em diferentes graus de intensidade;

− espessamento das camadas serosa e mucosa intestinais;

− aumento da espessura total da parede intestinal;

− plexos nervosos mioentéricos quantitativamente normais.


7 - PERSPECTIVAS
7 - Perspectivas 110

7 - PERSPECTIVAS

C’est un malade
(Eis a doença!)

Exclamação atribuida a J.M. Charcot, ao ser demonstrado o


modelo experimental do acidente vascular cerebral, por destruição
do córtex de macacos, durante o 7o Congresso Médico Mundial
em Londres, 1881.

Desenvolvido o modelo experimental para o estudo da gastrosquise em em-

briões de galinha, deve-se agora prosseguir com as pesquisas na busca de alterna-

tivas e soluções para os problemas descritos na introdução desta dissertação:

• gênese da gastrosquise;

• estudo da maturação neuronal;

• novas terapias, como o uso de corticoesteróides e antinflamatórios sistêmi-

cos ou no líquido amniótico;

• modificação do líquido amniótico como forma de reduzir a lesão intestinal;

• estudo da formação e da estrutura do peel.


8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
8 - Referências Bibliográficas 112

8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Curry JI, McKinney P, Thornton JG, Stringer MD. The aetiology of

gastroschisis. BJOG 2000; 107(11) 1339-46.

2. Ìrving IM, Rickham PP. Umbilical abnormalities. In: Rickham PP. Lister J.

Irving IM. Neonatal surgery. 2nd ed. London, 1978; p.309-33.

3. Maciel EO. Enterocolite necrosante: o uso de nitroglicerina em um modelo

experimental de isquemia-reperfusão. Dissertação de Mestrado, Curso de

Pós-Graduação em Medicina: Pediatria, Pontifícia Universidade Católica do

Rio Grande do Sul, 1997.

4. de Souza JC, da Motta UI, Ketzer CR. Prognostic factors of mortality in

newborns with necrotizing enterocolitis submitted to exploratory laparotomy. J

Pediatr Surg. 2001; Mar;36(3):482-6.

5. Vilela PC, Ramos De Amorim MM, Falbo GH, Santos LC. Risk factors for

adverse outcome of newborns with gastroschisis in a Brazilian hospital. J

Pediatr Surg. 2001; Apr;36(4):559-64.

6. Driver CP, Bruce J, Bianchi A, Doig CM, Dickson AP, Bowen J. The

contemporary outcome of gastroschisis. J Pediatr Surg 2000; 35(12) 1719-23.

7. Ameh EA, Chirdan LB. Ruptured exomphalos and gastroschisis: a retrospective

analysis of morbidity and mortality in Nigerian children. Pediatr Surg Int. 2000;

16(1-2):23-5.
8 - Referências Bibliográficas 113

8. Haddock G, Davis CF, Raine PAM. Gastroschisis in the decade of prenatal

diagnosis: 1983-1993. Eur J Pediatr Surg 1996; 6: 18-22.

9. Davies MRQ, Beale PG. The pivotal role of the surgeon in the results achieved

in gastroschisis. Pediatr Surg Int 1996; 11: 82-5.

10. Snyder CL. Outcome analysis for gastroschisis. J Pediatr Surg. 1999; Aug;34

(8):1253-6.

11. Dimitriou G, Greenough A, Mantagos JS, Davenport M, Nicolaides KH.

Morbidity in infants with antenatally-diagnosed anterior abdominal wall defects.

Pediatr Surg Int. 2000; 16(5-6):404-7.

12. Molik KA, Gingalewski CA, West KW, Rescorla FJ, Scherer LR, Engum SA,

Grosfeld JL. Gastroschisis: a plea for risk categorization. J Pediatr Surg. 2001;

Jan;36(1):51-5.

13. Clausner A, Lukowitz A, Rump K, berger S, Wurfel A. Treatment of congenital

abdominal wall defects – a 25-year review of 132 patients Pediatr Surg Int.

1996; 11: 76-81.

14. Aktug T, Erdag G, Kargi A, Akgür F, Tibboel D: Amnio-allantoic exchange for

the prevention of intestinal damage in gastroschisis: A experimental study on

chick embryos. J Pediatr Surg 1995; 30: 384-387.

15. Aktug T, Hosgör M, Akgür FM, Olguner M, Kargi A, Tibboel D. End-results of

experimental gastroschisis created by abdominal wall versus umbilical cord

defect. Pediatr Surg Int 1997; 12: 583-586.

