Aprddesentação

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 4

APRESENTAÇÃO DO DOSSIÊ:

Estética, educação e interculturalidade: perspectivas decoloniais em debate

Organizadoras:
Luciana Leite da Silva (INHCS/Universidade Federal de Catalão)
luciana_leite@ufcat.edu.br
Patrícia Emanuelle Nascimento (INHIS/Universidade Federal de Uberlândia)
patricia.nascimento@ufu.br

O Dossiê: Estética, educação e interculturalidade: perspectivas decoloniais em debate


reúne trabalhos que lidam com a temática da decolonialidade e da interculturalidade crítica a
partir de debates sobre as pedagogias decoloniais, estudos sobre linguagens artísticas em
tradução intercultural e investigações que situam em suas concepções teórico metodológicas
o pensamento e o agir decolonial.

Esses estudos focalizam por meio da decolonialidade – elemento que compõe a


tríade, modernidade/colonialidade/decolonialidade – as formas de pensar o outro a partir de
suas próprias experiências e visões de mundo, considerando os posicionamentos que foram
subalternizados ao longo do tempo e, por conseguinte, invisibilizados por formas e processos
de dominação colonial. Nesse sentido, trata-se de pesquisas que contribuem com as críticas
propostas por pensadores do grupo modernidade/ colonialidade/ decolonialidade, a exemplo
de movimentos indígenas e afrodescendentes, os quais estão continuamente a identificar e
reivindicar novas formas de interpretação de documentos, eventos históricos, concepções
estéticas e práticas pedagógicas que considerem a interculturalidade, em sua forma crítica, e
se desdobrem em bases epistemológicas evidenciando matrizes curriculares interculturais e
interepistêmicas.

A partir dessas perspectivas, é possível apresentar as várias maneiras de ver e ler o


mundo, pensar e estruturar saberes e práticas de produção de conhecimento que apresentem
contrapontos e/ou relações de complementaridade ao conhecimento ocidental, bem como
salientar as relações que se interpõem em processos conflituosos e complexos de
apropriações e de interações interculturais.

Este Dossiê está organizado em três blocos. O primeiro bloco aborda formas de
resistência e protagonismos indígenas nas lutas pelos direitos territoriais, as práticas

Hist. R., Goiânia, v. 27, n. 2, p. 1-4, maio/ago. 2022


2

reivindicatórias de autodeterminação e os enfrentamentos em relação às violências do


Projeto Colonial. São apresentados os trabalhos: Conflitos e lutas Auwē: a demarcação da
terra indígena São Marcos, de Sílvia Clímaco Mattos; “Isolamento voluntário” e protagonismo
do povo Javaé, da Ilha do Bananal, atual Estado do Tocantins-Brasil (1896-1923), de Ordália
Cristina Gonçalves Araújo e Elias Nazareno; e Uma utopia intercultural: os povoados de Santa
Fé de México e Michoacán, de Geraldo Witeze Jr.

O artigo de Sílvia Clímaco apresenta as lutas pela demarcação da Terra Indígena São
Marcos, Mato Grosso, a partir da perspectiva de narradores xavante. A autora realizou
entrevistas com os indígenas entre os anos de 2016 e 2018 e analisou uma extensa
documentação no Núcleo de Documentação da Diretoria de Proteção Territorial da Funai. Em
seu texto, Sílvia Clímaco procura demonstrar as estratégias que os Xavante lançaram mão a
fim de conseguirem a demarcação de suas terras, em especial, da Terra Indígena São Marcos.
Sílvia Clímaco contrapõe suas pesquisas aos processos de apagamento que, por longo tempo,
atingiu a historiografia. Desse modo, a autora destaca as lutas dos povos Xavante e suas
conquistas territoriais durante a década de 1970.

Em “Isolamento voluntário” e protagonismo do povo Javaé, da Ilha do Bananal, atual


Estado do Tocantins-Brasil (1896-1923), Ordália Araújo e Elias Nazareno analisam o
protagonismo Javaé em duas perspectivas: a primeira diz respeito ao chamado “Isolamento
voluntário”, estratégia utilizada pelos Javaé no intuito de manter os invasores longe de suas
aldeias. A segunda reporta ao protagonismo Javaé na atualidade, em que, por meio de práticas
reivindicatórias, os Javaé demandam o reconhecimento da autodeterminação não derivada.
Isso significa a ênfase Javaé em desconstruir a narrativa de que eles seriam um subgrupo
Karajá.

O trabalho de Geraldo Witeze Jr., Uma utopia intercultural: os povoados de Santa Fé


de México e Michoacán, apresenta os povoados utópicos de Santa Fé de México e de
Michoacán. Esses povoados foram fundados no século XVI por Vasco de Quiroga e tinham o
objetivo de abrigar os indígenas no enfrentamento às violências e violações impostos pelos
colonos espanhóis.

O segundo bloco deste Dossiê dedica-se ao tema do viés decolonial na Educação,


visando o Ensino de História, a descolonização dos currículos escolares, a educação
antirracista.