16. Klück P, Tibboel D, van der Kamp AWM, Molenaar JC. The effect of fetal urine

on the development of the bowel in gastroschisis. J Pediatr Surg 1983; 18(1):

47-50.
8 - Referências Bibliográficas 114

17. Tibboel D, Molenaar JC, Van Nie CJ. New perspectives in fetal surgery: The

chicken embryo. J Pediatr Surg 1979; 14(4): 438-50.

18. Tibboel D, Raine P, McNee M, Azmy A, Klück P, Young D, Molenaar JC.

Developmental aspects of gastroschisis. J Pediatr Surg 1986; 21(10), 865-

869.

19. Tibboel D, Klück P, van der Kamp AWM, Vermey-Keers Ch, Molenaar JC. The

development of the caracteristic anomalies found in gastroschisis –

Experimental and clinical data. Z Kinderchir 1985; 40: 355-360.

20. Tibboel D, Vermey-keers, Kluck P, Gaillard JLJ, Koppenberg J, Molenaar JC.

The natural history of gastroschisis during fetal life: Development of fibrous

coating na the bowel loops. Teratology 1986; 33:267-272.

21. Molenaar JC, Tibboel D. Gastroschisis and omphalocele. World J Surg. 1993;

May-Jun;17(3):337-41.

22. Meijers JH, van der Sanden MP, Tibboel D, van der Kamp AW, Luider TM,

Molenaar JC. Colonization characteristics of enteric neural crest cells:

embryological aspects of Hirschsprung's disease. J Pediatr Surg. 1992; Jul;

27(7):811-4.

23. Meijers JH, Tibboel D, van der Kamp AW, van Haperen-Heuts IC, Molenaar

JC. A model for aganglionosis in the chicken embryo. J Pediatr Surg. 1989;

Jun;24(6):557-61.

24. Meijers JH, Tibboel D, van der Kamp AW, Van Haperen-Heuts CC, Molenaar

JC. Cell division in migratory and aggregated neural crest cells in the

developing gut: an experimental approach to innervation-related motility

disorders of the gut. J Pediatr Surg. 1987; Mar;22(3):243-5.


8 - Referências Bibliográficas 115

25. Tibboel D, van der Kamp AW, Molenaar JC. The effect of experimentally

induced intestinal perforation at an early developmental stage. J Pediatr Surg.

1981; Dec;16(6):1017-20.

26. Tibboel D, van Nie CJ, Molenaar JC. The effects of temporary general hypoxia

and local ischemia on the development of the intestines: an experimental

study. J Pediatr Surg. 1980; Feb;15(1):57-62.

27. Aktug T, Uçan B, Olguner M, Akgür F, Özer E: Amnio-Allantoic fluid exchange

for prevention of intestinal damage in gastroschisis II: effects of exchange

performed by using two different solutions. Eur J Pediatr Surg 1988; 8 308-

311.

28. Aktug T, Uçan B, Olguner M, Akgur FM, Ozer E, Caliskan S, Onvural B:

Amnio-allantoic fluid exchange for the prevention of intestinal damage in

gastroschisis III: Determination of the waste products removed by exchange.

Eur J Pediatr Surg 1988; 8 326-328.

29. Aktug T, Demir N, Akgür FM, Olgumer M. Pretreatment of gastroschisis with

transabdominal amniotic fluid exchange. Obstet Gynecol 1998; 91(5): 821-

823.

30. Dilsiz A, Gündogan AH, Aktan M, Duman S, Aktug T. Nitric oxide synthase

inhibition prevents intestinal damage in gastroschisis: a morphological

evaluation in chick embryos. J Pediatr Surg 1999; 34(8): 1248-1252.

31. Olguner M, Akgür FM, Api A, Özer E, Aktug T. The effects of intraamniotic

human neonatal urine and meconium on the intestines of the chick embryo

with gastroschisis. J Pediatr Surg 2000; 35(3): 458-461.


8 - Referências Bibliográficas 116

32. Akgur FM, Aktug T, Hakguder G, Olguner M. Differences between

amnioinfusion and amniotic fluid exchange. J Pediatr Surg. 2000; Dec;35

(12):1846-7.

33. Bax N. Exophalos and gastroschisis. In: Freeman NV, Burge DM, Griffiths DM,

Malone PSJ. Surgery of the newborn. Churchill Livingstone, 1994; 301-20

34. Toth PP, Kimura K . Left-sided gastroschisis. J Pediatr Surg. 1993; Dec;

28(12):1543-4.

35. Maksoud JG. Defeitos da região umbilical e paraumbilical, In: Macksoud JG,

Cirurgia Pediátrica. Revinter, Rio de Janeiro, 1998; 674-82.

36. Allen RG, Wrenn EL Jr. Silon as a sac in the treatment of omphalocele and

gastroschisis. J Pediatr Surg. 1969; Feb;4(1):3-8.

37. Schuster SR. A new method for the staged repair of large omphaloceles.

Surgery Gynec Obstet. 1967; 125, 837-50.

38. Earlam RJ. A study of the aetiology of congenital stenosis of the gut. Ann Roy

Coll Surg Engl 1972; 51:126-130.

39. Dommergues M, Ansker Y, Aubry M, Mac Aleese J, Lortat-Jacob S, Nihoul-

Fékété C, Dumez Y: Serial transabdominal amnioinfusion in the management

of gastroschisis with severe oligodramnios. J Pediatr Surg 1996; 31 1297-

1299.

40. Glick PL, Harrison MR, Adzick NS, Filly RA, deLorimier AA, Callen PW. The

missing link in the pathogenesis of gastroschisis. J Pediatr Surg. 1985;

Aug;20(4):406-9.

41. Shaw A. The myth of gastroschisis. J Pediatr Surg. 1975; Apr;10(2):235-44.

42. Kluth D, Lambrecht W: The pathogenesis of omphalocele and gastroschisis.

An unsolved problem. Pediatr Surg Int 1996; 1: 62-66.


8 - Referências Bibliográficas 117

43. Duhamel B. Embryology of exomphalos and allied malformations. Arch Dis

Child 1963; 38: 142-147.

44. Hutchin P. Somatic abnormalities of the umbilicus and anterior abdominal wall.

Surg Gynecol Obstet 1965; 1075-1090.

45. Izant RJ, Brown F, Rothman BF. Current embryology and treatment of

gastroschisis and omphalocoele. Arch Surg 1966; 93: 49-53.

46. deVries PA. The pathogenesis of gastroschisis and omphalocele. J Pediatr

Surg. 1980; Jun;15(3):245-51.

47. Hoyme HE, Higginbottom MC, Jones KL. The vascular pathogenesis of

gastroschisis: intrauterine interruption of the omphalomesenteric artery. J

Pediatr. 1981 Feb;98(2):228-31.

48. Hoyme HE, Jones MC, Jones KL. Gastroschisis: abdominal wall disruption

secondary to early gestational interruption of the omphalomesenteric artery.

Semin Perinatol. 1983 Oct;7(4):294-8.

49. Moore KL, Persaud TVN, Embriologia Clínica. 5a edição. Editora Guanabara

Koogan S.A. – 1994.

50. Werler MM, Mitchell AA, Shapiro S. First trimester maternal medication use in

relation to gastroschisis. Teratology. 1992; Apr;45(4):361-7.

51. Werler MM, Mitchell AA, Shapiro S. Demographic, reproductive, medical, and

environmental factors in relation to gastroschisis. Teratology. 1992; Apr;45

(4):353-60.

52. Bahlmann F, Merz E, Weber G, Macchiella D. Prenatal diagnosid and

management of gastroschisis and omphalocele. Pediatr Surg Int. 1996 11: 67-

71.
8 - Referências Bibliográficas 118

53. Guzman ER. Early prenatal diagnosis of gastroschisis with transvaginal

ultrasonography. Am J Obstet Gynecol 1990; 162: 1253-1254.

54. WHO – Collaborating centre for the prevention of congenital malformations –

ECLAMC – Estudio colaborativo latinoamericano de malformaciones congé-

nitas – Fundação Oswaldo Cruz – Boletim Informativo de malformações con-

gênitas 1982 - 1999.

55. Leite, JC. Tabelas de Malformações Congênitas do ECALAMC – 2000 – De-

partamento de Genética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre – Comu-

nicação pessoal.

56. Roeper PJ, Harris J, Lee G, Neutra R. Secular rates and correlates for

gastroschisis in California (1968-1977). Teratology 1987; 35: 203-210.

57. Dolk H, Vrijheid M, Armstrong B, Abramsky L, Bianchi F, Garne E, Nelen V,

Robert E, Scott JE, Stone D, Tenconi R. Risk of congenital anomalies near

hazardous-waste landfill sites in Europe: the EUROHAZCON study. Lancet.

1998; Aug 8;352(9126):423-7.

58. Nelson TC, Toyama WM. Familial gastroschisis: a case of mother-and son

occurrence. J Pediatr Surg. 1995; Dec;30(12):1706-8.

59. Nielsen OH. The pediatric surgeon and the prenatal diagnosis. Pediatr Surg

Int. 1995; 11: 1-3..