APRESENTAÇÃO
3

Helena Maria Marques Araújo e José Baptista, em Sobre colonialidades, pensamento


tradicional e currículos escolares, partem de uma pesquisa de mestrado profissional realizada
na área de formação de professores de História no PROFHISTÓRIA. Neste trabalho, a análise
é centrada nos currículos escolares, discutindo como matriz curricular e epistemológica
eurocentrada produz ausências de memórias e das histórias de grupos subalternizados. Traz
uma discussão necessária sobre saberes diaspóricos e epistemologias das culturas tradicionais
tão relevantes para construção dos currículos escolares numa perspectiva decolonial.

Elison Antonio Paim e Janaina Amorim da Silva nos trazem o texto intitulado Coletivo
Ação Zumbi - uma História de (re)existência e inspiração para uma educação antirracista e
decolonial. O propósito é refletir sobre a importância histórica e política do Coletivo Ação
Zumbi, um grupo que realiza performances artísticas multidimensionais em espaços formais
e não-formais, principalmente nas cidades São José e Florianópolis. Suas ações revelam
performances memórias contra-hegemônicas de origem afro-brasileira a partir da perspectiva
de um povo que existe, (re)existe e resiste, ancorado num ideário de maior justiça
epistemológica. A atuação do Coletivo evidencia um alinhamento ao pressuposto da
decolonialidade do saber e da educação para as relações étnico-raciais. Nesse sentido, traz
uma proposta pedagógica antirracista pautada na troca de saberes e na conexão entre a
educação formal das escolas e a educação não formal dos movimentos negros. A pesquisa é
construída em diálogo com os integrantes a partir de lives e redes sociais do Coletivo
disponibilizados ao público em geral. O diálogo teórico se dá, especialmente, com autoras
negras decoloniais e antirracistas.

O artigo Tessituras que produzem conhecimentos para área de ensino de História:


memórias, sensibilidades e decolonialidade, de João Batista Gonçalves Bueno, integra as
reflexões relativas às pesquisas sobre ensino de História. O estudo aborda temas relacionados
à positivação das experiências históricas, das sensibilidades e das tradições dos diversos
grupos sociais de várias cidades do interior do estado da Paraíba. Dentre os grupos sociais
analisados destacam-se: a comunidade de negros quilombolas de Gurinhém; os povos
originários brasileiros de Baia da Traição; as mulheres sindicalistas e os trabalhadores rurais
de Alagoa Grande e Cubati e a comunidade do Movimentos dos Sem-terra (MST), do
assentamento Zumbi dos Palmares de Mari. Por meio de referenciais como Walter Benjamin,
E. T Thompson, A. Quijano e E. Dussel, o artigo estabelece um diálogo entre saberes histórico-

Hist. R., Goiânia, v. 27, n. 2, p. 1-4, mai/ago. 2022


4

educacionais e conceitos como de memória, de patrimônio histórico, descolonização do saber,


do poder e do ser.

O terceiro e último bloco nos traz possibilidades de estudos que interseccionam


temáticas relativas à estética, especialmente cinema e artes plásticas, com questões
interculturais. Paulo Roberto Monteiro de Araujo, em Dois diretores decoloniais: Glauber
Rocha e Kleber Mendonça, tem como intuito abordar o processo de descolonização nesses
dois diretores cinematográficos brasileiros. A análise perpassa as formas com que Glauber
Rocha e Kleber Mendonça elaboram suas linguagens cinematográficas em relação às
problemáticas da história sociopolítica do Brasil.

O texto Agenciamento estético em diálogo intercultural: Modesto Brocos (1852-1936)


e o impressionismo à brasileira, de Heloísa Selma Fernandes Capel, expõe o diálogo
intercultural ocorrido na relação entre as correntes artísticas europeias e o contexto
brasileiro. Por meio da obra pictórica e literária de Modesto Brocos, avalia seu posicionamento
artístico e profissional no início do século XX, sua relação com a cultura pictórica europeia e
as tensões, em seu pensamento, entre a ortodoxia e a experimentação. Examina alguns
preceitos presentes no pensamento do artista e que se encontram na gênese da vanguarda,
como o respeito à singularidade e temperamento do artista, a defesa da liberdade e
subjetividade, bem como traços formais que envolvem pinceladas mais soltas, cenários mais
sugeridos e disformes. Como um artista imigrante que se agencia em um espaço intervalar, a
atuação de Brocos se expressa a partir de negociações culturais, contribuindo, por meio de
sua obra, para a criação de um impressionismo à brasileira: movimento que se aproxima das
vanguardas, mas que guarda características próprias e contraditórias.

A equipe editorial agradece imensamente a contribuição de todas as autoras e todos


os autores que contribuíram com suas pesquisas e teceram essa troca de olhares e
perspectivas. Esperamos que as leitoras e os leitores encontrem aqui subsídios para projetos
educacionais, abordagens teóricas e reflexões estéticas e culturais fundamentadas na
interculturalidade e nas ações que desafiam as estruturas de poder herdadas pela experiência
colonial.

APRESENTAÇÃO

Você também pode gostar