60. Langer JC, Harrison MR. The fetus with na abdominal wall defect. In: Harrison

MR, Golbus MS, Filly RA. The unborn patient – Prenatal diagnosis and

treatment. 2nd ed. 1991. W.B. Saunders co. Philadelphia. p 453-59.


8 - Referências Bibliográficas 119

61. Langer JC, Longaker MT, Crombleholme TM, Bond SJ, Finkbeiner WE,

Rudolph CA, Verrier ED, Harrison MR. Etiology of intestinal damage in

gastroschisis. I: Effects of amniotic fluid exposure and bowel constriction

infetal lamb model. J Pediatr Surg 1989; 24(10): 992-997.

62. Johnson JM, Harman CR, Evans JA, MacDonald K, Manning FA. Maternal

serum alpha-fetoprotein in twin pregnancy. Am J Obstet Gynecol. 1990;

Apr;162(4):1020-5.

63. Wald NJ, Barlow RD, Cuckle HS, Turnbull AC, Goldfine C, Haddow JE. Ratio

of amniotic fluid acetylcholinesterase to pseudocholinesterase as an antenatal

diagnostic test for exomphalos and gastroschisis. Br J Obstet Gynaecol. 1984;

Sep;91(9):882-4.

64. Anveden-Hertzberg L, Gauderer MW. Paraumbilical intestinal remnant, closed

abdominal wall, and midgut loss in a neonate. J Pediatr Surg. 1996; Jun;31

(6):862-3.

65. Celayir S, Besik C, Sarimurat N, Yeker D. Prenatally detected gastroschisis

presenting as jejunal atresia due to vanishing bowel. Pediatr Surg Int. 1999;

15(8):582-3.

66. Morris-Stiff G, al-Wafi A, Lari J. Gastroschisis and total intestinal atresia. Eur J

Pediatr Surg. 1998; Apr;8(2):105-6.

67. Klein P, Hummer HP, Wellert S, Faber T. Short-term and long-term problems

after duraplastic enlargement of anterior abdominal wall. Eur J Pediatr Surg.

1991; Apr;1(2):88-91.
8 - Referências Bibliográficas 120

68. Langer JC, Bell JG, Castillo RO, Crombleholme TM, Longaker MT, Duncan

BW, Bradley SM, Finkbeiner WE, Verrier ED, Harrison MR. Etiology of

intestinal damage in gastroschisis, II. Timing and reversibility of histological

changes, mucosal function, and contractility. J Pediatr Surg 1990; 25(11):

1122-1126.

69. Langer JC, Bramlett G. Effect of prokinetic agents on ileal contractility in a

rabbit model of gastroschisis. Pediatr Surg. 1997; Apr;32(4):605-8.

70. Muller F, Dommergues M, Aubry MC, Simon-Bouy B, Gautier E, Oury JF,

Narcy F. Hyperechogenic fetal bowel: An ultrasonographic marker for adverse

fetal and neonatal outcome. Am J Obstet Gynecol 1995; 173(2) 508-513.

71. Lopez de Torre B, Tovar J, Uriarte S, Aldazabal P: Transperitoneal exchanges

of water and solutes in the fetus with gastroschisis. Experimental study in the

chick embryo. Eur J Pediatr Surg 1991; 1 346-352.

72. Lopez de Torre B, Tovar JA, Uriarte S. Dialisis peritoneal en embrion de pollo

com laparosquisis. Cir Ped 1992; 5(4) 191-195.

73. Gutenberger JE, Miller DL, Dibbins AW, Gitlin D. Hypogammaglobulinemia

and hypoalbuminemia in neonates with ruptured omphaloceles and

gastroschisis. Pediatr Surg. 1973; Jun;8(3):353-9.

74. Ferreira PR, Motta UIC, Ferreira M, Bica CG, Zetler CG. Alterações

microscópicas no intestino do rato causadas pelo mecônio e pela urina. Rev

Pesq Med 2000; 34(2) p 71.

75. Albert A, Julia MV, Morales L, Parri FJ. Gastroschisis in the partially

extraamniotic fetus: experimental study. J Pediatr Surg 1993; 28(5): 656-659.


8 - Referências Bibliográficas 121

76. Ciftci AO, Tanyel FC, Ercan MT, Karnak I, Büyükpamukçu N, Hiçsönmez A.In

utero defecation by normal fetus: a radionuclide study in the rabbit. J Pediatr

Surg 1996; 31(10): 1409-1412.

77. Ciftci AO, Tanyel FC, Karnak I, Buyukpamukcu N, Hicsonmez A. In-utero

defecation: fact or fiction? Eur J Pediatr Surg. 1999; Dec;9(6):376-80.

78. Abramovich DR, Gray ES. Physiologic fetal defecation in midpregnancy.

Obstet Gynecol. 1982; Sep;60(3):294-6.

79. Morrison J, Klein N, Chitty L, Kocjan G, Walshe D, Goulding M, Geary M,

Pierro A, Rodeck: Intra-amniotic inflamation in human gastroschisis: possible

aetiology of postnatal bowel dysfunction, Br J Obstet Gynaecol 1998; 105

1200-1204.

80. Guo W, Swaniker F, Fonkalsrud EW, Vo K, Karamanoukian R. Effect of

intraamniotic dexamethasone administration on intestinal absorption in a rabbit

gastroschisis model. J Pediatr Surg. 1995; Jul 30(7):983-6.

81. Bealer J, Graf J, Bruch S, Adzick S, Harrison M: Gastroschisis increases small

bowel nitric oxide sythase activity. J Pediatr Surg 1996; 31 1043-1046.

82. Deans KJ, Mooney DP, Meyer MM, Shorter NA. Prolonged intestinal exposure

to amniotic fluid does not result in peel formation in gastroschisis. J Pediatr

Surg 1999; 34 (6): 975-976.

83. Streinbrecher HÁ, Hanna M, Burge DM: Gastroschisis bowel in a intact

exophalos: Implication for etiology and possible prevention. J Pediatr Surg, vol

31, No 3(march), 1996; 342-343.


8 - Referências Bibliográficas 122

84. Amoury RA, Beatty EC, Wood WG, Holder TM, Aschcraft KW, Sharp RJ,

Murphy JP. Histology of the intestine in human gastroschisis – relationship to

intestinal malfunction: dissolution of the “peel” and its ultrastructural

characterirstics. J Pediatr Surg 1988; 23(10): 950-956.

85. Santos, MM.Alterações na maturação dos plexos nervosos entéricos na

gastrosquise: Estudo experimental. Tese (doutorado) – Faculdade de

Medicina da Universidade de São Paulo. 2000.

86. Albert A, Sancho MA, Julia V, Diaz F, Bombi JA, Morales L. Intestinal damage

in gastroschisis is independent of the size of the abdominal defect. Pediatr

Surg Int. 2001; Mar;17(2-3):116-9.

87. Hoffman DJ, Moore JM. Teratogenic effects of external egg applications of

methyl mercury in the mallard, Anas platyrhynchos. Teratology. 1979; Dec;20

(3):453-61.

88. Chang KS, Chang JHT. Animal models of pediatric surgical diseases. Pediat

Surg Int. 1994; 9: 307-322.

89. Sherman NJ, Asch MJ, Isaacs Jr H, Rosenkrantz JG. Experimental

gastroschisis in the fetal rabbit. J Pediatr Surg 1973; 2(4): 165-169.

90. Aoki Y, Ohshio T, Komi N. An experimental study on gastroschisis using fetal

surgery. J Pediatr Surg 1980; 15(3): 252-256.

91. Phillips D, Kelly Jr, RE, Fonkalsrud EW, Mirzayan A, Kim AS. An improved

model of experimental gastroschisis in fetal rabbits. J Pediatr Surg 1991;

26(7): 784-787.

92. Kubaski F: Modelo experimental para o estudo da gastrosquise em fetos de

coelho. Dissertação de Mestrado, Curso de Pós-Graduação em Medicina:

Cirurgia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1994.


8 - Referências Bibliográficas 123

93. Haller JA Jr, Kehrer BH, Shaker IJ, Shermeta DW, Wyllie RG. Studies of the

pathophysiology of gastroschisis in fetal sheep. J Pediatr Surg. 1974; Oct;9

(5):627-32.

94. Srinathan S, Langer J, Blennerhassett M, Harrison M, Pelletier G, Lagunoff D:

Etiology of intestinal damage in gastroschisis III, morphometric analysis of the

smooth muscle and submucosa. J Pediatr Surg 1995; 30 379-383.

95. Correia-Pinto J, Tavares ML, Baptista MJ, Estevao-Costa J, Flake AW, Leite-

Moreira AF. A new fetal rat model of gastroschisis: development and early

characterization. Pediatr Surg. 2001; Jan;36(1):213-6.

96. Moreng RE, Avens JS. Ciência e Produção de aves. São Paulo: Roca 1990.

97. Baião NC. Estrutura do Ovo. In: Campos EJ, Silva JML, Silva EN, Produção e

qualidade de pintos de um dia. Belo Horizonte, Embrapa-DTC, 1981 p. 15-31.

98. Morris RH, Hessels DF, Bishop RJ. The relationship between hatching egg

weight and subsequent performance of broiler chickens. Br Poult Sci 9(3):

305-315, 1968.

99. Baião NC. Pré-incubação: cuidados com os ovos para incubação, transporte e

armazenamento. In: Campos EJ, Silva JML, Silva EN, Produção e qualidade

de pintos de um dia. Belo Horizonte, Embrapa-DTC, 1981 p. 31-46.

100. Molenaar JC, Meijers JHC, Tibboel D. The chick embryo model of fetal

malformation. In: Harrison MR, Golbus MS, Filly RA. The unborn patient –

Prenatal diagnosis and treatment. 2nd ed. 1991. W.B. Saunders co.

Philadelphia. p 537-47.

101. Fanguy RC. Embriologia – O início da vida. In: Campos EJ, Silva JML, Silva

EN, Produção e qualidade de pintos de um dia. Belo Horizonte, Embrapa-

DTC, 1981 p. 113-119.


8 - Referências Bibliográficas 124

102. Hutson JM, Fallat ME, Donahoe PK. The fate of the grafted quail Mullerian

duct in the chick embryonic coelom. Pediatr Surg. 1984; Aug;19(4):345-52.

103. Kleckner SC, Pringle KC, Clark EB. The effect of chick embryo hyperflexion on

tracheoesophageal development. Pediatr Surg. 1984; Aug;19(4):340-4.

104. Kluth D, Steding G, Seidl W. The embryology of foregut malformations. J

Pediatr Surg. 1987; May;22(5):389-93.

105. Tovar JA, Sunol M, Lopez de Torre B, Camarero C, Torrado J. Mucosal

morphology in experimental intestinal atresia: studies in the chick embryo. J

Pediatr Surg. 1991; Feb;26(2):184-9.

106. Olguner M, Akgur FM, Ozdemir T, Aktug T, Ozer E. Amniotic fluid exchange

for the prevention of neural tissue damage in myelomeningocele: an

alternative minimally invasive method to open in utero surgery. Pediatr

Neurosurg. 2000; Nov;33(5):252-256.

107. Gheri G, Bryk SG. Computerized morphometric analysis of chick embryo ileum

organogenesis. Z Mikrosk Anat Forsch 1987; 101(6): 1011-1022.

108. Gheri G, Bryk G S. Computadorized morphometric analysis of the chick

embryo duodenum organogenesis. Z Microsk Anat Forsch – 1989 103(2) 273-

288.

109. Sapin E, Mahieu D, Borgnon J, Douvier S, Carricaburu E, Sagot P.

Transabdominal amnioinfusion to avoid fetal demise and intestinal damage in

fetuses with gastroschisis and severe oligohydramnios. J Pediatr Surg. 2000;

Apr;35(4):598-600.
8 - Referências Bibliográficas 125

110. Luton D, de Lagausie P, Guibourdenche J, Oury J, Sibony O, Vuillard E,

Boissinot C, Aigrain Y, Beaufils F, Navarro J, Blot P. Effect of amnioinfusion

on the outcome of prenatally diagnosed gastroschisis. Fetal Diagn Ther. 1999;

May-Jun;14(3):152-5.

111. Kanmaz T, Yagmurlu A, Aktug T, Gokcora H. The effect of amnio-allantoic

fluid pH on the intestines: an experimental study in the chick embryo

gastroschisis model. J Pediatr Surg. 2001; Sep;36(9):1341-5.

112. Davis Jr. JE, Garrison NE. Mean Weights of chick embryos correlated with the

stages of Hamburger and Hamilton. J Morph 1968; 124: 79-82.

113. Goldim JR. Pesquisa em Saúde e Direito dos Animais. Porto Alegre: Hospital

de clínicas de Porto Alegre; 1995.

114. Salvesen, KA. Fetal abdominal wall defects – easy to diagnose- and then

what? Ultrasound Obstet Gynecol 2001; 301-304.

115. Kimble RM, Blakelock R, Cass D. Vanishing gut in infants with gastroschisis.

Pediatr Surg Int. 1999; 15(7):483-5.

116. Johnson N, Lilford RJ, Irving H, Crabbe D, Cartmill R. The vanishing bowel.

Case report of bowel atresia following gastroschisis. Br J Obstet Gynaecol.

1991; Feb;98(2):214-5.

117. Krummel TM, Longaker MT. Fetal Wound Healing. In: Harrison MR, Golbus

MS, Filly RA. The unborn patient – Prenatal diagnosis and treatment. 2nd ed.

1991. W.B. Saunders co. Philadelphia. p 526-36.

118. Somasundaram K, Prathap K. The effect of exclusion of amniotic fluid on intra-

uterine healing of skin wounds in rabbit foetuses. J Pathol 1972; 107(2): 127-

30.
8 - Referências Bibliográficas 126

119. Harrison MR. The fetus with a diaphragmatic hernia: pathophysiology, natural

history and surgical management. In: Harrison MR, Golbus MS, Filly RA. The

unborn patient – Prenatal diagnosis and treatment. 2nd ed. 1991. W.B.

Saunders co. Philadelphia. P 295-313.

120. Cusick E, Spicer RD, Beck JM. Small-bowel continuity: a crucial factor in

determining survival in gastroschisis. Pediatr Surg Int. 1997;12(1):34-7.

121. Romero Borbón JM, Corrales JC. Onfalocele y gastrosquisis en Costa Rica:

revisión de 5 años. Acta pediatr costarric 1995; 9(1), 33-36.

122. Sharp M, Bulsara M, Gollow I, Pemberton P. Gastroschisis: early enteral feeds

may improve outcome. J Paediatr Child Health 2000; 36(5) 472-6 .

123. Mulvihill SJ, Stone MM, Fonkalsrud EW, Debas HT. Trophic effect of amniotic

fluid on fetal gastrointestinal development. J Surg Res 1985; 40(4): 291-296.

124. Moore T, Nur K. An international survey of gastroschisis and onphalocele (409

cases). Pediatr Surg Int (1986) 1: 105-109.

125. Blakelock RT, Upadhyay V, Pease PW, Harding JE. Are babies with

gastroschisis small for gestational age? Pediatr Surg Int. 1997;12(8):580-2.

126. Blakelock R, Upadhyay V, Kimble R, Pease P, Kolbe A, Harding J. Is a

normally functioning gastrointestinal tract necessary for normal growth in late

gestation? Pediatr Surg Int. 1998 Jan;13(1):17-20.

127. Crawford RA, Ryan G, Wright VM, Rodeck CH. The importance of serial

biophysical assessment of fetal wellbeing in gastroschisis. Br J Obstet

Gynaecol. 1992; Nov;99(11):899-902.

128. Multivor RA, Mennutti MT, Harris H. Origin of the alkaline phosphatases in

amniotic fluid. Am J Obstet Gynecol 1979; 135:77-81.


8 - Referências Bibliográficas 127

129. Morin PR, Potier M, Dallaire L, et al. Prenatal detection of intestinal

obstruction: Deficient amniotic fluid disaccharidases in affected fetuses. Clin

Genet 1980; 18:217-222.


ANEXOS
Anexos

ANEXO 1

Protocolo de Pesquisa

Embrião de galinha como modelo para gastrosquise


Protocolo de Pesquisa Número do Ovo
Número do Lote

Grupo em Estudo: Gastrosquise Mistura Controle

13o dia de desenvolvimento Peso do ovo gramas


Data: Comprimento do ovo mm
Largura do ovo mm

Acidentes no procedimento

19o dia de desenvolvimento Peso do ovo gramas


Data: Peso do embrião gramas

Embrião Vivo Morto

Estruturas evisceradas: Nenhuma


Intestino
Outra, qual ?
Anexos

ANEXO 2

Resultados das medidas dos ovos e embriões nos três grupos

Peso Peso Comprimento Largura Peso Relação


Número do ovo do ovo no 13o do ovo no 19o do ovo do ovo do embrião (g) PE/PO
dia (g) dia (g) (mm) (mm)
G46 50,03 48,05 55 41 17,35 36,11
G71 63,12 61,02 59 45 13,71 22,47
G103 53,14 50,5 53 44 14,41 28,53
G114 60,53 57,21 60 43 21,82 38,14
G126 53,83 52,01 56 43 14,77 28,40
G138 56,98 55,35 59 44 21,32 38,52
G159 51,89 50,11 53 42 24,45 48,79
G173 56,29 54,11 54 44 18,61 34,39
G217 47,67 46,29 53 41 11,48 24,80
G221 43,19 42,03 51 41 13,68 32,55
G242 44,74 43,26 50 41 14,39 33,26
G243 47,78 45,88 53 42 19,75 43,05
G244 48,97 47,25 55 41 12,37 26,18
G259 52,85 51,23 54 42 23,38 45,64
G266 59,53 58,11 57 44 18,06 31,08
G268 55,82 54,25 60 42 17,11 31,54
G269 61,08 59,39 58 45 22,42 37,75
G271 55,73 53,98 58 43 14,61 27,07
M01 57,15 55,52 59 42 23,28 41,93
M02 55,55 53,83 54 44 25,48 47,33
M04 60,78 59,01 59 44 20,42 34,60
M06 57,14 54,89 60 42 23,06 42,01
M07 60,98 58,52 61 43 22,25 38,02
M09 54,8 53,01 58 41 23,4 44,14
M11 58,56 56,4 61 42 21,33 37,82
M12 49,7 47,95 54 42 19,24 40,13
M13 58,2 56,19 59 43 20,92 37,23
M14 62,38 59,69 59 44 19,87 33,29
M16 61,92 59,99 61 44 22,2 37,01
M17 55,32 53,59 54 43 22,34 41,69
C02 56,11 54,06 59 46 27,26 50,43
C03 59,1 55,99 60 43 26,99 48,21
C04 48,7 47,08 54 40 24,18 51,36
C05 58,89 57,21 56 44 27,94 48,84
C06 58,12 56,19 59 42 26,49 47,14
C07 50,45 48,88 54 41 25,05 51,25
C08 54,01 52,66 57 43 24,65 46,81
C11 53,66 52,05 56 43 26,06 50,07
C12 56,21 54,14 56 43 26,35 48,67
C13 46,75 45,77 53 42 19,37 42,32
Anexos

ANEXO 3

Avaliação Histológica do intestino nos embriões de galinha


(Escore da Tabela 5)

Número Serosite Enterite Necrose Peel Total Gânglios


G 46 2 2 0 1 5 10
G 71 1 2 1 3 7 12
G 103 2 2 1 1 6 8
G 114 1 1 0 0 2 16
G 126 2 1 1 2 6 10
G 138 2 2 0 0 4 14
G 159 3 3 3 0 9 3
G 173 2 1 0 1 4 12
G 217 3 3 1 3 10 −
G 221 1 1 0 0 2 14
G 242 3 3 1 1 8 −
G 243 3 3 2 1 9 −
G 244 3 3 2 2 10 −
G 259 2 2 0 2 6 14
G 266 2 0 1 1 4 12
G 269 3 3 3 2 11 −
G 268 3 1 1 3 8 18
G 271 1 0 0 0 1 16
M 1 0 1 0 0 1 7
M 2 0 0 0 0 0 11
M 4 0 0 0 0 0 8
M 6 1 1 0 0 2 12
M 7 0 0 0 0 0 11
M 9 0 0 0 0 0 18
M 11 0 0 0 0 0 14
M 12 1 0 0 0 1 8
M 13 0 0 0 0 0 12
M 14 0 0 0 0 0 15
M 16 0 0 0 0 0 10
M 17 1 1 0 0 2 12
C 2 0 0 0 0 0 14
C 3 0 0 0 0 0 6
C 4 0 0 0 0 0 9
C 5 0 0 0 0 0 12
C 6 0 0 0 0 0 12
C 7 1 0 0 0 1 12
C 8 1 0 0 0 1 10
C 11 1 1 0 0 2 12
C 12 0 0 0 0 0 12
C 13 0 2 0 0 2 12
Anexos

ANEXO 4

Valores de espessura intestinal total e de suas diferentes camadas (médias


das seis medidas, expressas em micrômetros)

Número Mucosa Muscular Serosa Total


G46 153 246 103 502
G71 199 100 103 402
G103 182 253 074 509
G114 171 115 090 376
G126 176 193 062 431
G138 190 130 085 406
G159 207 253 091 552
G173 188 174 076 437
G217 205 269 164 638
G221 192 151 079 421
G242 221 009 118 348
G243 182 161 133 476
G244 163 243 132 538
G259 190 102 109 401
G266 183 257 054 493
G268 176 120 078 374
G269 201 212 106 519
G271 190 141 087 418
S01 142 257 086 486
S02 179 106 072 358
S04 172 268 037 477
S06 162 127 066 354
S07 174 209 050 433
S09 181 143 066 391
S11 179 257 046 482
S12 182 190 052 424
S13 186 275 075 535
S14 182 163 059 403
S16 191 169 064 424
S17 173 173 077 423
C02 177 107 063 347
C03 172 271 032 475
C04 163 127 054 344
C05 172 206 043 422
C06 176 144 057 377
C07 179 259 042 479
C08 182 194 047 423
C11 191 170 057 418
C12 172 174 067 412
C13 184 166 055 405

Você também pode gostar